ACEITAÇÃO DE MORO DEVERIA PROVOCAR ANULAÇÃO DE SENTENÇA DO TRIPLEX, DIZ COMITÊ
Segundo o Comitê de Solidariedade Internacional em Defesa de Lula e da Democracia no Brasil, a aceitação de Sérgio Moro para ser ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro deveria provocar "a anulação imediata da sentença proferida contra o ex-Presidente Lula. Deveriam também colocar os demais processos abertos pelo juiz Moro sob suspeita em respeito à ética e à legislação"
247 - O Comitê de Solidariedade Internacional em Defesa de Lula e da Democracia no Brasil emitiu uma nota em que manifesta "inconformidade com o anúncio da indicação do juiz, Sérgio Moro, para o cargo de ministro da justiça em contraste com as repetidas afirmações de que não tinha pretensões políticas".
"O convite e a sua aceitação deveriam provocar a anulação imediata da sentença proferida contra o ex-Presidente Lula. Deveriam também colocar os demais processos abertos pelo juiz Moro sob suspeita em respeito à ética e à legislação", diz o texto.
De acordo com a nota, "o empenho do juiz Moro em condenar o ex-Presidente Lula, num processo considerado falho e sem provas por eminentes juristas brasileiros e internacionais, bem como sua insistência em mantê-lo preso, mesmo quando este teve sua liberdade concedida por um juiz de instância superior e sua inelegibilidade ainda não estava consumada, demonstra que na verdade estava eliminando o rival mais forte do candidato vencedor".
MOURÃO CONTRADIZ BOLSONARO E AFIRMA: IMPRENSA NÃO É INIMIGA
O general Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que a comunicação da equipe do futuro do governo é ruim e criticou os que tratam a imprensa como inimiga; ele disse: "a comunicação nossa é ruim, né? Ruim é até um elogio"; o general ainda afirmou: "eu vou arrumar alguém que faça uma comunicação decente, nós temos que arrumar alguém. Já falei várias vezes"; e adotou linha diversa da escolhida pelo ex-capitão, no que diz respeito à imprensa: "em primeiro lugar: não se pode tratar a imprensa como inimiga em hipótese alguma"
247 - O General Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que a comunicação da equipe do futuro do governo é ruim e criticou os que tratam a imprensa como inimiga. Ele disse: "a comunicação nossa é ruim, né? Ruim é até um elogio". O general ainda afirmou: "eu vou arrumar alguém que faça uma comunicação decente, nós temos que arrumar alguém. Já falei várias vezes". E adotou linha diversa da escolhida pelo ex-capitão, no que diz respeito à imprensa: "em primeiro lugar: não se pode tratar a imprensa como inimiga em hipótese alguma".
A reportagem do jornal Folha de S. Paulo destaca que "ele defendeu que o futuro governo encontre uma pessoa capaz de ter empatia, conhecimento e que 'saiba transmitir aquilo que o governo quer transmitir'."
A matéria relembra os desentendimentos entre Mourão e Bolsonaro durante a campanha: "ao longo da campanha, as declarações de Mourão levaram o presidente eleito a pedir que ele deixasse de falar. Um dos episódios mais emblemáticos foram as críticas ao 13º salário, ainda antes da disputa do primeiro. Em evento com empresários no Rio Grande do Sul, o general chamou o benefício de 'jabuticaba'. Além de desmentidos, Bolsonaro acabou anunciando que pagaria 13º para beneficiários do programa Bolsa Família, para compensar a fala desastrosa do vice".
Imprensa internacional vincula escolha de Moro à prisão de Lula
Veículos tradicionais como Le Monde, El País, Financial Times, BBC, entre outros, criticam o fato de Sérgio Moro ter aceitado o ministério de Bolsonaro, destacando que o juiz foi o responsável pela prisão do ex-presidente
Não poderia ser pior a repercussão internacional da escolha de Sérgio Moro para ser o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Alguns dos principais veículos espalhados pelo mundo veicularam em seus portais que o juiz só foi convidado para o caro, e com amplos poderes, porque prendeu o ex-presidente Lula e, com isso, facilitou a vitória do militar.
O francês Le Monde, já antes da confirmação, publicou: “Será que foi por ter emprisionado o líder da esquerda brasileira que o magistrado será recompensado por Jair Bolsonaro?”. O título do texto era: “No Brasil, as ambiguidades do juiz anticorrupção Sergio Moro com a extrema direita”.
