sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Contra o golpe

Elza Soares contra os homens

Os versos são de Vinicius de Moraes, o poetinha ex-diplomata que nunca chegou a ser o mais progressista dos brasileiros. A música é de Baden Powell, que no final da vida extirpou a palavra “saravá” de suas canções e substituiu os antigos cantos de candomblé pela religião evangélica. Transtornado por Elza Soares, o “Canto de Ossanha” (1966) de Baden e Vinicius constituiu-se, para boas entendedoras, no grande momento político da cerimônia planetária de abertura das tristes Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Foi um recado explícito, cortante e 100% feminino ao “macho” traidor Michel Temer, a grande estrela negativa da noite universal. “Coitado do homem que cai no canto de Ossanha traidor“, cantou Elza em meio ao espetáculo de despolitização transnacional, com ênfase aberta, indignada, às sílabas do (des)qualificativo traidor. Obra de gênio, de gênia.
O homem que diz “sou” não é. Porque quem é mesmo é “não sou”.
O homem que diz “tô” não tá. Porque ninguém tá quando quer.
Para filtrar tais versos e trazê-los a 2016 é necessário apenas ser boa entendedora, bom entendedor. É necessário apenas não ser robô.
Brasileiras devotas da democracia assistimos atarantadas à escalada de repressão testada nas Olimpíadas do Brasil. Tropas de choque avançam sobre o Rio de Janeiro e São Paulo para calar o “fora Temer“. A lei dos homens olímpicos faz de tudo para escorraçar a política das arenas esportivas. Policiais militares transgridem ínfimas leis para oprimir professoras que desejam se manifestar em arena contra o golpe de estado em curso.
A cerimônia transcorre apática, dirigida à política do anódino, obediente à blitzkrieg endoidecida para preservar a “integridade” do golpe. Fracos diante da máquina de moer sonhos, esportistas e artistas se movem como o grande rebanho big brother aboiado pela Rede Globo aqui no país tropical abençoado pelo golpe. Até que Elza adentra a arena, já bastante machucada pelo tempo e pela violência cotidiana disparada preferencialmente contra as carnes mais baratas do mercado branco.
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Sentada impávida rodeada por três jovens mulheres de carne negra e cabelos black power, Elza não faz nada mais, nada menos que ressuscitar o “Canto de Ossanha” de 1966, ano 2 da ditadura civil-militar de 1964.
Irmã preta da “Maria Moita” (1964) de Nara Leão (e Vinicius e Carlos Lyra), Elza devolve a voz à voz feminina que foi suprimida da “grande” “festa” dos “homens” “atléticos”: Dilma Rousseff.
“Amigo sinhô, saravá, Xangô me mandou lhe dizer/ se é canto de Ossanha não vá, que muito vai se arrepender/ pergunte pro seu Orixá, o amor só é bom se doer”, avisa Elza, a mandinga feminina resplandescente contra as ditaduras masculinas onde tudo o mais ensaia se calar.
O preço da traição será enorme para todos os pactuares do corte, adverte a mandingueira soberana. O semblante de Temer, sombrio por inúmeros motivos, é a prova viva de que a melhor de todas as cartas abertas chegou a seu destinatário. Nem precisávamos mais das vaias.

(p.s.: Todas nós, brasileiras que precisamos de democracia, temos um grito uníssono de celebração para acalentar o triste início dos Jogos da Exclusão e da Vergonha: viva Elza Soares!)

Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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 Nota: observem que a edição da apresentação de Elza Soares sabotou a grande intérprete: corte, som reduzido, locutor interrompendo...  Isso é o que a Globo faz!
Glauco Gouvêa

