quarta-feira, 10 de agosto de 2016

'Senado virou um balcão de negócios nesse jogo sujo do impeachment'


10/08/2016 11:57 - Copyleft

'Senado virou um balcão de negócios nesse jogo sujo do impeachment'

Esse é um golpe contra a soberania nacional. Eles querem vender o Brasil, entregar o pré-sal, entregar terras, empresas públicas, tudo que der lucro.


Lindberg Farias

 

Sr. Presidente, eu quero primeiro cumprimentar o equilíbrio de V. Exª na condução, mas devo dizer que só estou falando, subindo à tribuna para falar e me dirigir ao povo brasileiro para denunciar esse golpe. Se fosse para falar apenas para os Senadores, eu não subiria a esta tribuna. Porque o que acontece aqui é uma fraude, farsa, um teatro de mau gosto, desde o começo deste processo.

 

Os senhores sabem. Os debates na Comissão Especial do Impeachment. Do que precisa mais, depois de tantas testemunhas? Os senhores sabem que não há crime de responsabilidade. Ficou comprovado que não havia autoria da Presidente da República no caso das pedaladas. Como pode haver crime sem haver autoria? Depois, foi o próprio Ministério Público que disse que pedalada não era operação de crédito e mandou arquivar. Mas de nada valem os argumentos aqui.

 

Desculpe, Sr. Presidente, mas isso aqui virou um balcão de negócios nesse jogo sujo do impeachment, até melancia ganhou cargos nessa discussão. E olha que, neste momento, nós somos juízes. Um juiz... É um momento especial do Senado, em que nós não somos só uma Casa política. Um juiz não pode negociar vantagens com a outra parte. Isso é crime, Sr. Presidente

 

Mas eu vou mais além. Eu fico impressionado, a irresponsabilidade das elites brasileiras em apoiar uma aventura como essa. Quanto à Presidenta Dilma, eu estou tranquilo porque sei que, se esse golpe se consumar, uma coisa ela vai conquistar: é seu espaço na história. A Dilma vai estar no panteão da história junto com Getúlio e Jango, vítimas de um golpe perpetrado por essas elites conservadoras do nosso País, que são irresponsáveis, porque não têm compromisso com a democracia, nunca tiveram. Não tiveram contra Getúlio, contra Juscelino Kubitschek, contra Jango. Uma elite brasileira que apoiou a ditadura militar desde o seu início.

 

E tem mais, Sr. Presidente. Quando eu falo disso, a irresponsabilidade de entrar nessa aventura, Michel Temer. Os senhores sabem que Michel Temer não sustenta esse Governo até 2018. Uma delação de Eduardo Cunha acaba esse governo. Mas não é só Eduardo Cunha, são várias as delações contra o Presidente interino.

 

Os senhores estão fazendo um jogo de faz de conta. Estão esquecendo o que aconteceu nesse fim de semana, uma reunião no Palácio do Jaburu: Temer, Eliseu Padilha e Marcelo Odebrecht.

 

Depois,10 milhões em dinheiro vivo! Não dá nem para dizer que é para caixa dois de eleição. Dez milhões em dinheiro vivo! E os senhores têm que assumir uma responsabilidade. Nós não estamos votando aqui só o afastamento ou não da Presidenta Dilma, nós estamos votando aqui se Michel Temer vai sem investigado ou não, porque se ele vira Presidente de forma definitiva, está muito claro no art. 86, §4º, da Constituição Federal, que diz que o Presidente da República só pode ser investigado por fatos referentes a este mandato.

 

Então, se ele vira Presidente, não pode haver investigação em cima dos 10 milhões da Odebrecht. Sr. Presidente, é um Presidente interino frágil. Todo mundo sabe que é sócio de Eduardo Cunha, autoritário, covarde.

 

A Senadora Vanessa Grazziotin esteve presente na abertura das Olimpíadas. Que cena patética! Mandou tirar o seu nome da apresentação. Até na hora de abrir os jogos, o locutor disse: "Agora vão ser abertos os Jogos Olímpicos!" E não citou o nome do Presidente. Mas mesmo assim levou uma grande vaia, porque ele tem apenas 17% de apoio popular. Essa é a popularidade de Michel Temer.

