quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Por que o Temer não cai?

Por que o Temer não cai?

JOÃO MIRANDA
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Por que o Temer não cai?
Por João Miranda
A última pesquisa Ibope mostra que o governo Temer tem aprovação de apenas 5% dos brasileiros e a maioria acha que seu governo é pior do que o de Dilma Rousseff. O histórico desse Instituto aferiu também que essa é a pior aprovação que um presidente já teve desde o fim da ditadura.
Motivos para a queda de Temer não faltam: altos índices de rejeição; destruição de direitos trabalhistas; flagrantes de corrupção; aumento de impostos; congelamento dos investimentos sociais por duas décadas; deturpação da educação; crise econômica.
A versão barata do Nosferatu não pode, então, nem sair da tumba, tamanho repúdio que inspira. E não cai. Por quê?
Numa crise tudo se concentra; todas as mudanças ocorrem quase que instantaneamente. Alguns dos componentes dessa soma que podem ser apontados para explicar a permanência desse governo no poder são: a hegemonia de Temer em relação as três maiores bancadas no congresso – as chamadas “BBB” (Boi, Bala e Bíblia); o papel da Lava Jato tanto para o sistema político, quanto para a população; o recuo de uma grande parcela da oposição (sindicatos e movimentos sociais).
As principais frentes parlamentares da Câmara dos Deputados, que se organizam para defender temas ligados ao agronegócio, à segurança pública e à religião, dispõem de quase a metade dos votos da Câmara. Além de serem em maior número, são capazes de formar maioria com tranquilidade, por ocuparem postos-chave na estrutura do poder da Casa. Temer é líder dessas três bancadas. Para assegurar esse apoio, o peemedebista tem reforçadoo seu comprometimento com as necessidades do agronegócio, da indústria do armamento e das igrejas-empresas neopentecostais; ele recebeu mais de uma centena de deputados, distribuiu emendas parlamentares, atendeu a reivindicações, além de ter dado mostras de que poderá apoiar outras demandas históricas dos grupos.
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A hegemonia de Temer é reforçada pelo fato de que grande parte dos parlamentares está sendo investigado pela Lava Jato. Diante das investidas da Justiça, é mais interessante para o sistema político manter na cadeira da presidência alguém que também está numa das listas da operação, porque aquele que está sendo investigado fará o que for possível, enquanto presidente, para barrar as investigações, como Temer faz. Logo, será suicídio dos investigados se chegar ao comando do Executivo alguém que não está sendo investigado – e que, por isso, não fará nada para conter a Lava Jato.
Além de possuir esse papel para com o sistema político, a operação Lava Jato tornou-se uma espécie de válvula de escape para a crise de representação. Atualmente, essa operação atende à grande parte dos anseios de mudança e da rejeição generalizada da política que percorrem de alto a baixo a sociedade brasileira. Isso explica o porquê do “sumiço” das pessoas que se manifestam com a camisa da CBF e que realizam os chamados “panelaços”; hoje quase não se vê mais manifestações delas, diferentemente de 2015, quando esses manifestantes inundaram as ruas em prol da queda de Dilma. O fato é que a promessa de que “tudo vai ficar bem” após a queda da petista não se cumpriu. Tudo piorou. Assim, após essa experiência do impeachment, a desconfiança em relação ao sistema político aumentou enormemente, pois uma parcela da população, sobretudo os apoiadores do impeachment, se sentiu enganada. Um vazio de representação foi ampliado, então, e quem em grande medida o ocupou foi a Lava Jato.
A desmobilização da população também se deve a postura das organizações da sociedade civil, como muitos sindicatos e movimentos sociais que se submetem mais aos interesses dos grandes partidos, do que os da sociedade. Muitos desses partidos, visando as eleições de 2018, preferem não organizar protestos contra Temer no momento em que está mais frágil. Consequentemente, aquelas organizações, por se submeterem a esses partidos, adotam a mesma posição, preferindo jogar o jogo dos poderosos, deixando o governo Temer definhar, ao invés de mobilizar a população para convocar eleições diretas e para o debate de um programa que não passe ao largo do crivo das urnas.
Diante das ruas vazias e com grande apoio das frentes parlamentares, provavelmente Temer continuará no poder até as eleições de 2018. Ou, então, caso caia, precisarão eleger indiretamente alguém que também esteja sendo investigado, como o Rodrigo Maia, para que a obstrução da justiça continue. O mesmo se aplica para 2018. Para os grupos políticos investigados, não importa muito a sigla de quem será eleito para ocupar a cadeira de presidência, desde que seja alguém que também está sendo investigado pela Lava Jato e que, para se salvar, fará algo para barrá-la, beneficiando consequentemente aqueles mesmos grupos políticos.
A questão, então, é que temos de um lado do espectro um sistema político-institucional composto em sua maior parte por indivíduos que estão mais preocupados em aniquilar a Lava Jato para salvar a pele; do outro, uma parcela considerável da população insatisfeita que deposita as suas esperanças nessa mesma operação; e, no meio, a própria operação que tem como característica fundamental a constante desestabilização do sistema político.
As organizações da sociedade civil poderiam ter o papel fundamental de mobilização da população para pressionar os políticos a promoverem eleições diretas. Mas, essas organizações, como a CUT, preferem estar atreladas aos interesses dos poderosos e, por isso, recuam para que o candidato preterido pelo partido aliado tenha maiores chances em 2018. Exemplo disso vimos recentemente quando as centrais sindicais cancelaram a greve do dia 5 de dezembro contra a reforma da Previdência. Além disso, os movimentos contra corrupção, como o MBL, não parecem preocupados em convocar recorrentes manifestações contra o atual governo.
Alguns movimentos isolados até tentam mobilizar a população, mas, por serem recentes e não terem uma organização em nível nacional, não conseguem convocar grandes atos; a transformação da Lava Jato em válvula de escape da crise dificulta ainda mais a construção de manifestações da mesma proporção que vimos em 2015 e 2013. Por essas razões, é muito provável que as ruas só voltem a encher se a Lava Jato for aniquilada pelos grupos investigados.
O vazio das ruas, é claro, aumenta as chances de o pemedebismo se manter no poder. O fato de Temer possuir hegemonia no Congresso assegura ainda mais isso, permitindo que o pemedebista continue impondo goela abaixo a agenda neoliberal. Tudo isso evidencia que, além do debate de um novo programa, de uma reforma política, entre outras coisas, precisamos que a nossa cultura política mude num sentido que permita que as organizações da sociedade não se submetam mais ao jogo dos grandes partidos; muitos dos quais se consideram “donos dos portões institucionais” esimplesmente afirmam que não há alternativa à institucionalidade e que todo o impulso vital da base da sociedade deve ser canalizado para a eleição dos velhos nomes da política.

