segunda-feira, 14 de maio de 2018

O que é classe social?


Sociedade

O que é classe social?

por Jessé Souza — publicado 14/05/2018 17h30, última modificação 14/05/2018 11h19
Não se trata de recorte de renda. É, antes de tudo, a reprodução de privilégios
Reprodução
O que é classe social?
O privilégio secular continua a ser apresentado como mérito
É comum, inclusive entre gente da esquerda, se falar de classe social como se fosse constituída pelo nível de renda. O problema com os conceitos da ciência é que eles herdam o caráter sagrado dos dogmas religiosos. Pelo seu “carisma” e prestigio, portanto, a ciência é o lugar da manipulação mais perigosa e poderosa sobre um público leigo e indefeso.
Hoje em dia, a “falsa consciência” de uma sociedade é construída em boa parte com meios (pseudo) científicos. Daí que, como artificio retórico, sempre se diga que existem ideias que nos fazem de imbecis. De posse de uma realidade confusa e distorcida, nossa ação no mundo é também confusa, hesitante e manipulável. Ou seja, nos tornamos efetivamente imbecis no sentido prático que todos entendem.
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Por que confundir classe social com renda nos faz imbecis? Ora, primeiro porque distorce e inverte o núcleo principal da ideia de classe social.
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Classe social é, antes de tudo, a reprodução de privilégios, positivos ou negativos. O problema é que muitos privilégios positivos, como a posse de conhecimento valorizado, é literalmente invisível para a maioria.
Para aprender de verdade na escola é necessário ter tido em casa, em tenra idade, todos os estímulos emocionais e morais (também invisíveis) sem os quais não existe real aprendizado. Ninguém nasce com capacidade de concentração, disciplina e autocontrole, pensamento prospectivo, capacidade de pensamento abstrato.
Em seu conjunto, essa “herança imaterial” permite reproduzir o privilégio da classe média“real” entre gerações que recebem de “presente”, pela socialização familiar específica da classe, o sucesso escolar e o sucesso no mercado de trabalho mais tarde.
Ou seja, a “renda” que a classe média adulta aufere só existe por conta dessa reprodução invisível de privilégios positivos na infância e na adolescência. É isso que explica a renda diferencial dos indivíduos da classe média em relação aos das classes populares e não o contrário.
Ao tornar a reprodução de privilégios invisível, a ciência se torna manipuladora, ao inverter causa e efeito, e legitima privilégios injustos como mérito individual e pode, inclusive, culpar as vítimas do abandono pela sua exclusão.
Mais ainda. Como todas as distinções importantes entre os indivíduos de classe distinta irão ser construídas também de modo invisível pela socialização familiar e escolar, todas as distinções simbólicas entre os indivíduos, quando se define classe como renda, tendem a ser percebidas como decorrente de outras razões – preconceito regional, de raça ou cor, etc. - que não a classe social.
Isso também nos faz de imbecis. É a classe social e sua reprodução familiar específica que cria os “estilos de vida” distintos, que se expressam nos modos de comer, beber, andar, falar e se vestir, que criam simpatia e solidariedade imediata e emocional entre os iguais e desprezo e preconceito contra os desiguais.
Isso legitima e justifica a desigualdade em todos os níveis e a faz parecer “mérito” e expressão de uma superioridade “inata” daqueles com “modos de gente” sobre quem tem “modos de animais”. Essa é a maneira pela qual a confusão de classe com renda, na verdade a renda é apenas o mais visível entre os diversos privilégios, compromete nossa reflexão sobre o mundo e nos imbeciliza no sentido sóbrio e exato do termo.   
Dizer isso é dizer também que a classe social, “bem compreendida”, é o conceito mais importante para qualquer analise social bem feita. Perceber isso não significa, por outro lado, negar a importância de outras formas simbólicas de opressão e injustiça.
Entre nós, a “raça” é umbilicalmente ligada, até hoje, aos preconceitos contra as classes populares. Existe uma continuidade do desprezo e do ódio ao escravo no desprezo e no ódio ao pobre de hoje.
O amálgama entre “raça” e classe não deve implicar, no entanto, em confusão. A marginalidade e a exclusão social são criadas pela reprodução, também invisível, de privilégios “negativos” como a ausência dos pressupostos descritos acima para o sucesso escolar e no mercado de trabalho. Estes são mecanismos de classe, ainda que amalgamados de modo inextricável a “raça” e a cor da pele entre nós pela herança escravocrata consubstanciada em ódio e desprezo cotidianos ao pobre e ao negro.  
Tornar a classe social “bem compreendida” ainda mais invisível do que ela é foi a grande sacada do capitalismo financeiro desde os anos 90 do século passado.
Ao separar as lutas por “igualdade” - redistribuição de riqueza e poder - das lutas por “diversidade” de grupos identitários oprimidos, o capitalismo financeiro separou o inseparável e ainda tirou onda de emancipador, enganando muita gente boa. Isso também nos faz imbecis. A Rede Globo, como a boca do capital financeiro entre nós, nada de braçada nesse mar revolto.

