terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Veja a lista dos direitos que Temer tirou de você em 2017 FORA TEMER E TODOS OS GOLPISTAS!

Veja a lista dos direitos que Temer tirou de você em 2017

O trabalhado ficou precário, as farmácias populares estão sendo fechadas e o Bolsa Família foi cortado, isso sem contar a redução de 32% na educação
 31/12/2017 09h00

Lula Marques/Agência PT

Michel Temer retira direitos, aumenta impostos e gasta bilhões para escapar de denúncia
Quantos direitos Temer tirou de você em 2017?
Não é dúvida que o golpe foi dado para que o neoliberalismo, em sua face mais cruel, fosse implantado no Brasil às custas da retirada de direitos, de benefícios sociais e da redução da qualidade de vida do povo em benefício do mercado especulativo e das empresas estrangeiras. Em 2017 o trabalhador brasileiro sofreu o mais duro golpe dos últimos 50 anos: a reforma da CLT. O salário mínimo foi reduzido pela primeira vez na história, passando de R$ 979,00 para R$ 954,00.
Também foi aprovada a “PEC do Fim do Mundo” que congelou por 20 anos os investimentos em saúdeeducação e infraestrutura, reduzindo os repasses para áreas consideradas prioritárias pela população.
Os impactos já estão sendo sentidos, com destaque para o Orçamento de 2018 aprovado pelo Congresso, que traz uma redução drástica de investimentos em programas sociais e educação, que perdeu R$ 2,1 bilhões em novos investimentos, por exemplo.
Paralelamente a isso, o brasileiro viu a cesta básica subir acima da inflação em março, a gasolina aumentar quase uma centena de vezes, batendo o recorde e superando os R$ 4,00 e o botijão de gás que chegou a R$ 6,00 em alguns municípios. Por trás disso, está o sucateamento da Petrobras e a “venda” do pré-sal brasileiro, medidas do governo usurpador.
Em nome do “equilíbrio fiscal”, o presidente golpista segue a cartilha dos bancos, prioriza pagamentos da dívida e deixa o brasileiro à mercê do mercado. Enquanto isso, o país volta para o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU).
Foram tantos 7 a 1 por dia que perdemos a conta. Por isso, listamos alguns dos direitos que você perdeu ao longo de 2017:

Reforma trabalhista

O governo alterou mais de cem itens da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) dentre as medidas mais predatórias estão: a implantação do trabalho intermitente a terceirização irrestrita, permitiu que o negociado prevaleça sobre o legislado – ou seja, você negocia com seu patrão em vez de ter seus direitos assegurados, acabou com o acesso à Justiça trabalhista.
O resultado: em um mês foram extintos quase 13 mil vagas de emprego com carteira assinada. Atualmente o Brasil possui 12 milhões de desempregados, segundo dados do Caged. Com Temer a taxa de desemprego supera os 13%, durante os governos da presidenta eleita Dilma Rousseff esse número era de 4,8%.

Mapa da Fome

Os retrocessos em todas as áreas sociais e os cortes nos programas sociais levaram o Brasil de volta à vergonhosa lista conhecida como o “Mapa da Fome” da ONU. De acordo com dados do IBGE, mais de 7 milhões de pessoas no Brasil passam fome, um dado vergonhoso para o país que chegou a ser exemplo de programas sociais como o Bolsa Família.

Saúde

O governo federal iniciou o triste desmonte do programa Mais Médicos, deixando 7,7 milhões de pessoas sem atendimento
Em novembro, o governo reduziu em R$ 600 milhões orçamento do programa Aqui Tem Farmácia Popular, que fornece remédios gratuitos ou com descontos para a população.

Educação

Em fevereiro, Temer cortou 40% das vagas do Fies, o programa que financia estudos.
Foi aprovada a Reforma do Ensino Médio que permite que professores com “notório saber” possam dar aulas em suas áreas e retira da grande as aulas de filosofia e LBD Sociologia.
Foram promovidos cortes nos repasses às universidades e institutos federais que estão paralisadas.
Em abril, o governo federal anunciou o primeiro corte no Ministério da Educação no valor de R$ 4,3 bilhões reduzindo o orçamento aprovado para 2017.
Isso sem contar no corte de R$ 2,1 bilhões do orçamento da educação para 2018.

