sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Denúncia contra Lula tem "indisfarçável cunho político", diz Aragão

Operação Lava Jato

Denúncia contra Lula tem "indisfarçável cunho político", diz Aragão

Para o ex-ministro da Justiça, não caberia inserir Lula em apuração que o caracteriza como “comandante máximo” da corrupção na Petrobras
por André Barrocal — publicado 14/09/2016 19h30, última modificação 14/09/2016 19h47
Marcelo Camargo/ Agência Brasil/Fotos Públicas
A denúncia da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula extrapolou “limites” definidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e tem “indisfarçável cunho político”. A opinião é do subprocurador-geral da República e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, autor horas antes de uma dura carta aberta ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chefe maior da força-tarefa.
Segundo Aragão, a "República de Curitiba" (procuradores, policiais federais e o juiz Sergio Moro) podia investigar Lula apenas por dois fatos: a propriedade de um apartamento no Guarujá e a de um sítio em Atibaia.
A delimitação tinha sido fixada pelo STF quando do exame das conversas telefônicas entre Lula e a então presidenta Dilma Rousseff gravadas ilegalmente por ordem de Moro e por este utilizadas também de modo ilegal.
Não cabia, de acordo com Aragão, inserir o ex-presidente em uma apuração que agora o caracteriza como “comandante máximo” do esquema de corrupção na Petrobras.
“Uma denúncia não pode ser um cheque em branco. O objeto das investigações eram o tríplex e o sítio, a denúncia só podia tratar disso, não podia ser uma denúncia do 'fim do mundo'. Chega a ser hilário a gente ver essa turma falar que o Lula foi o chefe de tudo o que houve de errado desde 2003”, afirmou. “Eles [os investigadores] perderam a noção do limite."
Para o ex-ministro, “é gritante a suspeição” da força-tarefa em relação a Lula. Razão para ele defender a decisão do petista de acusar a Lava Jato, perante as Nações Unidas, de abuso de autoridade.
E também para ele lamentar que a Secretaria de Direitos Humanos do governo Temer, Flavia Piovesan, um ativista de fama internacional, tenha desqualificado a acusação em Genebra, uma das sedes da ONU, nesta quarta-feira 14.
“O Brasil precisa hoje de um pacto para chegar até a eleição de 2018, mas só vemos incendiários em tudo o que é canto”, disse Aragão. “Quem podia ter um papel nisso, pela posição que ocupa, é o procurador-geral, mas ele ajuda a botar lenha na fogueira. Ele espera incendiar o País?”
Janot foi alvo de críticas elegantes, porém contundentes, por parte do ex-ministro em uma carta aberta divulgada nesta quarta-feira 14 no blog do jornalista Marcelo Auler. Foi uma resposta ao discurso do procurador-geral feito durante a posse de Carmen Lúcia no comando do STF na antevéspera.
“Tem-se observado diuturnamente um trabalho desonesto de desconstrução da imagem de investigadores e de juízes. Atos midiáticos buscam ainda conspurcar o trabalho sério e isento desenvolvido nas investigações da Lava Jato”, afirmara Janot.
Aragão é um crítico dos métodos da Lava Jato, como o uso indiscriminado de prisões como forma de arrancar delações premiadas por parte de acusados, bem como do espírito “moralista” da força-tarefa. E foi um dos responsáveis por Janot, de quem é amigo, ter chegado ao cargo atual.
“Diferentemente do Senhor, não fiquei calado diante das diatribes políticas do Senhor Eduardo Cunha e de seus ex-asseclas, que assaltaram a democracia, expropriando o voto de 54 milhões de brasileiros, pisoteando-os com seus sapatinhos de couro alemão importado” escreveu Aragão.
“Não fui eu que assisti uma Presidenta inocente ser enxovalhada publicamente como criminosa, não porque cometeu qualquer crime, mas pelo que representa de avanço social e, também, por ser mulher.”
O ex-ministro acredita que o recado de Janot tinha como alvo o ministro do STF Gilmar Mendes, recentemente convertido em um cruzadista anti-Lava Jato – bastou a apuração aproximar-se do PSDB. Mas, disse, resolveu “vestir a carapuça” e aproveitar para expressar sua decepção com Janot.

Por que a dívida da Globo não é manchete de jornal?

Política

Pauta seletiva

Por que a dívida da Globo não é manchete de jornal?

