terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Os destaques da noite no 247

 

Governo Bolsonaro admite que ataques à China estão travando chegada de insumos para vacina ao Brasil

Índia: indisponibilidade da vacina é culpa de países ricos e do Brasil, que é contra produção genérica

Fábrica da Petrobrás fechada por Bolsonaro tinha capacidade para fornecer quatro vezes o oxigênio usado
em Manaus

Com Covid-19, bolsonarista Luciano Hang e a esposa
estão internados
em hospital de SP

Oposição e movimentos populares organizam carreata pelo "Fora Bolsonaro" no próximo sábado

Jornalista da Globo denuncia ato machista de Pazuello contra governadora Fátima Bezerra
(Vídeo)

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Maria Flor exige impeachment de Bolsonaro: "revolta tá em mim, eu não consigo mais viver" (vídeo)

"Caso se salve, será por obra da ciência, não da feitiçaria que ajudou a espalhar", diz Reinaldo sobre Luciano Hang

Após ter post apagado, Olavo de Carvalho anuncia saída do Twitter

Artigo | Conhecendo o inimigo: quem é o novo chefe da CIA?

 EUA

Artigo | Conhecendo o inimigo: quem é o novo chefe da CIA?

Grupo de jornalismo investigativo venezuelano analisa alguns documentos vazados pelo WikiLeaks envolvendo William Burns

Tradução: Roxana Baspineiro

Misión Verdad |
 
Biden aposta em um diplomata de longa data para dirigir a CIA - JIM WATSON / AFP

Através de um vídeo promocional publicado no Twitter, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a nomeação do diplomata de carreira William Burns como diretor da Agência Central de Inteligência (CIA).

Desde o resultados da última eleição nos Estados Unidos, Biden anunciou progressivamente os membros da equipe que o acompanhará durante seu mandato, vários dos quais estavam nos bastidores na época de Barack Obama e agora assumirão cargos na administração do próximo governo.

Quanto a Burns, um grande amigo de Bill Gates, seu extenso histórico remonta ao período anterior da presidência de Bill Clinton, ocupando cargos intermediários no Departamento de Estado. Depois, no período presidencial de George W. Bush, serviu como Embaixador na Jordânia e, em seguida, como Embaixador na Rússia, de 2005 a 2008, desempenhando um papel crucial em quase todas as principais iniciativas de política externa de Bush.

Em sua carreira, de um ponto de vista político, se destacou como subsecretário de Estado de Barack Obama até 2014, participando de negociações secundárias que prepararam o terreno para o acordo nuclear de 2015, que limitou as capacidades nucleares do Irã. Ele também foi o principal negociador de um acordo nuclear com a Índia e a Rússia.

Leia mais: Nomeações de Biden apontam um governo militarizado e pró-mercado financeiro

Quando Donald Trump entrou em cena, ele se retirou da arena governamental, se aposentou e se tornou presidente do think tank Carnegie Endowment for International Peace. A partir desse espaço, escreveu várias críticas a Trump e, especificamente em 2019, ele rejeitou a demissão da embaixadora na Ucrânia, Marie Yovanovitch, dizendo que era "uma forma perigosa de má prática diplomática".

Apesar das críticas, em uma entrevista com o escritor e colunista venezuelano, Moisés Naím, ele demonstrou concordar com Trump, ao comentar que a forma como Trump estava abordando o assunto com a Venezuela estava correta, destacando a importância da pressão política, ou seja, Burns aposta na intensificação das medidas coercitivas para desmantelar o chavismo.


Burns foi um diplomata chave na era Obama / MANDEL NGAN / AFP

Além de mostrar o currículo de Burns, que pode demonstrar alguns aspectos importantes e dar uma ideia sobre seu perfil de ação, vale a pena destacar dados-chave sobre suas funções no campo internacional, onde ele sempre manteve a essência do excepcionalismo estadunidense e suas acentuadas práticas de interferência.

