sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Judiciário: um ponto fora da curva democrática

14/10/2016 17:16 - Copyleft

Judiciário: um ponto fora da curva democrática

Se o juiz, chame-se Moro ou Mendes, pode tudo, contra a lei e o Direito, instaurou-se a lei da selva.


Roberto Amaral, em seu blog
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Em 2014 foi possível, na última instância, a eleição de Dilma Rousseff – uma vitória precária, saber-se-ia depois –, mas, com ela, elegeu-se um Congresso exemplarmente reacionário, em condições de reescrever o discurso da soberania popular ditado no pleito presidencial.
 
Fica para outra oportunidade a discussão sobre a distância ideológica do voto majoritário em face do voto para as casas legislativas. Desta feita, essas considerações se cingem a uma de suas consequências: a brutal perda de legitimidade e representação do Poder Legislativo, posta de manifesto em face do quadro real da sociedade brasileira, contrastando com sua composição.
 
Segundo o estudo Radiografia do Novo Congresso-Legislatura 2015-2019 (pp. 18 e segs.), do Diap, o perfil da atual Câmara dos Deputados compreende, entre outros, 200 empresários, 169 profissionais liberais, 30 servidores públicos, 23 professores, 15 policiais, sete bancários e cinco metalúrgicos.
 
Num universo de 513 parlamentares, 136 assalariados, mas 74 pastores evangélicos e 191 integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária-FPA. Esses números, por si sós, são a mais eloquente denúncia da absoluta ausência de representatividade do Congresso Nacional, explicam sua decadência ética, legislatura após legislatura, e explicam, finalmente, o papel desempenhado desde a eleição do correntista suíço para a presidência da Câmara e o último ato da comédia de erros e equívocos em que se constituiu o ‘julgamento’, pelo Senado, do impeachment afinal aprovado contra o mandato legítimo da presidente Dilma Rousseff, no episódio, ré sem crime.





 
Aliás, essa é a característica da nova ordem instaurada com o golpe continuado que teve suas primícias no espetáculo do dia 17 de abril deste ano, primeiro fruto da associação concertada entre a mídia monopolizada, o Congresso, o Poder Judiciário e o grande capital contra a ordem política até então vigente.
 
O Congresso eleito em 2014 (na mesma eleição que deu maioria à candidata Dilma Rousseff) assegurou o golpe de Estado, mas a instalação, como seu desdobramento, do Estado autoritário, via ditadura judicial, ou o golpe de Estado permanente contra a ordem democrática e constitucional, é obra militante do Poder Judiciário que se constitui, presentemente, em ‘ponto fora da curva’ do Estado de Direito democrático, tantas e seguidas são suas agressões à Constituição da República, cuja defesa é seu dever de ofício.
 
Não é irrelevante, para quem cultiva os princípios gerais do direito, que o Tribunal Regional Federal da 4ª região (Porto Alegre), para onde seguirão em grau de recurso as sentenças prolatadas pelo factótum da República de Curitiba, declare, em decisão acordada numa votação de 13 votos a 1, que em tempos excepcionais (e o que são ‘tempos excepcionais’?) as decisões judiciais não precisam observar as leis.
 
Se o juiz pode, a cada julgamento, criar o seu direito, a seu talante, o Direito simplesmente saiu de cena, e tudo o mais é possível e o que estamos a assistir é a um festival de absurdos que faz de Ionesco um aprendiz de dramaturgo. Se o juiz, chame-se Moro ou Moura, ou Gilmar Mendes, pode tudo, ou tudo pode, contra a lei e o Direito, jogaram-se às urtigas a segurança jurídica, sem a qual simplesmente não há Direito. É a legitimação da lei da selva.
 
Quando um juiz de primeira ou de qualquer instância comete um ilícito, e por esse ilícito, reconhecido pelo STF, não é punido, a mais alta Corte torna-se cúmplice dele. O Supremo declarou ilegais as gravações de conversa da presidente com o ex-presidente Lula que o juiz Moro tornou públicas. Que cumpria, então, ao STF, fazer? Oficiar à Procuradoria-Geral da República e ao CNJ dando ciência desse ilícito de quebra de sigilo. Nada foi feito.
 
