terça-feira, 5 de novembro de 2013

A ultradireita golpista e entreguista

Ultradireita golpista tenta se fortalecer, mas sem abandonar o governo

4/11/2013 14:09
Por Redação - de Brasília


O PMB sente saudades dos tempos em que os generais ocupavam o poder, durante a ditadura militar
O PMB sente saudades dos tempos em que os generais ocupavam o poder, durante a ditadura militar
Os partidos da direita e ultradireita, no Brasil, apesar do ostracismo a que foram submetidos na última década de vitórias do campo da esquerda, seguem na tentativa de recuperar algum terreno nas eleições do ano que vem. Enquanto o PSDB, dividido internamente em relação ao apoio a José Serra, candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, ou Aécio Neves, senador do partido, mas com ampla faixa de rejeição junto ao eleitorado, legendas menores como o Democratas (DEM) e o PPS chegam às raias da extinção. Uma faixa ampla de interesses conservadores, no entanto, sempre foi preservada nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e, ainda hoje, com Dilma Rousseff, segundo aponta o sociólogo e professor Ivo Lespaupin.
Há, no entanto, uma outra série de legendas aprovadas por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que busca um espaço na floresta de siglas que integra o bioma político nacional, com o discurso nacionalista que embalou as duas décadas de ditadura em que o país foi lançado, a partir de 1964. No enunciado do Partido Militar Brasileiro (PMB), a direção concorda que “a proposta é ambiciosa, principalmente no que se refere a candidatos para a presidência do Brasil, hoje não há praticamente nenhum candidato que se apresente como sendo de direita. Parece que se declarar como conservador, ou de direita, se tornou um demérito”.
Os saudosistas da época em que os coturnos valiam mais do que dois pares de sapatos civis, querem “combater a elite comuno-petista”. Para eles, o latifundiário Ronaldo Caiado, se fosse candidato do DEM à Presidência da República, seria rebutalho dos votos conservadores, embora reconheça que as chances de que represente os seus correligionários, nas urnas, seja ínfima. “Ainda assim seria interessante que os organizadores do movimento o procurassem para manifestar seu apoio e, desde já, fechar acordos”, dizem os signatários do PMB.
A explicação para os baixos índices eleitorais de Caiado, para os militaristas, no entanto, é a mídia conservadora. A mesma mídia que já foi classificada de Partido da Imprensa Golpista (PIG), para as esquerdas, seria responsável por alijar Caiado do plano eleitoral por ele ser “médico, um ruralista, e criticou duramente o programa ‘mais médicos’. Talvez seja por posições desse tipo que a grande mídia o ignore. O desafio é grande pois o PT já consagrou na mente da sociedade que tudo que não é de esquerda é anti-povo. A internet, se bem aproveitada, oferece a oportunidade de desconstruir isso”, imaginam.
Os integrantes desta legenda beiram a sedição ao afirmar que, “nos últimos meses há freqüente divergência entre militares das Forças Armadas e o governo. Manifesto Interclubes, abaixo-assinado dos oficias e marcha virtual, são exemplos de grandes questões surgidas recentemente, sem contar o reajuste de salários que não cobriu sequer a inflação. Essa queda de braço com os militares pode causar bastante prejuízo político, já a curtíssimo prazo. A conquista de mais de 300 mil adesões em um abaixo assinado no Senado mostra que os militares de hoje já aprenderam a se mobilizar politicamente, e podem utilizar seu status moral para conquistar a população, em sites e revistas militares abundam as solicitações para que as forças armadas assumam uma postura diante do mar de corrupção que assola o país”.
Ponto de vista
Enquanto os militaristas de ultradireita encastelados no PMB anteveem um golpe comunista em 2014, para setores da intelectualidade brasileira, é a direita já está no poder. Para o professor Ivo Lespaupin, em recente artigo, as privatizações, os leilões do petróleo nas áreas do pré-sal, o avanço do agronegócio, as usinas hidrelétricas na Amazônia, a perda de direitos dos povos indígenas, as tropas militares para enfrentá-los, o Código Florestal, o plantio de transgênicos, o aumento do uso de agrotóxicos e a não realização da reforma agrária são sinais de que a direita, na realidade, nunca deixou o Palácio do Planalto.
“Tudo isso está sendo feito por este governo”, escreveu Lespaupin, em um artigo
Segundo o professor da UFRJ, “existe uma direita mais à direita que este governo, sem dúvida. Que é possível piorar, é sempre possível. Mas que este governo está montado para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos, também não há dúvida”.
Ivo Lesbaupin é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. É mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ – e doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail, França. É coordenador da ONG Iser Assessoria, do Rio de Janeiro, e membro da direção da Abong. É autor e organizador de diversos livros, entre os quais O Desmonte da nação: balanço do governo FHC (1999); O Desmonte da nação em dados (com Adhemar Mineiro, 2002); Uma análise do Governo Lula (2003-2010): de como servir aos ricos sem deixar de atender aos pobres (2010).
Leia os principais trechos do artigo, a seguir:
A privatização do megacampo petrolífero de Libra (área de pré-sal) é um divisor de águas. Todos os movimentos sociais do Brasil, inclusive alguns muito próximos ao governo, se posicionaram contra. O governo se manteve inflexível e, copiando o governo FHC nas grandes privatizações (Vale, Telebrás), garantiu o leilão com segurança policial e tropas militares, de um lado, e batalhões de advogados da Advocacia Geral da União para derrubar liminares, de outro.
O governo deixou claro de que lado está.
Muitas das análises sobre os governos do PT (Lula-Dilma) partem do pressuposto de que houve antes um governo de direita, neoliberal, o de FHC, e que hoje temos um governo se não de esquerda, ao menos de centro-esquerda, de coalizão.
Seria um governo em disputa, que ora tomaria medidas mais voltadas para os setores populares ora voltadas para os setores dominantes. Isto dependeria da maior ou menor pressão de cada um dos lados.
Este pressuposto leva a crer que este governo mereça todo o nosso apoio para evitar a “volta da direita”. Porque esta volta traria políticas que não queremos ver novamente.
Os governos do PT indubitavelmente deram mais atenção ao social que os governos anteriores, como o aumento real do salário-mínimo e o programa Bolsa-Família, e reduziram fortemente o desemprego. A política externa é mais independente e também solidária com os governos progressistas de outros países da América Latina. E poderíamos citar uma lista de avanços ocorridos nos últimos dez anos, avanços que devem ser mantidos e devemos apoiar.
Há setores do governo que têm uma preocupação centrada na sociedade, nos trabalhadores, que se dedicam a uma maior democratização. Mas, infelizmente, estes setores não mandam no governo. E, na hora da cobrança, apoiam as grandes decisões (Belo Monte, Libra…).
Porém, se examinarmos mais de perto, o que nos impressiona não são as diferenças com os governos anteriores, são as semelhanças – cada vez maiores, à medida que o tempo passa. O governo FHC é considerado uma “herança maldita”. Mas a política econômica que privilegia o capital financeiro permanece de pé: os bancos tiveram mais lucros nos governos do PT do que antes. E estes governos introduziram medidas que favoreceram ainda mais os investidores financeiros ao isentá-los, em vários casos, de imposto. Não foi feita nenhuma reforma estrutural nas estruturas geradoras da desigualdade no país. No entanto, foram feitas reformas estruturais para atender aos interesses do capital, como a reforma da previdência do setor público, aprovada no primeiro ano do governo Lula.
Os recursos do país: para quem vão prioritariamente?
Se queremos saber para quem o governo trabalha, temos de examinar o orçamento realizado: para onde estão indo os recursos? Os recursos do país são destinados fundamentalmente ao pagamento da dívida pública, interna e externa, e de seus juros. A dívida externa chegou em dezembro de 2012 a 441 bilhões de dólares e a dívida interna a 2 trilhões e 823 bilhões de reais (cf. Auditoria Cidadã da Dívida). O orçamento realizado de 2012 mostra que 44% do nosso dinheiro foi usado para os juros, amortização e rolagem da dívida, enquanto que apenas 5% para a saúde e 3% para a educação. Em suma, o destino de quase metade do orçamento é a pequena camada mais rica do país – que são aqueles que recebem os juros da dívida -, além dos credores externos. Cada décimo de aumento dos juros pelo Banco Central significa maiores ganhos para os que já são muito ricos.
Portanto: o primeiro setor cujos interesses são atendidos é o capital financeiro (bancos e investidores financeiros)
Obras de infraestrutura: para as empreiteiras
Mas, há um segundo setor que é também privilegiado pelo governo: são as grandes empreiteiras – Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Andrade Gutierrez… Elas estão em todas as grandes obras de infraestrutura do país, entre as quais as usinas hidrelétricas – Belo Monte é o exemplo mais notório – e até na do Maracanã. Em 1993, durante a CPI do Orçamento, o senador José Paulo Bisol havia denunciado a existência de um “governo paralelo” no país: eram as grandes empreiteiras, que distribuíam entre si as licitações das obras públicas. Denunciou, mas nada aconteceu… A maior parte destas obras são financiadas pelo BNDES, com recursos públicos, portanto.
