quinta-feira, 2 de novembro de 2017

CARAVANAS INICIAM PROCESSO DE RESGATE DA DEMOCRACIA NO BRASIL


Emir Sader

A derrota da campanha das diretas esgotou o impulso das mobilizações populares contra a ditadura e permitiu o governo conservador de José Sarney. O ciclo seguinte de grandes mobilizações populares foi pela derrubada do Collor, mas se esgotou com o governo Itamar, que promoveu a continuidade do neoliberalismo, com o projeto de FHC.

Lula se elegeu pelo esgotamento e o fracasso do governo FHC, mas sem ser acompanhado de um grande processo de mobilizações populares. Os governos do PT promoveram, como nunca, os direitos dos trabalhadores e de todo o povo.

Mas o novo grande ciclo de mobilizações populares se dá agora, com as Caravanas de Lula. As viagens da Caravana de Lula, começadas pelo Nordeste e agora continuadas por Minas Gerais, permitem ao PT reconstituir suas bases populares de apoio, ao mesmo tempo em que se elabora a plataforma que permitirá o retorno do Brasil à democracia.

Vai se criando um novo consenso nacional, que articula o resgate dos direitos expropriados pelo governo golpista, com a volta do desenvolvimento econômico, propiciado com as eleições diretas e o retorno da democracia. Lula recolhe as reivindicações e os pontos de vista da população, que sobe ao palanque para expor suas vivências, as transformações das suas vidas ao longo deste século e as perdas que vivem atualmente.

Lula vai formulando, nos seus discursos, as vias de reversão dos retrocessos. A centralidade da educação foi se consolidando ao longo da Caravana de Minas, como direito, conquista de todos, mas também como fator indispensável para a construção de um país avançado e da própria soberania nacional.

O retorno a um governo popular, democrático e soberano, por sua vez, requer o referendo revogatório, colocado como condição de recuperar a capacidade de governar para todos. De deixar de governar para um terço da população, como se voltou a fazer.

As Caravanas passam a uma nova etapa com a reunião de Lula com os reitores das universidades públicas. Até esse momento, Lula se dirigia basicamente às distintas camadas do povo, seja no Nordeste ou nas Gerais, na região mineira mais próxima das condições de vida do Nordeste. A aceitação unânime dos reitores da necessidades indispensável do referendo revogatório aponta para o potencial dessa medida, que atende às reivindicações da maioria esmagadora da sociedade, vítima dos pacotes implementados pelo governo golpista.

Esse será um instrumento fundamental na construção de uma plataforma de reconstrução nacional, característica dos discursos de Lula. Se tratará não apenas de eliminar a medida que congela os recursos para políticas sociais por 20 anos, como reverter as decisões que afetam duramente os interesses dos trabalhadores.

A participação entusiasta da massa da população aponta a que o discurso do Lula atente a suas necessidades, a suas demandas e a sua esperança. Se trata agora, além de consolidar esse apoio em outras regiões do Brasil, com caravanas pelo centro sul e pelo norte, de estender o diálogo, para incorporar também as camadas médias, resistentes, mas sensíveis, porque são igualmente vítimas da recessão, do desemprego e das perda de direitos.

O tom das posições deverá ser, cada vez mais, o de apontar para um Brasil para todos, em que cabem a todos os que se identificam com a retomada do desenvolvimento com políticas de distribuição de renda e de inclusão social. Haverá lugar para todos os que apoiam esse projeto, os que vivem do seu trabalho, os que se dispõem a integrar-se na retomada do desenvolvimento econômico.


As Caravanas contêm assim, no seu bojo, uma estratégia de reconquista da democracia, do desenvolvimento econômico, da inclusão social e da soberania social. Seu grande líder, Lula, protagoniza esse processo como grande condutor desse momento em que o país decide seu futuro, no prazo de um ano, por toda a primeira metade do século XXI.

