quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Eleições, apatia e neoliberalismo.
Não poucas vezes escrevi e comentei em minhas palestras sobre os avanços ideológicos neoliberais que estão levando povos no mundo inteiro a desacreditar nas instituições e desprezar qualquer participação política na sociedade. A “velha” Europa tem sido uma fonte inesgotável de exemplo sobre essa apatia da população que se abstém não só de votar em eleições importantes, mas se abstém até mesmo de tomar partido ou defender seus direitos.
Dia a dia vemos notícias de cortes nos direitos dos trabalhadores, redução nas pensões dos aposentados, famílias inteiras que perdem suas residências, estudantes que são obrigados a abandonar a universidade porque não podem mais pagar e acumulam dívidas fantásticas, etc. A “velha” Europa está abrindo mão do chamado “Estado de bem-estar social” sem dar um pio, sem qualquer resistência.
E essa ideologia também está avançando sobre a nossa América. O total afastamento dos trabalhadores e do povo das questões sociais é um sinal preocupante e um exemplo claro do que falamos há tempos foi dado nas recentes eleições municipais.
Já li muitos artigos que se apresentam como “análises balizadas” da situação e que chegam a conclusões completamente desastrosas e que rodam apenas em torno de um ou outro partido, ou em torno de vários, mas sem tocar no fundo da questão: há um avanço da ideologia neoliberal, através da grande mídia, levando o povo a acreditar que não adianta participar. A frase que mais ouvi nos dias recentes foi “para que votar se todos são ladrões”?
A dura realidade é que a vitória desse pensamento foi arrasadora nas recentes eleições e isso, sim, deveria estar agora ocupando as “cabeças pensantes” dos partidos políticos. Ou os partidos que se posicionam à esquerda começam a se preocupar com essa realidade e encontram um meio de quebrar o discurso da direita ou estaremos, a cada dois anos, perdendo mais espaços de participação. Sem falar no que já estamos perdendo nos sindicatos, associações profissionais e outras entidades da sociedade civil.
Não é sem razão que nas três principais capitais em que houve disputa em segundo turno a soma das abstenções e dos votos brancos e nulos superou o total de votos recebidos pelos prefeitos eleitos. Isso já havia ocorrido em São Paulo, no primeiro turno, quando o prefeito eleito, João Dória (PSDB), teve menos votos (3.085.187) do que a soma dos brancos, nulos e abstenções (3.096.304), agora, no segundo turno, isso se repetiu no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Porto Alegre.
Em Curitiba, a soma das abstenções, brancos e nulos ficou um pouco abaixo do total de votos recebidos pelo prefeito eleito Rafael Greca (PMN). Greca recebeu 461.736 votos e a soma dos votos nulos (117.920), brancos (44.834) e abstenções (259.399) atingiu 422.153 votos.
No Rio de Janeiro, por exemplo, não compareceram às urnas 1.314.950 eleitores, 149.866 votaram em branco e 569.536 anularam os votos. Ou seja, 2.034.352 optaram por não votar. Marcelo Crivella (PRB) foi eleito com 1.700.030 votos. Marcelo Freixo conquistou 1.163.662 votos.
Para quem acompanha política com atenção e carinho, é fácil constatar que esse comportamento do cidadão já havia se expressado nas eleições de 2014.
Na capital mineira, o empresário Alexandre Kalil (PHS) venceu a disputa com 628.050 votos enquanto as abstenções (438.968), os votos brancos (72.131) e os nulos (230.951) somaram 742.050 votos, uma diferença superior a 100 mil votos.
Em Porto Alegre, o tucano Nelson Marchezan também se elegeu com menos votos do que o somatório daqueles que deixaram de votar ou preferiram votar em branco ou anular o voto. Marchezan obteve 402.165 votos, enquanto a soma dos votos brancos (46.537), nulos (109.693) e as abstenções (277.521) ficou em 433.751.
Apesar do alto índice de abstenção, isso não é considerado na apuração do resultado final do pleito. Para um candidato ser eleito são computados os votos válidos, que não levam em conta os votos brancos e nulos. Simples assim. Para a direita, para o novo “pensamento único” que ronda o planeta, quanto mais o povo se afastar do processo melhor para eles. Porque sempre vai dar aparência de uma “vitória democrática”, mesmo que a maioria do povo não tenha participado.
Mais uma vez os estudantes! Os estudantes secundaristas estão dando, mais uma vez, o exemplo que deveria ser melhor entendido por milhões de brasileiros que se deixam levar pelo discurso do “nada presta” e se tornam apáticos. Essas garotas e garotos, adolescentes, estão mostrando ao país que ainda há alternativa, que ainda há esperança e que ainda se pode lutar pelos direitos, antes que nada mais nos reste.
O discurso da pequena Ana Júlia, com apenas 16 anos, diante dos deputados na Assembleia Legislativa do Paraná não só virou uma coqueluche na Internet, mas provocou a raiva dos reacionários de sempre que se desdobraram em acusações e falsificações contra a jovem. A começar pelo próprio presidente da Assembleia Legislativa que ameaçou desligar o som para que ela não pudesse mais expressar seus pensamentos e os sentimentos de milhares de estudantes que ocupam as escolas contra o projeto do governo golpista de fazer cortes no orçamento para a educação e congelar os gastos por 20 anos.
Naquele discurso, de uma menina que nunca tinha falado em público, devemos destacar um detalhe que poucos perceberam. Muitos se prenderam à parte de sua fala quando ela diz que os deputados tinham as mãos sujas de sangue dos estudantes, mas poucos perceberam quando ela diz que nesses dias de ocupação ela aprendeu muito mais sobre história do que durante todo o período letivo normal.
E isso não é força de expressão. Acontece que nessas escolas ocupadas estão acontecendo os chamados “aulões”, aulas especiais com professores convidados pelos alunos que coordenam o movimento. Na sexta-feira (04) li uma mensagem de um professor que foi convidado para um “aulão” no Colégio Pedro II, aqui no Rio de Janeiro e ele fala com muito carinho sobre a organização na escola ocupada, sobre a eficiência dos estudantes para preparem cada aula mantendo as salas limpas. Sua mensagem, ainda que curta, é emocionante, pois ele descreve o que pensamos ser uma Democracia. Os alunos decidem tudo em assembleias, são responsáveis por manter a escola limpa e funcionando, preparam refeições com alimentos que recebem de doadores, etc.
É isso que está preocupando os golpistas e a direita mais reacionária. Na cabeça deles deve estar passando uma grande preocupação: “se são assim, aos 15 ou 16 anos, como vamos subjugá-los mais tarde”?
E o quadro só se agrava. Os usurpadores do poder estão preocupados com os estudantes. Além de criarem uma situação que está levando ao adiamento das provas do ENEM, querem jogar a opinião pública contra esses jovens que só desejam melhores condições para a educação. Mas tem coisa ainda pior.
No domingo (3), o juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), determinou o uso de técnicas de tortura para “restrição à habitabilidade” das escolas, com objetivo de convencer os estudantes a desocupar os locais. Entre as técnicas estão cortes do fornecimento de água, luz e gás das unidades de ensino; restrição ao acesso de familiares e amigos, inclusive que estejam levando alimentos aos estudantes; e até uso de “instrumentos sonoros contínuos, direcionados ao local da ocupação, para impedir o período de sono” dos adolescentes. Não fica nada a dever às práticas de tortura do regime militar, ainda recente em nossa memória.
Como se não bastasse apelar para a tortura contra os estudantes ou adiar o ENEM para culpar o movimento, temos também uma “pérola” lançada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo Gilmar Mendes, a Justiça Eleitoral gastou cerca de R$ 3 milhões para realocar seções eleitorais que estavam localizadas em escolas públicas ocupadas por estudantes no Paraná em protesto contra mudanças no ensino médio.
Para o presidente do TSE, o protesto estudantil teve “suas consequências”, como o deslocamento de 700 mil eleitores em Curitiba, por exemplo. E afirma que isso contribuiu para aumentar o número de abstenções durante o processo. Então tá, então!
Como nos tempos da ditadura. A operação, comandada pela Polícia Civil do Paraná, começou na manhã de sexta-feira (04). Os policiais invadiram, sem mandado, o terreno e derrubaram o portão da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema, São Paulo.
Segundo relatos dois militantes do MST estão detidos. Durante o cerco, para aumentar a repressão, e assustar os moradores, os policiais efetuaram disparos com armas de fogo. Uma militante foi atingida por estilhaços de bala.
De acordo os relatos, os policiais chegaram por volta das 09h25, pularam o portão da Escola e a janela da recepção e entraram atirando em direção às pessoas que se encontravam na escola. Os estilhaços de balas recolhidos comprovam que nenhuma delas são de borracha e sim letais.
A operação em SP decorre de ações deflagradas no estado do Paraná e Mato Grosso do Sul. A Polícia Civil executa mandados de prisão contra militantes do MST, reeditando a tese de que movimentos sociais são organizações criminosas, já repudiado por diversas organizações de Direitos Humanos e até mesmo por sentenças do STJ.
Pobreza rural atinge 60 milhões de pessoas na América Latina. A taxa de pobreza rural atinge 46,2% da população da América Latina e do Caribe, informou no dia 20 a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Ela afeta 60 milhões de pessoas no campo. A taxa de pobreza urbana nessa região é de 23,8%.
A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) informa que 56% dos 52 milhões de trabalhadores rurais caribenhos e latino-americanos estão em situação de vulnerabilidade (salários baixos, pobreza, poucas proteções sociais) nas áreas rurais. O dobro do constatado nas áreas urbanas, 27%.
O diretor-regional da OIT para a América Latina e Caribe, José Manuel Salazar, disse que as zonas rurais recebem menos investimentos públicos e privados em infraestruturas produtivas e sociais.
A cobertura de saúde da população rural, de 37%, também é menor que a observada nas cidades, que têm um índice de 56%. No caso da aposentadoria, o acesso nas áreas rurais é de 26,5%, contra 56,3% nas áreas urbanas. O desemprego urbano nos 14 países analisados (7,6%), porém, é maior que o desemprego rural, de 3,1%.
O Brasil é definido como uma economia rural em transição. O país tem uma das maiores taxas da região (48,5%) de trabalhadores rurais que dizem trabalhar “por conta própria”. Outros 28,6% são assalariados privados. E a porcentagem dos que se declaram empregadores – ainda no que se refere ao campo – é uma das menores entre os países analisados: de apenas 1,6%. (Do portal do MST)
Nicarágua: mais um golpe? A Nicarágua tem tudo para atrair as atenções da Casa Branca e virar mais um alvo para as pretensões estadunidenses na região.
Além do acordo com empresas chinesas para a construção de um canal que vai rivalizar com o do Panamá, controlado pelos EUA, e dar melhores condições ao comércio internacional, a Nicarágua é país membro da Alba, aliada da Venezuela e de Cuba, centro de resistência contra o neoliberalismo e governada pela Frente Sandinista.
Mais recentemente, temos visto as declarações do governo estadunidense contra Manágua e uma tentativa de criar um cenário de desestabilidade política. Os artífices dessa campanha contra Daniel Ortega são nossos velhos conhecidos: Ileana Ros-Lehtinen, congressista estadunidense de origem cubana e que esteve envolvida já em vários golpes na América Latina, e Roger Noriega, ex-secretário dos EUA e envolvido em uma série de intervenções em nossa região.
Atuando diretamente no país eles contam com a “ajuda” do jornalista Carlos Fernando Chamorro (sempre a mídia ocupando um importante papel nos golpes). Ele dirige duas revistas muito lidas pela classe média (Confidencial e Esta Semana), cumprindo papéis parecidos com os da Veja ou da Isto É.