Habitação

Temer acabou com o programa Minha Casa, Minha Vida: em 2017 foram investidos apenas 9% dos valores previstos para o programa e o objetivo era zerar os repasses, segundo o orçamento previsto na LOA para 2018. A redução afetou principalmente os beneficiários da faixa 1 do programa, aqueles que possuem renda familiar menor.

Bolsa Família

Temer fez o maior corte da história do Bolsa Família: na comparação entre julho de 2014, último ano do primeiro mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff, e o mesmo mês de 2017, houve uma redução de 1,5 milhão de bolsas pagas.
Resultado: em março, a ONU registra que Brasil caiu 19 posições no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano.

Programa de cisternas

Neste ano, o governo golpista cortou 95% do programa de cisternas, o mais reconhecido programa de combate à seca no semiárido, gerando uma fila de espera, segundo informações da ASA (Articulação do Semiárido), a 350 mil famílias. Durante os governos de Lula e Dilma foram construidas mais de 1,2 milhão de cisternas.

Políticas do campo

Desde abril de 2017 o governo  dá incentivos aos funcionários do Incra que concedem títulos individuais de propriedade ao invés de fortalecer os assentamentos
O orçamento de 2018 prevê redução de 64% nos investimentos dos assentamentos, 86% na assistência técnica e extensão rural e 83% para aquisição de imóveis para reforma agrária.
Pela primeira vez o Plano Safra da Agricultura Familiar (criado no primeiro governo Lula) tem estagnação orçamentária, em 2018/2019, e o crédito rural do Pronaf apresenta queda de recursos de 21% em relação à safra 2016/2017 e de 37% em comparação à safra 2017/2018

Luz para Todos

Entre janeiro e maio de 2017, o governo investiu apenas R$ 75 milhões do orçamento de R$1,1 bilhão para novas instalações de luz elétrica. Com isso, os projetos para levar luz para milhares de famílias estão praticamente paralisados. Durante os governos de Lula e Dilma, mais de 16 milhões de pessoas foram beneficiadas com esse direito básico que é ter luz em casa.

Petróleo e gás

Como parte do golpe, o governo tirou a obrigatoriedade da Petrobras ser a única operadora do pré-sal e ter participação mínima de 30% nos campos licitados.
Vale lembrar o lobby feito pelo governo britânico em prol da Shell e da BP que acabou se tornando na MP do Trilhão aprovada em dezembro e que dá isenção fiscal às empresas estrangeiras fazendo o Brasil deixar de arrecadar em 25 anos R$ 1 trilhão em impostos.
Resultado: Além de entregar a maior riqueza do Brasil o resultado também é o aumento dos preços de gás e gasolina.

Privatizações

Começa o desmonte dos Correios com Programa de Demissão Voluntária de milhares de trabalhadores que denunciam interesse do governo de privatizar a empresa. O mesmo acontece com a Caixa Econômica Federal.
Primeiro, Temer baixou uma MP para tirar a proibição de privatizar a Eletrobras, – a maior estatal elétrica do país – o que deverá ocorrer, segundo o governo golpista, até o final de 2018. Também serão vendidas suas seis distribuidoras de energia.

Política internacional

O Brasil de fato encolheu não só politicamente, socialmente e economicamente, mas com Temer o país ficou menor aos olhos do mundo. Se nos governos do PT o país era reconhecido como líder global, agora o interino é classificado como “catástrofe diplomática” por especialistas. Com isso, o Brasil se tornou, como classificou a presidenta do PT Gleisi Hoffmann “um mero satélite dos interesses dos EUA e aliados” . Mas o que isso muda na vida do brasileiro?
Investimentos,troca de tecnologia, expansão do mercado nacional, acordos que ajudam a melhorar a vida das pessoas, a economia, dentre tantos outros aspectos.
A viagem de Temer à Noruega, em junho deste ano, foi catastrófica e culminou na retirada de muitos milhões de investimentos internacionais em apoio à Amazônia. O interino chegou a ser alvo de protestos, incluindo das autoridades norueguesas, por aumentar o desmatamento na Amazônia.
Da Redação da Agência PT de Notícias

O governo quer acabar com a Caixa O GOLPISTA/MEDÍOCRE/CORRUPTO MiShell Temer DESTRÓI O PAÍS

