segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A CEREJA NO BOLO DA DIREITA

a cereja no bolo da direita

Eugênio Aragão


Vivemos tempos difíceis de obscurantismo na política.

Há pouco mais de ano experimentamos um golpe protagonizado por trombadinhas travestidos de parlamentares, muitos, como agora vai se comprovando aos poucos, regiamente pagos para tanto.

Derrubaram uma presidenta séria e honesta, eleita com mais de 54 milhões de votos. Suas lideranças se encontram hoje presas ou prestes a ingressar no rol dos culpados por corrupção.

Entrementes o governo golpista, composto de maioria branca, masculina e sexagenária, derrogou direitos, passou a tratar com indiferença o discurso de ódio, reprimiu manifestações e destruiu políticas públicas em todos os setores.

O país está com sua economia no chão, com taxas recordes de desemprego e com perda de liderança internacional.

A política externa se resume a hostilizar governos vizinhos de esquerda e a chaleirar Tio Sam.

Os ativos do país estão sendo dilapidados sem qualquer retorno para a sociedade.

Povos indígenas e quilombolas são desrespeitados nos direitos mais comezinhos, como, de resto, toda a população de baixa renda, que sofre o impacto de um enorme retrocesso nos investimentos sociais.

Vivemos também um caos institucional.

Com o escândalo produzido pelo Procurador-Geral da República, vem à tona o que já há muito se adverte: o desvio ético de agentes estratégicos do Estado, mais preocupados em bater clara, fazer marola, para chamar a atenção da sociedade para si e se alavancar para valorização corporativa.

Induzem-se delatores premiados prospectivos a gravarem interlocutores de alto calibre político e a estimularem-nos a revelar versões comprometedoras de tratativas nada republicanas com empresários.

Depois, entregam-se as gravações à curiosidade pública, antes mesmo que possam ser avaliadas pelo judiciário no tocante a sua aptidão probatória.

Ferem-se os princípios da presunção de inocência e do devido processo legal.

Destroem-se reputações e interfere-se gravemente no processo político, indispondo a sociedade com o parlamento e o governo da vez.

Não é preciso ser constitucionalista para saber que esse tipo de procedimento é incompatível com o Estado democrático de direito.

Entrementes, juízes se dão o direito de posar de heróis nacionais, festejando o modo como atuam em seus processos criminais e de improbidade administrativa. Dão entrevistas, palestras pagas mundo afora, se empenham para a produção de longa-metragem sobre suas façanhas jurisdicionais.

Outros magistrados, mais cínicos, dão decisões claramente seletivas, pela cara do freguês, sem se portarem com a evidente contradição entre seus votos e com o estrago a sua própria reputação. Há, ainda, os que se gabam de sua posição política em perfis de Facebook. O dano que esse modo de proceder está a causar à credibilidade do judiciário é incalculável e se refletirá por gerações na insegurança jurídica no país.

A falta de um projeto nacional de direita e seu desespero de vê-lo mais competentemente desenhado e implementado por governos populares levou atores políticos inescrupulosos, a elite brasileira e as carreiras privilegiadas do serviço público, com forte apoio da mídia comercial, a mobilizarem falsa agenda moralista de combate à corrupção, com alvos bem identificados à esquerda do espectro político e em que tudo vale.

É uma guerra sem regras de engajamento, sem respeito mínimo a standards humanitários. O objetivo é claramente fulminar os governos populares e seu projeto nacional, para todo o sempre, ainda que não tenham nada para colocar em seu lugar.

Numa democracia consolidada, o convívio entre projetos distintos de país é um fato amplamente aceito. O governo da vez implementa o seu e, na virada eleitoral, a oposição feita governo, o muda, para adequar melhor a seus objetivos políticos.

Há adversidade com respeito, porque o revezamento no poder é a rotina saudável das democracias representativas. No Brasil estamos longe disso. Há verdadeira aversão mortal pelo projeto da esquerda, que a direita sempre tentou solapar. Há várias razões para isso.

Existe, antes de tudo, algo de atávico, ancestral, no desprezo conservador pelo verdadeiro bem comum. A elite brasileira não se vê como uma parte de um todo, mas como segmento social diferenciado, incomodado com a péssima vizinhança dos pobres, tidos como feios, porcos, violentos e preguiçosos. Se pudesse, essa elite lançaria mão de uma política de extermínio dessa “ralé” abusada, que quer disputar espaço com ela. Bem que tentou, na segunda metade do século XIX, quando se pôs a “embranquecer” a população do país com uma política de imigração de europeus. Mas os tempos eram outros.
Em segundo lugar, há os ganhadores do modelo espoliatório do Estado brasileiro. Rentistas, especuladores, atores políticos que vivem da extorsão de facilidades e o capital financeiro de um modo geral têm acumulado ativos num vulto nunca antes visto na história do Brasil. Trata-se de um capital ocioso, à falta de tecnologia e disposição de risco dos empreendedores.

É esse enxame de dinheiro que pede ser investido para se multiplicar que tem sido responsável por más práticas na política. Os atalhos de agentes econômicos, sempre buscando o caminho mais curto para o enriquecimento pessoal, são o mais grave sintoma do ócio do capital. A mudança para uma cultura do investimento produtivo e transformador é trabalhosa e mexe com os interesses daqueles que se fizeram no ócio.

Por isso, uma vez voltados ao poder, tratam de destruir toda a infraestrutura que fora alocada para a transformação econômica. São essencialmente antinacionais esses ganhadores do modelo espoliatório. Acabam-se os projetos sociais e ambientais, os avanços na educação e na pesquisa, a implementação de uma matriz energética soberana e a política externa altiva, na busca de oportunidade de negócios competitivos.

A destruição do PT e a de Lula, em especial, é a cerejinha no bolo da direita política. É o passo final para garantir a ociosidade permanente do capital e a reprodução perpétua do regime de rentismo e de apropriação de ativos pelos poderosos.

Para levar adiante seu plano – já que golpes militares com intimidação, tortura e desaparecimentos forçados teriam um custo de imagem muito grande – instrumentalizam as instituições do Estado constitucional em seu favor. A instrumentalização se faz pela captura das corporações, dando-lhes o brio que tanto almejam. Comportam-se feito burro a seguir uma cenoura estendida à sua frente com uma vara de pescar. Quem a estende é a mídia, eternamente servil aos interesses dessa direita do capital ocioso.

É assim que se explicam condutas como a de Sérgio Moro, da patota da Lava-Jato e de Rodrigo Janot. Fazem parte de uma estratégia só, alguns mais conscientes do que outros do papel que desempenham.

A Justiça política nada mais é que a Justiça a serviço dessa demolição do projeto nacional da esquerda brasileira. Depois de desmontar a indústria da construção civil, da engenharia naval e nuclear, do setor de produção petrolífera, passam à perseguição daqueles que têm potencial de reverter o cenário de terra arrasada.

Não se espere, por isso, um processo equilibrado, com respeito às regras do julgamento justo e do devido processo Legal. A persecução criminal se converteu numa arma de destruição em massa, na ilusão de erradicar a corrupção, como se esta conseguisse ser vencida com o estímulo ao capital ocioso. Mas a mensagem criminalizadora cola, de tanto que é repetida em redes sociais, na televisão, nas rádios e nos periódicos.