Defesa Da Classe Trabalhadora

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Gleisi: a memória do povo contra a mídia e o Partido da Lava Jato

Gleisi: a memória do povo contra a mídia e o Partido da Lava Jato

Quando, em 1982, começamos a caminhada para eleger Leonel Brizola governador do Rio de Janeiro. ele sempre nos dizia que procurássemos saber quem tinha um retrato de Getúlio Vargas em sua casa ou na casa do seu pai. Eu, aos 23 anos, claro que não o tinha, mas havia, na minha infância, um na casa de meu avô.
“É a memoria profunda do povo”, dizia Brizola, que não se corta com uma tesoura e que tece o fio da história.
Lula é a versão nova de uma velha memória.
Com mais facilidades, porque Getúlio ainda vivia a dificuldade da linguagem empolada.
A geração que o sucedeu, Jango e Brizola, bem menos o primeiro e quase nada o segundo.
Mas isso é quase irrelevante.
O povo tem a estranha mania de julgar os governantes pela vida que têm ou tiveram.
Porque, já se disse aqui outro dia, a verdade é a realidade.
Quem vê a face da esperança nunca a esquece, dizia Brizola.
Sem o saber, talvez, Gleisi Hoffman disse isso no Senado, anteontem.
Assista, vale a pena. Há toneladas de verdades, de verdades que não costumam ser ditas pelos medrosos.

