terça-feira, 20 de dezembro de 2016

NOVAS REGRAS DO JOGO

NOVAS REGRAS DO JOGO

No mesmo dia em que veio à tona delação da Odebrecht afirmando doação de R$ 30 milhões via caixa dois para chapa que elegeu Michel Temer em 2014, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Gilmar Mendes, relativizou a prática. Para Gilmar, que vai julgar ação no TSE que pode cassar Temer, o caixa dois não significa necessariamente propina ou corrupção. Para o ministro, é preciso saber a origem do dinheiro do caixa dois no âmbito do processo contra a chapa Dilma-Temer.

As informações são do Estado de S.Paulo.

“O caixa 2 não revela per se (em si mesmo) a corrupção, então temos de tomar todo esse cuidado. A simples doação por caixa dois não significa a priori propina ou corrupção, assim como a simples doação supostamente legal não significa algo regular”, disse Gilmar, ressaltando que a operação Lava Jato desvendou um esquema em que pagamento de propina era disfarçado como doação legal para campanhas de candidatos.

Segundo ele, a corte deverá apurar se as suspeitas de caixa 2 na chapa da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) e do presidente Michel Temer (PMDB) configuram abuso de poder econômico. Responsável por definir a pauta de cada sessão do TSE, o ministro levantou a possibilidade de o processo que pode levar à cassação da chapa ficar para depois do primeiro semestre do ano que vem.

“É um processo extremamente complexo que a toda hora muda de configuração. Agora, se fala em caixa 2 com muita ênfase, com atribuição a pagamentos. Isso vai crescendo numa dimensão que não era do nosso conhecimento, mas não vejo com aflição. O ideal era que pudéssemos julgar hoje, mas se não tivermos condições, vamos fazer no momento oportuno, sem nenhum estresse”, completou.

Para o presidente do TSE, o processo terá o mérito de revelar como as campanhas presidenciais eram feitas até aqui. “Não se trata de cassar presidente, mas de saber como foi feita a campanha. Só isso terá mérito significativo, saber como as campanhas se faziam até aqui. Espero que elas não repitam mais esse modo”, comentou.


AL ESTE DE LOS HOMBRES

Al Este de Los Hombres

“Al Este de Los Hombres” tem tradução de Rodolfo Alpízar e narra os tempos sombrios da ditadura no Brasil nos anos 60 e 70”
Depois do sucesso do lançamento no Brasil, livro “A Leste dos Homens”, do escritor paraibano Políbio Alves, foi lançado recentemente em Cuba na véspera da morte do revolucionário Fidel Castro e viu de perto o respeito que o povo cubano tem pelo seu líder.
“É impressionante como a ilha ficou em silêncio total naquele dia. A gente sentia nas ruas e nas casas o respeito que aquele povo tem por Fidel. Foi algo impressionante e de um respeito que não tem palavras para explicar”, lembra.
A Leste do Homens, agora em versão de língua espanhola (“Al Este de Los Hombres”) foi lançado em Havana no dia 21 de novembro de 2016 na Livraria Alma Mater. “A tradução primorosa é de Rodolfo Alpízar, escritor, novelista e tradutor cubano. O escritor e ensaísta Enrique Cirules escreveu o prólogo da obra. A edição do Instituto Cubano del Libro – Editora José Martí, La Habana, Cuba”, destaca Políbio Alves.
O lançamento de Al Este de Los Hombres reuniu a intelectualidade cubana, tendo como destaque, dentre outras personalidades culturais, Roberto Funes, novelista e escritor; Newton Biones Mototo, escritor, historiador e novelista; Luís Rea, historiador; Rodolfo Alpízar, escritor, novelista e tradutor; Miguel Ángel Alvarez Caro, professor, tradutor e jornalista do Jornal Granma Internacional, edição em português e Enrique Cirules, escritor, ensaísta e autor do prólogo de Al Este de Los Hombres.
Além dessas personalidades, grande número de funcionários representativos do Instituto Cubano del Libro, do Editorial José Martí; médicos, engenheiros, estudantes de nível superior, artistas plásticos, músicos, professores universitários e constituintes históricos da Revolução Cubana compareceram ao evento.
Al Este de Los Hombres é uma obra ficcional que narra os tempos sombrios da ditadura no Brasil nos anos 60 e 70. Tudo acontece numa velha cidade às margens de um rio poluído e de um porto com grande fluxo comercial, notadamente de produtos varejistas da região. No entanto, hoje, esse porto encontra-se desativado.
Segundo Políbio Alves, Al Este de Los Hombres, é a escritura da infâmia e da tirania que se abateu sobre o povo brasileiro. Esse texto retrata os tempos de chumbo aqui no Varadouro. E situa-se historicamente entre dois parâmetros: um, a ditadura aqui no Brasil, e outro, a situação de Cuba antes de Fidel. Um testemunho corajoso que sobreviveu à morte, à tortura, aos cárceres clandestinos, à fome, à sede. Além de que, também, uma visão de Cuba antes do triunfo da Revolução socialista na maior ilha do Caribe.
Como parte da programação do lançamento do livro em Cuba, houve ainda palestra e debate na Casa del Alba (Aliança Alternativa Bolivariana para os povos da América Latina), um projeto idealizado por Hugo Chaves e Fidel Castro. O escritor e ensaísta Enrique Cirules foi o palestrante sobre a obra e o autor de Al Este de Los Hombres, Políbio Alves.
Também houve debate da obra com o autor mediante intervenções dos mais notáveis jornalistas e professores de Cuba, entre eles, Miguel Ángel Álvarez Caro, do jornal Granma Internacional; Rodolfo Alpízar, escritor, novelista e tradutor de Al Este de Los Hombres para o espanhol, e Fredy Moro, escritor e jornalista.