A maior ilusão dessa direita política é, porém, pensar que destruindo Lula e o PT consegue parar a história a seu favor. Consegue atrasá-la, com certeza, porque ambos têm sido poderosos instrumentos de transformação social e política no Brasil e reconstruir a base de atuação para dar seguimento a um projeto nacional dilacerado pelos interesses rasteiros da elite antinacional tem um custo político e temporal enorme.

Mas as contradições de nossa sociedade não morrem com a aniquilação temporária dos sonhos da maioria dos brasileiros. Os excluídos continuam aí, perdedores do processo de desapropriação de ativos do Estado e não deixarão de existir com a derrocada de Lula e do PT.

Pelo contrário, as contradições se acirram e preparam o terreno para a inevitável luta encarniçada que se seguirá.


Lula e o PT são o caminho para a transformação democrática e os que contra eles abusam do poder de intimidação do Estado estão, mesmo que alguns tolinhos o façam involuntariamente, apostando no caos e na guerra social. Por isso, lutar para obstar a perseguição de Lula e do PT é defender a democracia e o projeto de um Brasil soberano que desponte produtivo e competitivo no mundo global.

BROTOS VERDES NO SERTÃO

BROTOS VERDES NO SERTÃO
Saul Leblon
Tem um filme novo passando nas telas de cinema; não é a superprodução da Lava-Jato.
Invisível na mídia conservadora, um Brasil pobre, mas teimoso em seu viço, emergiu nas redes alternativas e delas atingiu uma parte do imaginário nacional em imagens exuberantes.
O que elas contam é a arrebatadora história de uma fronteira onde o Brasil impossível se mistura ao da esperança.
Colhidas ao longo da caravana na qual o presidente Lula percorre 25 cidades em nove estados do Nordeste, desde o dia 17 de agosto, as imagens estabelecem um contraste chocante com a estética e a agenda do país oficial.
Ambas são recortes da mesma realidade.
Essa, retorcida, convulsionada, exasperante, tal a distância estabelecida entre as suas partes contrapostas, a partir do golpe que agora completa um ano.
A dificuldade que tem a mídia conservadora de incluir os dois lados na sua pauta, e de contemplá-los com o mínimo de equidade jornalística, ilustra o asfixiante esgotamento do sistema de representação do conflito social na democracia brasileira.
Não há nesse momento nenhuma dimensão institucional na qual o Brasil possa se enxergar por inteiro na diversidade de seus interesses e possibilidades.
Nem o conservadorismo, essa é a verdade, se identifica plenamente com a sua representação golpista.
Ademais do habitual oportunismo, as dissidências no interior do PSDB refletem esse descompasso.
De um Congresso vocalizado pelo repertório do boi, da bíblia e da bala, tampouco se espera a modulação das partes em um todo que contemple o interesse mais geral da nação e do seu desenvolvimento.
Falta ar democrático nos pulmões da nação.
Alvo-síntese da gigantesca asfixia em marcha, Lula respondeu ao seu pretendido velório com um salto para a vida que está desconcertando seus coveiros de togas e pautas.
No histórico anseio nordestino por inclusão, o retirante de Garanhuns que se tornaria o maior líder popular da história brasileira, foi escancarar a existência de uma nação irredutível à estreiteza do projeto conservador imposto ao conjunto da sociedade.
O resultado é um transbordamento arrebatador.
Tudo o que se pretendia envazar e lacrar por pelo menos vinte anos, como preconiza a purga do teto fiscal, jorra em tintas de um vigor que cativa e desarruma a narrativa da ordem usurpadora.
O fato é que o morto, esse Brasil abduzido dos noticiosos, não apenas respira.
Ele irradia a teimosa demanda por uma vida melhor e nisso converge o seu repto ao de Lula.
Impactos semelhantes ao desse transbordamento itinerante tiveram também, para citar duas referências históricas, a Coluna Prestes, nos anos 20, e a Marcha sobre Washington, organizada há 54 anos (agosto de 1963) por Martin Luther King, que levaria 250 mil pessoas à capital norte-americana.
A multidão incomum que afluiu a Washington de todos os cantos do país exigia cidadania plena aos negros dos EUA.
Nos dois casos, o sistema institucional ao redor mostrava-se impermeável à expressão dos interesses externos aos círculos associados ao poder.
Nos EUA, embora as Emendas à Constituição (13, 14 e 15) tenham estendido cidadania e direito de voto aos negros desde o final da Guerra da Secessão (1861/65), na prática as barreiras da pobreza e do preconceito interditavam o caminho para a liberdade e a igualdade. O sistema político era funcional à exclusão.
A Coluna Prestes percorreria 25 mil quilômetros no Brasil nos anos 1925, 1926 e 1927, empurrada igualmente pelo duplo efeito ejetor de um sistema oligárquico fechado, ademais de varado por crise terminal.
A República Velha tornara-se incapaz de responder aos desafios sociais e econômicos de um país que deixaria de ser escravocrata, sem dispor ainda de uma representação política capaz de expressar a nova diversidade dos seus conflitos.
Essa deficiência impedia o país de repactuar o passo seguinte da economia e da sociedade, que se desdobrava em colapsos retroalimentados.
O engessamento transbordou nas revoltas oriundas do próprio estamento burocrático, refletindo uma circularidade ilustrativa da ausência de um projeto para a nação que emergia.
O Tenentismo foi a expressão fardada desse interlúdio convulsivo.
A Coluna Prestes, a versão épica de uma fuga para frente, só concluída quando o aguçamento da crise rachou o tenentismo e Prestes, anos depois, personificou um lado da resposta ao aderir ao marxismo.
Sendo uma mobilização em defesa de direitos negados e subtraídos, a exemplo das marchas de Luther King, mas também a expressão de um Brasil interditado pela obtusidade histórica das elites, como na República Velha, a caravana de Lula carrega também o carisma da esperança, num intermezzo histórico em que um ciclo de desenvolvimento se esgotou e outro precisa ser construído.
Sua marcha, porém, encerra singularidades não negligenciáveis.
Prestes, nos anos 20, a exemplo do Tenentismo, não tinha um projeto de nação no qual o povo se enxergasse e fosse visto - por ele inclusive - como o protagonista decisivo do processo.
Sua coluna arregimentou adesões, mas não organizou a população por onde passava, nunca vista como o novo sujeito histórico.
A caravana de Lula tampouco se propôs, originalmente, a arregimentação popular para a luta por uma democracia social efetiva, que inclui, mas vai além da eleição de 2018 na construção de um novo sujeito coletivo.
Talvez seja arriscado dizê-lo, mas as imagens insistem em sugerir.
Lula e a caravana foram surpreendidos – como de resto, todo o país.
Multidões imprevistas barraram a comitiva no interior nordestino, impedindo-a de prosseguir com impressionante recorrência e determinação, exceto depois de cumprido um acordo.
Qual?
Lula falar à gente do lugar.
Falar o que ele sempre disse e fez.
Mas que desde 31 de agosto de 2016, o golpe, sua mídia, seus colunistas engomados, os economistas de banco e suas prioridades argentárias decidiram sonegar.
Qual seja, o lugar do povo brasileiro no bonde da nação.
O que os barramentos queriam ouvir da voz rouca familiar é que o seu assento é um direito e será restituído.
Os fatos sugerem que a passividade meramente eleitoral talvez não seja mais o fio condutor desse anseio.
Vale recordar.
Um dos episódios mais emblemáticos da luta antirracista nos EUA deu-se em 1955, em Montgomery, na capital do Alabama,
Uma negra, Rosa Parks, ocupou um assento nas fileiras intermediárias do ônibus e se recusou a ceder o lugar a um branco, como mandava a lei segregacionista do lugar.
Presa, Rosa ganharia a solidariedade de um massivo movimento civil liderado, entre outros, por Martin Luther King.
Um ano depois, os negros conquistariam o direito de ocupar qualquer assento nos coletivos de Montgomery.
O que o golpe está dizendo – e o país sertanejo parece determinado a não aquiescer clamando por alguém que o desminta - é que o povo brasileiro, a vasta maioria da sociedade, incluindo-se boa parte das camadas médias, deve ceder seu lugar no ônibus do desenvolvimento.
Para quê?
Para preservar a segurança e o conforto da riqueza e do poder em mais uma transição turbulenta da história nacional.
As cenas observadas no interior sertanejo sugerem a possibilidade de outra coisa.
Possivelmente um horizonte mais amplo de participação, e mais profundo na resposta à crise, do que o teto previsto pelo calendário eleitoral de 2018, ainda que sem excluí-lo.
A mídia conservadora desdenha dessa que talvez seja a novidade política capaz de sacudir o tabuleiro de um golpe que apenas aguardaria a condenação agalopada de Lula para consagrar seu xeque-mate contra o povo e o país.
Esse lance derradeiro do jogo viciado talvez não seja mais suficiente.
As manifestações populares no caminho de Lula podem indicar que a suposta passividade atribuída ao povo brasileiro talvez decorra muito mais da falta de um catalisador convincente – originalmente até involuntário, neste caso - do que da prostração decorrente do conformismo ou da indiferença com a própria sorte e o destino do Brasil.
O transbordamento nordestino adiciona outras variáveis importantes à equação sobre a qual o conservadorismo imaginava ter controle absoluto.
O jogo está longe de terminar, é um primeiro ponto.
Mesmo que Lula seja barrado na cédula de 2018 – como se planeja desde o início - seu carisma e poder de liderança demonstram inegável resiliência, ademais de ecoarem junto a uma juventude atenta que prestigia a caravana em cada parada.
