terça-feira, 25 de março de 2014

24 anos de escravidão

Rubens Nóbrega




A coluna é basicamente uma crônica política, que se diferencia da análise política clássica por não se prender ao factual nem à ordem ou pauta do dia. Contato com o colunista: rubensnobrega@uol.com.br




24 anos de escravidão

Fui domingo passado ao shopping assistir à história de Solomon Northup ('12 anos de escravidão'), levada às telas para mostrar ao mundo mais uma vez o quanto a soma da intolerância com o preconceito é capaz de condenar seres humanos à perda da própria humanidade. Ganhador do Oscar deste ano, o filme, baseado em livro de autoria do protagonista, narra o drama de um músico negro norte-americano que em 1841 vivia livre em Nova York até ser sequestrado e levado para trabalhar como escravo em fazendas de algodão da Louisianna.
Não, não vou fazer 'crítica de cinema' aqui, coisa de que desisti há muito tempo, depois de ler o que Antônio Barreto Neto e Martinho Moreira Franco produziram no set de jornalismo impresso da melhor qualidade que os dois faziam na Paraíba nos sessenta e setenta do século passado. Meu propósito, hoje, é tão somente confessar ao leitor os sentimentos com que saí do cinema. Porque saí comparando tristeza e injustiça vividas por Solomon a tudo o que o povo brasileiro sofreu sob a ditadura de 24 anos que infelicitou milhões, mutilou e matou milhares.
A comparação começa pelas cenas que antecedem o rapto, sequenciadas pelas torturas que o violonista passa a sofrer no cativeiro antes de ser desterrado do Norte livre para os horrores no Sul escravocrata. Antes, o músico cai na lábia de dois bandidos que o procuram disfarçados de artistas de circo; depois, é embriagado, adormece e dormindo é capturado. Roteiro semelhante àquele imposto ao Brasil de 1964 a 88, depois de uma imprensa flagrantemente golpista fazer a cabeça da população com fartas e falsas informações sobre uma comunização que o governo civil de então jamais pretendeu de verdade. Afinal, a ‘mudança radical’ que Jango almejava não ia além de reformas de base para fazer deste país uma nação menos injusta, menos desigual.

Tal e qual há 50 anos
Feito o Solomon livre escravizado nos Estados Unidos, boa parte da população brasileira acreditou naqueles que lhe sequestraram a liberdade, depois de embriagá-la com promessas enganosas de salvação da pátria para em seguida aprisioná-la e levá-la ainda adormecida às masmorras e porões onde amargariam os suplícios mais impiedosos. Nesse trajeto de ódio e sangue, quem não perdeu a vida, a família ou o convívio de seus mais queridos, alternativa não teve além de assistir ao aprisionamento dos direitos mais comezinhos da cidadania. A ditadura quebrou as pernas de quem queria ir e vir livremente, encarcerou as reuniões do povo, amordaçou a boca de quem queria discutir e falar sem medo sobre qualquer assunto, algemou as mãos de quem pretendia, escrevendo, informar e opinar sobre os problemas do país. Para a vitória das trevas não vamos esquecer que houve, antes do golpe, um evento que não deve ser esquecido, porque representou a mais expressiva prova de quão fácil é alienar e induzir gente desinformada a cometer atentados contra a dignidade e a integridade dos seus concidadãos, começando por querer fazê-los voltar à condição de escravos, porque viver sob ditadura é igual a viver na escravidão. Mas é exatamente isso o que dizem querer os novos enganados e alienados que pretendem reeditar este mês, 50 anos depois, a ‘Marcha pela Família, com Deus pela Liberdade’.

‘A turma do Bolsonaro’

Ainda bem que contra a infeliz iniciativa tem gente reagindo até mesmo com humor. Suponho que pela incapacidade de levar o movimento a sério. É o caso de um amigo que fez circular anteontem um certeiro comentário (leia adiante) sobre a intenção da turma do Bolsonaro, como ele chama os pretensos seguidores e admiradores do ultradireitista deputado Jair Bolsonaro que estariam entre os organizadores da marcha.
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Vem aí a passeata (procissão?) Com Deus Pela Pátria e Liberdade, reeditando a famigerada iniciativa da ingênua Igreja, de apoiar um golpe militar na época de 1964. Depois amargariam profundamente. Hoje se sabe que essas passeatas foram estimuladas, financiadas e organizadas pelo governo americano, que enganou os otários com a desculpa que era para combater o comunismo. E aí, vão encarar? Passagens para o Rio de Janeiro estão em promoção, para o evento. Basta se identificar como direitista (alguém assume?!) e golpista; que quer derrubar a Dilma do cargo que conquistou no voto, dentro da lei, e não com golpes. Será que dará mais gente que as passeatas gueis? Com o resultado das últimas pesquisas, tenho cá minhas dúvidas...
Mas, para aqueles que não perdem as esperanças, aconselho a vocês, antes de embarcarem, que leiam o edificante depoimento dado, em tom de orgulho, por um aborto da natureza de nome Paulo Malhães, coronel reformado do Exército do Brasil, que viveu intensamente aquela época, chafurdando na merda dos bastidores da ditadura militar. Foi publicado no jornal O Globo, que aderiu, apoiou e cresceu na ditadura militar. Está logo aí, é só clicar com o botão esquerdo (êpa!) do mause na linha que selecionei abaixo (trata-se do link http://oglobo.globo.com/pais/vitimas-da-casa-da-morte-foram-jogadas-dentro-de-rio-diz-coronel-11940779).
Aconselho àqueles que tenham estômago mais fraco a colocar um comprimido de Vonau 8 mg sob a língua, antes de iniciar a leitura. Só para repetir o jornalista Kennedy Alencar (que está longe de ser militante de esquerda ou petista), a ditadura militar foi corrupta; apenas não existia liberdade (óbvio!) para denunciar a corrupção. Quem era besta?! Foi essa mesma ditadura (militar!) que gerou os Sarneys, Antonios Carlos Magalhães, Jaders Barbalhos, Romeros Jucás, Calheiros, Bragas, Crivellas, Garotinhos, Robertos Jefeersons, o Collor! e outras figuras nefastas da parada de sucesso da corrupção hodierna, além de Arena, aliás, PDS, aliás, PP, aliás, DEM, aliás, PSD. Gerou, também, milicianos, grupos de extermínio, grandes traficantes, etc.

A grande dúvida. Coluna de Rubens Nóbrega





Voltei ontem do Sertão com a certeza de que a grande dúvida do campeonato eleitoral deste ano, na Paraíba, é se o governador Ricardo Coutinho permanecerá em campo caso a partida vá para a prorrogação, quer dizer, para o segundo turno. A preço de hoje, como diria o saudoso Joelmir Beting, e a julgar pelo que vi e ouvi em Patos e no Sabugi, Ricardo não tem chances de vitória diante da popularidade de Cássio Cunha Lima e do potencial de crescimento da candidatura de Veneziano Vital.
O meu convencimento sobre o momento da disputa política na Paraíba baseia-se em avaliações de experientes observadores com os quais conversei e, também, em pesquisas sobre tendências atuais do eleitorado, disponíveis apenas para consumo interno. Todas elas indicam que o senador, mesmo ainda sem fazer campanha aberta como o governador faz há mais de um ano, Cássio teria mais do que o dobro das intenções de votos direcionadas para Ricardo.
Por sua vez, o governador não consegue se distanciar da mesma forma do ex-prefeito campinense. A vantagem sobre Veneziano não passa de um dígito atualmente, com previsão de se reduzir a décimos quando a guerra eleitoral propriamente dita começar. Aí, garantem quem é do ramo, a possibilidade de a candidatura do PMDB ultrapassar a do PSB na reta final do primeiro turno será enorme. Motivo: além de individualmente dispor do maior tempo de rádio e televisão na propaganda eleitoral, a candidatura peemedebista na Paraíba tem tudo para manter a aliança com o PT. Com isso, crescerá ela tanto nos grandes colégios eleitorais como nos pequenos, onde o apoio de Lula e Dilma daria um gás significativo à campanha de Vené.

Dá para desconstruir
Como se não bastasse, Ricardo será o alvo comum das críticas e ataques mais contundentes dos seus principais adversários, que devem se concentrar no desmonte da imagem de grande realizador que o governador vem construindo graças ao maior investimento em propaganda que já se fez na Paraíba. Cássio mostrou ontem que não será difícil desconstruir o cartaz de Ricardo na medida em que o governador se perde quando, até por arrogância e empáfia, acredita ter ‘(re)inventado’ a Paraíba e esquece ou não reconhece, por exemplo, que as duas maiores obras tocados pelo atual governo são, na verdade, continuação ou resultado do que fizeram seus antecessores

De Maranhão a Burity

O senador referiu-se inicialmente ao Canal Acauã-Araçagi, a maior obra hídrica da Paraíba, um investimento de mais de R$ 1 bilhão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal), planejada no Cássio I “e que somente existe porque, antes, José Maranhão fez a barragem de Acauã”, disse. Depois, lembrou que o Centro de Convenções da Capital, outra obra projetada em seu governo, destravada e iniciada pelo Maranhão III, não existiria sem a iniciativa do governador Tarcísio Burity de criar e prover a infraestrutura do Polo Turístico do Cabo Branco.