Estas empreiteiras são também, junto com os bancos, as principais financiadoras das campanhas eleitorais. Este dado nos ajuda a entender o empenho do governo na realização de certas políticas – os megaprojetos, por exemplo, as privatizações, outro exemplo – e no impedimento de controles sobre o capital – a não realização da auditoria da dívida, por exemplo.
Portanto, o segundo setor cujos interesses são atendidos é constituído pelas grandes empreiteiras.
O agronegócio: o grande aliado do governo no campo
E há um terceiro setor que tem recebido muito apoio do governo: o agronegócio. O governo ajuda a agricultura familiar, sem dúvida, mas a proporção é de 90% para o agronegócio e 10% para a agricultura familiar. Esta é a razão pela qual, em dez anos de governos do PT, a reforma agrária não avançou: o principal aliado do governo no campo é o agronegócio, não os movimentos sociais. E certas medidas que favorecem este setor acabam sendo aprovadas no Congresso – o Código Florestal -, porque o governo não quer perder este aliado.
Portanto, o terceiro setor cujos interesses são atendidos é o agronegócio.
Povos indígenas: pedra no caminho do agronegócio, de megaprojetos de infraestrutura, de grandes mineradoras
O governo está ressuscitando a política indigenista da ditadura, para a qual “o índio não pode atrapalhar o progresso do país”. O capítulo sobre os povos indígenas foi comemorado, na época, como um dos mais avançados da Constituição Cidadã. Pois exatamente os direitos destes povos originários ás suas terras estão sendo derrubados: pouco a pouco, a cada nova usina hidrelétrica, a cada nova lei ou portaria (ou código…), os direitos estão sendo violados e até as demarcações já feitas correm o risco de serem questionadas. Para atender aos interesses de setores do capital, este governo está desprezando os direitos dos povos indígenas.
O sistema tributário reprodutor da desigualdade social permanece
Por outro lado, o Brasil carrega outra “herança maldita”: o sistema tributário regressivo, que o governo FHC acentuou. Isto significa que, ao invés de distribuir renda, este sistema concentra renda, é um “Robin Hood” às avessas, tira dos pobres para dar aos ricos. É um sistema pelo qual os pobres pagam proporcionalmente mais que os ricos, porque nele o peso maior está no imposto sobre o consumo. Mesmo aquele que não têm renda para pagar imposto de renda compra bens, compra alimentos. E no preço dos bens está incluído o imposto.
Embora tenha introduzido pequenos avanços, no essencial esta herança de FHC foi mantida pelos governos do PT: a regressividade do sistema permanece. E a combinação de superávit primário (…) com a política monetária de juros altos incidentes sobre a dívida pública resulta “num dos mais perversos mecanismos de transferência de renda dos pobres para os ricos de que se tem notícia na história do capitalismo. (…) Na verdade, o mais poderoso mecanismo de concentração de renda na economia é essa combinação de política fiscal e monetária perversa, onde o Estado atua como um redistribuidor de renda e de riqueza a favor dos poderosos” (Assis, 2005: 89) (1).
Um primeiro meio para mudar esta grave injustiça seria fazer uma reforma tributária, para tornar o sistema progressivo (os que podem mais, pagam mais). Mas o governo não fez isso: ao contrário, apresentou um projeto de reforma que não mexe no caráter regressivo e que cortará recursos da Seguridade Social, se for aprovada.
Haveria uma segunda maneira de reduzir a transferência de recursos para os ricos: seria a realização de uma auditoria da dívida pública. Ela provaria que uma parte da dívida que nós pagamos é irregular e isto reduziria substancialmente a sangria de recursos públicos. A única auditoria que o país fez, em 1931, concluiu que 60% da dívida não tinham documentos que a comprovassem. O mesmo aconteceu mais de 70 anos depois, quando o Equador fez sua auditoria, em 2009: 65% da dívida eram eivadas de irregularidades. Como a nossa dívida externa foi constituída principalmente durante a ditadura civil-militar de 1964-1985, quando o Congresso não tinha acesso aos documentos, há sérias suposições de que parte desta dívida é indevida. O que só uma auditoria poderia verificar e comprovar (a CPI da dívida evidenciou várias irregularidades que teriam de ser examinadas, mas PT e PSDB se uniram para impedir que esta CPI tivesse resultados).
Esta é uma exigência da constituição de 1988, a qual nem o governo FHC nem os governos do PT puseram em prática. Preferiram favorecer os poucos privilegiados que ganham com a manutenção do status quo. E desfavorecer os muitos que sofrem as consequências de os recursos públicos não serem empregados onde deveriam: pois esta é a razão da falta de recursos suficientes para a saúde, a educação, o transporte, o saneamento básico, para os serviços públicos em geral.
Havia ainda uma grande diferença entre o governo neoliberal de FHC e os governos do PT: as privatizações. No entanto, o governo Lula não fez uma auditoria das privatizações, como se esperava; não reestatizou nenhuma das empresas privatizadas, como fez o governo Evo Morales. O governo Lula privatizou algumas rodovias federais e o governo Dilma passou a privatizar tudo: portos, aeroportos, rodovias, hospitais universitários e até riquezas estratégicas como o petróleo.
O governo FHC havia quebrado o monopólio da Petrobras e 60% das ações desta empresa estão hoje em mãos privadas. O governo Lula não reverteu este processo. O governo FHC iniciou em 1997 o leilão das áreas de exploração do petróleo. Os governos Lula e Dilma não interromperam os leilões, apesar de reiterados protestos dos movimentos de trabalhadores, especialmente dos petroleiros. O governo Dilma promoveu o leilão de petróleo do campo de Libra – cujas reservas valem no mínimo 1 trilhão de dólares – e tem ignorado solenemente a oposição dos movimentos sociais. O petróleo é nosso? Não, parte dele será das empresas privadas e estatais estrangeiras que venceram este leilão, assim decidiu o governo brasileiro. É como se só devesse satisfação ao setor privado, às multinacionais: os interesses do país, as reivindicações dos movimentos populares não são prioritárias.
O que traria a volta da direita?
Privatizações? Leilões do petróleo? de áreas do pré-sal? Avanço do agronegócio? Usinas hidrelétricas na Amazônia? Perda de direitos dos povos indígenas? Tropas militares para enfrentá-los? Código Florestal? Plantio de transgênicos? Aumento do uso de agrotóxicos? A não realização da reforma agrária?
Tudo isso está sendo feito por este governo.
Com exceção dos líderes do PSDB, todos os líderes da direita são hoje aliados do governo: Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Collor, Maluf, Sérgio Cabral, Kátia Abreu…
Apesar de sua prática, de suas políticas fundamentais, o governo mantém um discurso de esquerda, de quem defende os direitos dos pobres e oprimidos e que “a direita quer solapar”, “olhem o que a grande mídia diz de nós”. Os movimentos de trabalhadores e demais movimentos sociais veem suas reivindicações desprezadas (povos indígenas), não atendidas (reforma agrária) ou mal atendidas (recursos para a agricultura familiar).
Movimentos sociais e entidades da sociedade civil precisam constantemente se mobilizar, denunciar, fazer pressão, para evitar perda de direitos, para evitar retrocessos maiores. E a maioria das vezes não o conseguem (Libra é apenas um exemplo).
Apesar da defesa e do apoio de alguns movimentos sociais, o governo nunca se sentiu obrigado a cumprir os compromissos assumidos com relação aos trabalhadores: nem a reforma agrária, nem a auditoria da dívida, nem a defesa das terras dos povos tradicionais…
A grande mídia é denunciada por autoridades públicas como parcial, agressiva, injusta com o governo, adepta de uma postura demolidora. Mas o governo nada faz para democratizar os meios de comunicação no Brasil, nada faz para quebrar o oligopólio existente, através da regulamentação do setor, que permitiria abrir o espectro das comunicações para outros atores. Por que? Porque, na verdade, apesar das críticas a aspectos secundários, a grande mídia apoia todos os projetos importantes do governo: o pagamento da dívida sem auditoria, os aumentos da taxa de juros (supostamente para conter a inflação), as usinas hidrelétricas na Amazônia, a transposição do S. Francisco, o leilão de Libra… As críticas da grande mídia mantêm a aparência de que os interesses da direita não estão sendo atendidos e que o governo é “de esquerda”. A manutenção desta aparência interessa aos que querem se manter no poder. Na verdade, o governo receia a entrada em cena de outros meios de comunicação, capazes de trazer outras opiniões, de fazer a crítica a aspectos centrais da atual política. É por isso que, neste campo, tudo fica como está.
Existe uma direita mais à direita que este governo, sem dúvida. Que é possível piorar, é sempre possível. Mas que este governo está montado para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos, também não há dúvida. Ele tem certamente várias políticas louváveis, faz o enfrentamento da pobreza, reduz a miséria, melhora a capacidade de consumo dos pobres com mais crédito. Mas não muda as estruturas geradoras da desigualdade social e, por isso, continua transferindo a maior parte da renda e da riqueza do país para os mais ricos do país e do mundo. E entregando nossas riquezas naturais para o setor privado e as multinacionais. Isso mostra claramente a quem este governo serve em primeiro lugar.
Nota do autor:
1.- ASSIS, José Carlos de (2005). A Macroeconomia do pleno emprego. In: SICSÚ, João, PAULA, Luiz Fernando de, MICHEL, Renaut (orgs.) (2005). Novo desenvolvimentismo: um projeto nacional de crescimento com eqüidade social. Barueri, Manole; Rio de Janeiro, Fundação Konrad Adenauer, p. 77-93.