Gilmar Mendes e a quebra da legalidade

Gilmar Mendes e a quebra da legalidade

A elites econômicas sempre tiveram a seu dispor juristas competentes para "corrigir" o processo eleitoral
por Roberto Amaral publicado 12/08/2016 13h45
José Cruz / Agência Brasil
Gilmar Mendes
Gilmar Mendes: ele sabe o que faz
O presidente do TSE, o inefável ministro Gilmar Mendes, após inexplicado café da manhã com a cúpula do PSDB, determinou a abertura de processo com vistas à cassação do registro do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido da atual presidente da República e do ex-presidente Lula, enfim, partido que ganhou as quatro últimas eleições presidenciais.
A proscrição de um partido politico não é fato trivial em uma democracia. Na República inaugurada em 1946, no governo do Marechal Dutra e no auge da Guerra Fria, foi cassado o registro do Partido Comunista do Brasil que emergiria após mais de uma década de clandestinidade elegendo pouco mais de uma dezena de deputados federais e um senador (Prestes).
A exclusão dos comunistas do sistema político-partidário é consumada em janeiro de 1948, com a cassação dos mandatos de todos os parlamentares. Em seguida, o Brasil rompe relações diplomáticas com a União Soviética, caminhando para além das recomendações do Departamento de Estado dos EUA.
A última vez em que tivemos cassação de partidos políticos – e foram todos os de então – ocorreu com o Ato Institucional nº2, de 1965, sustentado pelas baionetas do regime castrense.
O ministro Gilmar Mendes, “aquele que não disfarça”, é relator das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff. Apesar de aprovadas essas contas, o ministro, militante irresignado, continua pedindo apurações, determinando diligências.
Foi também esse ministro o relator do mandado de segurança interposto pela advogada Marília de Paula Silveira – (professora do Instituto do qual o ministro é sócio majoritário) – com pedido de liminar, por ele concedido, impedindo a posse de Lula na chefia da Casa Civil da presidente Dilma e assim interferindo, direta e deliberadamente, na crise politica, visando ao seu agravamento e a uma saída contra o governo Dilma.
Não estamos diante de fato isolado, mas da demonstração de como o STF, por um de seus membros e agora presidente do TSE, participa, como ator, do golpe de Estado atípico em curso hoje no Senado Federal.
A iniciativa do ministro é concertada na primeira instância com iniciativas que – desde Sergio Moro até um juiz anônimo de uma vara federal do Distrito Federal, passando pelo Ministério Público de São Paulo – visa a, depois da humilhação e do linchamento moral, de que se encarregou a grande mídia, transformar Lula em réu, em condenado, em presidiário, afastando-o de qualquer possibilidade de disputa das eleições prometidas para 2018.
O golpe quer garantias de longevidade. Aliás – e eis um segredo de polichinelo – Lula já está, e de há muito, condenado, e para sua prisão já foi preparada a opinião pública; resta engendrar a acusação e organizar o processo.
Na insaciável fome de poder do novo Moloch não basta, portanto, a apropriação do mandato de Dilma Rousseff; mesmo ainda não concluída a manobra do impeachment, os presumidos novos donos do poder já cuidam de evitar o retorno dos decaídos.
Se é impossível derrotá-los seguindo o rito democrático das eleições, eliminem-se Lula e o PT. Se é impossível afastá-los da liça, elimine-se o processo eleitoral. É preciso liquidar o PT e jogar ao mar suas cinzas para que jamais renasçam, seja ele mesmo, seja o que chegou a representar no processo político brasileiro, incluídas as lutas sociais e sindicais e a organização popular pós-ditadura.
Esse é o preço antecipadamente cobrado para que tenhamos as eleições de 2018, porque essas terão de ser eleições consagradoras do status quo: o projeto neoliberal-conservador não pode ter sua continuidade ameaçada pela soberania popular.
O sistema tem viva a memória de 1965, quando o varguismo golpeado em 1954 retornou ao poder com as eleições de Juscelino e Jango.
Eleições sim, mas apenas com segurança.
O que fazer, porém, com as regras do jogo democrático? Às favas com elas, como louvava o coronel Jarbas Passarinho, recomendando ao general Costa e Silva a assinatura do Ato Institucional nº5, conhecido como ‘o golpe dentro do golpe’.
O honrado senador Cristovam Buarque (com quem tive a honra de integrar o primeiro ministério do presidente Lula, não sei se ele ainda se lembra disso), na companhia de seus agora colegas Romero Jucá e Ronaldo Caiado, dirá que tudo isso está na ordem natural das coisas, lembrando um certo personagem de Voltaire: "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis".