Quando esse mesmo juiz, no recebimento de denúncia contra Luiz Inácio Lula da Silva, declara que, a partir dali, ‘regularmente processado’ o acusado teria condições de provar sua inocência, está agredindo tudo o que se concebe como Direito, pois, no Estado de Direito Democrático, não cabe ao acusado provar sua inocência, uma presunção, mas ao acusador provar sua culpa!
 
E assim, em um simples despacho, o juiz transforma a presunção de inocência em presunção de culpa! E fica tudo como dantes no Castelo de Abrantes! Porque o juiz – no caso juiz, investigador, promotor e julgador – não está só. Amparam suas costas largas a mídia irresponsável, a Polícia Federal e o Ministério Público, e, principalmente, dá-lhe respaldo o STF, quando, em dois julgamentos, decide fazer tábula rasa do princípio constitucional da presunção da inocência, e quando admite, contra o texto constitucional, a execução da pena de prisão antes de a condenação haver transitado em julgado, isto é, haver passado por todas as instâncias de apreciação.
 
O STF agride os fundamentos do Direito Penal dos países civilizados. Mostra-se, no século XXI, incapaz de entender as lições que o Marquês de Beccaria nos legou no seu clássico (geralmente leitura obrigatória dos calouros dos cursos de direito) Dos delitos e das penas, obra do século XVIII.
 
Pensando em punir adversários de hoje, pune a civilização, que tem na liberdade o maior dos direitos do homem, a ele só equiparável o direito à vida. A supressão da liberdade é o ultimo recurso de que deve lançar mão o Estado contra o indivíduo, pois os anos de cárcere não são recuperáveis, como não é recuperável a vida depois de executada a sentença de morte.
 
Que fazer com a liberdade perdida pelo condenado absolvido em terceira instância? Por isso mesmo é de um absurdo que brada aos céus a forma como a privação da liberdade, sem julgamento, banalizada, transformou-se em instrumento de suplício e tortura contra acusados ainda sem culpa, posto que são presos para que a culpa se estabeleça e os fatos de que eventualmente serão acusados finalmente sejam apurados.
 
Era assim nos tribunais dos tristes dias do stalinismo e dos famosos ‘Julgamentos de Moscou’, era assim, entre nós, no ‘Estado novo’, era assim nos anos de chumbo da ditadura: os adversários do regime ilegal são presos sem culpa formada, são condenados, e a seguir ‘processados’, mas tudo começa pela prisão.
 
Todos os arbítrios têm suas justificativas, sempre negadas pela História. Os muitos Savanarola das muitas inquisições se diziam enviados de Deus para purificar o mundo dos ímpios e dos infiéis, como Joana D’Arc, Giordano Bruno e Galileo. Já nos nossos tempos, Hitler pretendia salvar a raça ariana e Stalin livrar a pureza do comunismo das ameaças de seus adversários internos. Vargas precisava, depois de 1935, livrar o País dos comunistas e dos integralistas. A última ditadura militar prometia livrar o País da ameaça comunista e da corrupção. Sempre ela. Tudo cabia sob o guarda chuva de “crimes políticos”.
 
Hoje, jovens juízes e procuradores, sem cultura histórica, esmeram-se como os novos “salvadores da pátria” (de que os cemitérios de todo o mundo estão plenos), portadores de uma missão divina, sentem-se e agem como cruzados da modernidade. Para salvar o País da corrupção, tudo é permitido, mesmo a injustiça, a perseguição política, a derrogação dos direitos individuais tão penosamente conquistados pela civilização.
 
A judicialização da política se agrava com a partidarização da Justiça e quando procedimentos inconstitucionais não são detidos, como os do juiz Moro e os do inefável ministro Gilmar Mendes – “aquele que não disfarça” como muito bem precisou o jornalista Bernardo Mello Franco, a Justiça, última expectativa de segurança do cidadão comum, transforma-se em uma falácia.
 