Texto de Augusto Magalhães

Assassinato de embaixador russo é 'provocação' com objetivo de prejudicar processo de paz na Síria, diz Putin


Assassinato de embaixador russo é 'provocação' com objetivo de prejudicar processo de paz na Síria, diz Putin


Andrei Karlov foi assassinado por policial turco em Ancara; presidente russo afirmou que 'única resposta' que deverá ser oferecida por Moscou é 'intensificar a luta contra o terrorismo'
ataque contra o embaixador da Rússia na Turquia, Andrei Karlov, nesta segunda-feira (19/12) em Ancara é “claramente uma provocação” com objetivo de prejudicar a relação entre Rússia e Turquia e o processo de paz na Síria, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin.
“Este assassinato é claramente uma provocação com o objetivo de prejudicar a melhoria e a normalização das relações entre Rússia e Turquia, assim como prejudicar o processo de paz na Síria promovido por Rússia, Turquia, Irã e outros países interessados em resolver o conflito no país”, disse Putin.
Segundo o presidente russo, a “única resposta” ao ataque que deverá ser oferecida por Moscou é “intensificar a luta contra o terrorismo”.
Agência Efe

Vladimir Putin, presidente russo: assassinato de embaixador da Rússia na Turquia 'é claramente uma provocação'
Andrei Karlov estava discursando na noite desta segunda-feira (19/12) na abertura de uma exposição fotográfica patrocinada pela embaixada russa na capital turca. De acordo com um fotógrafo da agência de notícias Associated Press que estava no local, o diplomata estava discursando quando um homem vestido com terno e gravata gritou "Allahu akbar" ("deus é grande", em árabe) e disparou pelo menos oito tiros.
"Não esqueçam Aleppo, não esqueçam a Síria", ele teria gritado após atirar contra Karlov. Segundo o Ministério do Interior da Turquia, o atirador era o policial Mevlüt Mert Altıntaş, de 22 anos. Ele foi morto no local por forças especiais turcas.
 

'É tudo culpa dos russos'

Aleppo: questione antes de compartilhar

Vitória de Bashar al-Assad e Putin em Aleppo pôs o ocidente em surto de pânico

 
"Este é um dia trágico na história da diplomacia russa", declarou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores russo. "Hoje, o embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, morreu após ser atingido por tiros durante um evento público em Ancara", disse a porta-voz em pronunciamento à imprensa russa. Ela classificou o ataque como um "ato de terrorismo" e disse que este será um dos temas em debate na reunião do Conselho de Segurança da ONU na próxima segunda-feira (26/12).
Testemunhas disseram à imprensa turca que o autor dos disparos agiu sozinho e sabia que não ia sair vivo do local do crime.
"Ele usava um terno preto e uma camisa branca e estava sozinho. Não acredito que tenha ninguém mais", disse à rede CNNTÜRK uma mulher que não quis se identificar e estava na exposição no momento do atentado que matou o diplomata russo.
"Não sei se tinham algum comparsa fora, mas só um agia lá dentro", disse a jornalista Bahar Bakir à emissora NTV.
As duas testemunhas confirmaram que depois de atirar em Karlov, o homem começou a gritar frases, em turco, que relacionavam o ataque à situação em Aleppo, na Síria. "Ele disse que sabia que não sairia vivo de lá e que não ia fazer nada contra a gente. Depois voltou a disparar no embaixador", disse Bakir.
O ataque acontece na véspera de uma reunião em Moscou entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia, Irã e Turquia para tratar sobre o cessar-fogo em Aleppo, ao norte da Síria. A Rússia e o Irã têm apoiado o governo de Bashar al Assad contra as forças de oposição na Síria, que por sua vez tem sido apoiadas pelo governo turco e pelos EUA, entre outros.

