terça-feira, 4 de outubro de 2016

A vitória do banditismo

03/10/2016 17:57 - Copyleft

A vitória do banditismo

Nas semanas que antecederam a eleição deste domingo, foi processado o mais impressionante bombardeio já sofrido por um partido político na história do país


Jeferson Miola
Vermelho.org
O resultado eleitoral representa o êxito praticamente absoluto da estratégia golpista. É sinal inequívoco da vitória do banditismo sobre a democracia. Mais que uma derrota do PT, foi uma vitória do banditismo político, jurídico e midiático.

Nas semanas que antecederam a eleição deste domingo, foi processado o mais impressionante bombardeio já sofrido por um partido político na história do Brasil.

O ataque aterrador de juízes [inclusive do STF], procuradores do MP e delegados da PF para alvejar lideranças e candidaturas do PT não encontra precedente histórico.

Numa campanha eleitoral breve, com duração de 45 dias, durante 30 dias [75% deste tempo!] inundaram a eleição com assuntos policiais, incriminando o ex-presidente Lula e ministros dos governos do PT.






A Globo fez propaganda caluniosa no Jornal Nacional de sábado, a menos de 12 horas do início da votação: noticiou falsamente que a Presidente Dilma foi privilegiada com a obtenção de aposentadoria em 24 horas, enquanto a população tem de aguardar 74 dias para a concessão deste direito!

A violação da soberania popular é indiscutível. A interferência no resultado eleitoral é evidente. A operaçãoboca-de-urna da Lava Jato interferiu na capacidade de escolha independente das pessoas, deturpando o exercício pleno da vontade popular.

O condomínio golpista foi bem sucedido eleitoralmente. A única capital conquistada pelo PT foi Rio Branco/Acre. As cidades do Rio, com Marcelo Freixo [PSOL]; do Recife, com Joao Paulo [PT] e do Belém, com Edmilson [PSOL], restaram como as principais apostas das forças progressistas no segundo turno.

O padrão da luta política deverá se alterar substancialmente depois deste crime eleitoral. A oligarquia golpista se julgará autorizada a acelerar e radicalizar os retrocessos sociais, trabalhistas e previdenciários; a entrega da indústria e da riqueza nacional e o comprometimento da soberania do país.

Os deputados e senadores do bloco golpista iniciarão, nos próximos dias, a votação acelerada das pautas anti-civilizatórias, como a PEC 241, que diminui e congela por 20 anos os investimentos no SUS, na educação e nas áreas sociais.

Com a vitória acachapante, os fascistas gozarão de um poder ainda mais temerário. Eles não abdicarão da repressão policial e da violência política e institucional para esmagar a resistência democrática e a oposição ao regime de exceção.

A escalada autoritária terá como contrapartida muita resistência, luta e desobediência civil. O clima político se encaminha para o confronto e a radicalização.

Enganam-se os comentaristas da imprensa servil ao regime de exceção e seu governo golpista: o banditismo não exterminou Lula e o PT, apenas obteve uma vitória eleitoral num processo manchado pela manipulação e pela vilania.


Créditos da foto: Vermelho.org

Michel Temer não é confiável para 68% dos brasileiros, aponta Ibope

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POLÍTICA
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Índice de aprovação do governo é de apenas 14%, mais da metade dos entrevistados (55%) desaprovam a "maneira de governar" do presidente em exercício
Da Rede Brasil Atual
A popularidade do presidente Michel Temer continua abaixo da crítica. Segundo pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada pelo Ibope nesta quarta-feira (4), o índice de aprovação de seu governo (ótimo/bom) é de apenas 14%, contra 39% de ruim/péssimo, enquanto 34% o consideram regular. Os números são praticamente os mesmos dos apurados em 1º de julho, quando ele era aprovado por 13% dos entrevistados, 39% desaprovavam e 36% consideravam a gestão regular.
Mais de dois terços das pessoas entrevistadas (68%) disseram não confiar em Temer. Cerca de um quarto, ou 26%, confiam, e 6% não souberam ou não quiseram responder.
O estudo divulgado hoje é o primeiro desde Temer ter assumido a presidência definitivamente, com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), aprovado no Senado em 31 de agosto.
Leia mais:
De acordo com a pesquisa, mais da metade dos entrevistados (55%) desaprovam a "maneira de governar" de Temer. Os que aprovam são 28% e não souberam ou não responderam, 17%. Em 1º de julho, 31% aprovavam, 53% desaprovavam e 16% não responderam.
O levantamento quis saber como os cidadãos avaliam o noticiário sobre as ações do governo Temer. De acordo com as respostas, 43% consideram as notícias dos últimos meses "mais desfavoráveis", enquanto para 18% elas são "mais favoráveis" e, na opinião de 26%, "nem favoráveis, nem desfavoráveis".
Na comparação entre os governos Dilma e Temer, a vantagem fica com a ex-presidenta: 31% responderam que o governo Temer é pior, contra 24% que o avaliam como melhor e 38% disseram que ambos são iguais.
Para 24%, o resto do governo Temer será "ótimo/bom", e 38% acreditam que será "ruim/péssimo", enquanto 30% responderam "regular"