 João Miranda é acadêmico de história na Universidade Estadual de Ponta Grossa e colabora para o Jornal da Manhã, Jornal Diário dos Campos, Pragmatismo Político e Lavra Palavra.

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Lula: “a harmonia vai voltar ao Brasil” LULA PRESIDENTE. LULA PRESIDENTE. LULA PRESIDENTE

Lula: “a harmonia vai voltar ao Brasil”

Ainda que com um pouco de atraso, não dá para deixar de refletir sobre a ótima e mal-aproveitada entrevista (exceção feita a Monica Bergamo, que a resumiu na Folha, que reproduzo ao final) de Lula à grande imprensa, ontem.
A calma de Lula não apenas impressiona como é, creiam, a tradução de parte do que ele falou e a estratégia com que pretende enfrentar a campanha.
É a sua plataforma, no essencial: devolver ao Brasil um clima de normalidade e crescimento econômico, porque foi a anormalidade em que mergulhamos que nos levou, em grande parte, ao processo de crise, recessão e empobrecimento.
Foi da Justiça de exceção de Sérgio Moro que partiu, usando a mídia como vetor, a vida de exceção em que o Brasil afundou.
Lula percebe o desejo silencioso da maioria da população – que não está berrando no facebook ou nos programas da Globo – que eu chamei aqui, uma vez, de “banzo da normalidade“.
O Brasil que saiu do experimento facistóide da aliança Justiça- Mídia – PSDB só levou à crise, carências e atraso. Isso é algo que não há discurso “antiLula” que possa esconder.
Por isso, curiosamente, uma candidatura de esquerda vai ter o nada desprezível argumento eleitoral de que é ela que pode assegurar que “a vida volte ao normal”, razão que, em geral, é invocada pela direita para obter apoio nas eleições.
Lula, se o deixarem concorrer, será eleito não só pelo povo, mas pela memória do povo, algo que seus adversários não têm.

 “O bom senso vai prevalecer neste país”