*Com informações de Agência Efe

Brasileira entre os dez cientistas mais influentes de 2016


Brasileira entre os dez cientistas mais influentes de 2016

Deutsche Welle

Celina Turchi é destacada pela revista 'Nature' por estudo que identificou relação entre microcefalia e infecção pelo vírus zika; pesquisadora classifica descoberta de 'novo capítulo da medicina'
A epidemiologista brasileira Celina Turchi entrou nesta segunda-feira (19/12) para a lista dos dez cientistas mais influentes do mundo em 2016 segundo a revista Nature. O reconhecimento se deu graças a seu trabalho que permitiu associar a microcefalia à infecção pelo vírus zika, informou a publicação.
De acordo com o editor da revista, Richard Monastersky, a escolha das "dez pessoas que importam na ciência" é feita com base nos avanços científicos revelados pelas pesquisas desenvolvidas por elas.
Médica pela Universidade Federal de Goiás, mestre em epidemiologia pela London School of Hygiene & Tropical Medicine e doutora pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, a brasileira Turchi desenvolveu pesquisas em diversas instituições nacionais e internacionais.
Ascom UFG

A pesquisadora brasileira Celina Turchi, considerada pela revista Nature uma das dez cientistas mais influentes de 2016
Com experiência na área de epidemiologia das doenças infecciosas, atualmente, Turchi atua como pesquisadora no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães – Fiocruz no estado de Pernambuco.
Em entrevista à agência de notícias Lusa, Turchi atribuiu a indicação da Nature a todo o grupo de pesquisadores que participou da investigação sobre o zika. "São cientistas que têm muito interesse, que se empenharam muito, trabalharam em equipes multidisciplinares, com múltiplas universidades e institutos de pesquisa. Esta distinção é para todos os componentes desse grupo. Sinto que estou só representando um grupo de cientistas e profissionais de saúde do Brasil", disse.
Avanço científico
Os resultados preliminares do estudo, publicados em setembro pela revista Lancet Infectious Diseases, demonstram que a epidemia de microcefalia registrada no Brasil em 2015 é resultado da infecção congênita pelo vírus zika.
O estudo comparou os 32 recém-nascidos com microcefalia nascidos em oito hospitais públicos do Recife, em Pernambuco, entre janeiro e maio deste ano, com 62 bebês nascidos sem microcefalia nos mesmos hospitais e no mesmo período. Os cientistas recolheram amostras de sangue dos dois grupos e amostras de líquido céfalo-raquidiano dos bebês com a doença, que foram submetidas a análises para o vírus zika e os anticorpos para o mesmo vírus.
 

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A conclusão foi que 13 dos 32 casos (41%) tiveram resultados positivos para a presença do vírus no sangue ou no líquido cefalorraquidiano, contra nenhum dos 63 bebês saudáveis. "Concluímos que a epidemia de microcefalia é o resultado da infecção congênita por zika", escreveram os autores no artigo então publicado.
O estudo continua em curso e deverá incluir 200 casos de recém-nascidos com microcefalia e 400 sem a doença, o que permitirá quantificar o risco com maior precisão e investigar o papel de outros fatores na epidemia de microcefalia.
"Pensar que em menos de um ano se estabelece o vínculo causal com uma doença e se levanta a hipótese e se consegue estabelecer o vínculo de associação entre a infecção congênita e a doença. É um novo capítulo da medicina", disse Turchi, lembrando que esse conhecimento é útil para que se invista na prevenção.
A cientista brasileira, no entanto, lamentou o fato de que a mesma rapidez não se verifica do ponto de vista da saúde pública.
"Do ponto de vista das ações e aporte de recursos, ainda não temos a preparação suficiente para respostas imediatas. Do ponto de vista da sociedade, ainda é precário. [A microcefalia] é uma carga social e para os serviços de saúde", disse, comentado a incapacidade provocada pela doença nas crianças, o peso para as famílias e o aumento da procura dos serviços de saúde.
Cientistas influentes
Além de Turchi, também constam na lista a porta-voz do LIGO (Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory), Gabriela Gonzalez, pela descoberta das ondas gravitacionais; o astrônomo Guillem Anglada-Escudé por descobrir um planeta com tamanho semelhante à Terra na órbita de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol.
Também aparecem na publicação Demis Hassabis, cofundador da empresa de inteligência artificial DeepMind; o especialista em fertilidade John Zhang; Kevin Esvelt, que alertou para os perigos de uma técnica que permite forçar um gene a espalhar-se mais depressa do que o normal por uma população; bem como Terry Hughes, que alertou para a descoloração da Grande Barreira de Coral, na Austrália.
Outros cientistas na lista dos mais influentes são o químico atmosférico Guus Velders; a física Elena Long; e Alexandra Elbakyan pelo seu site Sci-Hub, que desafiou as publicações científicas convencionais ao disponibilizar ilegalmente na internet 60 milhões de artigos.
TMS/lusa