O que descobriríamos se os jornalistas brasileiros fossem atrás das denúncias de sonegação que envolvem grandes grupos de comunicação e que não viram notícia no país?
por Intervozes — publicado 31/07/2014 21h32, última modificação 02/08/2014 14h58
Reprodução
Por Bruno Marinoni*
“Siga o dinheiro”, aconselhava William Mark Felt, o “garganta profunda”, aos jovens jornalistas que, nos anos 70, revelaram todo um esquema de espionagem e corrupção no interior da Casa Branca. O que não descobriríamos então se os jornalistas da mídia brasileira investigassem, por exemplo, a denúncia de que a Globo deve mais de R$ 600 milhões aos cofres públicos porque sonegou o imposto decorrente da compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002?
O caso, que já vinha sendo anunciado há algum tempo, ganhou novo capítulo no último dia 17 de julho, quando 29 páginas do processo na Receita Federal contra a Globo foram divulgados em um blog na internet. A emissora teria usado 10 empresas criadas em paraísos fiscais para esconder a fraude. Com o esquema, o sistema Globo teria incorrido em simulação e evasão fiscal. O imposto sobre importâncias enviadas para o exterior para aquisição de direitos de transmissão no caso da empresa beneficiária estar sediada em paraísos fiscais seria de 25%, se fosse pago.
E se os jornalistas da nossa mídia fossem, por outro exemplo, atrás do papel que a Igreja Universal, milionária e com isenção fiscal por se tratar de uma entidade religiosa, cumpre no financiamento da Record? Uma matéria intitulada “Macedo nega uso do dinheiro da igreja na compra de TV”, publicada na Folha de São Paulo, em setembro de 1998 (quando a emissora não era ainda uma competidora de peso), afirmou que investigações da Receita resultaram em uma multa de R$ 265 milhões ao grupo. A maior parte do pagamento, ou R$ 118 milhões, coube à Record; outros R$ 98 milhões, à própria Igreja Universal, e mais R$ 6 milhões, a Edir Macedo. Esses valores se refeririam a autuações e multas por sonegação fiscal e outras irregularidades.
Além disso, a imprensa já veiculou algumas vezes que a Igreja Universal compraria a faixa da madrugada da TV Record, que tem baixíssima audiência, por um preço muito acima do mercado. Todavia, até onde sabemos, nada foi feito para resolver essa questão.
Em 2010, foi a vez de Sílvio Santos, dono do SBT, se envolver em um escândalo de fraude fiscal, uma dívida de R$ 3,8 bilhões. O evento não se relacionava diretamente com os meios de comunicação, e sim com seu banco, o “Panamericano”. O dono da empresa, porém, empenhou todo o seu patrimônio, inclusive seus canais de TV, como garantia de que a dívida seria sanada.
Quando poucos grupos controlam os meios de comunicação, quando há concentração do poder midiático é fácil criar um bloqueio a informações desfavoráveis aos donos da mídia por meio de uma estratégia “positiva”: preenchendo-se a agenda de temas discutidos pela sociedade com uma série de assuntos que não atinjam os interesses daqueles que controlam os canais de comunicação.
Escândalos de corrupção e desvio de dinheiro público são sempre matérias na nossa imprensa, mas qual a seleção de casos que é feita? O que fica de fora? Quem fica de fora dessas páginas? Se há um grande número e diversidade de atores dirigindo os meios de comunicação, maior a possibilidade de nos relacionarmos com canais suficientemente independentes para nos fornecer informações de interesse público. Mas isso é algo em falta no Brasil.
* Bruno Marinoni é repórter do Observatório do Direito à Comunicação, doutor em Sociologia pela UFPE e integrante do Intervozes.

