sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

EUA lançam conto de fadas 'humanitário' contra Maduro



FALSA BANDEIRA

EUA lançam conto de fadas 'humanitário' contra Maduro

Oposição venezuelana, que possui aliança com os Estados Unidos, tenta barrar eleições do país que acontecem em abril. Nicolas Maduro lidera as pesquisas
por Paulo Moreira Leite publicado 23/02/2018 10h29
LATUFF/OPERA MUNDI
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Oposição tem recursos, mídia amiga e apoio americano, mas não possui o principal para as eleições de abril: votos
Brasil247 – Duvido que qualquer observador honesto da política venezuelana tenha ficado surpreso com o anúncio de que a oposição não irá apresentar candidato para as eleições presidenciais de 22 de abril.
Essa decisão é apenas a sequência lógica do abandono das negociações com o governo Maduro, em 7 de fevereiro, 24 horas antes da data marcada para a assinatura do texto de um acordo já negociado e acertado em suas linhas gerais. Condenada por José Luiz Zapatero, presidente da Espanha entre 2004-2011, um dos fiadores do acordo entre governo e oposição, a ruptura apenas dramatizou uma decisão previsível.
Já naquele momento era obrigatório reconhecer que as principais correntes de oposição encerravam o que havia sido um espetáculo de maus atores, sem qualquer compromisso com a preservação da democracia no país.
Apenas se colocavam em sintonia com o secretário de Estado Rex Tillerson para retornar às atividades conspiratórias de sempre, onde, há uma década e meia, ensaiam coreografias nada originais para derrubar o chavismo pela força – não pelo voto, como seria coerente do ponto de vista da democracia.
Em seu pronunciamento na Universidade do Texas, Tillerson não decepcionou. Fez referências elogiosas a Lyndon Johnson, o presidente dos EUA que liderou o ciclo de golpes militares na América Latina nos anos 60, e transformou a guerra do Vietnã num conflito de envergadura. Para completar, referiu-se num tom escandalosamente positivo a um período trágico do Continente, quando imperaram ditaduras no Brasil, no Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai, ao dizer que "na história da Venezuela e de países da América do Sul são frequentes as vezes em que os militares são o agente da mudança quando as coisas estão muito ruins e a liderança não pode mais servir ao povo".
Convém demorar-se um pouco nesta cena. Com o desembaraço típico de quem se coloca em pleno domínio da situação, manipulando o destino de povos e países de seu escritório em Washington, o secretário de Estado ainda fez a previsão de que, em caso de dificuldade, Maduro poderia ganhar uma "casa na praia de seus amigos de Cuba". Não poderia ser mais explícito sobre seus desejos – ou planos, quem sabe.
No dia seguinte, com a costumeira desinibição que integrantes do governo Trump exibem através do twitter, Tillerson deu a linha de intervenção na crise venezuelana. Deixou claro que não se trata de estimular uma intervenção ideológica como nos anos da Guerra Fria de Lyndon Johnson. Também não tem a ver com o Eixo do Mal, que orientou a trágica política externa de George W. Bush no início da década passada e levou à invasão do Iraque – na qual a Venezuela já era uma das pontas num arco de inimigos que incluía o Irã, o Iraque e a Coréia do Norte.
A bandeira, agora, é o humanitarismo. Ele escreveu: "Os venezuelanos morrem de fome. Os saques são comuns e os doentes não recebem a atenção médica que necessitam. O povo venezuelano sofre por causa de um regime corrupto que rouba o seu próprio povo. O regime de Maduro é o verdadeiro culpado e deve prestar contas".
Vamos combinar: este novo conto da Carochinha é sentimental como sempre mas chama atenção pelo enredo e pela hipocrisia. O mundo assiste em silêncio obsequioso aos lances de uma guerra econômica que é a causa principal da fome e da doença no país, que lembra a pressão externa que alimentou o golpe que derrubou Salvador Allende no Chile. Essa é a força que produz a carência de alimentos e medicamentos pela simples manipulação do câmbio numa economia com alta dependência externa. Também é reforçada pelo boicote organizado pelo sistema financeiro internacional, que recusa pagamentos em dia para forjar um ambiente de calote e desconfiança.
Contrariando os cânticos de guerra anti-bolivarianos, Caracas pratica uma política econômica muito mais conciliadora do que sugere a retórica oficial dos adversários. Evita medidas que possam representar ataques diretos aos monopólios, nacionais e estrangeiros, que têm investimentos no país e cobram um preço cada vez mais alto para manter algum nível de atividade. A questão política real é perguntar até onde o aprofundamento da crise poderá ser suportado sem medidas mais duras, como o controle sobre o câmbio, a investigação em empresas que faturam fortunas diárias com o dólar subvencionado.
