sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

RACHA NO PMDB Os golpistas se desentendendo...

Racha no PMDB


A escolha Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça parece que não foi uma escolha da bancada como disse o próprio Serraglio à imprensa. O vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), anunciou nesta quinta-feira (23) seu rompimento pessoal com Michel Temer depois da escolha, pelo presidente, de Serraglio para substituir Alexandre de Moraes, nomeado ministro na vaga do Supremo Tribunal Federal (STF).

Deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) é vice-presidente da CâmaraDeputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) é vice-presidente da Câmara O cargo era cobiçado pela bancada do PMDB de Minas. “Estou rompendo com o governo e vou colocar toda a bancada de Minas para romper também”, declarou Ramalho. “Se Minas Gerais não tem ninguém capacitado para ser ministro, não devemos apoiar esse governo”, afirmou ainda.

Em entrevista ao G1, Serraglio teria dito que a bancada se “uniu” e entendeu que o seu nome atende a um perfil técnico e político para o Ministério da Justiça.

“Vou trabalhar no plenário contra o governo, para derrotar o governo em tudo. A vice-presidência da Câmara vai ser um ponto de apoio aos que não estão contentes”, continuou Ramalho, em entrevista ao Broadcast Político.

Segundo ele, “Minas não aceita mais ficar sem ministério”. Temer prova do seu próprio veneno, já que durante o governo da presidenta Dilma Rousseff ele, então vice-presidente, era o porta-voz das exigências de sua base peemedebista, chegando até a enviar uma carta à presidenta reclamando da falta de atenção de Dilma aos pedidos de sua legenda.


O PROBLEMA DA REPÚBLICA: COMO SOLTAR EDUARDO CUNHA

O problema da República:
como soltar Eduardo Cunha

Fernando Brito


A lógica da política já é complicada. A da política bandida, quase indecifrável. E quando o banditismo político infiltra-se em meio às togas, aí se passa a ter de raciocinar com o pressuposto do crime e da conspiração nas próprias instituições, já não apenas nos homens.

Há muita gente achando que a súbita sinceridade de José Yunes, dispondo-se a fazer o papel de velho “bobo”, é parte de uma estratégia que aceita degolar o entorno de Temer – Geddel já foi, Moreira Franco é um morto-vivo político (mesmo antes, prestava-se mais a negócios, para o que hoje está interditado)  e Eliseu Padilha agora só vai ficar a salvo enquanto permanecer no hospital.

O PSDB vai se assenhoreando do governo de fato e o PMDB vai sendo “escanteado”.

Mas há um problema na “transição tucana” do Governo Temer.

Está em Curitiba e chama-se Eduardo Cunha.

Como dito no post anterior, Cunha provou ter nas mangas todos os trunfos de intimidade com esquemas financeiros de Michel Temer e mostra a ponta das cartas  quase que como a gritar por ser libertado, com o ressentimento de um vitorioso no golpe que foi descartado logo ao início do pós-golpe.

Talvez os episódios de ontem – a confissão de Yunes e a nomeação de Osmar Serraglio, ex-homem de confiança de Cunha, para o Ministério da Justiça – sejam parte da solução do “problema”.

Solução que parece ter começado a evidenciar-se com a fala de Gilmar Mendes dizendo que o STF tem um encontro “com as alongadas prisões de Curitiba”.

A dificuldade é “combinar com os russos” da opinião pública.

Soltar Cunha será um escândalo que razão jurídica alguma conseguirá abafar, pois “venderam” ao país que prisão preventiva, dependendo de quem, pode ser eterna. De forma mais simples: que a prisão precisa mais de razões morais do que legais.

Soltar Cunha é também dizer adeus a uma estratégia que está, hoje, meio em banho-maria: a de prender Lula.