 

Sr. Presidente, eu lamento muito que a gente esteja entrando neste momento da história. Depois de todo o processo da redemocratizaçao, da Constituição cidadã do Dr. Ulysses Guimarães, dos avanços sociais, da inclusão social que houve no último período, onde a pobreza extrema caiu de 25,5%, para 3,5% – muitos não lembram, mas antes de Lula e Dilma nós tínhamos fome no Nordeste brasileiro –, nós conseguimos avançar com o salário mínimo 77% acima da inflação, com uma política de cotas, que colocou os trabalhadores, a Juventude Negra dentro das Universidades. Acabamos com a escravidão das empregadas domésticas. Eles nunca, nunca, Sr. Presidente, perdoaram isso. Mas, depois desse período de inclusão democrática, nós estamos entrando num momento muito perigoso da história do País: nós não sabemos, depois desse afastamento, o que vai acontecer no nosso País.

 

Preocupa-nos muito a criminalização dos movimentos sociais, a prisão de um líder do MST de Goiás pela lei antiterrorista; preocupa-nos muito a repressão a quem coloca faixa de "Fora Temer!" nos Jogos Olímpicos, isso que sempre existiu aqui no nosso País; preocupa-nos muito a declaração de um Ministro do Supremo falando da cassação de registro do Partido dos Trabalhadores. Eu me lembro de 1964. Houve gente que apoiou 1964, achando que não era uma ditadura. Intelectuais, como Alceu Amoroso Lima, Antônio Callado e Carlos Heitor Cony, acreditaram, naquele momento, que em 1965 ia haver eleições. O que houve em 1965? O Ato Institucional nº 1, acabando com os partidos políticos. E esses intelectuais foram logo para a oposição.

 

Eu digo aos senhores, cassar o registro do PT depois desse afastamento para nós significa dizer que nós não temos mais democracia neste País. Agora, quando atacam Lula e o PT, o fazem por um motivo, é porque esse golpe, Sr. Presidente, é um golpe de classe, é um golpe das elites dominantes, é um golpe da burguesia brasileira, que quer retirar direito dos trabalhadores.

 

Eu tenho um gráfico muito interessante que mostra a evolução da participação dos salários no PIB. Eles estão convencidos – e dizem isso abertamente – de que o problema nas empresas brasileiras é que perderam sua competitividade porque aumentaram muito os salários dos trabalhadores. E vêm eles: reforma trabalhista, terceirização, querem rasgar a CLT, reforma previdenciária, essa PEC 241, que significa o maior ataque à saúde pública e à educação pública. Para os senhores terem uma ideia, essa PEC limita os gastos de acordo com a inflação. Se existisse de 2006 para cá, os gastos em educação, que foram de 103 bilhões em 2015, seriam de apenas 31; os gastos em saúde, que foram 102 bi, seriam de apenas 65 bi; o salário mínimo, que era de R$880, seria de apenas R$500.

 

Mas também, Sr. Presidente, esse é um golpe contra a soberania nacional. Eles querem vender o Brasil, entregar tudo, entregar o pré-sal, entregar terras, empresas públicas, reservas indígenas, tudo que de lucro.

 

Impressiona-me muito como não foi divulgado pela imprensa nacional, só pela UOL, uma notícia de 13 de maio de 2016 em que o WikiLeaks diz que Michel Temer atuou como informante dos Estados Unidos da América. Essa informação saiu em todos os lugares do mundo. A nossa mídia aqui tenta esconder isso.

 

Então é um programa antidemocrático e antinacional.

 

Por fim, Sr. Presidente, o que eles querem fazer é transformar o Brasil num palco de uma luta de classes escrachada. Eu digo aqui, em alto e bom som: se vierem com esse programa, nós vamos resistir nas ruas deste País. Os senhores fizeram a primeira ofensiva neoliberal aqui, nos anos 90: caiu Fernando Henrique, caiu de la Rúa, Carlos Andrés Pérez, caiu Salinas de Gortari no México.