Com a ratificação de Moro, o Le Monde ironizou as escolhas de Bolsonaro para sua equipe de ministros: “Brasil: militar, juiz anticorrupção, astronauta… os futuros ministros do governo Bolsonaro”, se referindo ao general Augusto Heleno (ministro da Defesa), o astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Sergio Moro. O jornal chama Bolsonaro de “extrema direita” e ressalta que Moro condenou Lula.
O El País, da Espanha, colocou em sua manchete: “O juiz que encarcerou Lula da Silva aceita ser Ministro da Justiça de Bolsonaro” e chama o militar de “herói do antipetismo”.
O autor da matéria, Stephen Gibbs, por meio de sua conta no Twitter, disse: “No fim da nossa conversa com o juiz Moro, ele falou que não se candidataria para a presidência do Brasil, como muitos tinham-no encorajado a fazer, e que isso atrapalharia a lei. Contudo, ele acaba de aceitar um cargo no governo Bolsonaro como ministro da Justiça”.
O portal da BBC destaca que o “maior escalpo” obtido por Moro foi do “esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, o líder nas eleições antes de sua condenação a 12 anos de prisão por corrupção em abril passado”.
“Grande erro”
Michael Reid, editor da tradicional revista britânica The Economist, definiu a escolha de Moro para o ministério como “um grande erro. Agora a prisão do Lula parece um ato político”. Já o texto da agência notícias AP, dos Estados Unidos, afirma que “Moro condenou políticos de diversos espectros políticos. Mas tomou decisões que muitos interpretam como enviesadas. Para Moro pessoalmente, que agora vai se tornar um político parte de um governo, e para o futuro da Lava Jato, a decisão traz grandes riscos”.
Outra agência de notícias, a Bloomberg, especializada em economia, a indicação menciona os “benefícios para Bolsonaro, que são óbvios: escolher um herói da lei e ordem é uma aposta segura para aumentar o apoio da sua base conservadora”.
Na Itália, por sua vez, onde a Lava Jato sempre é comparada à Operação Mãos Limpas, o site da rede de TVs e rádios RAI veiculou uma reportagem tentando explicar a questão brasileira. “Desde que a Lava Jato começou em 2014, caíram políticos de todos os lados, mas Moro é acusado de ser particularmente impiedoso com a esquerda, especialmente com o ex-presidente Lula”.
BOLSONARO RECONHECE QUE MORO FOI SEU CABO ELEITORAL
“Você tem que reconhecer o trabalho dele, muito bem feito. Inclusive em função do combate à corrupção, da operação Lava Jato, as questões do mensalão, entre outros, me ajudou a crescer, politicamente falando”, disse Bolsonaro em sua primeira coletiva a jornalistas como presidente eleito. Sergio Moro aceitou ser ministro da Justiça depois de prender o ex-presidente Lula, que, segundo todas as pesquisas, venceria a eleição presidencial em primeiro turno
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente eleito Jair Bolsonaro reconheceu que o trabalho do juiz federal Sérgio Moro, anunciado nesta quinta-feira como futuro ministro da Justiça, na operação Lava Jato o ajudou a crescer politicamente.
“Você tem que reconhecer o trabalho dele, muito bem feito. Inclusive em função do combate à corrupção, da operação Lava Jato, as questões do mensalão, entre outros, me ajudou a crescer, politicamente falando”, disse Bolsonaro em sua primeira coletiva a jornalistas como presidente eleito.
Bolsonaro afirmou desconhecer que tenha havido contato de sua equipe com Moro ainda na campanha eleitoral.
“Foi o Paulo Guedes que conversou com ele”, disse, mencionado o futuro comandante do superministério da Economia. “Não, não foi durante a campanha não, pelo que eu sei, foi depois.”
Moro irá comandar um Ministério da Justiça ampliado, agora voltando a cuidar da área de segurança pública e ainda outros órgãos de controle interno do governo. O juiz, responsável pela operação Lava Jato em primeira instância em Curitiba, disse que decidiu aceitar o convite para poder implementar uma agenda anticorrupção no país. [nL2N1XC1EY]
CONGRESSO
Bolsonaro afirmou que não trabalhará para fazer os presidentes de Câmara dos Deputados e do Senado mas afirmou que vai apoiar candidatos que tenham o compromisso de ajudar na aprovação de pautas e projetos do governo.
Bolsonaro disse que o governo eleito precisa ter humildade e apoiar nomes de outras legendas, for a do seu partido, o PSL, que elegeu a segunda maior bancada na Câmara, mas tem a perspectiva de se tornar a primeira com transferência de deputados de siglas que não cumpriram a chamada cláusula de barreira.
“Tem que apoiar alguém de outro partido logicamente com o compromisso de liberar a pauta para questões nossas”, disse Bolsonaro. “A gente poderia angariar mais simpatia de parlamentares e para o nosso projeto.”