Política

Carta Aberta

O governo quer acabar com a Caixa

por Jorge Mattoso, Maria Fernanda Ramos Coelho,  Jorge Hereda e Miriam Belchior — publicado 10/11/2017 10h37
Ex-presidentes denunciam plano para extinguir o centenário banco público popular brasileiro
Alexandre Carvalho/A2IMG
Minha Casa Minha Vida
Os desembolsos do Minha Casa Minha Vida foram reduzidos de 20,7 bilhões de reais em 2015 para 7,9 bilhões em 2016
O Ministério da Fazenda, por meio de sua representante no Conselho de Administração, vem tentando transformar a Caixa Econômica Federal em Sociedade Anônima para, em seguida, colocar suas ações no mercado e, dessa forma, ajudar o governo Temer e seu austericídio, destinando ao Tesouro Nacional os bilhões de reais que as ações poderiam gerar.

Mas a abertura de capital da Caixa levaria ao seu fim como banco 100% público, até agora capaz de gerar políticas inovadoras, criar novos mercados, favorecer ações sociais e alavancar políticas anticíclicas em períodos de crise. 

Como era a Caixa

Vale a pena recordar que, após a incorporação do BNH, em 1986, e durante os anos 1990, a Caixa passou por momentos difíceis. Com a reestruturação financeira e patrimonial realizada em 2001, a Caixa deixou de ser uma instituição capaz de executar políticas públicas e perdeu espaço no mercado bancário, com agências superlotadas, lotéricos desmotivados, escassos correspondentes bancários e sem produtos e/ou serviços com tecnologia e qualidade. 
A Caixa passou a concentrar seus recursos em operações de Tesouraria, gerando daí quase todo o seu resultado líquido. Assim, não apenas as políticas públicas foram abandonadas, mas o negócio de crédito comercial era visto como secundário – ou até mesmo desnecessário.

Com isso, a Caixa teve sua imagem comprometida junto à população, que passou a vê-la apenas como instituição destinada a depósitos de poupança e que ocupava os primeiros lugares na lista de reclamações do Banco Central.
Leia mais:
O saque neoliberal do FGTS
O mapa do 'tesouro perdido' de 51 milhões atribuído a Geddel
As privatizações de Temer boicotam a economia do País

Como ficou a Caixa

A partir de 2003, esse quadro foi revertido. A Caixa foi reorientada a cumprir sua missão institucional de banco público, como agente do desenvolvimento econômico e social, participando de políticas de ampliação do crédito, de bancarização, de amplo acesso aos seus produtos e serviços e como principal implementador de políticas públicas do governo federal. 

A Caixa ficou maior, mais competitiva e relevante para os brasileiros, pois se consolidou como o primeiro banco em poupança e habitação, o segundo maior em carteira de crédito, o terceiro maior em ativos e a quinta marca mais valiosa do País. 

Em 2003, a Caixa tinha 1.710 agências, 10,2% do total do País. Em 2014, alcançou 3.391 unidades, 14,7% do total. Além disso, dada a sua atividade social, a Caixa passou a ter a maior rede de correspondentes bancários (11.178) e lotéricos (13.080), que atingem praticamente todos os municípios brasileiros.

A bancarização passou a ser um objetivo maior da Caixa. Foi criada, em 2003, a conta bancária simplificada, que ampliou o acesso bancário das camadas mais pobres da população. Em 2015, existiam mais de 12 milhões de contas simplificadas de depósitos à vista e de poupança ativas, em sua maior parte na Caixa.

Ao tornar-se fonte pagadora dos programas sociais através do Cartão do Cidadão, permitiu que, além do Bolsa Família, que tem seu próprio cartão, todos tivessem maior facilidade de acesso aos benefícios sociais e trabalhistas (FGTS, PIS, Abono Salarial e Seguro-Desemprego). 

Na execução dos programas governamentais, em 2016 foram pagos 28,3 bilhões de reais em benefícios sociais e 242,1 bilhões em benefícios aos trabalhadores. Já as loterias federais destinaram, no mesmo ano, 4,8 bilhões de reais para a Seguridade Social, esporte e financiamento estudantil (Fies), entre outros.
Além disso, a Caixa também foi protagonista das principais políticas de desenvolvimento e de inclusão social do governo federal, ao operar os programas Bolsa Família, PAC e Minha Casa Minha Vida, entre muitos outros.