 

Essa direita brasileira, essa elite é tão irresponsável, tão antipovo que vai se quebrar rapidamente, porque o seu programa vai ser um programa de retirada de direitos violenta contra o povo brasileiro. E eu quero dizer que nós vamos resistir, vamos derrotar esses que querem impor essa política contra os trabalhadores. Se os senhores querem luta de classes, nós estamos preparados para combater no Parlamento e nas ruas do País.


Créditos da foto: Waldemir Barreto

Carta Aberta ao Senador Cristovam Buarque

10/08/2016 12:29 - Copyleft

Carta Aberta ao Senador Cristovam Buarque

Os signatários desta carta militaram ao seu lado travando batalhas em torno de bandeiras democráticas, e continuam acreditando no velho sonho da democracia


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Edilson Rodrigues
Senador Cristovam Buarque,
 
Os sonhos humanos é que justificam as vidas humanas. Por isso, essa matéria invisível como alicerces de orvalho, que sustenta e prefigura os passos com que desenhamos nosso destino, resiste. Resiste como uma luz acesa em cada escolha com que a História nos interpela. E nos cobra depois de cada uma delas.
 
Os segmentos democráticos da sociedade no Brasil e no mundo voltam os olhos para o Senado Federal nesse agosto de 2016 para acompanhar o julgamento final da Presidente eleita Dilma Rousseff.  Rigorosamente, chegamos a este agosto, quando ocorrerá o desfecho do processo sem que nenhuma instituição da República sustente a acusação inicial: o crime de responsabilidade que teria sido cometido pela  Presidente eleita Dilma Rousseff. A acusação ruiu. Nem a própria assessoria técnica do Senado, nem o Ministério Público Federal lhe deram suporte. Não restou nada de pé. Restou apenas o Relator – aliás acusado de cometer “Pedaladas Fiscais” quando governador de Minas, precisamente o crime que busca imputar à Presidente – esgrimindo um discurso em que já ninguém acredita.  Na verdade, as pessoas já não se lembram do que ela está sendo acusada. Outros preferem não se lembrar. 
 
Se não houve crime de responsabilidade tal como tipificado na Constituição da República, cumpre buscar outras razões. As medidas anunciadas nessa longa interinidade que se aproxima dos 90 dias e já parece eterna, contribuem por si mesmas para esclarecer: o programa exposto pelo governo interino não é outro senão aquele que foi derrotado em quatro eleições sucessivas. Ora, governo interino não pode sequer ter programa próprio. É interino. É substituto. É provisório. Portanto, está agindo como se interino não fosse. Ou seja, atropela as instâncias de julgamento: o Senado Federal, ao qual pertence V. Exa. e a Suprema Corte. É, dessa forma, um governo usurpador. Se apropria de forma indevida de um poder conferido democraticamente pelo voto à Presidente afastada. No conteúdo e na forma afronta a “Soberania Popular” e as instituições a quem a Constituição atribui a condução do processo. Trata-se, portanto, de um governo golpista.      





 
Os signatários desta Carta Aberta militaram ao seu lado travando batalhas em torno de bandeiras democráticas – os Programas “Bolsa Escola”, “Saúde em Casa”, “Paz no Trânsito”, “Temporadas Populares” e outros – e seguem acreditando naquele sonho humano que justifica vidas: não há invenção mais imperfeita, nem mais generosa como forma de governo do que a Democracia. No entanto, dessa vez, nos demos conta de sua ausência entre nós.
 
Nós todos e o senhor sabemos que as elites brasileiras não se distinguem por estimar o que as Constituições ocidentais definiram como “Soberania Popular”. Sabemos também que lançaram mão do Golpe de Estado todas as vezes em que verificaram sinais de emergência dos setores populares escravizados na colônia e no império, saqueados, reduzidos à extrema pobreza, mantidos à margem de qualquer oportunidade de alcançar uma vida digna, ao longo da mal chamada República proclamada no fim do século XIX e nunca efetivamente construída. Neste momento assistimos estarrecidos e indignados um extrato político abjeto que envergonharia os traficantes de escravos do século XIX, em pouco mais de 60 dias à frente de um governo interino assumir uma ofensiva contra a soberania nacional e contra os direitos sociais conquistados a partir da Constituição de 88 para que o Brasil retroceda à barbárie da “Apartação Social” que o Senhor denunciou nos seus livros e ao longo de sua vida pública. 
 