Sobre obras e obreiros
Na avaliação de um crítico mais ferino que vai na mesma direção do raciocínio de Cássio, mas prefere, além do conforto do sigilo da fonte, usar palavras mais duras para definir o comportamento do governador, “Ricardo se gaba de ter sido quem mais obrou na Paraíba, mas a maior parte dessa obra é orgânica, fisiológica mesmo, a julgar pelo mau cheiro que exala de algumas delas”. Pedi que fosse mais específico, mas ele limitou-se a dizer que “a outra parte dessa obra, a física, em pedra e cal ou asfalto, está sendo construída graças à capacidade de planejar, captar recurso e aprovar projetos das equipes e governos de Cássio e Maranhão. As estradas de que tanto se jacta o governador, por exemplo”.
“Nesse particular”, continuou, “abstraindo a milionária propaganda que faz de si mesmo, do permanente autoelogio e desqualificação dos adversários ou predecessores, a grande contribuição de Ricardo para expandir a malha viária do Estado foi assinar ordens de serviço para construção de estradas iniciadas no Maranhão III com empréstimo conseguido no Cássio II junto à Confederação Andina de Fomento (CAF) no valor de R$ 500 milhões”.
Ainda segundo o mesmo corrosivo avaliador, “seria imensa burrice – e de burro Ricardo Coutinho não tem sequer as penas – alguém pegar um filé desses e não comer. Ou não fazer o que deveria ser feito ou já encontrou feito ou em andamento, graças a muito asfalto novo que começou a ser espalhado pelo interior desde o Maranhão III”.
Mais: “Seria uma estupidez inimaginável, realmente, não dar andamento a um projeto dessa envergadura. Pena que na maioria do tempo, na sua compulsão para assumir a paternidade de iniciativas dos outros, nem o governador nem o seu governo tenham o mesmo apreço e empenho na conservação, manutenção e melhoria do patrimônio público já consolidado, aí incluídas as rodovias estaduais mais antigas e estratégicas para ligar municípios, micros e mesos regiões do Estado”.
Concluindo: “Tirando reformas pontuais que dão visibilidade e imagens para a campanha do governador, como as que vêm se arrastando no Dede e no Espaço Cultural, em João Pessoa, e recapeamentos de alguns trechos do Anel do Brejo (de Sapé a Guarabira, por exemplo), no mais multiplicam-se as queixas dos cidadãos que trafegam por essas PBs abandonadas – ou castigadas – pelo simples fato de precisarem de reparos que são extremamente importantes para os usuários, mas rendem pouco. Votos, inclusive”.
  

Ricardo encolhido e acuado



Ricardo encolhido e acuado


Circunstancialmente, sem combinação alguma, encontrava-me ontem em concorrido restaurante da Capital quando tive oportunidade de acompanhar uma impressionante avaliação da atual cena política paraibana, feita a partir da nova correlação de forças que se estabeleceu na Assembleia pós rompimento de Cássio Cunha Lima com Ricardo Coutinho.
Os pressupostos e consequências em cartaz foram medidos, pesados e peneirados por assessores parlamentares que atuam no Legislativo Estadual. A análise contou com o auxílio luxuoso de radialistas e jornalistas que cobrem assiduamente a Casa ou têm vários deputados como fontes primárias de informação ou subsídios privilegiados da opinião de cada um.
Pois bem, esse poderoso time de analistas chegou à conclusão que a base aliada governista encolheu para sete ou oito deputados, no máximo. Testemunha da conversa, fiquei impressionado com duas coisas. Primeiro, com o presumível tamanho que restou à bancada, digamos, ricardista. Depois, com a enorme dificuldade da roda em listar os parlamentares que, em tese, continuariam a seguir o comando da Granja Santana.
Mas, com ajuda de outros circunstantes e interlocutores, os involuntários e ocasionais colaboradores da coluna (confesso que pedi a lista) relacionaram os seguintes deputados que ainda carregam na testa ou nas costas a pecha de governistas: além do líder Hervázio Bezerra, Gilma Germano, Tião Gomes, Doda de Tião, Eva Gouveia, Wilson Braga e João Gonçalves.
Desses, os dois últimos seriam os mais propensos a deflagrar um novo processo de deserção em massa das hostes palacianas no caso de os ventos que arejam a expectativa de poder no Estado começarem a soprar com mais força para as bandas dos mais prováveis concorrentes diretos de Ricardo na disputa pelo governo: o próprio Cássio e o ex-prefeito Veneziano Vital.

Hervázio, um problema
Como se não bastasse, um nó adicional e bastante apertado aguarda o governador no abril que vai chegar logo mais: se quiser manter o seu aplicado líder em plenário, Ricardo Coutinho vai ter que arranjar dois deputados que aceitem abrir mão de tentar a reeleição em troca de um cargo de secretário de Estado. Difícil, muito difícil, dificílimo. Segundo suplente da coligação que há três anos reuniu na proporcional e na majoritária o PSB ao PSDB, Hervázio Bezerra está na Assembleia porque os deputados Manoel Ludgério e Adriano Galdino estão secretários. Mas esses terão que reassumir os mandatos até o dia 4 do próximo mês, sob pena de inviabilizarem a chance de retorno à Assembleia na legislatura a ser inaugurada em fevereiro de 2015.

Tem que convocar dois
Mas um só deputado licenciado não quebraria o galho de Hervázio? Não, não resolve. Não porque o primeiro suplente atende pelo nome de Francisco de Assis Quintans, cassista de carteirinha desde criancinha. Assim, para manter o seu líder deputado, o governador terá que convencer e convocar dois, e não apenas um parlamentar. Mas, se assim o fizer, Quintans manterá a titularidade de mandato, mui provavelmente votando contra os interesses e as matérias de governo em trâmite ou encaminhadas à Assembleia.
Sem reprovar as contas
Por falar em votar contra, ao menos de uma coisa o governador pode se despreocupar por enquanto. Reunido com sua bancada no final de semana, Cássio teria recomendado aos seus deputados não desaprovarem as contas de Ricardo (as que já se encontram lá, na agulha, pertencem ao exercício de 2011). A recomendação nada teria a ver, contudo, com suposto zelo pela regularidade na aplicação das verbas públicas no atual governo. Os cassistas teriam concluído que tentar inelegibilizar Ricardo pode transformá-lo em vítima e a vitimização, quando manejada habilmente, industrialmente, renderia peninha no eleitor e votos para o vitimizado. O próprio Cássio, com sua cassação em 2009 e consagração nas urnas de 2010, seria um exemplo clássico de feitiço que em processos eleitorais pode se voltar contra o feiticeiro.

As baixas programadas
De qualquer modo, o governador não deve baixar a guarda. Nesse encontro, teria sido desenhada uma estratégia de anúncios programados de retirada de apoio ao Ricardus I. O cronograma, inaugurado espontaneamente por Carlos Dunga semana passada, teve sequência anteontem, quando Branco Mendes confirmou as expectativas gerais e disse publicamente que ficaria ao lado de Cássio.

Ruy disse não a Ricardo
O governador teria dito anteontem à noite, em entrevista à TV Master, que Ruy Carneiro ofereceu-se em várias oportunidades, ano passado, para ser ‘o senador de Ricardo’. Conversei com o deputado a respeito. “Muito pelo contrário”, disse. Revelou ter sido procurado por diversos emissários de Ricardo, mas não quis conversa. Tanto assim que desde antes avisara a Cássio: se fosse mantida a aliança PSB-PSDB, ele, Ruy, jamais aceitaria integrar qualquer majoritária encabeçada pelo atual governador.

Do blog de Helder Moura



Barreto espera julgamento de denuncia contra RC há cinco anos: “Quero que ele me processe!”

