domingo, 30 de abril de 2017

SOBRE A VERDADE MUTANTE

SOBRE A VERDADE MUTANTE
Sebastião Costa*


Resposta ao artigo “A verdade mutante”, de Lena Guimarães, publicada no Correio da Paraíba de 30/04/2017, domingo, João Pessoa, Paraíba


A verdade que não muda nunca, Lena Guimarães, é a mídia brasileira em conluio explícito com a burguesia nacional, derrubando todos os governos comprometidos com os avanços sociais e a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.

‘Suicidaram’ Getúlio, foram em busca dos quepes e botinas para golpear Jango, e apelaram ao mega corrupto Eduardo Cunha e sua turma -  Cajús, Mineirinhos e Angorás -, para destituir uma presidenta legitimamente eleita em eleições livres e democráticas, por mais de 54 milhões de brasileiros.

Juntaram num mesmo malote, um magote de traidores, um bando de conspiradores e uma corja de corruptos com a participação efetiva da senadora golpista Ana Amélia       (PP-RS).

E a senhora ainda tem a ousadia de reproduzir a toleima cara-de-pau da senadora gaúcha: "O PT não soube governar, se soubesse teria governado por 40 anos".

Como, então, senhora jornalista, se a FIESP (vaquinha de 500 milhões para comprar votos dos deputados), a banca, o capital financeiro internacional e a rede Globo estavam na jogada?

Essa galera aí tem experiência e competência, ‘grande’ jornalista!

De quebra, o auxílio luxuoso do Supremo que só julgou o megacorrupto Cunha (o seu  processo dormiu 4 meses nas gavetas do STF) depois do golpe.

Perdão, ‘grande’ jornalista, mas entre os seus leitores, tem pessoas que conhecem a 'verdade mutante' do Brasil.


*  Médico pneumologista


Em tempo: nas redes sociais e na mídia independente, fala-se muito do governo Temer agradando o bolso de donos de jornais, revistas e rádios pelo Brasil afora.

A MAIORIA É CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

A maioria é contra a reforma da previdência


Para pressionar os parlamentares a votar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de "reforma" da Previdência, foi lançado o site Placar da Previdência. Criado por jornalistas, ativistas digitais, hackers com entidades do movimento social e sindical.

A ferramenta possibilita o envio de mensagens para todos os e-mails e Twitter dos deputados indecisos e favoráveis à reforma, com o pedido para que o parlamentar vote contra mudanças nocivas à classe trabalhadora.

Aos que se declararam contrários, mensagens de apoio também podem ser enviadas.

Ao encerrar o mês de abril, 118 deputados se posicionam a favor da PEC 287, enquanto 261 se declaram contrários e 131, indecisos.

São necessários 308 votos na Câmara para se aprovar uma emenda à Constituição.

De acordo com os produtores do site, em um momento de crise e alto índice de desemprego "não é hora de mudar as regras da previdência e somente com muita pressão nas redes e nas ruas a proposta do governo Temer será derrotada".

O mesmo tipo de recurso foi utilizado durante a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Entretanto, diferente da ocasião passada, já está consolidada na população a narrativa de que a mudança será nociva ao trabalhador, como apontam as últimas pesquisas.

Outra evidência da derrota de Temer com o projeto foram as peças publicitárias produzidas pelo governo que mentiam sobre o rombo da Previdência e chegaram a ter a veiculação proibida.

Além disso, para passar o projeto no Congresso, o governo ilegítimo negocia cargos e verba publicitária em troca de apoio para aprovar o texto.

Além disso, o governo conta com amplo apoio do noticiário distorcido e desequilibrado da imprensa comercial.


GILMAR MENDES MANDA SOLTAR EIKE BATISTA

Gilmar Mendes manda soltar Eike Batista


Ministro concedeu liminar em HC para suspender prisão preventiva do empresário.

O ministro Gilmar Mendes, do STF, deferiu liminar em Habeas Corpus para suspender os efeitos da ordem de prisão preventiva de Eike Batista, decretada pelo juízo da 7ª vara federal Criminal do Rio de Janeiro.

Em análise preliminar do caso, o ministro verificou a ocorrência de constrangimento ilegal na custódia do empresário.