Há certos olhares do passado que se perpetuam na História por que foram capazes de projetar, como desenho, a nação que desejamos e, por isso mesmo, nos ajudam a elucidar o presente: não é ocioso indagar como reagiriam Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro diante dos rumos tomados pelo Ministério da Educação do governo interino, orientados agora por uma gestão privatista e inspirada pelas reflexões da “Escola sem Partido” defendida por um ilustre educador que até pouco tempo dedicava seu talento pedagógico ao ensino em estúdios de gravação de filmes pornográficos.
Como em outros momentos de crise política no Brasil teremos em agosto aqueles senadores que, inspirados no perfil de Auro de Moura Andrade, buscarão alterar os ponteiros do relógio do Congresso para declarar vago o cargo de Presidente da República. Imaginam eles com esse gesto, alterar os tempos da História. Da memória e do esquecimento. Outros vão preferir a inspiração de Teotônio Vilella no final de sua vida, pouco antes de se desatar o mais impressionante movimento de massas já visto na sociedade brasileira, a campanha das “Diretas Já”: “...não temos outra saída se não uma representação política capaz de reorientar a vida deste país. É quase que algo milagroso, é como se eu tivesse falando de coisas messiânicas, mas é assim mesmo que está vivendo hoje o brasileiro,(...). Se alguém ainda hoje vai para a urna votar, vai, sobretudo, tocado deste sentimento messiânico, da existência de uma mudança que ele não concebe, como não dá para concretizar exatamente, não sabe ainda porque aquele voto vai ter alguma valia. Mas ele vai votar. O brasileiro vai votar. Vai definir a vida deste país...” Romper com esse princípio básico: o voto. Romper com a soberania popular reconquistada a partir de 1988. É disso que vai tratar o Senado Federal ao definir sobre o impedimento, sem prova de crime de responsabilidade, da Presidente eleita com 54 milhões de votos, Dilma Rousseff, no julgamento de agosto. A História nos dirá, quais serão as consequências.      
 
Senador Cristovam Buarque,
 
Com seu voto no julgamento final do Senado da República sobre se há ou não consistência nas acusações que se oferecem contra Dilma Rousseff, o Senhor trilhará o caminho da cinza, da abjeção e, por fim, do esquecimento que dissolveram a figura de Auro de Moura Andrade ou, ao contrário, reforçará a luz que a coragem de Teotônio Vilela acendeu no declínio da mais feroz tirania que vivemos na História do nosso país. Senador, a História o interpela com os olhos dos cidadãos que o elegeram. O escudo do cinismo é peneira fina. Não será suficiente para protege-lo. 



Assinam:
 



    1. Antônio Ibañez Ruiz – É Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UNB, ex-Reitor da Universidade de Brasília e foi Secretário de Educação do Governador Cristovam Buarque;

 


    1. Arlete Avelar Sampaio – Médica, foi Vice-governadora do Distrito Federal no Governo Cristovam Buarque e foi Deputada Distrital;

 


    1. Boaventura de Souza Santos – Sociólogo, Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra e Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra;

 


    1. José Geraldo de Souza Júnior – Professor de Direito e ex-Reitor da Universidade de Brasília;

 


    1. Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) – Poeta, escritor, foi Secretário de Cultura do Distrito Federal no Governo Cristovam Buarque;

 


    1. Roberto Aguiar – Professor de Direito, ex-Reitor da Universidade de Brasília, foi Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no Governo Cristovam Buarque;

 


    1. Swedenberger Barbosa – Foi Secretário de Governo do Governador Cristovam Buarque.








Créditos da foto: Edilson Rodrigues

Ex-chefe da CIA e defensor da tortura apóia Clinton e Democratas comemoram SE CORRER O BICHO PEGA, SE FICAR O BICHO COME


10/08/2016 12:16 - Copyleft

Ex-chefe da CIA e defensor da tortura apóia Clinton e Democratas comemoram

Michael Morell argumentou que Clinton é 'altamente qualificada' e irá 'assegurar a tarefa mais importante de um presidente - manter a nação protegida'.