Ricardo e Barreto
Há cinco anos, o ex-secretário e professor Francisco Barreto protocolou volumosa documentação junto ao Ministério Público Eleitoral, com várias denúncias envolvendo Ricardo Coutinho, especialmente quanto à sua prestação de contas como candidato à reeleição (a prefeito) em 2008. Pois, passado todo esse tempo, ele foi ouvido duas vezes pela Polícia Federal. Mas, o assunto morreu.
Ricardo chegou a ameaçar Barreto pelas acusações. Mas, aparentemente recuou. Hoje, Barreto insiste: “Esperei que RC me processasse como tanto ameaçou. E nada, faltou hombridade. Se escondeu por detrás dos blefes. Gostaria que ele me processasse.” Dentre as denúncias, constam “recibos com falsificação de assinaturas de supostos doadores…”
Segue: “Origem de dinheiro não explicada, lavagem e uso de terceiros, omissão e sonegação de doações e gastos irregulares, e muitos outros crimes previstos pela legislação eleitoral.” Barreto se diz desencantado: “É estarrecedor que até hoje não tenha havido nenhuma apuração definitiva, e as consequências legais por qualquer instancia judicial.”
O sentimento é de frustração: “O Ministério Público, que em principio deve ter provocado a apuração das denuncias, envolvendo a apuração policial pela PF, não traz à luz a informação pública do que resultou os citados inquéritos.”
“Fui convocado duas vezes a PF (2013 e 2014), compareci e reafirmei o teor das denuncias passados cinco anos, e perplexo, recomendei vivamente aos delegados que me ouviram que lamentava que ainda eles estivessem insistindo em apurar fatos que ocorreram há cinco anos, e que no meu entendimento era uma completa perda de tempo”, acrescenta.
Breve histórico – Barreto enviou texto ao Blog, acrescentando ainda alguns pontos: “RC assumiu em 2009 a PMJP, em 2010 o Governo do Estado, e é de novo candidato. Mesmo que houvesse uma remota chance de punição nada mais atingiria os mandatos que ocupou, nem tampouco a sua incolumidade política e eleitoral.
As denuncias sobre mensalão de RC em 2008/09 foram amplamente divulgadas, e mereceu o registro feito pelo site PBAgora em sua edição 20 de Março de 2009, que teve o patrocínio então corajoso  Jornalista Luís Torres.
O jovem e então arrebatado opositor Luís Torres, que hoje exerce o cargo de Secretário de Comunicação do Governo RC foi intimado perguntei ao Delegado da PF  em 19/03/2014 ? Afinal, talvez não seja o caso perturbar o inteligente e buliçoso Luís Torres que aderiu numa rendição incondicional a RC. Luisinho, como costumava chamar, foi um dos poucos aguerridos combatentes ao lado de Hervázio Bezerra, vereador Marcos Vinicius, Nicola Lomonaco,  Maurilio Batista, Clison Jr, e Janildo Silva cerraram um duro combate à RC. Destes, só não permanecem Hervázio  Bezerra e Luisinho, que por razões desconhecidas e inexplicáveis desembarcaram no Palácio da Redenção. Venderam as suas consciências e a força de trabalho. É uma lastima.
Fizemos um combate inglório, necessário e correto é certo, mas, sem consequências práticas. Esperei anos para ver se a justiça se exercia. Nada aconteceu. Não espero mais. Assim como, esperei que RC me processasse como tanto ameaçou. E nada, faltou hombridade. Se escondeu por detrás dos blefes.
Continuarei indo à PF, por dever de oficio e nada mais.”

Quem financiou, quem dirigiu e quem participou da Marcha da Família de 1964

Quem financiou, quem dirigiu e quem participou da Marcha da Família de 1964, a original



marcha da família 64

Publicado originalmente no Opera Mundi.

Há 50 anos, em 19 de março de 1964, era realizada na cidade de São Paulo a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Estima-se que entre 500 mil e 800 mil pessoas partiram às 16h da Praça da República em direção à Praça da Sé, no centro, manifestando-se em resposta ao emblemático comício de João Goulart, seis dias antes, defendendo suas Reformas de Base na Central do Brasil. Passaram à história como as genuínas idealizadoras e promotoras da marcha organizações femininas e mulheres da classe média paulistana. No entanto, por trás deste aparente protagonismo feminino às vésperas do golpe que deu lugar a 21 anos de regime ditatorial, esconde-se um poderoso aparato financeiro e logístico conduzido por civis e militares que tramavam contra Jango. Um detalhe: quase todos eram homens.
Certamente, a atuação de alguns grupos femininos como “pontas-de-lança” da opinião pública contra o governo Goulart foi peça-chave na conspiração levada a cabo pelo complexo empresarial-militar do Ipês-Ibad (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – Instituto Brasileiro de Ação Democrática). Destas instituições femininas, as principais eram: a carioca CAMDE (Campanha da Mulher pela Democracia) e as paulistas UCF (União Cívica Feminina) e MAF (Movimento de Arregimentação Feminina).
Conforme disseca a historiadora Solange Simões em seu livro Deus, Pátria e Família: As mulheres no golpe de 1964, a inserção das mulheres na conspiração que resultou no golpe foi estratégica. Com o intuito de fomentar uma atmosfera de desestabilização política e convencer as Forças Armadas a intervir, as campanhas femininas buscavam dar “espontaneidade” e “legitimidade” ao golpismo, tendo sido as mulheres incumbidas — pelos homens — de influenciar a população.
“Aqueles homens, empresários, políticos ou padres apelavam às mulheres não enquanto cidadãs, mas enquanto figuras ideológicas santificadas como mães”, escreve a pesquisadora. A própria dona Eudóxia, uma das lideranças femininas, reconhece, em entrevista à historiadora, sua função tática:
Nós sabíamos que como nós estávamos incumbidas da opinião pública, os militares estavam à espera do amadurecimento da opinião pública. Porque sem isso eles não agiriam de maneira nenhuma. A não ser que a opinião pública pedisse. E foi isso que nós conseguimos.
Graças a uma bem-sucedida ação, eventos considerados aparentemente “desconexos” foram tomados como “reações espontâneas” de segmentos da população. Na verdade, essas manifestações apresentavam uma sólida coordenação por parte da elite.
Veja abaixo os principais aspectos desse movimento feminino que esteve à frente da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” de 19 de março de 1964.
1.) COMO SURGIU E QUEM LIDERAVA?
Quem eram, afinal, essas mulheres que despontavam na rua, em passeatas e comícios, como “donas-de-casa” e “mães-de-família brasileiras”, envolvidas na conspiração civil-militar? Já chamadas de “guerrilheiras perfumadas” ou confundidas com mulheres “das classes médias”, as direções dos movimentos eram constituídas, essencialmente, por mulheres com baixa formação intelectual da burguesia e das elites militares e tecnoempresariais.
Essa ala feminina do golpe foi criada meses antes das eleições gerais de outubro de 1962. Suas principais líderes eram parentes próximas dos grandes nomes do setor empresarial e militar envolvidos na conspiração. Contaram, obviamente, com todo o aparato financeiro e logístico de seus cônjuges, primos e irmãos para erguer suas instituições. “O meu marido me incentivava: ‘Eu ajudo no que precisar’, dizia ele”, relembra em entrevista concedida a Solange Simões, a vice-presidente da CAMDE, Eudóxia Ribeiro Dantas, mulher de José Bento Ribeiro Dantas, empresário ipesiano presidente da Cruzeiro do Sul, uma das maiores companhias aéreas do país.
Do lado carioca, por exemplo, a CAMDE foi criada por Amélia Molina Bastos, irmã do general Antônio de Mendonça Molina, do setor de informação e contrainformação do Ipês. A ideia partiu declaradamente do vigário de Ipanema, Leovigildo Balestieri, e dos líderes ipesianos engenheiro Glycon de Paiva e general Golbery do Couto e Silva. A CAMDE foi lançada no auditório do jornal O Globo, no Rio, oferecido por seu diretor-proprietário, Roberto Marinho. Na manhã do dia 12 de julho de 1962, o periódico carioca estampava na capa: “A Mulher Brasileira está nas Trincheiras”.
Já em São Paulo, nas reuniões de fundação da UCF, compareceram figuras como: Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, diretor-proprietário do jornal O Estado de S.Paulo, e Regina Figueiredo da Silveira, primeira presidente da união paulista e irmã do banqueiro João Baptista Leopoldo Figueiredo, presidente do Ipês e primo do último presidente do ciclo militar.

marcha da família 64 - 2
2.) EM TERMOS PRÁTICOS, O QUE FIZERAM?
Desde sua fundação, a CAMDE carioca e a UCF paulista se engajaram na ação política de combate e desestabilização do governo Goulart, orientadas ideologicamente e materialmente pelo complexo Ipês-Ibad.
“Caravana a Brasília”: pelo veto a Santiago Dantas
Em 1962, as mulheres organizaram uma “Caravana a Brasília” com o objetivo de formar um efetivo “coro popular” para impedir a posse de San Tiago Dantas como primeiro-ministro. Esse movimento integrava parte da política de rejeição, pela elite, de uma composição com a ala moderada do trabalhismo. Para tanto, entregaram ao presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, 60 mil cartas pedindo a não aprovação do plebiscito antecipado, bem como o impedimento da delegação de poderes ao conselho de ministros, fundamental à continuidade das Reformas de Base do governo Goulart.
Boicote ao Última Hora, o “diário da guerra revolucionária”
Um dos poucos jornais que se atreveram a criticar a tentativa de deturpar o processo eleitoral por parte dessas organizações femininas, o Última Hora, de Samuel Wainer, foi sistematicamente perseguido pela CAMDE e UCF. Caracterizando o periódico como “o diário da guerra revolucionária que se travava no Brasil”, as senhoras passaram a formar comissões de visitas a empresários, industriais e comerciantes que anunciavam no jornal, pedindo para que suas verbas publicitárias fossem suspensas. A coordenação dessa campanha de boicote foi feita em grande parte em sincronia com o Ibad, liderado pelo integralista Ivan Hasslocher, outra figura central na campanha anti-Jango. Hasslocher se exilou em Genebra depois de comprovados, pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de 1963, os atos de corrupção de seu instituto no processo eleitoral de outubro de 1962.
“Marchas da Família com Deus pela Liberdade”: quem convocou, dirigiu e financiou
Logo após o discurso de Goulart na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, a CAMDE se engajou em campanhas por telefone, incitando as mulheres a permanecerem em casa e acenderem velas em suas janelas como sinal de protesto e fé cristã. A massiva “Cruzada do Rosário em Família”, do padre norte-americano Patrick Peyton, pároco de Hollywood, foi o ensaio-geral para as marchas anticomunistas de abril e março de 1964, fundadas no lema “A família que reza unida permanece unida”.
Seis dias depois do comício de Jango, em 19 de março, data em que se comemora o dia de São José, padroeiro da família, realizou-se em São Paulo a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, coroando o auge dos esforços das associações femininas orientadas pelo Ipês.
A marcha reuniu entre 500 mil e 800 mil pessoas para protestar contra o comício de Goulart na Central do Brasil. A idealização da marcha partiu do deputado federal Antônio Sílvio Cunha Bueno (PSD), um grande proprietário de terras e diretor da norte-americana Willys-Overland Motors do Brasil, cuja matriz ficou famosa pela fabricação, em parceria com a Ford, do jipe usado pelos norte-americanos na Segunda Guerra Mundial. Ao contrário da propagandeada supervalorização do papel dessas mulheres na condução dos protestos, a organização da marcha não ficou a cargo nem da UCF nem do MAF, ambas entidades sediadas em São Paulo. Quem levou o evento adiante foi o próprio Cunha Bueno, além de outros políticos paulistas, como o vice-governador Laudo Natel, Roberto de Abreu Sodré (UDN) e Conceição da Costa Neves (PSD), deputada mais votada no estado nas eleições de 1962.
Acompanhados de suas esposas, políticos importantes se fizeram representar nas marchas: Adhemar de Barros e sua mulher, dona Leonor; além de Carlos Lacerda, governador do Rio, e dona Letícia. O deputado Herbert Levy, integrante da UDN e líder do Ipês, bradava: “o povo não quer ditaduras, o povo não quer comunismo, o povo quer paz e progresso”. Cunha Bueno discursava: “Todos vocês nessa praça representam a pátria em perigo de ser comunizada. Basta de Jango!”.
Em São Paulo, os banqueiros Hermann Morais Barros (Banco Itaú), Teodoro Quartim Barbosa (Comind) e Gastão Eduardo Vidigal (Banco Mercantil), líderes ipesianos do primeiro escalão, ficaram incumbidos de articular e obter adesão das entidades de classe de todo o país para as marchas.
“O Ipês de São Paulo também fez contribuições diretas e em dinheiro para o movimento feminino: consta do relatório de despesas de 1962 e do orçamento de 1963 uma contribuição mensal para a UCF”, conclui a historiadora Solange Simões.
A organização logística da marcha foi feita no prédio da Sociedade Rural Brasileira, supervisionada pelo Ipês e contando com a presença de membros de diversas entidades patronais e associações industriais. No bem aparelhado quartel-general do movimento feminino fizeram-se ainda pôsteres, cartazes e bandeiras com as seguintes palavras de ordem:
Abaixo o Imperialismo Vermelho
Renúncia ou Impeachment
Reformas sim, com Russos, não
Getúlio prendia os comunistas, Jango premia os traidores comunistas
Vermelho bom, só o batom
Verde, amarelo, sem foice nem martelo