No exame do pedido, Gilmar Mendes assinalou que os crimes dos quais o empresário é acusado são graves “não apenas em abstrato, mas em concreto”, e ele foi preso pela suposta prática de corrupção ativa, por oferecer e pagar vantagem indevida ao então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, “no astronômico valor de US$ 16,5 milhões”.

Eike é ainda suspeito de praticar lavagem de dinheiro por meio de contratos internacionais de prestação de serviços de consultoria forjados.

Apesar da gravidade, Gilmar Mendes ressaltou que os fatos são consideravelmente distantes em relação à data de decretação da prisão preventiva, pois teriam acontecido entre 2010 e 2011.

Segundo o relator, Eike não é acusado formalmente de manter relacionamento constante com a suposta organização liderada por Sérgio Cabral. “Pelo contrário, a denúncia não lhe imputou o crime de pertencer a organização criminosa”, afirmou, ressaltando como relevante o fato de que os crimes estariam ligados à atuação de um grupo político atualmente afastado da gestão pública.

O argumento segundo o qual o empresário teria agido para embaraçar a instrução criminal, por meio de acerto de versões com outros investigados, também foi afastado pelo ministro.

“Entre o suposto concerto de versões e a decretação da prisão preventiva decorreu lapso temporal considerável – mais de ano. Não há notícia de que o investigado tenha adotado ulterior conduta para encobrir provas, além de eventualmente ter participado de reuniões”.

Ainda segundo Gilmar Mendes, a denúncia foi formalmente apresentada sem que se tenha demostrado o potencial de Eike Batista de posterior influência na instrução processual.

Gilmar destacou ainda que, pelo fato de o empresário ser acusado de corrupção ativa, não há, em princípio, possibilidade de manutenção de recursos ocultos provenientes dos crimes em questão. “Dessa forma, o perigo que a liberdade do paciente representa à ordem pública ou à instrução criminal pode ser mitigado por medidas cautelares menos gravosas do que a prisão.”

Ao suspender os efeitos da ordem de prisão, a decisão determina ao juízo de primeiro grau que analise a necessidade de aplicação das medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal, acompanhando sua execução.


A "OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA" NA VENEZUELA: PIOR QUE O FASCISMO,


Atílio Borón*


A sequência de eventos que ocorre na República Bolivariana da Venezuela mostra que a estratégia da chamada "oposição democrática" é uma conspiração sediciosa para destruir a ordem democrática, devastar as liberdades civis e fisicamente aniquilar as principais figuras do chavismo, começando com o próprio presidente Nicolás Maduro, sua família e entorno afetivo próximo. Oponentes estão metodicamente atravessando os passos indicados pelo manual desestabilizador "Sem violência estratégica" (sic!) do consultor da CIA, Eugene Sharp.

Não pode haver a menor ambiguidade na interpretação das intenções criminosas dessa oposição que, se chegar a ter êxito, seria capaz de colocá-las em ação. Se os seus chefes conseguirem envolver militarmente os Estados Unidos na crise venezuelana, propiciando a intervenção do Comando Sul – com a tradicional colaboração militar dos infames peões de Washington na região, sempre dispostos a respaldar as aventuras de seus amos do Norte – jogariam uma faísca que iria inflamar a pradaria América Latina. As consequências seriam catastróficas, não somente para os nossos povos, senão também para os Estados Unidos, que certamente iriam colher, como na invasão da Baía dos Porcos (Cuba, 1961), mais uma derrota em nossas terras.

Essa é a aposta desta oposição venezuelana, absurdamente exaltada pela imprensa hegemônica mundial. Esta imprensa, como fez antes com os "combatentes da liberdade" na Nicarágua e, em seguida, na Líbia e no Iraque, mente descaradamente ao apresentar o que está acontecendo na Venezuela. A tentação da direita venezuelana de internacionalizar o conflito e envolver o músculo militar do império ganhou força ao conhecer-se as recentes declarações do chefe do Comando Sul, o almirante Kurt Tidd, perante a Comissão das Forças Armadas do Senado dos Estados Unidos e, especialmente, quando tornou-se pública a nomeação de Liliana Ayalde como vice-Chefe Civil do Comando Sul.