Nika Knight, Common Dreams
Gage Skidmore/ Flickr Commons
Em um artigo de opinião do New York Times, ex-chefe da CIA, Michael Morell, na sexta-feira, endossou Hillary Clinton, argumentando que a ex-secretária de Estado é “altamente qualificada para ser uma comandante chefe” porque “ela irá assegurar a tarefa mais importante de um presidente – manter a nação protegida”.
 
Morell também louvou a “aproximação mais agressiva” de Clinton em relação ao conflito na Síria e também acusou Trump de ser um “agente inconsciente de Putin”. (Morell não divulgou que ele trabalha atualmente para uma consultoria de Relações Públicas comandada por um aliado de Clinton, Phillippe Reines.)
 
Morell, no passado, já defendeu a tortura, mais publicamente em um livro publicado como uma réplica ao relatório do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA sobre o programa de tortura da CIA durante a presidência de George W. Bush.
 
E enquanto muitos na mídia tradicional têm focado, acríticos, no artigo de opinião 'Putin-fobia'  , os progressistas têm expressado preocupação com o fato de que a campanha de Clinton e o Partido Democrata não estão somente celebrando o apoio de um defensor da tortura, mas também estão usando tais elogios de neoliberais e soldados de guerra para promover a candidatura de Clinton.

'Justiça negada': corte apóia Chevron em caso de poluição na Amazônia. LIÇÃO PARA OS INCAUTOS QUE ACREDITAM QUE NOS EUA HÁ JUSTIÇA E DEMOCRACIA


10/08/2016 10:11 - Copyleft

'Justiça negada': corte apóia Chevron em caso de poluição na Amazônia

A decisão norte-americana 'foi um golpe contra a liberdade de expressão e a responsabilidade corporativa', tuitou a Amazon Watch.


Nadia Prupis, Common Dreams
reprodução
Um tribunal de apelação norte-americano, na segunda-feira, “inexplicavelmente” apoiou a gigante do petróleo Chevron em um caso sobre seu legado de poluição na Amazônia.
 
A Chevron persuadiu a corte a bloquear a aplicação da lei de um julgamento de $86.5 bilhões pedido pelo Equador contra a companhia de energia por danos florestais.
 
O painel de três juízes do 2º Tribunal de Recursos dos EUA em Nova Iorque concordou com uma sentença de março de 2014 do Juíz Lewis A. Kaplan que descobriu que o julgamento foi obtido por propina, coerção e fraude – uma decisão que espantou os ativistas dos direitos do meio-ambiente que seguiam o caso.
 
No entanto, a decisão provavelmente não irá encerrar a batalha legal, pois a corte também notou que a ordem de Kaplan não invalidou o julgamento equatoriano ou preveniu sua aplicação fora dos EUA.





 
Karen Hinton, a porta-voz norte-americana dos equatorianos, disse que “é um dia triste para o sistema judiciário norte-americano”.
 
“Mesmo estando desapontados, essa ordem não irá deter os equatorianos, seus advogados e apoiadores de buscar justiça no Canadá e em outros países onde estejam sendo encaminhados litígios para confiscar os bens da Chevron”, disse Hinton.
 
Em um tuite, o grupo ativista Amazon Watch declarou, “a justiça foi negada enquanto a corte de apelações inexplicavelmente defendeu um veredito baseado em depoimento sobre propina e apoiou a poluidora nojenta @chevron”.
 
Chamando a decisão de “absurda”, o grupo também disse que “foi um golpe contra a liberdade de expressão e a responsabilidade corporativa”.
 
O advogado do caso, Steven Donziger, baseado nos EUA, tentou responsabilizar a Chevron por contaminação da água e do solo na Amazônia de 1964 a 1992. Ele perseguiu a gigante do combustível fóssil por mais de duas décadas.
 
Um advogado de Donziger, Deepak Gupta, disse na segunda-feira, “nunca antes um tribunal norte-americano permitiu que alguém que perdeu o caso em outro país pudesse vir aos EUA para atacar um prêmio de danos de uma corte estrangeira. A decisão dá às corporações um prato cheio para evitarem responsabilidades legais em qualquer lugar do mundo. E joga pela janela toda a estrutura de aplicação da lei internacionalmente”.