marcha da familia 64 - 3

3.) HOUVE PROTAGONISMO FEMININO?
Uma vez vitorioso o golpe de Estado de 1º de abril de 1964, foi deflagrada a chamada “Marcha da Vitória”, reunindo 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro. Logo no dia 3 de abril, o líder do Ipês João Baptista Leopoldo Figueiredo, que estava em reunião na Guanabara na qual discutiam a escolha do “novo candidato” à presidência, telefonou para sua irmã Regina Figueiredo Silveira, presidente da UCF. Motivo: o banqueiro primo-irmão do último presidente militar solicitava à irmã-ativista que o lançamento da candidatura de Castello Branco fosse feito pela própria UCF.
Paulo Ayres Filho, outro líder ipesiano e empresário da indústria farmacêutica, ficou incumbido de elaborar, junto com uma equipe da UCF, o manifesto feminino de apoio ao marechal, levado às estações de TV e jornais pelas senhoras.
O general Olympio Mourão Filho, que marchou de Minas Gerais em 31 de março, antecipando-se ao plano dos conspiradores do eixo Rio-São Paulo, comentou, sobre as marchas das mulheres, que “como todos os homens que participaram da revolução, nada mais fez do que executar aquilo que as mulheres pregavam nas ruas para  acabar com o comunismo”. Cordeiro de Farias foi ainda mais longe, de acordo com Solange Simões, “ao afirmar que a revolução foi feita pelas mulheres”.
Historiadores que estudaram o período são mais céticos: não veem a movimentação das mulheres como sintoma do engajamento universal da população brasileira no combate a Jango. Na verdade, essas mulheres, teriam funcionado como massa de manobra dos conspiradores — todos homens — para criar uma sensação de “espontaneidade” e “clamor popular” apta a dar “legitimidade” ao novo governo. Como aponta a pesquisadora Solange Simões, a marcha foi “ostensivamente uma manifestação das classes média e alta”. E mais: foi muito restrita, pois em uma cidade de 6 milhões de habitantes, como São Paulo, apenas 500 mil pessoas participaram.
Até o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, notório por seu apoio ao golpismo, percebeu a falta de apoio popular no movimento, conforme relata a Washington em um telegrama de 2 de abril de 1964: “A única nota destoante foi a evidente limitada participação das classes mais baixas na marcha”. Seu espião militar no Brasil, o coronel Vernon Walter também atesta que, até a realização das passeatas, havia um receio de que o movimento para derrubar João Goulart fracasse por falta de apoio popular.
Desferido o golpe em 1º de abril, as marchas do Rio e São Paulo foram seguidas de outras menores, organizadas pelas associações femininas em Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Santos.
“Se antes os maridos enalteciam o papel de mãe e esposa para manter a mulher no lar e discriminadas na esfera pública, passam agora a enaltecer aquele papel para comprometê-la na ‘política’”, arremata Solange Simões. Assim, revelando o ilusório protagonismo vislumbrado pelo espetáculo dessas marchas de massivas mobilizações, “a ‘mulher-dona-de-casa’ que respeitava, no lar, a autoridade do chefe da família, deveria, enquanto mulher-cidadã procurar a autoridade do Estado – autoridade que residia principalmente no seu braço armado”, conclui a historiadora.

Estrela cadente

Caso Sheherazade do SBT
Jandira Feghali

O governo federal estuda suspender a verba publicitária que repassa à terceira maior emissora de TV do país, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). O caso é examinado pela equipe do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a pedido da líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali(RJ).

A deputada acusa a emissora de ter praticado apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento ao exibir comentários da apresentadora Rachel Sheherazade que, segundo a parlamentar, exaltavam a ação de chamados “justiceiros” no Rio de Janeiro contra um jovem de 16 anos, acusado de furto. “A Secom me deu um primeiro retorno dizendo que concorda com o conteúdo do nosso pedido e que estuda quais providências tomar”, disse Jandira Feghali ao Congresso em Foco.

A assessoria da Secretaria de Comunicação da Presidência confirmou que a pasta estuda o assunto, mas afirmou que só o ministro Thomas Traumann poderia confirmar se concorda ou não com a suspensão da verba. A reportagem aguarda retorno da Secom desde ontem (18) à tarde.
Em 2012, o SBT recebeu R$ 153,5 milhões em publicidade de verba publicitária do governo federal. Ficou atrás apenas da Globo (R$ 495 milhões) e da Record (R$ 174 milhões). O valor destinado à TV de Silvio Santos corresponde a 13,64% do bolo publicitário das emissoras. “Como o governo pode subsidiar um canal que tem uma editorialista que incita à violência e à justiça com as próprias mãos?”, questiona Jandira Feghali.

"Na edição do telejornal SBT Brasil, do último dia 4 de fevereiro, Rachel disse que era “compreensível” a ação de um grupo de pessoas que acorrentou a um poste um adolescente acusado de furto no bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio. O jovem foi acorrentado, nu, pelo pescoço com uma trava de bicicleta. Ele teve parte da orelha cortada e só foi solto após a intervenção de uma moradora.

Para Rachel, a ação dos “justiceiros” se justifica por causa do clima de insegurança nas ruas e da ausência de Estado. Ela também criticou a atuação de militantes dos direitos humanos. “Faça um favor ao Brasil. Leve um bandido para casa”, declarou. Dias depois de ser acorrentado e solto, o adolescente foi detido novamente, desta vez por tentar assaltar um turista na cidade. Até o mês passado, o menor acumulava três passagens pela polícia.

Perda da concessão

A líder do PCdoB na Câmara trabalha em duas frentes contra o SBT. Além do ofício enviado diretamente à Secom, no dia 20 de fevereiro, ela também apresentou umrequerimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) em que pede a abertura de inquérito contra a TV e Rachel Sheherazade e o corte da verba enquanto durarem as investigações. Como mostrou o Congresso em Foco, em caso de condenação, Jandira solicita que o SBT perca até o direito à concessão pública. Caberá ao procurador-geral, Rodrigo Janot, dar andamento ou não aos pedidos.

A deputada diz que não há censura em sua iniciativa. Segundo ela, uma coisa é externar uma opinião, outra é defender um crime como “fazer justiça com as próprias”. “Não podemos ser coniventes com nenhum crime. O único poder capaz de julgar a proporcionalidade da punição é a Justiça, que dá direito de defesa. Temos de defender o estado democrático de direito.”

Compreender, sem aceitar

A reportagem procurou Rachel Sherazade e o SBT por meio da assessoria de imprensa da emissora. Mas, até o fechamento desta reportagem, ainda não havia recebido retorno da TV do empresário Sílvio Santos.

Em artigo publicado em 11 de fevereiro, na Folha de S. Paulo, a apresentadora diz que apenas expressou sua opinião e que não defendeu os chamados “justiceiros”. “Em meu espaço de opinião no jornal SBT Brasil, afirmei compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio”, escreveu Rachel. Em nota divulgada à época, o SBT alegou que a opinião da apresentadora era de responsabilidade dela, e não da emissora.

