sábado, 20 de fevereiro de 2021

TIB - O garantismo que os golpistas amam

 


Sábado, 20 de fevereiro de 2021
O garantismo que os golpistas amam

Uma discussão necessária sobre a prisão de Daniel Silveira

Muito se falou na ilegalidade da prisão de Daniel Silveira. A tese ganhou força também na esquerda. A situação é cinza, e tanto quem acha motivos para a prisão do deputado do PSL quanto quem acredita em abuso de poder do STF têm seus argumentos. Mas a dimensão política e o momento histórico são o que mais me interessa aqui, e é disso que quero falar.

Antes, alguns fatos para quem estava em Marte.

Em um vídeo postado nas redes, Silveira disse:

  • Sobre Gilmar Mendes: “vende sentenças";
  • Sobre Edson Fachin: "moleque, mimado, mau caráter, marginal da lei, vagabundo, cretino e canalha, a nata da bosta do STF";
  • Sobre Alexandre de Moraes: "Xandão do PCC";
  • Sobre Luís Roberto Barroso: "gosta de culhão roxo" 

E por aí vai.

Mas não foi isso que levou Silveira à cadeia. Não acreditem em quem diz que ele está preso por xingar ministros. O deputado incitou o fechamento do STF, esse é o motivo. Ou seja: o representante de um poder estava inflamando a população para que se feche outro poder. É crime. 

Lei de Segurança Nacional (7.170/1983), Artigos 22 e 23:

Art. 22 – Fazer, em público, propaganda:

I – de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social;

Pena: detenção, de 1 a 4 anos.

Art. 23 – Incitar:

I – à subversão da ordem política ou social;

II – à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis;

Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.

Eu gosto da Lei de Segurança Nacional? Não. Ela foi criada pela ditadura militar? Sim. Mas é a lei que temos para barrar golpistas, pessoas como o deputado Silveira, que passam dias e noites sonhando com um regime militar no qual, para que possa escrever o que estou escrevendo agora, eu tenha que sair do país em que nasci e onde vivo com minha família. É simples assim.

O que os muitos e bons juristas que defendem um garantismo de pedra a Silveira talvez não percebam é justamente o momento histórico em que fazem isso. Temos diante de nós a ideologização intensa da parte podre das polícias militares, a pressão perigosa das tropas, a rebelião armada e quase assassina em quartéis, os decretos de armas legalizando milícias particulares, um apresentador de TV hiper popular dizendo, em horário nobre e rede nacional, que sonha com um general no Brasil que diga a todos os “denunciados” (gente como nós?) que eles “têm 24 horas para deixar o país ou serão fuzilados”. É sobre este pântano imundo que penosamente caminhamos. Um lodo que quer nos engolir.

O cenário está armado, e o STF é, hoje, a última fronteira da legalidade – e não precisamos gostar disso. Estamos vivendo o nosso 1961. Queremos pular direto para o nosso 1968, agarrados a interpretações dos códigos que só favorecem os nossos futuros carrascos? 

Leiam Lênio Streck: “Deus morreu e agora pode tudo? Não. Se Deus morreu, agora é que não pode, para trazer à lume a grande discussão da modernidade. É na ausência de uma instância superior transcendente que se impõem os interditos. Para segurar essa bagunça toda”.

Leiam Christian Lynch: “Podem me chamar de maquiavélico à vontade, mas eu no momento assumo a defesa incondicional das decisões do STF em defesa da democracia. Estamos vivendo tempos anômalos, que outros querem transformar em tempos de exceção. A cada circunstância, seu remédio”.

A democracia constitucional não pode ser um pacto suicida. Se há remédios melhores dos que os tomados pelo STF, que sejam debatidos e usados. Se em nossa Constituição não há vacina contra a destruição da República, que se crie para ontem. O que não podemos fazer é ver a banda do caos passar enquanto abanamos lenços.

Daniel Silveira matou 12 pessoas. Segundo ele, “tudo dentro da legalidade”. Não há dúvida sobre qual legalidade devemos defender agora. Ou alguém quer provar a legalidade de Daniel Silveira antes de decidir?

Leandro Demori
Editor Executivo

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Carta Capital

 

Deputado bolsonarista em cana

Daniel Silveira se arrepende dos ataques a ministros do STF, mas colegas parlamentares ratificam a sua detenção

 FOTO: REILA MARIA/AGÊNCIA CÂMARA

O deputado Daniel Silveira (SL-RJ) até tentou. Durante a sessão que decidiu o seu futuro na Câmara, ele se disse arrependido pelos ataques feitos a ministros do Supremo Tribunal Federal.

“Peço desculpas a todo o Brasil. Me excedi de fato na fala, num momento passional. Precisei perceber, com calma e cautela, que as minhas palavras foram duras o suficiente até para mim mesmo”, afirmou em sua defesa.

Os apelos de nada adiantaram. Por 364 a 130, os deputados decidiram, na sexta-feira 19, manter o parlamentar preso, em regime fechado.

A decisão é consequência da determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que na noite de terça-feira 16 decretou a detenção do deputado bolsonarista.