Liliana Ayalde serviu como embaixadora dos EUA no Paraguai, às vésperas do "golpe parlamentar" contra o governo de Fernando Lugo, ocasião em que se movia nos bastidores para garantir o sucesso do golpe. Depois de umas breves férias, ela retornou à região para ocupar o mesmo cargo, mas desta vez em Brasília, onde encorajou e apoiou a "derrubada institucional" de Dilma Rousseff. Consumada a sua obra, voltou para os Estados Unidos em busca de novas missões desestabilizadoras e as encontrou no Comando Sul.

Em outras palavras, o número dois dessa organização é muito mais perigoso do que o seu chefe. Ayalde é filha de um médico colombiano radicado nos Estados Unidos, ela é uma temível especialista em demolições políticas e foi designada (certamente por acaso!) para o cargo que hoje ocupa desde fevereiro deste ano, coincidindo com a intensificação dos protestos violentos contra o governo bolivariano. Como pode ser lido no website do Comando Sul, a missão de Liliana é "monitorar o desenvolvimento e aperfeiçoamento da estratégia regional Comando Sul e seus planos de cooperação em matéria de segurança".

O que a oposição "democrática" venezuelana deseja é precipitar uma violenta "transição" ao pós-chavismo, reeditando na pátria de Bolívar e Chávez a tragédia ocorrida na Líbia e no Iraque. Esse é o seu plano, o modelo que se depreende dos discursos violentos, desaforados e irresponsáveis ​​de seus líderes e o que o Comando Sul e a sua tenebrosa vice-chefe tem nas mangas. Poucas designações poderiam ter sido mais apropriadas do que esta de incentivar os setores da Venezuela que defendem a violência. E raras as atitudes seriam mais suicidas do que o governo venezuelano pretender apaziguar os ânimos dos violentos com concessões de vários tipos. Infelizmente, só se poderá ver a luz, como dizia José Martí, se o estado aplicar todo o rigor da lei e apelar à eficácia de sua força para submeter o vandalismo de direita e esmagar o ovo da serpente antes que seja tarde demais.

Fascistas? Sim, por seus métodos, semelhantes aos utilizados por grupos armados de Mussolini e Hitler, para aterrorizar italianos e alemães, semeando a destruição e a morte a partir de uma onda terrorista; fascistas por seu conteúdo político, porque a sua proposta é inerentemente reacionária, ao pretender apagar em um canetaço, como tentou sem sucesso no golpe de 11 de Abril de 2002, todas as conquistas populares alcançadas a partir de 1999.

Fascistas também em função da absoluta imoralidade e falta de escrúpulos de seus líderes, alimentando o fogo da violência, encorajando os seus bandos de lúmpen e paramilitares a atentar contra a vida e a propriedade dos venezuelanos e as agências e instituições do Estado – hospitais, escolas, edifícios públicos etc. –, e que não recuam diante da possibilidade de mergulhar a Venezuela em uma sangrenta guerra civil ou, no caso improvável de prevalecer, transformando o país em um abominável protetorado estadunidense.

Todos os adversários venezuelanos são piores do que os fascistas na medida em que estes mantinham, pelo menos, certo sentido nacional. Os seus congêneres italianos e alemães nem remotamente arrastaram-se na lama da política internacional para oferecer os seus países a uma potência estrangeira, como faz a direita venezuelana, enterrada para sempre na eterna ignomínia. A direita venezuelana, alternadamente choraminga ou uiva para que a sua terra natal, a pátria de Simón Rodríguez e Francisco de Miranda, Simón Bolívar e Hugo Chávez, se torne uma abjeta colônia norte-americana. Tratá-los como fascistas seria fazer um favor a essa gente.

Eles são muito piores e mais desprezíveis do que aqueles.

* Sociólogo e cientista político, escritor e professor da Universidade de Buenos Aires


