sexta-feira, 17 de abril de 2020

Os destaques da noite no 247

STF valida acordos individuais para reduzir salário, sem anuência do sindicato

Senado aprova PEC do Orçamento de Guerra e texto volta à Câmara

Bolsonaro põe militar como interventor no Ministério da Saúde na gestão Nelson Teich

Após racha entre Mandetta e Bolsonaro, Feliciano agora denuncia corrupção no ministério da Saúde

Trump ataca governador de Nova York: "Vá lá e faça seu trabalho. Pare de falar!"

“Está tudo sob controle, não sabemos de quem”, diz Mourão

Ron Paul diz que Bill Gates quer governar
o mundo por meio de suas vacinas
contra o coronavírus

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Boa leitura!
Equipe 247

A alternativa é o socialismo










A alternativa é o socialismo

 
Caros leitores,

Devido à gravidade dos fatos e, certamente, ao compromisso de Carta Maior em garantir análises de qualidade e informações de vários cantos do mundo, comunicamos que nossa audiência continua crescendo, e que também aumentou o número de leitores-parceiros do nosso site.

O nosso Twittão Maior alcançou o número recorde de 5.7 milhões de impressões nos últimos 28 dias, com 178 mil seguidores.

Duzentos e vinte leitores e leitoras atenderam ao nosso pedido de doação, nos últimos 40 dias às quais agradecemos. Somos agora 1.397 mantenedores de Carta Maior, tendo como meta, e ponto de equilíbrio, alcançarmos 3.000 parceiros-doadores, o que representaria menos de 1% da nossa audiência que, nos últimos trinta dias, chegou a 390 mil visitantes únicos.

Sabemos que o momento não é o mais indicado, mas é com muita tranquilidade que fazemos esse pedido (saiba como ser parceiro-doador), cientes da importante tarefa que temos neste momento, afinal, o coronavírus nos impõe o isolamento social, o que nos leva a um período de reflexão sobre nossas vidas e, também sobre nosso país e o mundo.

Preocupados com a situação atual que não nos permite nenhum vislumbre de saídas concretas em médio prazo, vamos propor aos nossos intelectuais um exercício de imaginação sobre o amanhã, enviando cartas para os leitores de 2030, no especial O Arqueólogo do Futuro que em breve estará no ar, quem sabe já com o novo layout da página, mais moderno, mais dinâmico e com as editorias melhor distribuídas. Tudo para facilitar a sua leitura, principalmente, sem anúncios que emporcalham as páginas.

Tempo chegará em que poderemos olhar para os dias atuais e, quem sabe, vê-los como o início de um outro mundo possível, mas para isso teremos de enxergar, aprender a mostrar e aí sim enfrentar os desafios que se colocam.

E eles são muitos como evidenciou a campanha de Bernie Sanders pela indicação do Partido Democrata na disputa pela Presidência da República norte-americana. Acreditem, não foi somente uma campanha por votos dos militantes e simpatizantes democratas, em busca de delegados na convenção que poderia levar Bernie à condição de disputar com Trump os destinos do mundo.

Como todos sabem, na última quarta-feira, dia 8 de abril de 2020, o senador dos Estados Unidos pelo estado de Vermont, praticou seu último ato político nas primárias para a eleição de 3 de novembro deste ano, renunciando à disputa e abrindo espaço para que seu colega de partido, o senador Joe Biden, possa enfrentar o atual presidente, sem as agruras de um confronto interno que historicamente deixa sequelas naquele país, vide o que ocorreu com Hillary Clinton, em 2016, que depois de uma disputadíssima primária com Sanders, deixou sangue na arena e foi derrotada por Trump.

Ficou claro que o “socialismo democrático americano”, que tanto nos causa inveja, ainda assusta o eleitorado médio norte-americano que conferiu quatro vitórias importantes a Joe Biden, mudando o destino do mundo.

Apesar disso, duas das principais bandeiras de Sanders – saúde gratuita, de qualidade e universal, à semelhança do nosso SUS; e renegociação da dívida estudantil com oferta de crédito educativo – foram abraçadas, de modo muito tímido, pelo milionário com quem Bernie disputava, até esta semana, a indicação pelo Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos.

