sábado, 18 de novembro de 2017

Lula ao ‘Nocaute’: MP invade minha casa mas não investiga a Globo?

Lula ao ‘Nocaute’: MP invade minha casa mas não investiga a Globo?

Reproduzo o vídeo, ao final do post, e a transcrição da primeira parte da entrevista feita ontem com Lula  e veiculada hoje por Fernando Morais em seu blog Nocaute. Imperdível.
Fernando Morais: Boa tarde, presidente Lula. É uma alegria estar aqui com o senhor. O presidente Lula nos deu a honra de ser o primeiro entrevistado aqui do estúdio, o nosso modesto estúdio do Nocaute. Vamos conversar um pouco sobre ele e sobre o Brasil. Antes, porém, eu queria que ele fizesse a gentileza de grudar ali do lado do Cassius Clay a nossa plaquinha.
Lula: Está inaugurado. Um pouco torto, mas está inaugurado.
Fernando Morais: Presidente, primeiro eu queria começar com as coisas mais suaves: caravana. O senhor tinha feito antes uma caravana para o Nordeste, mais demorada, que eu não pude ir. Mas eu fui na segunda, a de Minas Gerais e eu fiquei muito bem impressionado. Eu queria saber a sua impressão. Qual é o saldo que fica para o senhor dessas duas caravanas, que vão continuar semana que vem.
Lula: Primeiro eu pensei que você ia começar no dia dezesseis de novembro me perguntando da vitória do Corinthians ontem. Porque ontem o Corinthians antecipadamente se tornou pela sétima vez consecutiva campeão brasileiro, que não é pouca coisa. E como no Brasil nós temos duas coisas: um partido político é o PT e o resto é antipetista. E no futebol você tem o time de futebol que é o Corinthians, o resto é anticorintiano. Então, eu só posso estar feliz porque eu trabalho com muito palmeirense.
Fernando Morais: Você assustou na hora que o Fluminense fez o gol?
Lula: Me assustei. Te confesso que me assustei. Pensei: não é possível que vai dar urucubaca. Mas depois a gente mostrou que a gente estava em primeiro lugar porque o time tinha estabilidade emocional, tinha autocontrole. Porque o nosso time não é dos melhores. O Corinthians já teve time melhor, mas na draga que está o futebol brasileiro, o Corinthians mereceu esse título. Vamos pensar agora no terceiro título mundial.
Fernando Morais: Beleza! Deus te ouça.
Lula: A caravana.
Fernando Morais: A caravana. Primeiro a do Nordeste.
Lula: Fernando, a caravana teve como objetivo. Eu tinha duas coisas na cabeça quando pensei a caravana. Primeiro, fazer um reencontro com o Brasil. O Brasil é muito grande, muito heterogêneo, é uma diversidade cultural, econômica e social muito grande. E eu tinha noção do que nós tínhamos feito no período que governamos o Brasil e queria ver, nesse momento de desmonte do Brasil, o que estava acontecendo com os setores da sociedade que tinham sido os setores mais beneficiados com os programas de inclusão social.
Então, resolvi fazer esse reencontro com o Brasil e uma tentativa de fazer com que o PT recuperasse a sua imagem diante da sociedade brasileira, porque os meninos do Ministério Público resolveram criar a ideia de criminalizar o PT. A ponto de tentarem dizer que o PT é uma organização criminosa. Era preciso recuperar a moral da tropa, recuperar o PT, fazer o PT ir pra rua. E mostrar para o PT que ninguém vai defender o PT, a não ser o próprio PT. Ou seja, ou o PT se conscientiza que a acusação que se faz ao PT na perspectiva de criminalizá-lo e tirá-lo da legalidade política, como já fizeram com o Partido Comunista no auge do PC no Brasil, inventaram essa mentira do Power Point para tentar no fundo acabar com essa coisa que começou a ser conhecida pela sociedade que são as políticas de inclusão social. Fazer com que as pessoas possam subir um degrau na escala social. Que as pessoas possam comer melhor, trabalhar melhor, ganhar melhor. Sabe? Que as pessoas possam conquistar a cidadania. Então, era esse o objetivo. E o sucesso foi extraordinário.