Da Revolução Soviética ao retrocesso golpista na América

Da Revolução Soviética ao retrocesso golpista na América

YURI MARTINS FONTES
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Da Revolução Soviética ao retrocesso golpista na América
Por Yuri Martins Fontes
Há um século, a Revolução de Outubro sacudiu as utopias de todo o mundo, dando à humanidade um novo alento libertário, em meio à carnificina inter-imperialista que foi a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) – evento que escancarou o fato de que a Modernidade, com sua ciência experimental avançada e suas técnicas de ponta, tinha fracassado em promover um efetivo “desenvolvimento humano”.
Com a vitória bolchevique, por volta da década de 1920 são criados a maioria dos Partidos Comunistas da América, e nosso continente passa a figurar no campo de visão do socialismo internacionalista que então se consolidava. Conforme o marxismo se desenvolve por entre nossos povos, uma questão ganha o centro dos debates: qual seria a natureza de nossas revoluções latino-americanas? Democrático-burguesa ou socialista? Armada ou parlamentar? Que sujeito social a promoveria: o operário urbano, o camponês, ou quem sabe os trabalhadores em aliança com parcelas (pretensamente “nacionalistas”) da burguesia?
Nos primeiros anos pós-revolucionários, a recém-criada Internacional Comunista (1919) teve o comando do “gênio de Lenin”, com sua capacidade de liderança e diálogo que mantinha firme a união partidária – conforme analisa o inestimável marxista português que nos deixou este ano, Miguel Urbano Rodrigues. Na posição de grande “Partido Mundial”, a IC desempenharia então uma influência marcadamente revolucionária por entre nossos ainda incipientes pensamento e política comunistas – defendendo que a tarefa de concluir as tarefas incompletas da “revolução burguesa” (metas democráticas fundamentais, jamais realizadas em nossas nações, como a reforma agrária), deveria ser a partir de agora do próprio povo trabalhador: dos “operários em aliança com os camponeses”, juntos em uma frente contra a “aliança conservadora” (entre o imperialismo estadunidense e as burguesias nativas a ele associadas).
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Entretanto, com o fim da Primeira Guerra, as potências capitalistas da época, tão logo puderam respirar, partem para acossar os bolcheviques, reforçando a oposição das elites russas e aprofundando a já devastadora guerra civil. Assim, com a penúria causada por essa guerra fratricida, os avanços dos primeiros anos revolucionários vão sendo reduzidos, especialmente na medida em que cresce a ameaça alemã-nazista.
Com todos seus percalços, vitórias e derrotas, a Revolução Russa foi a mais “universal” da história, pois não só abalou as estruturas de comando das nações do mundo (como o fez a “Francesa”), mas alcançou incutir na consciência da humanidade como um todo – particularmente na de cada classe subalterna, explorada – uma real perspectiva da emancipação. Por trás de cada “conquista” humana após 1917 – inclusive o efêmero e frágil “Estado do Bem-Estar Social” das nações mais poderosas –, pode-se ver a ação decisiva de organizações políticas e sociais que a vitória bolchevique inspirou pelos quatro cantos.
Quanto à nossa América, a Revolução Soviética num primeiro momento parecia ter resolvido, com seu assalto popular ao poder, a querela do socialismo latino-americano, pois a “social-democracia” pacifista (pró “aliança de classes” com supostas “burguesias nacionais”) apoiara a entrada da Alemanha na Primeira Guerra – “nacionalismo chauvinista” que destruiria o país e desmoralizaria essa corrente. Contudo, com a retração defensiva da URSS, em meados dos anos 1930, as diretrizes vindas de Moscou mudariam o rumo dessa disputa: desde então, foram as correntes “aliancistas” que prevaleceriam nos PCs.
Hoje, passados todos esses anos, tendo o ser humano provado da experiência aterrorizante da Segunda Guerra, consequência óbvia da irresolução e ambição desmedida dos vencedores da Grande Guerra anterior, a impressão – em certa perspectiva histórica – é a de que pouca coisa mudou. Ao menos em aparência: pois nos subterrâneos dos arranha-céus do capital, a organização popular se move, ganha solidez, e com isso, mais voz, e consciência, e “vozes” – malgrado a permissividade da “democracia liberal” para com o fascismo (como costuma ocorrer em tempos de disputa ideológica aberta, tal qual vivemos).
Da “Era da Catástrofe” ao reformismo desenvolvimentista
Após o enfraquecimento do campo socialista mundial (com a guerra econômica que destruiu o projeto soviético), as tentativas de assalto ao poder e de transformações estruturais profundas foram deixadas de lado, dado o desequilíbrio dos anos 1990, com a ascensão das forças neoliberais.
Assim, seria posta em prática, em diversas nações subalternas do mundo, particularmente na América, a experiência do “reformismo desenvolvimentista”, mal denominado “socialismo do século XXI” – pois embora correta a denominação “socialismo” às tentativas diversas de se orientar uma sociedade rumo à emancipação, o termo ambíguo pode sugerir que se trataria de uma experiência radicalmente “nova”, fazendo “tabula rasa” dos intentos anteriores e seus aprendizados.
Esta experiência reformista porém se revelaria mais lenta e mais curta do que o previsto: cerca de duas décadas depois, com a explosão da crise econômica mundial derivada da caótica desregulamentação capitalista, as ainda parcas (mas fundamentais) políticas sociais implementadas seriam violentamente reduzidas, precarizadas, quando não abortadas, pela pressão bélico-econômica do capital. Isto se dá por meio de guerras econômico-eleitorais (de modo geral, mas notadamente na Argentina); corrupção institucional (parlamentar-judiciária-midiática, etc – caso clássico do Brasil, Paraguai e Honduras, dentre outras “Repúblicas Bananeiras”), ou mesmo com tentativas de destruição direta pela força (caso dos mercenários bancados pelas elites venezuelanas, associadas a “Fundações Ford” e “Institutos Millenium” da vida – a tocar o terror e desestabilizar a nação bolivariana, já golpeada por sua imprudente dependência do petróleo (ora em baixa).
O cenário que se observa hoje na América Latina é visivelmente de regressão, com relação ao vagaroso projeto mínimo das nações periféricas (cuja meta seria a de buscar um respiro social para a constituição, ainda que tardia, de Estados “realmente” independentes).
Quanto aos capitalistas, os “vencedores” do século passado, é bastante nítido que eles nada aprenderam com todo este processo de “crise” que compõe a “Era da Catástrofe” (como Hobsbawm se refere à catástrofe quase sem tréguas que foi o século XX). Primeiro, após a Primeira Guerra, fizeram da Alemanha “terra arrasada”, dando espaço ao surgimento do nazismo, ao propiciarem que se chocasse o “ovo da serpente”, na esperança de que o capitalismo autoritário de Hitler fizesse o serviço sujo que as potências da época não tinham forças para fazer (debilitadas pelo processo bélico): ou seja, destruir os comunistas. Como se sabe, a União Soviética venceria esta guerra (com todos os méritos e prejuízos inerentes), com o apoio tático discreto dos EUA e de seus aliados europeus-ocidentais (assustados com as ambições do irracionalismo fascista que semearam).