50 verdades sobre o caso dos 5 de Cuba

Cuba está submetida há décadas por  violento e injusto bloqueio/embargo econômico imposto pelos Estados Unidos  e se isso não bastasse constata-se que parte do seu território está sendo ocupado  pela base militar de Guantánamo (que opera também como prisão), onde seu poderoso vizinho imperialista se diverte praticando os maiores crimes contra a humanidade em seus  prisioneiros de guerra.  Manter em prisão estadunidense os  quatro restantes heróis cubanos sob a acusação infundada de que são terroristas é mais um ato de agressão covarde dos Estados Unidos contra  pessoas dignas e a uma nação corajosa e politicamente determinada que não se curva às imposições da força bruta do império. Jacob David Blinder
 
ESSES SÃO OS CINCO HERÓIS CUBANOS: GERARDO HERNÁNDEZ, ANTONIO GUERRERO, RAMÓN LABAÑINO, FERNANDO GONZÁLEZ E RENÉ GONZÁLEZ FORAM ENTÃO VÍTIMAS DE UM JULGAMENTO ARBITRÁRIO, NO QUAL UM GRANDE ESPETÁCULO MIDIÁTICO FOI MONTADO PARA PUNIR EXEMPLARMENTE AQUELES QUE ESTAVAM A SERVIÇO DE SUA PÁTRIA. RENÉ GONZÁLEZ POR TER DUPLA CIDADANIA  CUBANA/ESTADUNIDENSE RECEBEU PENA MAIS LEVE E JÁ ESTÁ EM LIBERDADE RESIDINDO AGORA EM CUBA JUNTO À SUA FAMÍLIA. 
 
50 verdades sobre o caso dos 5 de Cuba
 
Salim Lamrani*
 
Opera Mundi/Patria Latina 01/11/2013
 
Desde 1998, agentes da inteligência cubana estão presos nos EUA por se envolverem com terrorismo contra a Ilha. Há 15 anos, Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando e René González, eram acusados de conspiração e espionagem. “Os Cinco” – como são conhecidos – eram agentes da Rede Vespa, um seleto grupo de infiltrados que combatia os atos terroristas das organizações anticastristas da Flórida.
 
1. Desde o triunfo da Revolução, em 1959, Cuba tinha sido vítima de uma intensa campanha de terrorismo procedente dos Estados Unidos, com o objetivo de derrubar Fidel Castro. Segundo os arquivos de Washington que foram tornados públicos, entre outubro de 1960 e abril de 1961, a CIA introduziu na ilha 75 toneladas de explosivos e 45 toneladas de armas. No espaço de sete meses, realizou 110 atentados com dinamite, fez explodir 200 bombas, descarrilhou 6 trens, queimou 150 fábricas e desencadeou 150 incêndios nos canaviais. A CIA apoiou cerca de 300 grupos paramilitares com um total de 4 mil indivíduos.
 
2. Em 1971, a CIA usou armas químicas e biológicas contra Cuba, introduzindo a peste suína. Esse atentado provocou a morte de meio milhão de cabeças de gado, principal fonte de proteínas da ilha.
 
3. No dia 6 de outubro de 1976, Luis Posada Carriles e Orlando Bosch, antigos agentes da CIA, perpetraram o primeiro ato de terrorismo aéreo da história do continente americano e fizeram explodir em pleno voo um avião civil da Cubana de Aviación. No total, 73 pessoas perderam a vida, entre elas toda a equipe juvenil cubana de esgrima, que acabara de ganhar os jogos pan-americanos.
 
4. Orlando Bosch, já falecido, nunca foi julgado pelo atentado de Barbados que custou a vida de 73 pessoas. Entretanto, não faltavam provas. Um relatório do Departamento de Justiça [dos EUA], dizia o seguinte: Orlando Bosch "expressou e demonstrou várias vezes uma vontade de provocar feridas e causar a morte de modo indiscriminado”. Joe Whitley, então vice-ministro de Justiça, destacou nesse relatório as razões pelas quais Bosch, que estava preso nos Estados Unidos por atacar com uma bazuca um barco polaco na baía de Miami, deveria ser deportado quando saísse da prisão. "A explosão do avião civil cubano, no dia 6 de outubro de 1976, era uma operação da CORU [Coordenação das Organizações Revolucionárias Unidas, por sua sigla em inglês, grupo anticastricastrista formado, entre outros, por Bosch e Posadas], sob a direção de Bosch”. Mas ele não foi deportado para Cuba como desejava Whitley. No dia 20 de julho de 1990, George W. Bush decidiu conceder-lhe perdão presidencial, atendendo o requerimento do lobby cubano de Miami. Pouco tempo depois, como forma de agradecimento, seu filho Jeb Bush foi eleito governador da Flórida.
 
5. Orlando Bosch nunca negou seu passado terrorista. No dia 5 de abril de 2006, Juan Manuel Cao, jornalista do Canal 41 de Miami, conversou com Bosch:
- Juan Manuel Cao: O senhor derrubou esse avião em 1976?
- Orlando Bosch: Se te digo que estava envolvido estaria me culpando e se te digo que não participei dessa ação, você me diria que sou mentiroso. Então não vou confirmar minha participação e tampouco vou negá-la.
- JMC: Nessa ação, 76 [na verdade 73] pessoas foram assassinadas.
- OB: Não, menino, na guerra que nós cubanos que amamos a liberdade travamos contra o tirano, é necessário derrubar aviões, é necessário afundar barcos, é necessário estar pronto para atacar tudo o que estiver ao seu alcance.
- JMC: O senhor não tem nenhum arrependimento pelos que morreram nesse atentado, por suas famílias?
- OB: Quem estava a bordo desse avião? Quatro membros do Partido Comunista, cinco norte-coreanos, cinco [na verdade onze] guianenses. Porra, menino! Quatro membros do Partido! Quem estava presente? Nossos inimigos!
- JMC: E os esgrimistas? E as crianças a bordo?
- OB: Estava em Caracas. Vi as crianças na televisão. Eram seis. Depois da competição, a capitã das seis dedicou seu triunfo ao tirano etc. Fez um discurso muito elogioso para o tirano. Já estávamos de acordo em Santo Domingo, qualquer pessoa que vem de Cuba e que glorifica o tirano deve correr os mesmos riscos que esses homens e mulheres que lutam contra essa tirania.
- JMC: Se tivesse de encontrar os familiares das vítimas, não seria difícil...?
- OB: Não, porque no final das contas, os que estavam presentes tinham de saber que cooperavam com a tirania de Cuba.
 