A entrevista de Lula, por Monica Bergamo
“Faz muito tempo que a gente não conversa. Eu então tomei a decisão de, neste final de ano, tomar um café com vocês e tentar matar a saudade. E ver o que vocês tanto querem perguntar e se eu vou saber responder”, disse Lula.
“Vou tentar ter o melhor humor possível. De vez em quando eu vejo alguém dizer que estou mal humorado. Eu não poderia estar mal humorado porque sou corintiano. E estou em primeiro lugar nas pesquisas [eleitorais]. Se tem alguém que está mal humorado neste país não sou eu.”
O ex-presidente afirmou que “a gente continua vivendo no Brasil um momento atípico na política” que só será normalizado quando “o povo eleger diretamente um presidente ou uma presidenta da República”.
Lula, que será julgado no dia 24 de janeiro pelo caso do tríplex, disse que não teme ser condenado nem preso e que será candidato “enquanto o PT quiser” e ele puder recorrer à Justiça para se manter na campanha.
Leia abaixo trechos da conversa:
JULGAMENTO
A minha condenação será a negação da Justiça. Porque a Justiça vai ter que fazer um esforço monumental para transformar uma mentira em verdade e julgar uma pessoa que não cometeu crime.
A sentença do juiz [Sergio] Moro me condenando, aos olhos de centenas de juristas, até de fora do Brasil, é quase que uma piada.
Eu tenho a tranquilidade de que vou ser absolvido porque para um cidadão ser condenado ele tem que ter cometido um crime. E não tem [crime]. É por isso que eu tenho desafiado a Polícia Federal, o Ministério Público da Lava Jato, a mostrarem uma única prova. Eu não peço duas. Eu peço uma.
Na verdade estamos vivendo uma anomalia jurídica e política. Esse processo começou com uma mentira de um jornal, de uma revista, que foi transformada num inquérito pela Polícia Federal. O resultado do inquérito é mentiroso. Foi enviado ao Ministério Público, que mentiu e fez uma acusação. E o Moro aceitou a mentira.
Tudo isso poderia ter terminado se a Polícia Federal tivesse sido sincera e se o Moro tivesse feito papel de juiz.
Acontece que estamos vivendo um momento muito delicado. Você subordinou o processo ao que a imprensa fala dele. Numa linguagem popular, eles estão sem rota de fuga. Ou seja, mentiram e não têm como sair.
Qual é a única chance que eu tenho? É pedir provas. Tem que ter algum documento, algum contrato, aluguel, pagamento [do tríplex], algum ato de ofício, alguma coisa.
Eu tenho até o dia 24 para esperar que alguém diga qual foi o crime que eu cometi. E dizer que o apartamento [tríplex] é meu. Me entrega a chave. Quem sabe a nossa próxima conversa será na sacada do apartamento, tomando sol. Enquanto não for, por favor, parem de mentir a meu respeito.
Eles [desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que vão julgá-lo] têm mais obrigação diante da sociedade no dia 24 do que eu. A minha inocência eu já provei. Quero que agora eles provem a minha culpa.
Eu às vezes tento encontrar um roteiro para comparar com o meu. O mais próximo que eu encontro é o da invasão do Iraque [em 2002].
O [então presidente norte-americano George] Bush sabia que o Iraque não tinha armas químicas. O [então primeiro-ministro inglês] Tony Blair sabia. Inventaram uma mentira, sustentaram a mentira e conseguiram fazer a invasão por conta de uma mentira. Já faz 15 anos. Cadê a arma química?
Eu tenho 72 anos de idade e acredito na Justiça e na democracia. Senão eu vou fazer o quê? Propor a luta armada? Com a minha idade? Prefiro continuar acreditando.
Eu penso que meus acusadores vão ficar ridicularizados. Ridicularizados.
REINALDO AZEVEDO