Mais tarde, com sua vitória contra os soviéticos na Guerra Fria, o capital passaria a “liberar” novamente as forças fascistas da “caixa de Pandora” neoliberal – como vemos hoje –, mas sem mudar em absolutamente nada sua estrutura rígida neopositivista, ilógica, sem sentido e destrutiva (do homem e do planeta) com que continua a reger hegemonicamente a política e a economia mundial: excluindo imensos contingentes humanos a cada nova “modernização” industrial, e consumindo as últimas florestas e santuários e águas potáveis em busca de adiar sua crise final (que oxalá virá antes do colapso final da vida na Terra).
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Já a URSS “venceria” a Guerra somente no curto prazo, pois sairia por demais desgastada do conflito, enquanto seus inimigos se tornaram a superpotência imperialista que passaria a comandar o mundo sozinha após a derrota soviética na Guerra Fria, em 1991: o franco domínio estadunidense duraria uma década, a chamada “década perdida” neoliberal.
Revolução Russa e a América Latina
No campo progressista-humano, a Revolução de Outubro foi a concretização da secular utopia humana da liberdade. Trata-se de uma “experiência profunda” (no conceito de Walter Benjamin), que apesar de sua derrota “em si” (internamente), legou ao mundo lições, de modo a se constituir como um “guia” para novos processos revolucionários (não como um “modelo” a ser copiado, mas antes como uma “bússola” a corrigir “sentidos”).
Contudo, as experiências reformistas “nacional-desenvolvimentistas” de Hugo Chávez a Lula – em um espectro que percorreu uma variada intensidade de reformas, mas sem nunca chegar a transformações “estruturais” –, estão hoje em retrocesso, dados os diversos golpes que se intensificaram na última década, com a grande crise econômica de 2008.
Isto se deve – parcialmente – a que, com a correlação de forças do início do século XXI, em muitos aspectos estes governos não puderam ir mais longe em suas tentativas de aprofundar as mudanças nas estruturas: pois estavam atrelados às “alianças de classes” para manutenção da tal “governabilidade” (motivo pelo qual o lulismo confiou ao marido da Marcela Temer o cargo de vice).
Como exceção, vale aqui lembrar que a partir de 2007 Chávez promove a nacionalização de alguns bancos e empresas nacionais e estrangeiras. A consequência disto, como se sabe, foi que ele é acometido por um câncer, que o mataria poucos anos depois – processo de guerra econômico-midiática e desgaste político que lança a Venezuela nessa instabilidade que já leva anos. E isso se dá antes de que fosse possível se mudar a base petróleo-dependente da economia nacional.
Aliás, faça-se aqui um aparte para mencionar o questionamento do sociólogo Atilio Borón, quem põe em xeque essa tão duvidosa coincidência, que une sob o signo da desgraça o destino de tantos (a maioria!) dos presidentes progressistas da América nas últimas décadas: Néstor Kirchner (câncer no intestino e problema cardíaco), Lula (câncer na garganta), Fernando Lugo e Dilma (linfomas), Fidel (estômago), Evo Morales (câncer nasal). Isso se torna ainda mais “estranho”, quando arquivos do Wikileaks vindos a público dão conta de que um comitê de investigação do senado estadunidense revelou, já em 1975, que a CIA tinha desenvolvido uma pistola de microdardos envenenados que causava ataques do coração e câncer, e sem deixar rastros. Imagine-se quanto a tecnologia pôde se desenvolver desde então.
Mas bem, como se sabe, destes “pré-golpes” escusos, se seguiriam os golpes à luz do dia (em uma série quase de “suspense”, que será tratada na próxima coluna).
Reformismo lulista e chavista
Em se avaliando o caso de Lula, o caminhar excessivamente lento de suas reformas (causa e consequência do afastamento do PT de suas bases) levaram ao caos político atual – em que o presidente, outrora dos mais poderosos do mundo, viu até mesmo sua mulher ser assassinada pela quadrilha de colarinho (parceria mídia-judiciário).
É certo que Lula não teve a força militar a seu lado, como Chávez – quem com um exército menos estúpido que o brasileiro, obviamente pode ousar mais. Contudo, Lula teve a seu lado a força de uma popularidade inacreditável, mas não soube usar politicamente esse momento favorável, preferindo acreditar na falácia de uma “duradoura” aliança de classes – já desmentida por tantos episódios históricos. Nada fez contra a Globo-Golpe e outros estorvos à cultura nacional (Veja, Estadão, Folha, Jovem Pan, Band) que semeiam o ódio, o preconceito e a ignorância geral na telinha de cada dia das famílias brasileiras.
Como já observaram grandes pensadores marxistas de nossa América, como Julio Mella, Mariátegui e Caio Prado, por essas terras nunca existiu uma “burguesia nacional”: nossas elites nativas, mesmo sendo mestiças, sentem-se brancas, querem ser europeias, desprezam o povo, com quem não se identificam, e preferem comprar as mais recentes inutilidades de luxo, de que adquirir cultura, estudar ou pensar um projeto “nacional”; seu objetivo último não é a “nação”, mas deixar a nação.
A Revolução Latino-Americana poderia e deveria ter apreendido essa grande lição de Lenin e da Revolução Soviética, bem como as reflexões de nossos maiores marxistas: uma “aliança nacional”, quando necessária, tem de ser “pontual”, visando as reformas mais urgentes (como as voltadas a quem tem fome); jamais se pode perder as rédeas do processo, ficando nas mãos de quadrilhas da burguesia, como ocorreu no Brasil com o governo paralelo do quadrilhão do PMDB (este filhote da ditadura).
Já quanto a Chávez, com o apoio dos militares, conseguiria ir mais fundo. Contudo, sendo ele mesmo militar, não teve a necessária visão ampla (“totalizante”) de futuro para perceber que não bastava armar setores do povo, mas era crucial se investir – imediatamente – na diversificação produtiva, de modo a livrar seu país da dependência da extração petroleira e do comércio desequilibrado e sujo internacional.
Ambos, ele e Lula, pecaram por um pensamento excessivamente economicista, tecnicista e de curto prazo; e pela ilusão de que setores da burguesia local teriam a altiva “consciência” de que, em se desenvolvendo a nação, eles mesmos se desenvolveriam.
Atentar às experiências históricas ou repetir os erros
O “socialismo do século XXI” fraqueja por não ter atentado com cuidado às profundas experiências históricas socialistas. Como lucidamente comentou dia desses o jornalista e professor Gilberto Maringoni, Nicolás Maduro, com sua vitória nas últimas eleições (Assembleia Constitucional e governos), demonstra ter aprendido que o primeiro passo para um governo seguir sendo progressista, é conseguir se manter vivo, no poder, para assim lograr efetuar suas reformas.
Mas em se mantendo no poder, não há espaço para errar, pois os falcões do Norte têm seus astutos olhos abertos.
Lula diz que vai – finalmente – enfrentar a mídia corporativa corrupta, autoritária e imbecilizante; mas como o fará, se sua prática política o afastou de suas bases e o PT se mantém distante dos movimentos sociais que o elegeram?