Como ele mesmo diz: se não for candidato, será o mais poderoso cabo eleitoral da disputa de 2018. Ponto pacífico.
Mais que isso: preso, tornar-se-á o símbolo carismático da injustiça social e política a ser apeada. Pelo voto ou pela rua.
Há outras novidades afloradas sob o sol do sertão.
Lula continua a ser o líder popular de extração sindical que acredita na necessidade da mobilização e da negociação para empurrar a fronteira da justiça social e da correlação de força em cada ciclo de luta.
A altura do sarrafo, porém, pautada pela origem de berço e de aprendizado político, mudou de novo.
As causas e consequências do golpe, ruminadas durante um ano de cerco impiedoso a ele, à família, ao PT, ao governo Dilma e ao seu legado afloraram em brotos verdes sob o sol sertanejo.
Lula é um mestre da tradição oral. Pensa falando e fala pensando, talento de poucos - Brizola era um caso - que dá fluência magnetizadora à oratória.
O que ele pensou e disse às multidões que acorreram generosamente para ouvi-lo revela sinapses amadurecidas, que esperavam o calor dos discursos massivos para aflorarem.
Um futuro governo popular – seu ou com o seu apoio – buscará alianças, reafirmou mais e uma vez sua convicção.
Mas o discernimento da sociedade sobre os desafios do país, requisito para uma repactuação participativa do desenvolvimento – ou não haverá repactuação alguma e sim rendição ao mercado - não pode mais ser manipulado diariamente, advertiu, ‘pelas mentiras da Globo’.
Lula asseverou com todas as letras a determinação de atravessar um divisor sempre evitado desde 2003: vai regular a mídia.
Não abdica da interlocução ecumênica com o amplo espectro político do centro à centro-direita.
Subiu no palanque com Renan; jantou com a família de Eduardo Campos, foi elogioso a prefeitos do PSDB, como o de Ouricuri (PE), que o recepcionaram com honras de chefe de Estado.
Mas vai revogar medidas antissociais e antinacionais tomadas pelo golpe, disse-o de novo explicitamente.
Porque acredita que só assim, com crescimento e soberania, será possível dilatar outra vez a fronteira da inclusão social, que persiste como o seu Norte, seu Sul, seu Leste e seu Oeste político.
Há mais.
Lula não subestima o poder de boicote do exército rentista.
Mas vai utilizar um pedaço das reservas para compor um fundo garantidor do investimento em infraestrutura, de modo a acionar a ignição do crescimento.
Vai perseguir a retomada do PIB, do emprego e da renda.
E o fará ainda que isso implique, de início, algum crescimento da dívida interna.
A ressalva pressupõe medidas mitigadoras desse impacto, seja pela negociação, seja pela redução do juro, seja por alguma forma de controle da conta de capitais para evitar a previsível chantagem cambial.
Terá que ser assim até que a recuperação da receita reequilibre o processo.
Alianças pontuais que a correlação de forças determine ele as fará.
‘Quantos representantes dos sindicatos nós teremos no Congresso? Cinquenta? Hoje são três. A bancada ruralista tem 240’, argumentou em entrevista em Pernambuco, questionado sobre o tema.
Ele as fará, mas sob o escopo da nova altura do sarrafo.
O conjunto sugere um líder em trânsito.
Sem abdicar de seu enraizamento negociador, Lula talvez chegue ao final da caravana receptivo ao broto mais viçoso da colheita nordestina.
Esse que define a mobilização e a organização popular como a variável-chave na reordenação democrática de um novo ciclo de desenvolvimento brasileiro.
Trata-se de um passo crucial.
Já no final do primeiro mandato da Presidenta Dilma, a quilha da governabilidade progressista gritava a necessidade de outro mix entre a rua e a negociação parlamentar.
Gargalos clamavam a necessidade de mudar o lastro para o exercício do poder – e isso implicava uma recomposição de prioridades, mas sobretudo do método de luta.
A política fiscal contracíclica havia esgotado seu fôlego diante de uma persistente desordem global do neoliberalismo. A escolha de um ajuste rápido baseado em aperto de gastos e desvalorização cambial – para crescer ancorado em exportações, subestimaria a natureza sistêmica da crise internacional e a voracidade da conspiração doméstica.
Ao negligenciar a dimensão política do impasse econômico, o governo perdeu o lastro junto ao empresariado sem ampliá-lo no campo popular.
O golpismo nativo – ademais do Departamento de Estado e suas sucursais no país – farejou a deriva.
A aliança da mídia com a escória, o dinheiro e o judiciário fez o resto.
A exata compreensão da encruzilhada que propiciou o golpe de 31 de agosto se tornaria assim uma questão de vida ou morte à retomada da iniciativa popular, que inclui 2018, repita-se, mas vai além da urna, imperiosamente.
A caravana nordestina talvez tenha trazido a energia necessária para fazer girar essa roda da história - na cabeça de Lula e nas fileiras progressistas que o tem como referência.
O desafio não é pequeno.
A agenda antissocial e antinacional do golpe terá que ser afrontada por bandeiras e projetos, mas, sobretudo por formas de organização que ofereçam ao conjunto da sociedade uma nova referência crível de futuro e estabilidade para a economia, o seu cotidiano e a sua esperança.
Foi essa conjunção que talvez tenha começado a fazer sentido na atilada intuição de Lula ao se deparar com o cerco das multidões num roteiro que escolheu as estradas de um Brasil normalmente ignorado nas incursões aéreas dos políticos.
O requisito subjacente a essa mutação é o desassombro para enxergar o esgotamento de um ciclo e as balizas que podem pavimentar o próximo.
Entre elas, como já se disse neste espaço, inclui-se o requisito de trazer uma parte da classe média brasileira para fora da agenda do golpe e assim estender as linhas de passagem entre uma nação dilacerada por fraturas imobilizantes e a repactuação do seu desenvolvimento.
A ‘caravana’ capaz de semear esse broto verde nos redutos da classe média precisa ser construída.
E não poderá se pautar pelo acanhamento se não quiser fracassar esfericamente.
Contra a espiral descendente vivida pelas faixas de renda média, atingidas globalmente pela precarização do trabalho e o esgarçamento industrial, é inútil prometer uma ‘volta’ a um status que sustentou a afluência no pós-guerra.
Esse mundo de mobilidade ascendente de extratos de renda intermediária não voltará a existir.
Nem existirá outro que compense sem uma reforma tributária corajosa que atinja o núcleo duro da riqueza, sobretudo a financeira.
Repita-se o que expôs em artigo recente o economista Sergi Gobetti: a classe média com renda de R$ 7.000 mensais, na verdade é tão vítima da injustiça fiscal quanto os pobres. Proporcionalmente mais taxada que os ricos, ressente-se, como os pobres, de um retorno equivalente em serviços públicos dignos e suficientes.
Encontra-se nesse anseio sonegado a trilha da nova ‘caravana’ que desafia um futuro estirão progressista de repactuação do país com o seu desenvolvimento.
O gargalo mora mais acima.
Os verdadeiramente muito ricos formam hoje 0,05% da população brasileira ativa - detém 8,2% da renda.
Juntamente com bancos e corporações, emprestam ao Estado o que deveriam pagar em tributos. Recebem em troca 6,9% do PIB em juros, todos os anos.
Sua riqueza é a contraface de uma dívida pública que avança para atingir 80% do PIB e ameaça engarrafar a nação em um formol de arrocho e carência constitucional, como quer o golpe.
É nesse sumidouro rentista que se degradam e escasseiam os serviços públicos, de cuja oferta e qualidade os pobres e a classe média reclamam com razão.
À descrença, ao medo, à incerteza e à angústia que flertam com o autoritarismo trata-se, portanto, de contrapor o horizonte de uma rede de segurança feita de justiça fiscal, serviços públicos e espaços públicos de inédita audácia e qualidade.
Só recauchutar a máquina do desenvolvimento brasileiro, como em ciclos anteriores, não basta mais.
É preciso reorientar o seu rumo. A costura da travessia de excelência em serviços públicos, infraestrutura em expansão e aderência à revolução tecnológica envolve uma operação essencialmente política.
Alguém precisa querer tenazmente esse Brasil.
Ou seja, um sujeito coletivo que enxergue aí o requisito à vigência efetiva do arcabouço de direitos inscrito na Carta Cidadã de 1988, que o golpe quer destripar para tomar de volta o pedaço do PIB aí destinado à emancipação da cidadania brasileira.
A alternativa conservadora é regredir o eixo orçamentário para tornar a inclusão social tão rígida quanto o eletrocardiograma de um morto.
Os que hoje se avocam em depuradores da nação entendem desse açougue.
Eles sangraram Getúlio em 54; sangraram Jango em 1964; sangrariam Lula em 2005 se não tivesse reagido; sangraram a Presidenta Dilma em 2016 até derrubá-la.
Esse retrospecto não endossa projetos exclamativos que descartem a negociação (entre interesses distintos, por definição) na longa marcha para se construir uma verdadeira democracia social no país.
Ao contrário.
É na renovada capacidade de arregimentar forças para liderar essa travessia, como se viu nos transbordamentos massivos em torno da caravana nordestina, que se reafirma o espaço de Lula à revelia dos seus algozes.
O passo seguinte da marcha ficou esboçado nos brotos verdes aflorados no sertão.
Mas o economista Ianis Varoufakis, ex-ministro das finanças da Grécia, que experimentou na carne as feridas de uma negociação com o capital na era da globalização, extraiu dessa experiência uma lição histórica que serve agora de referência ao desafio posto diante do povo brasileiro e de sua principal liderança:

