segunda-feira, 13 de maio de 2019

Acervo de Celso Furtado na USP guardará história recente do país Por que não a UFPB?

PENSANDO O BRASIL

Acervo de Celso Furtado na USP guardará história recente do país

Trinta mil itens do economista, entre cartas e documentos, foram doados ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP
por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 11/05/2019 19h23, última modificação 12/05/2019 16h06
REPRODUÇÃO
celso furtado
O economista com Kennedy, exemplar em chinês e parte dos arquivos no Rio: história brasileira
São Paulo – O Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) é conhecido por abrigar acervos de alguns dos principais criadores do país, como Anita Malfatti, Guimarães Rosa, Mário de Andrade e Milton Santos, entre outros. E se prepara para receber os arquivos de um dos principais intelectuais brasileiros, o economista Celso Furtado, que morreu há 15 anos e cujo centenário de nascimento se celebrará em 2020. São aproximadamente 30 mil itens, sendo 10 mil cartas, que ajudam a contar boa parte da história recente do país, ainda mais em tempos obtusos.
O acervo foi doado pela jornalista e tradutora Rosa Freire d´Aguiar, viúva de Celso Furtado, que guarda o material em seu apartamento no Rio de Janeiro. Ainda não há data para transferência dos documentos. Ali estão muitos textos referentes à Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e ao Ministério do Planejamento, que o economista comandou. Lembranças da 2ª Guerra Mundial – ele foi convocado para servir na Força Expedicionária Brasileira (FEB) –, cadernos de estudos durante o período da França, anotações, diários, ensaios, textos inéditos.
Para Rosa Freire, as cartas e os documentos ajudam a traçar um "percurso da segunda metade do século 20, um pequeno panorama da história do Brasil". A maioria das cartas era de teor administrativo, mas havia o que ela chama de "cartas intelectuais": entre os interlocutores, gente como Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes e Antonio Cândido, e mesmo economistas de linhas notadamente diferentes das defendidas por Furtado, como os liberais Eugenio Gudin e Roberto Campos.
Durante o longo período em que morou no exterior, o economista recebia de 450 a 500 cartas por mês. A jornalista tem cópias de 70 a 80 das que ele respondia nesse mesmo intervalo. "Celso era excelente datilógrafo", conta Rosa, que leu uma a uma. Ela prepara um livro sobre as cartas da época do exílio, que deve sair em 2020.

Da Cepal à Sudene

Paraibano de Pombal, no sertão, Celso Furtado foi ainda jovem para o Rio de Janeiro, sozinho, estudar Direito. Tornou-se soldado e depois rumou para a França, para seu doutorado em Economia. Durante 10 anos, integrou a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU) sediado em Santiago, no Chile. Foi ainda diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, ainda sem o S de "Social") e na sequência tornou-se o primeiro responsável pela Sudene.
Ele também foi o primeiro titular do Ministério do Planejamento, até ser cassado dias depois do golpe de 1964, partindo para a vida acadêmica na França. Toda a elaboração da pasta, ainda de caráter extraordinário, foi feita pelo próprio Celso Furtado, "com todo o know-how que vinha da Cepal". Em outras circunstâncias, esse desafio se repetiu já no período da redemocratização, quando ele assumiu o Ministério da Cultura no governo Sarney – foi o terceiro em curto intervalo de tempo. "Não tinha nem organograma", recorda Rosa, acrescentando que ele preparou a primeira legislação de incentivo fiscal.
Ela observa que, mesmo tendo propostas para trabalhar na iniciativa privada, Furtado sempre permaneceu no setor público. "Celso soube trabalhar no Estado, só para o Estado. Ele tinha um orgulho fora de série de ser servidor público. Teve oferta de bancos, não quis. Ele tinha aquela coisa de servir à coisa pública, a res publica, no melhor sentido da palavra."
Em entrevista recente para o Jornal da USP, ela conta que Celso Furtado nunca imaginou que seria cassado. "Foi uma coisa que calou muito fundo nele a vida inteira. Em condições normais, ele não costumava falar sobre isso, mas em momentos delicados, por exemplo, como depois de uma cirurgia, ainda um tanto abalado por uma anestesia, algumas vezes ele se referia à cassação de direitos."
Segundo a jornalista e tradutora, os arquivos estão bem conservados. Em parte, graças aos cuidados dos pais do economista. "De cada lugar onde morava, ele trazia alguma coisa e deixava na casa dos pais. De certa forma, ele teve sorte de os pais terem guardado coisas desde os anos 40." Era um material reunido em um lugar familiarmente conhecido como "caixa do Celso".
Este é um período de "baixa", acredita Rosa, destacando a visão "ampla e interdisciplinar" de Celso Furtado. "Ele tinha uma cultura humanística muito grande, um sentido crítico também. Ele tem uma força explicativa, capacidade de análise, isso transcende o economista. É uma cabeça de filósofo. Hoje em dia você tem medo de falar a palavra filosofia."
A economia era um dos "saberes", mas o pensamento de Furtado abrangia vários ramos do conhecimento. "Ele sabia juntar tudo, mas com foco muito grande, que era pensar o país. A ideia dele era melhorar, mudar este país", recorda Rosa. "Quando nos conhecemos, eu brincava e dizia que se eu tivesse de ter ciúme de alguém, seria do Brasil."
  