A do Nordeste, eu sou suspeito porque eu sou nordestino, então o pessoal fala que eu gosto muito do nordeste e o nordeste gosta muito de mim. Eu tenho orgulho de ser nordestino e tentei fazer para o Nordeste, não uma política de privilégio, tentei fazer com que aquela distorção que vinha existindo desde que D. João VI chegou ao Brasil e foi para o Rio de Janeiro. Porque até então, Pernambuco era o estado rico do Brasil e começou a fazer com que os investimentos saíssem do Nordeste e viessem para o Sul e para o Sudeste. Nós queríamos fazer que o Nordeste tivesse um pouco mais de ajuda do estado brasileiro para que o Brasil se tornasse mais igual, mais equânime. Para que o desenvolvimento ficasse espraiado por todo o território nacional e não apenas no eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais. E isto eu fiz com muito gosto. Tanto no campo da saúde, da educação, da ciência e tecnologia e no campo da geração de oportunidade. Então, foi extraordinária essa caravana. Eu acho que o resultado foi extraordinário.
Aí eu queria fazer uma no Sudeste. Eu resolvi fazer numa região que eu tenho verdadeira paixão que é aquela parte mais empobrecida da região, não que seja pobre, mas um pouco mais empobrecida de Minas Gerais que é o Vale do Jequitinhonha. Eu tenho uma admiração pela capacidade cultural daquele povo. Mesmo vivendo em adversidade social é um povo muito criativo. Resolvi estar perto e para mim foi uma surpresa agradável, foi uma emoção o companheirismo, a presença das pessoas. Terminei Minas Gerais, eu agora vou fazer uma outra pelo Espírito Santo e pelo Rio de Janeiro e deixar para depois do carnaval fazer os estados do Sudeste e do Sul, começar pelos estados do Sul. E depois fazer a caravana do Norte, a caravana do centro-oeste. Aí eu termino e vamos ver o que vai acontecer no Brasil.
Fernando Morais: Dez entre dez brasileiros gostariam de saber o que é que o senhor acha que vai acontecer em 2018 no Brasil.
Lula: Primeiro um desejo pessoal: eu espero que o povo brasileiro esteja melhor, que tenha diminuído o número de pobres e aumentado o número de emprego, que as pessoas estejam comendo melhor, morando melhor e tendo mais expectativa de vida. E que a gente tenha eleições livres e democráticas. O que eu espero é que o jogo democrático no país que foi truncado durante tanto tempo na história do Brasil da forma mais vergonhosa possível, com uma mentira inventada de uma pedalada, desrespeitando 54 milhões de seres humanos que foram votar na Dilma. Fora aqueles que foram votar no Aécio e que, portanto, queriam democracia. Desrespeitaram mais de 100 milhões de votos para fazer com que uma pessoa que tenha assumido o cargo de deputado, sub judice, porque nem isso ele tinha eleito, assumisse a Presidência da República, para prestar serviço ao mercado e tentar desmontar toda a estrutura de desenvolvimento que o Brasil conseguiu construir ao longo de tantos anos. Espero que a gente chegue nas eleições, não importa quantos candidatos tenha, o importante é que as eleições sejam democráticas e que vença o que tiver mais votos e que respeitem o resultado das eleições como eu respeitei em 89, 94 e 98.
Então eu acho que eleição é feita para isso. Você fala a verdade, você conta mentira, faz o que você quiser, mas o importante é que tem o dia D que é o dia de abrir as urnas. Ali tem o resultado, o resultado tem que ser acatado e governo quem ganhou as eleições. Isso é consolidar a democracia no Brasil.
Fernando Morais: O senhor tem expectativa de que vão permitir que o senhor disputa as eleições?
Lula: Eu nem discuto isso. Porque se eu ficar discutindo: será que eles vão deixar, será que eu posso? Aí eu estou fazendo o jogo deles. Eu sei o que eles querem e eu sei o que eu quero. Eles não querem que eu seja candidato. Então, não tem nada melhor do que perguntar para o povo. O povo pode me condenar, ou o povo pode me eleger de novo presidente da República desse país. Eu só quero livremente provar a minha inocência, aliás eu já provei a minha inocência em cada processo. Eles que têm que encontrar provas de que eu sou culpado. E tentar tocar a vida e cuidar desse povo. Porque esse povo está precisando de cuidado. Esse povo não está precisando ser governado, esse povo está precisando de cuidado. E cuidado significa você cuidar da saúde, da educação, da segurança, da creche, universidade. Significa você cuidar do investimento em Ciência e Tecnologia, cuidar do emprego, cuidar das pessoas que ganham menos. Significa você respeitar o exercício da democracia e ao invés de tomar decisões palacianas com meio dúzia de pessoas. Voltar a fazer as conferências nacionais que eu fazia, voltar a fazer as políticas públicas que a sociedade quer que sejam implantadas. Fazer com que o Brasil seja respeitado na África, na Ásia, nos Estados Unidos. Porque respeito é bom. Eu gosto de receber e gosto de dar também. É isso que eu quero que aconteça no Brasil. E é por isso que eu tenho a firme convicção e muita vontade de concorrer nas eleições na expectativa de que o que nós fizemos é o passaporte para que esse povo nos dê mais uma autorização de uma viagem de 4 anos governando esse país. 