Jandira não concorda. Para ela, como concessão pública, a TV tem total responsabilidade em relação ao que leva ao ar. “A emissora vai ter de assumir. Não estamos provocando a Rachel Sheherazade, é o SBT que está em questão. Não é uma questão dela especificamente, mas dela vinculada ao canal. A gente espera que isso sirva de parâmetro para outras TVs”, disse a deputada.
Em 2000, o SBT chegou a ficar com 20% do “bolo” publicitário do governo entre as emissoras de TV. Naquele ano, ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a emissora recebeu R$ 135 milhões para divulgar ações do governo federal. Na época, era vice-líder de audiência, posto que perdeu, de lá para cá, para a Record, de Edir Macedo.

Outras representações

Este não é o único caso envolvendo a apresentadora e a emissora que Rodrigo Janot terá de analisar. Ainda em fevereiro, o Psol acionou a PGR contra Rachel e o SBT por apologia ao crime, à tortura e ao linchamento. No encontro com os parlamentares, Janot se comprometeu a designar um procurador para investigar o caso.

“A violência é feita em palavras pela Rachel Sheherazade tentando justificar uma violência absurda. E ela diz isto num meio de comunicação que é uma concessão”, afirmou o líder do Psol na Câmara, Ivan Valente (SP). “A liberdade de imprensa, que é importante e necessária, não poder ser refúgio de declarações irresponsáveis”, acrescentou o deputado.

Ainda em fevereiro, a presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, senadora Ana Rita (PT-ES), pediu à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo que abra procedimento para apurar o conteúdo do comentário de Rachel. Para a senadora, a apresentadora violou os direitos humanos e fez incitação à violência. Com o ofício, foi encaminhada uma nota de repúdio publicada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro sobre as violações de direitos cometidas pela jornalista.

A assessoria da Secretaria de Comunicação da Presidência disse que o ministro Thomas Traumann estava em reuniões na Presidência da República e não poderia poderia confirmar, como disse Jandira Feghali, se ele concorda com a suspensão da verba do SBT.


Fonte: Brasil de Fato

Entrevista com José Mujica, Presidente do Uruguai

Mujica: ‘Aplicamos um princípio simples, reconhecer os fatos’

  • Em entrevista exclusiva, presidente do Uruguai diz que legalizar no mesmo ano maconha, casamento gay e aborto é apenas resposta à realidade
  • Mandatário afirmou que seu modo de vida austero é ato de protesto contra distorção dos valores da república por políticos, e que só é visto como modelo por falta de verdadeiros líderes no mundo





‘Camponês com senso comum’. O presidente do Uruguai, José Mujica, durante a entrevista no escritório da humilde casa de 45 metros quadrados onde ainda vive em Montevidéu
Foto: Sergio Flaksman