Nesse quadro, de arrogância, desrespeito e injustiça, o Departamento de Estado dos EUA tenta espalhar uma lenda edificante – de que uma intervenção externa naquele país é motivada por causas nobres. É este o fundo político que alimenta reportagens condoídas sobre refugiados venezuelanos, que se tornaram prato de resistência nos telejornais da Globo, organizados pela doutrina Tillerson segundo a qual "o povo venezuelano sofre por causa de um regime corrupto que rouba seu próprio povo".
O que se pretende é evitar toda reação natural de solidariedade contra uma operação de guerra contra o governo Maduro. No contexto atual a questão "humanitária" tanto envolve cidadãos que enfrentam sofrimentos reais, que necessitam de auxílio e assistência, de verdade, como indivíduos que lembram esquisitices típicas das desordens do mundo atua. Estamos diante de personagens que integram operações subterrâneas e suspeitas, como o célebre "Brasileiro bonzinho" que jamais contou uma historia coerente para explicar o trabalho de uma ONG misteriosa que tentava formar no interior da Venezuela – enquanto participava daqueles protestos contra Maduro que produziam feridos e até mortos. Expulso da Venezuela, foi embarcado para Miami e não mandou novas notícias. Curioso, não?
É preciso ponderar alguns dados que garantem alguma racionalidade ao debate. Acompanhando uma onda de empobrecimento e opressão na América Latina, que produzem o empobrecimento de paraguaios, brasileiros e argentinos, para ficar em três exemplos, entidades de refugiados informam que entre os países latino-americanos, El Salvador, Colômbia, México, Honduras e Guatemala estão a frente da Venezuela no deslocamento de suas populações -- sem despertar, é evidente, o mesmo alarme piedoso em relação ao desempenho de seus governantes. Conforme dados da FAO, a desnutrição tem se agravado nos últimos anos, por motivos fáceis de entender pelo quadro de guerra econômica. Mas os números mostram que está longe de ter chegado ao quadro terrível dos três anos anteriores a chegada de Hugo Chávez ao governo.
Esta é a memória que ajuda a entender a popularidade do chavismo, muito superior àquilo que se poderia imaginar pela audiência dos telejornais de países estrangeiros. Num país onde os meios de comunicação passaram por um processo de democratização relativa mas real, o debate político é plural e respeita as escolhas variadas da população.
Ninguém tem o direito de surpreender-se, portanto, com o anuncio de ontem – ainda que seja uma decisão lamentável do ponto de vista dos interesses do povo venezuelano.
Como muitos observadores da situação política na Venezuela, eu também gostaria que o pleito de 22 de abril contasse com a participação de todas as forças políticas do país.
Estou convencido de que, lá como em tantos outros lugares do Continente, inclusive no Brasil, o voto popular é a melhor oportunidade para a reconstrução de um acordo nacional para encerrar um período histórico marcados por sucessivas tentativas de golpe de Estado e programas de sabotagem que apenas sacrificam a população do país, em particular os mais pobres.
Sabemos que, na Venezuela, os ensaios de ruptura constitucional e tentativas de golpe são um dado permanente da paisagem e um elemento obrigatório da análise política.
Isso acontece desde 2002, aquele momento em que os venezuelanos testemunharam um episódio aterrador. Ocupando a presidência da República com toda legitimidade que o voto popular pode conferir a um governante, Hugo Chávez foi sequestrado no exercício de suas funções e aprisionado em local secreto por 72 horas, enquanto o empresariado e o governo norte-americano festejava em Caracas. A folia terminou quando um levante popular garantiu o retorno e a permanência de Chávez na presidência até a morte precoce, 2013, após três eleições cuja seriedade foi avalizada por observadores insuspeitos de simpatias pelo chavismo, a começar por Jimmy Carter.
Estou convencido de que o projeto de realizar eleições presidenciais em 2018 não é apenas uma opção entre outras escolhas possíveis de Nicolas Maduro. Era e é uma necessidade imperiosa, o último recurso de um governo que não tem outro instrumento para renovar as forças e garantir seu oxigênio além do voto popular. Não conta com o apoio do empresariado local nem da Casa Branca e, desde a queda de Dilma Rousseff, também perdeu o principal aliado de peso geopolítico na região, substituída por um adversário muito a vontade na submissão a Washington.
O chavismo não fez 16 eleições nos 18 anos seguintes a tomada do poder porque seus dirigentes são cidadãos sem mais o que fazer além de pedir voto. Mas porque não tem -- e não quiseram ter, vamos ter a honestidade de admitir -- outro recurso para defender o governo fora do apoio explícito da maioria dos venezuelanos, num sistema eleitoral cuja segurança nenhum analista sério pode colocar em dúvida.
Ao formalizar uma decisão pré-concebida, os adversários do chavismo apenas confirmaram uma condição típica dos adversários da democracia, em toda parte. Tem prestígio, tem recursos, tem mídia amiga e um gigantesco apoio externo.
Só não tem votos. Se tivesse, teria toda paciência para esperar pela eleição de 22 de abril, não é mesmo?