‘Só tem algo a negociar quem está preparado para romper’.

FORÇAS ARMADAS E CAOS

Forças Armadas e CAOS

Vladimir Safatle



Talvez não exista momento mais propício do que este para se lembrar da frase de Adorno e Horkheimer, para quem há horas em que não há nada mais estúpido do que ser inteligente. A frase se referia à incapacidade de setores da sociedade alemã de encararem claramente os signos de ascensão do nazismo no começo dos anos 1930 e pararem de procurar explicações sutis e inteligentes sobre a impossibilidade de o pior ocorrer. Dificilmente raciocínio dessa natureza não se aplicaria ao Brasil atual.

De fato, nosso país tem ao menos a virtude da clareza. E foi com a clareza a guiar seus olhos redentores que o general Antonio Hamilton Mourão revelou aos brasileiros que as Forças Armadas têm um golpe militar preparado, que há uma conspiração em marcha a fim de destituir o poder civil. Para mostrar que não se tratava de uma bravata que mereceria a mais dura das punições, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas descartou qualquer medida e ainda foi à televisão tecer loas a ditaduras e lembrar que, sim, as Forças Armadas podem intervir se o "caos" for iminente.
O "caos" em questão não é a instauração de um governo ilegal e brutalizado saído dos porões das casernas. Ao que parece, "caos" seria a situação atual de corrupção generalizada. Só que alguém poderia explicar à população de qual delírio saiu a crença de que as Forças Armadas brasileiras têm alguma moral para prometer redenção moral do país?

Que se saiba, quando seus pares tomaram de assalto o Palácio do Planalto, cresceram à sua sombra grandezas morais do quilate de José Sarney, Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães: todos pilares da ditadura. Enquanto eles estavam a atirar e censurar descontentes, o Brasil foi assolado por casos de corrupção como Capemi, Coroa Brastel, Brasilinvest, Paulipetro, grupo Delfin, projeto Jari, entre vários outros. Isso mesmo em um ambiente marcado pela censura e pela violência arbitrária.