Para as eleições presidenciais que estão acontecendo hoje (06) no país, já existe toda uma campanha montada para tentar mostrar a falta de representatividade de Ortega ou para criar fatos que possibilitem colocar em dúvida os resultados para justificar mais um golpe.
Organizações financiadas pela CIA estão gastando muito dinheiro para agir no meio de organizações juvenis, como acontece aqui com o MBL, para criar uma desestabilização e tentar mostrar que há uma “oposição” atuante no país.
Uma das táticas usadas pela direita nicaraguense foi pulverizar a disputa, indicando vários candidatos para disputar contra Daniel Ortega. Nada menos do que cinco outros candidatos, todos representantes de partidos tradicionais, reacionários e contrários ao governo nacionalista e progressista que vem tirando a Nicarágua do mapa da fome e promovendo o desenvolvimento. E, no meio dessa fauna oposicionista, devemos destacar a participação de            Saturnino Cerrado Hodgson, pastor evangélico.
América Latina: Jornada Continental conta o Neoliberalismo. Em meio a tantas notícias preocupantes, uma grande notícia: nosso continente ainda se move em resistência ao neoliberalismo e em defesa da democracia. Na sexta-feira (28), em vários países da nossa região, teve início a “Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo” tendo como principal bandeira de mobilização a luta contra a ALCA, o projeto estadunidense que volta a tomar forças depois dos recentes golpes na região (Paraguai, Argentina, Brasil, Honduras).
Argentina, Brasil, Bolívia, Cuba, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai são os países onde os movimentos populares e sindicais já estão promovendo atos, encontros, plenárias e seminários para debater e condenar o projeto neoliberal na região, em particular o retorno da ameaça da ALCA.
Em 2005, em uma reunião da IV Cúpula das Américas realizada em Mar del Plata, uniram-se Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner e Hugo Chávez uniram-se contra a proposta estadunidense e resolveram dar um “chute na bunda” da ALCA. Desde então, e por muitos anos, a luta contra o projeto se espalhou pela América Latina. Mas agora, depois das recentes vitórias golpistas estadunidenses, a ameaça está de volta.
“Quem enterrou a ALCA? Nós, os povos da América, a enterramos hoje, aqui, em Mar del Plata”, disse Chávez. “Não venham aqui nos provocar”, disse Kirchner. “A ALCA se converteu em um debate ideológico e dizem que quem está contra é de esquerda e quem está a favor é de direita. Esse é um debate maluco”, disse Lula da Silva.
Dilma Rousseff no Uruguai. Convidada pela central sindical uruguaia, PIT-CNT, Dilma Rousseff participou do ato pela Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo. Recebida com uma onda de aplausos e aos gritos de “olé, Dilma, olé”, ela falou que se sentia honrada pelo convite dos trabalhadores uruguaios e que estava ali “para reafirmar a importância da democracia em nossa região que está correndo um sério risco neste momento”.
Ela disse que “sem democracia não há como lutar por igualdade, solidariedade e colaboração de nossos povos” e disse “sentir-se preocupada pelo que está ocorrendo na América Latina”. “Não podemos aceitar que nos reduzam a indivíduos isolados, que não constroem laços de amizade ou solidariedade entre os trabalhadores”.
Aproveitando a realização do ato no Uruguai, movimentos sociais de toda a América Latina repudiaram a invasão policial à Escola Nacional Florestan Fernandes. O representante da “Alba Movimientos” disse que a invasão é “uma das expressões da ofensiva neoliberal que denunciamos”.
“Repudiamos energicamente essa perseguição que o regime golpista de Temer leva adiante contra o movimento popular. Justamente no dia em que movimentos de todo o continente nos unificamos em uma Jornada pela Democracia e contra o Neoliberalismo, a ENFF – um símbolo da unidade e articulação dos povos – recebe este ataque por parte de um governo que é uma das expressões da ofensiva neoliberal que denunciamos. É um argumento a mais para reafirmar a necessidade de construir maiores níveis de organização, de unidade e de mobilização”, afirmou a organização.
A CSA (Confederação Sindical de Trabalhadores/as das Américas), por meio de seu coordenador político, Iván Alvarado, afirma que o fato “evidencia a deterioração dos direitos humanos e as garantias constitucionais a partir da instauração do governo ilegítimo”.
O movimento “La Brecha”, da Argentina, que representa diversas organizações, afirmou que o ataque se dá “em um contexto de restauração direitista no Brasil e na região, com um recrudescimento na perseguição aos movimentos populares”.
Por sua vez, a Escola Nacional Fals Borda, da Colômbia, que coordena trabalhos com a ENFF, se pronunciou sobre o assunto e afirmou que planeja fazer uma reclamação formal para a Embaixada do Brasil em Bogotá.
Lá como cá! No Brasil, poucas horas depois de aprovarem a PEC da Maldade, conjelando os investimentos públicos por 20 anos, os “senhores” deputados aprovaram o aumento dos seus salários e encerraram a votação com muitos aplausos e abraços.
Na Argentina os deputados não fizeram por menos. Depois de darem apoio às medidas neoliberais de Mauricio Macri, foram “presenteados” com um aumento de 63,6% em seus salários. O aumento foi assinado por Gabriela Michetti, presidenta do Senado, e Emilio Monzó, presidente da Câmara dos Deputados. E, no mesmo pacote, os dois presidentes aprovaram também elevar os “gastos de representação” de cada parlamentar que passou de 10 mil pesos (666 dólares) para 20 mil pesos mensais (1.333 dólares), além do reajuste nos vários auxílios que os parlamentares recebem (deslocamento, moradia, passagens aéreas, etc.)!
Seguem as provocações. O governo do Reino Unido anunciou oficialmente que estabelecerá uma base militar permanente no Bahrein, ainda em novembro. Segundo o informe, a Marinha Real Britânica pretende deslocar barcos de guerra e efetivos que serão utilizados em missões “de patrulha nas águas vizinhas para proteger a passagem dos petroleiros pelo Golfo Pérsico”.
A base será instalada no porto de Mina Salman, na capital do país, e servirá também para abrigar “forças especiais” que possibilitem realizar operações militares no Oriente Médio. Servirá como um depósito de armas para “operações de emergência no caso de algum país tentar bloquear a passagem de barcos comerciais britânicos pelo Estreito de Ormuz”, diz o documento.
Vale lembrar que o Bahrein é um pequeno país, com pouco mais de um milhão de habitantes, que faz fronteira com o Irã e com a Arábia Saudita e Catar. Lá já existe uma base naval estadunidense que funciona desde 1991 e serve de apoio à frota principal baseada no Catar.
A OTAN na fronteira com a Rússia. Mais de 3.000 soldados de países membros da OTAN participam de “exercícios militares” na Letônia. As manobras tiveram início no dia 17 de outubro e receberam o pomposo nome de Silver Arrow 2016.
Além de soldados locais, participam militares da Lituânia, Estônia, Alemanha, EUA, Países Baixos e Reino Unido, equipados com tanques, blindados e todo tipo de armamento militar. O objetivo é aprimorar a “habilidade de combate e a sincronia da OTAN no caso de uma guerra com um inimigo simulado”.
Curiosamente, um dos exercícios mais importantes foi a simulação da “libertação de uma cidade ocupada por dissidentes apoiados por um país estrangeiro”, em uma clara alusão às cidades da Ucrânia que se declararam independentes do governo golpista local.
Também na Iugoslávia. Os “exercícios militares” de emergência, em Montenegro, começaram no dia 31 de outubro e são comandados pela OTAN, com soldados de 7 países membros. A iniciativa é uma clara resposta antecipada aos exercícios de tropas russas na Sérvia que tiveram início no dia 2 de novembro.
Sérvia e Montenegro são aliados históricos da Rússia, principalmente por terem uma religião comum (cristianismo ortodoxo) e se tornaram preocupação constante para a OTAN que tenta equilibrar as forças na região.
Eleições presidenciais nos EUA. Na próxima terça-feira (08) teremos eleições presidenciais nos EUA. Aliás, para início de conversa, vocês não acham muito estranho que um país realize eleições presidenciais em dia de semana e nem sequer seja feriado? Ou seja, é um total desprezo pelo voto do cidadão.
Mas isso não é de se estranhar, porque o voto do cidadão estadunidense não tem qualquer valor por lá. O que conta é o voto dos delegados eleitos. De pouco adianta os anúncios feitos pela nossa imprensa amestrada mostrando diferenças de intenções de votos e dizendo que Hillary está na frente por pequena margem. Nada disso tem valor, uma vez que quem decide a eleição presidencial nos EUA é um colégio eleitoral composto por delegados eleitos em cada estado.
O presidente da nação que se diz “defensora da democracia no planeta” não é eleito por voto direto, e sim por um Colégio Eleitoral. Os estadunidenses votam por um candidato, mas, na realidade, escolhem um “eleitor” que votará por eles no Colégio, entenderam?
E esse tal “Colégio Eleitoral” é integrado por 538 eleitores. Cada estado tem, de acordo com sua população e representação no Congresso, um número determinado de eleitores. Em 48 dos 50 Estados, o vencedor fica com todos os eleitores em disputa (e não em proporção aos votos). Para chegar à Casa Branca, um candidato precisa de 270 votos no Colégio Eleitoral. É só isso.
Portanto, toda essa palhaçada montada pela imprensa com “debates” entre candidatos e pesquisas de opinião pública não servem de coisa alguma, porque os delegados que vão realmente decidir quem vai ocupar a Casa Branca já estão eleitos e já decidiram seus votos.
Vale lembrar que George Bush foi eleito pelo Colégio Eleitoral tendo perdido na votação popular! Ou seja, toda essa “armação” de nossa imprensa não passa de um circo para legitimar uma eleição fajuta, indireta, onde quem manda é o dinheiro e que deixa o povo de fora. E depois dizem que a “ditadura” é em Cuba!
Da série “perguntar não ofende”. Em 2013, durante as eleições presidenciais na Venezuela, houve uma verdadeira “revoada” de observadores internacionais ao país. Tudo montado para tentar acusar de fraude ou desqualificar o processo que levou Nicolás Maduro à presidência, com quase 60% dos votos! Para Caracas seguiram “observadores” da União Europeia, da OEA, da ONU e até da Fundação Clinton (instituição estadunidense para intervir em processos eleitorais na América Latina). Pelo que lembro, foi preciso fretar um avião especial para levar tantos observadores que, no final, não encontraram uma só razão para desqualificar o processo.
Nas eleições bolivianas não foi diferente. Uma verdadeira “revoada” de observadores em direção à Sucre para encontrar qualquer sinal que pudesse desacreditar Evo Morales no cenário internacional. Mas nada aconteceu e os tais observadores voltaram para casa com “o rabinho entre as pernas”.
O mesmo aconteceu no Brasil, nas duas eleições de Lula e de Dilma Rousseff. Centenas de observadores da OEA e da UE estavam no país para acompanhar o processo e tentar lançar alguma dúvida sobre a vitória do PT.
Hoje, dia 06, o povo da Nicarágua está comparecendo às urnas para eleger seu presidente. Todas as pesquisas mostram Daniel Ortega na frente dos demais e, como era de se esperar, lá estão centenas de “observadores internacionais” para acompanhar “a lisura do pleito”. Washington disponibilizou aviões para conduzir os tais “observadores amestrados” à Nicarágua.
Mas, não custa perguntar... Na próxima terça-feira (08) estarão acontecendo as eleições presidenciais nos EUA. Alguém aí sabe se foram (ou vão ser) enviados “observadores internacionais” para acompanhar o processo por lá? Por que a OEA não está enviando um só observador para acompanhar as eleições estadunidenses?