Orlando Diniz não era só amigo de Cabral. De Paes, Accioly e Huck também

Orlando Diniz não era só amigo de Cabral. De Paes, Accioly e Huck também

Orlando Diniz, o preso de hoje da Lava Jato não era amigo só de Sérgio Cabral.
É amigo de Eduardo paes, com quem divide a foto, ao lado do crivelista Índio da Costa e de quase todo mundo do high-society carioca, os cujo talento é sonante.
Há dois meses foi um dos promotores do “Reage Rio”, em parceira com a Globo, que agora finge que não era seu íntimo.
Mas o que posso contar sobre Diniz é que foi afastado do comando do Sesc do Rio de Janeiro a partir da ação do  Conselho Fiscal do Administração Nacional da entidade, presidido pelo ex-ministro (governos Lula e Dilma) Carlos Gabas, com quem tive a honra de trabalhar e que representou ao Tribunal de Contas da União por diversos desvios de verba.
Entre os principais, a contratação superfaturada das empresas para a produção de eventos. Beneficiárias?
Empresas de Alexandre Accioly, Luciano Huck e  Luis André Buono Calainho, segundo escreveu Marcelo Auler na CartaCapital, reproduzida pelo GGN:
Em 2010, (Accioly e Calainho) também venderam ( a Orlando Diniz) a ideia do Prêmio Sesc de Fomento à Cultura, para incentivar iniciativas no teatro, teatro infantil, música, dança, artes plásticas, literatura, documentários, novas mídias e novos talentos. Foram 5.968.143,41 reais, com 1,8 milhão para os premiados. “A diferença – R$ 4.168.143,41 – bem acima do recurso destinado à premiação, foi para custear os serviços da empresa L 21 Participações Ltda., diz o relatório da auditoria. Do que sobrou, 1.095.143,41 destinavam-se, estranhamente, ao “pagamento de impostos”. Outros 450 mil reais eram pró-labore.
Só em 2011.
A L21 é um dos maiores negócios dos três, dona da Rádio ParadisoFM e, segundo a Istoé Dinheirojá em 2003…
Não é o primeiro e certamente não será o último negócio dos três juntos. Calainho, Huck e Accioly estão metidos numa teia de fazer dinheiro que se espalha por diversos setores da economia e agrega outros parceiros famosos. Huck, por exemplo, é sócio de João Paulo Diniz (Grupo Pão de Açúcar) em boates e restaurantes e tem uma construtora de prédios de luxo. Já acumulou um patrimônio de US$ 6 milhões. Accioly encheu os bolsos ao vender para a Telefônica a sua empresa de telemarketing por US$ 140 milhões e desde então investe, ao lado de Huck e Diniz, no ramo imobiliário, em bares e discotecas. Calainho é dono do portal Vírgula, um dos poucos lucrativos da internet, de uma empresa que promove bazares de roupas de grife e de uma distribuidora de CDs e DVDs em bancas de jornal.
Será que os negócios do recém preso Orlando Diniz virão ao caso?

