terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

PARA NÃO ESQUECER – 27 DE FEVEREIRO DE 1933 O INCÊNCIO DO REICHSTAG

 PARA NÃO ESQUECER – 27 DE FEVEREIRO DE 1933

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O INCÊNCIO DO REICHSTAG
(Ernesto Germano Parés)
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Na noite de 27 de fevereiro de 1933 a população de Berlim foi alertada para um incêndio que acontecia no prédio do Parlamento alemão, o conhecido Reichstag.
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Centenas de policiais nas ruas, interdição em grande parte da cidade e o início da “caça às bruxas” em uma Alemanha que já vivia os primórdios do nazismo.
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Hitler tinha problemas com a consolidação do seu poder e encontrava alguma resistência, não só no Parlamento, mas também nos sindicatos e na propaganda comunista entre a população mais pobre.
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Alguns relatos dizem que um partidário nazista havia telefonado para ele e deixou o recado dizendo que “o Reichstag está em chamas”. Mas quem recebeu a ligação foi o próprio Joseph Goebbles, conhecido por sua tirania e por ser líder o partido. Ele teria respondido: “Isso é uma piada?”
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Não, não era. Mas isso é apenas uma história, como veremos adiante.
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Dias depois a polícia nazista prendia um jovem conhecido comunista, Marinus van der Lubbe. Era um holandês de 24 anos e estava há pouco tempo na capital alemã. E a famosa polícia não teve problemas para ‘provar’ que ele tinha ligações com o Partido Comunista alemão.
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Era preciso destruir os comunistas para, finalmente, Hitler assumir o poder total. Principalmente agora, com o Parlamento queimado e os partidos diluídos. Acreditem ou não, o comandante da polícia era nada menos do que Hermann Göring que declarou estado de alarme máximo, autorizando seus subordinados a usar armas de fogo.
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Era a chance que eles queriam, aproveitando a comoção popular com o incêndio. Na mesma noite a polícia recebeu de Göring a instrução de prender deputados comunistas e funcionários do partido.
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Documentos eram enviados para a imprensa falando da “ameaça comunista”. Como no nosso conhecido AI-5, no dia 28 de fevereiro de 1933, Von Hindenburg assinaria o Decreto do Presidente do Reich para a proteção do povo e do Estado, que eliminava a liberdade de expressão, de opinião, de reunião e de imprensa. O sigilo do correio também era abolido. Além disso, o governo em Berlim ganhava poderes para “intervir” nos estados, a fim de garantir “a paz e a ordem”. Isso lembra alguma coisa?
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Provas eram desnecessárias. Podiam prender qualquer um e condenar sem qualquer julgamento. Hitler foi festejado como o novo “senhor” da Alemanha e o único capaz de enfrentar o “avanço do comunismo” na Europa.
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Tudo pronto para armarem o grande circo. Jorge (Giorge) Dimitrov era o secretário geral da Internacional Comunista e estava na Alemanha. O alvo perfeito para Hitler que ordenou sua prisão e imediatamente abriu um processo contra ele. A ideia era fazer um grande circo, com a cobertura de toda a imprensa internacional (já vimos isso) julgando um comunista.
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Estados Unidos, Inglaterra, França e demais países enviaram seus melhores correspondentes para a cobertura do julgamento. Um grande teatro montado e os noticiários no mundo inteiro condenando Dimitrov mesmo antes de ser levado ao tribunal.
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Ele foi posto em uma cela, incomunicável, e apenas recebia os jornais locais para acompanhar seu próprio julgamento. Estudou meticulosamente, com a ajuda da dialética marxista, cada notícia, cada informação, cada depoimento que via. Traçava nas paredes da cela uma espécie de organograma do incêndio, com dados, horários, etc. E resolveu dispensar advogados que o defendessem.
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No primeiro dia do julgamento, com toda a imprensa internacional sedenta de sangue de um comunista dirigente da Internacional, ele fez uma primeira declaração: “Vou defender a mim mesmo como acusado comunista. Defendo minha honra comunista e revolucionária; defendo minhas ideias e meu ideal comunista; defendo o sentido e o conteúdo da minha vida”!
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O silêncio foi “ensurdecedor”, como diria Nelson Rodrigues. E ele começou sua defesa. Passo a passo, dia após dia, enfrentou todas as acusações e ouvia os testemunhos para completar o quadro que já havia criado na sua cela.
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Ao término do julgamento, em seu discurso final, desvendou toda a trama: o incêndio havia sido perpetrado pelos próprios auxiliares de Hitler (Göring e Goebbles).
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Parte da imprensa noticiou e a vergonha foi tamanha que os nazistas negociaram a saída de Dimitrov do país. Foi para a URSS e reeleito secretário da IC. Durante a Guerra, atuou e organizou a resistência em seu país de origem, a Bulgária, e voltou quando os nazistas foram derrotados.
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JORGE DIMITROV VENCEU O NAZISMO COM A SUA DEFESA.
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A UNIÃO SOVIÉTICA TERMINOU O TRABALHO E FEZ TREMULAR A BANDEIRA SOVIÉTICA NO ALTO DO REICHSTAG.
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Que isso nos sirva de mais uma lição. Eles estão sempre tramando algo.
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Na primeira foto, o livro que tenho, parte escrita pelo próprio Dimitrov, e não sai da minha estante nem com intervenção militar. Na segunda foto, o próprio.
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