‘Camponês com senso comum’. O presidente do Uruguai, José Mujica, durante a entrevista no escritório da humilde casa de 45 metros quadrados onde ainda vive em Montevidéu Sergio Flaksman
MONTEVIDÉU — Todo mundo já sabe, mas se espanta: o presidente do Uruguai, José (Pepe) Mujica, mora numa casa de 45 metros quadrados com teto de zinco, cachorro com três patas e cadeiras de fórmica cambetas. Chega-se a ele sem passar por seguranças ou mostrar documentos: a única formalidade é cumprida por um guarda, que sai do carro de polícia estacionado na estrada de terra e vai perguntar se o presidente está disponível para receber visitas.
A sala é escura, tem infiltrações nas paredes, um retrato pequeno de Che Guevara, uma estante com livros desarrumados, uma foto dele com a faixa de presidente, uma caixa de vinho encostada num canto — um Bouza, o melhor do Uruguai. Quando era guerrilheiro tupamaro, Mujica assaltava bancos e distribuía comida entre os pobres.
Agora doa 90% do salário e só vai à residência oficial da Presidência quando o visitante exige segurança redobrada. Seu estilo divide opiniões no país, mas sua popularidade é maior agora do que ao ser eleito, em 2009. Num único ano, 2013, legalizou o aborto, o casamento gay e a maconha. Virou inspiração para muitos jovens — e não tão jovens — por seu jeito despojado de fazer e ver a política. “Eu não sou nada, sou apenas um camponês com senso comum”, afirma.
Mujica é firme e seguro em suas opiniões: não vai existir um turismo da maconha, as repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas cortes, a política não pode ser uma máfia e tem limitações. O Uruguai — diz até a oposição — vive um momento de autoestima alta e Mujica — indicam as pesquisas — deverá eleger seu sucessor em outubro. Mas seu estilo é único.
Em abril, a lei da maconha estará regulamentada e em vigor no Uruguai. A maioria da população é contra, o senhor está preocupado? É um risco político num ano de eleição?
Não estou preocupado. Não posso estar preocupado por uma coisa que eu mesmo decidi. Posso ficar preocupado depois que comecemos a praticá-la. É um risco político sim, mas definitivamente o mundo não teria mudado se só pensarmos nos riscos eleitorais. Aqui, quando se estabeleceu o divórcio por vontade da mulher, em 1914 ou 1915, dizia-se que a família iria se dissolver, a moral da família seria afetada e poderia não resistir.
Quando o Estado nacional legalizou o álcool e durante 50 anos o vendia às pessoas, dizia-se que era igual a sovietizar a economia. Sempre que propomos alguma coisa diferente, a reação é parecida. Na legalização do aborto, também disseram o mesmo mas agora constatamos que a maioria da população respalda essa política, entendeu que serviu para salvar vidas, tanto das mulheres quanto das crianças.
Agora, podemos agir sobre a psicologia da mulher, podemos atuar diante da solidão da mulher e fazê-la dar marcha à ré em sua decisão. Isso só é possível porque legalizamos o aborto. Acho que seguiremos um caminho parecido contra o narcotráfico.
Mas agora é mais radical. O Uruguai será o primeiro país do mundo onde a maconha será legal.
Queremos tirar o mercado do narcotráfico, queremos tirar-lhes o motivo econômico, queremos que o narcotráfico tenha um competidor forte e não seja o monopolista do mercado. Ao mesmo tempo, tentamos incitar as pessoas a atuarem do ponto de vista médico.
Se as pessoas continuam no mundo clandestino, não podemos trabalhar, pelo menos trabalhar a tempo, só entramos quando já é muito tarde e quando já cometeram delitos para ter dinheiro e conseguir a droga. Mas temos que ter muito cuidado, porque não é uma legalização como as pessoas supõem no exterior, não vai ter um comércio, os estrangeiros não poderão vir aqui ao Uruguai para comprar maconha. Não vai existir o turismo da maconha. A decisão tomada não tem nada que ver com esse mundo boêmio. Nada que ver..
Nada de revival do paz e amor....
Não, não tem nada a ver. É uma ferramenta de combate a um delito grave, o narcotráfico, é para proteger a sociedade. É muito sério.
O senhor em algum momento da vida fumou maconha?
Não, nunca, sou antigo. Fumei tabaco toda a minha vida, e ainda fumo às vezes. Fumo tabaco bom. Não sei se é pior que maconha, mas não acho que é bom.
O senhor rompeu com todos os símbolos do poder. O seu estilo de vida, austero, é uma mensagem política?
Pretende ser um mini-ato de protesto. As repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas cortes, as repúblicas nasceram para dizer que todos somos iguais. E entre os iguais estão os governantes. Têm uma responsabilidade implícita e penso que devem viver de forma bastante similar à maneira de viver da maioria do seu povo.
Têm de tentar representar a maioria desse povo e não devem deixar os resquícios de feudalismo e da monarquia dentro da república. Na república é distinto, ninguém é mais que ninguém, começando pelo governante. Por não ser assim é que muitíssima gente — especialmente os jovens — não crê na política. A política não pode ser máfia e tem limitações. Mas se os cidadãos não creem na ética da política, também não vão perdoar os erros humanos que inevitavelmente estamos condenados a cometer.
No Uruguai, os partidos de esquerda conseguiram se unir numa Frente Ampla que dura 40 anos. É um país em que a polarização política não é forte, ainda mais se comparada com os EUA, a Venezuela e mesmo no Brasil. Não imobiliza o governo.
Faz muito tempo que na nossa cultura política se incorporou o diálogo e o intercâmbio como método. Sobrevivem no Uruguai os dois partidos mais velhos provavelmente do Ocidente, mas nunca foram partidos exatamente, sempre foram frentes, tinham dentro a esquerda, o centro e a direita, tudo junto. Quer dizer, tinham de negociar muito internamente, se não perdiam para o partido adversário.
Acabou criando-se uma espécie de cultura nacional, a esquerda uruguaia conseguiu criar a frente por causa desta cultura. Nesta frente, estamos todos, inclusive os cristãos, os católicos e os marxistas. E cada vez estamos mais seguros, porque agora já se criou uma tradição: quem sai da Frente, perde. Se saem desse conglomerado, desaparecem politicamente, aconteceu assim várias vezes. Internamente há um movimento, muda-se de partido, mas o bloco continua. Por isso, não podemos ser radicais, somos uma esquerda moderada, porque a linha real é uma espécie de ponto médio entre nós.
E isto encarna bem o Uruguai, pouca montanha, pouca selva, todos moderados no Uruguai.
O senhor diz que é moderado mas sua agenda modernizadora botou o país no cenário mundial.
Aplicamos um princípio muito simples: reconhecer os fatos. Aborto é velho como o mundo, a mulher na sua solidão, inevitavelmente tem de enfrentar com este problema. Para nós, a legalização do aborto e os métodos de contracepção, o trabalho psicológico, significam uma maneira de perder menos. Aqui a mulher não vai diretamente a uma clínica para fazer aborto, isto era na época em que era clandestino. Passa pelo psicólogo, depois é bem atendida.
O casamento homossexual, por favor, é mais velho que o mundo. Tivemos Julio Cesar, Alexandre O Grande, por favor. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos. É um dado de realidade objetiva, existe. Para nós, não legalizar seria torturar as pessoas inutilmente.
Nosso critério é fazer só uma organização dos fatos já existentes. Aqui enxergamos a hipocrisia: em muitos estados nos Estados Unidos existe um talonário vendido no comércio para receitas médicas; basta o médico assinar e dizer que necessitas de maconha para uma dorzinha aqui (aponta o ombro). É hipócrita.
Existe no mundo uma crise de representatividade das democracias e, ao mesmo tempo, uma efervescência de protestos por toda a parte. Como o senhor analisa este este fenômeno?
Acho que existe uma fantasia e uma incomunicabilidade em relação aos assuntos mais importantes. O mundo vive uma crise de caráter político, nossa civilização entrou numa etapa de crise de governança. O mundo está necessitando um conjunto de acordos de caráter mundial, porque tem problemas que nenhum país sozinho pode resolver.
A humanidade tem de pensar em governar, não para a nação ou para o indivíduo, mas para o futuro da espécie. Com este tipo de civilização que desatamos, não há forma de mitigar os danos ao meio-ambiente, não estamos resolvendo nada, só acumulando desastres. Existe um continente de plástico no Pacífico maior do que a Europa.
Que vai ser da humanidade? E vamos continuar a produzir plástico e atirando no mar, sem conseguir um acordo mundial por causa da política?
Na ONU, o senhor falou contra o modelo de desenvolvimento.
Falta uma agenda de grandes problemas que têm o mundo. De um lado, temos uma economia baseada no hiperconsumo de coisas inúteis: fabricar bagatelas que durem pouco. Poderíamos seguir movendo a economia mundial com outro motor e sacar parte da humanidade que está submersas na tristeza e na pobreza, em lugares que falta água. Isto é um mercado, a solidariedade levaria à criação de um mercado maior posteriormente.
Temos que lutar para que todos trabalhem, mas trabalhem menos, todos devemos ter tempo livre. Para que? Para viver, para fazer o que gostam. Isto é a liberdade. Agora, se temos de consumir tanta coisa, não temos tempo por que precisamos ganhar dinheiro para pagar todas essas coisas. Aí vamos até que pluff, apagamos.
Mas o senhor tem simpatia pelos movimentos de protesto, como a primavera árabe, o grupo italiano 5 estrelas ou os protestos no Brasil e na Europa?
Tem muito protesto de intelectual médio, que segue preso à sociedade de consumo e depois vai enriquecer trabalhando para alguma multinacional, quando passar a idade dos protestos. Eu simpatizo com os protestos, mas não levam a lugar nenhum.
Mas derrubaram alguns governos, deram alguns sustos em governantes acomodados.
Sim, mas não construíram nada. Para construir, há de se criar uma mente política, coletiva, de longo prazo, com ideias, disciplina, e com método. E isso é antigo, ou parece antigo. Mas sem interesses coletivos, é difícil mudar. Não são os grandes homens que mudam as sociedades, mudam quando os protestos se organizam, disciplinam, têm métodos de longo prazo.
E isso significa gente que dedique sua vida. Temos de revalorizar o papel da política. Mas no mundo real, muita gente se mete na política por que gosta de dinheiro, estes devem ser expulsos porque prostituem a política. A política tem de ser feita com carinho, a política tem a ver com a harmonia das contradições que há na sociedade, tem de lutar para harmonizar este mundo frágil e cheio de contradições que estamos vivendo.
Estes movimentos de protesto têm a vantagem do novo, e tentam alguma coisa nova porque desconfiam de todos os velhos, especialmente os partidos, por que perderam a confiança neles. Mas as primaveras têm se transformado em inverno por que não sabem onde ir.
O senhor, quando tupamaro, pretendia tomar o poder para mudar o mundo. Chegou lá pelas vias democráticas. Quais são as limitações do poder de um presidente?
O poder é uma coisa muita esquiva e muita fragmentada. Há 40 ou 50 anos, achávamos que chegar ao governo nos permitiria criar uma nova sociedade. Nossa maneira de pensar era ingênua, uma sociedade é muito mais complexa e o poder muitíssimo mais complexo.
E limitado?
Limitado por todos os lados, pelo peso que têm as corporações existentes na sociedade. Limitado pelo direito e pela Constituição, um limite que tem de existir. A contradição das corporações e dos distintos interesses, as dificuldades da realidade. E, sobretudo, toda a política de mudança, a longo prazo, significa mudança de cultura. E o mais difícil de mudar numa sociedade é a cultura.
Quando somos jovens, às vezes, não temos paciência para compreender. E, quando começamos a ficar velhos, falta força e sobra paciência.
O senhor já disse que Uruguai poderia ser um vagão no trem brasileiro. Ficou aborrecido pela falta de resposta?
Não, nós sempre vemos muita boa vontade no governo brasileiro, cada vez que tivemos problemas o governo brasileiro nos deu uma resposta. Mas o Brasil é uma confederação de estados e as dificuldades no comércio passam pelos interesses dos Estados.
Lutamos humildemente para que o Brasil entenda a responsabilidade que tem na América Latina. Por ser o maior e mais forte, tem mais responsabilidade e tem de se dar conta desta responsabilidade.
Conta a lenda que Dilma não gosta de política externa.
O problema é que todo o Brasil tem dificuldade de olhar para a política externa. Existe uma corrente dentro do Brasil que defende uma integração interna primeiro, mas já não há tempo para isso.
Isto pode ser válido mas já não dá tempo porque o mundo caminha assim. As multinacionais estão formando grupos gigantescos, a Europa tem mais de 600 milhões de pessoas, têm línguas distintas, tradições distintas, mas esse barco segue navegando apesar de todos os problemas. Os EUA têm seu espaço, têm o Canadá, uma terra prometida. De outro lado do Pacífico tem a China, com 40 línguas faladas dentro da China, os que são minorias são maiores do que qualquer república latino-americama. A Índia é um espaço multinacional.
Este é o caminho do mundo do futuro e a discussão vai ser entre eles. Nós, latino-americanos, temos de ter a sabedoria de tratar de construir acordos para poder pesar neste mundo. Nós precisamos do Brasil, mas o Brasil necessita de nós todos, porque o desafio é de continentes. Isto não significa que as nações percam identidades, pelo contrário, significa que a política do futuro tem diversos planos — vai seguir existindo o municipal mas há uma agenda do mundo e temos de participar dela como grande unidade continental e temos de construí-la.
Mas o Mercosul não tem a capacidade de fazer isso.
Tem dificuldades. A burguesia paulista, que é a mais competente do continente, deveria entender que é tempo de juntar aliados, não de colonizar. Tem de criar sistemas de multinacionais latino-americanas e uma forma é multiplicar a força juntando-nos. A luta é que os brasileiros sejam mais latino-americanos, que aprendam a falar castelhano e nós temos de aprender o português.
Lula declarou que vai lançá-lo para presidente da Unasul.
Lula tem muita preocupação com o meu futuro e eu com o dele. O Brasil tem a Amazônia, os grandes rios, reserva petroleiras importantes e deve recordar que também tem Lula. Tanto privilégio no mundo é difícil.
O senhor foi chamado de presidente "gente boa" pelo jornal espanhol ‘El Mundo’, a Foreign Policiy disse que o senhor redefiniu o papel da esquerda no mundo. O senhor se reconhece em algum desses papeis?
Reconheço a tragédia do mundo atual. Este reconhecimento tão generoso é o outro lado do que está acontecendo no mundo de hoje. Não é que me achem tão excepcional, me usam como uma maneira de criticar os outros. A última vez que estive na ONU escutei discursos de um presidente de um país europeu pelo qual temos um respeito enorme pela cultura, por suas tradições, pelo que significou no mundo. Fiquei assustado, porque parecia um discurso neo-colonialista
Era o presidente da França?
Foi um terror, um presidente de esquerda, da república francesa, a pátria-mãe das revoluções. Se olhamos a política italiana, é um terror. Eu não sou nada, sou um camponês com senso comum. Sem dúvida, estou vivendo uma peripécia. Talvez, se não tivesse passado tantos anos presos com tempo para pensar, fosse diferente.
O Uruguai foi responsável por um grande trauma brasileiro em 50, quando derrotou o Brasil no Maracanã. Esta história pode se repetir?
Muito difícil, isto foi uma coisa excepcional. Mas tinha antecedentes, o Uruguai tinha passado por uma grande greve de jogadores, assim que acabou teve de se montar uma seleção para jogar com o Brasil. E esta seleção ganhou. O futebol na época estava mais equilibrado na região: agora é quase impossível para o Uruguai – um país de 3 milhões de pessoas - ganhar um Campeonato do mundo.
Ano passado estive na Espanha, o presidente do Real Madrid me contou que o orçamento do clube é de US$ 400 milhões por ano, nenhum clube do Uruguai gastou isso em toda a sua vida. Mas ninguém pode nos proibir de sonhar. O futebol tem milagres e isto é interessante. Estão dizendo que o estádio está atrasado, mas sempre se termina no último momento, uma semana antes o Maracanã estava cheio de tapumes.
Brasil vai fazer um campeonato do mundo lindo. Brasil deve apreciar o melhor que tem, não é a Amazônia nem o petróleo, é o experimento social de ser o país mais mestiço do mundo. E tem uma grande alegria de viver, mesmo com as dificuldades e isso deve ã África. Por isso, a luta é que brasileiros sejam mais latino-americanos.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/mujica-aplicamos-um-principio-simples-reconhecer-os-fatos-11827657#ixzz2wMMqguFl
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Tárrega, por Tatyana Ryzhkova

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segunda-feira, 17 de março de 2014

O ninho da serpente

O ninho da serpente
Mauro Santayana

Há um velho ditado que reza que, toda vez que o capitalismo se vê ameaçado, ele sai para passear com o fascismo.

