domingo, 16 de julho de 2017

A urgência da esperança não admite mais ilusões

13/07/2017 00:00 - Copyleft

A urgência da esperança não admite mais ilusões

Assim como não calaram Mandela, Moro não calará um Lula armado de um projeto arrebatador de futuro

por: Saul Leblon

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Em menos de 24 horas, entre a noite de terça-feira (11/07) e a tarde desta quarta-feira, 12/07, o golpe jogou a cartada com a qual pretende virar uma página dupla da história brasileira.
 
Encerrar a era Vargas e o ciclo Lula.
 
Estripou os direitos trabalhistas conquistados e defendidos ao longo de 74 anos, desde a criação da CLT, por Getúlio, em 1943; ato contínuo, condenou ao cárcere, por uma década, o maior líder popular brasileiro, Lula, de 71 anos, presidente duas vezes, favorito inconteste nas sondagens eleitorais para 2018.
 
Quis o destino que o conjunto acontecesse na mesma data em que, há 55 anos, Jango criava o 13º salário para os trabalhadores brasileiros, recebido com manchetes aterrorizantes pela mídia que dois anos depois festejaria o golpe de 1964.
 
A apoteose das últimas horas de certa forma esgota o repertório da ‘progressão’ golpista em 2017.
 
O da resistência democrática, ao contrário, pode enrijecer.
 
Longe de ser o fim, a tentativa conservadora de inocular prostração na sociedade, poderá inaugurar uma escalada de mobilizações e impor maior clareza programática no projeto de futuro capaz de unir a frente popular e arrebatar o país.
 
A prefiguração do futuro preconizado pelo golpismo é medonha.
 
Com certa soberba histórica nem se disfarça a pindaíba social reservada à nação brasileira.
 
A sofreguidão reflete de certa forma o escaldado retrospecto das oito vezes em que essa ofensiva foi interrompida, em meio século de luta de classes.
 
Em 1954, pelo levante popular após o suicídio de Vargas; em 1961, na campanha da legalidade pela posse de Jango; em 1984, na luta pelas Diretas Já! -- derrotada, mas que levou à conquista superior da Carta Cidadã, de 1988 e, finalmente, nas quatro vitórias presidenciais sucessivas de Lula e Dilma em 2002, 2006, 2010 e 2014. 




 
Era demais o risco de um novo revés em 2018.
 
Derrubar Dilma para inviabilizar Lula fazia parte do ciclo político da tolerância conservadora em nossa história. Erros na condução da crise econômica serviram apenas de lubrificante: a engrenagem já fora acionada quando as urnas de 26 de outubro de 2014 refugaram, pela quarta vez sucessiva, o projeto antissocial e antinacional ora imposto à nação.
 
A ofensiva revanchista culminada nas últimas horas calcifica as representações dos trabalhadores (sindicais e partidárias), sangra sua estrutura financeira, ataca sua credibilidade e busca encarcerar sua principal voz.
 
Se o nome disso não é golpe será preciso inventar um outro para defini-lo.
 
A existência altiva de uma organização de trabalhadores constitui um freio inestimável às arremetidas da barbárie capitalista em qualquer época, em qualquer sociedade.
 
Dispensar à destruição do PT e de Lula uma centralidade equivalente a atribuída pelos mercados à revogação do direitos sociais e trabalhistas explicita a funcionalidade de Moro.
 
O seletivo afinco do juiz da praça de Curitiba em atender à demanda política número um do conservadorismo -- calar a única voz ouvida por aqueles aos quais a Globo gostaria de falar sozinha-- é um requisito para viabilizar a restauração do trabalho avulso diante da coesão patronal.
 
Descortina-se –mesmo aos olhos antes distraídos—a natureza do futuro que se reserva à sociedade brasileira: uma nação feita de gente barata, um país entregue ao abismo da desigualdade abissal, sem laços compartilhados no trabalho, na velhice e no ganha pão.
 
Esse Brasil mexicanizado, de vidas ordinárias, entregues ao arbítrio do mercado e das gangues, mimetiza, num país de carências bíblicas, as incertezas e vicissitudes do voo turbulento do capitalismo global, em um estágio de mutação desordenada.
 
O discernimento do futuro inscrito na apoteose golpista pode gerar no eleitor de 2018 o efeito que se quer prevenir com a eliminação de Lula da urna. É ostensivo o anseio conservador pela condenação ‘célere’ do candidato que lidera as sondagens, como pede o editorial da Folha no dia seguinte à sentença de Moro. 
 