Leia mais: A política externa de Biden não será muito diferente da política do passado

William Burns nos cabos do WikiLeaks

É comum que os serviços diplomáticos confiem nos serviços de inteligência e as autoridades estadunidenses não negam isso. No anúncio de seu novo cargo, Burns disse que desenvolveu um enorme respeito pelos agentes de inteligência porque "trabalhou com eles em lugares difíceis ao redor do mundo". O ex-diretor da CIA, John Brennan, também confirmou isto: "Burns tem uma reputação notável. Ele trabalhou com agentes durante anos no exterior como Chefe de Missão".

Se Trump teve alguns confrontos com a CIA, Burns saberá como manobrar a agência, e contará com as células de inteligência para fazer avançar qualquer plano que tenham em andamento. Sua nomeação não é estranha ao modus operandi da nova administração de Washington.


A proposta de Burns aponta para a restauração da burocracia discreta, mas agressiva, do Partido Democrata / KAREN BLEIER / AFP

A fim de acrescentar algumas impressões sobre suas ideias, selecionamos alguns documentos vazados pelo WikiLeaks envolvendo William Burns.

A visita do presidente Hugo Chávez à Rússia em 2007: Burns informa que, naquele ano, funcionários do governo russo realizaram negociações com o governo venezuelano para a venda de componentes militares, apesar da pressão dos EUA, e nesse contexto, ele considerou que "alguns veem o ativismo russo no "quintal" [em referência à Venezuela] como um contra-ataque às intervenções dos EUA".

A visita do subsecretário Burns à Colômbia em 2008: os documentos informam que as relações entre a Venezuela e a Colômbia haviam melhorado até então, mas insinuaram que a Colômbia deveria promover "sua democracia" (em relação à Venezuela). Também apontam que a Colômbia estava procurando desempenhar um papel maior na arquitetura de segurança internacional, demonstrando sua disposição de contribuir com tropas para o trabalho da Organização do Tratado do Atlântico Norte ( OTAN).

A visita do subsecretário Burns ao Brasil em 2008: os documentos revisam o cenário anterior à visita de Burns ao Brasil, advertindo que o então presidente Lula (Partido dos Trabalhadores) se recusou a criticar a questão dos direitos humanos na Venezuela e em Cuba, uma carta usada pelos EUA para criar dossiês falsos em países que não concordam com sua doutrina.

Questões com a Rússia em 2010: Burns manifestou preocupação com a venda de armas russas a países de interesse dos Estados Unidos, e observou que a imposição de sanções estadunidenses não foi bem sucedida na mudança do comportamento russo.

As táticas do establishment estadunidense para impor sua posição no plano internacional, em uma tentativa de forçar certos cenários através da carta de "preocupações” são bem conhecidas. Assim, Burns é uma peça da diplomacia coercitiva silenciosa, essa forma prudente de negociação, exercendo pressão em várias frentes até ser bem sucedida. Nenhuma novidade.

Ao contrário dos conflitos da administração Trump com o aparato de segurança e inteligência dos EUA, bem como seus conflitos com elementos da estrutura estatal, Burns implica um retorno à regularidade nestes casos e seu relacionamento com Biden é crucial para a sobrevivência da agência. Neste sentido, o Departamento de Estado e a CIA terão uma relação estreita, já que Anthony Blinken, secretário de Estado de Biden, e William Burns são parceiros desde a administração Obama.

Distanciando-se da política errônea e "abertamente agressiva" da administração Trump – apesar de ter incluído os Estados Unidos em outra guerra, como aconteceu com Barack Obama – o governo dos EUA agora pode retornar ao seu repertório habitual de tentativas de golpes políticos, revoluções coloridas, missões mercenárias ou paramilitares, operações de bandeira falsa, bem como lobby silencioso e barulhento dentro da "moderação" da agenda do Partido Democrata. Este será outro período no qual a CIA retomará seu papel nos bastidores da política que virá.