Desculpem, mas perguntar não ofende, não é?

MORO IGNORA DOCUMENTOS DE LULA PARA ACEITAR DENÚNCIA DO TRIPLEX

Moro ignora documentos de Lula para aceitar denúncia do triplex

Na denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre o apartamento tríplex no Guarujá, aceita em setembro deste ano, o juiz Sérgio Moro ignora os documentos apresentados pela defesa de Lula para assegurar a tramitação do processo.

   Em um dos trechos do despacho assinado no dia 20 daquele mês, Moro afirmou que desde que a construção foi abandonada pela BANCOOP e transferida para a empreiteira OAS, em 2009, a empresa nunca teria cobrado do ex-presidente e de Dona Marisa a sequência do pagamento das cotas.

"Apesar da descontinuidade dos pagamentos, não há qualquer registro de que a OAS Empreendimentos tenha cobrado, de qualquer forma, o ex-presidente e sua esposa pelo saldo devido pelo apartamento", disse o magistrado do Paraná.

Entretanto, o site do ex-presidente Lula relembra que, dentro do contrato de adesão de compra e venda junto à OAS, quando ocorreu a saída da BANCOOP no negócio, os cooperados que optassem por não continuar com a reserva dos apartamento não assinariam o contrato, acarretando como sanção a perda da reserva e a propriedade do apartamento passaria a ser no nome da OAS.

"O que afirma Sérgio Moro simplesmente não corresponde à verdade dos fatos. (...) A OAS ficou com a propriedade do apartamento, e inclusive já vendeu para uma terceira pessoa, tudo devidamente documentado em cartório de registro de imóveis no Guarujá. Ou seja, Lula e Dona Marisa sofreram as sanções previstas por não aderir ao termo de compromisso: a perda de reserva do apartamento 141", explicou o site.

"Não havia “saldo devido” a ser cobrado. Foi tomado o apartamento que era reservado, como previsto e vendido pela OAS. A interpretação de Moro para o episódio só pode ser falha de cognição ou má-fé", completou.

O juiz entra em nova contradição com os documentos apresentados pela defesa de Lula ao afirmar, sem nenhum embasamento, que se o ex-presidente e Dona Marisa pudessem perder os valores já pagos ao empreendimento, sob a então responsabilidade da BANCOOP, seria "usual" que eles optassem pela desistência da compra.

"Também não há qualquer registro ou mesmo alegação de que o ex-presidente e sua esposa teriam recebido de volta os valores já pagos, o que seria o usual se tivessem realizado a opção por desistir do empreendimento", diz Moro em outro trecho.

Entretanto, o site do ex-presidente lembra que o casal desistiu, sim, da compra do imóvel, além de ter apresentado todos os comprovantes de pagamentos feitos até então à cooperativa BANCOOP.

"Lula e dona Marisa cobraram sim o dinheiro que já tinham gasto, está tudo documentado e já foi entregue pela Defesa do ex-presidente a Sérgio Moro. O documento entregue ao juiz paranaense mostra que foi solicitada a devolução do dinheiro investido pelo casal na cota-parte adquirida da Bancoop, em 36 parcelas, com um desconto de 10% do valor apurado — nas mesmas condições de todos os associados que não aderiram ao contrato com a OAS em 2009", explica.

Entretanto, como a desistência ocorreu em período posterior, a empreiteira não devolveu os recursos ao ex-presidente e Dona Marisa, e o caso gerou a abertura de outro processo na Justiça, uma Ação de Restituição de Valores Pagos em face da OAS e da BANCOOP.

"É completamente inoportuna a afirmação, no despacho de recebimento da Denúncia, no sentido de que os Defendentes não teriam tomado providências para reaver os valores investidos. A ação cível distribuída desmente tal alegação", manifestou a defesa do ex-presidente.


Fonte: Jornal GGN, 04/11/2016

MP INTIMA REITOR DA UFRJ POR CAMPANHA "EM DEFESA DA DEMOCRACIA"

MP INTIMA REITOR DA UFRJ POR CAMPANHA
"EM DEFESA DA DEMOCRACIA"

“O Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro considera justa e necessária a mobilização social que toma conta do país em defesa dos direitos sociais assegurados originalmente na Carta de 1988 e conclama todos os setores democráticos da sociedade brasileira a se engajarem na defesa do futuro da educação pública, da ciência, tecnologia e inovação, do Sistema Único de Saúde e dos demais direitos humanos fundamentais para o bem-viver dos povos", disse, em nota, o reitor da UFRJ

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, foi ameaçado de ser levado ao Ministério Público em condução coercitiva. As informações foram confirmadas. Trata-se de uma medida abusiva e repressora do ministério público para tentar coibir os pronunciamentos que essa universidade tem feito contra o golpe institucional do impeachment e contra os ataques de Temer.

A ameaça de condução coercitiva ocorreu depois que o reitor pediu para alterar a data de depoimento que coincidia com a reunião do Conselho Universitário. O motivo do depoimento era "esclarecer" a campanha "Em defesa da democracia" que a universidade promoveu, envolvendo debates e shows com personalidades políticas, acadêmica e artísticas.