Eu aconselho vocês a lerem as peças [do processo] para me defenderem, como o [jornalista e colunista da Folha] Reinaldo Azevedo está fazendo [risos]. Ele todo dia fala “Eu li. Eu li o processo”. Eu não peço para dizerem que eu sou inocente, não. Peço que vocês leiam. E se acharem uma vírgula de culpa, por favor, me telefonem. É só isso.
TESÃO
Como eu acho que eu vou ser cada vez mais inocentado, eu acho que no final vai prevalecer o bom senso nesse país. Como eles podem tentar evitar que um velhinho [como eu] de 72 anos de vida, energia de 30 anos e tesão de 20 seja candidato? Não é possível. É tanta coisa boa junta que eles têm que deixar, porra. Ainda mais um cara que tem um otimismo, sozinho, que todos não têm juntos.
PIROTECNIA
Eu fico feliz que o Brasil seja um país dotado de mecanismos para combater a corrupção. Agora, o que incomoda é quando você tem as instituições que têm que apurar se transformando em partido político. E criando factóide, trabalhando com show de pirotecnia.
Não vou esquecer nunca o show que a PF deu quando veio aqui no Instituto. O espetáculo. Parecia que estava invadindo uma casa que tinha bombas, arma química do Iraque aqui dentro.
Quando vão na casa do Sergio Cabral, na casa do Geddel [Vieira Lima]encontram dólar, dinheiro, fazem um carnaval com aquilo.
Agora, quando vão na minha casa e não encontram porra nenhuma, eles deveriam pelo menos dizer “desculpa, Lulinha”. Não fizeram.
Eu não vou morrer enquanto não me pedirem desculpas. Eu quero ouvir o William Bonner pedindo desculpas na Globo. [Imita o apresentador do Jornal Nacional]: “Boa noite. Queríamos pedir desculpas para o Luiz Inácio Lula da Silva porque tudo o que se falou dele foi mentira”.
CARÁTER
Se tem uma coisa que eu tenho de sobra é caráter. E não vou permitir que um juiz me chame de ladrão, ou um promotor. Eles têm que ter uma prova. Se não tiver, se pegarem essa gente toda e fundir numa prensa, não dá um cara mais honesto que eu.
Eles mexeram com um homem honesto. E é isso o que vai me fazer brigar com eles até o último dia da minha vida. Vamos ver quem vai vencer essa história.
DELAÇÕES
Já são milhares de empresários presos, centenas de delações. E até agora não existe uma única prova [contra mim].
Eu fico até com pena. Conheço casos e casos, contados por advogados, de pessoas que eram perguntadas [pelos investigadores]: “E o Lula? Ele sabia?”. Então tinha uma senha.
Eu duvido que tenha na história do Brasil um presidente ou um partido que tenha tomado as providências que nós tomamos para combater a corrupção. Eu espero que a história um dia faça justiça ao PT. Desde a proclamação da República não fizeram o que fizemos em apenas 12 anos.
Mas o combate à corrupção exige seriedade. As pessoas que investigam e julgam têm que ter muita responsabilidade. Por isso são concursadas, têm estabilidade, ficam eternamente no cargo. É uma coisa importante e nobre. Tem que ter QI acima da média. Mas tem que ter caráter também.
A delação, que nós [governos do PT] fizemos, está sendo utilizada para fins políticos.
E vocês diziam: “Quando prenderem o [pecuarista José Carlos] Bumlai, o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Marcelo [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Emílio [Odebrecht], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o Aécio [Neves], o Lula tá ferrado. Quando prenderem o [Antonio] Palocci, o Lula tá ferrado”.
Pode prender o papa Francisco! Eu duvido que nesse país tenha alguém com a consciência mais tranquila do que a minha. Mesmo os que escrevem contra mim.
Se as pessoas estão acostumadas a lidar com quem não tem caráter e honra, eu tenho. Porque caráter não está à venda. Não adianta ir para Miami que não encontra. A gente tem de berço. E eu tenho de sobra.
CANDIDATO CONDENADO