A tentativa da destruição gêmea de Lula e dos direitos sociais e trabalhistas desnuda perigosamente a virulência dos marcos do projeto conservador para o país.
 
A literalidade dos impactos na vida cotidiana, sobretudo dos mais humildes que perdem a proteção da lei e a voz que poderia representa-los pode ser a tocha de uma espiral de conflitos de consequências imprevisíveis.
 
O golpe de 1964 levou quase cincos anos para encontrar um chão ‘institucional’ baseado no terror, na tortura e na censura.
 
A manipulação midiática e a farsa de um parlamento contra o povo não serão suficientes para sustentar a reordenação conservadora atual, se for escancarada a sua âncora de des-emancipação social. 
 
A verdade é que o esgotamento da ordem neoliberal no mundo requisita um poder de coordenação econômica e de planejamento democrático inverso ao que se desenha aqui.
 
Reduzir o país a uma dívida pública paga em dia, a juros suculentos, às custas da agonia falimentar dos serviços públicos, dos direitos, da renda e do emprego só é viável no imaginário de quem já se dissociou até fisicamente do destino da sociedade e da sorte do seu desenvolvimento.
 
Quem? 
 
A minoria rentista que da escada do avião acena recomendações de uma dantesca ‘purga’ na Constituição de 1988 para equilibrar ‘o fiscal’, às favas o povo, esse estorvo da boa finança (leia nesta pág. http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditorial%2FBye-bye-Brasil%2F38336).
 
O jogo, portanto, atingiu o ápice da violência de classe.
 
Não é temerário prever um aguçamento do conflito social no período que se abre.
 
Com um agravante.
 
Inabilitadas pela ruptura da legalidade, as instituições mediadoras, a exemplo de uma parte ostensiva do judiciário --sem falar da mídia e da escória parlamentar de despachantes do mercado-- perderam sua credibilidade ao se acumpliciarem na demolição do pacto da sociedade sem consulta-la.
 
Após quatro derrotas presidenciais sucessivas, sendo a última, de outubro de 2014, com seu quadro mais palatável, as elites decidiram queimar as caravelas e os escrúpulos que supostamente ainda carregariam. 
 
Fizeram-no, como se constata na escalada do cerco ao PT e à Carta de 88 convictas de que só escavando um fosso profundo na ordem constitucional teriam o poder necessário para a demolição requerida.
 
Aquela capaz de transformar a construção inconclusa de um Brasil para todos, na recondução da ordem e do progresso para os de sempre. 
 
Não deixam dúvida as encomendas e as entregas: o golpe veio apunhalar a democracia para atingir o interesse popular. 
 
Vem aí um vergalhão de privatizações e abastardamento de serviços essenciais.
 
Reafirma-se a rigidez recorrente da velha fronteira histórica onde acaba a tolerância do dinheiro e do mercado e começam as bases da construção de uma sociedade mais justa na oitava maior economia do planeta.
 
‘A democracia prometeu mais do que o capitalismo pode conceder sem mergulhar a economia em uma crise fiscal desestabilizadora’, martelam diuturnamente os colunistas do jogral midiático que não cogitam jamais de uma reforma que estenda, por exemplo, a coleta de tributos aos R$ 334 bilhões em lucros e dividendos –isentos de IR—apropriados em 2016 por pessoas físicas das faixas de renda mais altas da sociedade.
 
Ao contrário.
 
O que se enxergou do esgotamento de um ciclo de expansão, agravado pela crise econômica global, foi a oportunidade para um acerto de contas capaz de fazer o serviço completo.
 
Cortar o ‘mal’ pela raiz.
 
Explica-se assim a sanha do assalto às fontes originárias da universalização de direitos na sociedade, desde a CLT de 1943, à Constituição Cidadã de 1988 e o partido que deles se tornou o principal promotor.
 
Pode dar errado.
 
Ter um Estado que trata encargos sociais como estorvo do mercado, por mais que gere uma euforia inicial nos donos do dinheiro, não resolverá as grandes pendências nacionais emolduradas por um pano de fundo desafiador.
 
O capitalismo revira os nós de suas tripas em uma transição épica de padrão tecnológico. 
 
O salto da industrialização 4.0 baseada na robótica, na integração e digitalização dos processos vai ralear e atomizar o mundo do trabalho e desse modo toda a sociedade. 
 