Depois de terem “perdido o timing“, como disse aquele delegado falastrão, para prendê-lo, o que vem se desenhando é acelerar os processos e levar o caso logo à condenação – ou alguém duvida que o veredito de Moro já está pronto, devidamente retocado com honras de estilo e falsa erudição, para ficar como documento histórico do “anjo vingador” e confirmar a sentença em 2ª instância, no Tribunal Regional Federal, onde “tá tudo dominado” e pronto a correr em altíssima velocidade.

Ainda assim. Complicado, porque a condenação em segunda instância, pelo novo e feroz entendimento do Supremo, leva à prisão do já então candidato Lula. Implicará numa cassação e na cassação do favorito na disputa eleitoral.

Estamos nos movendo no terreno pantanoso da traição, dos acordos secretos, da mancebia entre política e Justiça.

Tudo é imensamente imprevisível e, ao mesmo tempo, evidente.

Somos governados por uma associação de quadrilhas e falta pouco, muito pouco, para que a própria Justiça seja uma delas.


Salsa cubana


https://www.youtube.com/watch?v=RlrNPBfOowg

Florestan a inteligência militante

Florestan

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Haroldo Ceravolo Sereza

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A série Perfis, da Coleção Pauliceia, presta uma homenagem a um dos mais importantes intelectuais brasileiros: Florestan Fernandes, que talvez seja quem mais teve sua história pessoal entrelaçada ao desenvolvimento da reflexão crítica paulistana.
O jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, num estilo claro e fluente, percorre os principais pontos da vida intelectual e política de Florestan, da vida pessoal, da evolução da sua obra acadêmica e da militância do fundador da Escola Paulista de Sociologia.
Ao longo dessa trajetória, o autor trata das relações de Florestan com Oswald de Andrade, Roger Bastide, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Lula, o PT, de seu exílio no Canadá, e da amizade com Antonio Candido. Como não podia deixar de ser, tratando-se de Florestan Fernandes, o livro acaba sendo também um depoimento sobre a história da Universidade de São Paulo e do ambiente intelectual na cidade a partir da década de 1930.
Com imagens inéditas, narra a infância e a trajetória de Florestan – que, filho de mãe solteira e imigrante, viveu em cortiços e começou a trabalhar aos 6 anos – e como sua história se confunde com a história da USP. Fundada pela e para a elite paulista, a universidade acabou tendo seus aspectos mais originais e interessantes justamente nas fissuras desse plano, quando pessoas de origem social e visão de mundo muito distintas dos liberais conservadores paulistas que a criaram passaram a frequentá-la.
Ninguém personifica as qualidades, as possibilidades frustradas e as contradições desse projeto de universidade melhor que Florestan Fernandes: por sua disciplina e sua dedicação à construção das ciências sociais no Brasil, por seu crescente engajamento na vida pública e por sua luta contra a repressão ao pensamento crítico deflagrada pela burguesia conservadora, por meio dos militares, após o golpe de 1964. Essa perseguição culminou na sua aposentadoria compulsória da universidade, em 1968, com o AI-5.
Daí surge um Florestan ainda mais forte na atividade de intelectual público, pensador político, jornalista e editor. Ele acabaria se filiando ao PT, não sem antes dizer que não se curvaria ao “Deus operário” (referia-se a Lula) e apontar os riscos de o partido guinar para a socialdemocracia.
Um livro essencial para entender a trajetória de um intelectual que somou a dedicação e o rigor de uma importante obra acadêmica com as lutas políticas fundamentais do seu tempo.

Reflexões sobre ‘O País do Carnaval’, de Jorge Amado

Reflexões sobre ‘O País do Carnaval’, de Jorge Amado

Capas do livro "O País do Carnaval", de Jorge Amado
Capas do livro "O País do Carnaval", de Jorge Amado

Filosofia move a primeira obra do romancista, escrita quando ele tinha apenas 18 anos

