sexta-feira, 12 de junho de 2020

Boletim Carta Maior

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As crises e a comunicação da esquerda

 
Caros amigos,

Começo esta mensagem pedindo desculpas porque o texto é enorme. Mas precisamos levar ao conhecimento de todos o posicionamento de Carta Maior diante da conjuntura nacional e internacional, e como participamos deste debate. Evidentemente, nossas atividades demandam recursos, e vocês verão adiante que as novas doações deram um incremento significativo às nossas atividades.

Por favor, tenham paciência e leiam até o final.

A campanha de doação
Graças à adesão de 406 leitores à campanha de doação, contamos hoje com 1.583 parceiros-doadores. Lembram? Em 4 de março, éramos 1.177, quando começamos a campanha.  Foram mais de 135 novos doadores mensais, inquestionavelmente digno de nota, diante das crises sanitária, econômica e política que vivemos.

Por outro lado, é preciso reconhecer que esse esforço dos novos 406 parceiros-doadores se deu em virtude do forte vínculo que os leitores mantêm com a Carta Maior e precisamos valorizar a decisão deles. Estamos todos em dificuldades, também porque o nosso país está sendo destruído e essa situação exige de nós uma tomada de posição, sendo que a comunicação será decisiva.

Carta Maior quer cumprir com a parte que lhe cabe: dar a todos, conteúdos para a conscientização e ação política.

Como ensinou o poeta Antônio Carlos Belchior, “apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos..., precisamos acreditar que o novo sempre vem”.

É nisso que acreditamos.

Com essas novas doações nos aproximamos mais um pouco do ponto de equilíbrio de 3.000 parceiros-doadores mensais, que a Carta Maior necessita para ter uma estabilidade financeira que permita cumprir seu relevante papel.

Não esqueçam, se a crise sanitária for superada, no final do mês de janeiro de 2021 teremos mais uma versão do Fórum Social Mundial, desta vez, na cidade do México, próximo daquele muro odioso, ocasião em que poderemos debater temas da mais alta importância e de interesse da esqueerda e do povo oprimido do mundo.

Carta Maior estará lá para uma cobertura jornalística e de análise dos debates que ocorrerão. Pretendemos, inclusive, inscrever duas mesas: uma para debater “O SOCIALISMO QUE QUEREMOS”; outra para discutir “O FUTURO DAS ESQUERDAS NA AMÉRICA LATINA”, com participação de convidados nacionais e internacionais.

Nenhum país sairá sozinho dessa enorme crise, precisamos de nossos irmãos latino-americanos e eles precisam de nós. Imaginem Brasil, Argentina e México, com compromissos progressistas, lado a lado, liderando a recuperação social, econômica e política da América Latina, a nossa Grande Pátria, como consagrou Simão Bolivar.

Assim, por favor nos ajude para que possamos ajudar a todos. Vamos atingir o nosso ponto de equilíbrio de 3 mil parceiros-doadores mensais o mais rápido possível. Lembrem-se que com apenas R$ 1 real por dia vocês podem fazer a diferença. Se puder, doem mais (saibam aqui as formas de doação).

Informações sobre a aplicação dos recursos das novas doações.
Com os recursos advindos das doações, acima referidas, foi possível, nos últimos meses, elevar consideravelmente a visitação ao site: saímos de um letárgico número de 386.000 leitores em fevereiro passado para os 768.526 de hoje, ou seja, 100% de crescimento. O Twittão Maior alcançou impressionantes 7 milhões de visitantes/mês, inscrevam-se.

Vejam, com 406 novos parceiros-doadores, foi possível elevar a visitação ao site em 100% e fazer o Twittão maior alcançar impressionantes 7 milhões de seguidores nos últimos 28 dias. Daí a importância da contribuição de todos. Nós sabemos o “canhão” que temos em nossas mãos, precisamos de munição, dar visibilidade aos nossos conteúdos.

Certamente esse resultado está ligado ao esforço de comunicação que vimos realizando. Os novos recursos turbinaram editorias anteriores e nos permitiram criar novas. Hoje, nós disponibilizamos textos para nove editorias, com autores nacionais e internacionais.

Por exemplo, se você quiser saber hoje o passa pelo mundo, basta ler a Editoria de Pelo Mundo que é, sem falsa modéstia, a melhor da internet da América Latina.

Mas tem mais.