Horas depois que essa notícia ganhou as redes sociais o reitor e seus assessores comunicaram que o MP recuou da condução coercitiva mas manteve todo inquérito de pé.
Os ditadores da toga, com condução coercitiva ou não dão mostras que querem intimidar e censurar a liberdade de pensamento e crítica, ignoram a autonomia universitária, entre outros abusos inconstitucionais da ameaça.

É preciso se opor a essas medidas repressivas e organizar a luta dos estudantes, técnicos administrativos e professores contra os ataques do governo. Fazermos dessa universidade que é símbolo das federais em todo o país, uma alavanca a uma grande luta nacional coordenada com a juventude que já ocupa suas escolas e universidades.

A reitoria da universidade, emitiu comunicado onde não aborda as ameaças sofridas mas reitera seu posicionamento político, leia o comunicado abaixo:

“O Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro considera justa e necessária a mobilização social que toma conta do país em defesa dos direitos sociais assegurados originalmente na Carta de 1988 e conclama todos os setores democráticos da sociedade brasileira a se engajarem na defesa do futuro da educação pública, da ciência, tecnologia e inovação, do Sistema Único de Saúde e dos demais direitos humanos fundamentais para o bem-viver dos povos.

Reitor”


O DECLÍNIO DA ECONOMIA DOS ESTADOS UNIDOS

O declínio da economia dos Estados Unidos

Qual o verdadeiro estado da economia dos EUA? A questão não é propriamente de somenos para os norte-americanos, nas vésperas das eleições presidenciais de 8 de novembro.

Luís Carapinha

Para o mundo também não, pelas piores razões; os Estados Unidos funcionam como motor do sistema capitalista mundial e o centro da arquitetura financeira internacional, da globalização imperialista, com todo o grau de perversidade conhecido. Não é por acaso que o rastilho da grande recessão mundial de 2007/8 foi a explosão da bolha imobiliária dos títulos de crédito hipotecário de subprimes nos EUA. Toda a crescente turbulência social e política observada nos EUA remete para o agravamento da sua condição econômica e o exponencial de contradições e desequilíbrios intrínsecos. Um quadro típico de estagnação avançada que o cartel de economistas e comentadores da mídia dominante por esse mundo teima, no essencial, em não ver, apontando as lentes grossas para indicadores superficiais e a análise acessória que confirmam a pujança da recuperação da economia do Tio Sam. Mas que o circo decadente da presente campanha eleitoral entre Clinton e Trump, rebaixando todos os limites do logro, sordidez e frivolidade da tradicional política-espetáculo dos EUA, vem involuntariamente confirmar.

De fato, desde a II Guerra Mundial, nunca o crescimento do PIB dos EUA foi tão rastejante como agora, confirmando uma trajetória de décadas de declínio econômico relativo da superpotência imperialista. O astronômico endividamento continua em progressão insustentável. Os EUA são de longe o maior país devedor do mundo. O déficit anual médio da balança comercial norte-americana nos últimos anos supera a dimensão econômica de vários países que integram o G20 juntos. E se a produtividade do trabalho continua inquietantemente a degradar-se, o investimento público desceu para os patamares mais baixos desde os finais dos anos 40. No plano social, as desigualdades atingem níveis iníquos e a pobreza permanece acima dos valores de 2008. A taxa de desemprego oficial, em redor dos 5%, reflete mais a massificação da precariedade e a manipulação estatística pela via da eliminação do exército de desempregados que desiste de buscar emprego do que a recuperação deste. É cada vez mais notório o choque entre os interesses do grande capital e da finança dos EUA, do sistema de poder alicerçado no complexo financeiro-militar-industrial, e as aspirações e direitos dos trabalhadores e povo norte-americanos e as exigências de desenvolvimento econômico sustentável.

Simultaneamente, a degradação econômica dos EUA é intrinsicamente associado ao aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, bem patente na quebra sincrônica que atinge as potências da tríade imperialista. O peso econômico dos países do G7 continua a diminuir, contando já menos de 50% do PIB mundial. No cômputo geral, os lucros corporativos na esfera produtiva continuam retraindo; o investimento mantém-se em níveis criticamente baixos; a dívida pública, sobretudo a dívida privada, eleva-se a níveis estratosféricos; e a banca infla saturada de ativos tóxicos. O comércio mundial continua em rápida desaceleração. Face à ameaça de um novo e mais agudo pico da crise estrutural crescem não só a agressividade e rapina imperialistas, mas também o frenesi das disputas interimperialistas: o maior banco alemão é apontado pelo FMI como o maior risco sistêmico para a banca mundial, sendo sancionado com uma supermulta pelos EUA. Aliás, os últimos dados mostram que os colossos da banca dos EUA continuam a ganhar terreno com relação aos seus congêneres europeus.

Nada disto é fundamentalmente novo na história, exceto, talvez, o grau qualitativo da estagnação imperialista. A fuga para frente da financeirização toca os seus limites. No labirinto da crise, avultam os perigos para a humanidade. Mas não se deve perder a perspectiva. Há cem anos Lenin insistia: o apogeu do imperialismo é a antecâmara do socialismo.


O FENÔMENO JOSÉ SERRA

O FENÔMENO JOSÉ SERRA

João Filho
Eu não queria ter que voltar a falar sobre José Serra e as relações ocultas do tucanato com a Odebrecht. Não quero ser repetitivo nem parecer obcecado pelo chanceler como Paulo Henrique Amorim, mas a apatia dos principais veículos de imprensa me obrigam a dedicar este espaço novamente ao assunto.

Em 14 agosto, afirmei que notícias ruins sobre o Serra são como vídeos do snapchat: duram 24 horas e somem. Permitam-me o momento cabotino: eu estava certíssimo. Naquela época, a Folha de S. Paulo noticiou que executivos da Odebrecht diriam em delação que a campanha de José Serra em 2010 recebeu ilegalmente R$ 23 milhões. Surpreendentemente, a notícia teve grande destaque no jornal, com direito à manchete de capa. Mas, assim como a funcionária fantasma que Serra contratou para seu gabinete, evaporou no dia seguinte. Sexta passada, porém, após 3 meses na escuridão, ela ressurgiu das cinzas e voltou para a capa da Folha. É a mesma notícia de agosto, mas com um adendo: executivos da Odebrecht afirmaram ter pago parte do caixa 2 para Serra numa conta na Suíça. Um deles, Pedro Novis, é “amigo de longa data” do ministro e chegou a ser seu vizinho. Nas planilhas da empreiteira, Serra era identificado como “careca” e “vizinho”.

No dia seguinte, a notícia não teve desdobramentos no jornal, apenas uma nota minúscula e envergonhada no fundão da página A5, cujo título era “Governo Temer silencia sobre acusação a Serra”. Nos dias seguintes, porém, quem silenciou foi a Folha, e o padrão snapchat se repetiu. Durante o resto da semana também. O script foi cumprido.

Nas redes sociais, algumas pessoas lembraram o tratamento diferenciado que o chanceler e seu partido costumam ter nas manchetes.

Em sua defesa, a Folha pode dizer que, diferentemente da Andrade Gutierrez, a delação da Odebrecht não revelou a existência de nenhuma contrapartida, o que, portanto, não configuraria propina. Isso seria verdade se a própria Folha não tivesse apurado em agosto que houve “propina paga a intermediários de Serra no período em que ele foi governador de São Paulo (de 2007 a 2010) vinculados à construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas.” São as sutilezas da corrupção. Em um tempo em que políticos se mobilizam para conceder anistia a quem cometeu caixa 2, é importante que se faça essa diferenciação dos termos, não é mesmo?

O UOL, portal associado à Folha, manteve durante toda a manhã da sexta-feira a notícia como principal destaque da home. À tarde, ela se apequenou e foi para o rodapé. No dia seguinte sumiu e até hoje não foi mais vista. Novamente, seguiu-se o padrão.

A BandNews, a Record e o SBT foram as únicas emissoras de TV a darem um pouco mais de atenção ao assunto. Com destaque para a Record, que dedicou quase 2 minutos – uma eternidade perto das outras – para falar do escândalo do ministro.

O Grupo Globo não gastou tinta nem com uma notinha de rodapé. O único vulto que se viu foi na coluna de Matheus Leitão, que dedicou dois parágrafos sobre o assunto num post em que faz um resumo das principais notícias dos jornais. O Jornal Nacional, que sempre repercute a manchete de capa do maior jornal do país, dessa vez não dedicou nem um milissegundo na edição de sexta-feira (28/10), nem no sábado, nem em nenhuma edição no decorrer da semana. Teve até matéria mostrando um recado que bancos suíços estão mandando para correntistas brasileiros, mas nenhuma menção à conta tucana na Suíça.

Os outros veículos do grupo também silenciaram. Parece que para o Grupo Globo, essa grave acusação contra o atual ministro das relações Exteriores não é de interesse público. Até a lista de compras de supermercado da Dilma pareceu mais relevante para o jornalismo global. O Globo informou ao Brasil detalhes de uma listinha de compras para o lanche da tarde. “Três salsichas, 100g de mussarela e uma tapioca” de uma ex-presidenta têm mais relevância jornalística para O Globo do que uma empreiteira financiando ilegalmente um ministro que representa o país no exterior. É incrível, mas até o Hipster da Federal e o Dr. Cuca Beludo tiveram mais espaço nas organizações Globo que a caixinha do Serra na Suíça.