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POLÍTICA
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PF diz já ter material suficiente para dispensar delatores, mas pessoas ligadas à Odebrecht afirmam que objetivo pode ser evitar mais danos ao PMDB
Do Jornal GGN
Membros da Polícia Federal que atuam na Lava Jato em Curitiba disseram à reportagem da Folha de S. Paulo, segundo publicação desta terça (4), que não querem que a operação celebre novos acordos de delação premiada.
A justificativa da corporação é que já foram firmados muitos contratos de cooperação - 66 desde o início da investigação - e que se esse número crescer com as mais 50 delações da Odebrecht em negociação, a sociedade sentirá o peso da impunidade pairando no ar.
Contudo, em caráter sigiloso, pessoas ligadas a Odebrecht afirmaram ao jornal que a essa nova postura da PF pode estar ligada a uma operação nos bastidores, patrocinada pelo atual governo, para evitar mais danos à cúpula do PMDB, partido do presidente Michel Temer.
Leia mais:
"(...) A posição da PF contra delação premiada teria relação com algum movimento do governo de Michel Temer, já que integrantes da cúpula do PMDB, incluindo o presidente, são mencionados no acordo com a empreiteira. A PF, porém, nega qualquer diálogo ou influência do governo", publicou a Folha.
No final de setembro, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes se envolveu em uma polêmica ao antecipar, durante um evento político de seu partido, o PSDB, que a Polícia Federal prenderia o ex-ministro Antonio Palocci.
O vazamento de informação sigilosa para agradar aliados políticos abriu nova crise entre Moraes e Temer, que o chamou para prestar esclarecimentos. Patrocinado por Geraldo Alckmin (PSDB), Moraes resiste no cargo que assumiu em maio, quando Dilma Rousseff foi afastada da presidência em função do impeachment. Uma das primeiras ações de Moraes, à época, foi visitar a Lava Jato em Curitiba.
Segundo a Folha, a PF sustenta que a Lava Jato pode caminhar para o seu fim concluindo as investigações com as informações que já foram levantadas até agora.
Ainda de acordo com o jornal, o juiz federal Sergio Moro também concorda que novas delações são desnecessárias. "Segundo a Folha apurou, ele vem sinalizando a investigadores da Lava Jato que nenhum preso será liberado automaticamente se sua delação for homologada."
Na semana passada, o GGN mostrou que a partir da famosa planilha da Odebrecht, que vazou na imprensa em maio e foi colocada imediatamente sob siligo por Moro, a Lava Jato já poderia ter avançado sobre corrupção em contratos de obras exetucadas nos governos do PSDB de São Paulo.