Clipping Mundo, algo inédito no país, é publicado de segunda a domingo, trazendo notícias, reportagens, análises e artigos internacionais, selecionados pelo economista Carlos Eduardo Fernandez Silveira, que acompanha os maiores jornais do mundo, desde a Ásia, Europa, Estados Unidos e América Latina, no atual momento, em virtude da crise sanitária, o clipping continuará focado na revolta liderada pelo “Black Lives Matter” nos Estados Unidos, e também na crise do governo Bolsonaro.

As colunas semanais O Novo Velho Continente e suas Contradiçõesproduzida semanalmente, desde Portugal, pelo excelente jornalista Celso Japiassu, analisa as questões da conturbada União Europeia e a coluna Nem Freud Explica, que conta com análises de cinco psicanalistas de grande renome nacional, analisando a política brasileira, já que o governo Bolsonaro é tão confuso e contraditório que foi preciso pedir socorro a esses profissionais.

O especial A Pandemia do Capitalismocom mais de 200 textos produzidos por intelectuais brasileiros e internacionais, onde fica cristalinamente demonstrado que essa crise sanitária tem nome e sobrenome: Capitalismo Globalizado. Sem dúvida é o principal conteúdo desse tema na imprensa brasileira.

Outro especial, De Maio de 1968 a Maio de 2020com mais de trinta textos, analisa duas revoltas que mudaram o curso da história: a de 1968 que se espalhou pelo mundo; e esta que agora acompanhamos ao vivo, que possivelmente marca o fim do governo Trump e poderá levar de lambuja o governo protofascista de Bolsonaro, permitindo sonhar com a reinvenção das relações humanas no Brasil e no nosso planeta.

A novidade do nosso Podcasts, com a produção de quase 100 áudios com intelectuais e militantes do Brasil e do mundo. O último, inclusive, debate Keynes e sua atualidade para a crise econômica mundial, com os professores e economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo.

A muito especial editoria Cartas do Mundo que traz aos leitores uma visão ampla dos principais acontecimentos de trinta e seis capitais do mundo, escritas por quem vive o dia a dia dessas cidades. Algo que vocês só encontram em Carta Maior.

Por fim, a editoria Cultura que também, sem falsa modéstia, é a melhor da imprensa brasileira, incluindo a grande imprensa. Basta visitá-la para confirmar. Já são mais de 700 resenhas de filmes políticos extraordinários, retratando a realidade de vários países.

A razão de tamanho esforço, com poucos recursos, não é outra senão a dedicação, o carinho, o respeito que Carta Maior tem com seus leitores. E, o profundo sentimento socialista que ainda habita neste velho editor, de 74 anos de idade. Um Brasil socialista acima de tudo e de todos!

“As favas com os escrúpulos”
Desde 2014 parece que o mundo caiu sobre nossas cabeças. O PSDB de Aécio Neves dizia que bastava tirar o PARTIDO DOS TRABALHADORES do governo que tudo iria para o lugar.

Perdeu a eleição, não aceitou o resultado, levantou suspeitas sobre o sistema de votação e iniciou a nova era de ódio no Brasil, agarrando-se a uma população fascista, que agora saiu do armário, mas que já existia desde 1964, quando protagonizou a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, em apoio ao golpe militar recém instalado.

O PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha alimentou ainda mais esse ódio. Com um papel sujo nas mãos, afirmavam que tinham um projeto para o país: “A Ponte para o Futuro” que mais se revelou uma pinguela para o abismo, com a mão criminosa do PSDB que, através de José Serra, conseguiu aprovar a PEC do fim do mundo, limitando os gastos públicos por 20 anos.

Hoje, o ainda senador está desaparecido, ninguém ouve falar nele. Possivelmente, em virtude do escândalo de milhões da Ecovias, que resultou num processo criminal que inclui outros líderes tucanos.

São momentos difíceis. Dilma foi retirada do governo, Lula cumpriu 580 dias de prisão, fruto de perseguição política perpetrada por um juiz parcial, sem escrúpulos, que durante mais de quatro anos comandou uma organização promotora de ilícitos composta por membros do Judiciário, do MPF e por parte da PF, com o objetivo de criminalizar o PARTIDO DOS TRABALHADORES, os movimentos sociais e principalmente afastar Lula da vida política.

As Organizações Globo tiveram papel decisivo nessa operação. Estabeleceram um “condomínio golpista”, com Moro e MPF, condenando as pessoas em suas páginas e vídeos, abrindo caminho para cinematográficos desempenhos do protagonista do juiz.