Fonte: Opera Mundi

Como fazer uma cobertura jornalística sobre um fascista?


Como fazer uma cobertura jornalística sobre um fascista?


Antes das atrocidades na Itália fascista e na Alemanha nazista, parte da imprensa dos EUA se encantou por Mussolini e retratou Hitler como uma piada
Como fazer uma cobertura jornalística sobre um fascista?
Como cobrir a ascensão de um líder político que deixou um rastro de inconstitucionalidade, racismo e incentivo à violência? A imprensa toma a posição de que seu objeto age fora das normas da sociedade? Ou toma a posição de que alguém que vença eleições justas é, por definição, “normal”, porque sua liderança reflete a vontade do povo?
Estas são questões que a imprensa norte-americana confrontou após a ascensão de líderes fascistas na Itália e na Alemanha nos anos 1920 e 1930.
Um líder vitalício
Benito Mussolini garantiu o posto de primeiro-ministro da Itália após sua marcha sobre Roma com 30.000 “camisas negras” (como eram conhecidos os membros de sua milícia) em 1922. Em 1925 ele já tinha se autodeclarado líder vitalício do país. Embora isso não refletisse os valores norte-americanos da época, Mussolini era um queridinho da imprensa dos Estados Unidos, aparecendo em pelo menos 150 artigos entre 1925 e 1932, a maior parte deles de tom neutro, perplexo ou positivo.
O jornal Saturday Evening Post inclusive publicou, em capítulos, a autobiografia do Duce, em 1928. Reconhecendo que o novo “movimento fascista” era um pouco “duro em seus métodos”, jornais como o New York Tribune, o Cleveland Plain Dealer e o Chicago Tribune, por exemplo, disseram que foi ele o responsável por salvar da Itália das mãos da extrema-esquerda e por revitalizar a economia do país. Segundo estes periódicos, o sentimento anticapitalista na Europa após a Segunda Guerra Mundial era uma ameaça bem mais grave do que o fascismo.
Wikimedia Commons

Benito Mussolini e Adolf Hitler em Munique, na Alemanha, em maio de 1940
Ironicamente, enquanto a imprensa reconhecia que o fascismo era um novo “experimento”, jornais como o The New York Times notoriamente o creditaram como responsável por restaurar a “normalidade” em uma Itália turbulenta.  
Entretanto, alguns jornalistas, como Ernest Hemingway, e periódicos como a The New Yorker rejeitaram a normalização do antidemocrático Mussolini. O escritor John Gunther publicou, na Harper’s Magazine, uma crítica feroz à hábil maneira em que Mussolini manipulou a imprensa norte-americana, a quem ele parecia irresistível.
“O Mussolini alemão”
O sucesso de Mussolini na Itália normalizou o sucesso de Hitler aos olhos da imprensa norte-americana que, no fim dos anos 1920 e no começo dos 1930, o chamava de “o Mussolini alemão”. Vista a recepção positiva da imprensa a Mussolini naquela épica, este era um bom começo para Hitler. Ele também tinha a vantagem de que seu partido nazista tinha avançado na preferência dos eleitores alemães entre meados dos anos 1920 e o começo dos 1930, passando de um partido nanico para a conquista da maioria das cadeiras do Parlamento alemão nas eleições de 1932.
Mas a principal maneira que a imprensa usou para fazer Hitler parecer inofensivo foi retratá-lo como uma piada. Ele era um “disparatado” que gritava “palavras bárbaras” cuja aparência, segundo a revista Newsweek, “lembrava Charlie Chaplin”. Seu “semblante era uma caricatura”. Ele era tão “volúvel” quanto era “inseguro”, escreveu a Cosmopolitan.
 