Só não vê o curso do golpe quem não quer. Ou quem não pode vê-lo para não entrar em crise com o próprio passado. E o golpe que nos assusta não é apenas este que se apresenta ameaçando efetivar a troca da presidente eleita por um vice perjuro e sem voto, porque o golpe é isto que se expõe à luz do dia, mas é também o que se escamoteia, o que se sonega, o que está por vir e que apenas se insinua nos atos do governo interino: a regressão social, a regressão política, a regressão econômica, a regressão conservadora. Enfim: a busca retroativa do passado travestido de modernidade.
Henrique Meirelles
Henrique Meirelles: ele tem uma missão (Foto: Valter Campanato / Agência Brasil)
O golpe em curso se distancia do putsch e da quebra da legalidade, o que, aliás não representa qualquer novidade em nossa história, pois as elites econômicas sempre dispuseram de juristas competentes todas as vezes em que tiveram de intervir para ‘corrigir’ o processo eleitoral, pois o nosso presidencialismo admite eventuais vitórias de representantes de forças populares dissociadas do bloco hegemônico.
Esse golpe, contrariando o modelo clássico, não veio de surpresa, nem lançou mão da violência clássica. Tampouco se construiu de uma vez; é golpe de caráter continuado, que se instala através de manobras sucessivas, peça por peça, que, começando pela tomada do poder político, caminhará para a construção de uma nova hegemonia, conservadora, nos planos político e econômico.
Cuidadosamente planejado, instala-se como uma efetiva sedição levada a cabo nas entranhas do poder. Na busca do formalismo legal (os autores dos golpes, de todos os golpes em todo o curso da história, deles se envergonham), o golpe adquire sua feição transformista com a roupagem do impeachment, mas de um impeachment sem o crime de responsabilidade exigido pela Constituição, num julgamento de cartas marcadas, com votos já negociados e já anunciados.
É o velho e sonhado projeto político-empresarial que, com o concurso de setores majoritários do Poder Judiciário (em suas diversas instâncias, inclusive no STF) e de setores da burocracia estatal e do Ministério Público Federal, objetiva a remoção de um governo legítimo, derivado do voto e comprometido com os interesses populares, e sua substituição por um arranjo das elites para pôr em prática, projeto em curso, uma agenda antipopular que nenhum candidato defenderia em campanha eleitoral, e cuja efetivação – quem viver verá — exige um governo autoritário amparado por uma ordem legal adequadamente revista, como, aliás, já vivemos mais de uma vez, na história republicana.
É a promessa de uma ‘ditadura de novo tipo’, como primeira consequência do golpe parlamentar. Do pacto de elites receberá o apoio estrutural necessário, enquanto os meios de comunicação assegurarão o monopólio ideológico, fechando o círculo.
No altar desse pacto governante brilha o poder do chamado “mercado”,  o ‘Rei sol’ da modernidade,  agente político sem carteira de identidade, sem CPF, sem residência conhecida, sem rosto, mas (por isso mesmo?) onipresente, poderoso, vigilante, fazendo efetivos seus interesses de classe. O projeto, de hoje e de sempre, não é necessariamente a presidência da República – o poder simbólico –, que pode ser exercido por delegação (como, aliás, ocorre nesta interinidade), mas o poder real, que já abocanhou com garras e presas e dele não se deixa apartar, como a hiena faminta que não abandona a presa.
É o controle do Ministério da Fazenda e suas adjacências, do Banco Central, do comércio externo, abocanhado pelo delatado chanceler, eterno presidenciável.
O ‘primeiro-ministro’ desse parlamentarismo de conveniência é o banqueiro goiano assalariado da banca internacional, Henrique Meirelles, cuja missão (ele cumpre missão, não se trata de sujeito histórico), anunciada, é um programa que compreende juros altos, ajuste rigoroso para os pobres e facilidades para o 1% que controla a avenida Paulista, livre fluxo de captais, flexibilização dos direitos trabalhistas e mais restrições aos aposentados, revisão das politicas de compensação social, desarticulação da escola pública, fragilização do Estado e desnacionalização da economia – a começar pela desmontagem do pré-sal.
Enfim, trata-se da implantação de governo que, como a gestão Campos-Bulhões de 1964, só pode ser sustentado por um regime burocrático-autoritário, naquele momento uma ditadura franca, agora, uma ordem constitucional ‘revisitada’ que dispensará a voz das casernas.
O que nos espreita no horizonte a olho nu é algo mais profundo, mais sério e ameaçador do que uma tradicional troca de guarda. Entre o céu e a terra há algo mais que a troca de Dilma por Termer. De uma forma e de outra, sem que a soberania brasileira tenha sido ouvida, perpetra-se o fim do Estado de bem-estar social prometido pela Constituição de 1988.
Leia mais em www.ramaral.org