Eu estarei candidato se o partido quiser porque no fundo o PT que vai decidir até o dia em que uma instância [da Justiça] diga que eu não posso ser candidato.
A minha vontade é sair com o meu atestado de inocência no dia 24. Se não for nesse dia, recorrer. Porque eu não vou passar para a história como um inocente condenado. Eu prefiro moralmente condenar quem me julgou, condenar parte da imprensa que mentiu três anos seguidos contra mim.
Essa semana houve o depoimento de um cidadão chamado [Rodrigo] Tacla Duran [advogado que trabalhou para a Odebrecht e faz acusações à força-tarefa da Lava Jato]. E a grande imprensa não deu nada. Imagine se ele estivesse acusando o PT. Nós teríamos sido capa e contracapa. Há um conluio para fazer com que a mentira vença.
E eu tenho a certeza absoluta que o que vai vencer é a inocência de um ser humano que só tem um problema neste momento: ter mais chance de ser presidente do que os outros.
Então faz chapa única [para concorrer à Presidência], junta todo mundo, não tem debate na televisão.
MEDO DE SER PRESO
Eu não penso, querida. Porque preso só pode ir quem cometeu um crime.
O Ministério Público… Quando eu digo Ministério Público eu quero fazer uma distinção entre a instituição e alguns de seus componentes.
Esse [Deltan] Dallagnol [procurador da Lava Jato] não tem tamanho para fazer o que ele está fazendo.
Aquele Power Point [apresentado à imprensa com acusações contra Lula], ele deveria ser exonerado a bem do serviço público [por ter feito a peça].
O cidadão que fez três anos de concurso, ganha R$ 30 mil [por mês] para falar uma mentira daquela para a sociedade brasileira? Esse cidadão deveria ter sido exonerado. Porque não é possível alguém ganhar tanto do Estado para contar a mentira que ele contou.
Está provado também, depois do papelão do [ex-procurador-geral da República Rodrigo] Janot com o Joesley [Batista, da JBS], está provado o que era aquilo.
Você não pode dar muito destaque a quem não tem biografia. [Ergue a voz] Biografia é uma coisa que exige respeito. E você conquista biografia com trabalho e não com mentira.
É por isso que eu não vou ser preso. Porque para eu ser preso tem que provar alguma coisa. É mais fácil eu provar que eles mentiram do que eles provarem que eu cometi um crime.
Então esse é o jogo que está jogado, querida. É esse o jogo que está jogado.
Se alguém está fazendo isso comigo para que eu não seja presidente, que dispute uma eleição. Me derrotaram em 1989, eu fiquei quieto. Me derrotaram em 1994, eu fiquei quieto. Me derrotaram em 1998, eu fiquei quieto. Você me viu fazendo passeata de protesto? Não.
Então o que eu não aceito é a construção de uma mentira. Não dá. Não dá.
ÓDIO
Você viu como a Gleisi [Hoffmann, presidente do PT] foi agredida ontem no avião. Isso é parte do ódio que foi disseminado neste país.
Daqui a pouco passam a divulgar a casa onde eles moram, a escola onde estudam os filhos deles. Para eles saberem o que passam as pessoas que eles acusam inocentemente.
O ódio que foi disseminado nesse país… Eu vou pacificar esse país. Pode estar certa de que eu vou pacificar. As pessoas vão voltar a viver em harmonia. Da mesma forma que um corintiano e um palmeirense podem subir no mesmo elevador, um petista e um tucano podem subir, sem um morder o outro.
Essa sociedade tem que voltar a ser alegre.
Essas pessoas que têm ódio porque as pessoas ascenderam socialmente precisam ser preparadas psicologicamente para aceitar repartir 8,5 milhões de km², que é o tamanho desse país.
Todo mundo aqui tem o direito de ter as coisas.
Então é isso que está em jogo e eu vou me dedicar de corpo e alma.
Eu sei que tem gente que quer que eu seja preso. Tem gente que quer que eu morra antes de ser preso. É um alívio, até para quem vai me julgar. 