CUT vence Doria e ato do 1º de Maio está garantido na Paulista

CUT vence Doria e ato do 1º de Maio está garantido na Paulista

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TJ-SP acolheu recurso contra decisão que favorecia o prefeito João Doria (PSDB); O tucano queria proibir o ato organizado pela CUT, CTB, Intersindical e frentes Brasil Popular e Povo sem Medo
Por RBA
O juiz Alexandre David Malfatti, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), acolheu na manhã de hoje (30) recurso da CUT-SP para a realização do ato político do 1º de Maio na Avenida Paulista.
Em sua decisão, Malfatti considera a necessidade de “se dar a isonomia à manifestação da CUT e a outras já ocorridas” ali, “inclusive com a utilização de caminhão de som.”
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Com a decisão, definitiva, o ato político de resistência do 1º de Maio da CUT será realizado avenida Paulista, com concentração a partir das 12 horas.
Na tarde de ontem, o juiz Emanuel Brandão Filho, havia concedido liminar favorável ao prefeito João Doria (PSDB), proibindo o encontro de trabalhadores no local porque “fere as normas municipais”. E estabeleceu multa de R$ 10 milhões em caso de descumprimento.
Para o prefeito tucano, que anunciou a proibição durante a greve geral, na sexta-feira, a Paulista não deve ficar interditada por tempo prolongado. No entanto, desde junho do ano passado, durante a gestão de Fernando Haddad (PT), a avenida passou a ser fechada aos domingos para o lazer da população. E já houve ali inúmeras manifestações de grupos conservadores, aliados a Doria.
Organizado pela CUT, CTB e Intersindical, com o apoio dos movimentos que compõem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, o ato é de luta e resistência contra o maior ataque aos direitos trabalhistas, previdenciários e sociais já ocorridos na história do Brasil.
Após os discursos das lideranças dos trabalhadores, os manifestantes seguirão em caminhada até a Praça da República, na região central, onde haverá a programação cultural. “Por isso trabalhamos para manter as intervenções culturais que encerrarão as atividades, assim como estava previsto. O ato político está mantido na Paulista, palco das grandes últimas manifestações protagonizadas pela população de São Paulo”, explica o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Nota Por uma Previdência Social justa e ética

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, a Ordem dos Advogados do Brasil-OAB e o Conselho Federal de Economia-COFECON, conscientes da importância da Previdência Social para o povo brasileiro, e preocupados com a proposta de reforma encaminhada pelo Executivo ao Congresso Nacional, vêm, conjuntamente, reiterar sua posição sobre a Reforma da Previdência-PEC 287/2016.
Nenhuma reforma que afete direitos básicos da população pode ser formulada, sem a devida discussão com o conjunto da sociedade e suas organizações. A Reforma da Previdência não pode ser aprovada apressadamente, nem pode colocar os interesses do mercado financeiro e as razões de ordem econômica acima das necessidades da população. Os valores ético-sociais e solidários são imprescindíveis na busca de solução para a Previdência.
As mudanças nas regras da Seguridade Social devem garantir a proteção aos vulneráveis, idosos, titulares do Benefício de Prestação Continuada-BPC, enfermos, acidentados, trabalhadores de baixa renda e trabalhadores rurais. Atenção especial merecem as mulheres, particularmente na proteção à maternidade.
Sem números seguros e sem a compreensão clara da gestão da Previdência, torna-se impossível uma discussão objetiva e honesta, motivo pelo qual urge uma auditoria na Previdência Social. Não é correto, para justificar a proposta, comparar a situação do Brasil com a dos países ricos, pois existem diferenças profundas em termos de expectativa de vida, níveis de formalização do mercado de trabalho, de escolaridade e de salários. No Brasil, 2/3 dos aposentados e pensionistas recebem o benefício mínimo, ou seja, um salário mínimo e 52% não conseguem completar 25 anos de contribuição.
A PEC 287 vai na direção oposta à necessária retomada do crescimento econômico e da geração de empregos, na medida em que agrava a desigualdade social e provoca forte impacto negativo nas economias dos milhares de pequenos municípios do Brasil.
É necessário que a sociedade brasileira esteja atenta às ameaças de retrocesso. A ampla mobilização contra a retirada de direitos, arduamente conquistados, perceptível nas últimas manifestações, tem forçado o governo a adotar mudanças. Possíveis ajustes necessitam de debate com a sociedade para eliminar o caráter reducionista de direitos.
As entidades infra firmadas convidam seus membros e as organizações da sociedade civil ao amplo debate sobre a Reforma da Previdência e sobre quaisquer outras que visem alterar direitos conquistados, como a Reforma Trabalhista. Uma sociedade justa e fraterna se fortalece, a partir do cumprimento do dever cívico de cada cidadão, em busca do aperfeiçoamento das instituições democráticas.