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Fidel Castro e a repressão contra intelectuais

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Quando o partido de Hitler ganhou influência no Parlamento, e ainda antes que ele se tornasse chanceler da Alemanha, em 1933 – cerca de um ano e meio antes de instaurar sua ditadura – muitos veículos de imprensa norte-americanos julgaram que ele ou seria aniquilado por políticos mais tradicionais, ou se tornaria mais moderado. Claro, ele tinha muitos apoiadores, mas estes eram “eleitores impressionáveis” ludibriados por “doutrinas radicais e soluções mirabolantes”, escreveu o Washington Post. Agora que Hitler de fato tinha que operar como governo, os políticos “sóbrios” iriam “arruinar” o movimento fascista, consideraram o The New York Times e o Christian Science Monitor. Um “claro senso de instinto dramático” não era o suficiente. Quando chegasse o momento de governar, sua falta de “gravidade” e de “profundidade de pensamento” seria exposta.
Na verdade, o NYT escreveu após a nomeação de Hitler como chanceler que o sucesso iria somente fazer com que ele “expusesse para o público alemão sua futilidade”. Jornalistas questionaram se Hitler agora se arrependia de ter deixado os comícios pelo gabinete, onde ele teria que assumir algumas responsabilidades.
Sim, a imprensa norte-americana tendeu a condenar o largamente documentado antissemitismo de Hitler no começo dos anos 1930. Mas houve muitas exceções. Alguns jornais minimizaram relatos de violência contra judeus alemães, classificando-os como o mesmo tipo de propaganda que proliferou durante a última Guerra Mundial. Muitos, inclusive aqueles que categoricamente condenaram tal violência, repetidamente declararam que ela estava já se esvaindo, demonstrando uma tendência de esperar um retorno à normalidade.
Jornalistas estavam cientes de que eles só podiam criticar o governo alemão até certo ponto e manter seu acesso a ele. Quando o filho de um apresentador da CBS foi espancado por milícias paramilitares nazistas por não fazer a saudação ao Führer, ele não denunciou ou divulgou o caso. Quando o jornalista Edgar Mowrer escreveu no Chicago Daily News em 1933 que a Alemanha estava se tornando um “hospício”, alemães pressionaram o Departamento de Estado dos EUA para monitorar os repórteres norte-americanos. Allen Dulles, que depois se tornou diretor da CIA, disse ao jornalista que ele estava “levando a situação alemã muito a sério”. O editor de Mowrer acabou transferindo-o para fora da Alemanha por medo de que ele fosse morto.
No fim de 1930, a maioria dos jornalistas dos EUA percebeu que errou em subestimar Hitler ou em não ter conseguido prever o quanto a situação iria se deteriorar. (Houve, porém, exceções infames como Douglas Chandlers, que escreveu uma ode à “Berlim em transformação” para a revista National Geographic em 1937.) A jornalista Dorothy Thompson, que julgava Hitler um homem de “espantosa insignificância” em 1928, percebeu seu erro em meados de 1930 quando ela, assim como Mowrer, começou a soar o alarme sobre a situação na Alemanha.
“Nenhum povo reconhece seu ditador antecipadamente”, refletiu ela em 1935. “Ele nunca propõe uma plataforma de ditadura nas eleições. Ele sempre se apresenta como um instrumento da vontade nacional.” Aplicando a lição para os EUA, ela escreveu que, “quando nosso ditador aparecer, você pode apostar que ele será ‘um dos caras’ e irá defender tudo o que for tradicionalmente americano.”

Publicado originalmente no site The Conversation. Traduzido por Carolina de Assis.

Fonte: Opera Mundi

QUE SIGNIFICA CAIADO POR DIRETAS EM 2017?

O que significa Caiado por diretas em 2017?

Fernando Brito
O que significa a proposta lançada hoje por Ronaldo Caiado, em entrevista ao Estadão, de convocar antecipadamente eleições gerais para 2017?

Pulemos,claro, pela origem, qualquer arroubo democrático partido do ex-líder da UDR.

É, antes de tudo, a reação à cada vez mais evidente da absorção do Governo Michel Temer – que se acentua à medida em que seu esquema próprio de articuladores vai se dissolvendo pelas falcatruas – pelo PSDB.

Que, aliás, cria rachaduras até no próprio tucanato, como se vê na reação de Geraldo Alckmin, jogado fora do ninho pela aliança FHC-Aécio-Serra-Temer.

É, também, como se lê nas suas declarações, um sinal da perda de esperanças em que este Governo vá conseguir algum sucesso do enfrentamento da crise econômica:

É preciso antecipar o processo eleitoral. Não adianta apenas conter gastos. Não sou contra o presidente, mas é hora de pensarmos em alguém que, ganhando as eleições, promova melhorias. Não adianta repetir erros do governo cassado de Dilma Rousseff.