A saúde não será mais para todos e a dívida passará por uma renegociação. Se Trump vencer será muito pior, apesar do acordo feito por ocasião da votação do investimento de 2 trilhões de dólares na economia, ter renegociado a dívida estudantil.

O que salta aos olhos é o gesto e a percepção correta de Sanders neste momento. Renunciando à indicação, ele permite a Biden sete meses sem disputas internas, para se dedicar de corpo inteiro à campanha contra Trump, que vem transformando o coronavírus em plataforma política.

Dia sim e no outro também, Trump, o presidente que até então somente se comunicava via twitter, permanece uma hora na televisão, dentro da casa de cada americano que se encontra em pânico frente os altos índices de contaminação e morte no país.

Após minimizar a pandemia, Trump agora trata o coronavírus como inimigo de guerra, fazendo escola inclusive aqui no Brasil (PEC10), vende seu show, enquanto Biden permanece em casa. Ele ainda traz para sua campanha o ódio contra a Venezuela, pretendendo usar suas cinco bases militares instaladas na Colômbia para uma futura guerra na América do Sul, uma espécie de um novo Vietnã (leia mais) além da luta sem tréguas contra outro inimigo – como veremos a seguir -, que é considerado pela direita americana, como o real e eminente risco de mudança.

Bernie demonstrou grandeza nesta semana, como lhe é característico. Desde o início do movimento Occupy Wall Street, em 2011, ele vem sendo o principal responsável por trazer a palavra SOCIALISMO de volta ao debate político, de onde nunca deveria ter saído.

O futuro, porém, poderá não ser Bernie; mas Alexandria Ocasio-Cortez, deputada pelo estado de Nova York, e uma das políticas mais promissoras dos Estados Unidos, que promete muito barulho, inclusive, pelas lutas que representa: é mulher, é latina, é jovem, é socialista.

É hora de pensarmos o futuro.

Vários intelectuais estão sendo convidados para participar do nosso próximo projeto, O Arqueólogo do Futuro, e aproveitamos a oportunidade para, publicamente, agradecer a contribuição de todos que construíram e estão construindo o Especial A Pandemia do Capitalismo que já reúne mais de 160 artigos de especialistas brasileiros e internacionais.

Este é o nosso trabalho, manter o sonho mas sem ingenuidades; informar sobre o hoje, a partir do olhar de quem sabe; e neste momento tão difícil, cuidar do equilíbrio emocional dos nossos companheiros leitores, daí a editoria Nem Freud Explica, trabalhando as angústias que dizem respeito a todos nós. E, também, oferecemos a melhor seleção de filmes online reunidos no especial Cinema em Casa em tempos de coronavírus que conta com cinco edições e mais de 60 filmes a espera de vocês.

Por fim, convidamos todos a lerem dois excertos das entrevistas de Noam Chomsky e Naomi Klein concedidas à jornalista Amy Goodman, no Democracy Now!

Noam Chomsky - Democracy Now!
Confira aqui a íntegra da entrevista em inglês
 e aqui o trecho com legendas em português

Amy Goodman: Na quarta-feira, pouco antes de Bernie Sanders anunciar, mas já parecia que ele estava prestes a sair da corrida presidencial, perguntei ao linguista e autor Noam Chomsky sobre sua avaliação da campanha de Bernie Sanders nesta época da pandemia de coronavírus.

Noam Chomsky: Se Trump for reeleito, será um desastre indescritível. Isso significa que as políticas dos últimos quatro anos, que foram extremamente destrutivas para a população americana e para o mundo, continuarão e provavelmente serão aceleradas. O que isso vai significar para a saúde já é ruim o suficiente. Acabei de mencionar os números da Lancet. Vai piorar. O que isso significa para o meio ambiente ou a ameaça da guerra nuclear, sobre a qual ninguém está falando, mas é extremamente sério, é indescritível.

Suponha que Biden seja eleito. Eu anteciparia que seria essencialmente uma continuação de Obama - nada de muito grande, mas pelo menos não totalmente destrutivo, e oportunidades para um público organizado de mudar o que está sendo feito, impor pressões.