Omitiram, esconderam, fingiram não ver as viagens de Moro e Dallagnol aos Estados Unidos. Sempre souberam das reuniões com o Departamento de Estado Americano, com a CIA e outros organismos do fascismo intervencionista norte-americano. Participaram da destruição de grande parte do parque industrial brasileiro. E o que é pior: entregaram a Petrobras para os tubarões internacionais.

“As favas com os escrúpulos” devem ter dito os Marinhos, parafraseando o então Coronel e Ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, por ocasião da edição do Ato Institucional 5, em dezembro de 1968.
Participaram do “condomínio golpista” que tirou Dilma do governo. Apoiaram Michel Temer. Vetaram Lula e Fernando Haddad. E, mesmo desdenhada, a famiglia elegeu Bolsonaro em troca da garantia de que Paulo Guedes comandaria a economia e cuidaria de seus interesses; e que Moro os livraria de qualquer investigação criminal. Agora que o governo Bolsonaro acabou, querem se distanciar da lama que ajudaram a produzir.

Eles são primários...
Se retrocedêssemos a 2013/2018, iríamos encontrar nas manchetes, editoriais, colunas, reportagens e nas imagens dos veículos da Rede Globo, as provas da sua criminosa participação nos Golpes, quando apoiou e viabilizou a criminalização do Partido dos Trabalhadores e suas lideranças.

A denúncia do Intercept comprovou a manipulação e seu danoso resultado para a democracia brasileira. Não foi à toa que chegamos aonde chegamos. Algo inimaginável está ocorrendo agora no Brasil.

As Organizações Globo, com todo o seu poderio, declararam guerra aos fascistas, mas mantendo protegido o velhaco de Chicago, que representa os interesses da hipócrita e entreguista burguesia brasileira.

Sobre as revelações da reunião ministerial de 22 de abril, que marcam definitivamente a política brasileira, as Organizações Globo criticaram as falas dos ministros Salles, Damares, Weintraub, Marcelo Álvaro e outros, porém, não abriu o bico, não escreveu uma linha, sobre a fala do charlatão de Chicago, ex-empregado do assassino e ditador Pinochet, que disse:

“Nós vamos ganhar dinheiro, nós vamos ganhar dinheiro (repetiu), usando recursos públicos, pra salvar grandes companhias, agora nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequeninhas (...) Nós sabemos que somos diferentes deles (...) Nós vamos continuar aprofundando as reformas (...) Nós já botamos uma granada no bolso do inimigo, dois anos sem aumento de salário.”

E a rede Globo, nada...!

Pois bem, essa reunião pode ter sido o fim da aliança entre a burguesia nacional, a grande parte da oficialidade ativa das Forças Armadas brasileira e o bolsonarismo.
A repercussão negativa que a revelação dessa reunião causou foi de tal ordem que, Bolsonaro logo no dia seguinte, declarou que não faria mais reuniões de ministros e que passaria a atendeqr um a um e discutir caso a caso as políticas dos ministério.
Para surpresa de todos, no dia 9 de junho p. passado, ele faz reunir o ministério numa reunião transmitida ao vivo, por todas as televisões brasileiras, com todos os cuidados necessários, sem palavrões, sem ofensas, ameaças, revelações criminosas, ou seja, confirmando que a reunião de 22 de abril havia mesmo passado do ponto.

A construção de narrativas

Para Carta Maior continuar divulgando o pensamento da esquerda, precisamos estar técnica e profissionalmente preparados, com mais jornalistas e outras linguagens, cientes do que construímos até aqui.

Lembrem-se, Carta Maior foi fundada em 2001, deixando todos pasmos com a novidade apresentada no I Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Era o início da rede mundial de computadores.

Se levarmos em consideração os primeiros testes e experiências em conexão de computadores à distância, contabilizamos mais 40 anos de internet no mundo. Porém, somente na década de 1980 e, no Brasil, em 1995, ocorreu a expansão da rede e os primeiros registros de domínio ou sites comerciais.

A cemig.com.br é considerado o site mais antigo do Brasil, criado em 17 de agosto de 1995. Seis anos depois, em dia 25 de janeiro de 2001, data do início do I FSM de Porto Alegre, nascia Carta Maior.

Apenas para relembrar, o Facebook foi lançado em 2004, o YouTube em 2005, o Twitter em 2006, e o Instagram em 2010. Nós, no dia 25 de janeiro de 2021, completaremos 20 anos de existência e de pioneirismo.