 Yuri Martins Fontes é doutor em  História Contemporânea (USP/CNRS), com formação em Filosofia e Engenharia; exerce atividades como pesquisador e jornalista, além de coordenar os projetos de educação popular do Núcleo Práxis-USP.

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DODGE APONTA PROPINA DA ODEBRECHT A ALOYSIO NUNES, CHANCELER DE TEMER

DODGE APONTA PROPINA DA ODEBRECHT A ALOYSIO NUNES, CHANCELER DE TEMER


247 - Em petição enviada ao Supremo Tribunal Federal, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, aponta que Aloysio Nunes Ferreira, chanceler do governo Temer, recebeu R$ 500 mil da Odebrecht em 2010, embora os recursos não tenham sido declarados à Justiça Eleitoral.

As informações foram publicadas pelos jornalistas Rubens Valente e Reynaldo Turollo, na edição desta quinta-feira 2, da Folha de S. Paulo.

"É fato incontroverso que houve o repasse de recursos para a campanha do senador Aloysio Nunes. Resta investigar a origem destes recursos e a finalidade do repasse", escreveu Dodge ao relator do caso no STF, Gilmar Mendes.

"O inquérito foi aberto em março a pedido do então procurador-geral Rodrigo Janot como desdobramento do acordo de delação. Dois delatores da empreiteira informaram à PGR sobre o pagamento a Aloysio Nunes. Um deles disse que repassou os dados sobre Aloysio ao 'Departamento da Propina´ da empresa e fez duas entregas, de R$ 250 mil cada uma, para o ´representante´ do candidato em hotéis da zona sul, não nominados, no segundo semestre de 2010. No sistema de acompanhamento dos pagamentos, Aloysio Nunes tinha o codinome ´Manaus´", apontam os jornalistas.


 Há risco de que Aloysio Nunes se beneficie da prescrição, assim como o senador José Serra (PSDB-SP), também investigado.