  

A Carta Maior, foi fundada em 2001. Era o início da rede mundial de computadores no Brasil. O Facebook foi lançado em 2004, o YouTube em 2005 e o Twitter, em 2006. No dia 28 de janeiro de 2020 completaremos 19 anos. O GOLPE de 2016, nos atingiu violentamente, quase nos levando ao desaparecimento. Porém, nossos leitores não permitiram que isso ocorresse e nos trouxeram até aqui. Agora precisamos avançar, criando outras formas de comunicação.
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É fácil dizer agora que a campanha de Sanders falhou. Eu acho que é um erro. Eu acho que foi um sucesso extraordinário, mudou completamente a arena do debate e discussão. Questões impensáveis há alguns anos agora estão no meio das atenções.

O pior crime que ele cometeu, aos olhos do establishment, não é a política que ele está propondo; é o fato de ele ter conseguido inspirar movimentos populares, que já vinham se desenvolvendo - Occupy, Black Lives Matter, muitos outros - e transformá-los em um movimento ativista, que não aparece apenas a cada dois anos para pressionar um líder e depois vá para casa, mas aplica pressão constante, ativismo constante e assim por diante. Isso poderia afetar uma administração de Biden.

Amy Goodman: Esse é o ativista, intelectual público, linguista de renome mundial, Noam Chomsky.

Naomi Klein - Democracy Now!
Confira aqui a íntegra da entrevista (em inglês)
 e aqui o trecho com legendas em português

Amy Goodman: Bernie Sanders suspendeu sua campanha. Até recentemente, você dizia que ele deveria continuar, especialmente durante esta pandemia, a concorrer à presidência. Você poderia falar como viu a declaração que ele fez e a decisão dele?

Naomi Klein: Bem, acho que a principal coisa que quero dizer nesta manhã, Amy, é que gostaria de expressar minha enorme gratidão a Bernie Sanders, a toda a sua família, às muitas pessoas que trabalharam para a campanha, tão incansavelmente, e que abriram a janela do que era possível politicamente neste país. Foi uma campanha incrivelmente difícil.

Confio que Bernie esteja tomando a decisão certa neste momento como líder da campanha e também como senador dos EUA. Eu sei que ele pretende lutar pelas pessoas, como sempre fez, neste momento crítico.

Então, sabe, sinto muita gratidão pelo senador Sanders. Mais do que qualquer outra coisa, acho que o que a campanha fez foi nos ajudar a nos encontrar. E por "nós", quero dizer aquele enorme "NÓS" da campanha "Eu não. NÓS.”

Ele fez isso não apenas nesta campanha, mas em 2016, quando realmente quebrou o feitiço da era Reagan, aquele feitiço que dura quatro décadas, que disse às pessoas que acreditavam que esse sistema está canalizando tanta riqueza para cima e espalhando insegurança, precariedade, pobreza e poluição para todos os demais - todos que olhávamos para esse sistema e achávamos que havia algo profundamente errado com ele, o que a era neoliberal disse, a todos nós, foi que nós éramos os loucos, que éramos uma minoria minúscula de pessoas marginalizadas, e que devíamos apenas aceitar.

Lembramos, mais uma vez, do nosso apelo por doação (confira aqui as opções).

E, por favor, não saiam de casa.
Essa crise é muito grave e, no Brasil, está apenas no começo.

Sigamos juntos,

Joaquim Palhares
Diretor de Carta Maior
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Boletim do NPC

Boletimdo NPC

17 de abril de 2020
NOTÍCIAS DO NPC

NPC acompanha o dia a dia da luta contra o COVID 19 nas periferias

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

17/04/20: Como a África está enfrentando o coronavírus

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

16/04/20: Moradores denunciam estado de abandono nas favelas do Rio Pequeno (SP)

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

15/04/20: Coronavírus em São Gonçalo: MTST acode a população de rua

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

14/04/20: “O paciente renal sabe que pode morrer se não fizer a hemodiálise, mas hoje é muito mais assustador”

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

13/04/20: Movimentos se unem para doação de alimentos

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

13/04/20: Homem de 61 anos pode ser a primeira vítima em Rio das Pedras

DIÁRIO DA PANDEMIA NA PERIFERIA

10/04/20: Higienização no Santa Marta é interrompida por falta de água

Edição 400
Para jornalistas, dirigentes, militantes e assessores sindicais e dos Movimentos Sociais
Índice
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NPC - Núcleo Piratininga de Comunicação
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Redação: Sheila Jacob
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O desastre da Saúde americana, por Andre Motta Araujo


SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2020

O desastre da Saúde americana, por Andre Motta Araujo

Quem não tem seguro, se ficar doente e não tiver como pagar os absurdos custos dos médicos e hospitais MORRE NA CALÇADA, como estão morrendo milhares de atingidos por coronavírus


O desastre da Saúde americana

por Andre Motta Araujo

O País rico sonhado por tantos brasileiros que desconhecem as profundezas da sociedade americana e tem o Disneyworld como parâmetro desse País, tem uma chaga impressionante que é a ABSURDA AUSÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA nos Estados Unidos, aliás todo o sistema de saúde lá é sofrível e disfuncional.

Há duas realidades, uma ruim e outra pior. Uma parte dos americanos, geralmente os que estão empregados em grandes corporações e no governo, tem seguro saúde privado que também sofre severas críticas por insuficiência e alto custo, no geral os participantes precisam pagar uma parte do uso dos serviços mesmo que tenham seguro.
Mas a tragédia maior é para quem não tem a proteção do seguro privado, que se comprado individualmente é caríssimo e exige a co-participação do segurado nos custos e tratamentos. Quem não tem seguro, se ficar doente e não tiver como pagar os absurdos custos dos médicos e hospitais MORRE NA CALÇADA, como estão morrendo milhares de atingidos por coronavírus, que nem sequer procuram hospitais porque não podem pagar e continuam trabalhando e infectando outros. É o que aconteceu em Nova York e está acontecendo em Chicago e Detroit, onde grande parte dos mortos são de negros e latinos sem condições econômicas de receber tratamento.
A ausência absoluta de SAÚDE PÚBLICA nos Estados Unidos é um produto da visão de economia de mercado inspirada em expoentes políticos como Thatcher e Reagan, que sempre se opuseram à existência de um sistema estatal de saúde pública, como há na Europa, no Canada e no Brasil, visto por eles como iniciativa socialista.
O abandono das populações mais pobres nos guetos miseráveis de Nova York, Chicago, Detroit e Los Angeles, sem nenhuma possibilidade de assistência se contagiados e atingidos de forma aguda pelo Coronavírus explica a inacreditável expansão do vírus pelos EUA, hoje o epicentro mundial da pandemia. Se o pobre doente não tem tratamento ele continua a andar pelas ruas e espalhar o vírus, não há como evitar. Os ricos encastelados em condomínios fechados não estão imunes a esse espalhamento que vem pelos empregados dos prédios e condomínios, pelos entregadores de tudo. Um vírus que veio à tona em um mercado popular no centro da China mostra sua capacidade de viagem pelo tempo e espaço, então é evidente que o NÃO tratamento dos que não têm nenhuma chance de entrar em um hospital, porque não há nenhum de graça e os pagos são inacessíveis a eles. Esse abandono dos humanos carentes foi fator central da impressionante distribuição do vírus nos EUA em muito pouco tempo.
A discussão sobre a existência de um sistema público de saúde nos EUA é antiga e hoje mais presente do que nunca. O Partido Democrata tem como bandeira um sistema público, ferozmente combatido pelo Partido Republicano mesmo antes de Trump. O Plano Obamacare foi torpedeado pelos Republicanos, que insensatamente consideram um plano de saúde pública como inspiração socialista, sem se darem ao trabalho de observar seu vizinho, o Canada, que tem um excelente sistema de saúde pública sem ser socialista.
Na Inglaterra, apesar de todos os esforços diabólicos da Sra. Tachter para acabar com a saúde pública, o National Health System se manteve como um plano de atendimento mínimo, já por toda a Europa continental plano de atendimento médico a todo cidadão é algo que nem se discute há muito tempo, alguns sistemas são ótimos, outros são sofríveis mas todos os países têm algo semelhante ao nosso SUS, alguns são tidos como excelentes, como os dos países nórdicos, o francês também é bem cotado.
A SAÚDE PRIVADA NOS EUA
Enquanto não há plano de atendimento público de saúde, os EUA também sofrem com o atendimento privado.  Lembro dos anos 80 e 90, quando a elite brasileira ia operar o coração nos EUA, como fez o Presidente João Figueiredo. Hoje isso seria ridículo, nosso sistema privado é muito superior ao americano em nível e qualidade de atendimento e mais ainda, custa MUITO MENOS que nos EUA, razão pela qual S. Paulo recebe por ano cerca de 20 mil clientes estrangeiros para cirurgias, muitos deles norte-americanos, enviados por seus seguros saúde, porque a qualidade da medicina de ponta em S.Paulo, no geral, supera a dos EUA e os custos são, no geral, uma quarta parte do custo americano.
Existem surpresas nesse campo. Há alguns anos passei em frente a um prédio em Washington escrito CLÍNICA DE RETINOPATIA, doença derivada da diabetes que afeta a visão, algo que sofro. Um centro especializado, pensei e lá fui para uma consulta. O médico indiano que me atendeu perguntou de onde eu era, quando disse Brasil deu um pulo de espanto “mas o que o senhor está fazendo aqui?”, o melhor especialista que conheço está no Brasil, em Goiania e me deu o nome do médico. Isso tem sido algo comum com brasileiros que procuram médicos nos EUA. A propósito, cerca de 25% dos médicos em hospitais americanos são indianos, no geral de um terço a metade dos médicos nos hospitais não são americanos, os indianos, iranianos e vietnamitas preponderam, porque faltam médicos nos EUA.
Os custos nos hospitais e mesmo nas clinicas privadas são muito altos por causa da indústria de processar médicos, um negócio de bilhões de dólares, com advogados especializados nesses casos, o que faz os médicos terem que comprar seguros de custo altíssimo para se proteger, o que eleva o preço das consultas e dos hospitais.
Por outro lado, há uma cultura hospitalar muito diferente da brasileira, onde se restringe acompanhantes e visitas, algo peculiar da cultura brasileira.
Por causa do alto custo do seguro de saúde privado, muitos empregados evitam trocar de emprego para manter o seguro na sua empresa, um novo emprego geralmente exige carência de um ano antes de ter seguro. O setor de seguro saúde nos EUA é alvo de enormes e generalizadas críticas, tem hoje o maior lobby no Congresso americano para defender seus interesses, um dos quais é que NÃO exista um sistema de saúde pública que lhes tiraria clientes, é um setor hoje quase amaldiçoado nos EUA, ninguém está satisfeito com o seguro privado, que é hoje cartelizado, a United Health domina (no Brasil é dona da AMIL) e é altamente lucrativo.
A CRISE DO CORONAVÍRUS E A SAÚDE PÚBLICA NO MUNDO