Permanentemente impune, o ministro Mendes impregna de peçonha os seus pagos e agora transforma o TSE em tribuna para discutir parecer da Procuradoria-Geral da República que condena como inconstitucional a PEC 241 (aquela que congela os investimentos em saúde e educação) e assim meter seu incabível bedelho na discussão do mérito da emenda.
 
Em “nota técnica” assinada e divulgada por ordem superior por dois funcionários da casa, o TSE – que nada tem a ver com as discussões que se travam no Congresso, e sem ser chamado – discute o mérito da proposta e condena o que chama de irresponsabilidade fiscal de governos predecessores.
 
Referindo-se claramente à Procuradoria-Geral da República, dita a nota: “Não se afigura sequer razoável que instituições que se beneficiaram tanto e, portanto são sócias da irresponsabilidade, agora procurem fazer uma interpretação constitucional heterodoxa, contrária à história, para buscar, de modo egoísta, a manutenção de privilégios[…]”.
 
Para o procurador e jurista Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça, esses tristes dias de hoje lembram muito a visão de justiça nazista. Nossos juízes de hoje estariam simplesmente a repetir o que fazia Roland Freisler, presidente do Volksgerichtshof, o Tribunal Popular da Alemanha. Naquele então também se proclamava que “tempos excepcionais exigem leis excepcionais, tempos difíceis que exigiam juízes excepcionais, decisões excepcionais. Assim entre nós, no Tribunal de Segurança Nacional da ditadura varguista. Em 1964, para salvar a democracia, os militares nos premiaram com 20 anos de ditadura.
 
O Poder Judiciário brasileiro é um ponto fora da curva do Estado de direito democrático.


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Editora Revan lança obra A Resistência à Remoção de Favelas no Rio de Janeiro

14/10/2016 16:55 - Copyleft

Editora Revan lança obra A Resistência à Remoção de Favelas no Rio de Janeiro

A Editora Revan lança livro organizado sobre o trabalho do NUTH, Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro


USINA da Comunicação
Divulgação
A Editora Revan lança a obra “A Resistência à Remoção de Favelas no Rio de Janeiro”. A ideia de organizar um livro sobre o trabalho do NUTH - Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2011, surgiu a partir da divulgação de pesquisas realizadas por diversas pessoas que, de uma forma ou de outra, participaram da atuação desse órgão público na luta contra o novo ciclo de remoções que se instaurou no Rio de Janeiro.

 

As manifestações populares nas areias de Copacabana em comemoração pela escolha da cidade como sede dos Jogos Olímpicos, em 2009, já demonstravam o caráter que os grandes eventos imprimiriam à cidade e seus habitantes. Pela primeira vez na história, uma cidade foi escolhida para sediar quase todos os maiores eventos internacionais. Nem dez anos separam os Pan--americanos de 2007 e as Olimpíadas de 2016. A preparação da cidade para tais eventos fez do Rio de Janeiro, em poucos anos, um grande laboratório de um urbanismo pautado numa aliança entre a iniciativa privada e os poderes públicos.

 






“Esse modelo de cidade rapidamente se volta, mais uma vez, para o ‘grande problema urbano da cidade’: as favelas. Se parte delas poderiam ser ‘integradas’ mediante ocupação policial, parte delas deveriam sair em nome do progresso. Como diziam agentes da Prefeitura, não se faz uma omelete sem quebrar alguns ovos! Assim, o sucesso dos grandes eventos e a credibilidade internacional do país dependia da boa vontade dos favelados em aceitar sair de suas casas, rompendo histórias e destruindo vidas”, destaca Rafael Gonçalves, que escreveu o prefácio.

 

Resistência em defesa da moradia e de uma cidade mais democrática

 

O material reunido está longe de representar apenas um conjunto de pesquisas acadêmicas fundadas na reflexão distanciada de determinado objeto. Ele foi elaborado a partir do envolvimento pessoal, afetivo e político de cada participante, trazendo as marcas e as cicatrizes de vitórias e de derrotas inerentes ao processo de resistência em defesa da moradia e de uma cidade mais democrática.

