Não foram poucas as inverdades proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro na abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. No discurso que durou pouco mais de dez minutos, CartaCapital contou ao menos 11 mentiras, distorções ou imprecisões do ex-capitão. Destacam-se a negação de corrupção em seu governo, a defesa do tratamento precoce contra a Covid-19 e a versão de que sua gestão com conta apoio da maior parte dos brasileiros. As reações foram imediatas. “O chefe de uma quadrilha de ladrões de vacina falando que não tem corrupção no governo. Bolsonaro é um mentiroso compulsivo”, escreveu o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), líder da minoria na Câmara. "Foi a fala de um farsante q está destruindo o país, os direitos do povo e a democracia”, afirmou a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann. Os desmentidos também não demoraram. ONGs ambientais divulgaram comunicados em que questionam as declarações do presidente sobre o setor. “Se o comportamento dos demais líderes globais fosse o mesmo do presidente brasileiro, a meta de estabilizar o aquecimento global em 1,5°C seria inalcançável”, disse o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini. Em entrevista a CartaCapital, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva classificou Bolsonaro como “um especialista em sofismar, em distorcer a verdade”. “Num momento difícil como este, o presidente quer mostrar que o Brasil é um país que não respeita o meio ambiente, os direitos humanos e os povos indígenas”, pontuou. De saldo da viagem a Nova York, além de broncas do prefeito da cidade, Bolsonaro teve que comer pizza na rua e viu três integrantes da sua comitiva testarem positivo para a Covid-19. De volta ao Brasil, o presidente teve que aceitar a recomendação da Anvisa para ficar em quarentena. Nos EUA, o ex-capitão foi um fora da lei ao descumprir regras para evitar aglomeração. "Lamentável na forma, na postura e no conteúdo", avaliou o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim sobre Bolsonaro na ONU. As declarações do presidente tinham um público-alvo: o eleitor fiel que ainda não o abandonou, os cerca de 22%, segundo pesquisa IPEC, que acham a gestão federal boa ou ótima. "Bolsonaro continua dentro desse universo de conjugação de fake news, pós-verdade e negacionismo. No fundo, o presidente sempre discursa para os que sempre concordam com ele", afirmou o cientista político Rodrigo Prando. O ex-capitão, que viu a sua avaliação negativa alcançar os 68%, sabe que precisa segurar o seu eleitorado raiz para chegar ao segundo turno da eleição de 2022. Hoje, o percentual não seria suficiente para vencer Lula.
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