A crise do Coronavírus vai mudar profundamente a visão da saúde pública no mundo, porque chega-se a uma óbvia constatação: SE OS POBRES NÃO TIVEREM SAÚDE PÚBLICA ELES VÃO CONTAMINAR OS RICOS, isso é algo completamente novo, não adianta os ricos terem seguro saúde no Sírio Libanês se sua empregada pode lhe passar vírus e não tem atendimento na saúde pública. Nos EUA a pressão por um sistema de saúde pública pode definir as eleições presidenciais de Novembro, é uma bandeira do Partido Democrata e a crise do Coronavírus pode empurrar os Republicanos para fora da Casa Branca porque eles são contra a saúde pública, que agora mostrou-se essencial para a sobrevivência dos Estados Unidos como um País civilizado e maior potência mundial. O vírus mostrou as deficiências da economia pura de mercado e vai exigir um novo modelo de solidariedade social que é incompatível com a ilusão de que o mercado sozinho é solução para tudo, mudando os EUA, muda o mundo.
Enquanto isso, cabe a nós brasileiros nos orgulharmos do SUS, mesmo com enormes deficiências de financiamento, é um sistema internacionalmente admirado. Apesar de lutar contra inimigos internos, o maior dos quais é o NEOLIBERALISMO CHILENO da atual equipe econômica, cujo sonho é acabar com o SUS, o INSS e tudo o mais que não seja “economia de mercado”, estamos ainda na zona de alto risco enquanto esse tipo de ideologia cega tem poder no País.
Texto original: CGN