De toda forma, como esperar moralidade de uma instituição que nunca viu maiores problemas em abrigar torturadores, estupradores, ocultadores de cadáveres, operadores de terrorismo de Estado, entre tantas outras grandes ações morais? As Forças Armadas brasileiras nunca tomaram distância dessas pessoas, expondo à nação um mea-culpa franco.

Ao contrário, elas os defenderam, os protegeram, até hoje. Que, ao menos, elas não venham oferecer ao país o espetáculo patético de aparecerem à cena da vida pública como defensoras de um renascimento moral feito, exatamente, pelas mãos de imoralistas. As Forças Armadas nunca foram uma garantia contra o "caos". Elas foram parte fundamental do caos.

É verdade que setores da sociedade civil sonham com mais um golpe como forma de esconder o desgoverno que eles mesmos produziram. Há setores do empresariado nacional que articulam abertamente nesse sentido, sonhando como isto não terem que se confrontar mais com uma população que luta pelos seus interesses. Para tanto, eles apelam ao artigo 142 da Constituição de 1988.

Este artigo fora, desde o início, uma aberração legislativa imposta pelos próprios militares. Ele legalizava golpes de Estado, da mesma forma que o artigo 41 da República de Weimar, que versava sobre o estado de emergência, permitiu a ascensão da estrutura institucional do nazismo. Segundo o artigo, se qualquer poder chamar as Forças Armadas para garantirem a ordem, se digamos o sr. Rodrigo Maia fizer um apelo às Forças Armadas porque há "caos" em demasia, o golpe está legalizado. Ou seja, é verdade, nossa Constituição tinha uma bomba-relógio no seu seio. Bomba pronta a explodi-la, como agora se percebe.

Contra essa marcha da insanidade, há de se lembrar que, se chegamos ao ponto no qual um general na ativa pode expor abertamente que conspira contra o poder civil, então cabe àqueles que entendem não terem nascido para serem subjugados pela tirania, que não estão dispostos a abrir mão do resto de liberdade que ainda têm para se submeter a mais uma das infindáveis juntas latino-americanas, prepararem-se para exercer seu mais profundo direito: o direito de resistência armada contra a tirania.


Que os liberais se lembrem de John Locke e de seu "Segundo Tratado sobre o Governo". Que os protestantes se lembrem de Calvino e de sua "Instituição da Religião Cristã". E que o resto se lembre que a liberdade se defende de forma incondicional.

Nascido no cárcere da ditadura, Paulo Fonteles Filho escreve carta ao general Mourão


Nascido no cárcere da ditadura, Paulo Fonteles Filho escreve carta ao general Mourão
19 de setembro de 2017 às 12h01
 
Carta aberta ao general Antonio Hamilton Mourão
 
Caro general Antonio Mourão, desde sábado (16), é que se multiplicam vossa manifestação nas redes sociais, blogues, sites, portais e afins por conta de tua última palestra, em Brasília, em evento ligado à maçonaria quando, em ameaça velada, falaste abertamente de intervenção militar, como se contasses com o amparo ou chancela de seus companheiros de armas, ou seja, o próprio generalato tupiniquim.

Na caserna, o tiro saiu pela culatra.

Ao invés de um palavrório decente, apaziguador em momentos de crise democrática – sim, porque a democracia e os direitos do povo foram usurpados por Temer e sua quadrilha – assistimos, atônitos, a antiga cantilena de um militar estreludo, talvez um delfim tardio dos tiranos que ensejaram um golpe militar em 64 e que levaram as forças armadas brasileiras a cometer crimes insidiosos, de lesa-pátria, com torturas, assassinatos, exílios, perseguições, censura e desaparecimentos forçados.

Entre militares decentes deves estar passando vergonha, muita vergonha, general.

Sim, porque quero crer que há militares decentes, gente preocupada com o futuro do país e não somente em fazer verborragia bolsonazi e o discurso do medo, próprio dos fascistas de plantão, ávidos por quarteladas, linchamentos e carne humana violada.

Confesso general, desde ontem estou me remoendo.

O sentimento que nos alcança é de assombro.

Meus amigos, família, pessoas que amo estão intimidadas, sequestradas pelo pavor que tal irresponsabilidade enseja.

Os dias estão muito estranhos e o medo é uma potente arma ideológica, assim foi no Reich de Hitler ou no “Brasil Grande” do Garrastazu.

Sabe general, sou de uma geração de perseguidos políticos.

Meus pais eram estudantes da Universidade de Brasília (UNB), amantes das liberdades, do Chico Buarque e dos Beatles e sem cometer qualquer tipo de crime — a não ser o de opinião — foram presos em outubro de 1971 e submetidos a terríveis torturas, além de condenações pela famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN), dispositivo que transformou o Brasil num purgatório de lobos bem felpudos.

EU NASCI NA PRISÃO E TIVE UM IRMÃO GERADO NO CÁRCERE: o serpentário dizia que “Filho dessa raça não deve nascer” e isso ocorreu dentro das dependências do próprio Ministério do Exército, lugar onde dás expediente como servidor público federal.

Deves saber que no subsolo do teu ganha-pão foi um patíbulo para a infâmia.

Minha mãe, general Mourão, me pariu com 37 quilos, foi cortada e costurada sem anestesia e não disse um ai.

Depois de nascido — entre as feras do PIC — fui sequestrado porque não haviam algemas para os meus pulsos de recém-nascido.

Imagina que um bebê de poucos dias era considerado inimigo do status quo, aliás, muitas crianças assim foram tratadas pelo regime do terror.

Talvez a Hecilda, minha mãe, atual professora da UFPa, tenha sido a única mulher a ter tido dois filhos na prisão, sob peia.

Meu pai foi morto em 1987 e seu assassinato foi organizado por um ex-agente da comunidade de informações, James Vita Lopes.

Paulo Fonteles, pai amoroso de cinco filhos, era advogado e defendia posseiros no Araguaia.

O que o Brasil precisa general, com urgência, é a reconstrução da democracia, um judiciário independente, uma mídia imparcial, um parlamento sensível aos interesses da maioria na forma do respeito ao voto popular, de mais direitos, de Estado Democrático e respeito à soberania nacional, além de uma forte cruzada contra a ignorância, a corrupção, o racismo, a misoginia e a homofobia.

O fascismo levará o país à convulsão, além das vidas de uma geração que tem a responsabilidade com a felicidade coletiva.

É muito doloroso falar sobre isso general Antonio Mourão e lembrar que muitos foram mortos pela histeria malsã que repetes, como um ventríloquo de satanás.

Mas minha tarefa também é a lembrança de que os tumbeiros que mancharam nosso solo de vergonhas, como na escravidão ou na ditadura militar de 64, jamais poderão ficar impunes.

Tenho pena de ti general, estás num quarto escuro e sem janelas, vitima da própria bílis que lanças no ar.

Da ditadura civil rumo à militar?

SÁBADO, 23 DE SETEMBRO DE 2017

Da ditadura civil rumo à militar?