O crédito passou a crescer no País a partir de 2004 e a Caixa começou a participar desse processo com a ampliação do crédito consignado, depois estendido a outras modalidades.
Em 2016, o saldo da carteira de crédito somou 709 bilhões de reais e sua carteira de crédito ampla correspondia a mais de 22% do mercado. No mesmo ano, foi responsável por 67% do financiamento imobiliário nacional, detendo 90% do crédito destinado à habitação popular. 

Com o crescimento do financiamento à infraestrutura, mobilidade urbana e saneamento, a Caixa tornou-se o segundo maior financiador de projetos de longo prazo no País, alcançando, em 2016, uma carteira com 79 bilhões reais de saldo, ficando atrás apenas do BNDES. A Caixa auxiliou também a redução do spread bancário em dois momentos.
O primeiro, entre 2003-2004 e 2007, voltado mais intensamente para pessoas físicas, em meio ao crescimento da nova classe média. O segundo, em 2012 e 2013, quando, após as políticas anticíclicas, se buscou reduzir os juros e os spreads bancários. 

Desde 2003, a Caixa assegurou sua rentabilidade e desempenho econômico-financeiro. Ampliou o crédito, mantendo baixas taxas de inadimplência, aumentando o lucro líquido e, sempre que possível, contribuindo com os dividendos ao Tesouro. 

A Caixa amanhã

Com a adoção de políticas de austeridade em meio ao desmonte do Estado Nacional, a economia brasileira teve queda do PIB, dos investimentos e do crédito total.
A Caixa, por sua vez, anunciou um Plano de Demissão Voluntária (PDV) em 2016, embora o número de funcionários tenha caído antes de sua efetivação: de 95.458 em 2015 para 94.978 em 2016 e também se propôs a fechar cerca de 120 agências em 2017. Mais importantes que esses ajustes foram as políticas que fizeram cair a oferta de crédito livre e direcionado e elevaram os juros da Caixa. 

A queda da oferta de crédito no País foi de 3,2% em 2016 e de 2% até setembro de 2017. O Programa Minha Casa Minha Vida teve acentuada retração dos desembolsos, de 20,7 bilhões de reais em 2015 para 7,9 bilhões em 2016 e projeção linear de 2,7 bilhões em 2017.
Além disso, têm sido crescentes os cortes no PAC e nos gastos discricionários de vários programas sociais pagos pela Caixa, com evidente impacto sobre a população de menor renda. Mas o governo Temer tem insistido no austericídio, na desestruturação do Estado e na tentativa de privatizar a Caixa, elevando a concentração bancária. 

A Caixa sempre soube se reinventar e se transformar – como o fez em momentos de crise, de alterações estruturais da economia ou de consolidação de novas regras de risco, governança, regulatórias ou legais – e precisará continuar a fazê-lo, inclusive para dar conta do Acordo da Basileia III.
Mas, se confirmada a sua transformação em S.A. com ações no mercado, a Caixa perderia as condições para se transformar e implementar políticas públicas – sociais, de incentivo ao mercado ou anticíclicas – como fez ao longo de seus 156 anos de história. Nas condições atuais do mercado bancário, ela possivelmente deixaria de existir, sendo incorporada pelo Banco do Brasil ou vendida a um banco privado. 

Para que o nosso país possa voltar a ter crescimento sustentável com redução da pobreza, precisamos continuar com um banco 100% público, forte e competitivo, como a Caixa, capaz de enfrentar ao mesmo tempo a concorrência bancária e suas responsabilidades sociais.

O Brasil não pode perder um banco que personifica sua população e seus sonhos de casa própria, poupança, benefícios sociais, crédito e investimentos para o crescimento sustentável e inclusivo do País.
Fonte: Carta Capital