ENTREVISTA O impasse em Honduras

23 de Fevereiro de 2018
Após ter sido retirado de sua casa e do seu país durante uma madrugada de junho de 2009 por militares, o ex-presidente hondurenho José Manuel Zelaya cruzou a fronteira de volta e refugiou-se na embaixada brasileira durante quatro meses, episódio que o fez conhecido nacionalmente. Mas aquele era apenas o começo da sua trajetória como principal opositor do Partido Nacional de Honduras, que se mantém no poder no país centro-americano desde 2010.
Em 2013 sua esposa, Xiomara de Zelaya, foi candidata à Presidência – derrotada, segundo ele, por fraude nas urnas.
Agora, dois meses após mais uma conturbada eleição presidencial, Zelaya exige uma mesa de diálogo com Juan Orlando Hernández. O presidente foi recém-reeleito por causa de uma mudança na Constituição que permitiu, pela primeira vez, a reeleição presidencial – vale lembrar que Zelaya foi derrubado sob acusação de querer, justamente, buscar uma nova Constituição para poder se reeleger.
Durante a apertada contagem de votos, houve uma “queda” no sistema de contagem de votos, gerando suspeita na população. Dias depois, o Tribunal Supremo Eleitoral declarou a derrota do candidato da Aliança de Oposição contra a Ditadura, Salvador Nasralla, por 1,5% dos votos. A suspeita de fraude levou milhares às ruas durante o mês de dezembro, fazendo a Organização dos Estados Americanos (OEA) pedir nova eleição.
“Mesmo que haja um presidente, não o reconhecemos e não respeitamos sua autoridade”, disse Zelaya em entrevista ao jornalista Carlos Dada, do site El Faro, parceiro da Pública.
Hoje, é difícil imaginar Hernández caminhando nas ruas sem estar rodeado por um exército. Literalmente: em dezembro, a polícia de choque cruzou os braços e se negou a reprimir os manifestantes, cabendo ao Exército a tarefa. Já Zelaya tem caminhado junto com os manifestantes. Os militares o agrediram, atiraram gás lacrimogêneo, e Zelaya permanece imóvel. Segue com seu discurso popular e populista – mas de esquerda.
Zelaya admite que o oponente conta com o apoio dos Estados Unidos e do Exército, mas a Aliança, diz, conta com o povo. Leia a entrevista.
Vocês denunciaram uma fraude e se colocaram a tarefa de tentar evitar que o presidente tome posse para o segundo mandato. Afinal, Juan Orlando Hernández tomou posse, e tudo segue igual. E agora?
Estamos diante de vários crimes ou delitos: o primeiro é a usurpação do poder popular, que é o princípio da democracia. O segundo é a negação da busca da verdade, que seria determinar quem afinal ganhou as eleições. Para nós e para as pessoas que avaliaram o processo eleitoral, as eleições foram ganhas pela Aliança de Oposição Contra a Ditadura, encabeçada por Salvador Nasralla. O terceiro é impor o juramento de alguém que a própria OEA diz que não tem certeza de que tenha ganhado as eleições. E tem um quarto: já são mais de 42 pessoas mortas depois da fraude eleitoral e mais de cem detidas por protestar. Há um povo que está na rua exigindo justiça.
Qual é o plano agora? Vão seguir nas ruas?
O povo vai seguir nas ruas. As manifestações não violentas vão seguir e vamos seguir de forma permanente, o tempo que seja necessário, sem nenhuma outra condição a não ser a implantação de um sistema democrático no país.
Seu objetivo é agora se preparar para ganhar as eleições dentro de quatro anos ou que Juan Orlando Hernández não termine o seu segundo mandato?
O objetivo é a transformação do país. Para cumprir nosso objetivo, necessitamos ganhar as eleições. Ganhamos as eleições em 2013 com a Xiomara [esposa de Zelaya] e ganhamos as eleições em 2017 com Salvador Nasralla. E eles não entregam o poder. Então qual é o plano agora? A ordem do dia é defender o resultado eleitoral de 26 de novembro. Mesmo que haja um presidente, não o reconhecemos e não respeitamos sua autoridade.
Quando você diz que ganharam as eleições de 2013 com Xiomara de Zelaya, outros candidatos discordam. Fica difícil entender o que está acontecendo …
Bom, pelos menos os números que foram reconhecidos pelo Estado deram em 2013 1.150.000 votos para Juan Orlando, 900 mil votos para Xiomara e 450 mil para Salvador Nasralla. Demonstramos que em 3000 urnas havia fraude eleitoral, mas o Estado não aceitou. Temos segurança porque temos as atas das 16 mil mesas das eleições de 2013 e das 18 mil mesas dessas eleições.
Se o objetivo anterior era suceder o presidente no poder, agora que ele assumiu, qual é o objetivo? Tirá-lo do poder?