EBC, a nova obsessão de Temer

Comunicação pública

EBC, a nova obsessão de Temer

Governo fala em "desaparelhamento" da emissora, mas ao entregar a emissora a Laerte Rimoli coloca um aliado no cargo
por Renan Truffi — publicado 16/09/2016 04h59
Marcelo Casal Jr. / ABr
Rimoli
Rimoli, apadrinhado por Cunha
Em 19 de fevereiro de 2008, o então deputado federal Michel Temer foi um dos 336 parlamentares que votaram a favor da Medida Provisória 398/2007. A proposta foi enviada ao Congresso pelo governo do então presidente Lula e criava a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a chamada TV Pública.
Mais do que uma emissora, a EBC representou à época o cumprimento de um dispositivo da Constituição brasileira, a regulamentação da comunicação pública, que não pode ser confundida com uma emissora estatal.
Passados oito anos, o agora presidente Temer resolveu com uma canetada desmontar os principais mecanismos de independência da EBC que ele mesmo aprovou no passado. O governo editou uma Medida Provisória, a 744/2016, que acaba com o mandato fixo do diretor-presidente da empresa e extingue o conselho curador. Um dos alvos da medida é o jornalista Ricardo Melo, nomea­do diretor-presidente da EBC para um mandato de quatro anos em maio último pela ainda presidenta Dilma Rousseff.
Com passagens por algumas das principais redações do País, Melo lutou até o último minuto a favor da manutenção dos princípios fundadores da EBC. Acabou derrotado na noite da quinta-feira 8, quando o ministro José Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, derrubou a liminar que o mantinha no cargo. Liminar, ressalte-se, concedida pelo próprio ministro em junho, após a primeira tentativa de Temer de remover Melo do cargo.
A pressão sobre o jornalista foi intensa desde então. Não satisfeito, Temer esperou apenas a conclusão do impeachment de Dilma Rousseff para voltar à carga. E usou um preposto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para afastar Melo da EBC em 2 de setembro.
No mesmo dia, o governo editou uma Medida Provisória que extinguiu o mandato fixo para presidente da empresa e encerrou as atividades do conselho curador. “O objetivo sempre foi tirar o Melo, virou questão de honra. Causou perplexidade a publicação da MP antes da análise do STF. Um desrespeito total à ordem constitucional vigente”, explica Marco Aurélio de Carvalho, advogado do jornalista. A manobra não foi bem-sucedida.
Rimoli
Rimoli, apadrinhado por Cunha
Para não parecer uma afronta ao STF, Temer, que participava da reunião do G-20 na China, mandou reconduzir Melo ao comando da rede pública de comunicação algumas horas depois da segunda exoneração. Desautorizou o jovem Maia, presidente interino naquela data, que não escondeu sua irritação com a mudança de rota.
O novo governo usa o argumento do “desaparelhamento” da emissora pública, mas todos os atos rumam em direção contrária. O mandato fixo garantia independência ao presidente da emissora. O conselho curador, integrado por 15 representantes da sociedade civil, entre 22 nomeados, tinha a função de fiscalizar a gestão da empresa e o equilíbrio na cobertura jornalística e impedir a interferência do Planalto. “É o contrário. A medida aparelha completamente a EBC”, afirma Melo.
Para não deixar dúvidas sobre as intenções do novo governo, o substituto será Laerte Rimoli, obscuro jornalista de claras ligações com o PSDB, mais conhecido por assessorar políticos, entre eles o senador Aécio Neves, e atacar os adversários de seus patrões nas redes sociais.
Rimoli tornou-se diretor de Comunicação da Câmara dos Deputados durante a presidência de Eduardo Cunha. Sob sua gestão, a TV Câmara foi diversas vezes acusada de omitir trechos ou não divulgar críticas dirigidas a Cunha no plenário da Casa e nas comissões. Acumulam-se relatos de servidores a respeito da imposição de censura em programas jornalísticos da emissora.
STF
No fim, o STF cedeu à pressão do Planalto (Foto: U. Dettmar/STF)
Deputados de oposição a Cunha passaram a acusar o ex-presidente de usar a comunicação institucional da Casa em interesse próprio. A deputada Erika Kokay fez à época uma representação na qual reuniu diversos relatos de censura.
Em sua breve “primeira passagem” no comando da EBC, Rimoli deu sinais de que manterá o estilo. Em poucos dias, demitiu dezenas de gestores e encerrou contratos com comentaristas e jornalistas nacionalmente reconhecidos, entre eles, Tereza Cruvinel, Luis Nassif, Paulo Moreira Leite e Sidney Rezende. Ao comentar as medidas, ironizou: a EBC, sob seu comando, teria jornalistas e não “jabutis”.
“As demissões aconteceram sem nenhum motivo. Tratava-se de profissionais que sempre trabalharam em grandes empresas, foi uma brutalidade absurda”, argumenta Melo, que poderia ter anulado os atos, mas decidiu não interferir enquanto sua situação legal não estivesse definida.
Rimoli tentou apaziguar os ânimos em junho e disse pretender um “jornalismo arroz com feijão”. Alguns dias depois, sob seu comando, jornalistas da EBC relataram, em condição de anonimato, o caso de censura de uma reportagem publicada pela Agência Brasil. Uma das diretoras nomeadas por Temer teria retirado do ar um trecho com críticas à MP 744.
Há dúvidas sobre se Rimoli, que não atendeu aos pedidos de entrevista de CartaCapital, está autorizado a assumir o comando da EBC. A nova Lei das Estatais, sancionada por Temer em julho, define que integrantes de campanhas eleitorais não podem assumir cargos em conselhos ou diretorias de empresas públicas antes de uma quarentena de três anos.
Maia
Maia foi desautorizado por Temer e não gostou (Foto: Marcelo Camargo/ABr)
Rimoli foi assessor de comunicação de Aécio Neves durante as eleições presidenciais de 2014. Os conselheiros da EBC, em conjunto com partidos como PT e PCdoB, pretendem ingressar na Justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a exoneração de Melo e a Medida Provisória que extinguiu o Conselho Curador. A suposta inabilitação de Rimoli para o cargo tende a integrar a Adin.
Na terça-feira 6, soube-se que Rimoli, embora não ocupe o cargo, passou a receber desde junho o salário equivalente ao de diretor-presidente da EBC. À Folha de S.Paulo, o jornalista fez chacota da situação: “Só não receberia se fosse demitido. Fui afastado pela liminar. Eu era presidente, como serei daqui a pouco de novo. Eu sou a Dilma da EBC”. Parecia prever a decisão do ministro Dias Toffoli.
“A impressão que dá é de que esse governo tem pressa em fazer desmontes como se tivesse de prestar contas com quem os apoiou. A EBC não é prêmio de consolação e não pode entrar nesse tipo de negociata”, resume Rita Freire, presidente do agora extinto Conselho Curador. 
*Publicado originalmente na edição 918 de CartaCapital, com o título "Controlar o holofote". Assine CartaCapital.