Créditos da foto: reprodução

Bernie Sanders chama impeachment de antidemocrático enquanto Michel Temer perde força


09/08/2016 17:08 - Copyleft

Bernie Sanders chama impeachment de antidemocrático enquanto Michel Temer perde força

Em meio a graves denúncias de corrupção, a denúncia de Sanders sobre Temer não poderia vir em pior momento para o presidente interino.


Glenn Greenwald - The Intercept
reprodução facebook
ONTEM, O SENADOR dos Estados Unidos, Bernie Sanders, denunciou duramente o impeachment da presidente do Brasil democraticamente eleita. Com a aproximação da votação final no Senado Federal no fim deste mês, Sanders explicou sua posição em uma nota publicada em sua página no site do Senado americano (versão na íntegra em português) “fazendo um apelo para que Estados Unidos tomem uma posição definitiva contra os esforços pela remoção da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, de seu cargo”. Ele acrescentou: “Para muitos brasileiros e observadores, o controverso processo de impeachment se assemelha a um golpe de estado.”
 
Manchete: Sanders condena tentativa de remover a Presidente democraticamente eleita do Brasil



Sanders também criticou a coalizão não eleita de centro-direita que, sob o comando de Michel Temer, tomou o poder depois do afastamento de Dilma, e que agora tenta se consolidar no governo até 2018. “Após suspender a primeira mulher presidente do Brasil por motivos duvidosos, sem mandato para governar, o novo governo interino extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos” e “substituiu uma administração diversa e representativa por um gabinete constituído apenas por homens brancos”. Agora, a coalizão tenta implementar políticas radicais que podem nunca chegar a ser democraticamente ratificadas, como “impor medidas de austeridade, aumentar a privatização e implementar uma agenda social de extrema direita”.
 
A declaração de Sanders chega em um momento em que as elites do país, praticamente unificadas em favor do impeachment de Dilma, tomaram medidas extraordinárias (além de fúteis e risíveis) para omitir a impopularidade de Temer. No mês passado, a Folha de São Paulo foi pega fabricando dados de pesquisa alegando que 50% dos brasileiros eram favoráveis a permanência de Temer, quando, na verdade, a pesquisa mostrava que uma ampla maioria (62%) queria a saída do interino e a realização de novas eleições. A Ombudsman da Folha criticou o jornal duramente. A mídia brasileira se empenhou por meses na promoção da candidatura de Temer em 2018 sem mencionar um fato fundamental: Temer havia sido condenado por um tribunal eleitoral e impedido de se candidatar por oito anos por ter violado a lei eleitoral. Porém, se viram forçados a mencionar o fato quando um promotor do Ministério Público de São Paulo chamou atenção para a inelegibilidade do interino em resposta a uma nova empreitada da mídia visando a candidatura de Temer.





 
O próprio Temer, temendo vaias, exigiu a quebra do protocolo para que não tivesse seu nome anunciado na cerimônia de abertura das Olimpíadas. Mas foi em vão: o interino foi vaiado intensamente quando o público se deu conta de sua presença. Portadores de ingresso pacíficos foramsistematicamente, e por vezes à força, removidos dos estádios olímpicos por soldados brasileiros por portarem cartazes com a inscrição “Fora Temer”, criando uma controvérsia internacional. Assistir ao uso de força militar para silenciar cidadãos criticando um presidente não eleito é uma imagem chocante, visto que o país sofreu por 21 anos uma ditadura militar durou até 1985. (Ontem à noite, um juizdeterminou que as remoções violam a garantia constitucional de liberdade de expressão.)
 
Manchete: Temeroso: a covarde omissão na cerimônia de abertura das Olimpíadas no Brasil. Com medo de ser vaiado na frente de todo o mundo, o presidente interino do Brasil – que formou um governo formado por homens brancos – se esquivou de ser anunciado.