Eleições 2016: um desastre e seus significados

Análise

Eleições 2016: um desastre e seus significados

Seduzida pelo poder, a esquerda afastou-se de seu eleitorado e entregou aos conservadores o voto anti-establishment. Será hora de reinventá-la?
por Antonio Martins — publicado 04/10/2016 15h51
Tânia Rêgo / Agência Brasil
Eleições 2016
Eleitor caminha pelo Rio de Janeiro no domingo 2: que lições saem das urnas?
[Quarta parte da série O Brasil sob o Golpe: seis hipóteses polêmicas. Leia também as hipóteses 12 e 3]
As forças políticas que deram um golpe de Estado e empossaram um governo ilegítimo, há poucos meses, tiveram no domingo uma vitória eleitoral expressiva, em todo o País. Ela pode ser vista por diversos ângulos.
No conjunto dos municípios, PMDB (1028) e PSDB (793) – os dois partidos essenciais para o golpe – elegeram o maior número de prefeitos. Embora já fosse assim em 2012, a novidade mais expressiva é o encolhimento das prefeituras petistas: são agora apenas 256, menos da metade de há quatro anos.
Já nas capitais e municípios com mais de 200 mil eleitores – um universo de 93 cidades, onde concentram-se 40% dos eleitores – sobressai algo ainda mais grave: o predomínio do PSDB; além, novamente, do declínio do PT. Os tucanos, que tinham 18 prefeituras há quatro anos, elegeram 14 candidatos no primeiro turno e levaram 19 postulantes ao segundo. Os petistas, que tinham 14 em 2012 (e chegaram a eleger 25, em 2008), ficarão entre um (eleito no primeiro turno) e oito.
O PT foi derrotado em redutos onde se concentraram, por décadas, suas bases sociais. Nos 39 municípios do ABC Paulista e Grande São Paulo, o partido só irá ao segundo turno em Santo André e Mauá. Em São Paulo, registrou seu pior resultado em vinte anos.
Nas capitais do Nordeste, para onde migrou seu eleitorado a partir da chegada de Lula ao governo, participará de uma única disputa definitiva: em Recife. Enquanto isso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conservador notório, despontava como um dos grandes vencedores do pleito. Alcançou o feito, contraditoriamente, ao eleger para a capital, já no primeiro turno, um suposto outsider: João Doria, milionário quase desconhecido, que surfou incólume na onda da rejeição à “velha política”.
Ao contrário do que algumas análises previam desde 2013, o espaço perdido pelo PT não foi ocupado por forças à esquerda. Nem os partidos estabelecidos (como o PSOL ou PCdoB) tiveram crescimento expressivo; nem surgiu, com relevância, alguma formação de novo tipo, um Podemos brasileiro.
Algumas vitórias alcançadas são notáveis: Marcelo Freixo e Edmilson Rodrigues (PSOL) irão ao segundo turno no Rio de Janeiro e Belém. O mesmo farão Edvaldo Nogueira e Carmin Moura (PCdoB), em Aracaju e Contagem. Mas nem em número de votos, nem em capacidade de expressar tendência nacional, estes resultados equiparam-se ao que significou o avanço da esquerda nas prefeituras entre 1990 e 2008.
* * *
Estes resultados devastadores atiçam certos analistas. Ainda ontem, o cientista político Gaudêncio Torquato, um dos assessores mais próximos de Michel Temer, decretava “a morte” do PT “radical”, “polarizador”, “de confronto”. Ele concede: a esquerda pode sobreviver – desde que se normalize; conforme-se às desigualdades e recalques da sociedade brasileira; perca dentes e unhas; e, em especial, aceite a agenda de retrocessos prevista para os próximos meses.
Segundo este raciocínio – que, nos próximos dias, será repetido à exaustão – as eleições municipais desmentem, para todos os efeitos, a ideia de que houve um golpe. A sociedade não elegeu os partidos acusados de golpistas? Aqueles que se sentiram golpeados e reivindicavam a democracia não foram agora punidos exemplarmente pelos eleitores?
Eleições 2016
Eleitores justificam voto em Brasília: índice de abstenção foi alto (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)
Os que assumiram o poder derrubando Dilma não conquistaram ontem legitimidade para as medidas “sensatas e indispensáveis”? Não é hora de aceitarmos o congelamento os investimentos públicos, o corte dos direitos previdenciários e a devastação a CLT?
Tal construção choca-se, porém, com outra realidade. Há anos, o Brasil é palco de uma sucessão de movimentos e deslocamentos sociais que expressa uma agenda oposta à que foi, supostamente, vitoriosa nas urnas. Isso inclui, entre inúmeros fenômenos, a emergência das Culturas da Periferia, a multiplicação dos Cursinhos Públicos, as Marchas da Maconha e das Vadias, as Jornadas de Junho de 2013, os rolezinhos que desafiaram a segregação dos shopping centers, a Primavera da Mulheres (e a aparição do Feminismo Negro), a reivindicação de uma nova escola pelos secundaristas.