Fonte: Carta Capital

Isso é o que eu chamo de grande desrespeito aos aposentados. A Previdência não tem déficit. Consultem a Auditoria Cidadã da Dívida. TERRORISMO, NÃO!

Ministro ameaça cortar aposentadoria se não houver reforma da Previdência

Yahoo Notícias12 de agosto de 2016


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O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse, em vídeo divulgado hoje (12) por sua assessoria, que, sem uma reforma da Previdência Social que possibilite amenizar os déficits que vêm sendo registrados, “não vai haver mais a garantia do recebimento da aposentadoria” pelos beneficiados. O vídeo foi publicado na página do Gabinete Civil no Facebook.
“A reforma da Previdência é indispensável para que o Brasil volte a ter confiança, seja no mercado interno ou externo. O déficit da Previdência em 2015 foi R$ 86 bilhões. Em 2016, foi R$ 146 bilhões, e, em 2017, entre R$ 180 e R$ 200 bilhões. Isso não pode continuar sob pena de não conseguir mais pagar a aposentadoria”, disse o ministro. “Então, tem de mudar para preservar, porque se não mudar, não vai haver mais a garantia do recebimento da aposentadoria”, afirmou.
Segundo o ministro, as mudanças defendidas pelo governo não vão colocar em risco os direitos já adquiridos pelos trabalhadores. “Ninguém perderá nenhum direito adquirido. Não precisa correr para o posto do INSS. Todo mundo terá o seu direito preservado. Não perderá absolutamente nada”, finalizou Padilha.
Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil
Foto: Marceo Camargo/ Agência Brasil

Até Joaquim Barbosa reconhece que houve GOLPE e afirma que o grupo tomou o poder o fez para se proteger das investigações em curso e “continuar roubando”.