 

“Os moradores e demais atores que protagonizam as lutas urbanas contemporâneas precisam enfrentar um ‘pacote’ de diversas estratégias de remoção que se modificam continuamente e reúnem uma série de distintas táticas: argumentos ambientais, urbanísticos, econômicos, paisagísticos e, principalmente, a suposta proteção da própria vida dos moradores”, comentam Alexandre Mendes e Giuseppe Cocco, organizadores da obra.

 

Este livro nasce não só para ser lido, mas principalmente para ser usado – ou “mordido” nos dizeres de Mario de Andrade. Nele, moradores de favela, de ocupações urbanas, ativistas da cidade, urbanistas, pesquisadores, comunicadores, assessores jurídicos e, principalmente, todos aqueles que desejam coproduzir uma cidade mais democrática, podem encontrar algumas ferramentas úteis a serem manuseadas em diversas e imprevisíveis ocasiões.

 

Ficha Técnica



Organizador(es): Alexandre F. Mendes e Giuseppe Cocco

ISBN: 978-85-7106-569-7

Idioma: Português

Edição: 1ª /2016

Encadernação: brochura

Número de Páginas: 344

Ano de Edição: 2016

Formato: 16 x 23cm


Créditos da foto: Divulgação

A desordem mundial: o espectro da total dominação

14/10/2016 15:27 - Copyleft

A desordem mundial: o espectro da total dominação

Com certa decepção, constatou Bill Clinton, 'desde 1945 os Estados Unidos não venceram nenhuma Guerra'. Do Iraque fugiram em sigilo e na calada da noite.


Leonardo Boff*
Skeeze / Pixabay
O título é do último livro de Luiz Alberto Moniz Bandeira (Civilização Brasileira, 2016), o nosso mais respeitado analista de política internacional. O autor teve acesso às mais seguras  fontes de informação, a múltiplos arquivos, aliando  tudo a um vasto conhecimento histórico. São 643 páginas densas, mas escritas com tal fluidez e elegância que parece estarmos lendo um romance histórico.
 
Moniz Bandeira é antes de mais nada, um minucioso pesquisador e, ao mesmo tempo, um militante contra o imperialismo estadunidense, cujas entranhas corta com um bisturi  de cirurgião. Não sem razão, foi preso entre 1969 e 1970 e novamente em 1973 pelo temível Centro de Informações da Marinha (Cenimar), pois se opunha criticamente, no contexto da guerra-fria, ao principal suporte da ditadura:  os Estados Unidos. 
 
Os materiais de que dispõe lhe permitem denunciar a lógica imperial presente no sub-título:”guerras por procuração, terror, caos e catástrofes humanitárias”. Quem ainda nutre admiração pela democracia  norte-americana e procura se alinhar aos desígnios imperiais (como fazem neo-liberais brasileiros), encontrará aqui vasto material para reflexão  crítica e dados para uma  leitura do mundo mais diferenciada.
 
Dois motes orientam o centro do poder do estado norte-americano com seus inumeráveis órgaõs de segurança interna e externa:”um mundo e um só império” ou”um só projeto e o espectro da total dominação (full-spectrum dominance/superiority)”. Quer dizer, a política externa norte-americana se inspira no (ilusório) “excepcionalismo”, do velho “destino manifesto”, uma variante “do povo eleito por Deus, raça superior”, chamada a difundir no mundo todo a democracia, a liberdade e os direitos (sempre na interpretação imperial que emprestam a estes termos) e se considerar (pretensamente) “a nação indispensável e necessária”, ”âncora da segurança global” ou o “único poder”(lonely power).





 
Já no século XVIII Edmund Burke (1729-1797) e no século XIX o francês  Alexis Tocqueville (1805-1859), pressentiram que o presidente norte-americano detinha mais poderes que um monarca absolutista. Isso degeneraria numa “military democracy”(p. 55). Efetivamente, sob George W.Bush por ocasião dos atentados às Torres Gêmeas”, se instaurou a verdadeira democracia militar, com a declaração do “war on terror” e a publicação do “patriotic act” que suspendeu os direitos civis básicos até o habeas corpus e a permissão de torturas. Na verdade isso configura um estado terrorista.
 
