sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

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A resposta da China ao vírus foi "de tirar o fôlego" (por Pepe Escobar)

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A resposta da China ao vírus foi "de tirar o fôlego

A resposta da China ao vírus foi "de tirar o fôlego"

O Presidente chinês Xi Jinping está comandando uma "Guerra Popular" científica contra o coronavírus
A resposta da China ao vírus.
A resposta da China ao vírus. (Foto: Reuters)
 
Por Pepe Escobar, para o Asia Times
Tradução de Patricia Zimbres, para o 247
O Presidente Xi Jinping declarou formalmente ao dirigente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, em seu encontro em Pequim no início desta semana, que a epidemia do coronavírus "é um demônio, e não podemos permitir que esse demônio se esconda". 
Ghebreyesus, de sua parte, não pôde deixar de elogiar Pequim por sua estratégia coordenada e extremamente rápida de resposta ao vírus  - que incluiu a imediata identificação da sequência do genoma.  Cientistas chineses já entregaram a seus colegas russos o genoma do vírus, com exames instantâneos capazes de identificá-lo em um corpo humano no prazo de duas horas. Uma vacina russo-chinesa já está sendo desenvolvida.
Mas o diabo, é claro, está sempre nos detalhes. Em poucos dias, no pico mais congestionado do período do ano em que mais se viaja  na China, o país conseguiu colocar em quarentena um ambiente urbano de mais de 56 milhões de habitantes, incluindo a megalópole Wuhan e três cidades próximas. Essa é a absoluta primeira vez que isso acontece em termos de saúde pública em qualquer época da história.
Wuhan, com um crescimento do PIB de 8,5% ao ano, é um centro empresarial importante na China. A cidade se localiza na encruzilhada estratégica dos rios Yangtze e Han, e também em um cruzamento ferroviário - entre o eixo norte-sul que liga Guangzhou a Pequim e o eixo leste-oeste, que liga Xangai a Chengdu.
Enquanto o premier Li Keqiang era enviado a Wuhan, o Presidente Xi visitou a estratégica província sulina de Yunnan, onde elogiou o imenso aparato governamental de mecanismos de reforço do controle e da prevenção sanitária direcionados a limitar a propagação do vírus.
O coronavírus pega a China de surpresa em um momento crítico e  extremamente delicado, ocorrido logo após: as (fracassadas) táticas de Guerra Híbrida  evidenciadas em Hong Kong; uma ofensiva estadunidense pró-Taiwan; a guerra comercial, longe de estar solucionada por uma mera negociação de "fase 1", enquanto mais sanções estão sendo urdidas contra a Huawei; e até mesmo o assassinato do Major General Qasem Soleimani que, em última análise, visava a atingir a expansão da Iniciativa Cinturão e Rota no Sudoeste Asiático (Irã-Iraque-Síria).
Esse Quadro Geral aponta para uma Guerra de Informação Total e  para a belicização ininterrupta da "ameaça" chinesa" - que agora já se metastizou, com nuances racistas, como uma bio-ameaça. Então, o quão vulnerável seria a China? 