6. Em 1981, a CIA introduziu em Cuba a dengue hemorrágica, um vírus estranho ao continente americano, que causou 344.203 vítimas e provocou a morte de 158 pessoas, entre elas 101 crianças.
 
7. Em 1997, uma onda de atentados terroristas golpeou a indústria turística cubana, com dezenas de vítimas. Fabio di Celmo, um jovem turista italiano, perdeu a vida na explosão de uma bomba no hotel Copacabana.
 
8. No dia 12 de julho de 1998, em uma entrevista para o New York Times, Luis Posada Carriles reivindicou a paternidade intelectual dos atentados de 1997. Segundo ele, o italiano "encontrava-se no lugar errado na hora errada”. Não expressou nenhum arrependimento. "Durmo como um bebê”. Posada Carriles nunca foi julgado por suas atividades terroristas e vive tranquilamente em Miami sob a proteção dos Estados Unidos, que se nega a julgá-lo e extraditá-lo para Cuba ou para a Venezuela, onde ele também cometeu crimes nos anos 70. Não obstante, o governo dos Estados Unidos, reconhece "os importantes antecedentes criminais e de violência” de Posada Carriles, "nos quais morreram civis inocentes”, assim como o "perigo [que representa] para a segurança nacional dos Estados Unidos e para a comunidade”.
 
9. Não existe a menor dúvida sobre a culpabilidade de Posada Carriles. Além da entrevista ao New York Time e da declaração de Washington, os arquivos do FBI e da CIA, tornados públicos respectivamente em 2005 e 2006, classificam Posadas Carriles como "o pior terrorista do hemisfério”. Da mesma maneira, Posada reivindica abertamente sua trajetória terrorista em sua autobiografia Los caminos del guerrero ["Os caminhos do guerreiro”].
 
10. Assim, de 1959 a 1997, os Estados Unidos realizaram não menos de 5.780 ações terroristas contra Cuba, que custaram a vida de 3.478 pessoas e incapacitaram outras 2.099. O próprio Fidel Castro foi vítima de 637 tentativas de assassinato.
 
11. A extrema direita de origem cubana, organizada e financiada pela CIA ao longo de décadas, preparou a grande maioria dessas agressões a partir da Flórida. Atuou com toda impunidade porque se beneficiou historicamente da proteção de Washington. No começo dos anos 1990, frente ao recrudescimento dos atos terroristas, Cuba decidiu enviar vários de seus agentes para se infiltrarem nessas facções de exilados envolvidos na violência.
 
12. Estes agentes puderam impedir cerca de 170 atentados contra Cuba, informando a tempo as autoridades de Havana.
 
13. Em junho de 1998, o governo de Havana, depois de conseguir reunir um volumoso relatório sobre 64 pessoas envolvidas no terrorismo contra Cuba que viviam na Flórida, chamou importantes responsáveis do FBI. Os Estados Unidos se expressaram a respeito: "Em junho de 1998, depois de uma série de atentados e de ameaças de ataques a bomba contra cidadãos cubanos, uma equipe do FBI se reuniu em Havana com as autoridades cubanas. As conversas foram centradas nas acusações de que residentes estadunidenses teriam participado de uma conspiração terrorista vinculada a atentados a bombas. Naquela época, as autoridades cubanas e do FBI trocaram provas que deveriam ser analisadas em Washington D.C.”.
 
14. Até hoje, apesar das numerosas provas, nenhuma das 64 pessoas foi perturbada pelas autoridades estadunidenses.
 
15. Três meses depois, no dia 12 de setembro de 1998, depois de uma minuciosa investigação, o FBI prendeu cinco agentes cubanos infiltrados nas facções terroristas de Miami: René González Sehwerert, Ramón Labañino Salazar, Fernando González Llort, Antonio Guerrero Rodríguez e Gerardo Hernández Nordelo.
 
16. No dia 14 de setembro de 1998, a promotoria do Florida Grand Jury [o júri popular da Flórida] acusou os cinco de se infiltrarem em grupos terroristas. A acusação era legalmente insustentável. O júri retificou seu procedimento e apresentou 26 acusações. A primeira acusação refere-se a "uma conspiração para cometer crimes contra os Estados Unidos”, como agentes do governo cubano. A segunda expõe "uma conspiração para comunicar a Cuba informações relativas à defesa nacional dos Estados Unidos”. A terceira acusa Gerardo Hernández de um homicídio quádruplo doloso. Segundo a promotoria, ele seria diretamente responsável pelos acontecimentos de 24 de fevereiro de 1996, quando dois aviões da organização terrorista Hermanos al rescate foram derrubados pela segurança aérea de Havana, depois de violar várias vezes o espaço aéreo cubano.
 
17. Durante todo o julgamento, o promotor não foi capaz de apresentar qualquer prova dessas três acusações, negadas pela defesa.
 
 
18. As outras 23 acusações são menores e se referem ao uso de uma falsa identidade, ao fato de não se matricular como agente de uma potência estrangeira etc. A defesa reconheceu essas violações e invocou o "estado de necessidade”, que estipula que é possível ignorar a legislação se o objetivo é impedir a realização de um mal maior. Por exemplo, a invasão de um domicílio para apagar um incêndio constitui tecnicamente uma violação de propriedade, mas, uma vez que o objetivo é impedir que a casa se queime, a lei não persegue o autor da dita infração. A defesa admitiu que os 5 tinham violado a lei de um ponto de vista técnico, mas explicou que era necessário. Se os 5 tivessem revelado sua verdadeira identidade, não teriam podido infiltrar-se nas facções terroristas e impedir os atentados contra Cuba.
 
19. Como a promotoria não podia provar os atos de espionagem, decidiu acusar os 5 de se conspirarem para cometer atos de espionagem. Tal acusação não requer provas. Basta convencer o júri que "para além de uma dúvida razoável”, eles são culpados.
 
20. Desde sua prisão até o dia 3 de fevereiro de 2000, isto é, durante 17 meses, os 5 estiveram confinados em celas de isolamento, longe dos demais detidos. Estiveram no "buraco” durante todo esse período sem comunicação exterior. Não obstante, o código penal dos Estados Unidos prevê o isolamento somente para indivíduos que cometeram crimes de sangue e somente durante um período máximo de 60 dias.
 
21. Durante o julgamento, a promotoria invocou a Lei de Procedimentos para a Informação Secreta e apresentou ao júri elementos contra os acusados. Ao mesmo tempo, proibiu a defesa de consultá-los e, por conseguinte, poder rebatê-las perante o Tribunal. Assim, 20 mil páginas de documentos foram usadas contra os 5, sem direito à réplica.
 
22. Consciente da fragilidade da acusação pela ausência de provas factuais, o promotor repetiu três vezes durante o julgamento que os 5 tinham chegado à Miami "para destruir os Estados Unidos”, sem reação da presidenta do Tribunal.
 
23. O julgamento aconteceu em Miami, cidade que os exilado cubanos, hostis ao governo de Havana, controlavam em todos os níveis (prefeitura, polícia, meios de comunicação etc.). Era, então, impossível qualquer veredito imparcial. O Tribunal se negou a transferir o julgamento para Fort Lauderdale, a 23 quilômetros de Miami, violando a sexta emenda da Constituição dos Estados Unidos, que estipula que "em todos os processos criminais, o acusado terá direito a um julgamento rápido e público, por um júri imparcial do Estado e do distrito onde o crime houver sido cometido”. Da mesma maneira, a legislação judicial estipula que todo acusado tem direito de pedir o traslado de seu julgamento a outra cidade ou distrito, se o Tribunal considera que o lugar onde o julgamento será conduzido está manchado de preconceitos contra os réus. Essa regra não foi respeitada.
 