Como vários cientistas norte-americanos, citados por Moniz Bandeira (p.470), afirmaram: “não há mais uma democracia mas uma “economic élite domination” à qual se deve submeter o presidente. As decisões são tomadas pelo complexo industrial-militar (a máquina de guerra), por Wall Street (as finanças),  por ponderosas organizações de negócios e por um pequeno número de norte-americanos muito influentes. Para garantir o “espectro da total dominação” são mantidas 800 instalações militares pelo mundo afora, a maioria com ogivas nucleares e 16 agências de segurança com 107.035 civis e militares. Como afirmou H. Kissinger:”a missão da América é levar a democracia, se necessário, pelo uso da força”(p.443). Neste lógica, de 1776-2015, portanto, em 239 anos de existência dos EUA, 218 foram anos de guerra, apenas 21 de paz (p. 472).
 
Esperava-se que Barack Obama desse outro rumo a esta história violenta. Ilusão. Trocou apenas os nomes, mas manteve todo o espírito excepcionalista e as torturas em Guantánamo e em outros lugares fora dos EUA como no tempo de Bush. À “perpetual war” deu o nome de “Oversee Contingency Operation”. Por decisão pessoal (criminosa), autorizou centenas de ataques com drones e com aviões não pilotados, vitimando as principais lideranças árabes (p. 476).
 
Com certa decepção, constatou  Bill Clinton, “desde 1945 os Estados Unidos não venceram nenhuma Guerra” (p.312). Do Iraque fugiram em sigilo e na calada da noite (p.508).
 
O livro de Moniz Bandeira entra em detalhes mínimos sobre a Guerra na Ucrânia, na Criméia e no Estado Islâmico na Síria, com os nomes dos principais atores e datas.
 
A conclusão é avassaladora:”Onde quer que os Estados Unidos intervieram, como o “specific goal of bringing democracy”, a democracia constitui-se de bombardeios, destruição, terror, massacres, caos e catástrofes humanitárias…entraram para defender suas necessidades e interesses econômicos e geopolíticos, seus interesses imperiais”(p.513).
 
A mole de informações arroladas sustentam esta afirmação, não obstante as limitações que sempre poderão ser apontadas.
 
Leonardo Boff é articulista do JB on line e escreveu Ethos Mundial: um consenso mínimo entre os humanos, Record 2009.


Créditos da foto: Skeeze / Pixabay

Concentração midiática e liberdade de expressão

14/10/2016 10:43 - Copyleft

Concentração midiática e liberdade de expressão

A regulação estatal e a desconcentração da mídia é a via capaz de produzir um melhor equilíbrio entre operadores e produções jornalísticas.


Por Lidia Baltra, para Rádio Cooperativa
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Os meios de comunicação de direita martelam todos os dias a ideia de que são as únicas vozes imparciais e objetivas quando se tratar de apresentar la realidade dos fatos que acontecem em cada país e no mundo. Porém, o que fazem, na verdade, é propalar o seu modelo de vida e de sociedade como os únicos possíveis, discurso que é reforçado em períodos de eleições. Esta sim é uma situação que limita gravemente a liberdade de expressão.
 
Os donos desses meios negam espaço a qualquer visão política ou ideológica que fuja do pensamento hegemônico defendido por eles. As acirradas eleições presidenciais dos Estados Unidos talvez tenham derrubado um pouco esta retórica. Dias atrás, o diário conservador USA Today causou polêmica ao anunciar publicamente seu apoio à candidatura de Hillary Clinton, em aberta oposição a Donald Trump, que seria o candidato natural de um periódico que sempre esteve do lado do Partido Republicano.
 