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Bolsonaro cancela segundo evento da ONU sobre mudanças climáticas no Brasil

13 DE MAIO DE 2019, 21H25

Bolsonaro cancela segundo evento da ONU sobre mudanças climáticas no Brasil

“Climate Week” (Semana do Clima), que ocorreria entre os dias 19 e 23 de agosto, em Salvador, Bahia, não será mais realizada no Brasil
Jair Bolsonaro (Arquivo/Agência Brasil)
Jair Bolsonaro cancelou a realização do encontro regional da Organização das Nações Unidas (ONU) “Climate Week” (Semana do Clima), que ocorreria entre os dias 19 e 23 de agosto, em Salvador, Bahia.
É a segunda vez em menos de seis meses que o governo brasileiro se nega a sediar um evento oficial da ONU para discutir mudanças climáticas
A Semana do Clima compõe uma série de eventos que estimulam a implementação do Acordo de Paris, para que os governos sejam mais atuantes contra os efeitos das mudanças climáticas.
Em dezembro de 2018, logo depois das eleições, Bolsonaro havia desistido de sediar a 25ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-25) em 2019, como estava previsto. Ele disse, ainda, que o Brasil estaria fora da COP-25. No entanto, após repercussão negativa, voltou atrás e confirmou a presença do país no evento.

O que a “balbúrdia” tem a ver com a militarização

O que a “balbúrdia” tem a ver com a militarização

O princípio pedagógico dessas escolas, definido como “hierarquia e disciplina”, serve bem ao propósito de Bolsonaro, Weintraub e cia: anulação do pensamento crítico
 
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Por José de Ribamar Virgolino Barroso