24. Antes do começo do julgamento, uma violenta campanha midiática foi lançada contra os 5. Segundo a investigação realizada pelo psicólogo Garry Morgan no condado de Miami-Dade, a pedido da defesa e do Tribunal, 69% das pessoas confessaram não poderem ser justas e imparciais no caso de serem nomeadas membros do júri.
 
25. Por outro lado, os documentos federais revelaram que o governo dos Estados Unidos financiou vários jornalistas de Miami —44 no total— para que eles publicassem matérias negativas sobre os 5 e sobre Cuba. Isto, além de constituir uma grave violação da ética jornalística, influenciou o júri. Assim, durante os 194 dias que separam o momento de sua prisão, em setembro de 1998, e a data de sua condenação, em dezembro de 2001, o Miami Herald (305), e o Nuevo Herald (806), os dois principais diários de Miami, publicaram um total de 1.111 matérias —todas hostis— sobre o caso dos 5, ou seja, uma média de 5 por dia.
 
26. Os jurados foram ameaçados de morte se absolvessem os acusados, como mostram várias matérias da imprensa local. Assim, segundo uma reportagem do Nuevo Herald, intitulada, "Medo de ser jurado no julgamento de espiões”, de 2 dezembro de 2000, "o medo de uma reação violenta por parte do exilados cubanos, se um jurado decide absolver os cinco homens acusados de serem espiões dos regime da ilha, levou numerosos candidatos potenciais a pedir à juíza que os dispensassem de seu dever cívico”. Um membro do júri declarou: "Sim, tenho medo por minha segurança se o veredito não é do agrado da comunidade cubana.”.
 
27. As transcrições dos minutos do julgamento demonstram também que os 5 não podiam, de nenhuma maneira, ter um veredito justo e imparcial. A mesma juíza Joan A. Lenard, que presidiu o caso, se queixou da presença de cinegrafistas e de provocadores diante das portas do Tribunal que intimidavam os jurados. As câmeras os perseguiam até seus carros e as placas eram filmadas. Os membros do júri expressaram sua preocupação para a juíza, que fez um relatório a respeito: "Estão preocupados porque se sentem sob pressão e filmados.”.
 
28. Os argumentos que demonstram que os 5 não tinham realizado atividades de espionagem não foram apresentados pela defesa, mas por altos militares estadunidenses: o contra-almirante da Marinha de Guerra dos Estados Unidos Eugene Carroll, o general da Divisão do Exército dos Estados Unidos Edwards Breed Atkeson e o tenente-geral das Forças Aéreas dos Estados Unidos James R. Clapper. Para justificar a acusação de "conspiração para realizar atos de espionagem”, o promotor se valeu do fato de que Antonio Guerrero trabalhava em uma oficina de metalurgia na base de treinamento do exército em Boca Chica. A defesa interrogou os militares:
- Pergunta para Eugene Carroll sobre Boca Chica: "Que informação sobre a tática e os treinamentos da Marinha de Guerra dos Estados Unidos poderia ser útil ao Exército Cubano?
- Resposta: "Nenhuma que eu saiba”
- Perguntas para o General Atkeson: "Há diferença entre nossa relação com o Pacto de Varsóvia e a União Soviética na Europa e nossa relação com Cuba?”
- "Sim, há diferenças”.
- "Quais são essas diferenças?”
- "Os cubanos não constituem uma ameaça para nós” — Assim, Atkeson desmentiu as acusações do promotor ("Vieram para destruir os Estados Unidos”).
- "Qual é a relação entre o temor de ser atacado e a busca por informações?”
- "Penso que utilizam seus serviços de inteligência para descobrir se realmente nos preparamos para atacá-los.”
- "No exame que o senhor realizou dos documentos, encontrou documentos classificados como secretos?”
- "Não”.
- "Encontrou instruções para agentes buscarem documentos que possam prejudicar os Estados Unidos?”
- "Não.”.
- Perguntas para Clapper: "O senhor está de acordo em dizer que o acesso a uma informação não constitui ato de espionagem?”
- "Sim”.
- "O senhor, com sua experiência em inteligência, classificaria Cuba como uma ameaça militar para os Estados Unidos?”
- "Não, em absoluto. Cuba não representa uma ameaça.”.
- "Encontrou alguma prova que indique que Gerardo Hernández tentava conseguir informações secretas?”
- "Que eu me lembre, não”.
- "Em vez disso, o que o senhor descobriu é que ele pediu a alguém que conseguisse informações públicas, não é verdade?”
-"Sim”.
 
29. O FBI também confirmou à imprensa que os segredos militares estadunidenses nunca estiveram em perigo. O Pentágono interveio e garantiu que não dispunha de nenhum indício de que os 5 tiveram acesso a informações classificadas como secretas ou sensíveis.
 
30. Quanto a Hernández, acusado de assassinato, o promotor reconheceu que "vistas as provas apresentadas durante o julgamento, demonstrar o envolvimento de Gerardo Hernández representa um obstáculo impossível para o Estados Unidos”. Não obstante, a promotoria certifica que o avião de Hermanos al Rescate foi derrubado no espaço aéreo internacional, o que constituiria um grave crime. Agora veja, a publicação das imagens de satélite que estão à disposição dos Estados Unidos permitiria elucidar esse caso e indicar, sem dúvida, se o avião estava no espaço aéreo cubano ou internacional, e, então, confirmar ou não a culpabilidade de Gerardo Hernández, acusado de informar Cuba sobre a incursão aérea. Não obstante, desde 1996, Washington se nega e publicar essas imagens, alegando uma questão de segurança nacional, sendo que a Organização Civil Internacional, encarregada da investigação, a solicitou várias vezes.
 
31. Apesar da confissão do promotor e da ausência de provas, todos os membros do júri declararam Gerardo Hernández culpado de assassinato premeditado, sem fazer nenhuma pergunta ao acusado ou à promotoria. Não exigiram o menor esclarecimento a respeito. Os jurados escutaram um total de 74 testemunhas, entre elas 43 contra os acusados. Apesar de um relatório de várias dezenas de milhares de páginas, várias dezena de milhares de acusações, deliberaram em algumas horas e inclusive anunciaram de antemão o dia e a hora exata da publicação do veredito. Ricardo Alarcón, antigo presidente do Parlamento Cubano, enfatizou essa anomalia: "Não se pode anunciar uma hora precisa para publicar um veredito! É algo impossível já que ninguém sabe quanto tempo durarão as deliberações, a menos que o caso esteja decidido de antemão. Além disso, trata-se do julgamento mais longo da história da justiça estadunidense.”.
 
32. Os 5 foram severamente condenados. Gerardo Hernández Nordelo recebeu duas condenações perpétuas mais 15 anos. Ramón Labañino Salazar foi condenado à reclusão perpétua mais 18 anos. Antonio Guerrero Rodríguez, à prisão perpétua mais 10 anos. Fernando González Llort foi condenado a 19 anos de prisão e René Gonzalez Sehwerert a 15. No total, os 5 foram sentenciados a quatro prisões perpétuas mais 77 anos.
 
33. A título de comparação, Antonio Guerrero, que não teve acesso a nenhum documento secreto, foi condenado à mesma prisão perpétua que Richard Amis, o mais famoso espião da história dos Estados Unidos, que durante anos roubou milhares de documentos secretos e os vendeu à União Soviética
 
34. A juíza Lenard reconheceu que René González, condenado a 15 anos de prisão por não se registrar como agente de uma nação estrangeira no Departamento de Estado, tinha se infiltrado em facções violentas para evitar futuros ataques contra Cuba: "O terrorismo, seja ele cometido contra inocentes nos Estados Unidos ou em Cuba, em Israel ou na Jordânia, na Irlanda do Norte ou na Índia, é maléfico e mau. Mas os atos terroristas dos demais não podem desculpar a conduta equivocada e ilegal deste acusado nem de nenhum outro.”.
 