Brasília, 19 de abril de 2017.
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB
Ordem dos Advogados do Brasil-OAB

Conselho Federal de Economia-COFECON

À GREVE, PARA EVITAR UMA 'GUERNICA' BRASILEIRA

À greve, para evitar uma 'Guernica' brasileira

Saul Leblon
Há 80 anos o fascismo destruía Guernica para revogar avanços sociais e O Globo endossava a fúria mentindo, como hoje.


Um registro curto, mas claro incluído no especial do Valor Econômico sobre os 80 anos do bombardeio de Guernica, em 26 de abril de 1937, revela que o jornal O Globo manipulou o noticiário da crise espanhola à época, naquela que foi a primeira operação aérea massiva da história contra uma população civil.

A barbárie fascista dissimulada pelo jornalismo da família Marinho – da qual não há registro de pedido desculpa até hoje—imortalizou-se na arte de Picasso em um monumental grito de horror  de sete metros de comprimento por três de altura.

Em óleo sobre tela o pintor deu universalidade a uma das mais torturantes sensações do martírio humano.

Aquela que despenca sobre a existência de homens e mulheres indefesos abalroados pelas grandes massas de forças que dominam a história de uma época.

Expressas em artefatos bélicos ou artefatos econômicos essas colisões implodem as referências do cotidiano num vácuo de destruição, perda, perplexidade, prostração e descrença.

Durante dias sucessivos ao massacre de Guernica o Globo flanou nesse vácuo e o alimentou.

Com a sua especialidade.

As manchetes do jornal sobre a responsabilidade pela tragédia, que passaria à história como um preâmbulo do que ocorreria depois em Auschwitz, primeiro levantariam dúvidas sobre a autoria.

Depois se tornariam categóricas.

Todo o esforço do martelete conservador destinava-se a convencer a opinião pública brasileira de que a responsabilidade pelas 50 toneladas de explosivos despejados contra a comunidade basca pela Legião Condor, da força aérea nazista  -aliada do golpismo espanhol, seria dos ‘vermelhos’.

Sim, os ‘vermelhos’, dizia o Globo em manchete.
Os ‘lulopetistas’ da época.

Assim denominados os socialistas, os anarquistas, os comunistas, os trotsquistas, os democratas, os cristãos progressistas...

‘Vermelhos’.

Culpados, segundo o jornal, pelo experimento nazista que testou em Guernica todo o arsenal destrutivo desenvolvido pela máquina de guerra aérea de Hitler, já de olho em alvos mais abrangentes.

‘Os vermelhos’, insistiria a ardilosa máquina de camuflagem de guerra.

Não a sublevação da extrema direita contra a República dos Trabalhadores, que vencera o pleito legislativo de 1936 - a exemplo do que já ocorrera em 1931, mas cujo repto não seria reconhecido pela elite do dinheiro e do poder.

Essa que partiu para o cerco e o golpe contra o mandato das urnas até desembocar no divisor de águas de Guernica.

Lembra algo?

Sim.

E o escárnio jornalístico, ainda que não apenas ele, também.

O conjunto enlaça a fúria da cavalgada fascistas do mundo de 1937 às horas decisivas de 2017 vividas no Brasil.

Infelizmente neste caso a seta do tempo não se quebrou.

O martelete da propaganda agigantou-se.

Hoje opera uma máquina de jornalismo de guerra de dimensões inimagináveis há 80 anos.

O alvo agora são 200 milhões de ‘bascos’ submetidos a uma lavagem diuturna, para convencê-los de que a sede não deve ser saciada com água.

Prescreve-se ao contrário vinte anos de privação.

O austericídio e o politicídio - destinado este a desintegrar o Partido dos Trabalhadores, são ogivas siamesas do mesmo bombardeio.

Compõem uma fogueira destinada a inocular prostração, desmoralização e descrédito na democracia e na sua capacidade de comandar o desenvolvimento, de modo a reduzir a sociedade a uma ‘Guernica’ de joelhos diante do diktat dos mercados.

Sobretudo, porém, trata-se de camuflar a responsabilidade conservadora pela enorme bola de fogo de desmonte e destruição que envolve toda a estrutura produtiva brasileira nesse momento.

O rescaldo de um ano sob o maçarico golpista compõe uma fornalha de recursos e esperança só mitigada por quantidades industriais de cinismo midiático.

O Brasil é hoje um vasto cemitério de obras paradas (R$ 55 bilhões), fábricas fechadas, ferrugem encastoada em projetos estratégicos e um estuário de desemprego fluvial feito de 13 milhões de sobras humanas.