Como um skinhead e seus pit-bulls, que pode ser por eles atacado, depois de tentar prendê-los à força no canil, ao voltar para casa, bêbado drogado, a Europa mostra que não aprendeu nada com as notícias dos jornais, nem com as lições do passado.

Dirigentes europeus - e norte-americanos - tiram fotos, sorridentes, ao lado dos líderes do Partido Svoboda ucraniano, que podem ser vistos, em outras fotos, recentes, discursando em tribunas nazistas e saudando com a palma da mão levantada.

A cruz celta, símbolo da supremacia branca, as suásticas, os três dedos que lembram o tridente tradicional usado pelos neofascistas ucranianos, os raios assassinos das SS nazistas, destacam-se nas bandeiras e braçadeiras portadas pela multidão, na qual desfilam, triunfantes, membros das 22 organizações neonazistas que existem no país, que, segundo analistas locais, são muito mais radicais que o “Svoboda”.

As notícias que vem de Kiev dão conta de que há indícios de que os atiradores que mataram manifestantes durante os protestos, antes do golpe, teriam sido contratados pelos próprios neonazistas para fazê-lo. Sinagogas têm sido incendiadas nos últimos meses, professores e estudantes de Yeshivas – assim como estrangeiros e homossexuais - têm sido insultados e espancados pelas ruas.

Na Ucrânia atual o antissemitismo é tão forte, que nos últimos 20 anos, depois da derrocada da União Soviética – que sempre protegeu os judeus como etnia – 80% dos 500.000 hebreus que viviam no país o abandonaram, desde 1989, em um êxodo sem precedentes no pós-guerra. Hoje, em uma população mais de 44 milhões de habitantes, há menos de 70.000 judeus ucranianos.

Se a situação é ameaçadora para a população judaica, é ainda pior para os cerca de 120.000 a 400.000 ciganos que vivem na Ucrânia, uma minoria que não conta com recursos para deixar o país, nem com um destino, como Israel, que os possa receber.

Com a desmobilização da polícia e do exército, e sua substituição por brigadas paramilitares compostas de vândalos e arruaceiros, os neonazistas têm circulado livremente pelos bairros ciganos da periferia de Kiev e de cidades do interior do país, insultando e agredindo, impunemente, qualquer homem, mulher, criança, idoso, que encontrem pela frente.

Não é preciso lembrar que os ciganos, assim como os judeus, foram torturados e mortos – seis milhões de judeus e um milhão de ciganos, pelo menos – nos campos de concentração e de extermínio nazistas, a maioria deles pelas mãos de voluntários ucranianos, que serviam de “guarda” auxiliar para os alemães, em lugares como Treblinka, Auschwitz e Sobibor.

Os nazistas ucranianos não apenas forneceram assassinos e torturadores para o holocausto - e a eliminação de prisioneiros políticos e de homossexuais - mas também lutaram ao lado dos alemães, por meio da sua famigerada Legião Ucraniana de Autodefesa e da Divisão SS Galitzia, contra os russos, na Segunda Guerra Mundial.

Longe de renegar esse passado, do qual toma parte o extermínio da própria população ucraniana – em Baby Yar, uma ravina perto de Kiev, foram massacrados, com a ajuda de soldados e policiais ucranianos, 150.000 mil civis, entre ciganos, comunistas, e judeus ucranianos, 33.700 deles apenas nos dias 29 e 30 de setembro de 1941 – a direita ucraniana o venera e honra.

No dia primeiro de agosto de 2013, com a presença de um padre ortodoxo, dezenas de pessoas vestindo uniformes da Waffen SS, em meio a uma profusão de bandeiras ucranianas e de suásticas, se encontraram na cidade de Chervone, na Ucrânia, para honrar o “sacrifício” dos “heróis” ucranianos da Divisão SS Galitzia.

Os nazistas ucranianos não foram os únicos a combater, ao lado de Hitler, contra a União Soviética e a colaborar no extermínio de judeus e ciganos e da sua própria população.

O massacre de Odessa, também na Ucrânia, de outubro de 1941, no qual morreram 50.000 judeus, foi cometido, sob “organização” alemã, por tropas do exército romeno, um dos diversos países que participaram, como aliados do nazismo, da invasão da URSS na Segunda Guerra Mundial.

Entre elas, estavam, além da Itália, da Espanha e da Romênia, Bulgária, Hungria e Eslováquia, países não por acaso colocados - para que isso não viesse a acontecer de novo - sob a esfera de influência soviética, após o fim do conflito.

Engrossada pela deterioração do estado de bem-estar social, a crise econômica, o desemprego e a pressão migratória - criada em boa parte pela própria Europa com o incentivo ao terrível pesadelo da “Primavera Árabe” - a baba do racismo, do ódio contra os ciganos e os árabes, do antissemitismo e do anticomunismo mais arcaico e bestial, espalha-se como peste seguindo o curso de grandes rios como o Dnieper e o Danúbio, criando uma sopa densa e corrosiva, apropriada para alimentar as ovas - nunca totalmente inertes - da serpente nazista.

Fruto de uma nação multiétnica, que estabelece seu passado e seu futuro na diversidade universal de sua gente, nenhum brasileiro pode ficar ao lado dos golpistas neofascistas ucranianos.

Não é possível fazê-lo, não apenas pelo senso comum de não apoiar uma gente que odeia e despreza tudo o que somos.

Mas, também, porque não podemos desonrar o sangue e a memória daqueles cujos ossos descansaram no solo sagrado de Pistóia.

De quem, em lugares como Monte Castelo e Fornovo di Taro – onde derrotamos, em um único dia, a 148 Divisão Wermacht e a Divisão Bersaglieri Itália, obtendo a rendição incondicional de dois generais e de milhares de prisioneiros – combateu, com a FEB, o bom combate.

Dos soldados e aviadores que, com a força e a determinação de 25.700 corações brasileiros, ajudaram a derrotar, naquele momento, a serpente hitleriana.

No afã de prejudicar e sitiar a Rússia, criando problemas à sua volta, em países que já a atacaram no passado, o que a UE não entendeu, ainda, é que o que está em jogo na Ucrânia não é apenas o futuro do maior país europeu em extensão territorial, nem mesmo o de Putin, mas o da própria Europa.

Até agora, o neonazismo se ressentia de um território grande e simbólico o suficiente, do ponto de vista de uma forte ligação com o anticomunismo e com o nacional-socialismo, no passado, para servir de estuário para o ressentimento e as frustrações de um continente decadente e nostálgico das glórias perdidas, que nunca se sentiu realmente distante, ou decididamente oposto, ao fascismo.

Faltava um lugar, um santuário, onde se pudesse perseguir o mais fraco, o diferente, impunemente. Um front ideológico e militar para onde pudessem convergir – como voluntários ou simpatizantes - militantes da supremacia branca de todo o mundo.

Um laboratório para a criação de um novo estado, com leis, estrutura e ideologia semelhantes às que imperavam na Alemanha há 70 anos.

Se, como tudo indica, os neonazistas se encastelarem no poder em Kiev, por meio de eleições fraudadas, ou da consolidação de um golpe de estado desfechado contra um governante eleito, o ninho da serpente poderá renascer, agora, no conflagrado território ucraniano.



Conhecendo a História do Brasil

Elite econômica que deu golpe no Brasil tinha braços internacionais, diz historiadora

02/03/2014 18:30
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Além de atuar no movimento civil-militar que conspirou e depôs o presidente João Goulart em 1964, a elite empresarial brasileira também manteve, ao longo de todos os anos 1960, estreito vínculo com o capital estrangeiro, numa “relação íntima” com os interesses dos executivos norte-americanos. A afirmação é da historiadora Martina Spohr, coordenadora da área de Documentação do CPDOC da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e estudiosa do regime ditatorial que vigorou no Brasil até 1985.