35. Assim, além de condenar os 5 a longas penas de prisão, o Tribunal teve o cuidado de proteger as facções violentas da Flórida vinculadas com o terrorismo contra Cuba. A promotoria fez um discurso bastante insólito. Além da pena de 15 anos de prisão contra René González, exigiu que fosse imposta a ele uma sanção de três anos de liberdade condicional depois de expressar sua "preocupação com o fato deste acusado, depois de cumprir sua pena, retome suas atividades”. A juíza aceitou o pedido e impôs a seguinte restrição a González: "Como condição especial, além da sua liberdade condicional, o condenado está proibido de se associar com indivíduos ou grupos tais quais os terroristas, os membros de organizações que preconizam a violência e figuras do crime organizado, ou visitar os locais específicos que eles frequentam”. Assim, a juiz Lenard admitiu a existência de grupos terroristas em Miami, sem atuar contra eles.
 
36. Em 2003, a defesa lançou o processo de apelação na Corte de Atlanta.
 
37. Em 27 de maio de 2005, o Grupo de Trabalho sobre a Detenções Arbitrárias das Nações Unidas declarou que a detenção dos 5 era arbitrária e que violava o Direito Internacional.
 
38. No dia 9 de agosto de 2005, a Corte de Apelação do 11º Circuito de Atlanta anulou o julgamento de primeira instância e reconheceu que não se tratava de um caso de espionagem nem de um atentado contra a segurança nacional.
 
39. A promotoria da Flórida apelou da decisão da Corte de Apelação de Atlanta. Pela primeira vez na história da Justiça dos Estados Unidos, uma Corte de Apelação decidiu voltar a revisar seu próprio julgamento. Normalmente, o caso segue para a Corte Suprema, mas depois de pressões políticas, o Tribunal aceitou ouvir de novo as duas partes, no dia 14 de fevereiro de 2006.
 
40. No dia 2 de setembro de 2008, a Corte de Apelação de Atlanta confirmou as sentenças de Gerardo Hernández e René González e invalidou as penas de Antonio Guerrero, Fernando González e Ramón Labañino. Na dita ocasião, a Corte reconheceu outra vez que os acusados não tinham transmitido nenhum documento secreto ou informação sobre a defesa nacional e invalidou a acusação de "conspiração para cometer atos de espionagem”. Por outro lado, em um documento de 16 páginas, Phyllis Kravitch, um dos três juízes da Corte de Apelação, afirmou que o governo dos Estados Unidos não tinha proporcionado os elementos de prova necessários para sustentar a acusação de "conspiração para cometer um assassinato” contra Gerardo Hernández.
 
41. No dia 15 de junho de 2009, a Corte Suprema fez conhecer sua decisão de não estudar o caso dos 5, sem dar explicações, apesar de os argumentos usados pela defesa, e apesar de 12 petições Amicus Curiae (amigos da Corte), instrumento que permite que personalidades e instituições jurídicas ou assembleias legislativas façam solicitações à Corte Suprema dos Estados Unidos sobre um caso. Trata-se da mais importante petição Amicus Curiae da história dos Estados Unidos. Entre esses Amicus Curiae encontravam-se 10 prêmios Nobel: Jose Ramos-Horta, Wole Soyinka, Adolfo Pérez Esquivel, Nadine Gordimer, Rigoberta Menchú, José Saramago, Zhores Alferov, Dario Fo, Günter Grass e Máiread Corrigan Maguire.
Nos Estados Unidos, a National Association of Criminal Defense Lawyers, os Cuban-American Scholars, a Iberoamerican Federation of Ombudsmen, o National Jury Project, o William C Velazquez Institute e a Mexican American Political Association, o National Lawyers Guild e a National Conference of Black Lawyers, a Civil Right Clinic da Howard University School of Law, a International Association of Democratic Lawyers, a Florida Association of Criminal Defense Lawyers-Miami Chapter, o Center for International Policy e o Council on Hemispheric Affairs também fizeram petições à Corte. A isso se somam as petições de Mary Robinson, antiga presidenta da Irlanda e Alta Comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas entre 1997 e 2002, do Senado mexicano por unanimidade, todas as tendências políticas, da Assembleia Nacional do Panamá, de 75 membros do Parlamento Europeu, de 56 parlamentares canadenses e de mais de uma centena de parlamentares britânicos, entre outros.
 
42. No dia 13 de outubro de 2009, o Tribunal da Flórida, obrigado pela Corte de Apelação de Atlanta a modificar as sentenças de 3 dos 5, tornou públicas as novas sentenças. Assim, a pena de Antonio Guerrero passou de perpétua mais 10 anos a 21 anos mais 5 de liberdade condicional. No dia 8 de dezembro de 2009, Fernando González viu sua sentença passar de 19 anos para 17 anos e 9 meses. No caso de Ramón Labañino, sua sentença de prisão perpétua mais 18 anos foi rebaixada para 30 anos de prisão.
 
43. No dia 14 de junho de 2010, a defesa entrou com um processo de apelação de habeas corpus para Gerardo Hernández. Trata-se do último recurso legal possível no sistema judicial estadunidense. Essa apelação é baseada em dois aspectos. Primeiro, a promotoria não apresentou nenhuma prova para a acusação de "conspiração para cometer um assassinato”. Assim, o acusado não foi beneficiado por um julgamento imparcial pela atmosfera hostil de Miami, e, sobretudo, porque tinha sido descoberto que o governo dos Estados Unidos pagou jornalistas locais para difundir notícias negativas sobre Cuba e os 5. Até hoje, o Tribunal não tomou sua decisão.
 
44. Os familiares dos 5 sofreram vários casos de tortura psicológica e moral. Adriana Pérez O’Conor, esposa de Gerardo Hernández, não pôde visitar seu marido desde 1998. No dia 25 de junho de 2002, conseguiu um visto para exercer seu direito de visita em Los Angeles, onde Hernández estava. Mas, ao chegar aos Estados Unidos, o FBI a prendeu, a interrogou por 11 horas a expulsou para Cuba, sem que ela pudesse voltar a ver seu marido.
 
45. Para impedir as visitas consulares dos 5, eles estão em penitenciárias diferentes nos quatro cantos do país.
 
46. No dia 7 de outubro de 2011, René González saiu da prisão depois de cumprir sua pena. Como foi também condenado a 3 anos de liberdade condicional por causa de sua nacionalidade estadunidense, ficou nos Estados Unidos. Em maio de 2013, a juíza Lenard aceitou seu pedido de voltar a Cuba, desde que ele renunciasse a sua cidadania estadunidense, o que ele fez.
 
47. Wayne S. Smith, embaixador dos Estados Unidos em Cuba entre 1979 e 1982, expressou seu ponto de vista sobre este caso: "Desde sempre, os cinco, Gerardo Hernádez, Luis Medina, Antonio Guerrero, René González e Rubén Campa eram membros dos serviços de inteligência cubanos. Entretanto, [não] foram mandados para os Estados Unidos para espionar o governo americano, suas instalações ou seus funcionários, mas para se infiltrarem nas organizações dos exilados cubanos que mantinham atividades terroristas contra Cuba. A ideia naquela época era, uma vez reunidas as provas, convidar representantes do FBI para que fossem a Cuba, e entregar a eles o relatório, com a esperança de que os Estados Unidos tomassem as medidas necessárias para impedir essas atividades. De acordo com esse plano, em junho de 1998, representantes do FBI foram convidados a ir a Cuba e se reuniram com seus pares cubanos.
Em seguida, regressaram aos Estados Unidos com 64 relatórios sobre as atividades dos exilados. Os cubanos esperavam que os Estados Unidos tomassem medidas para deter essas atividades. Esperaram em vão. Não se tomou nenhuma providência. Ao contrário, alguns meses mais tarde, aparentemente graças aos documentos que foram entregues pelos cubanos, o FBI prendeu os cinco cubanos e, em 2001, os submeteu a um julgamento totalmente manipulado no qual o sentimento anticastrista era efetivamente tão forte que era impossível reunir um júri imparcial [...]. A promotoria foi incapaz de apresentar qualquer prova de que os cinco estavam envolvidos em atividades de espionagem ou outros crimes (salvo o fato de serem agentes não declarados de uma potência estrangeira).”.
 