A indústria continuará vital como núcleo irradiador de produtividade e tecnologia na sociedade. Mas será cada vez menos o núcleo ordenador do emprego e dos direitos. 
 
A dispersão laboral que a esperteza conservadora quer acelerar aqui com a implosão da CLT e o barateamento da previdência aponta para uma fragmentação social de consequências imponderáveis.
 
Só a ação planejadora da democracia e do Estado pode impedir que isso transborde em anomia conflitiva, violenta e desesperada.
 
Eis o paradoxo da política de estabilização golpista.
 
A coesão social hoje passa a depender cada vez mais –e não menos-- de políticas públicas amplas, massivas, inclusivas que a sabedoria fiscal dos ‘reformistas’ aqui trata de desossar.
 
O modelo atual de previdência social de fato se esfumou num horizonte de emprego instável e escassos vínculos trabalhistas.
 
Mas a miopia ideológica do conservadorismo extrai daí a oportunidade de apagar o incêndio social com o maçarico da exclusão . 
 
A alternativa ao caos existe.
 
A seguridade social do futuro terá que ser financiada com um imposto geral, progressivo, cobrado de toda a sociedade. O contrário é o apartheid da velhice –e não apenas dos pobres, mas também da classe média-- em privação, abandono, desespero familiar e depósitos de barbárie.
 
O mesmo vale para os demais bens e serviços.
 
No dizer do professor Luiz Gonzaga Belluzzo (que recomenda o filme de Roberto Andó, ‘As confissões’, de onde deriva a enunciação de um personagem para adaptá-la à hora do Brasil) --‘Se queremos reaver a esperança, não podemos mais oferecer ilusões’.
 
A esperança capaz de levantar a rua e redimir os laços sociais em nosso tempo não nascerá da nostalgia de um padrão de desenvolvimento irrecuperável.
 
Nem do seu ‘ajuste’ pelas mãos dos alfaiates das crises humanitárias. 
 
A reforma estabilizadora e crível virá de políticas públicas que inovem diante das incertezas sociais e laborais, e respondam com justiça tributária ao desamparo que estilhaça e subordina a sociedade à ganância financeira.
 
Não por acaso, o que mais se evidencia nessa ciclópica transição emendada à crise de 2008, é a falta que faz agora tudo o que foi subtraído do Estado e da democracia no ciclo neoliberal anterior à explosão das subprimes – regulações, direitos, soberania, garantias trabalhistas, tributação da riqueza --que cedeu lugar ao endividamento paralisante do Estado, salários dignos, indução pública do investimento, amparo social enfim, laços de pertencimento e solidariedade fiscal e humana.
 
A virulência anacrônica do golpe brasileiro quer nivelar o país nesses quesitos, implodindo estruturas que o ciclo de governos progressistas preservou e ampliou.
 
Sua vitória pode estar fadada a ornamentar o cemitério da estagnação e o inferno da desigualdade. 
 
A volta da fome ao país, denunciada agora à ONU, é um sinal da combustão social que arde com rapidez assombrosa. O quadro falimentar do estado no Rio de Janeiro velado por uma procissão de corpos que cresce à razão de um assassinato a cada duas horas é outro grito de alarme.
 
A conclusão explode aos olhos de quem não foi contaminado pela cegueira tóxica do jornalismo isento.
 
Falta investimento público, falta demanda, faltam oportunidades, inclusão e sentido de esperança no capitalismo do século XXI. 
 
Esse corner humano e macroeconômico que o golpe mimetiza para barrar reformas e retificações de privilégios --requeridas pelo esgotamento do ciclo anterior de expansão-- é justamente o desafio ao qual o projeto progressista terá que responder com o desassombro histórico. 
 
A resposta conservadora é a ‘noite de São Bartolomeu’ em marcha que instaura a paz salazarista dos cemitérios.
 
Graças ao monopólio midiático, interditou-se o debate das alternativas à delicada transição de ciclo econômico (local e global) para a qual não existe saída fora da repactuação da sociedade em torno de políticas que fortaleçam, não esmaeçam, as dimensões compartilhadas do presente, do futuro e do passado da cidadania.
 
A manipulação midiática logrou assim avalizar ‘soluções’ que na verdade radicalizam a contraposição de interesses unilaterais, privilegiam os mercados e não os cidadãos, impõem uma regressão civilizacional inconciliável com a manutenção do Estado democrático e, por fim, corroem aquilo que tão arduamente se reconquistou, a autoestima brasileira.
 
Sobra o quê? 
 