Serra comanda um novo golpe, agora no Mercosul

Serra comanda um novo golpe, agora no Mercosul

O tucano pressiona o governo Maduro, mas deveria se espelhar na sua oposição, que busca as urnas e não o golpismo
por Jean Wyllys publicado 10/08/2016 09h52
Wilson Dias / Agência Brasil
José Serra e Michel Temer
Serra e Temer: a dupla pressiona a Venezuela
O chanceler golpista José Serra não consegue se conter em seus impulsos antidemocráticos. Mesmo denunciado por Marcelo Odebrecht na Operação Lava Jato, pelo suposto recebimento de 23 milhões de reais de forma ilegal e corrupta, o ministro interino tenta articular – por simples oportunismo e com argumentos para lá de desonestos intelectualmente – um atropelo aos acordos feitos pelos países do Mercosul, com o intuito de prejudicar a Venezuela, evitando que assuma a presidência temporária do bloco, que é rotativo.
Um dos "argumentos" de Serra é o de que a Venezuela não teria cumprido com o rito de internalização dos acordos feitos no Mercosul, dando ênfase ao Protocolo de Ushuaia, que é um acordo de respeito à democracia, celebrado em 1998 e, depois, reafirmado em 2011, associando o respeito aos direitos humanos como condição das liberdades democráticas.
Ora, trata-se do roto falando do esfarrapado, para dizer o mínimo da hipocrisia de José Serra. Nenhum país internalizou todos os acordos até hoje, inclusive o Brasil, que tem até certa tradição em não incorporar toda a base legal do Mercosul.
Quanto ao Protocolo de Ushuaia, sobre o respeito à democracia, a Venezuela não internalizou o primeiro protocolo porque não fazia parte do bloco na época, mas já internalizou o segundo, que também trata dos direitos humanos e que é bem mais avançado que o primeiro.
Já o Brasil se nega a discutir este segundo, ainda mais agora em tempos de golpe parlamentar contra nossa democracia. Além disso, o Brasil é destaque mundial em diferentes violações de direitos humanos, seja de povos indígenas, de populações pobres e periféricas, mulheres e população LGBT. Será que o ministro golpista não sabe disso?
Será que seus assessores não sabem disso? Duvido. A desonestidade intelectual do chanceler interino é, portanto, flagrante. Sem falar que quem participou de um golpe contra 54 milhões de votos não tem moral para acusar a Venezuela de antidemocrática.
Dentre os demais países do Mercosul, o que vem se afinando mais explicitamente com essa política mesquinha de Serra é o Paraguai. Esse posicionamento se explica por dois motivos: 1) primeiro, tendo aquele país sofrido anos atrás um golpe institucional-parlamentar bem semelhante ao que atravessamos, natural que o governo de lá se alinhe aos golpistas daqui;
2) segundo, pelo tratamento torpe que o ruralismo plutocrata confere ao Paraguai, considerado pelos grandes latifundiários e grileiros fronteiriços como apenas uma extensão de seus enormes quintais (o que inclui o extermínio de povos indígenas guaranis, vítimas de pulverizações aéreas de agrotóxicos e de balas, mesmo), não parece estranho o Paraguai se aliar a José Serra.
Enquanto isso, o governo argentino de Macri se posta confortavelmente em cima do muro e opera um apoio discreto à posição de Serra.
Esse é o momento dos parlamentares do ParlaSul denunciarmos a hipocrisia e o golpismo do governo "interino" de Temer. Concordemos ou discordemos das políticas internas do governo venezuelano (eu mesmo sempre critiquei duramente os desvios antidemocráticos de Maduro e muitas de suas políticas, com as quais discordo), este foi eleito em um pleito mais do que fiscalizado pela comunidade internacional.
O (péssimo) hábito de desconsiderar o que a maioria da população decide nas urnas não pode virar produto de exportação made in Brasil.
Aliás, a situação atual da Venezuela é um espelho interessante para o Brasil se olhar. O governo Maduro é um desastre e levou o povo venezuelano a uma situação de calamidade social e econômica, polarização política, autoritarismo e caos (não sem a contribuição da plutocracia venezuelana e de uma parte da oposição, a mais radicalizada do lado direito, que também promoveu a violência e o caos e ajudou a desestabilizar o país).
Hoje, a maioria da população quer a saída de Maduro, que perdeu as últimas eleições legislativas. Contudo, as principais lideranças atuais da oposição, com maioria folgada no parlamento, não promovem um golpe, como fez a oposição de direita no Brasil.
Recorrendo a um instrumento incorporado na Constituição pelo chavismo (o referendo revogatório) a oposição reuniu milhares de assinaturas e está solicitando que seja realizado um plebiscito para que o povo decida sobre a continuidade de Maduro. Tudo dentro da lei e da Constituição desse país, sem golpes ou manobras e de forma democrática. 
O povo vai decidir.
Exatamente o contrário do que os golpistas brasileiros fizeram, inventando um crime de responsabilidade inexistente para afastar a presidenta com uma maioria artificial no parlamento e colocando um presidente interino sem votos e sem apoio popular.
Por isso, mesmo não gostando do governo Maduro, não posso deixar de denunciar a hipocrisia de Serra e a ilegitimidade de suas intenções. Ele é o menos indicado para falar.

Fonte: Carta Capital

Coisas do Brasil: um ministro, a mulher vice-governadora e a filha deputada.


Após gafe, ministro da Saúde leva 'puxão de orelha' da filha

Maria Victoria Borghetti Barros (PP), candidata à Prefeitura de Curitiba, lembrou que mulheres trabalham em média 5h a mais que homens

As declarações do ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), de que os homens vão menos ao médico porque “trabalham mais”, levaram a própria filha do político, a deputada estadual Maria Victoria (PP-PR), a se manifestar. Em vídeo publicado em sua conta na rede social Facebook na noite desta quinta-feira (11), ela disse que precisou dar um "puxão de orelhas" no pai.
A deputada estadual Maria Victoria Borghetti Barros
A deputada estadual Maria Victoria Borghetti Barros
Foto: Giuliano Gomes/Futura Press
"Por mais que haja dados absolutos de que há maior número de homens no mercado formal de trabalho, o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] afirma que as mulheres trabalham em média cinco horas a mais na semana do que os homens. Portanto, é uma jornada de trabalho mais longa", destacou.A parlamentar se referia aos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2014. Conforme o levantamento, apenas no trabalho doméstico, a jornada feminina, de 20,6 horas, é mais do que o dobro da observada para os homens, de 9,8 horas por semana.
Maria Victoria lembrou ainda o fato de profissionais do sexo feminino serem submetidas a jornadas duplas quando voltam para casa. Considerando a “dupla jornada”, elas trabalham em média 56,4 horas semanais, contra 51,6 horas deles. “Não é isso, mulherada?”, perguntou, ao final do vídeo.
O ministro fez as afirmações durante o anúncio da criação de um plano para aumentar as estatísticas de atendimento a homens na rede pública de saúde do Brasil. “Eu acredito que é uma questão de hábito. Os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para a saúde preventiva. Isso precisa ser modificado”, disparou. Barros é casado com a vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP), que até o momento não se pronunciou sobre o tema.
Rejeição ao feminismo
Curiosamente, a deputada, candidata à Prefeitura de Curitiba, costuma rejeitar o feminismo, movimento que, em suas diferentes vertentes, defende os direitos humanos das mulheres. Questionada sobre a questão pela reportagem do Terra em convenção de seu partido, no dia 4 de agosto, ela falou que “de maneira alguma” se coloca como feminista. “Eu sou a favor da equidade de gênero. A mulher e o homem são diferentes, e isso é muito positivo. Os dois têm de trabalhar juntos”, respondeu.
A pepista criticava, na ocasião, a subrepresentação feminina da política. “É muito baixa. Só 9% (de parlamentares) no Congresso Nacional, apesar de fazermos muitas campanhas de incentivo à mulher ingressar na política, porque a mulher tem uma inteligência emocional que pode ser muito favorável em qualquer profissão, mas principalmente na política, por esse carinho e vontade de cuidar e servir ao próximo”.