Nosso chanceler publicou nota oficial negando tudo e, assim como no caso da funcionária que assombrava seu gabinete, nunca mais foi incomodado com o assunto. Mas o que mais me impressiona é que nenhum dos nossos combatentes jornalistas, na era da cruzada contra a corrupção, teve a curiosidade de saber o que pensa o presidente do PSDB sobre o caso.

A campanha presidencial do partido de 2010 está no olho do furacão do escândalo, mas ninguém considerou pertinente ir atrás da palavra do seu presidente. Apesar de andar sumido, Aécio é senador, todos sabem onde encontrá-lo, não há mistério. Só mesmo o Sensacionalista poderia dar essa manchete:  “Equipe de jornalistas que esperava pronunciamento de Aécio sobre Serra e Odebrecht desiste e vai pra casa”. Toda aquela voracidade para denunciar a corrupção na política parece ter murchado, tal qual o Pato da FIESP – cujo presidente, diga-se de passagem, também está sendo acusado por Duda Mendonça de ter usado a Odebrecht via caixa 2 para pagar seus serviços.

O próprio Aécio nunca desfrutou de tamanha simpatia da mídia. Suas contas secretas em Liechtenstein, por exemplo, foram objeto de longa reportagem da revista Época, da editora Globo. O fato logo em seguida caiu no esquecimento, é verdade, mas pelo menos houve certo aprofundamento no assunto. Henrique Alves, ex-ministro do Turismo de Temer, caiu após ser acusado de receber R$1,55 milhão de propina da Transpetro. Serra é acusado de receber 12 vezes mais e continua inabalável no cargo. Não temos, como de costume, colunistas pressionando pela sua saída nem editoriais indignados. É ou não é um fenômeno?

A cobertura da política brasileira tem se pautado pela escandalização da corrupção. Cabe perguntar se há mesmo uma genuína preocupação com a ética nas relações políticas ou se  isso varia conforme o personagem envolvido e os interesses dos empresários de mídia. De qualquer forma, prometo ficar um tempo sem falar sobre o nosso fenômeno. Semana que vem, quem sabe, talvez eu traga uma entrevista com Dr. Cuca Beludo para falar sobre a dieta sem glúten da Dilma –  revelada no vazamento da lista de supermercado publicada pela Globo.


A Classe Média e a Manutenção da Desigualdade

A Classe Média e a Manutenção da Desigualdade




A classe média brasileira é, atualmente, a mais numerosa entre as classes sociais existentes hoje. Nossa divisão social atualmente é representada pela seguinte tabela: 
Fonte: http://controle-financeiro.blogspot.com.br/2008/01/diviso-de-classes-sociais-no-brasil.html

De acordo com o site R7 “Mais de 29 milhões de pessoas entraram para a classe C entre 2003 e 2009. Com isso, a chamada classe média passou a ser composta por 94,9 milhões de pessoas, representando 50,5% da população brasileira, segundo estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas)”. (fonte:http://noticias.r7.com/economia/noticias/classe-media-do-brasil-ja-representa-mais-da-metade-da-populacao-20100910.html)

Tal classe média tem importantes representações. Economicamente representa a classe mais consumidora. O principal público do consumismo de massa. É a mola propulsora do capitalismo industrial, dos meios de comunicação em massa e de entretenimento. Politicamente, a classe média representa o que temos de mais conservador em nossa sociedade. São milhões de pessoas com baixo e médio nível educacional. Além disso, particularmente no Brasil, de baixo e baixíssimo nível de instrução política, ética e social.

Ao mesmo tempo essa classe compreende a maioria dos eleitores assim como os mais influenciados telespectadores dos programas de entretenimento tais como novelas, reality shows, humor estilo Pânico. São também aqueles que têm condições de pagar um convênio médico, uma escola privada para os filhos, contratar TV e internet, ter carros e pagar seguros e alarmes para os mesmos, financiar uma casa ou um apartamento, viajar duas, três ou quatro vezes por ano por lazer, consumir fast foods toda semana, ou todos os dias, ter um aparelho celular de última geração, viajar de avião uma, duas ou três vezes por ano, ter um computador em casa e um notebook, ter acesso às universidades privadas, ou a escolas e cursinho que dê condições para ingressar em uma pública, dentre outras vantagens em relação as classes D e E. Portanto é a classe C que menos sente necessidade de grandes mudanças sociais, a não ser aquelas mudanças que melhorem sua própria condição, lhe dê mais conforto e aumente seu poder de consumo. Essa parcela, que não anseia transformações sociais de base compreende mais de 90 milhões de pessoas. Contudo, essa mesma classe se considera pobre, mesmo tendo casa própria, um ou dois carros, tecnologias de informação, convênio médico e uma churrasqueira em casa em bom e constante funcionamento.

As classes D e E compreendem aproximadamente 30% da população. E 30% de 190 milhões significa, aproximadamente, 60 milhões de pessoas. Desse montante 3 ou 4 milhões são indigentes, miseráveis, que sobrevivem com até 100 reais por mês. Todos esses números citados aqui são referentes aos últimos anos. Antes disso, até 2002, as diferenças eram muito mais intensas. As classes A, B e C eram menores em número de pessoas, e as classes D e E eram muito mais numerosas.

Atualmente, vivemos um período de ascensão econômica em todas as classes sociais. Especialmente a média (C). Tal ascensão econômica da sociedade é concomitante a uma época de inúmeras medidas para inclusão social, políticas de cotas em instituições educacionais e empresas, programas assistencialistas que buscam integrar a população mais pobre no processo de produção e consumo capitalista. Essa alta porcentagem de pessoas que ascenderam das classes D e E para a C foram beneficiadas pelas políticas econômicas dos últimos dois mandatos de governo que, de maneira sintética, promoveu o aumento do poder de consumo da população em geral. Do mesmo modo tais programas beneficiaram as pessoas que se moveram da classe C para a B. Um exemplo simples que relaciona tal promoção de poder de consumo aos programas assistencialistas é o fato de as pessoas que receberam bolsas puderam se tornar mais consumidoras. O consumo aquecido exige aumento de produção. Aumento de produção gera emprego. Motiva a qualificação profissional e, conseqüentemente, aumenta o nível salarial. Todo o processo é mais complexo do que isso, envolve mais particularidades, porém o ciclo é algo bem próximo a isso. De qualquer forma, o importante é que a mobilidade social ocorrida nos últimos 10 anos beneficiou a todos, especialmente a classe média.

Essa classe média (C e B) é o segmento social mais conservador de todos, como já citado. São, na maioria, profissionais liberais do terceiro setor, ou seja, comerciantes, funcionários públicos dos mais variados cargos, bancários, pequenos empresários, médicos, enfermeiros, professores, engenheiros, gerentes de setores comerciais e administrativos, entre outros. Essa população é o motor de sustentação e manutenção das estruturas políticas do país. Estruturas que tem como alicerce um sistema administrativo em que o poder legislativo é representado por uma elite de latifundiários, empresários, religiosos fundamentalistas e todo tipo de engravatado conservador. Poder diretamente eleito por essa classe média que vota de acordo com a capacidade de campanha política e apoio midiático. Poder que apoiou a ditadura militar iniciada em 1964, simbolizado pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade, isso por que tal ditadura protegia-os da violência urbana e conservava seus padrões de moral estabelecidos. Essa mesma classe social, que diante, de nossas injustiças nuas e cruas, defende o retorno de um regime autoritário que acabe com a violência na mesma proporção em que acabe com as oportunidades de conquista material de quem sempre foi excluído.

As pessoas das classes C e B, tem a sensação e um discurso que afirmam que sua condição econômica (renda familiar em torno de R$ 3.000) é de pobreza. Argumentam dizendo que seus salários não dão para pagar as contas e que compras em supermercados estão cada vez mais caras. Porém, não incluem em seus discursos que suas contas que mal dão para ser pagas incluem plano de saúde, escola particular dos filhos, seguros de automóveis, combustível, dispensas e geladeiras cheias, inclusive de refrigerantes, doces, guloseimas e afins, açougue para o mês todo, manicure, churrasco e cerveja nos fins de semana, idas ao shopping e ao cinema dos filhos adolescentes, ração para os bichinhos de estimação, dentre outros gastos. Não que ninguém tenha o direito de gastar e consumir. Mas gastar e consumir nessas proporções e se achar pobre no Brasil, não é algo sensato. 