Reflexões sobre ‘O País do Carnaval’
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
O próprio Jorge Amado costumava dizer que O País do Carnaval, seu primeiro romance, era um livro ruim. E, de fato, é praticamente impossível encontrar críticos ou leitores que coloquem a obra no alto de sua produção literária.
Textos analíticos publicados antes e após a sua morte confirmam a sensação de que o destino desse trabalho de estréia é, mesmo, se perder em meio ao que foi produzido posteriormente. Entre outros motivos, porque não está marcado pelos esquemas ideológicos presentes na maioria de seus romances dos anos 30 e 40, especialmente nos “romances proletários” Cacau (1933) e Suor (1934), posteriores ao início de sua militância comunista, que se dá em 1932, a partir do contato com a cearense Rachel de Queiroz.
Numa primeira leitura de O País do Carnaval, o romance parecia-me, de fato, fraco. O enredo é simples: narra a vida intelectual e sentimental de um grupo de jovens baianos que se reúne em torno de um velho cético, Pedro Ticiano, que costumava defender que “na Bahia, todo tolo se fazia poeta” e que “só os burros e cretinos conseguem a Felicidade”. A obra tem descrições de menos, diálogos incompletos, personagens que se perdem, discussões sobre o sentido da vida e a felicidade que não chegam a lugar nenhum.
Professora do curso de jornalismo da Universidade de São Paulo, Jeanne Marie Machado de Freitas chamou-me a atenção para a possível relação daquele enredo, que parecia ingênuo, com O Banquete, de Platão. Além disso, algo que não se deve considerar sempre que se lê um livro, mas que no caso era fundamental para compreendê-lo e, especialmente, para aceitar seus defeitos: o autor tinha só 18 anos.
Se Platão não é citado diretamente por Amado, a relação com a filosofia é evidente em O País do Carnaval. Pedro Ticiano afirma, por exemplo, que a insatisfação, a dúvida e o ceticismo devem ser a filosofia do homem de talento: “Sofismar sempre. Negar quando afirmarem, afirmar quando negarem.”
Nas conversas, aparecem Sócrates, Aristóteles, São Tomás, a religião, o tomismo etc. Cada um dos amigos da roda busca o seu caminho para a felicidade: o sexo, o casamento, o amor, o dinheiro, até o comunismo (José Lopes, um dos amigos, afirma, nas páginas finais do livro, que “a gente deve arranjar um princípio, um ideal, para iludir-se, pelo menos. Eu me iludo com esse negócio do comunismo. Por isso fujo de você.”).
Jorge Amado parece acreditar, então, que o caminho da dúvida, que impregna o romance, não conduz a nada, embora seja o único possível para os homens inteligentes. E personifica esse sentimento Paulo Rigger, um jovem que está chegando da França num navio que desembarca no Rio de Janeiro na véspera do carnaval.
A bordo, ele encanta-se por uma francesa, Julie, mas não chega a dormir com ela, por temer apaixonar-se. Em terra, ele a reencontra, e sonhará viver com a moça um amor tradicional, o que, evidentemente, não resiste ao primeiro funcionário de sua fazenda de cacau. Depois, sonhará com uma donzela, mas o projeto desmorona quando é informado de que a menina não é mais virgem.
Teria, assim, deixado escapar sua possibilidade de ser feliz?
Enquanto vai enfrentando esse mundo, Rigger também se frusta e reflete sobre o que é ser brasileiro. Em dado momento, afirma: “Só me senti brasileiro duas vezes. Uma no carnaval, quando sambei na rua. Outra, quando surrei Julie, depois que ela me traiu.” Não é exatamente “só”: o carnaval e o o acompanham como a polca persegue Pestana, o compositor do conto Um Homem Célebre, de Machado de Assis, que sonhava compor noturnos e sonatas como Chopin e Mozart.
Há defeitos e simplismos em O País do Carnaval, mas há, especialmente, reflexão. Se não é o melhor Jorge Amado, se lhe faltam carne e certezas, estão ali os ossos que formam o esqueleto de uma obra literária de porte: observação e reflexão. Nem sempre o autor está formado o suficiente para bem recheá-lo; nem sempre o leitor está maduro o suficiente para perceber sua presença.
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O texto acima foi originalmente publicado em 12 de agosto de 2001, no jornal O Estado de S. Paulo.