Jovem que desafiou soldados israelenses aos 13 anos em 2012 é presa pelo exército

ORIENTE MÉDIO

Jovem que desafiou soldados israelenses aos 13 anos em 2012 é presa pelo exército

Pai da palestina Ahed Tamimi alega que detenção veio após um vídeo em que ela enfrenta novamente forças de Israel

Hoje com 17 anos, Ahed Tamimi foi presa pelas forças israelenses / Reprodução
A jovem palestina Ahed Tamimi, hoje com 17 anos, foi presa na última terça-feira (19) pelas forças israelenses - segundo o pai da jovem, sem um motivo oficial. Em 2012, aos 13 anos, ela foi personagem de uma reportagem de Opera Mundi, quando apareceu desafiando, de punho em riste, um soldado de Israel.
Segundo a rede Al Jazeera, que conversou com o pai de Tamimi, Bassem – ele próprio um ativista de direitos humanos da região – soldados das Forças Armadas de Israel bateram às 3h da casa da família, entraram na residência e a detiveram, sem apresentar as razões.
No dia anterior, no entanto, um vídeo de Tamimi em que ela brigando com dois soldados israelenses, exigindo que eles saíssem da vila de Nabi Saleh, viralizou na internet. Os militares estavam na região reprimindo palestinos que protestavam contra a declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, que reconheceu Jersualém como capital de Israel.
Segundo o exército israelense, a família de Tamimi teria permitido que um grupo de palestinos usasse a casa dela para atirar pedras nos soldados. Bassem disse à Jazeera, no entanto, que a versão de Israel não conta toda a história – e que o vídeo passou a ser registrado após os militares atirarem bombas de gás lacrimogêneo diretamente contra a residência.
A mãe de Tamimi, Nariman, foi presa na tarde do mesmo dia, quando foi visitar a filha na prisão.
Punho em riste
Em 2012, uma imagem de Tamimi correu o mundo. No meio de uma estrada deserta, cercada de paisagem árida, ela, com a insígnia da paz estampada no peito, enfrentou dezenas de soldados, protegidos com capacetes e metralhadoras. O contraste da imagem chocou, mas nem as armas em punho foram capazes de amedrontar a então criança, que continuou a gritar e empurrar os oficiais em busca de respostas. A única resposta recebida foram balas de borracha.
“Eu lembro que o pior período da nossa vida foi quando prenderam o meu pai pela primeira vez. As autoridades israelenses não nos deram autorização para visitá-lo”, contou ela então a Opera Mundi. Detido por oficiais israelenses por seu papel de liderança nos protestos pacíficos, Bassem teve de enfrentar a corte militar de Israel por 13 vezes e chegou a passar mais de três anos no cárcere, sem nenhum julgamento.
Ahed, aos 13 anos, desafiando soldados israelenses/Active Stills
Edição: Opera Mundi