Fernando Morais: Agora presidente, a perspectiva, a possibilidade de que a Justiça impeça o senhor de ser candidato já está permitindo muita gente, sorrateiramente, de querer tomar o seu legado de voto, de apoio popular. Como que o senhor vê essa mobilização? Porque a esquerda vai ter que ter candidato. Se não for o senhor, o que vai acontecer?
Lula: O povo não pode ser visto, tratado e pensado como gado, rebanho, que alguém é dono, que pode dizer “Vai pra lá, vai pra cá”. Não. Obviamente que, se eu puder ter influência num eleitor para votar em mim, eu vou ter. Se eu não for ser candidato, eu faria o que eu fiz a vida inteira: ser cabo eleitoral daquela pessoa que eu achar mais justo para concorrer. Eu trabalho com a seguinte ideia. Primeiro eu trabalho com a convicção e a certeza de que eu vou ser candidato à presidência da República. Se eu for candidato, eu tenho muita, mas muita certeza que as possibilidades de ganhar são enormes e eu confio muito que o povo vai compreender o que nós fizemos nesse país e o que ele pode esperar, porque vamos dizer às claras o que nós queremos fazer no Brasil. E esse país tem que voltar a crescer, o povo tem que voltar a ser feliz, o povo tem que acreditar no futuro, o povo tem que ter esperança. E o povo brasileiro sabe de uma coisa.
Se tem uma coisa que eu aprendi a fazer com o próprio povo foi a cuidar dele com carinho, a saber quem mais precisa, saber para quem o Estado tem que governar. Obviamente o Estado tem que ser de todos. Mas dentre esse “todos” você tem aqueles que precisam mais do que o outro. Você vai dar água para quem tem sede. Quem tem fartura de água vai ter que emprestar um pouco para quem tem sede. Você vai dar mais comida para quem tem fome. Quem tem muita comida vai ter que dar um pouco. É assim que a gente vai construir um mundo mais solidário, uma sociedade mais humanista. Um povo com uma concepção de solidariedade maior. Eu sonho.
Agora, o que está acontecendo? Eu acho que quem está numa encalacrado não sou eu. Eu acho que há uma perspectiva e uma tentativa de julgar os 12 anos do PT no governo. E para fazer esse julgamento eles construíram uma mentira monstruosa. Construíram uma mentira, criando a ideia e apresentando em rede nacional de que o PT era uma organização criminosa, de que o PT nasceu para ser uma quadrilha, que o PT pensou em ganhar para poder roubar. E que quando eu ganhei, montei para roubar.
Eles querem julgar porque eu indiquei, porque eu não escolhi você para ser secretário de comunicação, porque eu escolhi o Franklin Martins, porque que eu indiquei não sei quem. Como se alguma pessoa soubesse anteriormente que um cidadão vai roubar. Ninguém tem escrito na testa que é ladrão. Às vezes as pessoas mesmo sendo ladras elas parecem as mais honestas do planeta.
Eu estou sendo acusado de uma série de bobagens. Eu fico até irritado com os depoimentos porque são de uma cretinice sem tamanho. E como esse processo, tem coisas sérias nele. É importante aproveitar o Nocaute para dizer que eu não sou contra a Lava Jato, de combate à corrupção. Tem coisa muito importante. O povo brasileiro fica feliz de saber que rico está indo para a cadeia, de saber que, se o político roubou, vai para a cadeia. Porque antes só ia para a cadeia o cara que roubava um Melhoral na farmácia, o cara que roubava um pão, uma galinha. Esse coitado vai preso e passa 3 anos na cadeia e tem que ter um advogado que faça assistência pra ele. Então isso é importante. Mas é importante separar o joio do trigo. Todo processo, para rico e para pobre, ele tem que ter um determinado critério. As pessoas têm que ter direito à defesa. As pessoas não podem ser acusadas e condenadas pelos meios de comunicação. Porque no caso do PT, eu já apresentei todas as minhas defesas, todas as provas da minha inocência e eles até agora não apresentaram uma única prova de culpa.
Aliás, o promotor que é o chefe do PowerPoint nunca apareceu em nenhuma audiência. As audiências não são levadas em conta. Só para você ter ideia, essa audiência agora, no caso da Zelotes que fala dos caças, nada menos do que Dilma Rousseff foi testemunha, Nelson Jobim, que foi ministro da Defesa, companheiro Celso Amorim, foi ministro da Defesa também, o brigadeiro Saito e os militares responsáveis pela escolha técnica. Então eu não sei em que momento de loucura alguém imaginou: “Bom, o Lula teve influência na escolha dos caças”. E por aí vai.