É melhor ser ateu que católico hipócrita, sugere papa


É melhor ser ateu que católico hipócrita, sugere papa


Em missa matinal no Vaticano, Francisco critica fiéis que levam vida dupla, sem seguir o que a Igreja prega; "muitos católicos são assim. Eles escandalizam", diz
O papa Francisco manifestou críticas a membros de sua própria Igreja nesta quinta-feira (23/02), sugerindo que é melhor ser ateu que um dos muitos católicos que ele disse levarem uma vida dupla e hipócrita.
"O escândalo é dizer uma coisa e fazer outra; é ter vida dupla. Vida dupla em tudo: sou muito católico, vou sempre à missa, pertenço a esta e àquela associação, mas minha vida não é cristã", criticou o pontífice. "Não pago o que é justo aos meus funcionários, exploro as pessoas, faço jogo sujo nos negócios. Muitos católicos são assim. Eles escandalizam."
O papa citou como exemplo um empresário católico de férias numa praia do Oriente Médio enquanto os trabalhadores de sua companhia, quase falida, ameaçavam fazer uma greve justa porque não recebiam os salários.
Agência Efe

Papa Francisco sugeriu nesta quinta que é melhor ser ateu que católico hipócrita

Estamos vivendo uma Terceira Guerra Mundial 'despedaçada', diz papa Francisco

Após massacre em Manaus, papa pede que prisões respeitem a dignidade dos presos e fomentem sua reintegração social

Venezuela: oposição rejeita proposta de mediadores para retomar diálogo com governo Maduro

 
"Quantas vezes ouvimos dizer: 'Ser católico como aquele, melhor ser ateu'. O escândalo é isso. Destrói. Joga você no chão", afirmou, apontando que isso acontece todos os dias. "Basta ver os telejornais e ler os jornais."
"A vida dupla provém do seguir as paixões do coração, os pecados mortais que são as feridas do pecado original [...] A todos nós, a cada um de nós, fará bem, hoje, pensar se há algo de vida dupla em nós", concluiu na missa matinal no Vaticano.
Desde que foi eleito papa em 2013, Francisco disse repetidamente a padres e fiéis católicos que pratiquem o que a religião prega. Em seus sermões, ele já condenou o abuso sexual de crianças por padres, disse que católicos na máfia excomungam a si mesmos e pediu aos cardinais da Igreja que não atuassem como "príncipes".
Menos de dois meses após assumir o papado, ele causou polêmica ao declarar que cristãos deveriam ver ateus como pessoas boas se eles fizerem o bem.
LPF/rtr/lusaui

24 de fevereiro: o dia em que a mulher brasileira conquistou o direito a voto


24 de fevereiro: o dia em que a mulher brasileira conquistou o direito a voto


Fruto de uma longa luta, iniciada antes mesmo da Proclamação da República, foi ainda aprovado parcialmente por permitir o voto somente às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às viúvas e solteiras que tivessem renda própria
O dia 24 de fevereiro foi um marco na história da mulher brasileira. No código eleitoral provisório (Decreto 21076), de 24 de fevereiro de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, o voto feminino no Brasil foi assegurado, após intensa campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto. As mulheres conquistavam, depois de muitos anos de reivindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo. Fruto de uma longa luta, iniciada antes mesmo da Proclamação da República, foi ainda aprovado parcialmente por permitir somente às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às viúvas e solteiras que tivessem renda própria, o exercício de um direito básico para o pleno exercício da cidadania. Em 1934, as restrições ao voto feminino foram eliminadas do Código Eleitoral, embora a obrigatoriedade do voto fosse um dever masculino. Em 1946, a obrigatoriedade do voto foi estendida às mulheres.
A primeira mulher a ter o direito de votar no Brasil foi Celina Guimarães Viana. E isso bem antes do Código Eleitoral de 1932. Aos 29 anos, Celina pediu em um cartório da cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, para ingressar na lista dos eleitores daquela cidade. Junto com outras seguidoras, Celina votou nas eleições de 5 de abril de 1928. Formada pela Escola Normal de Natal, Celina aproveitou a Lei n◦ 660, de outubro de 1927, que estabelecida as regras para o eleitorado solicitar seu alistamento e participação. Em todo o país, o estado potiguar foi o primeiro a regulamentar seu sistema eleitoral, acrescentando um artigo que definia o sufrágio sem ‘distinção de sexo’. O caso ficou famoso mundialmente, mas a Comissão de Poderes do Senado não aceitou o voto. No entanto, a iniciativa da professora marcou a inserção da mulher na política eleitoral. 
Reprodução