Não vamos deixar a data passar em branco. Inclusive, porque temos muito a comemorar.
Há mais de 18 anos, entre 26 de agosto e 4 de setembro de 2002, Carta Maior fez a cobertura jornalística da Rio 10, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, na África do Sul, na cidade de Johanesburgo, de onde transmitimos ao vivo, via internet, com auxílio de nosso contratante, a ONU, parte das atividades paralelas organizadas pela sociedade civil mundial.

Crescemos e nos transformamos num veículo de grande credibilidade, com uma redação com dezoito jornalistas em São Paulo, um escritório com seis jornalistas em Brasília e representantes em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Buenos Aires.

As adversidades de 2004 a 2006 nos obrigaram a fechar as redações, e a ter um número reduzido de jornalistas. Mais uma vez, a nossa vontade de viver nos fez prosseguir e recomeçamos a caminhada, chegando ao segundo mandato da presidenta Dilma.

O GOLPE que a retirou do governo nos colocou em uma nova crise, quase nos levando ao fechamento, uma vez que perdemos os contratos de publicidade então vigentes com a Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Federal. Fomos os primeiros a serem atingidos, sem nenhuma justificativa, evidentemente por sermos de esquerda.

Porém, os leitores não permitiram que o fechamento ocorresse e nos trouxeram até aqui.

Nossa tarefa agora é gigantesca, diante de mais uma crise, desta vez a maior de todas porque envolve uma pandemia, uma crise econômica iniciada em 2008 nos Estados Unidos, e uma crise política iniciada em 2014.

A direita conseguiu destruir grande parte do pouco que o Brasil edificou em 520 anos, desde Cabral. Nunca é demais lembrar que, ao longo desse meio século de existência, tivemos apenas 16 anos de governo progressista. Nos demais 504 anos, 358 foram de governos escravistas e os demais governados pela mesma Casa Grande com formas de exploração mais “modernas “.

O fato é que as consequências perversas da escravidão persistem em nosso país desde a chegada do primeiro navio negreiro, em 1530. Odiosa forma de exploração que insiste em existir como trabalho análogo ao de escravo e, sobretudo, no racismo estrutural da sociedade brasileira, responsável pelo encarceramento em massa e assassinado da nossa juventude negra e pobre.

Passaram do ponto
Por fim, fecho nossa carta com um belíssimo texto, de maio de 2015, do escritor e querido amigo Luiz Fernando Veríssimo, em que ele diz que o “capitalismo triunfante” é uma “questão de cozinha, o ponto”. Questiona Veríssimo: “Qual é o ponto em que a ganância humana deixa de ser um propulsor e volta a ser pecado?”

E responde:


“No Brasil de tantos escândalos, cabe a pergunta: qual é o ponto da ganância? Quando é que a mistura desanda, o molho queima e o que era para ser um pudim vira uma vergonha? (...) Há quem diga que o mercado sabe quando e como intervir para salvar a moral burguesa. Digo, o pudim. Claro que, para isso funcionar, é preciso confiar que todas as pessoas sejam, no fundo, social-democratas, ou capitalistas só até o ponto certo do cozimento. Ou acreditar que a ganância pode destruir a ideia de sociedade e ao mesmo tempo esperar que a ideia sobreviva nas pessoas, como uma espécie de nostálgica produção caseira (...) Desde que o capitalismo e a moral burguesa nasceram, ao mesmo tempo, vivem brigando. Só conseguem viver juntos com a hipocrisia, que teve uma das suas apoteoses na era vitoriana invocada pela Sra. Thatcher”.

Pois bem, o pudim do Bolsonaro passou do ponto e virou vergonha. E o de Trump, como tudo indica, também.

Caros companheiros e companheiras, mais um apelo: por favor, ajudem-nos e façam suas doações. Quem já contribuiu antes, se puder faça-o novamente, nos seremos muito gratos. (cliquem aqui)

E anotem o que digo: vocês irão se surpreender com a nova Carta Maior que nascerá se essa campanha de doação for bem sucedida. Mais alguns dias e vamos publicar o novo layout e designer na nossa página. Vocês ficarão orgulhosos de pertencer a algo tão profissional e verdadeiro.

Sigamos juntos!