Tragam-me a cabeça de Lima Barreto

Cultura

Teatro

Tragam-me a cabeça de Lima Barreto

por Rosane Borges — publicado 02/01/2018 10h14
Ancorado no tripé loucura, racismo e eugenia, monólogo com o ator Hilton Cobra homenageia o escritor
Valmyr Ferreira/Fotos Publicas
Cena da peça Tragam-me a cabeça de Lima Barreto
O ator Hilton Cobra ao lado de projeção da imagem do escritor Lima Barreto
Ninguém põe em dúvida.
Entre as marcas que vincam o já envelhecido 2017, podemos pôr em destaque a luz do holofote que se projetou sobre o escritor Lima Barreto. Jorraram em profusão biografias (inéditas e reeditadas), láureas e homenagens, com a Flip sintetizando a pompa e a circunstância.
Soerguendo-se do pântano para o qual a crítica literária o empurrou, Lima converteu-se na pérola mais preciosa da ostra extraída das águas tormentosas deste ano.
Eis que em meio às homenagens e publicações, a peça “Traga-me a cabeça de Lima Barreto”, monólogo em que o ator Hilton Cobra celebra os seus 40 anos de carreira, se encarrega de nos dar a ver um escritor ancorado nos dilemas/problemas/desafios nucleares que desenharam os contornos de um Rio de Janeiro (capital da Primeira República e da cultura literária do país) ávido pelos ventos da modernidade que sopravam mundo a fora ao mesmo tempo em que não se desapegava de um servilismo escravocrata, de uma aversão aos ideais republicanos.
É nesta atmosfera anfíbia que Lima Barreto transita, refletindo as ambivalências de seu tempo (crítico ácido do sistema, o escritor dos excluídos não se deixava tosquiar feito um carneiro, mas também exigia, paradoxalmente, reconhecimento das estruturas pelas quais alimentava repulsa, postulava reconhecimento da Academia Brasileira de Letras).
São vários os enquadramentos possíveis para se ter acesso ao escritor. “Traga-me a cabeça...” o faz apoiando-se de maneira equilibrada no tripé loucura – racismo – eugenia. Em tom abreviado, a peça discorre sobre uma imaginária sessão de autópsia do crânio de Lima Barreto, conduzida por médicos eugenistas na década de trinta. A pergunta que movia os higienistas era: “como um cérebro considerado inferior poderia ter produzido uma obra literária de porte se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças tidas como superiores?”
A partir deste questionamento, o monólogo revolve as várias camadas de um escritor que foi reconhecido pelo establishment durante muito tempo tão-somente pela chave da literatura social como o porta-voz dos que nada têm. Tal “reconhecimento” deu de ombros para a riqueza formal de sua obra, cego à inventividade dos seus textos (mito que a Flip se encarregou de desfazer, enfatizando que a escrita de Lima inspirou toda uma linhagem da literatura em língua portuguesa).
Este é dos tópicos essenciais da peça, que reatualiza as proverbiais comparações entre Machado de Assis e Lima Barreto (e, neste caso, o próprio Lima se encarrega da zombaria), ao modo como se fez com Tolstói-Dostoiévski, Saramago-Lobo Antunes. Talvez seja esse um dos pontos de conexão que enovelam o trípé loucura, racismo e eugenia.