Edição: Misión Verdad

“Bolsonaro tem de responder por seus crimes”

 


“Bolsonaro tem de responder por seus crimes”

 

“Estamos diante de uma crise gravíssima, de uma crise em todos os sentidos. O impeachment é uma solução democrática de momento, mas eu acredito que o presidente, uma vez afastado, ele tem de responder pelos crimes comuns que está praticando, que são muitos. Não só ele: temos aí um conjunto de servidores públicos que se prestaram a esse papel de adotar, de forma acrítica, as orientações do presidente. É ele que determina a pauta de todos os ministérios, e quando ministros se rendem a essa situação, eles também deverão ser corresponsabilizados no futuro”.

É a avaliação que faz a jurista Deborah Duprat em entrevista ao TUTAMÉIA em que aponta e demonstra alguns dos crimes de responsabilidade e crimes comuns cometidos por Jair Bolsonaro no exercício da Presidência da República. Vice-procuradora-geral da República nos governos Lula e Dilma, ela foi uma das envolvidas na redação de pedido de impeachment apresentado no ano passado por movimentos populares e entidades da sociedade civil.

“Nosso pedido de impeachment reconhece isso: Bolsonaro é um presidente que nasce num discurso antissistêmico, anti-instituições, e ele usa o contexto da pandemia mais ainda para desmontar toda a capacidade do Estado de atuar. Nosso pedido do impeachment mostra como, ao longo de um ano –agora nós estamos no segundo ano–, como houve um desmonte de toda a estrutura administrativa federal. Quando ele fragiliza a administração pública, coloca militares em lugar de servidores concursados, ele acaba com a capacidade do estado de operar. Essa coisa de não ter um plano de vacinação, de não ter seringas disponíveis, isso tudo demonstra uma incapacidade do estado de funcionar porque suas habilidades institucionais foram minadas”, diz ela (clique no vídeo abaixo para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Mas não se descarta um instinto assassino em todo esse processo: “Há uma teoria segundo a qual essa intenção neoliberal, que ancora esse governo, teria essa intenção de exterminar um público indesejável. O neoliberalismo é um sistema em que cabem poucas pessoas, e a morte, nesse sentido, é uma morte desejável. Brasil e Estados Unidos, os campeões de mortes [na pandemia], têm no comando pessoas entusiastas de ideias radicalmente neoliberais. Acho que temos algo mais grave aí que a probidade administrativa, temos aí, alguém vocacionado e equipando o Estado para matar”.

PARALISIA DAS INSTITUIÇÕES

Por tudo isso, Duprat entende que é necessária uma reação: “Costumo dizer que nós vivemos uma suspensão da democracia, uma suspensão da Constituição. Temos um fiapinho de democracia, um fiapinho de Constituição de 1988. Isso é tudo muito grave. E a falta de ação das instituições leva a crer que essa possibilidade é constitucional. A ausência de impeachment leva ao risco de que não só Bolsonaro possa se candidatar a um novo mandato como figuras com ideias e comportamentos parecidos sejam uma possibilidade democrática. Não são. Não são uma possibilidade constitucional, e não são uma possibilidade democrática”.

O início do processo de impedimento é necessário, independentemente de seu resultado: “Acho que, ainda que se diga que não há condições políticas [para aprovar], o funcionamento do pedido de impeachment é uma demonstração de vitalidade da democracia, de que as instituições funcionam. Essa paralisia, ao contrário, tem uma carga simbólica muito forte de instituições de alguma maneira neutralizadas por essa figura tão totalitária, como é a figura do Bolsonaro”.