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Edição: Mauro Ramos

Sérgio Gabrielli: “Vivemos a explicitação da luta de classes no Brasil”

ENTREVISTA

Sérgio Gabrielli: “Vivemos a explicitação da luta de classes no Brasil”

Ex-presidente da Petrobras fala em entrevista ao Brasil de Fato sobre momento político e as articulações pré-eleitoral

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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Ouça a matéria:
Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras / Foto: Roberto Parizotti/CUT
O ano de 2018 já está marcado por incertezas no campo econômico e principalmente político. Mesmo preso, Lula segue na preferência do eleitorado, de acordo com as últimas pesquisas divulgadas. A direita ainda patina no cenário, sem conseguir emplacar um nome forte para a disputa. Enquanto isso, setores da esquerda se reúnem em torno à discussão programática, de reversão do processo de destruição do estado, mas sem discutir a possibilidade de uma candidatura unitária. 
Esses são alguns dos temas abordados pelo ex-presidente da Petrobras durante os governos Lula e Dilma (2005-2012), o economista baiano Sérgio Gabrielli, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato. Confira: 
Brasil de Fato: Qual a sua avaliação desse momento histórico que o Brasil vive com forte polarização na disputa política?
Sérgio Gabrielli: Eu acho que o que nós vivemos hoje é a explicitação de um estágio atual da luta de classes brasileira. Nós temos uma situação em que aquela fase em que foi possível que todos melhorassem, ou seja, que os de baixo melhorassem, mas que os de cima também, passou. Não temos mais a situação internacional que favoreça isso, não temos mais a capacidade ociosa que possibilite essa retomada sem precisar de mais reformas estruturais. Chegamos a um ponto em que, para continuar melhorando a vida dos de baixo, é preciso tirar um pouco dos de cima. Isso não quer dizer socialismo, ainda. Isso significa apenas que a luta de classes se explicita de uma forma mais clara. E para isso, vai haver conflito, o que vai exigir uma redefinição das forças políticas. 
Como a esquerda, de forma unificada, está se preparando para enfrentar esse desafio de reconstruir o Brasil?
Nós tivemos um manifesto comum dos partidos, as fundações estão formulando diretrizes gerais. Eu acho que esse processo precisa se intensificar. Precisamos fazer uma discussão de contraponto ao programa que, na prática, está sendo implementado pela direita, ou seja, temos que dar alternativas para o país voltar a crescer, para reduzir a pobreza, para reduzir a desigualdade, para reassumir um papel de soberania nacional, alternativas para a reconstrução do estado brasileiro e ampliação da democracia, e não a redução dela.
De que modo essa posição comum da esquerda estaria refletido nas candidaturas, no processo eleitoral?
Nós temos objetivamente quatro candidaturas de centro-esquerda, talvez três de esquerda e uma de centro, mas temos quatro candidaturas. Isso é fato e temos que trabalhar com essa realidade. Então é preciso ter a capacidade política de viabilizar uma discussão programática para governar e até para, se caso perder a eleição, ser oposição, e viabilizar as eleições legitimamente com a presença de candidatos tanto a deputados, como governadores e presidente, comprometidos com esse programa. Se vamos ter uma candidatura única ou se vamos ter várias candidaturas no primeiro turno, é o processo que vai dizer. Não tenho uma posição a priori nesse momento. Acho que temos que manter a candidatura de Lula e trabalhar com a discussão programática.
Ou seja, o sr. defende a manutenção da candidatura de Lula?
Eu sou favorável da manutenção da candidatura do Lula. Não só porque o PT quer, mas porque o povo quer e as pesquisas mostram. Mais de 30% dos eleitores estão dizendo que querem votar no Lula. E se não for pra votar no Lula não sabem o que fazer.
O sr. afirma que temos quatro candidatos, um mais ao centro. Esse seria o Ciro?
Eu acho que o Ciro defende um programa desenvolvimentista, um programa em que a recuperação da indústria brasileira é um elemento importante, um programa que vai contra o rentismo selvagem que nós temos no Brasil e ele é o PDT, que é um partido popular, com representação popular. Nesse sentido, eu o considero parte do espectro da centro-esquerda. Acho que nesse momento isso está em disputa. A centro-direita está tentando polarizar, puxá-lo para o lado de lá, mas acho que não podemos empurrá-lo a uma posição mais à direita, ele tem que ser conquistado. Acho que uma discussão programática com ele, sobre o papel da indústria brasileira, sobre a capacidade do câmbio vir a estimular a indústria brasileira tem que ser feita e é uma área importante de ser trabalhada com o Ciro. 