Uma ruptura mais profunda do que a mera destituição de um Presidente da República.
 
De diferentes ângulos da economia e da sociedade já emergem avisos de saturação estrutural.
 
Em 1964, a transição rural/urbana impulsionada pela ditadura militar abriu uma válvula de mobilidade momentânea –às custas de uma urbanização de periferias conflagradas-- para as contradições violentas de uma sociedade que já não cabia no seu modelo anterior. 
 
Mesmo com essa válvula de escape, a repressão do regime foi brutal. Hoje não há fronteira geográfica ‘virgem’ para amortecer a panela de pressão da nova encruzilhada do desenvolvimento turbinada pela finança e a tecnologia poupadora de empregos e direitos.
 
As legiões que não couberem aí serão escorraçadas, como estão sendo, pela explosiva segregação que se anuncia, atiradas a uma periferia constitucional e, assim, coagidas a reagir de forma explosiva ou perecer.
 
Erra esfericamente quem imagina que esse estirão pode ser mitigado com a maciça entrega do que sobrou do patrimônio público depois do governo do PSDB.
 
Privatizações não agregam força produtiva nem vagas; apenas concentram ainda mais a renda; definham adicionalmente o já enfraquecido poder indutor do investimento público, reduzem o fôlego do Estado com remessas descasadas de receitas exportadoras. 
 
Radicalizam , enfim, o que o país mais precisa superar.
 
A reedição de um novo ‘1964’ exigiria, desse modo, uma octanagem fascista drasticamente superior à original, para prover o aparelho de Estado do poder de coerção necessário à devolução da pasta de dente social a um tubo que na verdade nem existe mais. 
 
Não há uma terceira escolha. 
 
É voltar às urnas na esteira de forte mobilização da sociedade; ou entregar a nação a uma ‘longa noite de exceção’ de desdobramentos incontroláveis.
 
Essa é a disjuntiva. 
 
Moro se empanturrou da ração midiática na qual foi cevado nos últimos anos. 
 
A sentença com a qual pretende ‘limpar esse terreno’, interditando o nome de quem pode barrar a imissão de posse violenta, não vai mudar, nem resolver a encruzilhada estrutural da qual Curitiba é um simples adereço de mão do conservadorismo.
 
A opção à deriva imponderável cabe à resistência democrática progressista --se cumprir certos requisitos. 
 
Ela terá que ser construída nas ruas, a partir de um desassombrado aggiornamento de sua visão de futuro.
 
A esperança capaz de levantar as ruas –repita-se—não admite mais ilusões. 
 
A repactuação do desenvolvimento brasileiro só deixará de ser uma miragem flácida se calcada em amplas políticas de infraestrutura e inclusão social –inclusive dos filhos de uma parte expressiva da classe média que terão que se inserir em sistemas públicos de educação, saúde e lazer. 
 
O novo é o que é público e comum. Assim como as escalas se ampliam na economia das grandes corporações, elas terão que ser magnificadas também na esfera dos acessos e direitos consagrando o bem comum. 
 
Moro não calará Lula, assim como não silenciaram Mandela, se ele se tornar desde já o porta-voz desse arrebatador projeto de futuro compartilhado.
 
Aquele que repactua a nação consigo mesmo e com o século XXI através de políticas públicas e tributárias que viabilizem o que a elite brasileira – e sua escória parlamentar—se empenha em sonegar: o direito de a maioria sair da soleira do lado de fora do país e da civilização para desfrutar da principal riqueza do nosso tempo: direitos, oportunidades, serviços e espaços públicos dignos para todos.

Foro de São Paulo começa na Nicarágua com foco em solidariedade a Lula e à Venezuela

Foro de São Paulo começa na Nicarágua com foco em solidariedade a Lula e à Venezuela