Na versão espanhola, em 1937, foram quatro horas de ataques aéreos sucessivos, com intervalos aleatórios para a troca do repertório que o engenho nazista queria testar contra alvos vivos e adensados.

Os seis mil habitantes da cidadela basca que na versão do Globo teriam se autoimolados.

Guernica estava no meio do caminho da sublevação do general de Exército Francisco Franco.

Devastá-la para atingir Bilbao tornara-se crucial para compensar o fracasso da tentativa anterior de tomar o poder central republicano em Madri.

A operação genocida irmanou duas conveniências.

Ambas impulsionadas pelo ódio à democracia social das frentes amplas, vitoriosas em duas das três eleições legislativas realizadas na Espanha depois que a crise obrigou a monarquia a ceder espaço à República e ao voto popular.
O republicanismo progressista espanhol assustava os donos de um mundo dividido entre a depressão de 29 e o desconhecido.

A elite, o alto clero e o Exército espanhol não aceitaram a continuidade da experiência republicana autorizada pelas urnas de 1936 por diferença mínima de votos contra a Falange direitista.

Pronunciamentos golpistas sucederam-se em diferentes pontos do país na forma de um jogral conhecido.

Conflitos irromperiam em seguida em escalada de violência, com anarquistas e socialistas já enfrentando o levante fascista no campo das armas.

Não, não é Caracas. É da experiência republicana espanhola que se fala aqui.

Guernica abrigara ‘vermelhos’ foragidos de um desses embates com tropas sublevadas.

A tocha de fogo na qual se transformou 80% do seu perímetro urbano pavimentaria o caminho da guerra civil que iria sangrar a Espanha durante três anos.

Era um preâmbulo do que viria depois em todo o mundo.

As vísceras do século XX estavam explicitadas ali opondo dois projetos de futuro.

O jornal O Globo se pôs a serviço de um deles, exercitando aquilo que sabe fazer melhor: manipular o discernimento da sociedade diante das escolhas decisivas da história.

A demonização dos ‘vermelhos’ é o esperanto dessa operação.

De jornalismo de guerra.

Em 1937, a mensagem escrita com ferro, fogo e sangue, alertava para o embate cruento entre o anseio popular por democracia social e a resposta da interdição emitida pelos detentores da riqueza e da alma de um mundo que não cabia mais nos limites ditados por seus donos.

O primeiro ensaio de um governo progressista espanhol para ampliar esses limites havia durado pouco (1931 a 1933).

Mas o suficiente para assustar as elites pelo que falava ao corpo e ao imaginário das grandes massas populares.

Seu apelo reformista e anticlerical – a igreja espanhola era uma extensão do poder do dinheiro - descortinara possibilidades de outra sociedade mesmo sem efetivá-la.

Havia forte demanda por ela no ar.

Os acenos republicanos na Espanha traziam um pedaço da oferta.

Instituiu-se – insista-se, na Espanha em 1931- o casamento civil, o divórcio e o voto feminino.

Os aluguéis foram congelados. Os salários reajustados.

A educação pública tornou-se o espaço laico destinado a propiciar às crianças um mesmo ponto de partida igual para todos.

 Os latifúndios tiveram sua extensão limitada.

As terras da Igreja Católica foram circunscritas.

Iniciou-se uma reforma agrária - cuja timidez, porém, desencadearia conflitos internos que enfraqueceriam a frente progressista e contribuiriam para sua derrota nas eleições seguintes, em 1933.

Mas não só.

A lufada de ar fresco atingiu em cheio o nó górdio que rege o poder na sociedade: as relações de trabalho.

Aquilo que Vargas faria no Brasil 12 anos depois, em 1943 – e que o golpe agora se dedica a desmontar em 2017 -  a República espanhola anunciaria pioneiramente em 1931.

A República dos Trabalhadores, assim autodenominada, decretou uma espécie de CLT que estendia às famílias assalariadas a jornada de oito horas de trabalho, férias remuneradas, direito à aposentadoria, sindicalização, licença maternidade etc.

A profusão das mudanças congestionadas na sabotagem conservadora, ademais das divergências no governo, desgastaria o poder republicano.

