Uma velha história se repete
14/3/2015 15:00
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro
Colunista comenta a necessidade de se acabar com o financiamento das campanhas eleitorais
Está mais do que evidente, diante dos últimos acontecimentos
apontados pela operação Lava-Jato, a necessidade de acabar de uma vez
por todas com o financiamento empresarial das campanhas eleitorais.
Se nada for feito, ficará evidente que os políticos contemplados
pelas empresas – e são vários, dos mais diversos partidos – querem a
continuidade do esquema gerador de pagamentos de propinas.
Já na área midiática, os jornalões, seja do Rio ou de São Paulo não
se cansam em dar espaço total ao ex-Presidente Fernando Henrique
Cardoso, como se ele fosse uma figura acima do bem e do mal. Não é,
muito pelo contrário.
No seu governo não se investigavam denúncias de
corrupção e as
tentativas nesse sentido eram engavetadas. Na verdade, Cardoso não é
flor que se cheire e está sendo acionado pelo setor inconformado com o
resultado da eleição presidencial de outubro.
De quebra ainda concedem espaço muito grande ao senador e vice de
Aécio, Aloyzio Nunes Ferreira, cujo principal projeto neste momento é
“sangrar” a Presidenta Dilma Rousseff.
Sangrar significa que os tucanos e seus seguidores, a elite paulista,
por exemplo, farão o possível e o impossível para não deixá-la
governar. Querem um governo fraco, para tentar emplacar seus ideários
liberalizantes. Estão tentando aproveitar o embalo provocado pela
corrupção de ex-diretores bandidos para enfraquecer a Petrobras e entregá-la a sanha das multinacionais do setor.
Os jornalões seguem a linha, como sempre fizeram historicamente ao
apoiarem golpes de estado e enfraquecimento do Estado. Para os Aloyzios,
Cardosos e os jornalões, a entrega deve ser total.
A direita agora circula nas redes sociais pregando boatos das mais
diversas espécies. A última do bando foi “informar” que o governo ia
confiscar as cadernetas de poupança.
O Ministério da Fazenda se viu obrigado a desmentir este boato que
visa debilitar o governo e criar na opinião pública a sensação de caos.
Em outros períodos da história estes grupos que têm ojeriza ao processo
democrático pregavam a desestabilização. O objetivo é sempre o mesmo,
dar o bote, chegar ao poder e depois reprimir quem se opuser.
Na verdade, esse tipo de boato se caracteriza como crime financeiro e
se os autores forem pegos estarão sujeitos a penas de prisão. Cabe
então a Polícia Federal identificar os responsáveis pelo delito
financeiro.
Para evitar retrocessos, seja onde for é necessário que o povo reaja.
Da parte do governo, a Presidenta não pode seguir a pauta da mídia
hegemônica e responder a matérias visivelmente manipuladas, como ocorreu
num domingo quando ela falava à nação.
Naquele momento, nos bairros ricos de algumas cidades, alguns
manifestantes bateram panela e conseguiram espaço nas primeiras páginas
de jornalões. Aí Dilma Rousseff respondeu a manipulação, como se o que
aconteceu não fosse restrito a um grupelho que na prática não se adapta a
um regime democrático.
Para se ter uma ideia, camisetas com dizeres objetivando a
desestabilização do governo e em alusão favorável a Aécio Neves estavam
sendo vendidas a 175 reais. Só mesmo dondocas, mauricinhos e patricinhas
da classe média alto compram.
Vergonha nacional e lá fora
A que ponto chegou à política brasileira, envergonhando o país
interna e externamente. Desta vez, segundo alguns jornalões, o festival
de besteira que assola o país, (Febeapá), como diria o saudoso Stanilsau
Ponte Preta, ficou por conta do Cabo Daciolo, do PSOL-RJ. Ele apareceu
com uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) propondo trocar a
expressão do parágrafo único do Artigo I, item V da Carta Magna dispondo
que “todo o poder emana do povo” por “todo o poder emana de Deus”.
Do jeito que caminha o Congresso, sendo a Câmara dos Deputados
presidida por Eduardo Cunha, não será de estranhar que a tal PEC siga
adiante.
Espera-se que o próprio Daciolo volte atrás e até desminta a informação.
Mas sendo verdadeira, é inexplicável como o PSOL aceita ter em suas
fileiras um político deste naipe, um parlamentar que já se
confraternizou com o Jair Bolsonaro. Precisa dizer mais alguma coisa?
Mário Augusto Jakobskind,
jornalista e escritor,
correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do Conselho Curador da
Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Seus livros mais recentes:
Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do Bloqueio e Parla , será
lançado dia 17, no Rio de Janeiro.
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