Outros jornais tradicionalmente republicanos fizeram o mesmo depois, e o canal de notícias CNN também adotou a mesma linha. Assim, abandonaram a hipocrisia de que se tratava de uma cobertura imparcial – sem deixar de apoiar o setor que sempre representaram, já que ninguém espera que Clinton impulse mudanças mais profundas na sociedade norte-americana.
 
Por isso, aqueles que não estão no privilegiado grupo dos 1 % mais ricos reclamam pela ausência de outros modelos de vida e pontos de vista mais divergentes no leque de opiniões oferecido pelo pelos grandes veículos jornalísticos. “Necessitamos diversidade e pluralismo, algo que os Estados deveriam promover”, afirma o jornalista uruguaio Edison Lanza, Relator sobre Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).





 
A hegemonia quase total da imprensa escrita, audiovisual e eletrônica está nas mãos da direita, nos Estados Unidos e em enorme parte da América Latina. Essa patologia tem um nome: concentração midiática, e continua se alastrando pelo nosso continente. No Chile, para citar um exemplo, 75% dos meios escritos estão concentrados em apenas dois grupos. No caso da televisão aberta, 89% dos canais pertencem aos três grupos mais poderosos, que não apresentam grandes diferenças ideológicas entre si – e só os poucos canais estatais quebram um pouco essa lógica, oferecendo algo mais de diversidade, mas não muito.
 
Esta e outras cifras no mesmo sentido foram entregues por estudiosos do fenômeno num seminário internacional sobre o tema, realizado recentemente em Santiago, convocado pelo Observacom (Observatório Latino-Americano de Regulação, Meios e Convergência) e pela Associação dos Jornalistas do Chile.
 
Entre as apresentações de outros vários países, se destacou um estudo dirigido pelo professor Guillermo Mastrini, da Universidade de Buenos Aires, que demonstra a concentração da imprensa escrita, dos meios audiovisuais (rádio e televisão), das telecomunicações (telefonia fixa e móvel) e da internet em cinco países: Argentina, Peru, Chile, Colômbia e México. Em todos esses casos, a concentração da propriedade dos meios superava os 90 %. Em telefonia fixa, a maior taxa de concentração são as da Argentina e do México. Em termos de telefonia celular, o Chile lidera o quesito, assim como em termos de televisão fechada.
 
A era da tevê digital trouxe a expectativa de uma abertura do espectro radioelétrico, onde nascem os canais, o que permitiria a entrada de novos operadores, com distintas propostas, gerando assim a ansiada diversidade. Mas não foi isso o que aconteceu. O sistema televisivo continua restrito às mesmas opções de outrora, apesar das longas (e finalmente infrutíferas) discussões legislativas em busca de mudanças.
 
Alguns países conseguiram ao menos gerar novas legislações medianamente mais favoráveis a um jornalismo e um espaço comunicacional em geral com mais pluralismo, reservando parte do espectro aos meios comunitários – chegando até a 40%, em alguns casos. Porém, o tempo passa e os operadores dos canais abertos continuam sendo os mesmos de sempre, o que faz com que a oferta de canais esteja presa à mesma visão única, que casualmente apoia o modelo político e econômico que nos mantém entre os países mais desiguales do mundo.
 
Se alguém ainda se pergunta, ingenuamente, porque esta situação não muda, a resposta é simples: porque existe uma colusão entre o poder dos meios de comunicação e o poder político/econômico. São forças que apoiam mutuamente, o que é facilitado pelo fato de que seus protagonistas representam o mesmo setor.
 
Outra razão é que, mesmo quando há alternância no poder e as novas autoridades são conscientes do problema da concentração midiática, é pouco ou nada o que se faz para combater o problema. Há quem defenda que isso acontece porque aqueles que poderiam se rebelar contra essa estrutura foram freados pelo temor ao boicote contra si por parte dessa mesma mídia, suas fotos já não apareceriam nos meios, as notícias já não seriam favoráveis, o que é fundamental para um político manter sua imagem perante o eleitorado.
 