48. O coronel Lawrence Wilkerson, antigo chefe do Estado Maior do gabinete do ex- secretário de Estado Colin Powell (sob a administração Bush) também se expressou a respeito: "Este caso leva o prêmio: castigar com prisão perpétua homens que vieram aqui para determinar como e quando seu país seria atacado por pessoas que violam as leis norte-americanas. Estes homens estavam desarmados, não tentaram cometer nenhum dano físico aos Estados Unidos, e seus motivos eram proteger seus concidadãos de uma invasão e de reiterados ataques por parte de cubano-americanos que vivem na Flórida. E devemos nos perguntar também como é que nos tornamos um refúgio para supostos terroristas? Como é que nós —os Estados Unidos da América— podemos ter uma posição na nossa própria lista de estados patrocinadores do terrorismo?”.
 
49. Pela primeira vez, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas condenou um julgamento dos Estados Unidos e apontou que o "clima tendencioso e preconceituoso contra os acusados” era tal que era impossível para um tribunal de Miami dar prova da "objetividade e da imparcialidade necessárias para cumprir suas obrigações de um juízo equitativo”. A Anistia Internacional considera também que os 5 não se beneficiaram de um julgamento imparcial.
 
50. O caso dos 5 ilustra os dois pesos e as duas medidas que os Estados Unidos aplicam em sua "luta contra o terrorismo”. Não obstante, parece também que os meios de comunicação ocidentais não apenas censuram esse escândalo judicial e político, ignoram a história do terrorismo contra Cuba, senão também absolvem midiaticamente Luis Posada Carriles, o mais perigoso terrorista do hemisfério americano segundo o FBI, se negando a classificá-lo como terrorista.
Preferem outros termos, tais como "militante”, "militante cubano”, "militante anticastrista”, "exilado cubano”, "exilado anticastrista”, "militante anticomunista”, "anticomunista”. Assim, os meios ocidentais aceitam, assimilam e promovem a doutrina do "bom e do mau terrorista” que Washington elaborou, e parecem dispostos a aceitar tacitamente justificar um tipo de violência e denunciar o que qualificam de terrorismo arbitrário. O matiz varia de acordo com a vítima. Se é ocidental — mais precisamente se é originário de um país desenvolvido —, seus responsáveis são, com razão, criminais sem fé nem lei. Quando é do Terceiro Mundo, cubana, por exemplo, se transformam em "militante”, "militante cubano”, "militante anticastrista”, "exilado cubano”, "exilado anticastrista”, "militante anticomunista” o "anticomunista”.
 
*Salim Lamrani é doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris,  é professor titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama "Cuba. Les médias face au défi de l’impartialité", Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.
Texto: / Postado em 01/11/2013 ás 16:06
 
 


 
 
 
 

A política e sua negação jornalística

A Política e sua negação jornalística

sab, 02/11/2013 - 14:56

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Antes de discutir Política é preciso definir o que significa este termo. Todos os filósofos e cientistas sociais que se debruçaram sob o tema definiram Política à sua maneira com maior ou menor amplitude. Alguns deles até negaram sua existência ou necessidade, outros defenderam a superação do conflito político das classes pela administração das coisas.  Hannah Arendt costumava dizer que a Política é aquilo que existe no espaço comum voluntariamente criado por pessoas diferentes. Este espaço é frágil e pode ser alargado, com aumento da liberdade e da igualdade. Mas também pode ser destruído. Quando o espaço da Política  deixa de existir resta apenas a guerra e a terra devastada que separa inimigos irreconciliáveis. Me agrada bastante a definição de Hannah Arendt, em que a Política é tratada como um fenômeno histórico e, portanto, sujeito às inflexões das ações humanas. É com base nele que defendo a tese de que no Brasil nunca houve Política.

Em 1500 cá chegaram uns portugueses abatidos, barbudos e imundos. Em pouco tempo impuseram sua vontade pela força, tomando as terras, as índias e o trabalho dos índios. Entre portugueses e índios nunca houve espaço voluntário, exceto quando os colonos usavam as inimizades ancestrais entre as diversas etnias que habitavam o território para empregar uma tribo como tropa auxiliar na guerra contra outra tribo hostil. Estabelecidos na colonia, os portugueses começaram a importar escravos negros da África, explorando-os até a exaustão e castigando-os de maneira impiedosa. A terra devastada que existia entre colonos e índios se ampliou pela aquisição de novos espaços devastados entre colonos e negros escravizados. 

Todas as conquistas que a esquerda brasileira hoje considera históricas, como fim da escravidão e a proteção legal aos índios, não conseguiram construir um espaço voluntário entre os campos inimigos. No Brasil, se levarmos em conta as teses arendtianas, não há Política por dois motivos. Primeiro: nem a proteção aos índios (ainda considerados pouco mais que crianças), nem a libertação dos escravos (cujos descendentes seguem sendo discriminados e abatidos como moscas pelas PMs) foi negociada pelos grupos antagônicos em condições de igualdade jurídica.  Estas duas grandes inovações, recentes se levarmos em conta o tempo histórico, foram impostas pelos brasileiros bem nascidos como uma trégua concedida generosamente aos indigenas e aos negros para atender aos interesses nacionais (eufemismo para interesses dos donos do Estado brasileiro). Segundo: como não há e nunca houve um espaço criado voluntariamente pelos diversos atores sociais de maneira a por fim às chagas abertas pela colonização e escravidão, o Brasil permanece eternamente na ante-sala da barbárie colonial qualquer que seja seu regime político (muito embora não exista Política, mas apenas "regimes  que mascaram a inexistência dela") .

A inexistência de Política no Brasil explica satisfatoriamente todos os golpes de estado que ocorreram no país desde o final do século XIX. Ao menor sinal de perigo, os "donos do Estado brasileiro" nunca exitaram em usar a força bruta para recuperar o que consideram ser seu direito ancestral de governar com mão de ferro  o território que supostamente lhe pertence. O povo nunca precisou ser consultado, pois os descontentes sempre poderiam ser (e com certeza foram) reprimidos como se fossem negros fugidos ou índios rebeldes pelas forças policiais e militares. 

Entre a elite brasileira (que se considera magnânima apesar de sempre ter sido brutal) e o restante da população (mais ou menos brutalizada nas áreas pobres e favelizadas de nossas cidades) existe a imprensa. A função desta tem sido bastante evidente para aqueles que estudam sua História e a História do país. Os jornais brasileiros foram contra a libertação dos escravos e a favor do golpe militar de 1964, apoiaram a hedionda repressão militar em Canudos e cobriram de maneira bastante generosa as operações do Exército no Araguaia. O comportamento atual da imprensa brasileira tem sido exemplar.  No presente momento, a maioria dos veículos de comunicação do país impede a construção da Política ou a ampliação do pequeno espaço político laboriosamente manufaturado após o advento da CF/88. Eu mesmo já tive a oportunidade de notar como a imprensa brasileira hostiliza de maneira cruel  os indigenas (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/globo-silencia-os-indios e http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed691_band_tambem_silencia_os_indios ) e perigosamente criminaliza o movimento sem terra (http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_mst_e_o_jornalismo_homicida).  Na semana passada a propaganda jornalística contra o Black Bloc foi bastante intensa. Os telejornais entrevistaram autoridades, especialistas e policiais e quase todos eles exigiram Leis mais duras e maior repressão política nas ruas.

Geraldo Alckimin foi intensamente mostrado pelos telejornais transmitidos aos cidadãos paulistas nos últimos dias.  Mas nenhum jornalista, destes que se dizem isentos e que criticam o jornalismo chapa branca, ousou perguntar-lhe se ele estava usando o Black Bloc como uma cortina de fumaça para desviar a atenção do respeitável público da roubalheira tucana no Metrô. A palavra do governador de São Paulo é verdade, sempre que ele precisa ampliar a terra devastada ou impedir a construção da Política a imprensa cumpre sua função histórica de deslegitimar seus adversários. Curiosamente foi exatamente nesta  semana de campanha jornalística contra as manifestações e seus defensores mascarados que um Procurador Federal arquivou apressadamente o processo aberto para investigar a referida roubalheira tucana no Metrô paulista. Coincidência? 
 