Joaquim Ernesto Palhares
Diretor de Carta Maior

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Os destaques da manhã no 247

Bolsonaro sinaliza alinhamento com EUA no 5G e avisa que Brasil não vai comprar a rede mais barata de internet veloz

Dino convida Bolsonaro a visitar hospitais do Maranhão

Bolsonaro já é caso de cadeia, diz Hildegard Angel

EUA devem financiar compra de redes de 5G não chinesas pelo Brasil

Acusação contra PC Siqueira será investigada pela Polícia Civil de São Paulo

Bolsonaro veta proibição de festa em condomínio por síndico

Queda recorde de Wall Street no feriado deve pressionar mercado brasileiro nesta sexta

QUERO APOIAR O BRASIL 247
Boa leitura!
Equipe 247

Jornal da Fórum: Tempos de ódio sem limites

https://www.youtube.com/watch?v=6HOrhFFiVgU&feature=em-lbcastemail

Militares temem que exemplo de militares americanos contamine brasileiros

Militares temem que exemplo de militares americanos contamine brasileiros

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Militares da ativa das Forças Armadas no Brasil viram como uma espécie de alerta o gesto da maior autoridade militar americana, general Mark Milley, de pedir desculpas por ter participado de ato político ao lado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O chefe do Estado Maior se desculpou por criar a impressão de envolvimento dos militares na política interna. O ato do qual ele participou, em Washington, contou com a dispersão de uma multidão pela polícia com uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo. Os manifestantes protestavam contra o racismo.
“Foi um ato muito digno e que pode influenciar comportamentos daqui por diante”, avaliou um general brasileiro.
Generais ouvidos pelo blog reforçam a necessidade de o gesto de Milley servir como uma espécie de exemplo do que não se deve fazer por aqui.
Há forte contrariedade em setores da ativa das Forças Armadas com a tentativa de politização dos quartéis no governo do presidente Jair Bolsonaro.
“Em qualquer país com um pouco de amadurecimento político, é normal que as Forças Armadas fiquem fora das disputas políticas”, disse um general da reserva.
Mas, por aqui, militares lembram que o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, tem agido para evitar essa politização.
Pujol tem frisado aos generais e demais oficiais da ativa a necessidade do distanciamento para evitar a politização da tropa.
O general tem seguido a linha do antecessor, general Eduardo Villas Bôas, que sempre ressaltou o papel constitucional nas Forças Armadas.
Para um general quatro estrelas da reserva, há um paralelo a ser feito, “altamente positivo para nós, mas parece que entramos em crise aguda do complexo de vira-latas.”
Segundo ele, não há “uma fotografia sequer” de um general fardado ou em função militar participando de manifestação política. “Essa foto não existe agora ou antes”, afirmou.
Para esse general da reserva, os generais brasileiros já disseram à exaustão, com outras palavras, o mesmo que o general Mark Milley declarou.
“Só que ele falou para pedir desculpas, enquanto nos falamos para que nossos interlocutores entendam que isso não acontecerá e, infelizmente, temos que repetir quase que diariamente porque as pessoas parecem não querer acreditar na democracia. Lamentavelmente, parece ficar mais charmoso festejar o “mea culpa” do americano do que comentar o nosso comportamento”, observou
Porém, há uma preocupação entre oficiais da ativa com o desgaste de imagem das Forças Armadas diante dos sucessivos gestos de Bolsonaro expondo militares que ocupam cargos no primeiro escalão do governo.
Desde que Bolsonaro participou de uma manifestação na qual havia faixas com inscrições antidemocráticas, em frente ao Quartel General do Exército, o incômodo aumentou dentro das Forças Armadas.
Na sequência, houve ainda o episódio com a presença de ministros militares ao lado do presidente na rampa do Palácio do Planalto saudando uma manifestação que pregava a intervenção militar. O ato também foi mal recebido.
Estavam presentes na ocasião, inclusive, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que é um general da ativa. Nesse dia, Bolsonaro ainda afirmou que as Forças Armadas estavam com ele.
Recentemente, outro episódio que provocou desgaste foi o voo de helicóptero de Bolsonaro e do ministro da Defesa, o general da reserva Fernando Azevedo Silva, para acompanhar mais uma manifestação com pedidos antidemocráticos e inconstitucionais, como o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Como informou o blog nesta semana, integrantes da ativa das Forças Armadas já temem o desgaste do Exército diante da repercussão internacional envolvendo a mudança na divulgação de números da pandemia de coronavírus no Brasil.
O fato de a mudança ser coordenada pelo general Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, e pelo grupo de 25 militares que estão na pasta, preocupa especialmente generais da ativa.
Há o reconhecimento interno de que o general Pazuello está cumprindo determinações do próprio presidente Jair Bolsonaro ao insistir nas mudanças da divulgação do número de mortos por covid-19 no país.
Um militar adverte ainda que a reação negativa de todos os setores científicos no país e no exterior, atingindo a credibilidade dos números oficiais do país, tem potencial para causar danos na imagem do próprio Exército.