A reinvenção e a criatividade parecem intermináveis. O sentido, porém, é nítido: mais direitos; menos controle da sociedade pela lógica do branco, macho e rico. Ou seja, as ruas estão em conflito com o que dizem as urnas, segundo os que pretendem interpretar o 2 de Outubro…
* * *
Como decifrar este descompasso? Em oposição às análises convencionais, este texto propõe cinco argumentos:
1) A esquerda clássica não sucumbiu por se opor à “sensatez” neoliberal, mas por deixar-se aprisionar numa cilada histórica. Suas conquistas mudaram a paisagem social do Brasil; mas sua estratégia foi marcada por dois limites, examinados num texto anterior: a recusa a lutar por reformas estruturais e o captura pelo Estado – ou seja, a desmobilização dos mecanismos de pressão social sobre as instituições;
2) A presença da esquerda no governo central foi toleradaenquanto capaz de acomodar tanto os ganho da oligarquia financeira e grandes empresas quanto grandes espaços de poder para os partidos tradicionais. Por volta da metade do primeiro governo Dilma, porém, este arranjo entrou em risco. A partir desse momento, as elites antes associadas ao governo exerceram resistência crescente e diversa: oposição à queda dos juros; “greve de investimentos”; rebelião da base de apoio ao Palácio do Planalto no Congresso; “pautas-bombas”.
E, crucial: logo ficou claro que o governo era presa fácil, que cedia a chantagens, que fazia concessões cada vez mais escancaradas, exatamente devido a suas duas vulnerabilidades. Ele havia deixado intactas as estruturas (o oligopólio da mídia, por exemplo) que o emparedavam; e já não dispunha, fora do Estado, de nenhum fator de contrapressão. Da percepção desta fraqueza ao golpe, foram poucos passos.
3) A esquerda institucional reuniu, em diversos períodos, enorme popularidade. Porém, por não ter criado estruturas de contrapoder, este apoio foi sempre frágil, inorgânico, sujeito às manipulações midiáticas. A perseguição seletiva contra o PT, durante toda a Lava Jato, jamais pôde ser eficazmente enfrentada.
E políticas muito relevantes, como as que colocaram pela primeira vez centenas de milhares de negros nas universidades, acabaram sendo individualizadas, vistas como resultado do mérito pessoal. Distanciado de sua base, sem impulso político para mobilizá-la, o PT acabou por perdê-la também eleitoralmente. É o que mostram os fracassos emblemáticos no ABC Paulista ou nas capitais do Nordeste.
4) Pior – e daqui a ideia de cilada histórica. Por estar até recentemente no poder; por acovardar-se diante das pressões e chantagens; por enxergar como única defesa um mergulho cada vez mais acrítico nas práticas políticas tradicionais, a esquerda tornou-se incapaz de disputar o movimento de protesto anti-establishment. Trata-se de um fenômeno pouco estudado, mas cada vez mais potente em toda parte. Está na origem de fenômenos opostos.
De um lado, os Indignados espanhóis e a formação do Podemos; Occupy Wall Street e a candidatura de Bernie SandersJeremy Corbyn, na Inglaterra. De outro, o Brexit, a ascensão de Marine Le Pen na França, o Brexit, a rejeição do acordo de paz entre o Estado colombiano e as Farc, ainda ontem, em plebiscito.
5) Nos velhos tempos, um PT rebelde orgulhava-se de ser “diferente de tudo o que taí”. Agora é visto, no mínimo, como parte da elite política; ou, frequentemente, como sua expressão maior..No domingo, o voto anti-establishment manifestou-se no Brasil com força inédita. Examiná-lo com rigor, tarefe indispensável, não cabe neste texto. Mas é possível adiantar algumas hipóteses. Ele assumiu a forma de um índice inédito de votos em “ninguém” (abstenções, brancos e nulos somados): eles suplantaram o primeiro colocado em dez capitais.
Mas este voto deslocou-se também para um tipo particular de candidato, do qual João Dória, o novo prefeito de São Paulo, é a principal expressão. Parece ter sido cuidadosamente construído. Nunca havia disputado um pleito. Iniciou a disputa como azarão, com 5% das intenções de voto – o que o livrou do fogo cruzado dos adversários.
Apresentou-se como “um gestor, não um político”. Difundiu a imagem de “homem bem sucedido”, “por seus próprios méritos”. É tão verdadeira como uma nota de três reais, mas impressionou o eleitorado, numa disputa rápida, morna e sem atrativos.
* * *
“Olhar nos olhos de nossa tragédia é meio caminho andado para vencê-la”, escreveu o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho (Vianninha), pouco depois do golpe de 1964. A derrota de ontem, autêntico 7 x 1, não é a da resistência ao golpe, da oposição a sua agenda de horrores, da luta que permanecerá cada vez mais atual para vencer as relações de Casa Grande-Senzala. Mas é, de fato, a derrota de um projeto ao qual, de um modo ou de outro, todos estivemos ligados.
Vamos nos atrever a superá-lo? Por que parece tão difícil fazê-lo, no Brasil? Este é o assunto do próximo texto desta série.