Eu fui prestar depoimento sobre o estádio do Corinthians. Eles não leem jornal e só aqueles que eles querem ler, e não sabem que eu defendia que a Copa do Mundo fosse realizada no Morumbi. Que eu levei no Morumbi o Serra, o Kassab, o Alckmin, a Confederação Brasileira, que era para todo mundo ver: temos um estádio pronto, vamos fazer.
Eu defendia que São Paulo, como era o estado mais importante da federação, o mais rico, o que tem o melhor futebol, não poderia ficar de fora da abertura da Copa do Mundo. Era até uma coisa engraçada porque o Sergio Cabral falava: “Eu quero que o encerramento da Copa do Mundo seja no Rio de Janeiro”. E eu falava: “Sergio, o encerramento você não sabe se o Brasil vai estar. Na abertura você sabe, então é melhor você querer fazer a abertura no Maracanã”. O que aconteceu é que o Brasil nem jogou no Maracanã.
Essa acusação de corrupção
praticada pela Globo, eu nem sei se é verdade.
Mas alguém tem que investigar.

Então é por isso que eu tenho consciência de que eu vou ser candidato. Eu acho que em algum momento as coisas vão clarear. Acho que em algum momento as pessoas vão perceber alguma coisa errada nessa coisa contra o PT. E eu digo para todo mundo: se no PT tiver alguém culpado, se no PT tiver alguém que roubou, essa pessoa tem que pagar. Mas essa pessoa tem que ter um julgamento certo. Isso vale para mim, para você, para qualquer um. Ninguém está acima da lei. Eu quero que todo mundo seja tratado em igualdade de condições, sem mentira.
Eu não quero falar mal de ninguém aqui, acho que todo mundo é inocente até que prove o contrário. Mas eu não sei se o Jornal Nacional vai dar o mesmo destaque que deu a mim durante 30 horas, desde que começou a operação Lava Jato, à acusação desse empresário argentino que diz da corrupção praticada pela Globo. Eu nem sei se é verdade. Eu defendo que a Globo tenha direito de defesa, que seja apurado corretamente, e ela será inocente até que prove o contrário. Mas alguém tem que investigar. O que eu acho estranho é que o Ministério Público até agora, o mesmo MP que invadiu o Instituto Lula, que invadiu a minha vida, até agora não falou nem fez nada. Espero que faça para a gente descobrir se é verdade que teve influência de um canal de televisão que deteve o monopólio seja na Copa das Confederações, seja na Copa do Mundo, seja no Sul-Americano, seja na Copa Brasil. O que é importante é que o futebol é uma paixão nacional e eu acho que está na hora dos jogos serem transmitidos ao vivo em todos os canais para todo mundo que possa ver e não só para quem possa pagar uma TV a cabo.
Sinceramente, eu poderia estar mais nervoso, mas estou tranquilo. Estou tranquilo porque tenho consciência do que eles querem, do que eu fiz, do que eu posso fazer por esse país, e quero jogar. E, com todo respeito aos demais candidatos, não sou contra ninguém que seja de direta, de centro, extrema direita, extrema esquerda, tem espaço para todo mundo, e o povo será o nosso juiz.
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Lula a Morais: “não existe o Lula raivoso, existe o Lula indignado”

Lula a Morais: “não existe o Lula raivoso, existe o Lula indignado”


Na segunda parte da entrevista dada ao jornalista Fernando Morais – a primeira parte está aqui – , o ex-presidente Lula trata do que ele afirma serem suas preocupações centrais: a defesa da economia nacional, do papel indutor do Estado no desenvolvimento nacional e o tema-tabu da regulação da comunicação. E diz que está fadada ao fracasso a tentativa de amedrontá-lo com a acusação de ter “radicalizado”: “não existe o Lula raivoso, existe o Lula indignado”.
Leia, a seguir, ou veja o vídeo, ao final do post.
Fernando Morais: Na caravana, na de Minas, pelo menos, o senhor tocou com insistência em dois pontos que me parecem fundamentais para a sociedade, não para um setor da sociedade, para a sociedade como um todo. Primeiro, é o seguinte. Se eleito presidente da República reaver o que o governo golpista do Temer está vendendo da soberania nacional da bacia das almas. O primeiro é ver o que o governo Temer fez que feriu a soberania ou os direitos adquiridos dos trabalhadores. Esse é o primeiro item que eu gostaria que o senhor desenvolvesse um pouco mais.