Caiado reconhece a falta de legitimidade e de respeitabilidade do governo e do parlamento:

(…)diante de uma crise concreta, onde falta apoio popular, não dá para querer insistir com a continuidade do governo.(…) O poder está nocauteado com tantas denúncias e escândalos. Não há democracia que sobreviva a políticos sem espírito público.

O movimento de Caiado pode indicar o início de uma costura que o leve a compor chapa com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Fecha a porteira para Aécio em São Paulo e se expande para as zonas de influência do agronegócio: os dois Mato Grosso, Goiás, Paraná e Oeste de Minas, bom boas beliscadas onde houver economia agrícola de grande escala.

Quando a eleição começa a ganhar a rua, os candidatos começam a se mostrar.


O 'SANGUE AZUL' DA NOBREZA ESTATAL

O 'sangue azul' da nobreza estatal

Fernando Brito

Eu não posso falar da Corte de Luís XVI porque – como fez o juiz Sérgio Moro quando se fez o paralelo com Savonarola – podem achar que estou pregando a guilhotina, quando defendo apenas a Queda da Bastilha. Mas, ao ler a matéria da Agência Pública sobre o Ministério Público do Estado de São Paulo – e é pouco mais ou menos o que se passa nos outros estados – concordei com o comentário deixado por outro leitor: isso deveria ser lido em todas as esquinas do país.

Ainda mais quando eles e seus assemelhados na Magistratura são capazes de ver em quem critica seu regime de privilégios e inconstitucionalidades meros subvertedores da Ordem de que são portadores, que apontam o dedo às suas vergonhas para proteger malversadores do dinheiro público, aos quais, na prática e sem os riscos de uma cela em Curitiba, se assemelham em consequências.

Direito ou privilégio?

Em setembro, o governo de São Paulo encaminhou para a Assembleia Legislativa do Estado a proposta de orçamento do Ministério Público (MP) para 2017. A previsão é destinar R$ 2,3 bilhões para manter funcionando a estrutura criada para defender os direitos dos cidadãos paulistas. Um orçamento três vezes maior do que o previsto para a Secretaria de Cultura e o dobro do que será destinado para pastas como Agricultura, Meio Ambiente ou Habitação. É com esse dinheiro que o MP vai cobrir gastos com água, luz, telefone, salários – e os polpudos benefícios destinados a procuradores e promotores.

A remuneração inicial de um promotor público em São Paulo é de R$ 24.818,71. Na última etapa da carreira, o procurador de justiça, o salário chega a R$ 30.471,11. São valores que seguem o teto constitucional: promotores e procuradores paulistas recebem, no máximo, 90,25% do salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Mas os vencimentos não terminam por aí. Somam-se benefícios como vale-alimentação, auxílio-moradia, auxílio-livro, auxílio-funeral, pagamento de diárias, remunerações retroativas, duas férias anuais. A Lei Orgânica do Ministério Público de São Paulo, de 1993, prevê 16 auxílios extras que, apesar de serem considerados legais, ajudam a ultrapassar, em muito, o teto constitucional.

Na prática, dos 2015 membros do MPSP que receberam salário em outubro, 1243 receberam a partir de R$ 38,900, ou seja,  61,7% do total. É um valor acima dos R$ 33.763 pagos aos ministros do STF, mais os extras. Se prosperar o entendimento de que “teto é teto” e os “extras” não deveriam estar nem na conta dos ministros do Supremo, a proporção de promotores e procuradores que receberam acima do teto constitucional sobe para 79,8%. Foram 1.608 promotores e procuradores que receberam mais do que o salário teto de R$ 33.736. 

A Comissão foi instalada, em novembro, no Congresso Nacional, para propor um fim aos “supersalários” de funcionários públicos.

A folha de pagamento do MPSP de outubro é repleta de exemplos de “supersalários”. Naquele mês o promotor de justiça de entrância final Milton Theodoro Filho, lotado na capital, recebeu o maior valor da folha: R$ 129.469,78. Foram R$ 28.947,55 de salário bruto (sem descontar a contribuição previdenciária e o imposto de renda) e R$ 89.979,35 de indenizações (incluídos R$ 5.087,73 auxílio-moradia e vale-alimentação). Além disso, há mais R$ 9.179,62 de valores retroativos da Parcela Autônoma de Equivalência (PAE), resultado de uma decisão de 1992 do Supremo Tribunal Federal (STF) que equipara os salários do Judiciário com os do Congresso Nacional.

No mesmo mês, o promotor Julio César Palhares, que serve em Bauru, no interior paulista, recebeu R$ 118.480,60. Desse montante, R$ 28.947,55 referem-se ao salário bruto, R$ 82.281,19 a indenizações não discriminadas, à exceção de R$ 5.087,73 de auxílio-moradia e vale-alimentação.