O sr. acredita que, caso a esquerda vença as eleições, terá força para enfrentar o rentismo e apontar novamente à redistribuição de renda no país?
Eu acho que nós temos que construir essa força. Acho que os governo Lula e Dilma não conseguiram de fato enfrentar essa questão de forma significativa. Em 2011, a Dilma tentou reduzir um pouco o rendimento do capital rentista, foi rapidamente derrotada, e essa questão para mim é hoje central em termos das finanças públicas. Nós temos uma disputa clara entre o pagamento de juros da dívida via emissão de novos títulos de dívida ou via transferências do Tesouro, mas o fato é que a dívida pública brasileira consome boa parte do orçamento brasileiro. Se nós não enfrentarmos esse problema nós não vamos conseguir enfrentar o desafio de retomar o crescimento com distribuição de renda. Precisamos continuar a luta para reduzir a desigualdade, para extinguir a pobreza absoluta no país, para expandir os serviços públicos a favor de quem mais necessita, e isso não é possível com tantos recursos sendo carreados para quem vive de renda no país. 
E uma reforma tributária, ajudaria nesse processo?
É imprescindível uma reforma tributária que, de um lado, diminua o peso dos impostos indiretos, e de ouro lado, provoque uma maior progressividade no imposto direto. Não é justo que um trabalhador que ganhe cinco mil reais pague 27,5% de imposto de renda, e o irmão ou a irmã dele, que vive de dividendos, pague zero de imposto de renda. Isso não é justo! E quem ganha rendimentos sobre juros de capital próprio, que ganha rendimento financeiro, paga 15%. Nós precisamos rever esse tipo de tributação. 
E como o sr. avalia a movimentação da direita nesse fase pré-eleitoral?
Eu acho que a direita tem um programa mais ou menos definido. De forma bem esquemática, ela tem o objetivo de manter a renda dos rentistas no Brasil, o que significa manter a independência do Banco Central, o que significa manter a política de juro real alto, apesar dos juros nominais terem caído, o que significa a não tributação sobre os ganhos financeiros, portanto, esse é um objetivo importante da direita. Um outro objetivo da direita é reduzir o custo do trabalho, o que significa que vão evitar o aumento do salário mínimo, evitar o aumento real do salário das diversas categorias, vão tentar desmontar o movimento sindical, vão tentar aumentar a precarização das relações de trabalho. Um terceiro objetivo é de subordinação do Brasil aos interesses dos centros dinâmicos internacionais, particularmente com a submissão na política energética brasileira aos interesses americanos, uma diminuição da política externa autônoma. E finalmente, para conseguir tudo isso, é preciso fazer uma redução do espaço democrático e da participação social. Esse conjunto de ideias ainda não tem candidato.
Geraldo Alkimin não seria esse candidato?
O Alkimin está tentando ser essa alternativa, só que ele não conseguiu se viabilizar eleitoralmente. Na verdade, nesse momento, ele é um candidato que não passa dos 10%. Ele é um candidato forte, sem dúvida nenhuma, mas fora de São Paulo ele não tem força nenhuma, porque o PSDB está desmontado nacionalmente, porque a direita, digamos, civilizada, está desmoralizada, e porque os programas que estão sendo implementados estão prescindindo da presença do Alkimin.
E a Marina Silva, estaria nesse mesmo espectro da centro-direita?
Eu acho que a Rede é um partido de centro-direita, não de centro-esquerda. Acho que a Marina, com uma ênfase demasiada, cada vez menor aliás, exclusivamente em relação à questão ambiental e uma aderência completa a valores conservadores da direita, ela não pode ser caracterizada como centro-esquerda. Acho que a Rede e a Marina estão disputando o apoio da direita.
O senhor acredita que, frente a possibilidade de derrota, a direita possa tentar inviabilizar as eleições?
Eu acho que vivemos uma crise geral. A direita pode querer inviabilizar as eleições. Se nós continuarmos com esse apoio popular claro, eles podem tentar adiar as eleições. E aí nós vamos agravar a crise e aprofundar a contradição, o conflito, e dificilmente teremos uma saída viável no curto prazo. 