Aliança de partidos e movimentos de esquerda latino-americanos fundada em 1990 realiza seu 23º encontro, que homenageará Fidel Castro, Che Guevara e os cem anos da Revolução Russa
A solidariedade com a Venezuela e com o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva serão os temas dominantes do XXIII Encontro do Foro de São Paulo, que começa neste sábado (15/07) e vai até a próxima quarta-feira (19/07) na Nicarágua.
"Alguns temas vão dominar o foro: a solidariedade com a Venezuela e com Lula", disse nesta sexta-feira (14/07) a jornalistas o presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Assembleia Nacional da Nicarágua, Jacinto Suárez, do partido governista FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional).
O encontro na Nicarágua da aliança regional de esquerda fundada em 1990 espera reunir representantes de 118 partidos políticos e movimentos sociais de 26 países da América Latina.
A solidariedade do grupo à Venezuela se deve ao agravamento da polarização entre governo e oposição no país, com manifestações praticamente diárias a favor e contra o governo desde o fim de março, quando o presidente, Nicolás Maduro, convocou uma Assembleia Nacional Constituinte. Muitos protestos escalaram para a violência, deixando mais de 90 pessoas mortas.
Já o ex-presidente Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro na última quarta-feira (12/07) a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em um dos cinco processos que enfrenta na operação Lava Jato. Sua defesa sustenta a falta de provas contra ele e recorreu da sentença, que deve ser julgada por um tribunal de segunda instância dentro de um ano. No dia seguinte à condenação, Lula se declarou pré-candidato às eleições presidenciais de 2018, desafiando o que ele e seus apoiadores consideram uma “caçada judicial” para tirá-lo do pleito.
O governo de Cuba enviará ao encontro uma delegação liderada pelo chefe de Relações Internacionais do Comitê Central do Partido Comunista da ilha, José Ramón Balaguer Cabrera. Em entrevista ao jornal cubano Granma publicada nesta quinta-feira (13/07), Cabrera falou sobre o encontro que começa hoje.
Giorgio Trucchi / Opera Mundi

Encerramento do 17 ª Encontro do Foro de São Paulo, em 2011, também realizado em Manágua, na Nicarágua

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“Nessa reunião, o objetivo principal é chegar à unidade das forças de esquerda, dos partidos e movimentos progressistas, dos que consideram necessário um sistema diferente do capitalismo para sair da pobreza, da exploração perversa que as grandes transnacionais, o sistema financeiro internacional e os Estados Unidos exercem sobre nossos países”, disse o diplomata cubano.
Está prevista para a reunião a aprovação do Consenso de Nossa América, documento elaborado em janeiro por um grupo de trabalho do Foro no qual partidos e movimentos da esquerda da América Latina e do Caribe recolhem projeções para um programa politico em função da integração regional.
Segundo Cabrera, o documento “realiza uma aproximação histórica ao tema da unidade das forças revolucionárias, à necessidade da incorporação de um programa que transcenda a conjuntura eleitoral e defina em cada um de nossos países os passos para chegar ao poder e construir novas sociedades, soberanas, anti-imperialistas, solidárias”.
O encontro na Nicarágua será dedicado ao líder cubano Fidel Castro, morto em 25 de novembro de 2016, ao argentino Ernesto "Che" Guevara, pelo 50º aniversário de sua morte, e ao centenário da Revolução Russa.
O Foro de São Paulo inclui partidos políticos de esquerda de Argentina, Aruba, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Curaçao, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, Martinica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Trinidade e Tobago, Uruguai e Venezuela. 

*Com Agência Efe

Autobiografia de Pablo Neruda é relançada no Chile com textos inéditos

Autobiografia de Pablo Neruda é relançada no Chile com textos inéditos


Nova edição de 'Confieso que he vivido' ('Confesso que vivi') celebra 113 anos do autor e traz, entre outros achados, anotações sobre relação de Neruda com um de seus melhores amigos, o escritor espanhol Federico García Lorca
A Fundação Pablo Neruda lançou no Chile uma nova edição da autobiografia "Confieso que he vivido" ("Confesso que vivi") nesta quarta-feira (12/07) com 18 textos e notas inéditas do mais famoso escritor do país.
O lançamento ocorreu na data da celebração dos 113 anos do dia do seu nascimento.
Neruda começou a escrever a autobiografia em agosto de 1972 e que queria publicá-la em 1974 para celebrar os seus 70 anos. No entanto, a morte prematura do escritor, 12 dias após o golpe de Estado de setembro de 1973, impediu que a obra fosse finalizada.
Sua esposa, Matilde Urrutia, levou os textos para a Venezuela e, com a ajuda do escritor Miguel Otero Silva, terminou a obra em 1974 - que foi levada "clandestinamente" para o Chile.
Os materiais inéditos do Nobel de Literatura de 1971 foram encontrados nos arquivos da Fundação Pablo Neruda e foram compilados pelo diretor da instituição, Darío Osses.
Wikimedia Commons

Materiais inéditos do Nobel de Literatura de 1971 foram encontrados nos arquivos da Fundação Pablo Neruda 

Aula Pública Opera Mundi: por que há tão poucas artistas mulheres?