Mães da Praça de Maio completam 2.000 marchas acompanhadas por multidão em Buenos Aires

Mães da Praça de Maio completam 2.000 marchas acompanhadas por multidão em Buenos Aires


'Vir aqui todas as quintas é um ato de amor', disse Hebe de Bonafini; ativistas marcham desde 1977 por memória, verdade e justiça para vítimas da ditadura
Atualizada às 19:07
As Mães da Praça de Maio, associação que reúne mães e familiares de desaparecidos da ditadura militar argentina (1976-1983), realizaram nesta quinta-feira (11/08) sua 2.000ª marcha semanal na praça de Buenos Aires que lhes dá nome.
As Mães foram acompanhadas por milhares de pessoas e pediram pela 2.000ª vez por memória, verdade e justiça para as vítimas da ditadura. “Vir aqui todas as quintas-feiras é um ato de amor”, disse Hebe de Bonafini, líder da associação, em discurso durante o evento.
"Este país deve aos desaparecidos uma explicação", continuou Bonafini. "Vamos ter que encher muitas praças para essa reivindicação". A ativista também destacou os governos de Néstor e Cristina Kirchner e afirmou que o kirchnerismo "nos deu 12 anos de felicidade".
Twitter / Prensa Madres

Hebe de Bonafini discursa diante de multidão que acompanhou marcha número 2000 das Mães da Praça de Maio
Antes da marcha histórica, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner visitou a sede da associação e almoçou com as Mães. “Naquela época tão dura ninguém se animou [a lutar] mais do que elas”, disse Cristina, acrescentando que as ativistas “falam como se estivessem para completar 20 anos de idade e falam das quintas-feiras [as marchas passadas] como se fosse ontem”.
A primeira marcha das Mães foi realizada no dia 30 de abril de 1977, ano seguinte à instauração do regime militar liderado por Jorge Videla. Desde então, elas se reúnem todas as quintas-feiras na Praça de Maio e marcham ao redor da Pirâmide de Maio, monumento do local.
A 2.000ª marcha das ativistas foi realizada nesta quinta-feira em meio à controvérsia entre a Justiça argentina e Bonafini, investigada em caso sobre desvio de fundos no programa de moradias sociais Sueños Compartidos. O juiz Marcelo de Martínez de Giorgi determinou e depois retirou uma ordem de prisão contra a líder da associação, depois de ela ter se recusado a comparecer a duas audiências para ser interrogada sobre o caso.
 

'Na minha família faltava uma peça, e essa peça era eu', diz 120º neto das Avós da Praça de Maio

Em visita, Kerry entrega a Macri documentos norte-americanos sobre ditadura argentina

Kissinger agiu para evitar fim de repressão da ditadura militar argentina, indicam documentos

 
A expedição da ordem de prisão contra Bonafini, que tem 87 anos, causou clamor entre argentinos e ativistas por direitos humanos por todo o mundo. Na quinta-feira (04/08), após a expedição da ordem de prisão, uma multidão se reuniu na Praça de Maio em solidariedade a Bonafini. Os manifestantes formaram um cordão de proteção ao redor da ativista e a acompanharam até a sede da associação, diante da qual se postaram para impedir sua prisão. A manifestação popular fez fracassar as duas tentativas da polícia federal de prendê-la, segundo a Télam.
Twitter / Prensa Madres