 
Edição: Juca Guimarães

Nota do IVH: Documento confirma relatório final da Comissão Nacional da Verdade

Nota do IVH: Documento confirma relatório final da Comissão Nacional da Verdade

O Instituto Vladimir Herzog vem a público manifestar seu estarrecimento pela confirmação das informações de que o ex-presidente Ernesto Geisel aprovou a continuidade de uma política de execuções sumárias daqueles que ousavam se manifestar contra a ditadura militar que aterrorizou o Brasil entre 1964 e 1985.
O documento, liberado agora pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, ainda afirma que Geisel teria orientado o então chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) que viria a substituí-lo na Presidência, João Baptista Figueiredo, a autorizar pessoalmente os assassinatos.
Apesar de não haver nenhuma surpresa, essa é mais uma prova de que não houve porões da ditadura; e sim uma política de Estado de terror, desaparecimentos forçados e assassinatos.
Tais informações reforçam de maneira incontestável as conclusões e as recomendações do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, publicado em dezembro de 2014, especialmente no que diz respeito à imprescindibilidade de reinterpretação da Lei nº 6.683 – a Lei da Anistia.
A anistia concedida a agentes públicos que ordenaram detenções ilegais e arbitrárias, torturas, execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres – como o documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos atesta – é incompatível com o direito brasileiro e a ordem jurídica internacional, pois tais crimes, dadas a escala e a sistematicidade com que foram cometidos, constituem crimes contra a humanidade, imprescritíveis e não passíveis de anistia.
Desta forma, torna-se urgente a reinterpretação dessa lei, uma vez que, da forma em que está estabelecida, ela perpetua a impunidade, propicia uma injustiça continuada, impedindo às vítimas e a seus familiares o acesso à justiça, e afronta o dever do Estado de investigar, processar, julgar e reparar as gravíssimas e generalizadas violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar.
Além disso, diante dos novos fatos, torna-se inaceitável a explicação, que até hoje tem sido adotada pelas Forças Armadas, de que tais violações se constituíram em alguns poucos atos isolados ou excessos, gerados pelo voluntarismo de alguns militares.
É imperativo, portanto, além da reinterpretação da Lei da Anistia, o reconhecimento, de modo claro e direto, da responsabilidade institucional das Forças Armadas por esse quadro terrível para que o Brasil possa, efetivamente, promover as mudanças que precisa para garantir a todos seus cidadãos o direito à verdade e à justiça e fortalecer seu Estado democrático de direito.
Instituto Vladimir Herzog11 de maio de 2018

Restaurante que hostilizou cliente cede e aceita notas com Lula e Marielle


FOI MAL...