Mas também há os que estão dispostos a atacar esta patologia, mas não sabem bem por onde começar, já que são muitas as frentes em que se deve atuar. Por exemplo, na distribuição das frequências radioelétricas (no caso das rádios), das licenças de concessões televisivas, da distribuição da publicidade estatal na imprensa, entre outros. Para complicar as coisas, os novos atores que desejam ingressar no sistema midiático, mesmo no caso dos meios eletrônicos, necessitam de um alto conhecimento tecnológico.
 
Algumas legislações que defendem a livre concorrência, aplicadas aos meios de comunicação, poderiam ser um aliado, se fossem efetivas ao denunciar a concentração do ponto de vista econômico e tecnológico, mas elas raramente se aplicam a este setor. Os indicadores para medir o pluralismo e a diversidade, que é o resultado que se espera na gestão dos meios, ainda não estão oficialmente estabelecidos.
 
No momento, a regulação estatal é a via capaz de produzir um melhor equilíbrio entre operadores e produções jornalísticas. Seria melhor ainda se fosse acompanhada de políticas públicas ativas, que permitissem desconcentrar a mídia.
 
Tradução: Victor Farinelli


Créditos da foto: reprodução

14/10/2016 - Clipping Internacional

14/10/2016 10:36 - Copyleft

14/10/2016 - Clipping Internacional

Os Estados Unidos juntam-se à monarquia da Arábia Saudita e bombardeia os 'inimigos' religiosos daquela monarquia.


Carta Maior
Reprodução
MUNDO
 
American Prospects, EUA
O último alvo dos irmãos Koch: o papa Francisco. Conhecidos por seus gastos vultosos na política conservadora norte-americana, eles têm despejado milhões nas escolas de negócios em universidades católicas para promover o ortodoxia do mercado livre em flagrante contraste com os ensinamentos do Papa Francisco.
http://prospect.org/article/koch-brothers%E2%80%99-latest-target-pope-francis
 
Realpolitics, EUA





Apenas um dentre os institutos de pesquisa norte-americanos coloca Trump à frente em pesquisas nacionais. Todos os demais apontam Clinton à frente por larga margem. Nos estados, também, a maioria é pro Clinton.
http://www.realclearpolitics.com/epolls/latest_polls/president/
 
Huffington Post, EUA
Os Estados Unidos juntam-se à monarquia da Arábia Saudita e bombardeia os “inimigos” religiosos daquela monarquia.
http://www.huffingtonpost.com/entry/yemen-us-navy-attacks_us_57ff0994e4b05eff55819087?section=&section=us_world
 
Sputniknews, Russia
Wikileaks: Clinton ameaça “cercar a China com um sistema antimíssil”. Os documentos recentemente publicado pelo site Wikileaks mostram que a presidenciável democrata Hillary Clinton, quando era Secretária de Estado dos EUA, ameaçou "cercar a China com sistemas de defesa antiaérea", caso o governo chinês não conseguisse conter o programa nuclear da Coreia do Norte.
https://br.sputniknews.com/mundo/201610146551074-wikileaks-clinton-china/
 
The New York Times, EUA
Os grandes doadores de campanhas do partido republicano dizem ao partido: livrem-se de Trump!
http://www.nytimes.com/2016/10/14/us/politics/republican-donors-trump.html?hp&action=click&pgtype=Homepage&clickSource=story-heading&module=first-column-region&region=top-news&WT.nav=top-news&_r=0
 
Los Angeles Times, EUA
Na Tailândia, a morte do mais antigo rei no mundo abre o país para a confusão política e a instabilidade. 
http://www.latimes.com/world/asia/la-fg-thailand-stability-20161013-snap-story.html
 
La Repubblica, Italia
Sondagem Ipsos-Mori em 25 países sobre “o que preocupa o mundo” revela que o trabalho é a preocupação número um seguido da corrução, pobreza e criminalidade. E, na Itália, 83 % dos entrevistados do país acham que “a coisa vai na direção errada”.
http://www.repubblica.it/esteri/2016/10/14/news/le_paure_del_mondo_disoccupazione_e_tasse_gli_incubi_italiani-149741226/
 