Anna Muylaert: O golpe no cinema brasileiro Enquanto esse elemento golpista/usurpador estiver aboletado onde está, muitos golpes virão.

Anna Muylaert: O golpe no cinema brasileiro


Com a escolha de 'Pequenos Segredos' como indicado do Brasil para o Oscar, enterramos muito mais que um filme. Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro
É natural imaginar que Kleber Mendonça Filho esteja agora chateado com esse golpe relativo à escolha de outro filme pela comissão do Oscar. Imagino que esteja mesmo. Mas do meu ponto de vista o maior prejudicado não foi nem é Kleber e sua equipe e sim o cinema brasileiro.
Houve, sim, uma grande batalha nos últimos anos em várias esferas, Ancine – Manoel Rangele e Eduardo Valente, sem falar do Cinema do Brasil –, pessoas e entidades que vêm lutando tanto pela qualidade do cinema brasileiro quanto por sua visibilidade no exterior.
Ora Kleber Mendonça fez um filme – goste-se ou não – importante, extremamente bem dirigido e que conquistou uma vaga na competição de Cannes – a mais difícil do mundo. Além disso, está tendo sucesso de público e de crítica no seu país de origem.
Escolher outro filme para representar o Brasil agora – um filme que ninguém viu – não é apenas uma derrota para "Aquarius", é antes de tudo uma mudança de rumo nos paradigmas de qualidade que viemos construindo todos nós juntos há anos.
Agência Efe

Elenco e equipe do filme "Aquarius" protesta no tapete vermelho do Festival de Cannes, na França, em agosto

Brasil em transe: crise política, golpe de Estado e perspectivas da esquerda

Entidades e organizações nacionais e internacionais condenam impeachment de Dilma

Kenarik Boujikian: A polícia vandaliza o direito de protesto

 
O que esperar do futuro?
Que os amigos de Michel Temer sejam daqui pra frente os grandes autores do cinema brasileiro – independentemente de sua qualidade ou mesmo de sua representatividade junto ao público?
A resposta é triste e é: provavelmente sim.
Com a escolha de "Pequenos Segredos" como indicado do Brasil para o Oscar, enterramos muito mais que um filme. Enterramos um paradigma de qualidade e legitimidade para o cinema brasileiro.
Quando se está vivendo sob a égide de um golpe nacional, por que haveria de ser diferente com o cinema?

Publicado originalmente no site da Mídia NINJA.

Denúncia contra Lula é política, baseada em hipóteses e não em fatos, diz jurista

Denúncia contra Lula é política, baseada em hipóteses e não em fatos, diz jurista