O segundo é a democratização dos meios de comunicação no Brasil. Eu me lembro que em determinadas cidades a impressão que dava era que se fosse tocar neste assunto o povo ia receber com frieza. A tigrada uivava quando o senhor falava nisso.
Lula: É porque o povo, o povo sabe o que está acontecendo. O que eu estou propondo na verdade é propor um referendo revogatório. Ou seja, você aprovar no Congresso Nacional um referendo para que o povo dê autorização para fazer as reformas.
O que precisa ser feito? Sobretudo o desmonte de empresas públicas brasileiras como a Petrobras. Porque a Petrobras não é apenas uma empresa de petróleo. A Petrobras é uma espécie de empresa de desenvolvimento neste país. Tem milhares de pequenas empresas que dependem do crescimento, do desenvolvimento da Petrobras. A Petrobras é a empresa que mais investia em pesquisa neste país. Ou seja, nós não achamos o pré-sal por acaso. Nós achamos o pré-sal porque fizemos muito, muito, muito investimento em pesquisa.
E quando a gente descobriu o pré-sal eles diziam “não, porque não vai dar certo, está a sete mil metros de profundidade”.
Fernando Morais: “É economicamente inviável”, diziam.
Lula: É inviável, não sei das quantas, é o xisto, o gás de xisto americano que é barato. Passados três anos, o que acontece? O barril do petróleo antes do imposto tirado do pré-sal custa oito dólares e meio. Na Arábia Saudita custa seis dólares e meio. Portanto, o nosso petróleo está muito barato, porque a Petrobras investiu em tecnologia, conhecimento, e a gente consegue tirar hoje mais da metade do petróleo que consumimos já do pré-sal. Esta é uma coisa.
A outra coisa é você não permitir a destruição de bancos como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, O BNDES, que são instrumentos da política econômica do governo. Na crise de 2008, se não fossem os bancos públicos, se não fosse o BNDES, a gente tinha entrado em uma crise profunda como entrou a União Europeia, como entraram os Estados Unidos.
Foi valendo-se dos bancos públicos que a gente continuou fazendo financiamento. Foi passando seis bilhões para o BNDES que a gente conseguiu fazer financiamento e investimento. Se o governo abrir mão disso, o governo vai ficar refém do mercado a vida inteira e não é correto.
Eu não sou defensor, Fernando, de um Estado empresarial. O Estado tem que fazer? Não. Eu sou defensor do Estado indutor. Ou seja, o Estado tem que ter instrumentos de indução. Ou seja, de levar desenvolvimento para as mais diferentes regiões do Brasil, para permitir que as pessoas possam viver numa sociedade equânime, em um país mais igualitário.
Não é uma região em que se pode comer quatro vezes por dia e na outra não pode comer nem uma vez por dia. Em todas tem que poder comer três vezes por dia. Então eu quero pedir licença. O direitos trabalhista, ou seja, rasgaram a CLT. Não que a CLT não precisasse de uma adequação. Afinal de contas ela foi feita pelo Getúlio em 1943. Ela merece uma adequação. Muita coisa já tinha sido mudada por lei ordinária neste período todo. Mas você pode adequá-la a cada tempo, a um novo mercado de trabalho, ao mundo. Mas não da forma como eles fizeram. Você junta o movimento sindical, os empresários, junta os estudiosos, bota o governo, e vamos debater o que você faz para aprimorar e adequar a legislação à realidade histórica que você está vivendo.
A outra coisa é não permitir a reforma da Previdência que eles vão querer fazer a toque de caixa. A outra coisa é evitar um desmonte do que eles já fizeram. Já fizeram muito desmonte. Na Petrobras. E não permitir que vendam a Amazônia como estão vendendo. O que eu quero na verdade é conquistar o direito do povo brasileiro de revogar determinadas coisas. Um país não poderá abrir mão da sua soberania. Um país tem que consultar seu povo para decidir. E somente o povo daquele país é que pode decidir o que fazer com seu próprio país. Como pode um presidente que não foi eleito ficar entregando empresa, ficar entregando bloco do pré-sal, ficar entregando terra na Amazônia. Ficar entregando Alcântara para os americanos fazerem uma base.
É a vergonha elevada à quinta potência. Um país que é a oitava economia do mundo – no nosso governo era a sexta – permitir que os americanos venham fazer uma base em Alcântara. Uma base que começa com um experimento para não sei o quê espacial e daqui a pouco os americanos estarão dando ordem aqui, tentando controlar, como tentam controlar outros países.