Europa revê passado escravagista, derruba estátuas e muda nomes de locais IMPORTANTE.

COLUNA

JAMIL CHADE


Europa revê passado escravagista, derruba estátuas e muda nomes de locais

04.jun.2020 - Estátua do rei Leopoldo II da Bélgica vandalizada após protestos - Jonas Roosens/Belga/AFP
04.jun.2020 - Estátua do rei Leopoldo II da Bélgica vandalizada após protestosImagem: Jonas Roosens/Belga/AFP
Jamil Chade
Colunista do UOL
12/06/2020 04h03
A Suíça nunca teve escravos africanos. Não tem acesso ao mar e jamais teve colônias. Ainda assim, na pacata Neuchatel, uma estátua chama a atenção por sua placa. Nela, as autoridades apontam que os cidadãos locais agradecem e reconhecem os benefícios deixados por um certo David de Pury.
Na placa, Pury é descrito apenas como um homem que teve sua "fortuna adquirida no comércio". A estátua está situada num dos locais mais nobres da cidade, justamente na Praça de Pury.
Pury foi um dos principais atores do financiamento do tráfico de escravos entre 1761 e 1786. Filho de uma família que possuía escravos na Carolina do Sul (EUA), ele primeiro se especializaria no comércio de diamantes brasileiros. Logo passaria a integrar a South Sea Company, empresa com sede em Londres e que, durante sua existência, transportou 65 mil escravos da África para as Américas.
Com a atual eclosão das manifestações antirracistas nos Estados Unidos e seu desembarque na Europa, um elemento passou a fazer parte das novas reivindicações: o questionamento de nomes de ruas e praças, muitas das quais identificadas com um passado colonial brutal e cujas marcas continuam até hoje.
Para os manifestantes, o racismo não está apenas na falta de oportunidades ou na violência policial. Mas também marcado na geografia e referências das diferentes cidades.
Não são poucos os grupos que alertam que, ao manter tais símbolos, cidades continuam a prestar homenagens aos opressores.
Dentro dos governos e em centros acadêmicos, o processo é acompanhado de perto. Nos últimos meses, autoridades passaram a ser questionadas abertamente sobre a possibilidade de que se negocie uma reparação por conta da escravidão. Na Suíça, uma comissão foi formada para estudar o tema, enquanto países do Caribe já trabalham sobre o assunto.
Há também uma pressão cada vez maior para que governos europeus iniciem um processo para avaliar quais obras de arte e peças arqueológicas levadas durante o período colonial poderiam ser devolvidos aos seus locais de origem. Na França, o governo de Emmanuel Macron deu a missão a historiadores para identificar essas coleções.
Para movimentos antirracistas, isso é ainda pouco e a ira das ruas poderia acelerar um processo maior de obrigar estados inteiros ou regiões a confrontarem seus passados escravocratas e o conturbado período colonial.
Do norte dos EUA ao estado da Flórida, várias estátuas de Cristóvão Colombo foram vandalizadas desde a semana passada. Nos últimos anos, dezenas de cidades norte-americanas já substituíram um feriado em outubro dedicado ao navegador por uma homenagem aos indígenas locais.
A filha de George Floyd, Gianna, assiste ao funeral do pai amparada pela mãe, Roxie - Getty Image
A filha de George Floyd, Gianna, assiste ao funeral do pai amparada pela mãe, Roxie
Imagem: Getty Image

Monumentos nos EUA

Um movimento também ganha força para que referências públicas aos estados confederados sejam retiradas de praças e prédios. Esses estados foram os que resistiram ao fim da escravidão, abrindo uma guerra civil nos EUA.
De acordo com o Southern Poverty Law Center, existem cerca de 1,8 mil símbolos confederados nos EUA, dos quais 776 são monumentos. Dez dos líderes dos estados confederados continuam sendo homenageados em nomes de prédios, placas, nomes de escolas ou ruas.
Do outro lado do Atlântico, um dos atos mais simbólicos ocorreu ainda na semana passada quando, na Bélgica, um busto do rei Leopoldo II foi vandalizado. A cabeça do monarca acabou com um saco branco, simbolizando o que era colocado na cabeça dos escravos.
Nos dias seguintes, outras estátuas relativas ao rei foram incendiadas, tingidas de cor vermelha e frases como "Não consigo respirar", numa referência ao clamor de George Floyd, sufocado por um policial branco. 45 mil assinaturas ainda foram submetidas à câmara de vereadores local pedindo que todas as estátuas fossem retiradas. Algumas delas já começaram a ser retiradas.