The Intercept, EUA
Sobre o Wikileaks, sobre jornalismo e sobre privacidade: Matéria sobre os arquivos Podesta que trata de e-mails dos democratas revelados em plena campanha onde é fácil discutir tratar dessa questão.
https://theintercept.com/2016/10/13/on-wikileaks-journalism-and-privacy-reporting-on-the-podesta-archive-is-an-easy-call/
 
BRASIL
 
Página 12, Argentina
O juiz de Temer é seu amigo. O presidente de fato recebe o magistrado que o investiga. Mendes, titular do STF, falou que o conteúdo da reunião que manteve com Temer foi “uma “conversa entre velhos amigos”.
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-311722-2016-10-14.html
 
Artigo de Emir Sader: Contratendencia
http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-311723-2016-10-14.html
 
El País, Espanha
O cerco judicial a Lula se estreita com uma terceira acusação. O deputado destituído Eduardo Cunha, verdugo de Dilma Rousseff, também se sentará no banco dos acusados pelo caso Petrobrás.
http://internacional.elpais.com/internacional/2016/10/14/america/1476411229_210730.html
 
The Intercept Brasil, EUA
PEC 241 é uma tragédia jurídica;
https://theintercept.com/2016/10/13/pec-241-e-uma-tragedia-politica-e-juridica/

Criação da Frente Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida Pública

Terça, 11 Outubro 2016 18:08

Capiberibe defende criação de PEC para teto dos gastos com a dívida pública

A dívida pública nunca foi auditada como determina a Constituição Federal. Essa foi a motivação para a criação da Frente Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida Pública com Participação População que reuniu-se pela primeira vez hoje (11), no plenário 13, da Câmara dos Deputados.
A falta de auditoria e transparência proporciona ilegalidades, ilegitimidades e até fraudes, tais como a suspeita de renúncia à prescrição, diversas transformações de passivos privados em dívidas públicas, além de mecanismos financeiros que geram dívida sem contrapartida alguma ao país ou à sociedade, a exemplo das escandalosas operações de swap cambial e operações compromissadas.
Os representantes da Frente propõem a criação de uma PEC relativa ao teto dos gastos com a dívida pública. Essa PEC tramitaria inicialmente no Senado Federal.  “Hoje cerca de 43% do orçamento da União é destinado a pagamentos de juros da dívida pública, que só faz aumentar a cada ano. A PEC 241 vai aprofundar a sangria, ou seja, vai retirar dinheiro da saúde e da educação para pagar mais juros, simples assim. Uma tragédia para a sociedade brasileira. A melhor maneira de reduzir gastos é estabelecendo teto para pagamento de juros”, explicou o senador João Capiberibe (PSB/AP), presidente da Frente.
O senador acredita, ainda, que, por isso que é tão importante realizar a auditoria dessas dívidas, a fim de segregar o que é dívida legítima e ilegítima. “A atuação desses mecanismos financeiros tem provocado não somente a geração de dívida pública, mas também o seu contínuo crescimento, devido à aplicação de condições extremamente onerosas, alcançando patamares insustentáveis”.
“A PEC 241 é um assalto à Constituição Federal, segundo economistas ela não se sustenta sob nenhuma justificativa e será um dano ao país, temos que focar nosso discurso nos gastos do orçamento com a dívida pública”, disse a auditora fiscal Maria Lucia Fattorelli.
Além de sangrar os orçamentos, a dívida pública tem sido a justificativa para  um pacote de medidas que tramitam em regime de prioridade no Congresso Nacional, como o PLP-257/2016, e as PECs 241/2016, 143/2015 e 31/2016, entre outros projetos, que jogam essa conta ilegítima nas costas de trabalhadoras e trabalhadores públicos e privados, ativos e aposentados, provocando danos patrimoniais, sociais e morais à sociedade e ao país.
Participaram da reunião da Frente além do senador Capiberibe e da auditora Maria Lucia Fattorelli, o advogado José Márcio Rielli e os deputados Adelmo Leão (PT/MG), Janete Capiberibe (PSB/AP), Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ) e Bohn Gass (PT/RS).