É importante as pessoas saberem. Eu não vou mentir durante a campanha. Quem votar em mim vai votar sabendo o que vai acontecer. Eu vou pedir ao povo brasileiro – e por isso eu falei do referendo revogatório – para que a gente mude algumas coisas absurdas que foram feitas. E obviamente eu acho que o povo vai dar autorização porque o que eles estão fazendo é um estelionato. Estuprando a nossa democracia e a nossa soberania. Realmente isso me revolta.
Me revolta porque nós temos um território imenso. Nós temos uma fronteira, tanto marítima, como seca imensa. Nós temos um povo ávido para conquistar a democracia. Nós não vamos permitir que eles o Brasil desenvolvido. Essa é uma coisa que eu sonho, sabe? De propor um referendo revogatório.
E a outra coisa é a questão da democratização dos meios de comunicação. Este é um tema sempre muito delicado porque toda vez que você fala da imprensa aparece alguém e fala assim para você: “mas presidente, o senhor precisa conversar mais com a imprensa. Por que não chama a Globo para tomar um café ou para jantar? Por que não chama a Veja para um almoço, para jantar?”. Sabe? Eu acho que eu engordei de tanto conversar com eles. E não resolve, é uma questão ideológica.
Não quero censurar nada porque eu sou contra a censura. Quem tem que censurar a rádio é o ouvinte. Quem tem que censurar a televisão é o telespectador. Quem tem que censurar os jornais, sabe, é o leitor. E quem tem que censurar a internet é o internauta.
Ou seja, o que nós queremos é garantir a democratização. Que as pessoas também possam ter acesso aos meios de comunicação. Que a gente possa garantir o direito de resposta decentemente. Que a gente possa fazer com que as universidades tenham televisão. Que o sindicato tenha televisão. E que a gente possa efetivamente democratizar.
Eu não quero uma televisão como a de Cuba. Eu não quero uma televisão como a da China. Não quero uma regulação como a chinesa. Eu quero uma regulação que pode ser igual à inglesa, igual à alemã, igual a dos Estados Unidos. O que eu quero é que esse país tenha mais gente podendo ter acesso a ter um canal de televisão, e não ficar subordinado a nove famílias que detêm isso há meio século. É isso que eu quero fazer.
Nós tínhamos um projeto que era para dar entrada quando a Dilma tomou posse. Eu acho que ela também foi induzida, como eu, a que uma conversinha a mais resolve. Um café a mais resolve, um jantar a mais resolve. Não resolve.
Então, acho que é preciso fazer com que a sociedade discuta essa condição dos meios de comunicação porque um país deste tamanho tem que ter informações corretas. Se o dono de um jornal, um canal de televisão, um rádio quiser ter um pensamento políticos ele tem direito de ter um editorial de dez minutos, do tempo que ele quiser para falar o que pensa. Agora, quando for informação, quando for fato, nós queremos que ele seja verdadeiro, que não minta. É só isso. Não mintam. Não digam inverdades como eles costumam dizer todo santo dia.
Eu acho que eles na hora em que estiverem acessando o Nocaute vão ficar nervosos. Até dizem que “não podemos mais votar no Lula porque o Lula está ultraesquerdista”.
É importante lembrar, Fernando, que quando eu deixei a presidência da República, eu era quase que unanimidade. Eu tinha 87% de bom e ótimo, 10% de regular, que se somado, pode subir, e só tinha 3% de ruim e péssimo, que devia ser do comitê dos meus amigos tucanos.
Fernando Morais: O oposto do Michel Temer.
Lula: É verdade. Então hoje eles querem mostrar para a sociedade que aquele Lula paz e amor não existe mais. Agora é o Lula raivoso. Não existe o Lula raivoso. O Lula com 72 anos não tem mais o direito de ficar raivoso. Eu fico sim indignado com a falta de respeito, com o preconceito, com o ódio, ódio, porque chega a ser ódio.
Então, ninguém pode ficar nervoso porque as pessoas mais pobres da periferia estão chegando à universidade. Ninguém pode ficar nervoso porque o salário mínimo aumentou, porque a empregada doméstica tem seu trabalho regulado. Isso é bom. Isso é bom para o povo pobre, é bom para a classe média e é bom para o mais rico.
As pessoas terem acesso à universidade, à boa educação, é a única chance de este país ser competitivo. Ser competitivo do ponto de vista comercial, ser competitivo do ponto de vista intelectual, do ponto de vista político. Não existe na história da humanidade nenhum país que ficou rico, que cresceu, sem educação.