Orlando Bastos Filho, promotor em Sorocaba, foi o terceiro membro com maiores vencimentos no mês, recebendo R$ 107.025 brutos. Nesse valor estão incluídos R$ 64.901,22 de indenizações não discriminadas e R$ 7.864,41 retroativos da PAE. Em 2015, Bastos Filho acirrou os ânimos dos vereadores do município ao iniciar uma investigação sobre seus gastos com despesas de telefone, carro oficial e itens de escritório.

O professor de ética e filosofia política na Unicamp Roberto Romano estuda o poder Judiciário e defende o papel do MP como instituição de garantia da democracia brasileira.

Mas critica: “Eu acho que o Ministério Público, justamente porque é o zelador da lei, o fiscal da aplicação da lei, deveria renunciar a esse tipo de acréscimo ao seu salário, sobretudo porque não corresponde à experiência de todos os demais funcionários do estado”.

As informações sobre os rendimentos dos membros do MP estão disponíveis no Portal da Transparência.

Para Antônio Alberto Machado, promotor aposentado, as altas remunerações do MP estão diretamente associadas a práticas conservadoras: “As carreiras jurídicas, em geral, se tornaram muito atrativas de algumas décadas para cá. Há 40 anos não era assim. Isso fez com que os membros dessas carreiras tivessem um padrão remuneratório equivalente ao que a gente chama de classe A. A leitura que eu faço é que essas carreiras jurídicas estão ‘sitiadas’.

Foram tomadas por essas classes média, média alta, classe alta que têm um valor de mundo conservador e que estão julgando as classes de baixo”.

Promotores e procuradores têm a prerrogativa de legislar sobre os próprios vencimentos. Alguns dos valores e critérios para o pagamento de cada um desses extras são definidos por resoluções e atos normativos que cabem ao procurador-geral de justiça do estado. Foi um ato normativo de 2003 que definiu, por exemplo, que o valor de uma diária corresponde a 1/30 do salário bruto de um promotor em início de carreira. Em 2016, corresponde a R$ 827,30. O valor extra é pago quando o promotor tem de substituir um colega de trabalho.

Um ato normativo de 2014 definiu que promotores e procuradores cedidos para outros órgãos continuam tendo direito a receber o auxílio-moradia. Trata-se de um complemento à lei orgânica que já garante que membros do MP que se afastem do cargo para ocupar cargos eletivos, por exemplo, possam continuar recebendo os vencimentos do órgão se abrirem mão do outro salário. É o que garante ao deputado Fernando Capez continuar na folha de pagamento do MP. A troca vale a pena. Enquanto um deputado estadual tem remuneração de R$ 25.322,25, os vencimentos de Capez em outubro chegaram a R$ 40.497. Como secretários do governo de São Paulo, os procuradores Mágino Barbosa e Elias Rosa receberiam R$ 19.467,94. Porém, ao manterem os salários do MP, eles receberam, em outubro, respectivamente R$ 56.911,63 e R$ 47.685,94.

Auxílio-moradia
 
O maior benefício é o auxílio-moradia, no valor de R$ 4.377 mensais. A ajuda financeira foi autorizada por meio de liminar do ministro do STF Luiz Fux em setembro de 2014 e se estende a membros da magistratura e dos ministérios públicos de todo o país. À diferença do que ocorre com todos os outros funcionários públicos – até mesmo dos congressistas –, o benefício se destina também para quem tem residência própria e vive na mesma cidade em que atua. Ficam de fora apenas aposentados e licenciados.

Segundo a folha de pagamento de outubro de 2016, disponível no Portal da Transparência do MPSP, dos 2.084 promotores e procuradores públicos na ativa, pelo menos 1.593 recebem o auxílio (76%). O custo anual para os cofres públicos é de aproximadamente R$ 69,7 milhões. O valor daria para atender mais de 14 mil famílias com o programa Auxílio-Aluguel da prefeitura de São Paulo, de R$ 400 mensais.
Mas a despesa não fica por aí. O adicional foi tratado como retroativo pelo ministro Luiz Fux. Assim, promotores e procuradores tiveram direito a receber os “atrasados” dos cinco anos anteriores à liminar, ou seja, desde 2009. Para a maioria da classe, isso significou uma bolada de mais de R$ 262 mil que vem sendo paga em parcelas regulares desde então.

Auxílio-livro

Outro auxílio que ajuda a compor o orçamento anual dos promotores é o auxílio-livro. Uma ajuda extra de até R$ 1.700 por ano, criada em 2010 com o objetivo de garantir a atualização técnica dos promotores e procuradores.