Ninguém pode dizer que os donos das empresas de comunicação não cuidam bem de seus próprios interesses ao preservar  a terra devastada no país. No Brasil  são poucas as famílias que controlam a mídia. As  bandas de TV e de rádio são públicas e exploradas por particulares mediante concessão, mas nenhum governo jamais ousou revogar o direito de exploração ao dono de um canal de TV. Nem mesmo a Rede Globo, que deve bilhões de reais de impostos ao Estado, teme ver cassado seu sagrado direito de continuar transmitindo propaganda contra a expansão do espaço político. Ao contrário da Argentina, que fez aprovar uma Lei de Meios para combater o monopólio na imprensa, o Brasil continua tratando liberdade de empresa como se fosse  liberdade de imprensa (sobre este assunto vide  http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_liberdade_de_imprensa_e_a_liberdade_de_empresa ). 

O momento de legitimar a Política no Brasil chegou. Chega de mais do mesmo, cansamos desta história infame de maior repressão policial. O governo tem que enfrentar os monopólios de mídia para reduzir a terra devastada que segue tomando conta do nosso país. 

Uma questão de justiça

Uma questão de Justiça





Postado por Marcos Weric as 22:26 h


Diante da polêmica instalada depois da inesquecível e histórica conquista do meu Botafogo da Paraíba. O Botafogo que me fazia sair de casa no longínquo bairro do Valentina de Figueiredo, num 120 lotado, com dinheirinho contado da passagem e um Passe Legal na mão, Encarar o sol na cara durante duas horas, pulando e gritando na antiga Anjinhos do Belo, fundada por mais um bando de abnegado loucos por futebol e loucos pelo BELO. Demorou, mas o meu Botafogo me deu uma alegria imensa. Mas como o destino tem sua sabedoria, quis ele que uma conquista como essa não viesse na minha adolescência, mas viesse agora para que pudesse dividir essa felicidade tremenda e inenarrável com meu filho mais velho, que no auge dos seus sete anos, pulou, gritou e se emocionou comigo gritando o que eu nunca tinha gritado no auto dos meus trinta e poucos anos. Botafogo Campeão Brasileiro.
A longa introdução se dá para que se tenha noção do que representa uma conquista como está para quem lá de muito longe acompanha, sofre e torce por seu time de coração. Como por exemplo, o cidadão Luciano Cartaxo, a quem vejo com freqüência no Almeidão desde quando era vereador e não podia fazer muita coisa, a não ser torcer, para ajudar o nosso Botafogo.
Como prefeito, Cartaxo concedeu ao Botafogo e aos demais times da Capital, um suporte financeiro jamais visto, que como consequência teve o Botafogo Campeão Paraíba e Brasileiro e o CSP e o Auto Esporte, entre os primeiros colocados da competição estadual. Algo que há muito tempo não se via.
Imagino a felicidade de Cartaxo com a conquista de ontem. Imagino como torcedor, por que vivi a mesma emoção, apaixonado que também sou pelo Belo. Mas como prefeito, que, repito, foi quem viabilizou suporte financeiro jamais visto pelo Botafogo, nem de governo, nem de empresas, sem o qual seria impossível manter um plantel tão qualificado que garantiu as conquistas em campo, não posso imaginar.
Assim como não posso imaginar a decepção de ver a diretoria do clube se envolver uma trama ardilosa, para trazer a baila um personagem que até então se manteve a margem de todo o processo, que se quer acompanhou um jogo no Almeidão, ou na Graça, ou muito menos fora de casa, que chegou a criticar a "política de pão e circo", implantada pelo prefeito da Capital, e agora surge todo polpudo entregando taça e recebendo a primeira visita oficial da taça e da diretoria.
Então façamos o seguinte, tiramos o fator material de lado, esqueçamos que entrou com dinheiro e quem entrou com reforma de campo, colocamos em discussão apenas uma coisa. Presença. Quem foi mais presente nos momentos tristes, difíceis, alegres e de euforia como ontem? Quem esteve ao lado do time, da diretoria, da torcida, na arquibancada? Quem?
Somente por isso, o que seria mais justo?
@marcosweric
facebook.com/marcos.weric

É só uma questão de reconhecimento.

É só uma questão de reconhecimento

João Pessoa vive um momento nunca antes vivido em sua história futebolística. Passamos por um jejum de dez anos sem a conquista do título de campeão paraibano. Interessante que o período coincide com o tempo em que o atual governador está no poder (oito na prefeitura e dois no estado). Em 2013, não só o Botafogo foi Campeão paraibano, como também trouxe para a nossa capital o título inédito de Campeão Brasileiro da série D. O pessoense recuperou sua auto estima esportiva, graças à determinação do prefeito Luciano Cartaxo em investir no nosso futebol com o programa “João Pessoa de todas as torcidas”. Os resultados não tardaram a aparecer. Estamos num tempo de festa, de euforia, de alegria.
 
De repente procuram transformar esse instante de comemoração num mote para discussões políticas e tentam puxar o prefeito para esse embate. Até onde tenho conhecimento em nenhum momento o prefeito Luciano Cartaxo reclamou do fato de não ter sido chamado para a entrega da taça ao Botafogo por sua conquista inédita de Campeão Brasileiro da Série D. Ninguém pode afirmar, portanto, que ele estaria querendo politizar o feito histórico do time pessoense. O fato de, estranhamente, não ter sido convidado para a entrega da taça ao Botafogo, não diminuiu em nada o contentamento do prefeito que comemorou na arquibancada, junto com os torcedores, como fez durante todo o certame. A sua aparição no pódio da vitória não seria determinante para que houvesse o reconhecimento de sua condição de torcedor apaixonado do Belo. Todo mundo sabe que ele sempre acreditou no Belo e nunca nenhum prefeito investiu tanto num time da capital quanto ele fez no seu primeiro ano de governo.
O que se lamenta é a mistura do futebol e política. O que surpreende é ver políticos se aproveitarem da festa e do título para aparecerem, quando se tem conhecimento que há muito tempo não pisam no estádio para torcer pelo time, tanto no certame estadual, quanto no campeonato brasileiro. O que causa surpresa, e uma certa indignação, é ver diretores se curvarem à vontade de alguém que não ajudou em absolutamente nada para que esse troféu viesse para a galeria de títulos do Botafogo. O que provocou constrangimento dos verdadeiros torcedores do Belo foi não ver, agora, o devido  reconhecimento por parte do presidente da contribuição que a prefeitura municipal de João Pessoa ofereceu ao time. Se teve gente interessada em politizar o evento não foi o prefeito de João Pessoa, que continua tão apaixonado pelo Botafogo quanto antes e se mantém na disposição de permanecer ajudando o soerguimento do futebol da capital, independente de honrarias que lhes sejam prestadas. Essa insatisfação com a ingratidão acontecida não partiu do prefeito e sim de integrantes da torcida, que dão valor à palavra reconhecimento.
O importante neste momento é comemorar o título. Não permitir que façam dele uma bandeira de luta político-partidária. Se o governador no domingo passado, finalmente, se declarou torcedor ardoroso do clube, batamos palmas. Esperemos que no próximo ano ele ajude financeiramente o Botafogo, tanto quanto o prefeito Luciano Cartaxo fez neste ano. O botafoguense quer vê-lo com a camisa do clube no Almeidão e nos estádios onde nosso time de coração esteja disputando partidas oficiais e não apenas na hora da decisão. Queremos admitir que enfim ele passou a acreditar no Belo e vai contribuir para que em 2014 galguemos mais um degrau no acesso à série B.
O torcedor do Botafogo não está interessado nas disputas de palanques da próxima eleição, está vibrando e desejando ver seu time bi-campeão paraibano, campeão da Taça Nordeste e classificado entre os finalistas da série C do Campeonato Nacional. O resto é politicagem que não concorre para o engrandecimento do nosso futebol. Bola pra frente.
 
 
Artigo de Rui Leitão em WSCOM