A derrota eleitoral para um diretório de forças conservadoras (CEDA) em 1933 jogaria a população espanhola em um liquidificador de regressão política e social de virulência equivalente à vivida hoje no Brasil.

A restauração agiu corretamente.

Como agem os batalhões com prazo de validade para operar o serviço sujo.

A mesma sofreguidão desavergonhada, a mesma sensação de um exército de ocupação a saquear direitos e patrimônio - como as escórias parlamentares em assembleia permanente contra o povo.

O efeito pedagógico do desmonte acendeu o discernimento popular.

 Em 1936, o conservadorismo seria derrotado nas urnas por uma frente progressista maior que a de 1931.

Deu-se então a escalada golpista.
 O que a elite imaginava ser uma blitzkrieg, dada a supremacia de meios e recursos - do judiciário ao exército, passando pelo dinheiro, a igreja e a imprensa - bateu de frente com a consciência popular agigantada pela curta, mas intensa, experiência republicana.

Franco não venceria, como venceu em 1939, não fosse o apoio decidido de Hitler e Mussolini ao golpe na forma de aviões, bombas e tropas.

Além do ‘experimento’ em Guernica, Berlim enviou 19 mil soldados para apoiar a sublevação, enquanto governos democratas da Inglaterra e França se abstiveram de uma solidariedade efetiva à legalidade.

A inferioridade republicana só não foi maior graças à mobilização das brigadas internacionais.

Elas trariam dezenas de milhares de voluntários de todo o mundo para a trincheira libertária e socialista, a maioria, porém inexperiente a compor uma resistência  militarmente dispersa e politicamente fragmentada.

O conflito civil especialmente doloroso abriria os olhos do mundo para a encruzilhada da história em meio à desordem capitalista para a qual os mercados só tinham – como hoje - um remédio a oferecer.

Esse que o golpe despeja agora no Brasil na forma de um bombardeio de artefatos de arrocho, desemprego, desmonte e alienação econômica, que ameaça desintegrar o futuro nacional em uma imensa ‘Guernica’ de fogo.

A destruição do povoado basco explicitou o teor explosivo desse acerto de contas entre as possibilidades da democracia social e do planejamento público, de um lado, e o fascismo de outro.

Muitos dos que ainda teimavam em não enxergar a gravidade da escalada viram nas  labaredas de Guernica o potencial destrutivo que a desordem simbolizada na quebra de 1929, nos EUA, encerrava.

A incapacidade dos mercados para superar impasses geopolíticos e financeiros que se arrastavam desde a Primeira Guerra tornara-se uma ameaça à humanidade.

A desordem clamava por uma nova ordem.

As demandas por pão, terra, teto, trabalho, dignidade e poder popular ecoavam sua pertinência em outro projeto de futuro acenado pela arrebatadora vitória socialista na Revolução de 1917 na União Soviética.

As escolhas e suas consequências ganhavam transparência nas esquinas do mundo.

O poder de esclarecimento dos fatos se infiltrava no imaginário das nações.

À revelia do dinheiro e dos seus veículos de propaganda jornalística.

A democracia se tornava perigosa para as classes proprietárias.

Foi nesse divisor que a fábrica de manipulação do Globo reagiu à altura no Brasil.

Como Franco fez na Espanha.

Ambos atribuíram o crime à vítima: Guernica fora uma perversidade do sionismo comunista, acusava o generalíssimo.

A resposta definitiva de Picasso não se limitou à pintura.

Indagado por um oficial nazista em Paris se fora o autor de ‘Guernica’, fuzilou: ‘Não, foram vocês’.

A roda-gigante da manipulação, das interdições e sacrifícios atingira um ponto de saturação em que o efeito adicional de cada linha a mais de cinismo é o descrédito.

Estamos falando de 1937 na Espanha...

O que avultava era o mesmo anseio hoje órfão de respostas no Brasil.

 Por novos espaços de futuro; pelo direito de escolher e experimentar novas formas de se viver – indissociáveis da renovação em modos sustentáveis de se produzir; por uma repactuação generosa capaz de resgatar a sociedade da areia movediça da polarização imobilizante, da qual não se escapa facilmente depois da imersão...

A guerra civil espanhola durou três anos; o poder franquista estendeu-se por quase quarenta anos.

Pegou carona na escalada nazista e sobreviveu a ela, como um tampão imprescindível à tarefa de asfixiar a respiração libertária que só agora com o Podemos volta a injetar ar fresco ao pulmão político espanhol.