Entre 2010 e 2013, o advogado Rodrigo Xande Nunes trabalhou como oficial de Promotoria dentro do MP, cuja tarefa era solicitar verbas indenizatórias para os promotores e procuradores que assessora. “Bastava o promotor apresentar uma nota fiscal de qualquer livraria com a descrição ‘livro’ para assegurar o reembolso. Vi livros de doutrina jurídica que iam parar nas mãos de sobrinhos do promotor que estavam cursando faculdade de direito, ou romances virarem presentes de aniversário”, lembra.

Depois de ter deixado o cargo de oficial de Promotoria, Rodrigo Xande seguiu carreira como advogado. É justamente por estar do lado de fora que ele se dispõe a falar o que pensa sobre os benefícios, que acredita afastarem a categoria da realidade dos brasileiros: “É impossível garantir direitos para quem vive cercado de tantos privilégios”, argumenta.

Uma das instituições mais aguerridas na defesa de benefícios é a Associação Paulista do Ministério Público (APMP). O escritório da associação ocupa o 11º andar da sede do MPSP e é presidida pelo ex-candidato a procurador-geral Felipe Locke. Procurado pela Pública, ele não concedeu entrevista para a reportagem.

O presidente da APMP tem, no entanto, se posicionado publicamente sobre o tema. Segundo texto publicado na página da associação em outubro, sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 62 que derruba a vinculação automática dos salários de agentes públicos à remuneração dos ministros do Supremo, ele escreveu: “Sem recursos nossas instituições não funcionam e sem Ministério Público e a Magistratura, corrupto não vai para a cadeia. Esses projetos têm o mesmo objetivo da PEC 37 [proposta derrubada pelo Congresso que propunha limites ao poder de investigação de promotores e procuradores], acabar com o poder de investigação, deixando os corruptos à solta”.

Ao mesmo tempo em que a APMP faz campanha contra a PEC 62, também exerce pressão pela aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 27, que eleva os salários dos ministros do Supremo para R$ 39,2 mil em janeiro de 2017. Mas nestes tempos em que o governo federal fala em limitar gastos públicos, a luta corporativa da APMP ficou mais difícil.
Mais direitos

Agora, a nova demanda da classe é garantir ainda mais benefícios.



Plano de saúde vitalício

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) discute, em regime de urgência, o pagamento de planos de saúde de caráter vitalício para os membros do MPSP. O Projeto de Lei Complementar (PLC) 52/2015 foi apresentado pelo então procurador-geral Márcio Elias Rosa e acolhido pelo então recém-eleito presidente da Alesp e promotor afastado Fernando Capez. O PLC 52 já foi aprovado pelas Comissões de Constituição e Justiça e de Finanças, Orçamento e Planejamento e está pronto para ser votado pelo plenário desde dezembro de 2015.

Promotores e procuradores querem também a extensão do auxílio-moradia para seus colegas aposentados. Em outubro de 2015, o Colégio de Aposentados da APMP reiterou o pedido que já vem sendo feito desde 2013 à Procuradoria-Geral, apelando para o princípio da simetria para justificar a ampliação da benesse.

Privilégio nos detalhes

Em novembro de 2015, o MPSP fechou um contrato para o fornecimento de copinhos de água mineral para a instituição. Ao custo de R$ 71.724, garantiu o fornecimento de 11.904 copinhos de 200 ml com água mineral por mês, durante um ano. Porém, o produto é usado para a hidratação apenas de parte dos servidores, os promotores e procuradores. A regra, em vigor desde 2011, ganhou forma em um comunicado interno da diretoria geral do órgão.
 
Restrições como essa raramente ganham redação oficial, mas são frequentes no cotidiano do MPSP. Passam pelos lanches – frutas, sucos e biscoitos, comprados com dinheiro público e que também são restritos aos promotores e procuradores –, pelas vagas nas garagens e pelo uso de elevadores.

As diferenciações são tão grandes que os “outros” funcionários costumam brincar que, se uma pessoa do século 19 pudesse viajar no tempo, o lugar que se sentiria mais à vontade seria o MPSP. “Eu já cheguei a falar para um procurador que a época da escravidão passou, que a ditadura também passou. Tem membro [do MPSP] que, se pudesse colocar o servidor no tronco e dar um surra, ele faria isso”, critica Jacira Costa Silva, oficial de promotoria desde 1989 e presidente do Sindicato dos Servidores do MPSP. A sindicalista enumera situações em que funcionários tiveram de lavar carros e até pagar contas pessoais dos promotores.