Para mim, chegamos ao nosso objetivo, em termos legais. Mas quem sustenta o Juan Orlando Hernández? Internacionalmente e em público, os Estados Unidos. E em termos populares, o que o sustenta são os militares com as suas armas, impedindo que o povo tome o poder. Se os militares deixam um só dia de apoiar o presidente, o povo toma o poder em todo o país. Em um só dia. O que o sustenta são as baionetas e os gringos.
Você disse que teria que estar pronto para as próximas eleições…
Agora vamos a um processo de mediação. E se o processo diz “repitam as eleições”, elas podem ser amanhã.
No começo do mês, uma missão da ONU chegou ao país para estudar a criação de uma equipe de mediação do impasse. Como seria esse processo de mediação?
Nós só aceitamos um diálogo vinculante e obrigatório. O presidente está pedindo um diálogo sem condições. Isso é um diálogo para falar do que ele quiser. Nós queremos um diálogo que reconstrua o estado de direito.
Quem deveria se sentar à mesa?
Não aceitamos sentar à mesa com o ditador. Os mediadores falam com eles e depois conosco, as duas partes que estão lutando: a Aliança Opositora contra a Ditadura e o governante. Esses são os dois setores que devem tomar decisões.
Custa-me imaginar que o presidente Hernández, depois de tudo o que foi feito para se manter no poder, admita a um mediador que se façam novas eleições.
Ebal Díaz [ministro da Presidência] já disse que eles vão aceitar um diálogo vinculante. O governo já disse isso.
Como se está decidindo quem são essas pessoas?
Veja, isso é importante. Salvador assinou uma carta com Luis Zelaya [candidato do Partido Liberal] pedindo um mediador das Nações Unidas. Eu não conhecia essa carta. Mas tive que apoiá-lo. Então estou apoiando que seja a ONU que envie um emissário para definir quem serão os mediadores. Para mim, esse não era o caminho porque tenho minhas próprias ideias sobre a ONU e a OEA, mas, já que o candidato assinou, aceitei para respeitá-lo.
O presidente Hernández, no seu discurso de posse, acusou vocês de serem os causadores da violência nas ruas.
Nós somos um partido pacífico. Não usamos armas em atos de sabotagem nem terrorismo. Utilizamos as garantias que nos dá a Constituição. A Constituição autoriza o povo hondurenho, quando seu poder é usurpado, a usar a força. Diz que o povo tem direito à insurreição, que é a sublevação violenta do povo contra o Estado. Nós estamos autorizados a usar a força, no entanto não a usamos. A única coisa que fazemos é uma insurreição não violenta. Quem utiliza a violência é o Estado contra nós.
O que é inegável é que haja atos de vandalismo, choques, destruição de propriedades…
Esses são atos de delinquência. Não são atos políticos. Encontramos dentro dos protestos, inclusive, gente infiltrada, que é enviada para fazer atos de vandalismo para criminalizar os protestos.
Parece-me, pelos últimos eventos, com as declarações de narcotraficantes em Nova York revelando uma rede de corrupção na elite, e o assassinato da ativista ambiental Berta Cáceres em 2016, que o problema em Honduras não é um ou outro político, mas um sistema…
O sistema está podre. O sistema é corrupto. O sistema capitalista em si mesmo, que privilegia o dinheiro sobre todas as coisas. Corrompe a sociedade. Os jovens que não têm saúde nem emprego acabam se tornando delinquentes. O Estado é que é violento.
Como se muda isso?
Temos uma proposta sobre isso, que implica uma nova Constituição. Vamos qualificar a pobreza como um delito de Estado. Favorecer somente certos setores sem levar em conta as grandes maiorias é uma crueldade. Queremos refundar o Estado.
Em que sistema, se para você o capitalismo parece corrupto?
Não. O capitalismo é uma ação econômica. O sistema é democrático, no qual o povo é soberano. Republicano, no qual quem governa não faz as leis e quem governa não aplica a justiça. Este é o sistema que queremos construir. A empresa privada é o motor da economia, mas uma empresa privada sem monopólios, sem oligopólios. Sem que explore a sociedade. Acreditamos na competição, no investimento, no livre mercado e no desenvolvimento.
Você não acredita que para os Estados Unidos seria mais fácil reconhecer o triunfo de Salvador Nasralla se você não estivesse do lado dele nas fotos?
É que se eu não estivesse na foto, a Aliança não teria ganhado. Era parte de um complemento. Ele puxou [votos] à direita e eu puxei à esquerda. A Aliança é uma iniciativa nossa.