Além disso, o fato de o processo eventualmente não culminar no afastamento do presidente não diminui sua importância, diz a jurista, lembrando o recente caso dos Estados Unidos, em que Trump derrotou dois processos de impeachment: “Os Estados Unidos deram pelo menos um recado a Trump. Levaram adiante o pedido de impeachment, sabendo que iam perder. Mas era preciso o Congresso manter essa simbologia. Como o nosso Congresso não leva à frente, ele vai se fragilizando. Vai também entrando no imaginário popular como uma instituição parceira do governo. Afinal, se é ela que pode afastar e é ela que mantém… Tudo isso se confunde, quanto mais demora. A partir dos três primeiros meses de governo, o primeiro pedido já devia ter tido andamento. Porque era tão absurdo aquele governo, tão absurdas as coisas, que de fato ali nós mostramos que, de fato, nossa democracia ainda é muito frágil.”

Para Deborah Duprat, Rodrigo Maia tem o dever de encaminhar os pedidos de impeachment. Ao não fazer isso, no entender da jurista, usurpa função do plenário e comete falha institucional gravíssima:

“A Lei dos Crimes de Responsabilidade não dá nenhum poder ao presidente da Câmara para sustar os processos de impeachment. Aliás, ela sequer fala do presidente da Câmara; ela dá uma atribuição ao plenário da Câmara dos Deputados para fazer uma avaliação política do cabimento do pedido. O regimento interno da Câmara é que determina que cabe ao presidente da Câmara fazer uma análise dos requisitos formais das petições de impeachment. Rodrigo Maia arquivou sumariamente quatro; significa que não cumpriram com as exigências da lei. Mas o restante, se cumpriu com a exigência da lei, ele está usurpando a competência do plenário ao sentar em cima desses pedidos. A atribuição não é dele, é do plenário. Rodrigo Maia teria de encaminhar esses pedidos. A lei não permite que o presidente da Câmara dos Deputados suste o andamento desses processos, porque o juízo desses pedidos é exclusivo do plenário. Eu acho que ele está cometendo uma falha institucional, uma falha funcional gravíssima, e pode vir a ser responsabilizado por isso também”.

RAZÕES PARA O IMPEACHMENT

A jurista explica que Bolsonaro vem cometendo crimes de responsabilidade desde o início de seu mandato, como demonstram os cerca de sessenta pedidos de impeachment –os primeiros deles apresentados ainda no primeiro semestre de 2019.

“São fundamentados em razões robustas: as palavras dirigidas a determinadas pessoas, como ao presidente da OAB, à repórter Patrícia Campos Mello; o aparelhamento da imprensa; o financiamento de sites e blogs simpáticos ao governo; a apologia à tortura. Mais recentemente, com a chegada da Covid, acentuou-se a necessidade de se responsabilizar esse presidente, com aquela desorganização que o Bolsonaro promove logo no início, negando as medidas sanitárias, as medidas de isolamento social, fazendo uso da Secom para propagar a não necessidade de distanciamento, criando uma tese do isolamento vertical, apenas para grupos mais vulneráveis, que não conta com nenhum respaldo científico. Enfim, isso já era uma conduta extremamente grave no contexto já vivido.”

Duprat prossegue: “Houve pior: exatamente porque Bolsonaro faz um governo populista, foi necessário também mobilizar as suas milícias virtuais para que sua ineficiência no enfrentamento à pandemia fosse de alguma maneira camuflada. Nesse contexto, surgem com muita força os ataques aos demais poderes, aos Supremo Tribunal Federal, ao presidente da Câmara e em relação aos governadores, que então começavam a adotar algumas medidas de isolamento”.

CRIMES DE RESPONSABILIDADE

Debora Duprat elenca alguns dos crimes de responsabilidade de que Bolsonaro é acusado:

“Ataques aos entes subnacionais, isso é um crime de responsabilidade, a maneira com que Bolsonaro tratou os governadores, incitação da população contra os governadores, é um crime. A maneira como ele trata a coisa pública como se fosse privada. Isso é um crime de responsabilidade. Negar cumprimento a tratados e convenções internacionais. Aí tem vários. Bolsonaro descumpriu a convenção de prevenção e combate à tortura. Ao manter no cargo determinados ministros, comete crime de responsabilidade que é o de não afastar pessoas que usam o cargo contra a lei, contra a moralidade administrativa.”