Restaurante que hostilizou cliente cede e aceita notas com Lula e Marielle

Amigos de artista que sofreu agressões verbais no restaurante Komy's, em São Paulo, almoçam no local e pagam com notas de "Lula Livre" e "Marielle Presente", que casa havia recusado com violência
por Redação RBA publicado 11/05/2018 19h07, última modificação 11/05/2018 19h21
REPRODUÇÃO
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Cédula com o carimbo em defesa de Lula, que está preso em Curitiba: protesto não invalida valor das notas
São Paulo – Um grupo de 13 pessoas em defesa da liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu hoje (11) no restaurante Komy's, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, para realizar um protesto pacífico – almoçaram na casa e depois pagaram a conta com notas carimbadas com as mensagens "Lula Livre" e "Marielle Presente". O ato ocorreu como resposta a uma cena de ódio, registrada na terça-feira (8). Até então cliente do restaurante, a artista plástica Ana Teixeira relatou em sua página no Facebook ter sido vítima de ataque verbal e hostilidades ao tentar pagar a conta com uma nota com o carimbo. 
Hoje, no entanto, a postura dos donos do restaurante foi diferente. "O proprietário não se recusou a receber as notas e, inclusive, justificou-se dizendo que não sabia anteriormente que era possível fazer isso. Fico feliz em ver que a violência que sofri levou este homem a se reposicionar, seja lá pelos motivos que for", afirmou Ana.

Indigesto

Ao receber o dinheiro, a proprietária do restaurante, segundo o relato, começou a gritar de forma descontrolada. “Não aceito isso, sua bandida. Tentou me enganar dando a nota pelo outro lado, bandida!”, relatou Ana. “Logicamente que não tentei enganar ninguém, pois espalho estas notas com muito orgulho e sem medo”, afirmou a cliente, destacando que não há nenhuma ilegalidade nesse ato de protesto.
Segundo a artista plástica, a proprietária ergueu a nota na mão e começou a incitar todo o restaurante contra ela, dizendo que eu queria roubá-los pagando com nota adulterada. "Fiquei tão assustada que mal consegui falar. Logo eu que não costumo me assustar ou me calar nem em situações ditas perigosas", disse.
O proprietário também teria endossado os gritos de sua mulher quando Ana disse que eles teriam que aceitar a nota pois era ilegal não fazê-lo. “Foi assustador! Eles não paravam de gritar e tiveram o apoio de alguns clientes que começaram a gritar também: 'Vai pra Curitiba!'”
Frente ao conflito, as duas partes chegaram a cogitar de chamar a polícia, mas a cliente acabou por aceitar pagar com cartão de débito para atenuar a situação. “Eu não levantei a voz e disse que iria mostrar-lhes que as notas eram válidas. Eles continuaram gritando que não aceitariam e que chamariam a polícia. Eu disse que eu chamaria a polícia. Enquanto isso, pensando em chegar a um acordo mais civilizado, busquei no meu celular o post que mostra que não é ilegal passar ou aceitar notas carimbadas, mas eles se recusaram a vê-la e continuaram gritando. Comecei a tremer e a me sentir muito, muito vulnerável”, afirmou.

No Rio, bar fez "promoção"

“Ainda tive coragem para responder que crime é o que está sendo feito com Lula e com a população em geral, mas não consegui ser ouvida. Gritei o mais forte que pude 'Lula Livre' e saí de lá tremendo”, disse. Segundo ela, daqui para a frente, adotará o boicote ao restaurante como uma atitude mínima de defesa de sua dignidade.
Conduta oposta à do Komy's ocorreu no Rio de Janeiro, no início do mês. O proprietário do Bar do Omar, na zona portuária da cidade, divulgou desconto de 10% para os clientes que apresentassem notas com o carimbo 'Lula Livre'. Houve também, nos últimos dias, circulação de notícias falsas em grupos do WhatsApp alegando ilegalidade dessas notas e que a rede bancária teria proibido sua circulação. O próprio Banco Central já se manifestou desmentindo essa informação.