'É absolutamente ilegal um agente do Estado afirmar que um cidadão é 'comandante máximo de um grupo criminoso' sem que ele sequer tenha tido oportunidade de defesa', diz Pedro Estevam Serrano, professor de Direito da PUC-SP
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), no âmbito da operação Lava Jato, por lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. Em entrevista coletiva concedida na tarde desta quarta-feira (14/09), o procurador Deltan Dallagnol acusou Lula de estar "no topo da organização criminosa" e de ser o "comandante máximo" do esquema de corrupção identificado na Lava Jato. 
O advogado e professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Pedro Estevam Serrano, rebate a afirmação do procurador: “É absolutamente ilegal um agente do Estado afirmar que um cidadão é ‘comandante máximo de um grupo criminoso’ sem que ele sequer tenha tido oportunidade de defesa. Neste caso, o agente está descumprindo o dever jurídico de preservar a imagem e a figura do réu”. Do ponto de vista jurídico, enquanto o réu não é condenado, não há como fazer esse tipo de afirmação, de acordo com o jurista.
O anúncio ocorreu na manhã desta quarta-feira (14/09) e os argumentos para a denúncia vieram a público em entrevista coletiva concedida pelos procuradores do MPF a partir das 16h, com cerca de uma hora de atraso do previsto. 
"Acusações infundadas"
Segundo o procurador Dallagnol, os desvios, em tese, ocorreram via repasse de recursos a partir da construtora OAS a Lula por meio da reforma e decoração de um triplex no Guarujá, litoral de São Paulo, supostamente pertencente a ele, e pelo contrato de armazenamento de bens pessoais do ex-presidente em nome da empresa. 
Agência Efe

O procurador Deltan Dallagnol apresentou denúncias contra o ex-presidente Lula na quarta-feira (14/09)
Pedro Estevam Serrano acredita que a acusação do MPF seja inconsistente, uma vez que, de acordo com ele, não há provas concretas em relação à participação de Lula no esquema de corrupção da Petrobras. “A hipótese prévia imaginária prepondera em relação aos fatos. Me parece que a acusação num processo jurídico normal não prosperaria”, afirma. Nesse sentido, Serrano é enfático: “Não acredito na prisão dele [Lula]”. 
Os advogados de Lula e de Dona Marisa Letícia, Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, também questionaram a falta de provas dos crimes imputados e afirmaram que a denúncia do MPF é "truque de ilusionismo".
"O imóvel que teria recebido as melhorias é de propriedade da OAS, como não deixa qualquer dúvida o registro no Cartório de Registro de Imóveis (Matrícula 104801, do Cartório de Registro de Imóveis do Guarujá), que é um ato dotado de fé pública. […] A denúncia não contém um único elemento que possa superar essa realidade jurídica, revelando-se, portanto, peça de ficção", diz a nota. 
 

Venezuela diz que decisão de não passar Presidência do Mercosul ao país é 'desespero de burocratas'

Infiltrado do Exército que espionava manifestantes anti-Temer em SP mirou MTST, Mídia NINJA e outros movimentos sociais

Discrepância entre acusações verbais e formais contra Lula levanta dúvidas sobre Lava Jato, diz AP

 
O MPF acusa o desvio de R$ 87 milhões em corrupção e R$ 3,7 milhões em lavagem de dinheiro envolvendo o ex-presidente Lula. O requerimento do MPF ao Judiciário será de confisco de R$ 87 milhões e do mesmo valor em ressarcimento. A pena imputada a esses tipos de crimes vai de 2 e 8 meses a 16 anos e 6 meses de prisão. A investigação abrange o período entre 2006 e 2016. 
A esposa de Lula, Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o empresário Léo Pinheiro, da OAS, dois funcionários da empreiteira e outros dois investigados também foram denunciados. O juiz Sérgio Moro deve analisar a denúncia em até cinco dias.
Julgamento é político, afirma vice-prefeita de Curitiba
Na avaliação de Mirian Gonçalves, vice-prefeita de Curitiba (PT), a postura política explicitada no discurso dos integrantes do MPF é incompatível com a função que exercem: “Ele [Dallagnol] não está colocando ali sua posição jurídica, mas sim sua interpretação política. É um pré-julgamento barato”, sem provas, opina.
A substituição da postura jurídica pela política é reforçada pela maneira como os integrantes da Lava Jato são tratados por setores da população, segundo a vice-prefeita: “Quando um membro do Judiciário é incensado, aclamado e incentivado a cargo eletivo, significa que não é dignitário da função que exerce, porque é reconhecida publicamente a forma parcial e deliberada com a qual professa sua opção por setores políticos, o que torna incompatível com a independência dos poderes”, afirma.
Para o jurista Serrano, o sistema de Justiça no Brasil, a partir da Lava Jato, está produzindo uma medida de exceção no interior da democracia. “Há uma roupagem jurídica para o que no fundo é um julgamento político, com suspensão dos direitos da Constituição. Creio que o objetivo é o de evitar a participação de um candidato trabalhista e popular com chances de vitória nas eleições de 2018”, avalia. De acordo com ele, a tentativa é de se produzir um discurso acusatório para fabricar o apoio de uma parcela da sociedade de forma fictícia antes do encerramento do processo. 

Publicado originalmente no site Brasil de Fato