Governo demonstra insensibilidade em mais uma nova afronta aos trabalhadores

COLUNA

Governo demonstra insensibilidade em mais uma nova afronta aos trabalhadores

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Golpista Michel Temer continua ocupando indevidamente a Presidência da República / Valter Campanato/Agência Brasil
Temer anunciou redução do salário mínimo em 2018 de 969 para 965 reais
O que se pode esperar de um governo que anuncia a redução do salário mínimo em 2018 de 969 para 965 reais? É realmente uma demonstração concreta de insensibilidade e uma afronta aos trabalhadores brasileiros, até porque o anúncio do próximo salário mínimo em si já é uma afronta, pois o valor deveria ser bem maior, mas como o governo golpista pouco se importa com os trabalhadores e só lhe interessa prestar serviços aos poderosos grupos econômicos, o salário mínimo apresentado será sempre abaixo do valor que deveria ser.
Enquanto isso acontece, esse mesmo governo putrefato prepara ações para facilitar as empresas petrolíferas que abocanharam as riquezas do pré-sal, inclusive oferecendo facilidades de isenção de impostos. Para não falar da proposta de (pseudo) reforma da Previdência e o que foi feito contra os trabalhadores com a aprovação da (pseudo) reforma trabalhista?  O que se pode esperar de um governo golpista chefiado por Michel Temer e tendo como Ministro da Fazenda o aposentado do Banco de Boston Henrique Meirelles?
O que a dupla mencionada anda realizando em matéria de retrocesso já passou dos limites, mas Temer e Meirelles, não contentes, querem ofertar mais facilidades ao poder econômico, principalmente ao setor bancário. O que estão fazendo na verdade é uma retribuição ao apoio dado por poderosos grupos econômicos para Temer ocupar indevidamente a Presidência da República.
É uma vergonha o que tem acontecido desde a ascensão do governo ilegítimo no ano passado. E para o cúmulo dos cúmulos, diariamente a opinião pública é informada sobre medidas que favorecem grupos econômicos e, em grau ainda maior, estrangeiros, sempre em detrimento da maioria da população brasileira.
Não causa nenhuma surpresa, portanto, a divulgação de pesquisas mostrando que o atual presidente ilegítimo só tem apoio de 3% da população e a tendência daqui para frente é um percentual ainda mais negativo.
E isso acontece apesar do apoio incondicional da mídia comercial conservadora às (pseudo) reformas, que se forem colocadas em sua totalidade na prática resultarão em ainda maiores retrocessos. Para o povo deste país só resta numa próxima eleição, inclusive presidencial, a escolha de candidatos que se comprometam a revogar as medidas que resultaram em retrocessos para o país. E, também, o próprio povo exigir nas ruas que a eleição presidencial seja mesmo realizada.
É preciso essa advertência, porque os detentores ilegítimos do poder têm consciência que serão repudiados nas urnas e, por isso, farão o possível e o impossível para evitar que o povo dê a última palavra sobre o que vem sendo feito atualmente.
Resta aos interessados em anular o retrocesso estarem vigilantes e mobilizados para impedir que os detentores ilegítimos do poder promovam o impedimento da consulta popular. E não adianta setores do PSDB tentarem se apresentar como desvinculados do governo ilegítimo. Fazem essa dissimulação, porque sabem perfeitamente que se não fizerem isso serão varridos pelo voto popular, por serem considerados também culpados, como os apoiadores de Temer, pelo atual estado de coisas que atinge em cheio amplas parcelas da população, agora até mesmo aqueles que foram induzidos a bater panela contra a presidenta eleita Dilma Rousseff.
Por essas e outras, é mais do que necessário estar atento em relação às medidas de retrocesso que são anunciadas diariamente pela mídia comercial conservadora, pois, se não forem revogadas, farão com que o país sofra um retrocesso sem precedentes na história brasileira.
Ah, sim, o que dizer da juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo do Campo, que impediu a apresentação de Caetano Veloso para o pessoal do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto mobilizado por uma causa justa?
Edição: Vivian Virissimo

E se as mulheres não fizessem mais o trabalho de casa?

COLUNA

E se as mulheres não fizessem mais o trabalho de casa?