Ruas mudam de nome na Alemanha

Algo similar ocorreu em Berlim, onde a "Mohrenstrasse" foi tomada por cores e transformada em "George Floyd-Strasse". O termo Mohr seria uma referência aos negros.
Já nos últimos anos, três ruas em Berlim — a Petersallee, Nachtigalplatz e Lüderitzstrasse — foram alvos de polêmicas por trazer nomes que remetiam ao racismo. Em 2016, as autoridades locais autorizaram a mudança de nomes. Mas 500 residentes abriram um processo para impedir a mudança.
A Alemanha manteve um império colonial em regiões como Namíbia, Camarões, Togo, Tanzânia e Quênia. Um dos principais personagens alemães na África foi Carl Peters. Em 1880, ele fundou a Companhia Alemã para o Leste Africano e comprou terras no que seria hoje Tanzânia, Ruanda e Burundi.
Peters seria então nomeado comissário imperial para a região. Mas, na língua local, passou a ser chamado de "mkono wa damu". Ou simplesmente: "o homem com sangue nas mãos". Sua brutalidade levaria Berlim a retirá-lo da região. Mas Peters seria reabilitado pelos nazistas, que o dariam uma rua com seu nome em 1939.
Em 2018, tal trecho de Berlim mudaria de nome. Petersallee passaria a ser Anna-Mungunda-Allee e Maji-Maji-Allee, personalidades centrais da rebelião anti-imperialista na África.
Manifestantes jogam estátua de Edward Colston no rio Avon, em Bristol - Giulia Spadafora/NurPhoto/AFP
Manifestantes jogam estátua de Edward Colston no rio Avon, em Bristol
Imagem: Giulia Spadafora/NurPhoto/AFP

No Reino Unido, estátua foi derrubada

A Câmara Municipal de Glasgow, na Escócia, está também revendo os nomes das ruas e edifícios depois de uma petição pública que solicitou que nomes de pessoas responsáveis pelo tráfico negreiro sejam retirados.
Uma das ruas mais conhecidas, a avenida Buchanan, é uma referência ao fornecedor de tabaco Andrew Buchanan, cuja família possuía plantações e escravos na Virgínia. A avenida Oswald é uma referência a James Oswald, proprietário de uma plantação na América e no Caribe, além de ser fornecedor de escravos.
Protestos em Bristol, na Inglaterra, usaram cordas para derrubar uma estátua de Edward Colston, um comerciante que deve sua fortuna ao tráfico de escravos no final dos anos 1600. A sua estátua estava na cidade desde 1895. São ainda várias ruas e escolas que levam seu nome.
Uma petição pede que a estátua seja substituída por uma de Paul Stephenson, um ativista que liderou uma campanha pela igualdade racial em Bristol nos anos 60.

Grupo lista 50 estátuas britânicas

O prefeito de Londres, Sadiq Khan, admitiu que estátuas de personalidades imperialistas seriam removidas das ruas, depois do que ocorreu com Colston. Os monumentos, segundo ele, precisam revelar a diversidade da cidade.
Imediatamente, a estátua de outro proprietário de escravos, Robert Milligan, foi retirada das ruas. Mas os manifestantes querem mais. Um movimento ganhou forma e passou a ser chamar "Derrubem os Racistas". O grupo elaborou agora uma lista de mais de 50 estátuas espalhadas pelo Reino Unido e que gostariam que fossem eliminadas.
Elas incluem homenagens a personalidades como James Cook, Cecil Rhodes, Charles James Napier, Francis Drake, Robert Blake, Horatio Nelson e William Gladstone.
"É uma verdade desconfortável que nossa nação e cidade devem grande parte de sua riqueza ao seu papel no tráfico de escravos e, embora isso se reflita em nosso domínio público, a contribuição de muitas de nossas comunidades para a vida em nossa capital tem sido deliberadamente ignorada", disse Khan.