Aula Pública com Jean Chauvin: por que os romances policiais fazem tanto sucesso?

40 anos depois, declaração de amor de desaparecido político é encontrada em centro de tortura na Argentina

 
Entre os achados, estão um caderno fechado em junho de 1973 com anotações manuscritas sobre os temas que deveria incluir no livro e o relato de seu regresso à Temuco, cidade onde passou a infância. Também foram encontradas anotações sobre a relação que tinha com um de seus melhores amigos, o escritor espanhol Federico García Lorca.
De acordo com Osses, uma das anotações que lhe chamou a atenção, foi um papel em que estava escrito "este artigo foi escrito para ser incluído nas Memórias".
"No entanto, Pablo teve dúvidas por ter que falar, inevitavelmente, sobre o tema da homossexualidade do autor do 'Romancero Gitano'. Ele se perguntava 'está o público suficientemente desprovido de preconceitos para admitir a homossexualidade de Federico sem manchar seu prestígio'", disse Osses sobre a anotação.
Para a Editorial Planeta, que reeditou a obra no Chile, o livro de mais de 500 páginas contribui para aprofundar e apresentar em grande quantidade as "confissões" da vida de Neruda, desde a narração sequencial de alguns feitos como a crônica de viagens e as reflexões do escritor.
"Neruda foi um autor privilegiado de toda a história do século 20 e um poeta de muitas vidas, que se passam pela amplitude do mundo, que transitam no meio da multidão e na intimidade", disse a editora.

Cais do Valongo, símbolo de um crime contra a humanidade

Cais do Valongo, símbolo de um crime contra a humanidade

Deutsche Welle

Porto de entrada dos escravos africanos no Brasil é reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco; 'É o mais importante e significativo sítio de memória da diáspora africana na América'
Salve o navegante negro
que tem por monumento
as pedras pisadas do cais
Os versos de João Bosco foram uma homenagem a João Cândido, o filho de escravos que comandou a Revolta da Chibata, em 1910, contra os castigos físicos na Marinha. Mas poderiam igualmente ter sido escritos em honra dos milhares de africanos escravizados que, muito antes, entraram no país pelo antigo Cais do Valongo, na zona portuária do Rio, reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade no domingo (09/07). É o primeiro da América relacionado diretamente à escravidão.
Diferentemente de outros 20 sítios no Brasil igualmente reconhecidos pela ONU, as pedras pisadas do cais por mulheres e homens trazidos à força da África em navios negreiros foram eleitas não apenas por seu valor arqueológico, arquitetônico ou mesmo histórico, mas, principalmente, por formarem um local considerado de "memória sensível" – mesmo caso, por exemplo, do campo de extermínio nazista de Auschwitz. Um lugar, portanto, de sofrimento, símbolo de um crime contra a humanidade.
"O Valongo é o mais importante, o mais significativo sítio de memória da diáspora africana na América. É o único vestígio material que temos do desembarque de africanos escravizados por aqui", afirma o antropólogo Milton Guran, coordenador do grupo de trabalho que elaborou o dossiê da candidatura do cais à Patrimônio Mundial da Humanidade.
Único sítio ligado à escravidão no Brasil
Não se trata de um ponto de desembarque qualquer: dos 4 milhões de africanos escravizados que vieram para o Brasil em 300 anos de tráfico, 2,4 milhões entraram no país pelo Rio de Janeiro, 1 milhão deles pelo Valongo, entre 1774 e 1831— muito mais gente do que os Estados Unidos receberam (cerca de 400 mil) em toda a sua história de tráfico.
"O Cais do Valongo é o mais importante complexo negreiro do mais importante país na história da diáspora africana na era moderna, que é o Brasil", resume o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares, da UFRJ. "Nunca antes tantos africanos chegaram em tão pouco tempo a uma região do mundo atlântico."
Segundo Guran, isso explica a importância do reconhecimento. "O Valongo não simboliza só a parte material, imediata, o porto de desembarque, mas toda a tragédia do tráfico no Atlântico, esse crime contra a humanidade", explica Guran, que também é integrante do comitê científico internacional do projeto Rota do Escravo, da Unesco, que busca mapear os caminhos da diáspora pelo mundo.
Segundo o antropólogo, todos os outros sítios reconhecidos como patrimônio mundial ligados à escravidão estão na África. Esta é uma diferença crucial no que diz respeito ao reconhecimento da escravidão no Brasil, segundo especialistas.
"Sempre se trabalhou muito no viés da história oficial, que apagou a presença do negro na cultura e no processo civilizatório do Brasil", afirma o diretor do Departamento do Patrimônio Material do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Andrey Schlee. "Estamos tentando resgatar a importância dessa contribuição. Superamos a fase de valorizar áreas da classe dominante."
Dificuldades para preservação
Na última segunda-feira, durante festa realizada no local para celebrar o reconhecimento, moradores reclamavam do abandono da região, parcialmente ocupada por moradores de rua. "O lugar não está bem conservado", afirmou Carolina Soares, de 38 anos, do grupo Afoxé Filhos de Ghandi. "Todos querem enterrar a cultura negra, o descaso é grande. O título é louvável, espero que, com isso, as coisas melhorem."
Do ponto de vista prático, como foi o próprio país que apresentou a candidatura do Cais do Valongo, ele é responsável por preservar a área. Um comitê deverá ser instituído nos próximos dias para apresentar um plano de uso e preservação da região. A ideia de ter um museu sobre a diáspora na área também já foi apresentada pela prefeitura.
Agência Brasil