Derrotar uma experiência social não esgotada por meio da repressão, da judicialização, da mentira, da guerra e das bombas não significa vencê-la, mas interditá-la.

A diferença ajuda a entender a longeva manutenção da salmoura repressiva na sociedade espanhola, da qual só se libertaria quase quatro décadas depois da guerra civil, a partir da morte de Franco, em 1975.

A estreiteza da opção fascista esclarece boa parte do longo eclipse armado.

Mas não esclarece tudo.

As divisões passionais no campo republicano entre socialistas, democratas, anarquistas, comunistas e trotsquistas – que espelhavam divergências internacionais naquela bifurcação entre duas guerras, uma Revolução Socialista e uma crise sistêmica do capitalismo - dificultariam sobremaneira a construção das linhas de passagem imprescindíveis entre o presente de uma sociedade cindida e o futuro promissor acenado pelo projeto progressista.

Esse emparedamento do conflito empurrou a solução para o campo das armas, onde a direita tinha maior capacidade de arregimentação bélica, como mostrou a tragédia de Guernica.

Erguer pontes para trazer um pedaço da classe média e do PIB para fora do golpe é o desafio correlato que as forças progressistas enfrentam hoje no Brasil.

Não é um desafio a ser enfrentado no veludo da retórica.

Trata-se de uma capacitação de força e consentimento a ser sedimentada nas ruas.

 Mas em torno de uma proposta de repactuação do país e do seu desenvolvimento.

A direita - o ódio elitista, o preconceito belicista contra as demandas populares - jamais sentará à mesa de negociação se não for conduzida a isso pela mudança na correlação de forças e no imaginário da sociedade.

Seu projeto é a longa salmoura franquista expressa no Brasil na suspensão da Carta de 1988 por vinte anos.

Colocada diante desse esbulho, segundo o qual os desafios do desenvolvimento se tornam insolúveis na vigência da justiça social, a sociedade se reduz a um objeto inerte, um estorvo do mercado.

 O regime autoritário se impõe por dedução.

Para desarmar essa bola de fogo o campo progressista não pode ceder no essencial.

A pedra angular da travessia consiste em saltar o deserto conservador com o impulso da ousadia e da criatividade que fizeram a bandeira republicana espanhola, de fato, ser vista como a porta para um novo futuro.

Um futuro no qual caiba um modo de vida urbano renovado, com arquitetura singular para a solução dos problemas habitacionais e de mobilidade, mas também de integração e segurança.

Um futuro no qual o repto de soberania no pré-sal configure uma ‘opção norueguesa’ de uso sagrado dos recursos num  pacto de futuro sustentável e justo para a infância brasileira de hoje e de amanhã.

Um futuro no qual salvar os rios urbanos e preservar os demais, por exemplo, seja uma aposta coletiva na regeneração do convívio humano com a natureza, impulsionando os requisitos intrínsecos a essa interação.

Um futuro no qual a educação de qualidade para todos seja a nova catedral da cidadania.

Um futuro no qual a prática da democracia na solução das divergências – inevitáveis - se intensifique em sintonia com as oportunidades de comunicação e escuta forte inscritas na tecnologia digital.

Um futuro no qual o eixo principal de consenso seja fazer do Brasil uma referência mundial de inovação em políticas públicas, na cooperação para o desenvolvimento convergente de todos os povos.

É essa ocupação desassombrada da rua pela ousadia, e do imaginário pela possibilidade de outro futuro, que poderá abortar a longa noite conservadora determinada a encapsular a nação em uma Guernica de recessão e desencanto - com o país, com a política e com a vida.

Há uma pedra no meio do caminho.

A repactuação de um futuro amplo entre visões distintas do presente requer a largueza generosa de princípios e horizontes.

Esse sempre foi um apanágio dos libertários, dos socialistas, dos comunistas, dos cristãos progressistas, dos democratas e liberais sinceros.

Da república de todos, enfim.

Acolhedora e desassombrada, assim deve ser a ocupação das ruas e da pauta política para, de fato, alcançar também os corações e mentes fatigados de toda a gente brasileira.

Parar hoje em greve geral é o repto da Guernica brasileira para mover a engrenagem virtuosa de uma verdadeira república de iguais.

Arriba.