Por Leonardo Boff, em seu blog:

O que vivemos atualmente no Brasil não pode sequer ser chamado de democracia de baixíssima intensidade. Se tomarmos como referência mínima de uma democracia sua relação para com o povo, o portador originário do poder, então ela se nega a si mesma e se mostra como farsa.

Para as decisões que afetam profundamente o povo, não se discutiu com a sociedade civil, sequer se ouviram movimentos sociais e os corpos de saber especializado: o salário mínimo, a legislação trabalhista, a previdência social, as novas regras para a saúde e a educação, as privatizações de bens públicos fundamentais como é, por exemplo, a Eletrobrás e campos importantes de petróleo do pré-sal, bem como as leis de definem a demarcação das terras indígenas e, o que é um verdadeiro atentado à soberania nacional, a permissão de venda de terras amazônicas a estrangeiros e a entrega de vasta região da Amazônia para a exploração de variados minérios a empresas estrangeiras.

Tudo está sendo feito ou por PECs, decreto ou por medidas provisórias propostas por um presidente, acusado de chefiar uma organização criminosa e com baixíssimo apoio popular que alcança apenas 3%, propostas estas enviadas, a um parlamento com 40% de membros acusados ou suspeitos de corrupção.

Que significa tal situação senão a vigência de um Estado de exceção, mais, de uma verdadeira ditadura civil? Um governo que governa sem o povo e contra o povo, abandonou o estatuto da democracia e claramente instaurou uma ditadura civil. Assim pensa um de nossos maiores analistas politico Moniz Sodré, entre outros. É exatamente isso que estamos vivendo neste momento no Brasil.

Na perspectiva de quem vê a realidade política a partir de baixo, das vítimas deste tipo novo de violência, o país assemelha-se a um voo cego como um avião sem piloto. Para onde vamos? Nós não sabemos. Mas os golpistas o sabem: criar as condições políticas para o repasse de grande parte da riqueza nacional para um pequeno grupo de rapina que segundo o IPEA não passa de 0,05 de população brasileira, (um pouco mais de 70 mil milhardários) que constituem as elites endinheiradas, insaciáveis e representantes da Casa Grande, associadas a outros grupos de poder anti-povo, especialmente de uma mídia empresarial que sempre apoiou os golpes e teme a democracia.

Transcrevo um artigo de um atento observador da realidade brasileira, vivendo no semi-árido e participando da paixão das vítimas de uma das maiores estiagens de nossa história: Roberto Malvezzi. Seu artigo é uma denúncia e um alarme: Da ditadura civil para a militar.

***

“Antes do golpe de 2016 sobre a maioria do povo brasileiro trabalhador ou excluído, já comentávamos em Brasília, num grupo de assessores, sobre a possibilidade de uma nova ditadura no Brasil. E nos ficava claro que ela poderia ser simplesmente uma “ditadura civil”, sem necessariamente ser militar. Entretanto, como em 1964, ela poderia evoluir para uma ditadura militar. Naquele momento pouquíssimos acreditavam que o governo poderia ser derrubado.

Para mim não há dúvida alguma que estamos em plena ditadura civil. É um grupo de 350 deputados, 60 senadores, 11 ministros do Supremo, algumas entidades empresariais e as famílias donas da mídia tradicional que impuseram uma ditadura sobre o povo. As instituições funcionam, como dizem eles, mas contra o povo e apenas em favor de uma reduzidíssima classe de privilegiados brasileiros. Claro, sempre conectados com as transnacionais e poderes econômicos que dominam o mundo.

Portanto, nós, o povo, fomos postos de fora. Tudo é decidido por um grupo de pessoas que, se contadas nos dedos, não devem atingir mil no comando, com um grupo um pouco maior participando indiretamente.

Acontece que o golpe não fecha, não se conclui, porque a corrupção, velha fórmula para aplicar golpes nesse país, hoje é visível graças a uma mídia alternativa presente e cada vez mais poderosa. E a corrupção está em todos os níveis da sociedade brasileira, sobretudo nos hipócritas que levantaram essa bandeira para impor seus interesses.

Mas, a corrupção é apenas o pretexto. Segundo a visão de Leonardo Boff, o objetivo do golpe é reduzir o Brasil que funcione apenas para 120 milhões de brasileiros. Os 100 milhões restantes vão ter que buscar sobreviver de bicos, esmolas e participação em gangs, quadrilhas e tráfico de armas e drogas.

Então, começam aparecer sinais do verdadeiro pensamento de quem está no comando, uma reunião da Maçonaria, um general falando a verdade do que vai nos bastidores, a velha mídia com a opinião de “especialistas”, nas mídias sociais os saudosos da antiga ditadura dizendo que “quem não é corrupto não precisa ter medo dos militares”.

Enfim, estão plantando a possibilidade da ditadura militar. Para o pequeno grupo que deu o golpe ela é excelente, a melhor das saídas. Nunca foram democráticos. Não gostam do povo. Inclusive nessa Câmara e nesse Senado, poucos vão perder seus cargos ou ir para a cadeia.

O pior de uma ditadura civil ou militar é sempre para o povo. As novas gerações não conhecem a crueldade de uma ditadura total.

É de gelar a alma o silêncio da sociedade diante das declarações do referido general”. Que Deus e o povo organizado nos salvem.

Desconectados de todo o mundo, uní-vos!


SÁBADO, 23 DE SETEMBRO DE 2017


Desconectados de todo o mundo, uní-vos!



Por Renata Mielli, no site Mídia Ninja:


Com a metade do mundo desconectada e com a diminuição no ritmo de crescimento de novas conexões, vai se criando um novo exército de excluídos, os excluídos digitais. A exclusão digital aprofunda as desigualdades entre indivíduos, famílias, regiões e países, determinando novos padrões de miséria e impondo novos desafios para a luta pelo fim da opressão capitalista.

E esta avaliação não é minha, é do secretário-geral da UIT, Houlin Zhao, por ocasião do lançamento do mais recente relatório da organização sobre a situação da Banda Larga no mundo, o State of Broadband 2017, da Comissão de Banda Larga da UIT. Zhao destacou que “os países ‘de ponta’ digitais estão avançando ainda mais, enquanto os países em desenvolvimento estão, em geral, sendo deixados para trás”.

Comparando a conectividade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, os primeiros têm uma penetração de 41,3% de acesso, enquanto os países menos desenvolvidos deverão ficar em 17,5% – dados do documento projetados para 2017.

O relatório ressalta os muitos avanços que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) estão trazendo ao mundo, e mostra, também, que a assimetria global no uso destas tecnologias são imensas.


Conectados pero no mucho


Poxa, mas calma lá, já somos 48%, ou cerca de 3.5 bilhões de pessoas conectados em todo o planeta. O dado frio pode parecer bom, mas ao ser destrinchado vemos que não é bem assim.