Como muitos pesquisadores que se debruçam sobre o período, Martina concebe o 31 de março como um golpe classista e empresarial-militar. No mestrado, "Páginas golpistas: anticomunismo e democracia no projeto editorial do IPES (1961-1964)", concluído em 2010 pela UFF (Universidade Federal Fluminense), Martina esmiuçou o projeto editorial do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, organização fundada com o objetivo público de defender a "livre iniciativa" e a "economia de mercado", mas que funcionou, na prática, como um ponto de encontro de acadêmicos conservadores, empresários e militares empenhados em desestabilizar o governo de João Goulart (1961-1964).
No doutorado, em andamento na UFRJ (com uma bolsa-sanduíche na Brown University, nos EUA), Martina aprofundou a pesquisa sobre os civis que fizeram o regime militar. Por conta de seu trabalho na chefia do setor de Documentação do CPDOC/FGV, começou a colecionar indícios de que muitos dos empresários brasileiros que atuaram com destaque na conspiração pré-64 também buscavam criar uma espécie de rede empresarial anticomunista com fortes laços em todo o continente.
Um desses homens de negócios era o paulista Paulo Ayres Filho, empresário da indústria farmacêutica. Seu acervo particular — que reúne cartas, recortes de jornal, papéis importantes e cópias de grande parte da documentação do extinto Ipês-SP — foi doado, pelos herdeiros, ao CPDOC/FGV, que tradicionalmente trabalha com a organização e a preservação de arquivos particulares da elite brasileira. Esse material, tratado por Martina, faz parte do rol de fontes primárias que compõem a pesquisa provisoriamente intitulada “Elite orgânica transnacional: a rede de relações político-empresarial anticomunista entre Brasil e Estados Unidos (1961-1968)”.
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“Trabalho com a existência de uma elite orgânica transnacional, que não estava só no Brasil e tinha seus braços internacionais. Personagens importantes do empresariado latino-americano estavam de alguma maneira envolvidos com norte-americanos”, afirma Martina, explicando que foi a partir de Paulo Ayres Filho, anticomunista ferrenho e um dos fundadores do Ipês, que pôde começar a mapear essa rede.

Prendeu em particular a atenção da pesquisadora uma série de correspondências “de cunho bastante pessoal, chegando mesmo a ser íntimo”, entre Ayres Filho e David Rockefeller, multimilionário e magnata do petróleo. David e seu irmão Nelson (vice-presidente dos EUA de 1974 a 1977) eram dois dos maiores entusiastas da Aliança para o Progresso, projeto político que sintetizava os interesses dessa “elite orgânica transnacional”: um programa anticomunista de integração regional levado a cabo pelos EUA no auge da Guerra Fria para lutar contra o que seus defensores chamavam de “cubanização” do continente.

Paulo Ayres Filho teve atuação destacada em um importante episódio que evidenciava o elo entre os altos capitalistas do continente. Em 1963, evento sediado em Nova York proporcionou um encontro informal de empresários das Américas congregando 67 homens de negócios de 11 países do continente. Na ocasião, cinco executivos brasileiros — quase todos importantes lideranças do Ipês — puderam estabelecer contato com os altos escalões da política e da economia dos Estados Unidos. Paulo Ayres Filho foi um deles. E o principal, diga-se: foi escolhido porta-voz do grupo de latino-americanos para encontrar pessoalmente o presidente John F. Kennedy.
Não por acaso, um dos temas preferidos pelos norte-americanos no encontro foi justamente a discussão da Aliança para o Progresso. Na documentação analisada, Martina Spohr pôde constatar que os empresários dos EUA tinham grande interesse em tornar o projeto conhecido (de maneira positiva, obviamente) no Brasil. Por outro lado, os brasileiros aproveitaram o ensejo para criticar certos aspectos da política externa econômica dos Estados Unidos que prejudicavam seus interesses comerciais.

Além disso, em entrevistas concedidas a jornais após a volta para o Brasil, também é possível perceber “uma certa militância política dos empresários brasileiros”. Uma tentativa, conforme explica Martina, de “conscientizar” a elite econômica brasileira, que se sentia “ameaçada” pelo contexto político do país. “Eles estavam chamando o empresariado a participar do processo. E os norte-americanos incentivavam esse tipo de discurso”, afirma a historiadora.
A pesquisa desenvolvida por Martina, entretanto, não fica restrita à atuação dos empresários brasileiros na conspiração que culminou com a derrubada de João Goulart. Até 1968 — ano que marca a radicalização da ditadura brasileira com a edição do AI-5, a chegada da linha dura ao poder e o consequente afastamento de muitos dos setores liberais que haviam apoiado o golpe —, Paulo Ayres Filho recorrentemente viajaria aos EUA para palestrar nas principais universidades do país, “com o objetivo de trazer algum tipo de legitimidade para o novo governo do Brasil”.
Apesar do apoio norte-americano, parcelas do establishment internacional estavam questionando o regime brasileiro pelo rompimento institucional e inconstitucional que representou o golpe de 64 e a tomada do poder pela força. “Havia uma busca desse empresariado para tentar justificar a ‘revolução’. E não só nos EUA; eles também foram para países como Alemanha e França”, assinala Martina Spohr.

Jango: a defesa das reformas de base


Há meio século, Jango defendia reformas de base em comício histórico

13/3/2014 12:33
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro

No dia 13 de março de 1964, o então presidente João Goulart realizou comício na Central do Brasil
No dia 13 de março de 1964, o então presidente João Goulart realizou comício na Central do Brasil
Há exatamente 50 anos, um episódio que teve importância no golpe de 64 aconteceu no Brasil. No dia 13 de março de 1964, o então presidente João Goulart realizou comício na Central do Brasil, região central do Rio de Janeiro, para defender as reformas de base propostas por seu governo. Cerca de 200 mil pessoas acompanharam o discurso que foi encerrado com as seguintes palavras: “Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributárias, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”.
À época, um grupo de sindicalistas comunistas e trabalhistas tomou a frente da organização do evento. Entre eles, estavam  o deputado Hércules Corrêa, que foi fundador e dirigente do CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) e Paulo Mello Bastos, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Transportes Marítimos, Fluviais e Aéreos. Bastos também era secretário político do CGT.
O Comício
O evento, que estava sendo anunciado pelo governo desde janeiro de 1964, reuniu cerca de 200 mil pessoas e foi transmitido ao vivo por rádio e TV para todo o país. Por volta das 14h daquele dia 13 de março, cerca de 5 mil pessoas já se concentravam para o comício do presidente João Goulart na Praça Cristiano Ottoni, Rio de Janeiro, nas imediações da Central do Brasil e do Ministério da Guerra.
Antes de seguir para o palanque, João Goulart assinou, no Palácio das Laranjeiras, o decreto da Supra (Superintendência de Reforma Agrária) – que autorizava a desapropriação de áreas ao longo das ferrovias, das rodovias, das zonas de irrigação e dos açudes – e o decreto que encampava as refinarias particulares de petróleo.
O comício teve início às 18h. Jango subiu ao palanque às 19h45 e começou seu discurso exatamente às 20h46 após a fala do então presidente da UNE, José Serra, do governador de Pernambuco na época, Miguel Arraes, e do deputado Leonel Brizola. Tendo ao seu lado direito a esposa Maria Thereza, Jango falou de improviso durante pouco mais de uma hora. Ele fazia algumas pausas no discurso para passar um lenço no rosto. Eram nesses momentos em que o ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro, aproveitava para sussurrar observações e orientações como, por exemplo, “fale mais devagar, presidente”.
Em seu discurso, Jango falou sobre a mensagem que seria encaminhada ao Congresso e explicou os decretos que havia assinado.

Confira trechos do discurso
Encampação das refinarias
Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão, caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente para melhores dias. Mas também, trabalhadores, quero referir-me a um outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos nacionalistas destes país.
Acabei de assinar, antes de dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares.
A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao patrimônio nacional.
Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da Lei n. 2.004, lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.
Decreto da Supra
O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e intolerável.
Não é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos especuladores de terra, quese apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades, mas sim o povo.
Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo. Reforma agrária com pagamento prévio do latifundio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro. Por isso o decreto da Supra não é a reforma agrária.
Sem reforma constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a Constituição, que tem acima de dela o povo e os interesses da Nação, que a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas nenhuma delas capaz de modificações estruturais profundas.
Mensagem ao Congresso
Na mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional, estão igualmente consignadas duas outras reformas que o povo brasileiro reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros maiores de 18 anos ajudar a decidir dos seus destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, pugnamos pelo princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.
Também está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros. Pelos universitários, classe que sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares nacionalistas.
Comício fazia parte de nova estratégia
Após tentar implementar sem sucesso as reformas por meio de um acordo entre o seu partido Partido Trabalhistra Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrático (PSD), de Juscelino Kubitschek – de quem foi vice-presidente – Jango decidiu se aliar às esquerdas em uma estratégia de mobilização popular que teria início com o comício da Central no dia 13. Três dias antes do comício, o PSD havia rompido formalmente com o governo.
A nova estratégia consistia na mobilização popular por meio de uma série de comícios que seriam realizados em diferentes regiões do país e que culminariam em uma greve geral no dia 1º de maio, como forma de pressionar o Congresso pela aprovação do projeto de reformas anunciado durante o comício e encaminhado formalmente ao Legislativo dois dias depois.
Para isso, Jango contava com as forças que apoiavam as reformas; o CGT, o PCB (Partido Comunista Brasileiro e a Frente de Mobilização Popular (FMP), formando a Frente Única de Mobilização.