Uma guerra popular

Há mais de cinco anos, desde a epidemia da SARS, um biolaboratório de segurança máxima voltado ao estudo de organismos altamente patogênicos vem operando em Wuhan, em parceria com a França. Em 2017, a revista Nature advertiu sobre os riscos de dispersão dos agentes patogênicos a partir desse laboratório. No entanto, não há qualquer indício de que isso de fato tenha ocorrido. 
Em termos de administração de crises, o Presidente Xi se mostrou à altura da situação – determinando que a China combata o coronavírus com  total transparência (afinal, o muro da Internet continua existindo). Pequim decretou a todo o aparato governamental, em termos inequívocos, que não deve haver qualquer tentativa de acobertamento. Um página em tempo real, aqui em inglês, está disponível a qualquer interessado. Quem não estiver fazendo o bastante irá enfrentar severas consequências. Pode-se imaginar o que espera o chefe do partido em Hubei, Jiang Chaoliang.
Uma postagem que viralizou por toda a China continental neste último domingo diz: "Nós, em Wuhan, ingressamos verdadeiramente no estágio da guerra popular contra a nova pneumonia viral", e muitos, "principalmente membros do Partido Comunista, apresentaram-se como voluntários e observadores, segundo as unidades de rua". 
Uma medida de importância crucial foi o governo ter determinado a instalação do applet "Vizinhos de Wuhan", baixado do Wechat, que permite identificar "o endereço de quarentena de nossa casa por meio de posicionamento de satélite, e então nossa organização comunitária afiliada e seus voluntários poderão ser localizados automaticamente por radar. Assim, nossas atividades sociais e anúncios informativos estarão conectados ao sistema".
Em tese, isso significa que qualquer pessoa que apresente febre poderá informar seus sintomas pela rede, assim que possível. O sistema, imediatamente, fornecerá um diagnóstico on-line e irá localizar e registrar o endereço de quarentena. Caso seja necessária a visita de um médico, a comunidade, por meio dos voluntários, providenciará o transporte até o hospital. Ao mesmo tempo, o sistema irá monitorar a evolução do paciente: hospitalização, tratamento em casa, alta, óbito etc. 
Aqui temos, então, milhões de cidadãos chineses totalmente mobilizados naquilo que costumamos chamar de "guerra popular", usando "alta tecnologia para combater a doença". Milhões deles já estão também tirando suas próprias conclusões ao comparar esse sistema com o uso de softwares de aplicativo para lutar contra a polícia em Hong Kong.

O quebra-cabeça biogenético 

Além da administração de crises, a rapidez da resposta científica chinesa é de tirar o fôlego - e, é claro, não foi devidamente valorizada em um ambiente de Guerra de Informação Total. Compare-se o desempenho chinês com o CDC norte-americano, que pode ser considerado o principal órgão de pesquisa em doenças infecciosas de todo o mundo, com um orçamento de onze bilhões de dólares e onze mil funcionários.
Durante a epidemia do ebola na África Ocidental, em 2014 - considerada de máxima urgência, e enfrentando um vírus com 90% de taxa  de letalidade, o CDC levou dois meses para, após receber a primeira amostra de paciente, identificar a sequência genômica completa.  Os chineses fizeram essa identificação em poucos dias. 
Na epidemia da gripe suína, em 2009, nos Estados Unidos, 55 milhões de americanos foram infectados e onze mil morreram - o CDC levou mais de um mês e meio para produzir os kits de identificação. 
Demorou apenas uma semana para que os chineses, a partir da primeira amostra de paciente, completasse a identificação vital e o sequenciamento do coronavírus. Logo em seguida, esses resultados foram publicados e depositados na biblioteca genômica para acesso imediato de todo o planeta. Com base nessa sequência, as empresas de biotecnologia chinesas produziram, em uma semana, artigos validados - também um fato inédito. 
E sequer mencionamos ainda a agora notória construção de um hospital estado da arte e novo em folha em Wuhan, em tempo recorde, apenas para tratar os pacientes do coronavírus.  Nenhum paciente terá que pagar pelo tratamento. Além disso, a Healthy China 2030a reforma do sistema de saúde e desenvolvimento, será reforçada. 
O coronavírus abre uma verdadeira caixa de Pandora para a biogenética. Questões graves continuam em aberto quanto a experiências in vivo, nas quais o consentimento dos "pacientes" não será necessário – considerando a psicose coletiva a princípio criada pela mídia empresarial  ocidental  e encampada até mesmo pela OMS quanto ao coronavírus. Esse vírus bem poderia vir a se tornar um pretexto para experimentos genéticos com vacinas. 
Enquanto isso, é sempre iluminador lembrar do Grande Timoneiro Mao Zedong. Para Mao, as duas principais variáveis políticas eram "independência" e "desenvolvimento". Isso implica soberania plena. Como Xi parece determinado a provar, um estado-civilização soberano é capaz de vencer uma "guerra popular" científica, o que não demonstra exatamente uma "vulnerabilidade". 