O documento da UIT utiliza um estudo do Facebook para detalhar melhor a situação de conectividade atual. De acordo com este levantamento, realizado em 75 países do mundo, em média 94% da população destes países vive ao alcance de um sinal móvel 2G. Tenta conectar num 2G para ver o que acontece! Quase nada! E o documento conclui, então, que “é praticamente impossível experimentar a internet de forma segura e efetiva através de uma conexão 2G. Apenas 76% da população mundial têm acesso a um sinal 3G, e apenas 43% das pessoas têm acesso a uma conexão 4G. Assim, a maioria do mundo conectado permanece subconectado, a maioria deles nos países em desenvolvimento. A menos que as pessoas tenham a oportunidade de migrar de 2G para 3G para 4G e além, elas permanecem subconectadas”.

Isso falando apenas da conexão móvel, que é a mais precária e menos regulada – particularmente se pensarmos no caso brasileiro.

Ao olharmos as estatísticas de conectividade por Banda Larga Fixa, o cenário de exclusão fica mais explícito. Em 2010, a população mundial com acesso à Banda Larga Fixa era de 526 milhões de pessoas. Em 2015, esse número saltou para 842 milhões. Em 2016, havia 917 milhões, e a estimativa é que cheguemos aos 979 milhões em 2017.

Os desafios da exclusão digital não se limitam, apenas, ao acesso à infraestrutura, como o documento reconhece. Há problemas como a falta de habilidade para o uso da internet e, até mesmo, carência de conteúdo e serviços locais.
E a conexão por aqui anda lenta, cara e para poucos

O Brasil segue a tendência internacional de promover acesso principalmente através da Banda Larga Móvel, enquanto a Banda Larga Fixa mantém-se praticamente estável.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2016, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, o país conta com 107,9 milhões usuários de Internet. São 54% dos domicílios conectados à Internet, apenas 23% nas classes D/E; nas áreas rurais esta proporção é de 26%. O acesso à Internet está mais presente em domicílios de áreas urbanas (59%), e nas classes A (98%) e B (91%). Mesmo no acesso domiciliar, a banda larga móvel é a principal forma de conexão para um quarto das residências conectadas, e é mais relevante nas classes D/E, na região Norte e nas áreas rurais.

Em 2016, 93% dos usuários de Internet utilizaram o celular para navegar na rede e cai o número dos que acessam pelo computador: 80% dos usuários em 2014 e 57% dos usuários de Internet em 2016.

No aspecto velocidade, a coisa anda bem devagar. Do total de domicílios conectados, apenas 36% usufruem de uma velocidade entre 3 e 51 Mbps, 10% não sabem responder a velocidade da sua conexão e 35% disseram não ter banda larga fixa.

A pesquisa mostra, ainda, que preço e interesse estão entre os principais motivos para a falta de Internet: 26% dos domicílios desconectados afirmam que a conexão é cara e 18% dizem não ter interesse, não verem motivos para usar a internet.
Cadê a conexão….

No Brasil, optou-se por entregar à mão invisível do mercado e sua sabedoria econômica a responsabilidade de levar o acesso à Banda Larga para a sociedade. Essa opção é a principal responsável pelas desigualdades existentes no país e, infelizmente, pouco avançamos nos últimos anos para alterar esse modelo.

Agora, no contexto de um golpe que recoloca no centro da agenda econômica a máxima neoliberal de ao mercado tudo, ao Estado nada, estamos às vésperas de ver esse modelo se aprofundar ainda mais nas políticas de telecomunicação.

Nesta semana, um grande evento dos empresários de Telecomunicações, o Painel Telebrasil, deu o tom do que vem por ai: aumento de isenção fiscal para o setor, maior flexibilização das regras existentes para o seu funcionamento, aumento de incentivos. Os donos das empresas apresentaram uma carta, a Carta de Brasília, com as suas reivindicações, entre elas a imediata aprovação do Projeto de Lei Complementar 79 que altera a Lei Geral de Telecomunicações no sentido de ampliar a entrega dos serviços de telecomunicações para o setor privado.

O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, recebeu as “reivindicações” e não vacilou ao dizer que a Carta de Brasília será um roteiro para as ações do ministério e que ele, pessoalmente, está empenhado na aprovação do PLC 79. Manda quem pode, obedece quem tem juízo, já diria o ditado. Mas isso tudo é apenas uma misancene, já que o governo é melhor porta-voz dos interesses das Teles do que elas próprias.

Basta ver as palavras do golpista de última hora, atual ministro da Cultura, Sergio Sá Leitão no evento das Teles. Ele disse, pasmem, que “o Estado não deve ser um agente econômico direto em nenhuma atividade. O papel do Estado é incentivar, fomentar e regular o ambiente de negócio com a mínima intervenção possível. Esse é o Brasil do século 21 que o país precisa construir. Temos que pensar num futuro próximo uma revolução semelhante à de Telecomunicações em outros setores”.

Eles reclamam que a receita das suas empresas estão caindo diante do cenário de convergências, que é preciso buscar novos modelos para os negócios e, com isso, ampliar a rentabilidade das empresas para que novos investimentos em infraestrutura sejam feitos. Aquela velha história de que falta dinheiro. Será?

A receita bruta do setor de telecomunciações no Brasil foi de 226,5 BILHÕES de reais, enquanto os investimentos realizados no mesmo período foram de 28,1 bilhões de reais, pouco mais de 10% da receita. Pode-se até concordar que, a comparação entre a receita das empresas em proporção ao PIB teve uma decréscimo no último período. Entre 2002 e 2009 representava em média 5,7% do PIB, e caiu no primeiro trimestre de 2017 para 3,5%. (dados da Telebrasil)

Quando Karl Marx cunhou uma de suas mais célebres frases convocando os proletários a se unirem contra a exploração e submissão, ele analisou a história da sociedade e verificou que esta tem sido a história da luta entre as diferentes classes, dos possuídos e despossuídos. Ele identificou, ao longo de sua obra, as várias formas de exclusão impostas pelo capitalismo, naquela fase inicial. Provavelmente ele nem imaginava que a evolução das forças produtivas chegaria a tal nível de sofisticação e exclusão.

Tudo isso só confirma que, ou a sociedade se mobiliza para exigir políticas públicas de universalização do acesso à Internet, onde o papel do Estado deve ser colocado como indispensável para levar infraestrutura e acesso para as regiões econômicas onde não há interesse de mercado para as empresas privadas, ou os espaços vazios serão perpetuados gerando uma exclusão difícil de ser superada.