O motivo do mandado foi um vídeo que o parlamentar divulgou com discurso de ódio contra integrantes da Corte.

Em sua decisão, Moraes argumentou que "a Constituição Federal não permite a propagação de ideias contrárias a ordem constitucional e ao Estado Democrático".

Na quarta-feira 17, o plenário do STF referendou, por 11 x 0, a prisão de Silveira

“Além de atacar frontalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal por meio de ameaças e ofensas à honra, propagava a adoção de medidas antidemocráticas, defendendo o AI-5, inclusive pleiteando a cassação imediata dos ministros do STF, além de medidas violentas contra os ministros da Corte”, afirmou Moraes em seu voto.

Ativo nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro não se manifestou. Já apoiadores do chefe do executivo e deputados da base parlamentar saíram em defesa de Silveira.

Nas redes sociais, o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) chegou a chamar Moraes de "vagabundo".

Informalmente, a aposta é que Silveira passará o fim de semana na cadeia e, depois, deve sair com a condição de usar uma tornozeleira eletrônica.

Da cadeia, Daniel Silveira não conseguiu se safar. Resta saber se escapará da cassação.


 

Lula se coloca à disposição para 2022

Ex-presidente disse que, se não for candidato, será cabo eleitoral

 

FOTO: SERGIO LIMA/AFP

Parece longe, mas as eleições nacionais de 2022 já movimentam os bastidores dos partidos políticos.

No PT, após Fernando Haddad afirmar que "colocará o bloco na rua", o ex-presidente Lula disse que, se for necessário para derrotar o bolsonarismo”, ele se colocará “à disposição”.

“Vai depender das circunstâncias políticas e em que momento for decidido. Vai depender do PT, das candidaturas, das alianças políticas que a gente for fazer, se vai ser necessário ou não eu ser candidato”, declarou Lula em entrevista ao UOL. “Eu já fui presidente, não necessariamente preciso novamente ser presidente.”

Segundo ele, é necessário haver “uma razão maior” para que sua participação na corrida eleitoral. “Eu tenho certeza de que, se for necessário para derrotar o tal bolsonarismo, não tenha dúvida nenhuma de que me colocarei à disposição”.

Para concorrer, Lula dependerá de uma decisão do Supremo Tribunal Federal que restabeleça seus direitos políticos.

Sobre a indefinição petista de quem será o candidato, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, afirmou que o PT aposta em um filme antigo.

“Isso é filme antigo. A gente já viu esse filme na eleição passada. Lula se apresenta, fica de stand by o Haddad e depois o Haddad se transforma em candidato. A gente primeiro tem que ter projeto″, afirmou em entrevista a CartaCapital.

Na conversa, Lupi reforçou a candidatura de Ciro Gomes, que, segundo ele, "andou pelo Brasil e tem um projeto nacional".


 

Vacinas? Eu só ouço falar...

Ministro da Saúde fica na berlinda e toma bronca pública de diretor do Butantan

FOTO: SERGIO LIMA / AFP

 O ministro Eduardo Pazuello bem que queria, mas o só desejo de ter mais doses de vacinas contra a Covid-19 não é suficiente para suprir as campanhas paralisadas.

Nesta semana, diversos estados e municípios viram-se de seringas vazias - e não pela intenção de funcionários de saúde que tentam burlar a imunização propositalmente, como tem sido registrado.

A Confederação Nacional dos Prefeitos entendeu, enfim, as habilidades de gestão do ministro e pediu por sua saída: “o movimento municipalista entende necessária, urgente e inevitável a troca de comando da pasta para o bem dos brasileiros.”, declararam em nota.

Mesmo sob pressão, Pazuello endossou um plano que projeta toda a população brasileira vacinada até dezembro.

Há menção até mesmo a imunizantes que sequer foram autorizados pela Anvisa, como a Sputnik V, da Rússia.

Os números foram chamados de “ficção” pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, que, em tom irritadiço, mostrou como o governo federal ignorou cinco ofícios do órgão desde julho de 2020.

"Vacinas que não existem, que estão no papel. Precisamos olhar a realidade e não o que imaginamos que possa ser a realidade", declarou Covas ao criticar o plano divulgado pelo Ministério da Saúde.


 

Vaza Jato: Assessor do STF fez parte do jogo

Mensagens mostram que o juiz Márcio Schiefler, assim como Moro, era parceiro da força-tarefa contra os acusados

FOTO: DIVULGAÇÃO/TJSC

Novos trechos de diálogos da Vaza Jato mostram que um assessor do Supremo Tribunal Federal orientou procuradores sobre despachos enviados à Corte e forneceu informações interessantes à Força Tarefa de Curitiba.

Em resumo, o assessor Márcio Schiefler, que serviu a Teori Zavascki, relator dos inquéritos, e Edson Fachin, foi uma espécie de braço da acusação contra os interesses dos investigados.

Os diálogos foram publicados com exclusividade por CartaCapital e evidenciam a vasta colaboração entre poderes em benefício das teses da Operação.