De fato, para tal classe, os problemas de nosso país se resumem àqueles que mexem com os saldos de suas contas bancárias. As cotas que diminuem suas chances de ingressar no ensino superior público (pois aumenta a concorrência dando chance a quem nunca teve até então), as bolsas de assistência que saem de suas contribuições em impostos (impostos que todas as classes também pagam, inclusive a D e E), a violência social não reprimida com mais violência que atinge os muros de suas casas e rompem os alarmes de seus carros. Também se incomodam muito com a popularização do acesso à cultura e ao lazer que permitiu com que pessoas pobres andassem de avião, freqüentassem escolas, fossem ao cinema e estudassem na USP, UFMG, UNB, UFRJ e outras universidades públicas. Perturba também tal classe a conquista pelo direito de amar e se relacionar com liberdade, ou seja, com pessoas do mesmo sexo. Perturba o fato de pessoas negras poderem ter a chance de compartilhar todos os espaços e oportunidades com menos desigualdades.
O mal do Brasil é a classe média. A classe que mais se beneficia das ações públicas assistencialistas sem perceber. A classe que mais aumenta seu conforto e seu poder de consumo, e por isso mesmo a classe mais alienada aos meios de comunicação em massa, ao consumismo exacerbado e à manipulação política. É a classe que elege o que há de mais podre em nossa administração, que é o grosso do poder legislativo. Engravatados racistas, latifundiários, neoliberais, especuladores, conservadores, reacionários, homofóbicos, elitistas, capitalistas, individualistas, fascistas, fundamentalistas.
Texto original neste endereço: 

CHEQUE DA ‘PROPINA’ DA ANDRADE FOI NOMINAL A TEMER

CHEQUE DA ‘PROPINA’ DA ANDRADE FOI NOMINAL A TEMER
Um cheque de R$ 1 milhão comprova a materialidade do recebimento de propina pelo ilegítimo Michel Temer (PMDB) da empreiteira Andrade Gutierrez, enrolada até o pescoço na Lava Jato. O dinheiro abasteceu o comitê financeiro do então candidato a vice-presidente na eleição de 2014.

O cheque nominal da Andrade Gutierrez no valor de R$ 1 milhão depositado na conta da campanha de Temer e extratos bancários comprovam o depósito de R$ 1 milhão.

O executivo Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, em 19 de setembro, afirmou ao TSE que houve pagamento de propina disfarçado de doação oficial à campanha de 2014 que elegeu Dilma e Temer.

O ministro Herman Benjamin, do TSE, é o relator do julgamento das contas da campanha Dilma-Temer. No entanto, o ilegítimo Temer havia solicitado para separar as contas dele da de Dilma. Só que, pelo andar da carruagem, mesmo com a separação das contabilidades, o tinhoso pode ser cassado pela Justiça Eleitoral.

Também há outra suspeita de R$ 2 milhões pagos à Noschang Artes Gráficas, sediada no município de Tramandaí, no litoral do Rio Grande do Sul, cujo proprietário da empresa é um cliente do ministro da Casa Civil Eliseu Padilha (PMDB). A gráfica recebeu repasses da conta de campanha de Temer e da Fundação Ulysses Guimarães (FUG).
Essas transações que vieram à tona do TSE já dão dor de barriga em Temer, que pode ser cassado por corrupção eleitoral.

Não há que repisar no fato que o ilegítimo também é alvo de outras delações na Lava Jato, como aquela da propina de R$ 10 milhões recebida da Odebrecht (clique aqui para relembrar). Entretanto, essa bronca não integra o rol das denúncias na Justiça Eleitoral.

Caso Temer seja defenestrado pelo TSE, o que é muito provável, o Congresso Nacional elegerá um novo presidente pela via indireta (sem voto popular). Um dos nomes já no aquecimento é do ex-ministro da Defesa e da Justiça e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, hoje dedicado dedicado às atividades como "banqueiro" sócio do BTG Pactual.



A ERA DAS GRANDES TURBULÊNCIAS MUNDIAIS

A era das grandes turbulências mundiais

Ignácio Ramonet*
Qual o desenho do novo cenário mundial? Quais são suas principais características? Que dinâmicas estão determinando o funcionamento real de nosso planeta? Que características dominarão nos próximos 15 anos, daqui a 2030?

Para analisar este novo cenário e prever seu futuro imediato, vamos utilizar a bússola da geopolítica, uma disciplina que nos permite compreender o jogo geral das potências e avaliar os principais riscos e perigos. Para antecipar, como um tabuleiro de xadrez, os movimentos de cada potência adversária.

E o que nos diz esta bússola?

1. O declínio do Ocidente

A principal constatação é o declínio do Ocidente. Pela primeira vez desde o século 15, os países ocidentais estão perdendo poder frente à ascensão das novas potências emergentes. Começa a fase final de um ciclo de cinco séculos de dominação ocidental do mundo. A liderança internacional dos EUA viu-se ameaçada pelo surgimento de novos polos de poder (China, Rússia e Índia) em escala internacional. A “degradação estratégica” dos EUA já começou. O “século americano” parece chegar ao seu fim, enquanto o “sonho europeu” desaparece.

Embora os EUA sigam sendo uma das principais potenciais planetárias está perdendo sua hegemonia econômica para a China. E já não exercerá mais sua “hegemonia militar solitária” como fez desde o fim da Guerra Fria (1989). Estamos caminhando para um mundo multipolar em que os novos atores (China, Rússia e Índia) têm vocação para construir sólidos polos regionais e a disputar a supremacia internacional com Washington e seus aliados históricos (Reino Unido, França, Alemanha e Japão).

Na terceira linha aparece uma série de potências intermediarias, com demografias em alta e fortes taxas de crescimento econômico, convertendo-se também em polos hegemônicos regionais e com tendência a se transformar, daqui a 15 anos, em um grupo de influência planetária (Indonésia, Brasil, Vietnã, Turquia, Nigéria, Etiópia).

Para ter uma ideia da importância e da rapidez da degradação ocidental que se avizinha, basta observar essas cifras: a participação dos países ocidentais na economia mundial vai passar de 56%, hoje, para 25% em 2030. Ou seja, em menos de 15 anos o Ocidente perderá mais da metade de sua preponderância econômica. Uma das principais consequências será que os EUA e seus aliados não terão mais os meios financeiros para assumir o policiamento do mundo. De tal modo que esta mudança estrutural poderá debilitar o Ocidente duplamente.

2. A incontida emergência da China

O mundo está “desocidentalizando” e é cada vez mais multipolar. Destaca-se, mais uma vez, o papel da China que emerge, a principio, como uma grande potência do século 21 - apesar de estar longe de representar ainda uma autêntica rivalidade com Washington. Por um lado, a estabilidade da China não está garantida, porque coexistem em seu seio o capitalismo mais selvagem e o socialismo mais autoritário. A tensão entre essas duas dinâmicas causará, cedo ou tarde, uma ruptura que poderá debilitar sua potência.

De qualquer maneira, hoje, os EUA seguem exercendo uma indiscutível dominação hegemônica sobre o planeta. Tanto no terreno militar (fundamental), quanto em vários outros setores cada vez mais determinantes, em particular, na tecnologia (Internet) e no soft power (cultura de massas). Isso não quer dizer que a China não tenha realizado também avanços prodigiosos nos últimos anos. Nunca na história um país cresceu tanto em tão pouco tempo.

No momento, enquanto declina o poder dos EUA, a ascensão da China é incontida. Já é a segunda potência econômica do mundo, à frente do Japão e da Alemanha.

Para os EUA, a Ásia é agora a zona prioritária desde que o presidente Barack Obama decidiu a reorientação estratégica de sua política externa. Os EUA buscam frear a expansão da China, cercando-a com bases militares e apoiando seus aliados locais tradicionais: Japão, Coréia do Sul, Taiwan e Filipinas. É significativo que a primeira viagem de Obama, depois da sua reeleição em 2012, tenha sido a Birmânia, Camboja e Tailândia, três países da Associação de Nações da Ásia do Sudeste (ASEAN), uma organização que reúne os aliados dos Estados Unidos na região, cujos membros têm problemas de limites marítimos com a China.

Os mares da China tornaram-se as zonas com maior potencial de conflito armado da área Ásia-Pacífico. Há tensões entre China e Japão a propósito da soberania sobre as ilhas Senkaku (Diaoyú para os chineses). Também a disputa com Vietnã e Filipinas sobre a propriedade das ilhas Spratly está subindo o tom perigosamente. A China está modernizando toda sua marinha em alta velocidade. Em 2012, lançou seu primeiro porta-aviões, o Lioning, e está construindo um segundo, com a intenção de intimidar o governo norte-americano. A China suporta cada vez menos a presença militar dos EUA na Ásia. Entre estes dois gigantes, está se instalando uma perigosa “desconfiança estratégica” que, sem dúvida, poderá marcar a política internacional nessa região até 2030.

3. O terrorismo jihadista

Outras das ameaças globais indicadas por nossa bússola é o terrorismo jihadista praticado, ontem pela Al-Qaeda, e hoje pelo Estado Islâmico (ISIS). As principais causas do terrorismo atual têm de ser buscadas nos desastrosos erros e crimes cometidos pelas potências que invadiram o Iraque em 2003 - além das intervenções caóticas na Líbia (2011) e na Síria (2014).

O Oriente Médio segue situado no atual foco de desestabilização do mundo. Em particular, em torno da inextricável guerra civil na Síria. O que está claro é que, nesse país, as grandes potências ocidentais (EUA, Reino Unido e França), aliadas aos Estados que mais difundem pelo mundo a concepção mais arcaica e retrógrada do islã (Arábia Saudita, Qatar e Turquia), decidiram apoiar, com dinheiro, armas e instruções, a insurgência islamista sunita. Os EUA constituíram nessa região um amplo “exército sunita” com o objetivo de derrubar Bashar Al-Assad e prejudicar um grande aliado regional do Irã. Entretanto, o governo de Bashar Al-Assad, com o apoio da Rússia e do Irã, resistiu e segue consolidando-se. O resultado de tantos erros é o terrorismo jihadista atual que multiplica os atentados odiosos contra civis inocentes na Europa e nos EUA.