Cristina Kirchner ao lado de Hebe de Bonafini e das Mães da Praça de Maio na sede da associação
O juiz Martínez de Giorgi compareceu nesta quarta-feira (10/08) na sede da associação para interrogar Hebe de Bonafini, que assinou a ata do interrogatório mas se negou a responder às perguntas do magistrado. O trâmite judicial que envolve Bonafini, portanto, foi concluído, segundo o jornal argentino La Nación.
Também nesta quarta-feira, o presidente argentino, Mauricio Macri, declarou em entrevista ao site Buzzfeed que Bonafini está "desatinada". "Na Justiça do século 21 temos que ser iguais perante a lei, mas ela [Bonafini] não pensa dessa maneira; há anos não falo com ela, ela está desatinada", disse o presidente, em declaração que foi repudiada por organizações e ativistas de direitos humanos da Argentina. "Enquanto Hebe e as outras Mães lutaram com valentia, Macri e os seus comiam da mão assassina. Que tenha um pouco mais de respeito, ou ao menos que se cale", disse Rodolfo Yanzón, advogado especialista em casos relacionados ao terrorismo de Estado durante a ditadura argentina, ao jornal Página/12.
Após a visita às Mães da Praça de Maio, Cristina Kirchner foi questionada pela imprensa argentina sobre a declaração de Macri. "Hoje é um dia feliz demais, quero falar sobre Hebe", disse a ex-presidente, que classificou a ativista como "um exemplo". "Ela tem uma vitalidade única, é comovente", afirmou Cristina. 

Procuradores da Suécia vão interrogar Julian Assange em embaixada do Equador em Londres


Procuradores da Suécia vão interrogar Julian Assange em embaixada do Equador em Londres


Data para audiência deverá ser fixada nas próximas semanas; fundador do WikiLeaks está refugiado em representação diplomática há quatro anos
O Equador permitirá que procuradores da Suécia interroguem Julian Assange, fundador da organização WikiLeaks, em sua embaixada em Londres, onde o jornalista está refugiado desde 2012.
“De acordo com os termos estabelecidos no Acordo de Assistência Legal Mútua em Matéria Penal entre Equador e Suécia, a Procuradoria-Geral do Estado notificou à Procuradoria do Reino da Suécia sua disposição de dar trâmite ao interrogatório de Julian Assange na Embaixada do Equador em Londres”, declarou o Ministério das Relações Exteriores do Equador em umcomunicado.
Agência Efe

Julian Assange em entrevista coletiva com jornalistas em Londres
A chancelaria do país sul-americano informou também que, nas próximas semanas, será fixada uma data para a audiência.
Assange, de 44 anos, é investigado por suspeita de abuso sexual em menor grau. Ele nega as acusações e se diz perseguido pela justiça sueca.

EUA estudam punir Chelsea Manning com cela solitária por tentativa de suicídio na prisão

Sistema da campanha de Hillary Clinton também foi hackeado, diz equipe da candidata democrata

Brasileiros no exterior vão às ruas em atos 'Fora Temer' e contra impeachment de Dilma Rousseff

 
O jornalista está refugiado na embaixada equatoriana em Londres desde 2012, para evitar sua extradição para a Suécia. De lá ele teme ser enviado aos EUA, onde poderia enfrentar um julgamento militar pelos mais de 90 mil documentos vazados pelo Wikileaks sobre a Guerra do Afeganistão e os quase 400 mil relatórios publicados detalhando as operações dos EUA no Iraque.
Em maio desde ano, a Justiça sueca decidiu manter a ordem de detenção ditada em 2010 contra Assange.
A nota do Equador informa também que o governo de Rafael Correa “reitera a vigência do asilo concedido ao cidadão australiano Julian Assange em agosto de 2012 e reafirma que a proteção do Estado equatoriano subsistirá enquanto persistirem as circunstâncias que levaram à concessão do asilo, em particular o temor de sofrer perseguição política”.