Entre os séculos 16 e 19, Brasil recebeu 40% de todos os africanos escravizados que chegaram vivos à América, boa parte deles pelo Cais do Valongo

Imagem do Brasil no exterior se deteriora rapidamente, diz fundação alemã ligada a partido de Merkel

Sem cotas, a USP não seria a USP

Reforma trabalhista dificulta combate ao trabalho escravo, dizem especialistas


"A Unesco sabe que o Valongo vai muito além do Rio de Janeiro", diz o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares. "Ela toca em questões como a desigualdade racial e econômica no capitalismo, a divisão do trabalho no mundo, a invenção do subdesenvolvimento e do terceiro mundo, o lugar do africano na globalização. O Valongo como Patrimônio da Humanidade vai internacionalizar as questões sociais e raciais do Brasil, o que é positivo."
Tráfico prosseguiu mesmo proibido
Durante os três séculos de vigência do regime escravocrata no Brasil, entre os séculos 16 e 19, o país recebeu 40% de todos os africanos que chegaram vivos à América, boa parte deles pelo Cais do Valongo.
A partir de 1774, o desembarque de escravos no Rio de Janeiro foi integralmente concentrado na região da Praia do Valongo, onde estava instalado também o mercado de escravos, um lazareto (hospital) para os que chegavam doentes e o Cemitério dos Pretos Novos, para onde iam os que não resistiam às cruéis condições da travessia.
O local só foi desativado como porto de desembarque de escravos em 1831, quando o tráfico transatlântico foi proibido por pressão da Inglaterra – determinação solenemente ignorada no país, onde recebeu a alcunha irônica de "lei para inglês ver". O desembarque de escravos continuou ocorrendo, ainda que de forma dissimulada, em geral durante a noite.
Doze anos depois, em 1843, o antigo cais foi aterrado e reconstruído para receber a princesa Tereza Cristina, mulher do imperador Dom Pedro 2º, ganhando o novo nome de Cais da Imperatriz.
"Lógico que se buscava uma nova narrativa, a construção de uma nova memória, já que o nome Valongo foi varrido da nomenclatura municipal", sustenta o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares, autor de Cidades Negras. "Se reforça o consenso ideológico em torno da monarquia e, ao mesmo tempo, se apaga um passado nefasto para a cidade. É uma questão de imagem pública, tão ao gosto do marketing político da atualidade."
Foi somente em 1850, no entanto, que o Brasil aprovou a Lei Eusébio de Queirós, que proibia a entrada de escravos no país. Ainda assim, há registros da chegada de africanos escravizados até 1872, poucos anos antes da Abolição, assinada, finalmente, em 1888 – bem depois de todos os países escravocratas da América.
Amnésias sociais
Em 1911, com as reformas urbanísticas da cidade comandadas pelo então prefeito Pereira Passos, o Cais da Imperatriz foi aterrado. Embora a sua localização estivesse demarcada por uma placa e um obelisco, foi somente durante as escavações realizadas em 2011, por ocasião das obras do Porto Maravilha, que os antigos resquícios do Cais da Imperatriz e do Valongo foram redescobertos.
"A arqueologia histórica tem por obrigação intervir naquilo que foi enterrado e deliberadamente ocultado, é um antídoto contra as chamadas amnésias sociais", afirma a arqueóloga Tania Andrade Lima, do Museu Nacional/UFRJ, que coordenou os trabalhos de escavação na região. "Trouxemos à luz o que se queria esconder, para que possamos reviver esse passado tenebroso, para que aprendamos a lidar com ele. É uma parte vergonhosa da nossa história, sem dúvida, mas esconder não é a melhor forma de lidar com ela. É preciso expor a violência praticada ali para estimularmos a reflexão sobre a perversão do racismo, num momento em que o preconceito recrudesce no mundo. O Valongo é uma denúncia do que a humanidade é capaz de fazer contra o outro, contra o diferente."
Por sugestão das Organizações dos Movimentos negros, o espaço foi transformado em monumento, aberto à visitação pública, passando a integrar o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, na região portuária, que inclui ainda o Cemitério dos Pretos Novos e a Pedra do Sal – onde, se acredita, o samba nasceu. A região ficou conhecida como "Pequena África".
"O tráfico e a escravidão africana demoraram séculos e ainda passam mais como um costume incômodo do que um genocídio. Era como se fosse um extermínio em massa de baixa intensidade", explica Líbano Soares. "Mas foi um extermínio."

