Os ouvidos têm paredes: bolsominions não se importam com Bolsolão. Por Nathalí Macedo

 
Bolsonaro e as fake news
Não vale se iludir: a denúncia contra a campanha de Jair Bolsonaro, que teria recebido 12 milhões de empresários para espalhar notícias falsas pelo WhatsApp, sequer abala as estruturas da paixão dos fãs desta figura esdrúxula.
A campanha do presidenciável tem seus alicerces na mentira – diria vovó, mentiras têm pernas curtas! – e não é a primeira vez que a dita (dita pelos eleitores anti-verdade, é claro) honestidade de Bolsonaro é escandalizada: os 200 mil da JBS, atabalhoadamente explicados; a história cabeluda do roubo à ex-mulher, depois desmentida na imprensa sob nítida pressão; a funcionária fantasma do quiosque de açaí… nenhum escândalo foi capaz de convencer o eleitor convicto, porque, admitamos: eles não querem ouvir a verdade.
O projeto de demonização do PT – que tem tudo a ver com o crescimento vertiginoso da onda bolsonarista no Brasil – não é coisa recente, e foi um trabalho tão bem feito (pelos mesmos veículos hoje chamados de comunistas pela extrema direita), que deu no que deu: para a opinião pública que não é politicamente esclarecida, PT é sinônimo de corrupção, e, diante disso, o resto é fichinha.
Ledo engano: o desenho da campanha e sobretudo das alianças de Bolsonaro não revela apenas sua inclinação autoritária e despreparada, revela uma verdadeira orquestração das elites que envolve gente da pior estirpe: empresários, latifundiários e militares.
 Dá pra pensar em um triplo casamento mais nocivo do que esse?
Há muito tempo os argumentos antifascistas não são suficientes para dissuadir os fãs de Bolsonaro: as palavras nazismo, autoritarismo e ditadura já não assustam.
Ninguém vota em Bolsonaro porque ninguém, de fato, sabe quem ele é. As pessoas votam no personagem que uma parcela nefasta da elite antipetista criou.
Como político, Bolsonaro não existe: sem propostas, sem debate, sem saber sequer o nome do próprio vice. Ele não passa de um personagem inacreditavelmente caricato, que personifica o ódio de classes e os preconceitos de um Brasil muito menos progressista do que, para alguns, pode se fazer parecer.
O eleitor de Bolsonaro está pouco se lixando para os empresarios que financiaram sua campanha falaciosa, para todas as notícias falsas desmentidas, para a violência perpetrada por seus seguidores…
 O que lhes interessa, simplesmente, é manter viva a figura que legitima tudo o que de ruim eles precisaram guardar por tanto tempo.
Na ditadura militar, as paredes tinham ouvidos, e a as palavras eram censuradas. Nestes tempos, os ouvidos têm paredes – de nada adiantam as palavras.