Então é este o crime que estamos cometendo? Permitir que as pessoas comam, que as pessoas recebam um salário, que as pessoas trabalhem, que as pessoas estudem? Então esse é o tipo de crime que estamos cometendo. Colocar mais gente na escola, melhorar a qualidade das escolas. Essas coisas todas nós vamos fazer e não tem radicalismo, não. Não tem radicalismo. Qualquer cristão do mundo faria isso.
Até o Henry Ford dizia isso: “Eu tenho que pagar bem meus trabalhadores para que eles possam comprar os produtos que eu fabrico. Então, eu estou mais indignado que eu estive da outra vez. Porque da outra vez eu não conhecia vocês, fiz muita relação com empresário, fiz relação com meios de comunicação, e eu percebi que o problema dessa gente não é ganhar ou não ganhar. É que democracia para eles é só se eles estiverem no governo ou estiverem um bate pau deles, como está o Temer agora, para fazer o que eles querem. Porque o mercado precisa. Eu não vou pedir voto para mercado, vou pedir para o povo. Vou para rua. Se por acaso o mercado estiver na rua, aproveita e vota em mim também. Porque acabou o tempo. Eu fico ouvindo o discurso deles. Eu lembro que na campanha de 2002, em 89, eu ia fazer passeata aqui na Paulista, ali no centro bancário, a bolsa de valores fechava as portas com medo do demônio. Depois eu ganhei as eleições, eles nunca tiveram… Antes de eu chegar na presidência, eles faziam 4 IPO. No meu governo fizeram 150. Essa gente tem medo de ganhar dinheiro honestamente. Nós vamos fazer eles ganharem dinheiro. Mas não vão ganhar dinheiro apenas especulando. É preciso que vocês pensem no Brasil. Eu vou querer discutir reforma tributária durante a campanha. Não vou deixar nada para fazer depois. Todo mundo que me conhece sabe que não tem conversa às escondidas.
Não acredito em mágica na economia. A economia tem duas palavras chaves. A primeira é a credibilidade de quem a faz. A segunda é previsibilidade para que o país não seja pego de surpresa. E a terceira, que para mim é a mais charmosa de todas, é que temos que ter dinheiro circulando na sociedade. Os mais pobres, os trabalhadores, os assalariados, eles têm que ter acesso a financiamento, a crédito. Quando eles têm acesso, ele não pega mil reais no banco para comprar dólar, ele pega para comprar arroz, feijão, carne, pão. E isso vai desenvolver a economia.
A gente tem que criar políticas de incentivo ao microempreendedorismo. As pessoas gostam de trabalhar por conta própria então temos que criar condições poderem trabalhar, criar seu próprio negócio. Estou com muitas ideias na cabeça e é isso que eu quero fazer. Não tem nada radical na minha vida, tudo é com muita calma e construção coletiva, e com muita participação da sociedade. É isso que eu vou fazer e tenho muita fé em Deus.
Fernando Morais: O senhor vai ter que ir atrás do pessoal
que enfiou a faca nas suas costas?
Lula: Uma coisa que precisamos fazer é parar de negociar cargos.
Cada partido político ser responsável pelo que ele tem.
Fernando Morais: No ano que vem, o senhor sendo candidato, o senhor vai ter que, obrigatoriamente, por causa da forma como o Brasil se organizou politicamente, o senhor vai ter que fazer alianças para governar. Para a esquerda, o espectro é muito pequeno, não dá para fazer maioria. O senhor vai ter que ir atrás do pessoal que enfiou a faca nas suas costas? Como vai ser isso?
Lula: Deixa eu te contar uma coisa para ficar claro para a sociedade brasileira. Eu já falei isso muitas vezes, mas vou repetir aqui porque você está inaugurando o estúdio. Primeira vez que eu venho aqui no Nocaute e dou entrevista, então é o seguinte. Primeiro, você vai ter que lidar com o povo do jeito que o povo é. O ideal num partido político seria que o partido pudesse disputar uma eleição sozinho, fazer maioria no Congresso, na Câmara e no Senado, e eleger o presidente da República. PMDB fez isso em 86 e não deu resultado. A segunda coisa mais ideal seria, não ganhando sozinho, você pudesse ganhar com os partidos aliados de esquerda. Pegar todo o bloco de esquerda e fazer maioria, fazer presidente, 26 governadores, todos os senadores e deputados. Também não é possível. A terceira coisa ideal é você fazer aliança programática com quem foi eleito.