 
A denúncia de Sanders sobre Temer não poderia vir em pior momento para o aspirante à presidente. Executivos da empreiteira Odebrecht, no centro do escândalo da Petrobras, informaram a investigadores nesta semana que o Ministro das Relações Exteriores de Temer, José Serra, recebeu R$ 23 milhõesem doações ilegais para sua campanha presidencial em 2010. Em apenas dois meses na presidência, três ministros de Temer foram forçados a pedir demissão devido a escândalos de corrupção. E como se não bastasse, conformecontou o New York Times ontem, os executivos da Odebrecht também “disseram aos investigadores que o [próprio] Sr. Temer pediu mais de US$ 3 milhões para seu partido de centro, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Os executivos da Odebrecht disseram em seu acordo de delação premiada que o pagamento havia sido efetuado em dinheiro vivo através de um intermediário usado para repassar propinas, de acordo com a revista Veja”.
 
Fica um pouco difícil usar corrupção como justificativa para o afastamento de uma presidente democraticamente eleita quando escândalos de corrupção muito mais graves assolam a pessoa que pretende substituí-la, e seus associados mais próximos. Mas esse sempre foi o aspecto mais absurdo desse processo antidemocrático. Conforme escreveu ontem Franklin Foer na Slateem um longo artigosobre o Brasil: “O impeachment de Dilma foi uma farsa, tão somente porque os que a acusaram se beneficiaram de um incentivo em uma escala inimaginável, criando um espetáculo capaz de desviar as atenções de seus próprios delitos”.
 



A denúncia de Sanders sobre o ataque à democracia brasileira é parte de um crescente reconhecimento internacional da ilegitimidade do governo Temer. Há apenas duas semanas, “40 membros democratas do Congresso dos Estados Unidos publicaram uma carta expressando uma “profunda preocupação” sobre a ameaça à democracia brasileira”. Também foram publicadas denúncias semelhantes ao impeachment de Dilma por Jeremy Corbyn, líder do partido dos trabalhadores britânicos, por membros do parlamento e líderes sindicais britânicos, pela Organização dos Estados Americanos (OAS), por dezenas de membros do Parlamento Europeu, e pelo primeiro brasileiro a vencer o Pulitzer Prize.  A reputação de Temer está tão desgastada que, de acordo com reportagem da Associated Press no mês passado, muitos chefes de Estado estão evitando as Olimpíadas do Rio para evitar o dilema sobre dever ou não apertar a mão do interino.
 
A pergunta levantada em resposta à nota de Sanders diz respeito à escolha da data de publicação: por que, depois de meses de silêncio sobre a crise política no Brasil, o democrata finalmente se manifestou sobre o assunto? Uma das falhas mais graves de sua candidatura foi quase não ter tratado de política internacional, apesar de sua principal oponente ser uma defensora de guerras e uma militarista que (muito antes do surgimento de Trump) atraía o apoio de neoconservadores. Era um candidato insistente em sua mensagem. Foram feitas solicitações para que Sanders falasse sobre o Brasil durante as primárias, mas foram rejeitadas ou ignoradas.
 
Quando Sanders acabou por falar sobre política externa, foi para fazer críticas brandas, enquanto endossava muitos dos argumentos da guerra bipartidária contra o terror. Com respeitáveis exceções: algumas de suas declarações sobre Israel e Palestina estiveram entre as melhores vindas de qualquer dos candidatos de grandes partidos em décadas; e sua recusa em alterar algumas de suas posições mais controversas dos anos 80, quando confrontado com tentativas de acusações de comunismo. Mas de forma geral, Sanders evitou dar opiniões sobre política externa que pudessem ser taxadas de esquerdistas ou alternativas.
 
Com o fim de sua campanha presidencial, o Senador pode falar livremente de uma forma que não seria necessariamente bem vista politicamente pela base do Partido Democrata. Alguns de seus mais importantes apoiadores têm sido firmes na oposição ao  impeachment de Dilma. Independentemente da explicação a respeito do momento da declaração, a nota de Sanders é firme e inequívoca. Talvez o aspecto mais importante de sua declaração seja seu pedido que o Governo dos EUA “exija que a disputa seja resolvida com eleições democráticas”, a solução apoiada pela grande maioria dos brasileiros como resolução para a crise política, mas que as elites antidemocráticas do país, temerosas de quem seria eleito, rejeitam vigorosamente.

Tradução por Inacio Vieira



Créditos da foto: reprodução facebook