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Carlota Pereira de Queirós, primeira deputada federal brasileira (Foto: Reprodução)
Carlota Pereira de Queirós, primeira deputada federal brasileira (Foto: Reprodução)
Cinco anos antes de aprovado o Código Eleitoral Brasileiro, que estendia às mulheres o direito ao voto, no sertão do Rio Grande do Norte, já ocorrera a eleição de uma prefeita. A fazendeira Alzira Soriano de Souza, em 1928, se elegeu na pequena cidade de Lajes, cidade pioneira no direito ao voto feminino.
Mas ela não exerceu o mandato, pois a Comissão de Poderes do Senado impediu que Alzira tomasse posse e anulou os votos de todas as mulheres da cidade, porque a participação de mulheres na eleição fora autorizada excepcionalmente graças a uma intervenção do candidato a presidente da província, Juvenal Lamartine. 
Nas eleições de 1933, a médica, escritora e pedagoga Carlota Pereira de Queirós foi eleita, tornando-se a primeira mulher deputada federal brasileira. Ela participou dos trabalhos na Assembleia Nacional Constituinte, entre 1934 e 1935. Médica formada pela Universidade de São Paulo em 1926, com a tese ‘Estudos sobre o Câncer’ a Doutora Carlota organizou um grupo de 700 mulheres e junto com a Cruz Vermelha deu assistência a centenas de feridos que chegavam das frentes de batalha.
Em 1950, fundou a Academia Brasileira de Mulheres Médicas.



(*) Publicado orginalmente no Jornal GGN

"Pacote” suspeito tira braço direito de Temer do governo. Perguntas de Eduardo Cunha começam a ser respondidas. Matheus Pichonelli24 de fevereiro de 2017