A loucura de Lima Barreto que acessamos por meio da peça não é apenas fruto do racismo e suas interdições, ainda que potencializadores de uma vida infausta (não podemos esquecer de suas agruras: pelas críticas à imprensa no livro Recordações do escrivão Isaías Camina, é excluído do quadro de colaboradores do “Correio da Manhã” e seu nome vira um interdito nas páginas do jornal, mesmo trinta anos depois de sua morte).
É também uma loucura genial, tal como a de um James Joyce ou de um Samuel Beckett. É uma loucura “herdada” do pai. É uma loucura que sai pelo mundo tentando agenciar novos/outros arranjos capazes de enfrentar as dificuldades de uma vida talhada pelas consequências dos frames que foram emoldurando a trajetória do escritor (arrimo de família em virtude da neurastenia do pai, abandono da Escola Politécnica, alcoolismo...). Consciente de sua condição vulnerável, anunciava: “Se em vida me submeti às mais sórdidas humilhações, em morte não cederei”
O racismo, sempre ele, cimenta uma plataforma em que, progressivamente, Lima Barreto vai sendo expelido de uma cena literária que se espelhava nas “belas letras europeias”, resistente a ceder espaço aos subalternizados e excluídos. A eugenia era o projeto que poderia assegurar o bloqueio dos indesejados na gestão do comum, nos destinos da vida nacional. Mas Lima resiste, não cede, mesmo pagando um preço altíssimo por isso, margeando terreno minado por essa ordem de coisas, abrindo, para um tempo futuro, uma avenida à estreita margem de manobra imposta a ele.
A peça, o ator, o teatro
O que dizer da peça “Traga-me a cabeça de Lima Barreto” para além de qualificá-la como uma homenagem ao escritor sob determinados prismas? Muitas coisas e um pouco mais. Em termos estritamente cênicos, o monólogo marca o reencontro do ator Hilton Cobra com a obra do escritor.
Em 2008 o ator, produtor cultural e fundador da companhia teatral Comuns protagonizou a versão cênica de Luiz Marfuz para O triste fim de Policarpo Quaresma.
Também escrita por Luiz Marfuz e dirigida por Fernanda Júlia, “Traga-me a cabeça de Lima Barreto” cerca-se de especialistas de altíssimo gabarito (entre eles, Lázaro Ramos é um dos que emprestam sua voz para a leitura em off de textos de apoio à cena) e nos brinda com uma das melhores formas de se reeditar as discussões entre arte e política.
A performance de Hilton Cobra é uma esplêndida feitura de como o teatro, em sendo arte, pode oferecer uma brecha para reposicionar a vida em outro patamar. Desde a caverna de Platão até as críticas contemporâneas da sociedade do espetáculo uma questão acompanha, como pedra no sapato, o papel do teatro em relação ao espectador: liberar os dominados das ilusões.
“Traga-me a cabeça...” faz diferente. Ao invés de laborar em torno de uma pedagogia do olhar, o monólogo nos provoca a enxergar um Lima Barreto, entre vários possíveis, com olhos de ver. Antes de considerar que “quem vê não sabe ver”, pactua com a plateia um deslocamento. O monólogo pede vênia a Lima Barreto e, com esse gesto, nos faz reconhecer a alta magnificência de um ator que, do do alto dos seus 40 anos de carreira, perturba a boa rotina do mundo. 
Fonte: Carta Capital