FIDEL, BOLIVARIANO E MARTINIANO

Fidel, bolivariano e martiNIano

Angel Cabrera

Neste sábado, 13 de agosto, Fidel Castro Ruz (Birán, Holguín, Cuba, 1926) fará 90 anos. É impossível nesse espaço enumerar a diversidade de áreas e importantes epopeias revolucionárias das quais ele participou. Por isso, longe de querer esgotar o tema, me concentrarei no seu pensamento latino-americanista, sua irredutível solidariedade com a libertação da América Latina e do Caribe e com a conquista de sua unidade e integração.

Aos 21 anos, Fidel, membro do Comitê Universitário para A Libertação de Santo Domingos, participou da frustrada expedição anti-Trujillo, de Cayo Confines (1947). Um ano depois, no "bogotazo", empunhou armas ao lado dos seguidores de Jorge Eliecer Gaitán. Encontrava-se, então, na capital colombiana organizando um congresso continental de estudantes, que se pronunciaria pela independência de Porto Rico, a devolução ao Panamá pelos Estados Unidos da área do Canal, a reintegração das Ilhas Malvinas à Argentina e contra as ditaduras militares ao sul do Rio Bravo, especialmente a de Trujillo na República Dominicana. O jovem cubano havia conquistado a liderança do comitê organizador da reunião de estudantes, que se colocava na direção oposta à da 9ª Conferência Pan-americana, que acabaria na criação da nefasta Organização dos Estados Americanos (OEA) e adotaria instrumentos de subordinação ao vizinho do norte, contando, entre outras coisas, com a cumplicidade incondicional dos representantes dos governos ditatoriais que havia imposto na região.

Fato simbólico, a OEA, sob enormes pressões e outras manhas de Washington, expulsou de seu seio a Cuba revolucionária (Punta del Este, Uruguai, 1962) e, ao passo de algumas décadas, o clamor unânime dos governos da região (San Pedro Sula, Honduras, 2009), acabou revertendo essa medida.

O governo cubano reiterou que não regressaria à OEA – seria um despropósito –, mas isso não nega a grande carga política do reconhecimento e da dignidade de Cuba, liderada por Fidel, embutida naquela decisão.

Foi precisamente a exclusão da Ilha do organismo que deu condições para que o então primeiro-ministro submetesse a Segunda Declaração de Havana (1962) para a aprovação – clamorosa – da Assembleia Geral Nacional do Povo de Cuba. Um documento essencial na história de nossos povos, que dá continuidade à Carta da Jamaica (1815), de Simon Bolívar e ao ensaio Nuestra América (1891), de José Marti.

Nela está postulado: "Nenhum povo da América Latina é fraco, porque faz parte de uma família de 200 milhões de irmãos que padecem das mesmas misérias, abrigam os mesmos sentimentos, têm o mesmo inimigo, sonham todos com um melhor destino e contam com a solidariedade de todos os homens e mulheres honrados do mundo inteiro".

Discípulo dedicado e consequente de Bolívar e Marti, esse conceito de fraternidade e união da nossa América formou parte do núcleo principal do pensamento político de Fidel desde os dias ancestrais de Cayo Confites e o “bogotaço”.

A Revolução Cubana, cuja profunda repercussão planetária é indiscutível, desencadeou um ciclo de lutas populares, revolucionárias e pela unidade e integração da América Latina e do Caribe que ainda não se concluiu, tampouco se concluirá no futuro próximo. "Quando falamos de humanidade pensamos, em primeiro lugar, nos nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, aos que não esqueceremos nunca e, depois, no resto dessa humanidade que habita nosso planeta", disse o Comandante. Inspirada por ele, Cuba foi sempre solidária com as lutas de todos os povos da Terra e, em particular, com as de nossa região.

Foi nela que apoiou as lutas das massas e, quando foi preciso, deu, àqueles que escolheram a via armada, toda a sua solidariedade e o sangue de alguns de seus melhores filhos. Estendeu sua mão amiga aos militares patriotas, desde Turcios Lima, em Guatemala; passando por Caamaño, na resistência dominicana contra a invasão ianque; ao governo nacionalista de Velasco Alvarado no Peru; e à luta dos panamenhos, com Omar Torrijos à frente, pela devolução do canal.

Desafiando o plano descomunal de Washington para derrubá-lo, Fidel e toda Cuba forneceram um apoio extraordinário para o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende, amigo sincero, na primeira experiência de libertação nacional e socialista pela via política em nossa América.

Daquela experiência, Fidel concluiria: “Nem povo sem armas, nem armas sem povo”.


Fonte: La Jornada, reproduzido em