Bolsonaro insistiu que o compromisso que o futuro presidente da Câmara precisa ter é “não segurar a nossa pauta”.
Na coletiva, o presidente eleito garantiu que se alguém de seu governo for denunciado por irregularidade, vai responder por isso, e que não vai interferir em qualquer investigação durante seu mandato.
A surpresa midiática com a decisão de SErgio Moro de aceitar a recompensa por eleger Bolsonaro é reveladora da metástase do jornalismo hegemônico brasileiro.
É a confissão de cumplicidade e incompetência diante do dever de fiscalizar os atos do juiz e reportar tanto a conduta politica como as arbitrariedades cometidas no curso da Lava Jato.
E nem foram poucas nem discretas.
Moro seguiu o script traçado desde o início da operação para derrubar o PT e encarcerar Lula.
Concentrou a investigação no partido, usou e abusou de vazamentos para influenciar a opinião pública, grampeou ilegalmente a presidenta e levou o ex-presidente a depor sob vara.
Eram nítidas as ações parciais, seletivas e articuladas com objetivo de produzir fatos políticos.
Afetados diretamente – embora conduzidos por uma tibieza suicida chamada de republicanismo -, políticos petistas sempre acusaram o juiz de perseguir a sigla.
E tinham razão. Simples buscas por ano no Google permitem constatar como, desde 2014, receava-se o plano de cassar Dilma, prender Lula e entregar as urnas para a direita.
A mídia independente percebeu as manobras sob o verniz jurídico e, junto a veículos internacionais, denunciou a patranha.
Mas a imprensa hegemônica calou-se. Pior. Marchou, vergonhosamente, para desqualificar qualquer desconfiança sobre a conduta de Moro e tratou como ridículas todas as suspeitas.
Era questão óbvia fazer jornalismo. Mas nenhum veículo de massa cobrou, por exemplo, celeridade do CNJ para julgar desvios de Moro.
A comunidade jurídica nacional e internacional, estupefata, se mobilizou para destroçar a sôfrega sentença contra Lula no caso tríplex. E foi silenciada para o grande público.
O contraponto necessário era transmutado pela mídia nacional em “mimimi” petista – e o barco dos absurdos seguia sem contratempos: atropelo nos prazos processuais, desprezo a provas, subserviência absoluta à decisão morista.
Nenhuma matéria de fôlego na cobertura da mídia tradicional analisava a sério o teor político do conjunto das ações do juiz.
Quando o habeas corpus fugiu do roteiro, Moro teve a petulância de sair das férias e impedir a soltura de Lula – conduta ilegal e antiética sem precedentes na justiça brasileira.
Mas, covarde e conivente, o jornalismo hegemônico brasileiro minimizou. Assim como galgou o ápice da sabujice ao tentar desmerecer uma decisão da ONU a favor de Lula já na véspera da eleição.
Parte expressiva do mundo chiava, autoridades faziam romaria para se solidarizar com o ex-presidente. A situação fedia a injustiça. Mas os jornalistas taparam o nariz e mantiveram o alinhamento lavajateiro.
Não havia questionamento, repercussão. Ninguém emparedava Moro. Nem mesmo o caso Tacla Durán, nitidamente um indício internacional de reprovação à conduta de Moro, mereceu a atenção devida.
Esse jornalismo fez de Moro um intocável, imaculado.
A decisão de aceitar a recompensa por ajudar Bolsonaro – ao impedir o principal concorrente de disputar a eleição – foi descrita pela imprensa internacional de forma precisa: o pagamento com cargo público pelo serviço sujo de usar a justiça com fins políticos.
Inês morta, os artífices do endeusamento do juiz agora fingem surpresa e arrependimento com o descaramento do acordo de Moro com Bolsonaro – assim como parte dos bolsominions desiludidos com os óbvios impropérios anunciados pelo capitão.
Mas, claro, se recusam a reconhecer Lula como preso político e a exigir das autoridades competentes o reparo imediato dos danos causados pelo juiz à justiça e ao eleitorado do país.
São, com raras exceções, cúmplices de uma anomalia institucional e do esgarçamento da democracia brasileira. Ou cínicos cuja omissão proposital e calculada agora fingem desconhecer.
A opção de Moro de fazer política oficialmente e sem a toga só surpreende quem, durante anos, optou por bajular o juiz contra todas as evidências de má conduta esfregadas na cara da sociedade.
O tamanho do espanto, hoje, é a medida exata da corrosão cancerígena do jornalismo à brasileira – ou, muito pior, da falta dele.