Raquel Dodge entra na “farra do auxílio”

Raquel Dodge entra na “farra do auxílio”

Hoje, em O Globo, transcreve-se parte do parecer da Procuradora Geral da República em defesa do “auxílio-moradia” pago indiscriminadamente aos juízes, no qual, desde o início, os procuradores “pegaram carona” para engordar seus contracheques.
A tese de D. Raquel é sui-generis:
A leitura da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público mostra que o legislador incluiu entre os direitos dos membros do Parquet (Ministério Público) a desoneração, mesmo que parcial, em matéria de moradia. Ao dizer que, onde não houver residência oficial, é devido o auxílio, deixou claro que a verba compensa os que não receberam residência oficial condigna, assumida como obrigação do Estado”.
“Não há, enfim, desvirtuamento da finalidade indenizatória pelo fato de a verba não distinguir membros proprietários de imóveis residenciais dos que não o são; com efeito, em ambas as situações o membro assume ônus pecuniário (pelo pagamento de aluguel, no caso dos não-proprietários, ou pela imobilização de haveres próprios, no outro) que não haveria se disponível a residência oficial.”
Você entendeu? Na tese da procuradora-geral, ao passar no concurso para procurador, o sujeito ganha o direito não apenas aos vencimentos da carreira, mas a ter sua casa custeada pelo Estado brasileiro: leia-se, pelos impostos dos cidadãos.
Ah, Dona Raquel, tenha santa paciência. Ninguém questiona que um juiz, um promotor, um médico, um militar, um professor que seja mandado servir numa vila no interior do município de Óbidos, no Pará tenha uma “residencia oficial”custeada pelo Estado. O mesmo se aplica, na própria iniciativa privada, quando alguém é mandado para longe de seu local de residência. Ou para quem vá ocupar um cargo temporário em outro estado.
Mas não é o caso. É benefício amplo, geral e irrestrito das castas judiciais. E que,sequer, impede outra farra, a das diárias  pagas aos integrantes da corporação que, na prática estão lotados em cidades – em tese, só em tese – diferente daquelas onde formalmente exercem suas funções. Porque, neste caso, como explicar o auxílio-moradia para os integrantes da Lava Jato que, segundo a Folha, receberam, além dele, de 2015 até julho deste ano, cerca de R$ 2,2 milhões só em diárias?
O argumento dos “moralistas”, ironicamente, abre mão da moral para se enganchar no que, supostamente, seria legal.
No fundo, a questão se resumiu no “se tem jeito, por que não pegar”?