Que relação existe entre o corte de verbas das universidades e institutos federais e uma ideia que tem sido defendida pelo atual governo federal desde que assumiu: a da militarização do ensino?
É possível traçar um paralelo ideológico entre as duas questões?
É claro que, por trás do bloqueio de verbas, há toda uma tentativa de destruição da universidade pública e isso está diretamente relacionado ao viés privatista assumido pelo Ministério na Educação.
Não por acaso houve uma aceleração no credenciamento de novas universidades privadas em 70% nos primeiros meses deste ano. Tampouco é uma coincidência sem consequências o parentesco de Elizabeth Guedes, vice-presidente da Associação Nacional de Universidades Privadas (Anup), com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Os dois temas, aliás, já foram tratados aqui antes por outros diretores da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino — Contee.
Para além da extrema gravidade de tudo o que envolve os processos de mercantilização e financeirização do ensino e privatização da educação pública e gratuita, porém, há um detalhe ao qual um professor de língua portuguesa e literatura não poderia deixar de se atentar: a escolha nada fortuita do substantivo “balbúrdia” como justificativa para o ataque às instituições federais.
Segundo o dicionário Houaiss, o termo balbúrdia significa “desordem barulhenta; vozeria, algazarra, tumulto”, podendo ser também “situação confusa; trapalhada, complicação”. E é nesse conteúdo semântico que se pode encontrar uma possível relação entre o que o ministro Abraham Weintraub parece achar que acontece dentro de uma universidade pública e a defesa de uma suposta “ordem” presente na concepção dos que defendem a militarização do ensino.
Nesta semana, um dos temas em debate na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados é justamente a “Militarização de escolas e os desafios da gestão democrática e da educação de qualidade para todos”. Na justificativa, as deputadas Rosa Neide (PT-MG) e Paula Belmonte (PPS-DF), autoras do requerimento da audiência pública, destacaram a criação, pelo MEC, de uma Subsecretaria de Fomento para tratar da transformação de escolas em colégios cívico-militares.
E isso apesar de o país dispor de “importantes referências de qualidade, como colégios de aplicação vinculados às universidades, institutos federais e incontáveis escolas públicas de referência, estaduais e municipais, para além das experiências militares”. Vale lembrar que os primeiros citados são precisamente os que estão sendo desmontados pelo governo.
Ainda no ano passado, aqui neste espaço, antes mesmo da eleição de Bolsonaro, apontei que, na perspectiva do direito à educação, a militarização viola o artigo 206 da Constituição da “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, do “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas” e da gestão democrática do ensino público.
O art. 15 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação regulamenta a prerrogativa de autonomia das escolas, progressivamente assegurada, em vertente oposta à intervenção de militares na gestão escolar. A questão é que o pretenso princípio pedagógico dessas escolas, definido como “hierarquia e disciplina”, serve bem ao propósito de Bolsonaro, Weintraub e cia. de anulação do pensamento crítico. Ensino, pesquisa e extensão de qualidade: é essa a “balbúrdia” que Weintraub não aceita.
José de Ribamar Virgolino Barroso é coordenador da Secretaria de Finanças da Contee

SOCIEDADE Militante e memória viva, Clara Charf recebe homenagem em São Paulo




Militante e memória viva, Clara Charf recebe homenagem em São Paulo


FOTO: REPRODUÇÃO/TV CULTURA


Comunista, feminista e viúva de Carlos Marighella receberá o título de Cidadã Paulistana pela Câmara Municipal de São Paulo

Por mais que o conservadorismo tente afogar a memória da história do Brasil em ondas de mentiras, testemunhas notórias resistem pela vida e pela voz. Clara Charf faz parte desse grupo. Militante contra a ditadura, ativista feminista e viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, ela será homenageada nesta segunda-feira 13 com o título de Cidadã Paulistana, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo.
Charf nasceu em Maceió em 1925, mas foi criada em Recife. Filha de judeus, ela trabalhou ao lado de militares americanos na base aérea da cidade durante a Segunda Guerra Mundial, e trilhou seu caminho pela luta política – o que faria dela um futuro alvo de perseguições sistemáticas do regime militar.
A história ao lado de Carlos Marighella, interrompida pelo assassinato do líder em novembro de 1969 no Dops de São Paulo, tornou a vida de luta e constantes fugas, já conhecida por Clara, inviável no Brasil.

Em entrevista ao programa “Provocações”, comandado por Antônio Abujamra, Charf se emociona ao falar da vida na ditadura. Sobre o parceiro, ela concorda com a descrição concedida por Jorge Amado: ‘a ternura e a ira’. O exílio que viria depois fez com que ela morasse por 10 anos em Cuba, até que a Lei da Anistia fosse declarada, em 1979. Ao voltar para casa, não havia tempo a perder.

“Minha família é marcada. Nossa vida foi, de uma maneira ou outra, participar da vida política com ela antes, durante e depois de Marighella” diz Sara Gristum, irmã mais nova de Charf, que a acompanhou pela redemocratização e, principalmente, na luta pelos direitos das mulheres, pela qual Clara fundou e preside até hoje a Associação Mulheres pela Paz. 
Para a vereadora Juliana Cardoso (PT-SP), que tomou a iniciativa da homenagem, entregar o título de cidadã paulistana para Clara Charf ainda é pouco. “Clara é cidadã do mundo. Se eu pudesse mais, faria, porque tenho orgulho dessa mulher e muito respeito pela sua história.”
A cerimônia acontece a partir das 19h, no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo, localizada no Viaduto Jacareí, nº 100, Bela Vista, São Paulo.