Estudantes de agronomia da UFG pedem 'menos amor e mais agrotóxico' A QUÊ PONTO NÓS CHEGAMOS!

Estudantes de agronomia da UFG pedem 'menos amor e mais agrotóxico'


Pesticida mais consumido no mundo, glifosato é apontado por muitos pesquisadores como causa de câncer
Eles estudam agronomia. E pedem: “Menos amor e mais glifosato, por favor”, em referência ao pesticida mais consumido no mundo, comercializado pela Monsanto como Roundup. A foto com essa frase nas camisetas rodou as redes sociais após ter sido publicada no site da Emater (Agência de Assistência Técnica, Extensão Rural e Produção Agropecuária) goiana. É produzida pela associação atlética dos estudantes de agronomia da UFG (Universidade Federal de Goiás).
Também conhecido como mata-mato, o glifosato – ingrediente ativo do Roundup – “provavelmente” causa câncer, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Outras pesquisas realizadas dizem o contrário. Em junho, o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, informou que listará o produto como causador de câncer. A ECHA (Agência Química Europeia, na sigla em inglês) o liberou.
Sua utilização é criticada por organizações como o Greenpeace, WWF, Oxfam e Slow Food. Mais de 1,3 milhão de pessoas assinaram uma petição para seu banimento na União Europeia. A documentarista francesa Marie-Monique Robin, autora de filme sobre a Monsanto, define o glifosato como "maior escândalo sanitário da história".
No Brasil, o uso do pesticida é criticado por pesquisadores como Wanderlei Pignati, da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), e Raquel Rigotto, da UFC (Universidade Federal do Ceará). A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) também fazem alertas frequentes sobre esse e outros venenos.
Reprodução Twitter @ematergo

Estudantes 
Estudantes faturam com camiseta
Os estudantes brasileiros conseguiram emplacar a foto em uma notícia sobre o consumo de soja por humanos, publicada pela Emater (e reproduzida, com outra imagem, pelo site Agrolink), sobre o evento Agro Centro-Oeste Familiar 2017, realizado em Goiânia, em junho.

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O link foi retirado do ar, mas o site Ambiente do Meio conseguiu registrar a imagem. Que ainda pode ser encontrada, também, no Twitter da própria Emater, em post do dia 12 de junho – conforme o De Olho nos Ruralistas constatou, um mês depois, nesta segunda-feira (10/07).
Reprodução / Ambiente do Meio

Nota publicada no site da Emater-GO ilustrada com foto de estudantes da UFG com a camiseta
Instagram da associação atlética dos estudantes da Escola de Agronomia da UFG divulgou em março a camiseta “por menos amor e mais glifosato”. Apresentada naquele mês como uma novidade, ela é vendida por R$ 35.
Diante da repercussão da foto, a Emater emitiu nota de esclarecimento dizendo que nem ela, nem a UFG, nem a organização da Agro Centro-Oeste Familiar têm qualquer ligação com a produção “ou incentivo ao uso” da camiseta.
A agência diz respeitar o direito à liberdade de expressão, garantido pela Constituição, e que incentiva “toda e qualquer prática sustentável de produção agropecuária apoiada em procedimentos seguros e ambientalmente corretos, afiançados pela legislação vigente”. 

Publicado originalmente no site De Olho Nos Ruralistas