Em algumas capitais ocidentais segue-se pensando que a potência militar maciça é suficiente para derrotar o terrorismo. Mas a história militar mostra exemplos abundantes de grandes potências incapazes de derrotar adversários mais débeis. Basta recordar os fracassos norte-americanos no Vietnã, em 1975, e na Somália, em 1994. Em um combate assimétrico, aquele que pode mais, não ganha necessariamente. O historiador Eric Hobsbawn nos recorda que “Na Irlanda do Norte, durante cerca de 30 anos, o poder britânico se mostrou incapaz de derrotar um exército minúsculo como o IRA. Certamente o IRA não venceu, porém nem por isso, foi vencido”.

Os conflitos do novo tipo, quando uma potência enfrenta o débil ou o louco, são mais fáceis de começar do que de terminar. E o emprego maciço de meio militares pesados não necessariamente permite alcançar os objetivos buscados.

A luta contra o terrorismo também está justificando, em matéria de governança e de política doméstica, todas as medidas autoritárias e todos os excessos, inclusive uma versão moderna do “autoritarismo democrático” que tem como alvo, além das organizações terroristas, todos os manifestantes que se opõem às políticas globalizantes e neoliberais.

4. Há crises para muito tempo

Outra constatação importante: os países ricos seguem padecendo de consequências do terremoto econômico-financeiro que foi a crise de 2008. Pela primeira vez, a União Europeia, (e o “Brexit” confirma), vê ameaçada sua coesão e até sua existência. Na Europa, a crise econômica durará ao menos mais uma década, até pelo menos 2025.

Há crise, em qualquer setor, quando algum mecanismo deixa de atuar, começa a ceder e acaba rompendo-se. Essa ruptura impede que o conjunto da maquinaria siga funcionando. É o que aconteceu com a economia mundial desde o estouro da crise das subprimes em 2007-2008.

As consequências sociais desse cataclismo econômico foram brutalmente inéditas: 23 milhões de desempregados na União Europeia e mais de 80 milhões de pobre. Os jovens, em particular, são as principais vítimas; gerações sem futuro. Mas as classes médias também estão assustadas, porque o modelo neoliberal de crescimento abandonou-as à margem do caminho.

A velocidade da economia financeira de hoje é de relâmpago, enquanto que a velocidade da política, em comparação, é de caracol. Resulta que fica cada vez mais difícil conciliar tempo econômico e tempo político. E também crises globais e governos nacionais. Tudo isto provoca, nos cidadãos, frustração e angústia.

A crise global produz perdedores e ganhadores. Os ganhadores encontram-se, essencialmente, na Ásia e nos países emergentes, que não têm uma visão tão pessimista da situação, como os europeus. Também há muitos ganhadores no interior dos países ocidentais, cujas sociedades encontram-se fraturadas pela desigualdade entre ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

Na realidade, não estamos suportando uma crise, mas uma série de crises, uma soma de crises mescladas tão intimamente umas às outras que não conseguimos distinguir entre causas e efeitos. Porque os efeitos de umas são as causas das outras, e assim até formar um verdadeiro sistema de crises. Ou seja, enfrentamos uma autêntica crise sistêmica do mundo ocidental, que afeta a tecnologia, a economia, o comércio, a política, a democracia, a identidade, a guerra, o clima, o meio ambiente, a cultura, os valores, a família, a educação, a juventude etc.

Do ponto de vista antropológico, essas crises estão sendo traduzidas por um aumento do medo e do ressentimento. As pessoas vivem em estado de ansiedade e incerteza. Voltam os grandes pânicos frente a ameaças indeterminadas, como podem ser a perda do emprego, os choques tecnológicos, as biotecnologias, as catástrofes naturais, a insegurança generalizada. Tudo isso constitui um desafio para as democracias, porque esse terror transforma-se, às vezes, em ódio e repúdio. Em vários países europeus, e também nos EUA, ele dirige-se hoje contra o estrangeiro, o imigrante, latinos, ciganos, subsaarianos, “sem visto” etc. Crescem os partidos xenófobos e de extrema direita.

5. Decepção e desencanto

É preciso entender que, desde a crise financeira de 2008 (da qual ainda não saímos), nada é igual em nenhum lugar. Os cidadãos estão profundamente desencantados. A própria democracia, como modelo, perdeu credibilidade. Os sistemas políticos foram sacudidos pela raiz. Na Europa, por exemplo, os grandes partidos tradicionais estão em crise. E em toda parte percebemos o crescimento de formações de extrema direita (na França, na Áustria e nos países nórdicos) ou de partidos antissistema e anticorrupção (Itália, Espanha). A paisagem política parece radicalmente transformada.

Esse fenômeno chegou aos Estados Unidos, um país que já conheceu, em 2010, uma onda populista de direita devastadora, então encarnada pelo Tea Party. A ascensão do multimilionário Donald Trump na corrida pela Casa Branca prolonga essa onda e se constitui numa revolução eleitoral que nenhum analista soube prever. Ainda que sobreviva, aparentemente, a velha bicefalia entre democratas e republicanos, a ascensão de um candidato tão heterodoxo como Trump constitui um verdadeiro terremoto. Seu estilo direto, popularesco, e sua mensagem maniqueísta e reducionista, com apelo aos baixos instintos de certos setores da sociedade, conferiram-lhe um caráter de autenticidade aos olhos do setor mais decepcionado dos eleitores de direita.

A esse respeito, o candidato republicano soube interpretar o que poderíamos chamar de “rebelião das bases”. Melhor que todos, ele percebeu a fratura cada vez maior entre as elites políticas, econômicas, intelectuais e midiáticas, por um lado, e a base do eleitorado conservador, por outro. Seu discurso violentamente antiburocracia de Washington, antimídia e anti-Wall Street seduz, em particular, os eleitores brancos, pouco cultos e empobrecidos pelos efeitos da globalização econômica.

6. Terremotos e mais terremotos

Poderíamos dizer que outra grande característica do novo cenário global são os terremotos. Terremotos financeiros, monetários, das bolsas, climáticos, energéticos, tecnológicos, sociais, geopolíticos, como o restabelecimento de relações entre Cuba e Estados Unidos, ou, em outro sentido, o golpe de Estado institucional no Brasil contra a presidenta Dilma Rousseff. Terremotos eleitorais como a vitória do “não” na Colômbia aos Acordos de Paz entre o governo de Juan Manuel Santos e as FARC; ou o “Brexit” no Reino Unido, ou o êxito da extrema direita na Áustria, ou a derrota de Angela Merkel em várias eleições parciais na Alemanha. Ou o enorme terremoto que poderia constituir, efetivamente, a eventual vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos.

Acontecimentos imprevistos irrompem com força sem que ninguém, ou quase ninguém, os tenha visto chegando. Há uma falta de visibilidade geral. Se governar é prever, vivemos uma evidente crise de governança geral. Em muitos países, o Estado que protegia os cidadãos deixou de existir. Há uma crise da democracia representativa: “Não nos representam!”, diziam os “indignados”. As pessoas reivindicam que a autoridade política volte a assumir seu papel condutor na sociedade. Insiste-se na necessidade de reinventar a política e de que o poder político ponha fim ao poder econômico e financeiro dos mercados.

7. Internet, ciberespionagem e ciberdefesa

O novo cenário global também se caracteriza pela multiplicidade de rupturas estratégicas, cujo significado às vezes não compreendemos. Hoje, a Internet é o vetor da maioria das mudanças. Quase todas as crises recentes têm alguma relação com as novas tecnologias da comunicação e da informação, com a desmaterialização e a digitalização generalizadas, e com a explosão inédita das redes sociais. Mais que uma tecnologia, a Internet é, pois, um ator fundamental da crise. Basta recordar o papel de WikiLeaks, Facebook, Twitter e das demais redes sociais na aceleração da informação e da conectividade social pelo mundo.

Daqui a 2030, no novo cenário, algumas das maiores coletividades do planeta já não serão países, mas comunidades congregadas e vinculadas entre si pela Internet e pelas redes sociais. Por exemplo, ‘Facebooklândia’: mais de um bilhão de usuários. Ou ‘Twitterlândia’, mais de 800 milhões. Sua influência, no jogo da geopolítica mundial, poderia revelar-se decisiva. Hoje, as estruturas de poder se borram graças ao acesso universal à rede e ao uso de novas ferramentas digitais.

Por outro lado, pela estreita cumplicidade que algumas grandes potências estabeleceram com as grandes empresas privadas que dominam as indústrias de informática e de telecomunicações, a capacidade em termos de espionagem de massas cresceu também de forma exponencial. As mega empresas como Google, Apple, Microsoft, Amazon e, mais recentemente, Facebook estabeleceram laços estreitos com o aparato do Estado em Washington, especialmente com os responsáveis pela política exterior. Essa relação converteu-se numa evidência. Compartilham as mesmas ideias politicas e têm idêntica visão de mundo. Em última instância, os estreitos vínculos e a visão comum do mundo, por exemplo, do Google e do governo estadunidense estão a serviço dos objetivos da política externa dos Estados Unidos.

Essa aliança sem precedentes (Estado-aparato militar de segurança-megaempresas da Web) – criou um verdadeiro império da vigilância, cujo objetivo claro e concreto é colocar a Internet sob escuta, toda a Internet e todos os internautas, como denunciaram Julian Assange e Edward Snowden.

O ciberespaço converteu-se numa espécie de quinto elemento. O filósofo grego Empédocles sustentava que nosso mundo estava formado por uma combinação de quatro elementos: terra, ar, água e fogo. Mas o surgimento da Internet, com seu misterioso “interespaço” superposto ao nosso, formado por bilhões de intercâmbios digitais de todo tipo, por seu roaming, seu streaming e seu clouding, engendrou um novo universo, de certo modo quântico, que vem completar a realidade do nosso mundo contemporâneo como se fosse um autêntico quinto elemento.