Ela prossegue: “O uso da Secom, a Secretaria de Comunicação, para veicular ideias próprias de Bolsonaro, é contra um dispositivo expresso da Constituição, na parte de probidade administrativa, que diz que toda a propaganda oficial tem de ter caráter informativo, republico. Tudo que a Secom não foi foi ser informativa, tanto que em determinado momento ela condena o isolamento social…”

GENOCÍDIO
Além dos crimes de responsabilidade, há uma série de crimes comuns, todos muito graves, identificáveis no comportamento e nas ações de Bolsonaro, como aponta a jurista: “Bolsonaro está denunciado num Tribunal Penal Internacional por genocídio dos povos indígenas. O crime de genocídio significa matar, exterminar um povo fisicamente e também retirar as condições de sobrevivência desse grupo. E o que Bolsonaro fez com as terras indígenas compromete significativa a possibilidade de vida desses povos”.

Há mais: “O crime de ameaça à saúde pública, de exposição a perigo, o crime de homicídio! Apologia à tortura. Racismo. São muitos.”

Para a jurista, Bolsonaro pode ser considerado autor intelectual de homicídios: “Um presidente da República, com essa multidão de seguidores, que faz uso das redes sociais que criam uma multidão, esse presidente, quando fala não tome vacina ou use determinados medicamento, ele obviamente está induzindo a comportamentos que vão ser letais. Se isso não é autoria intelectual, nós estamos muito próximos de banalizar o mal absoluto”.

TERRITÓRIOS DE LUTA

Apesar das dificuldades, há que trabalhar para restabelecer a democracia: “Temos de acreditar que podemos enfrentar essa barbárie, nos reinventar, restabelecer mecanismos de memória e verdade. Temos um passado muito mal resolvido em termos de genocídio da população indígena, o racismo estrutural. Temos de enfrentar essas graves violações de direitos humanos e temos de aprender a punir”.

Há caminhos no terreno institucional, como processo de impeachment, defendido por Duprat, e há também necessidade de movimento da sociedade:

“Temos de retornar aos territórios de luta. É preciso mobilização, é preciso expansão da luta, é preciso criação de alianças. Precisamos recuperar o sentido da Constituição de 1988, recuperar o sentido de Estado, recuperar o sentido de projeto para a coletividade. Tudo isso foi desfeito. Não é possível a gente concordar com isso sem lutar. E lutar voltando para os territórios, para as bases, para a luta política como ela deve ser feita. Procurando encher as ruas quando isso for possível. Vivemos numa situação de barbárie, uma situação de excepcionalidade, que precisa ser vencida.”

https://tutameia.jor.br/bolsonaro-tem-de-responder-por-seus-crimes-diz-jurista/

Cheiro forte de impeachment

 


Terça-feira, 19 de janeiro de 2021
Cheiro forte de impeachment

Bolsonaro sentiu. Só o tempo permitirá avaliar a dimensão dos acontecimentos da última semana, mas a corrida da vacina foi um dos mais duros golpes dados contra seu governo em pouco mais de dois anos. O silêncio presidencial contrasta com o furor das redes sociais e do mundo paralelo do WhatsApp: só se fala na vacina e na “vitória” do governador de São Paulo, João Doria. Em um meme espalhado ontem, Bolsonaro aparecia em uma cadeira de barbeiro como se fosse um senhor que se perdeu na rua. Não há retrato melhor.