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A invisibilidade e a desvalorização do trabalho doméstico gratuito ajuda o capitalismo a extrair maior valor dos trabalhadores. / EBC
Quem vai deixar de trabalhar para cuidar dos filhos? 
Historicamente, as mulheres têm sido responsabilizadas pelo trabalho doméstico, o que aqui chamo de trabalho de “reprodução social”. Esse trabalho envolve lavar, passar, cozinhar, limpar, mas também o cuidado com crianças, idosos e enfermos.
O que faz as mulheres serem as responsáveis por esse conjunto extenso e penoso de atividades (afora a reprodução da vida, que é um processo biológico) é a “naturalização”, de que essas são tarefas “de mulheres”. Sempre que questionei a minha mãe sobre o motivo de eu ser responsável por lavar a louça e o meu irmão não, ela dizia que esse era o trabalho das mulheres mas que – quando precisasse – o meu irmão trocaria lâmpadas.
A isso damos o nome de “divisão sexual do trabalho”, que acompanha nossa sociedade há muito tempo mas que foi resignificada pelo capitalismo. A lógica da divisão sexual do trabalho não é somente existir “trabalhos de homens” e “trabalhos de mulheres”, mas também de que os trabalhos de homens “valem” mais do que o trabalho das mulheres.
Um exemplo muito simples é o trabalho nos “serviços domésticos”. Essa ocupação é marcada por 93% de mulheres. E pasmem: elas ganham pouco mais de 80% do salário dos homens alocados também no trabalho doméstico.
Pelo IBGE, a categoria serviços domésticos engloba várias atividades: empregada doméstica, babá, cozinheira e também motorista particular e jardineiro. Dessa forma, provavelmente os homens são os motoristas e jardineiros e as mulheres as demais. No entanto, qual a razão do trabalho de um motorista “valer” mais do que o trabalho de uma cozinheira, que é realmente muito mais importante para a reprodução familiar? A resposta é a construção social, na qual “valorizamos” de diferentes formas distintas ocupações. O sexo e a cor de quem realiza estas atividades concorre mais para o seu “valor social” do que propriamente a sua qualificação.
Voltando ao início da prosa. E se as mulheres, que são as responsáveis majoritariamente pelo trabalho doméstico de forma gratuita nas suas casas, não o fizessem mais? Como o trabalhador iria para o trabalho não alimentado, com as roupas amassadas? E as crianças, quem as levaria para a escola? E os idosos, quem cuidaria deles?
Esse é apenas um exemplo para você pensar que toda a sociedade se estrutura a partir de um trabalho que você talvez nem ache que é trabalho!
Um dos principais motivos de desigualdade no mercado de trabalho (segregação ocupacional, diferenças salariais) é deveras influenciado pela não divisão das tarefas de reprodução entre os homens e mulheres nos seus lares. 
E isso impacta a vida privada, mas também o sistema como um todo. Aceitando a ideia de Karl Marx de que o salário de um trabalhador é determinado pela quantidade necessária para que ele possa reproduzir a própria força de trabalho (ou seja, voltar a trabalhar no outro dia, descansado e alimentado) o trabalho gratuito das mulheres ajuda a rebaixar os salários do conjunto da classe. Simples, porque nem o Estado nem as empresas precisam adicionar no custo do salário o necessário para que esse trabalhador coma em restaurantes, pague uma creche para o seu filho e alguém para limpar a sua casa. Ou seja, essa invisibilidade e a desvalorização do trabalho doméstico gratuito ajuda o capitalismo a extrair maior valor dos trabalhadores.
Assim também com o Estado. Quando o governo Temer aprova uma medida como a “PEC do teto dos gastos”, ele mais uma vez sobrecarrega as mulheres, pois com a saúde em frangalhos, quem vai cuidar dos idosos e enfermos? Com recurso congelado para creche, quem vai deixar de trabalhar para cuidar dos filhos?
Pense nisso! Dividir e compartilhar o trabalho doméstico com as mulheres é uma obrigação! É um dos passos necessários para enfrentar uma das desigualdades mais estruturantes de nossa sociedade.
* Juliane Furno é doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp e militante do Levante Popular da Juventude.
Edição: Daniela Stefano

Por que as ideias de Paulo Freire ainda incomodam?

EDUCADOR

Por que as ideias de Paulo Freire ainda incomodam?