Nesse sentido, deve-se ressaltar que cada um dos quatro elementos tradicionais constitui, historicamente, um campo de batalha, um lugar de confronto. E que os Estados tiveram de desenvolver componentes específicos das forças armadas para cada um desses elementos: para a terra, o exército; para o ar, a aeronáutica; para a água, a Marinha; e, com caráter mais singular, para o fogo, os bombeiros, ou “soldados do fogo”. De modo natural, todas as grandes potências estão acrescentando hoje, aos três exércitos tradicionais e aos combatentes do fogo, um novo exército, cujo ecossistema é o quinto elemento: o ciberexército, encarregado da ciberdefesa, que tem suas próprias estruturas orgânicas, seu Estado maior, seus cibersoldados e suas próprias armas: supercomputadores preparados para defender as ciberfronteiras e travar a ciberguerra digital no âmbito da Internet.

8. Uma mutação do capitalismo: a economia colaborativa

Trinta anos depois da expansão maciça da Web, os hábitos de consumo também estão mudando. Impõe-se pouco a pouco a ideia de que a opção mais inteligente é usar algo em comum, e não necessariamente comprando-o. Isso significa abandonar, pouco a pouco, uma economia baseada na submissão dos consumidores e no antagonismo ou na competição entre os produtores - e passar a uma economia que estimula a colaboração e o intercâmbio entre os usuários de bens e serviços. Tudo isso causa uma verdadeira revolução no seio do capitalismo, que está operando uma nova mutação, diante de nossos olhos.

É um momento irresistível. Milhares de plataformas digitais de intercambio de produtos e serviços estão se expandindo com muita rapidez. A quantidade de bens e serviços que podem ser alugados ou trocados mediante plataformas online - sejam pagas ou gratuitas (como a Wikipédia) - é já literalmente infinita.

Em nível planetário, essa economia colaborativa cresce atualmente entre 15% e 17% ao ano. Com alguns exemplos de crescimentos absolutamente espetaculares. Por exemplo, o UBER, o aplicativo digital que conecta passageiros com motoristas, em apenas cinco anos de existência já vale 68 bilhões de dólares e opera em 132 países. O AIRBNB, a plataforma online de hospedagem para particulares surgida em 2008 e que já encontrou cama para mais de 40 milhões de viajantes, vale hoje na Bolsa (sem ser proprietária de uma única habitação) mais de 30 bilhões de dólares, ou seja, mais que os grandes grupos Hilton, Marriott ou Hyatt.

A esse respeito, outro traço fundamental que está mudando - e que foi nada menos que a base da sociedade de consumo - é o sentido de propriedade, o desejo de posse. Adquirir, comprar, ter, possuir eram os verbos que melhor traduziam a ambição essencial de uma época em que o ter definia o ser. Acumular “coisas” (casas, carros, geladeiras, televisores, móveis, roupa, relógios, livros, quadros, telefones etc.) constituía, para muitas pessoas, a principal razão da existência. Parecia que, desde o início dos tempos, o sentido materialista de posse era inerente ao ser humano.

A economia colaborativa constitui assim um modelo baseado no intercâmbio e no compartilhamento de bens e serviços por meio do uso de plataformas digitais. Inspira-se nas utopias de compartilhamento e de valores não mercantis como a ajuda mútua ou a convivialidade, e também do espírito de gratuidade, mito fundador da Internet. Sua ideia principal é: “o meu é seu”, ou seja, compartilhar em vez de possuir. E o conceito básico é a troca. Trata-se de conectar, por via digital, as pessoas que buscam “algo” com as pessoas que o oferecem. As empresas mais conhecidas desse setor são: UBER, AIRBNB, NETFLIX, BLABACAR etc.

Muitos indícios levam a pensar que estamos assistindo ao ocaso da 2ª Revolução Industrial, baseada no uso maciço de energias fósseis e em telecomunicações centralizadas. E vemos a emergência de uma economia colaborativa que obriga o sistema capitalista a mudar.

Por outro lado, num contexto em que as mudanças climáticas tornaram-se a principal ameaça para a sobrevivência da humanidade, os cidadãos não desconhecem os perigos ecológicos inerentes ao modelo de hiperprodução e de hiperconsumo globalizado. Aí também a economia colaborativa oferece soluções menos agressivas para o planeta.

Num momento como o atual, de forte desconfiança com relação ao modelo neoliberal e às elites políticas, financeiras, midiáticas e bancárias, a economia colaborativa parece aportar respostas a muitos cidadãos em busca de sentido e de ética responsável. Exalta valores de ajuda mútua e desejo de compartilhamento. São critérios que, em outros momentos, foram argamassa de teorias comunitárias e de ambições socialistas. Mas que hoje são – e ninguém duvide – o novo rosto de um capitalismo mutante, desejoso de afastar-se da selvageria amarga de seu recente período ultraliberal.

Nossa bússola também nos indica a aparição de tensões entre os cidadãos e alguns governos em dinâmicas que vários sociólogos qualificam de “pós-políticas” ou “pós-democráticas”. Por um lado, a generalização do acesso à Internet e a universalização do uso das novas tecnologias estão permitindo à cidadania alcançar altas cotas de liberdade e desafiar seus representantes políticos (como durante a crise dos “indignados”). Mas essas mesmas ferramentas eletrônicas proporcionam aos governos, como já vimos, uma capacidade sem precedentes para vigiar seus cidadãos.

9. Ameaças não militares

“A tecnologia – assinala um informe recente da CIA – continuará sendo o grande nivelador, e os futuros magnatas da Internet, como poderia ser o caso do Google e do Facebook, possuem montanhas de base de dados, e manejam em tempo real muito mais informação que qualquer governo”. Por isso, a CIA recomenda ao governo dos EUA que faça frente a essa ameaça eventual das grandes corporações de Internet, ativando o Special Collection Service, um serviço de inteligência ultrasecreto – administrado em conjunto pela NSA (National Security Agency) e o SCE (Service Cryptologic Elements) das Forças Armadas – especializado na captação clandestina de informações de origem eletromagnética. O perigo de que um grupo de empresas privadas controle toda essa massa de dados reside, principalmente, em que poderia condicionar o comportamento em grande escala da população mundial e inclusive das entidades governamentais. Também se teme que o terrorismo jihadista seja substituído por um ciberterrorismo ainda mais impactante.

A CIA leva a sério esse novo tipo de ameaça porque, afinal, o declínio dos Estados Unidos não foi provocado por uma causa externa, mas por uma crise interna: a quebra econômica ocorrida a partir de 2007-2008. O informe insiste em que a geopolítica de hoje deve interessar-se por novos fenômenos que não possuem, forçosamente, um caráter militar. Pois ainda que as ameaças militares não tenham desaparecido, alguns dos principais perigos que nossas sociedades correm hoje são de ordem não militar: mudanças climáticas, mutação tecnológica, conflitos econômicos, crime organizado, guerras eletrônicas, esgotamento dos recursos naturais.

Sobre esse último aspecto, é importante saber que um dos recursos que está se esgotando mais aceleradamente é a água doce. Em 2030, 60% da população mundial terá problemas de abastecimento de água, dando lugar ao surgimento de “conflitos hídricos”. Em contraste, no que diz respeito aos combustíveis fósseis, a exploração de petróleo e de gás de xisto está alcançando níveis excepcionais, graças às novas técnicas de fraturamento hidráulico. Os Estados Unidos já são quase autossuficientes em gás, e em 2030 poderão ser em petróleo, cujos custos de produção tendem a baratear. Além disso, encorajam a relocalização de suas indústrias. Mas, se os EUA – principal importador atual de combustíveis fósseis - deixarem de importar petróleo, pode-se prever a queda do preço do barril. Quais serão então as consequências para os grandes países exportadores?

10. Rumo ao triunfo das cidades e das classes médias

No mundo a que nos dirigimos, 60% das pessoas viverão nas cidades, pela primeira vez na história da humanidade. E, como consequência da redução acelerada da pobreza, as classes médias serão dominantes e triplicarão, passando de 1 para 3 bilhões de pessoas. Isso que, em si, é uma revolução colossal, acarretará como consequência, entre outros efeitos, uma mudança geral dos hábitos culinários e, em particular, um aumento do consumo de carne em escala planetária - o que agravará a crise ambiental.

Em 2030, os habitantes do planeta seremos 8,5 bilhões, mas o aumento demográfico cessará em todos os continentes, menos na África, com o consequente envelhecimento geral da população mundial. Em troca, o vinculo entre o ser humano e as tecnologias protéticas acelerará o surgimento de novas gerações de robôs e a aparição de “super-homens” capazes de proezas físicas e intelectuais inéditas.

Muito raramente o futuro é previsível. Nem por isso, deve-se deixar de imaginá-lo, em termos de prospectiva. Isso nos prepara para agir diante de diversas circunstâncias possíveis, das quais só uma se realizará. Para isso, a geopolítica é uma ferramenta extremamente útil. Ajuda-nos a tomar consciência das rápidas evoluções em curso e a refletir sobre a possibilidade, para cada um de nós, de intervir e apontar o rumo. Para tratar de construir um futuro mais justo, mais ecológico, menos desigual e mais solidário.

* Diretor do Le Monde Diplomatique