“O sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?”
A pergunta foi levantada, no fim do ano passado, pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba por tentar obstruir a Lava Jato. Era endereçada, entre outros questionamentos, a Michel Temer, arrolado como testemunha de defesa do ex-presidente da Câmara, mas barrada pelo juiz Sergio Moro. O magistrado viu em parte das questões uma tentativa de constranger o presidente.
Yunes, advogado, é amigo de Temer e trabalhou como assessor especial do governo até meados do ano passado, quando o ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo Franco disse em delação premiada que ele recebeu dinheiro vivo em seu escritório em São Paulo. Pouco depois, Yunes deixou o cargo para poder se defender.
A história voltou ao noticiário nesta semana após o advogado comparecer espontaneamente à Procuradoria-Geral da República para esclarecer o assunto. Yunes, na tentativa de se salvar, entregou outro braço-direito de Temer, num sinal de rompimento que pode ser interessante acompanhar pelos próximos capítulos.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o advogado disse ter sido usado como “mula” e jamais soube da origem ou do destino do recurso para campanhas. Garante ter atendido apenas um pedido do ministro Eliseu Padilha (foto), chefe da Casa Civil, para receber um “pacote”, de conteúdo desconhecido, em seu escritório, mas foi surpreendido quando apareceu no local o doleiro Lúcio Funaro, suspeito de ser o operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha em esquemas de corrupção.
Preso na Papuda, o doleiro é apontado como o elo de três investigações da PF, a Sépsis, Greenfield e Cui Bono?. Dele se espera detalhes sobre desvios e lavagem de dinheiro em grandes empresas suspeitas, por exemplo, de receber aportes da Caixa Econômica Federal e outras entidades públicas comandadas pelo grupo em troca de propina.
Resultado: no dia da denúncia, Padilha pediu licença do governo para tratar da saúde (na semana, a saúde também foi o motivo alegado pelo tucano José Serra, também citado na Lava Jato, para deixar o Planalto). 
Da lista de questões enviadas por Cunha de sua cela em direção ao Planalto, o que mais chama a atenção é que tanto o remetente quanto o destinatário sabem a resposta.
Quem não sabe somos nós, mas podemos captar alguns sinais.
Em sua delação, o citado ex-executivo da Odebrecht descreve uma reunião, ocorrida em 2014, em que o Temer pediu dinheiro para o PMDB a Marcelo Odebrecht, então presidente do grupo, e também preso nas investigações. Conseguiu R$ 10 milhões, dos quais R$ 6 milhões foram para a campanha do peemedebista Paulo Skaf ao governo de São Paulo e R$ 4 milhões para Padilha distribuir.
A conta do pato, quem diria, estava paga.
Yunes foi o receptor de R$ 1 milhão a pedido de Padilha, via Funaro. O valor coincide com o que o delator da Odebrecht disse ter sido destinado a Eduardo Cunha, o autor das perguntas.
Para não perder o fio: Skaf é o presidente da federação das indústrias que serviu de QG, com patos espalhados pelo Brasil inteiro, do impeachment. Cunha foi quem levou ao Congresso o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff em razão das chamadas pedaladas fiscais.
Na ocasião, um deputado do PMDB defendeu a anistia, pelos bons serviços prestados à nação, a Eduardo Cunha, que da cadeia tenta intimidar o agora presidente – palavras de Sergio Moro – e mostrar que são mais próximos do que Temer gostaria de dizer em público, apesar dos inúmeros encontros secretos entre eles antes da prisão.
O deputado era Osmar Serraglio (PMDB-PR), que acaba de ser indicado ao Ministério da Justiça, ao qual a Polícia Federal é subordinada. Serraglio ganhou o posto após uma série de medidas protelatórias na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para atrasar a cassação de Cunha, seu aliado.
No PMDB, o cobertor de uns é o rompimento com outros. Não se sabe o que Cunha achou da nomeação de um ex-aliado ao posto, mas a escolha parece ter magoado uma ala do PMDB de Minas, que se sentiu destratada e agora promete complicar a vida de Temer na votação de temas como a reforma da Previdência – em que pese a disposição do presidente de recriar um ministério para abrigar a ala insatisfeita.
Menos de um ano após o impeachment, o critério para distribuição de cargos, explicitada em palestra de Padilha para empresários, segue o jogo do toma-lá-dá-cá, com a proposta de criação de postos para atender tanto apetite, o que até ontem levava uma multidão às ruas sobre o lombo dos patos infláveis. As respostas sobre distribuição de recursos, porém, seguem abertas, embora as pistas para bons entendedores tenham sido desenhadas por bons achacadores – Cunha é um.
Em tempo: na mesma semana em que ao menos uma pergunta do ex-deputado parece ter sido respondida e um antigo aliado foi promovido a ministro da Justiça, a PF deu início a uma nova fase da Lava Jato. O alvo é o engenheiro e lobista (não sei se nessa ordem) Jorge Luz, apontado como um dos principais operadores de propina do PMDB. Ele é suspeito de movimentar US$ 40 milhões em propina a políticos e funcionários da Petrobras em dez anos, a maioria direcionada a senadores peemedebistas.
Direto de um mundo paralelo, há quem garanta que o presidente está convicto da elevação de sua popularidade com base nos números da economia.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil 