Uma vez eu fui para Espanha conversar com Felipe Gonzalez, na campanha de 89, eu não esqueço nunca. Eu falava muito naquele tempo em democratizar as Forças Armadas. E aí o Felipe Gonzalez me fez a seguinte pergunta: como que você vai fazer para democratizar um general? Eu falei que tudo começava pela base, ensino fundamental, você tem que ir preparando, aí o cara vai pro ensino médio, para universidade…O cara falou: “ô, Lula, sabe o que acontece? Deixa eu te dar uma informação. O seu mandato é de 4 anos. Um general para ser formado precisa de 40 anos. Então não dá para você criar seu general democrático. Você vai ter que aprender a conviver com os que são generais quando você ganhar as eleições. Na aliança política é a mesma coisa. Quem disser que não vai fazer aliança política, não governa o país.
Eu pergunto o seguinte: Fernando Morais, candidato à presidência da República, marxista-leninista ortodoxo, eu não faço aliança com ninguém, PT é de direita, ganha as eleições. Fernando de Morais é eleito presidente da República, 5 deputados federais e 2 senadores. Tem 81 na casa de senadores de 513 deputados. Como você governa? Você vai ter que sentar, você pode fazer um acordo programático.
Uma coisa que precisamos fazer é parar de negociar cargo e cada partido político ser responsável pelo que ele tem. Porque se você fizesse um acordo com um partido qualquer e esse partido tivesse um ministério e autoridade para montar seu ministério, você vai montar o Ministério da Educação, ele é teu. Você vai escolher a equipe, é tua. Se der resultado, maravilha, o Brasil ganha. Se der errado, uma desgraça. O Brasil perde e você também.
O problema é que depois que você faz um acordo com os partidos, o que é memorável na democracia em qualquer lugar do mundo, menos nos EUA, que não acontece isso porque é muito rachado, republicanos e democratas. Mas na Alemanha você está lembrado? Antigamente, os cristãos não faziam acordo com a social democracia. Agora cabe qualquer um para Angela Merkel construir a maioria dela. Na França ele não precisou agora, mas ele vai ver quando começar a governar.
Eu acho que o que não dá é depois que você faz um acordo partidário, aí o cara fala: “Eu quero a chave do prédio. Eu quero o motorista não sei das quantas”, você vai banalizando a arte de um acordo partidário, que deve ser uma coisa certa, séria e importante para manter a governança de um país. Sempre trabalhando na expectativa de que você vai colher como resultado eleitoral o povo brasileiro votando em gente mais séria, mais comprometida.
Quando você é candidato, pedem declaração de renda, e tal, mas não tem nenhum mecanismo para você apurar se o cara vai ser ladrão depois que ganhar. Você faz um levantamento, o cara não tem antecedentes criminais, o cara pode ser candidato. Você não vai saber o que ele vai ser. Então esse é um assunto que eu quero discutir com o povo durante a campanha. Por isso que é importante você ter um programa com temas muito importantes para você dizer pro povo: olha, se você quer que isso aconteça no Brasil, você só pode votar em gente que pensa assim. Não pode votar em gente que você já sabe antecipadamente que é um vigarista na sua região. É preciso também cobrar do povo muita seriedade no processo eleitoral, porque esse Congresso que está aí é a parte da cara política do eleitor brasileiro no dia da eleição. Essas pessoas pediram e ganharam voto. Eu quero repartir com o povo a responsabilidade de que não é o presidente que vai resolver todos os problemas. A sociedade tem que ser coparticipante da elaboração desse projeto. Ela tem que ser a responsável pela eleição, pela fiscalização e eu diria pelo bom resultado que a gente tem no país.
Eu não esqueço nunca que fizemos 74 conferências nacionais no meu governo. Conferências que começavam no município, depois para o estado e aí a nível nacional. Discutíamos todos os temas. Eu lembro quando eu fui fazer conferência nacional LGBT, muita gente ligada a mim disse “não, presidente, o senhor não pode ir. E se alguém beijar o senhor na boca? E se um travesti beijar e se abraçar”. Eu falei “Gente, se eu estiver com medo disso, eu não mereço ser presidente”. Essa gente, qualquer que seja o comportamento sexual dele, paga imposto de renda e quando vota, ninguém recusa. Por que eu vou tratá-lo diferente? Vou ouvir o que eles têm a dizer. São cidadãos e cidadãs brasileiros. E foi um aprendizado e é por isso que hoje eu sou um defensor de que essas pessoas tenham total liberdade. Por isso que o PT criou um setorial LGBT. Vamos parar com o preconceito. Quem buzina carro alto não é negrão. Tá cheio de branco buzinando carro alto e jogando latinha de cerveja na rua limpa de São Paulo para que os mais humildes recolham. O preconceito é uma doença e eu quero extirpar essa doença do Brasil.

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 Folhapress ter, 14 de nov 18:51 BRT