SOCIEDADE 3,8 milhões de famílias pobres ou miseráveis estão fora do Bolsa Família

3,8 milhões de famílias pobres ou miseráveis estão fora do Bolsa Família

Cartão do benefício do Bolsa-Família. (Foto: Governo do Piauí)
CARTÃO DO BENEFÍCIO DO BOLSA-FAMÍLIA. (FOTO: GOVERNO DO PIAUÍ)

Levantamento exclusivo mostra que ‘fila’ é 7,6 vezes maior que o número oficial do governo; concessão atual privilegia Sul e Centro-Oeste

Quase 500 mil. Esse é o número de famílias que, apesar de inscritas e aptas a receber o Bolsa Família, não conseguem o benefício. Mas a demanda reprimida é ainda maior. E muito: 7,6 vezes maior. Segundo um levantamento do governo de Pernambuco obtido com exclusividade por CartaCapital, 3,8 milhões de famílias pobres ou miseráveis estão fora do programa.
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São núcleos em situação de pobreza (com renda mensal per capita de 178 reais) ou extrema-pobreza (até 89 reais per capita/mês), com perfil no CadÚnico, o banco de informações sobre as famílias de baixa-renda no País. “Nossa pesquisa abarca famílias que poderiam receber o benefício, mas não recebem”, explica Shirley Samico, coordenadora responsável pelo estudo.
Já a estimativa do Ministério da Cidadania leva em conta dados do Censo de 2010, já defasado em população e faixa de renda dos lares considerados pobres (à época, até 154 reais por cabeça). A partir desses dados, completa Shirley, o governo estabelece um teto a cada município.
Em Pernambuco, por exemplo, esse teto é 1 milhão de famílias pobres ou miseráveis. Mas, com o aumento populacional, empobrecimento e a revisão da renda, essa parcela chega hoje a 1,3 milhão.
Do total de famílias desassistidas, 37% vivem na região nordeste. Apesar disso, apenas 3.035 dos benefícios (0,23% do potencial) liberados em janeiro saíram para moradores na região. No Sul, onde a necessidade é menor tanto em números quanto em proporção, esse percentual se aproxima dos 10%. Quase 30 mil famílias foram beneficiadas. No Centro-Oeste foram 6,4%.
“Isso mostra que o governo federal vem administrando a política social de forma desigual”, lamenta Joelson Rodrigues, secretário-executivo de Assistência Social de Pernambuco.
O Bolsa Família atende hoje 13,1 milhões de lares, menor patamar desde 2011. O governo alega falta de recursos e descoberta de fraudes em “pentes-finos”. Só no ano passado, houve um corte de 1,3 milhão de beneficiários.
É normal que, mês a mês, flutue o número de famílias em processo de inclusão, exclusão e manutenção. Há cinco meses, porém, a concessão de novos benefícios cessou.
Desde 2016, o número de excluídos por “pentes-finos” quase dobrou. Já as saídas voluntárias permaneceram estáveis. Segundo o IBGE, há 13,5 milhões de brasileiros vivendo com menos de 145 reais por mês, um recorde. As portas do programa mais barato e eficiente contra a pobreza, contudo, se fecharam.

Dados sob suspeita

O Ministério da Cidadania tentou— por meses — esconder de deputados e da imprensa o tamanho dessa fila. Após determinação da CGU, a pasta informou via Lei de Acesso à Informação que existem 494.229 famílias “habilitadas após a concessão”. Trata-se, porém, de uma média anual. Até abril a fila era considerada zerada.
No dia 3 de outubro, durante um evento promovido pelo jornal Diário de Pernambuco, o ministro Osmar Terra disse que 700.000 famílias aguardavam entrada no programa. Àquela altura, a concessão de novos benefícios já havia estacionado.
“Eu desafio o governo a comprovar esses dados”, provoca a economista Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do governo Dilma. Ela estima que o tamanho real da fila dos desassistidos chegue a 1,5 milhão. “Essas informações são fáceis de processar. O único motivo para demora é tentar esconder a tragédia”, completa ela.
Até maio, eram aprovados em média de 260 mil novos benefícios por mês. Levando em conta que essa seja a demanda próxima da média, e que tenha se mantido nos meses subsequentes, pode-se inferir que ao menos 780.000 famílias engrossaram a espera pelo Bolsa Família nos meses de outubro, novembro e dezembro. Uma fila de quase 1,5 milhão de famílias desassistidas.

Outro lado

O Ministério da Cidadania não respondeu aos questionamentos de CartaCapital. Em caso de retorno, a reportagem será atualizada.