Sellia: a cidade italiana de 500 habitantes e 8 museus

Cristina Cabrejas.
Roma, 24 fev (EFE).- O prefeito de Sellia, um pequeno município na Calábria, no sul da Itália, acredita que sua cidade é a que mais possui espaços culturais em toda a Europa.
"Temos praticamente um museu para cada 60 habitantes", diz ele.
Por trás destes oito museus e da abertura de um eco parque previsto para o meio do ano está o seu governante, Davide Zicchinella, que luta de para que a cidade de 504 moradores não desapareça.
Pediatra de profissão, ele lança mão de termos médicos para explicar à Agência Efe que teve que usar "um tratamento de choque" porque o "tumor do despovoamento" estava muito avançado e nos últimos anos a população tinha passado do milhar a metade, e com apenas 18 crianças. O remédio do prefeito para evitar que o lugarejo morresse foi a combinação "cultura e esporte" e durante seus dois mandatos investiu as verbas da região e da União Europeia (UE) disponíveis para abrir oito museus.
Com 1 milhão de euros (mais de R$ 3 milhões) da UE destinados a incentivar o turismo e evitar o despovoamento, Sellia terá em junho um pequeno parque de aventuras com tirolesa, ecopontes e uma torre para bungee jumping.
"De uma cidade de velhos, passaremos a ser a cidade com mais adrenalina da região", diz o prefeito, que há dois anos foi criou o inusitado estatuto: "Proibido morrer", uma provocação para que os moradores de Sellia adquirissem o hábito de ir ao médico.
Zicchinella afirma que a criação das atividades culturais tem como objetivo fomentar a geração de empregos, para que os moradores não abandonem a cidade, atrair visitantes e estimular a economia. A abertura do novo parque, por exemplo, dará trabalho a dez dos 30 desempregados que tem na cidade e os resultados desses investimentos já começam a ser vistos. No ano passado, Sellia recebeu 2 mil visitantes.
"Isso é um recorde, se levarmos em conta que somos 500", afirma o prefeito.
A oferta turística também fez com que a cidade ganhasse um restaurante, dois bares e um centro hípico. Além disso, empresários do norte da Itália compraram várias casas abandonadas pelo despovoamento para transformar os imóveis em hotel.
Sellia é uma vila medieval com uma rica história, mas não tem os atrativos de outros lugares para ser convidativa ao turista, reconhece Zicchinela.
"Por isso era necessário criar atrações para que nos visitassem", argumenta.
Em Sellia fica, por exemplo, o único "Museu de História em Quadrinhos" da Calábria, com mais de 10 mil volumes italianos e internacionais. A cidade também abriga um Ecomuseu, considerado patrimônio agrícola e do meio ambiente da região, e o "Museu de Ciência Terrestre e Extraterrestre", que expõe fósseis de dinossauros, rochas de várias partes do mundo e fragmentos de meteoritos.
Outra raridade é o "Museba", o único museu dedicado às crianças em toda a Calábria e onde os pequenos podem observar e aprender se divertindo como nasce o produto mais importante desta região da Itália, o azeite.
Também se transformaram em museu dois fornos e dois moinhos de 1.800, que foram conservados intactos e onde o turista pode descobrir como era feito o pão há 200 anos e são realizadas pequenas exposições e degustações.
Mesmo com todo esse incentivo à vida cultural, Sellia não tem escolas. Elas fecharam por conta da diminuição da população. Os pequenos que circulam diariamente pelas ruas da cidade são estudantes dos colégios calabreses que vêm visitar os famosos museus.
Zicchinela conta que alguns habitantes fizeram críticas por ele investir nestas atividades culturais e não no "embelezamento da cidade ou na construção de uma praça bonita".
"Mas o que fazemos com uma praça de 3 mil euros (quase R$ 10 mil) se depois ela só será usado por dez pessoas?", questiona.
O prefeito revela que foram os idosos os que mais apoiaram os seus projetos, "porque são os que mais amam a cidade e não querem ver o seu fim" e adianta que o próximo projeto, já aprovado, é o de um museu dedicado à moda, uma nova atração que já faz Sellia ser chamada na Itália de a "cidade-museu". EFE