Após abaixo-assinado promovido pelo MBL, o título de Patrono da Educação Brasileira do educador será rediscutido

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Ouça a matéria:
Educador ficou exilado durante 16 anos, durante a ditadura militar, devido seus métodos inovadores de educação, com foco na transformação / Reprodução
"Evidentemente, eu fui preso e exilado por causa da ditadura. A ditadura militar de 1964 não só considerou, mas disse por escrito e publicou que eu era um perigoso, subversivo internacional, um inimigo do povo brasileiro e um inimigo de Deus", diz Paulo Freire em entrevista dada à TV Cultura em 1989, quando relembra a perseguição sofrida durante o regime militar.
O educador e filósofo foi preso e ficou exilado durante 16 anos por causa de seus métodos inovadores de educação, com foco na transformação social.
"Meu gosto é que nós todos, brasileiros e brasileiras, meninos e meninas, velhos, maduros tomemos um tal gosto pela liberdade, pela presença no mundo, pela pergunta, pela criatividade, pela ação, pela denúncia, pelo anúncio que jamais seja possível no Brasil a gente voltar àquela experiência do pesado silêncio sobre nós", afirma Freire.
Após duas décadas da morte do educador popular, as ideias dele voltaram a ser consideradas perigosas. O título de Patrono da Educação Brasileira de Paulo Freire vai ser colocado em discussão no Congresso Nacional.
Desde 2013, nos protestos liderados por grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), manifestantes vestidos de verde e amarelo ostentavam faixas pedindo fim à “doutrinação marxista” e um basta a pedagogia de Freire nas escolas. 
O ódio contra o educador culminou em um abaixo-assinado online pela revogação da lei 12.612, de 2012, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, que concedeu o título a Freire. O documento atingiu as 20 mil assinaturas necessárias para se converter em sugestão legislativa e vai ser debatido no Senado Federal.
Para o professor da USP, Dennis de Oliveira, a rejeição ao legado do educador pernambucano reflete o aumento do conservadorismo no Brasil:
“Há toda uma ação de extrema direita conservadora muito forte e o campo da educação, nesta situação em que vivemos hoje, tem sido o campo em que ainda há resistência progressista. Uma parte dos meios de comunicação de massa, infelizmente, aderiu a essa visão golpista e direitista, enquanto na educação a gente ainda tem iniciativa de professores e educadores que tentam formar o pensamento crítico”, opina.
Em 1963, Paulo Freire elaborou um projeto inédito e ousado: alfabetizar jovens e adultos em 40 horas. O novo método aplicado em Angicos, no Rio Grande do Norte, era baseado na experiência de vida e nas distintas realidades das pessoas. Para o educador, aprender sobre o mundo coexiste com a aprendizagem das palavras.
Em vez de cartilhas, ele trabalhava conceitos da realidade. Para um trabalhador rural que pouco cultivou as letras, mais do que juntar as sílabas e compreender que está escrito ‘tijolo’, por exemplo, era necessário entender quem faz o tijolo, quem são os que constroem as casas e quem são os donos delas.
O professor Oliveira trabalhou com Freire em 1989, quando o educador pernambucano foi nomeado secretário de Educação no Município de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina.
A frente da pasta, Freire vinculou o EJA, projeto de educação de jovens e adultos, à secretaria da educação. A preocupação do professor era com uma educação emancipadora, libertadora e de consciência crítica.
"Suas obras são reproduzidas em várias línguas, é uma referência internacional no campo da educação, da pedagogia e do pensamento filosófico. Ele propõe você pensar em uma estratégia de ação, junto com os movimentos sociais, em que você respeite a diversidade de saberes e conhecimentos", diz.
Os ensinamentos de Paulo Freire reverberam ainda hoje nos movimentos populares pelo Brasil e pelo mundo. Um deles é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que tem a educação popular como uma das bases da militância, segundo a coordenadora do setor de educação, Rubneuza Leandro. 
"Paulo freire foi um dos grandes sistematizadores da educação popular, é uma concepção de educação em que ele coloca que a libertação do oprimido está com ele. Não é um iluminado que vem para libertá-lo, é no próprio oprimido que está a chave para a libertação e dentro dessa perspectiva de problematizar o que traz a opressão. E nisso, ele traz o elemento de classe: se tem um oprimido, é porque tem um opressor", expõe.
No Senado, a sugestão legislativa será debatida na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa. A relatoria está a cargo da senadora Fátima Bezerra (PT - RN). 
Educadores e entidades de todo o país já se movimentam para manter o nome de Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira. O manifesto de defesa, organizado pelo Instituto Paulo Freire, também angariou mais de 20 mil assinaturas na Internet.


 
Edição: Camila Salmazio