Monitoro alguns grupos nas principais redes e a sensação é a mesma em todas: o esgoto bolsonarista não sabe o que fazer. Hoje cedo, ao entrar em uma aba onde reúno "Brazil Right-Wing Influencers" no Facebook achei que as páginas tinham sido hackeadas: a imensa maioria falava bem da vacina e criticava Bolsonaro por sua inércia e ignorância. Os memes sobre as habilidades logísticas do ministro-general que ocupa a Saúde tomaram conta das redes dos apoiadores do presidente junto com outros tantos que retratam Doria como vencedor. Eduardo Pazuello parece apenas um homem de atitudes panacas.

A pesquisa do índice XP/Ipespe, divulgada ontem — feita, portanto, antes da aprovação da CoronaVac no domingo — já acusa a maior taxa de rejeição ao governo desde agosto de 2020. Esse caldo está em fervura há algumas semanas e o fim do auxílio emergencial vai aumentar ainda mais a temperatura. De 35% em dezembro, a taxa de entrevistados que consideram o governo ruim ou péssimo saltou para 40% – e o índice dos que avaliam o governo como bom ou ótimo caiu de 38% para 32%. Entre evangélicos, um dos grupos mais importantes de sustentação do governo, a aprovação caiu de 53%, em dezembro, para 40%. A reprovação subiu de 26% para 36%. 

Sentindo os sintomas da rejeição, depois de quase um ano de campanha desbragada contra a vacina e contra todas as medidas que poderiam reduzir as mortes, restou ao ex-capitão deixar de lado a falácia do “tratamento precoce” e agarrar-se a duas estratégias. A primeira delas é usar o general Pazuello como escudo.

Nas primeiras horas depois da aprovação da vacina, Bolsonaro sumiu. O general botou a cara em coletivas, eventos e entrevistas. Sempre subserviente, fazendo promessas que são desmentidas horas depois e sem nenhum constrangimento ao contar mentiras novíssimas e mostrar seu enorme despreparo para lidar com a maior crise sanitária em um século. A resiliência de Pazuello é chocante: ele está disposto a entregar tudo que sobrou de sua dignidade pra defender o governo. Quando sair do ministério, não restará a ele nenhuma credibilidade, nada de que possa se orgulhar. Será sempre reconhecido na rua como o homem que sabia que faltava oxigênio em Manaus, mas não fez nada.

Passará para a história como o ministro que é incapaz de organizar a entrega de pouco mais de 4 milhões de vacinas para os estados em um país de mais de 200 milhões de habitantes ou, o mais básico, incapaz de negociar compra de insumos com indianos e chineses. Sua melhor desculpa é que “o fuso horário da Índia é complicado”. Um adolescente mentindo para a mãe faria melhor.

A outra estratégia de Bolsonaro é risível. Depois de meses arrotando bobagens como "vaChina", "calça apertada", "não vou tomar, e ponto final", "virar jacaré", não há mais o que fazer. O jeito é tentar dizer que o governo federal apoiou a produção da vacina. É mentira. Tarde demais para colar. O Mito não só desacreditou a vacina como operou nos bastidores para atrapalhar o processo. Quer pagar de pai do filho alheio. É basicamente uma tentativa de sequestro.

É cedo para dizer que Jair Bolsonaro está nas últimas, mas é fato que seu governo está enfraquecido como nunca. Há algo de concreto acontecendo e as próximas semanas são muito importantes. Além do fim do auxílio e dos próximos passos da vacinação, temos a eleição da presidência da Câmara, fundamental para a sobrevivência do governo. Há uma crescente demanda por impeachment. Vivemos um excelente momento pra ir pra cima do “mito”: é hora de expor para os brasileiros a verdade sobre o seu governo, denunciar sua relação com o centrão, bater sem dó nas narrativas alucinadas de Carluxo e nas mentiras elaboradas pelos militares.

É esse o jornalismo que interessa ao Intercept no momento: jornalismo que reporta com responsabilidade, investiga com cuidado, denuncia com coragem. Tudo isso sem deixar de se pautar pelo interesse público, pela defesa dos direitos dos brasileiros e pela saúde pública. 

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Leandro Demori
Editor executivo
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