"É o próprio governo que provoca o déficit da Previdência", alerta economista

Economia

Direito à Aposentadoria

"É o próprio governo que provoca o déficit da Previdência", alerta economista

por Mariana Haubert — publicado 27/01/2017 17h14, última modificação 27/01/2017 21h40
Ao não cobrar sonegadores e conceder renúncias fiscais, a União alimenta o problema que diz combater, avalia Denise Gentil, da UFRJ
Sérgio Amaral
Denise Gentil
"Essa reforma tem um conteúdo privatizante muito forte", avalia a economista Denise Gentil, da UFRJ
De Brasília
reforma da Previdência proposta por Michel Temer no fim de 2016 tem como objetivo oculto privatizar o setor. Essa é a avaliação da economista Denise Gentil, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na avaliação dela, as exigências impostas aos trabalhadores são tão altas e as perspectivas de obter uma boa aposentadoria, com valor integral, foram reduzidas a tal ponto que estimularão a busca por fundos de previdência privada complementar.
A economista alerta, ainda, para o esvaziamento da própria Previdência pública, uma vez que, ao não vislumbrar o acesso a um benefício digno ao fim da vida, muitas pessoas podem acabar optando por não contribuir ao longo dos anos.
Em entrevista à CartaCapital, a professora explica que a reforma alterará o caráter da Seguridade Social passando a uma visão financeira do setor. Segundo ela, entre janeiro e outubro de 2016, os bancos venderam 21% a mais de planos nos fundos privados.
Denise participou do seminário “Em defesa do direito à aposentadoria para todos”, realizado pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e Associação Nacional dos Participantes de Fundo de Pensão (Anapar), em Brasília, na sexta-feira 27, com a presença de centrais sindicais e outras entidades representativas.
Confira, abaixo, a íntegra da entrevista:
CartaCapital: A reforma da Previdência acabará, de acordo com a senhora, por pressionar o trabalhador a buscar outras alternativas de renda para garantir uma velhice tranquila. Por isso que a reforma induz a uma privatização do setor?Denise Gentil: Quando o governo anuncia uma reforma que vai exigir um tempo maior de contribuição e uma idade maior para a aposentadoria, ele sinaliza ao trabalhador que terá dificuldade para acessar essa aposentadoria e que, portanto, deve procurar uma previdência privada complementar. Essa reforma tem um conteúdo privatizante muito forte.
O recado é: Quem não buscar os fundos de previdência complementar pode cair na pobreza.  A reforma também tem outro objetivo: achatar os gastos públicos. Ao fazer isso com a Previdência e com a Assistência Social, ela também vai liberar mais recursos para pagar juros. E os grandes proprietários de títulos públicos no Brasil são os mesmos dos fundos de previdência, que são os fundos dos bancos.
CC: O governo anunciou a reforma como uma das soluções para a crise econômica, dentro do ajuste fiscal. Qual seria a melhor alternativa?DG: Se a reforma tivesse a ver com ajuste fiscal, o governo tentaria aumentar as receitas da Seguridade Social. Ao invés disso, busca comprimir os gastos. O governo poderia, por exemplo, abrir mão das renúncias fiscais em favor de empresas que não dão nada em contrapartida ou cobrar a dívida dos sonegadores da Previdência.
"A União não cobra das empresas sonegadoras e ainda entrega a elas a possibilidade de pagarem menos tributos legalmente. Então, é próprio governo que provoca o déficit"
Ou seja, a União não cobra das empresas sonegadoras e ainda entrega a elas a possibilidade de pagarem menos tributos legalmente. Então, é próprio governo que provoca o déficit. Não é o aumento dos gastos. O governo sabe que tem superávit. Tanto tem que ele faz desonerações tributárias, se dá o luxo de não cobrar sonegadores.
CC: Então o déficit é uma falácia?
DG: Sim. Em primeiro lugar, porque o déficit foi provocado pelo pagamento de juros, o maior gasto do orçamento do governo. Enquanto o déficit anunciado da Previdência pelo governo é de 149,7 bilhões de reais, o governo entrega ao setor privado algo em torno de 501 bilhões ao ano, ou seja, 8% do PIB. A conta não fecha, principalmente, pelo gasto com a dívida pública.
O ajuste fiscal que pretende cortar os gastos da Previdência não vai resolver o problema das contas do governo porque, para isso, é preciso corrigir a política monetária. A verdadeira reforma teria que ser na política monetária e cambial do Brasil, porque é responsável pelo crescimento da dívida pública. A população precisa saber disso.
CC: A reforma tramita no Congresso. A senhora acredita que pode haver grandes mudanças na proposta inicial ou não haverá muito debate?DG: O Congresso é muito conservador e favorável à reforma da Previdência, mas ele também é sensível aos apelos da população. Acredito, também, que os parlamentares têm uma boa dose de desconhecimento das suas consequências, porque uma reforma como essa não é favorável ao crescimento econômico. Isso impacta muito a sociedade, inclusive os empresários, porque ela vai reduzir drasticamente o consumo das famílias e isso tem impacto no crescimento do PIB.
"O desemprego aumentou, o consumo das famílias caiu e a produção das empresas também. Então, não há porque ter essa expectativa de crescimento diante desse cenário"
Se os congressistas tiverem o devido esclarecimento das consequências dessa reforma, do quanto eles perderão de voto... Os idosos são eleitores, os trabalhadores também. Será que o Congresso vai querer se indispor com a grande massa de eleitores? Precisa ter uma conta muito bem feita sobre o benefício e o custo de ser favorável a uma reforma da Previdência.
CC: A análise do Tribunal de Contas da União sobre as contas apresentadas pelo governo poderá trazer resultados divergentes?DG: A sociedade espera do TCU clareza sobre isso, porque ele também é responsável por avaliar o quanto o governo desvia da Seguridade Social. Ele julga as contas do governo. Se o governo estiver praticando atos ilegais, tem de ser responsabilizado por isso dentro das leis. TCU tem que zelar pela verdade dos relatórios que são entregues pelo governo.
CC: Alguns economistas têm dito que economia brasileira já dá sinais de melhora. A senhora concorda com essa análise?DG: O cenário não é de crescimento. O PIB deve fechar negativo em 4%, essa é a expectativa. O desemprego aumentou, o consumo das famílias caiu e a produção das empresas também. Então, não há porque ter essa expectativa de crescimento diante desse cenário. O governo diz que essas reformas sinalizam para o investidor e o setor produtivo que a economia vai crescer, mas não adianta anunciar ilusões. Ficções não funcionam. Na prática, tem que de haver mercado para as empresas investirem.