Entrevistas




https://www.youtube.com/watch?v=7jN6axONKOo&feature=share

DOCUMENTÁRIO INTERNACIONAL DESVENDA SEGREDOS OCULTOS DA GLOBO E MOSTRA AO MUNDO PERSEGUIÇÃO DOS MARINHOS A LULA E DILMA



https://www.facebook.com/deputadofederal/videos/1664947130264903/

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares



 Mourão é palavra que lembra repressão!
Sim, fui consultar o velho e bom “Aurélio” para confirmar que “mourão” é uma estaca de concreto, madeira ou pedra que serve para construir uma cerca. Escavada no solo, serve para sustentar telas, arames, placas de madeiras e outros para se criar uma cerca, ou seja, para reprimir a livre circulação. No caso mais recente do Brasil, Mourão quer impedir a livre circulação de ideias, coisa garantida na Constituição.
Mas, além da definição, esse nome não tem boa memória na história brasileira. Imediatamente veio à nossa lembrança a imagem de outro general, Olímpio Mourão Filho! Conhecido por suas preferências integralistas, na década de 1930, chegou a ser diretor do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira. Foi o mentor de um incrível golpe que jogou o país na ditadura do Estado Novo. É de sua autoria o falso Plano Cohen, um documento “descoberto” pelos militares e que atribuía aos comunistas um plano para tomar o Brasil. O documento serviu de justificativa para Getúlio Vargas fechar o Congresso e implantar um regime de exceção que durou até o final da Guerra!
Mas aquele “Mourão” não parou por aí. Em março de 1964 ele comandava a 4ª Região Militar e a 4ª Divisão de Infantaria do I Exército, em Juiz de Fora quando deu ordens para suas tropas marcharem em direção ao Rio de Janeiro, na noite de 31 de março! A ordem daquele Mourão precipitou o golpe militar que mergulhou o país na escuridão por mais de duas décadas!
E agora vem outro “general Mourão” tentar assombrar a vida política nacional. Dessa vez é o general Antônio Hamilton Martins Mourão, conhecido por suas tendências de direita. Exonerado em 2015 do Comando Militar do Sul pelo comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, o “novo” general Mourão ocupa uma função burocrática em algum departamento. Foi afastado do comando após criticar o governo de Dilma Rousseff.
Qual o motivo de tantas matérias em torno do tal general Mourão?
Na noite de sexta-feira (15), em uma palestra na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília, ele teria ameaçado um novo golpe militar ao dizer que o país poderá recorrer a uma “intervenção militar” se o Judiciário “não solucionar o problema político”.
A gravação da palestra mostra sua ameaça: “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então teremos que impor isso”.
Ou seja, ele comparece em uma palestra em uma das instituições mais direitistas que temos no país para dizer que o Judiciário, o poder mais desacreditado, deve solucionar o problema político? Quem conhece o “judiciário” brasileiro sabe que o tal Mourão só pode estar de brincadeira!
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, foi chamado a dar explicações ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, sobre a declaração do general, mas é claro que esperamos muito pouco disso!
É claro que a sempre golpista Rede Globo aproveitou o momento e fez matéria especial no seu Jornal Nacional, com a mesma cara deslavada e cínica de Bonner. Curiosamente, o general Villas Bôas fez um elogio a Hamilton Mourão, segundo ele “um grande soldado, uma figura fantástica, um gauchão”, e disse que não haverá punição, pois seu subordinado fez as declarações em um local fechado (uma loja da Maçonaria em Brasília) e após ser provocado por uma pergunta. Curioso é que o mesmo Villas Bôas havia afastado Mourão do cargo em outro incidente parecido.
Segundo a revista Carta Capital, grande parte dos parlamentares que dominam o Congresso estão tratando de “esfriar” o tema e relativizam a importância do discurso. Diz a revista: “À exceção de deputados de oposição, os parlamentares da Câmara têm preferido não repercutir as polêmicas declarações do general Antônio Hamilton Mourão. Enquanto a maioria dos congressistas da base aliada prefere manter-se em silêncio sobre o tema, o militar tem recebido apoio de colegas após garantir haver ‘planejamentos muito bem feitos’ para uma possível solução do ‘problema político’”.
Nada para comemorar. Alguns companheiros mais precipitados comemoraram a notícia, mas não há muito o que esperar. Na sexta-feira (22), o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira anunciou a decisão de renunciar à defesa de Michel Temer na segunda denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o golpista. Foi Mariz quem conduziu a defesa de Temer na primeira denúncia feita e rejeitada pelo Congresso em 2 de agosto deste ano.
Acontece que o afastamento do advogado deve-se apenas ao fato de ele ter defendido no passado o doleiro Lúcio Funaro, um dos delatores citados na nova denúncia, o que configuraria conflito ético. Mariz continuará trabalhando para Temer em outros casos.
A segunda denúncia contra Temer chegou à Câmara dos Deputados na sexta-feira (22), depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter rejeitado pedido da defesa do presidente para interromper a tramitação. Antes mesmo da decisão do STF, Mariz já havia comunicado a Temer que deixaria de defendê-lo caso a denúncia prosseguisse.
“Tudo está em seu lugar”... A nova “chefa” dos juízes federais não poderia ser mais talhada para dar ao golpista Temer tranquilidade diante da enxurrada de acusações e provas contra ele. Raquel Dodge (poderia ser Ford ou Chrysler, não é) foi nomeada para a Procuradoria Geral da República e, assim, fica estabelecida uma harmonia entre os poderes Executivo e Judiciário.
O fato só demonstra a enorme capacidade que o golpista tem de mover suas peças no tabuleiro político nacional. Antes de embarcar para um “rega bofe” com Trump, “o troglodita”, ele fez uma declaração à imprensa dizendo que tinha “um prazer extraordinário” ao nomear sua amiga para as novas funções.
A nova Procuradora tomou para si a causa apresentada por Rodrigo Janot, afastado do cargo, onde Temer é acusado de “associação ilícita” e de ter recebido 175 milhões de dólares resultantes de subornos em contratos da Petrobras e outras empresas estatais. Curiosamente, Janot não compareceu à cerimônia de posse de Raquel Dodge.
Ninguém sabe a razão do sorriso de Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco na fotografia quando embarcava para os EUA, todos envolvidos na denúncia de Janot!
O Brasil “quase parando”. As primeiras manchetes dos jornais enganam e tentam dissimular a realidade do país. O golpista Temer, no exterior, tenta mostrar um Brasil “cor de rosa”. Ainda que as notícias digam que, em agosto, o número de novas vagas de trabalho com carteira assinada continuou aumentando, a informação não resiste a uma análise mais objetiva.
As matérias dizem que o número de novas vagas somou 35.457, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta quinta-feira (21) pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Segundo o Caged, agosto foi o quinto mês seguido com mais vagas de trabalho formal abertas do que fechadas no país. No mês anterior, julho, foram gerados mais 35.900 postos de trabalho com carteira assinada. De janeiro a agosto deste ano, o mês de abril foi o que apresentou melhor resultado: 71.193 novas vagas em postos de trabalho formal.
Mas é preciso ver com calma esses números. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o desemprego continua alto. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), no trimestre de maio a julho, 12,8% dos brasileiros estavam desocupados, número que representa um quantitativo de 13,3 milhões de pessoas.
A Região Nordeste foi a que gerou mais postos de trabalho em agosto, com 19.964 vagas. Em seguida, vêm a Região Sul, com 5.935 vagas; o Centro-Oeste, com 4.655; o Norte, com 3.275; e o Sudeste 1.628 postos.
De acordo com o ministério, a média salarial de admissão no país ficou em R$ 1.482,07. A Região Sudeste aparece com a maior média (R$ 1.600,31). Em seguida, aparecem as regiões Sul (R$ 1.441,12); Centro-Oeste (R$ 1.369,69), Norte (R$ 1.293,60) e Nordeste (R$ 1.246,48).
Setor de serviços está entrando em crise. A atual crise econômica está interrompendo um período de sete anos de crescimento do setor de serviços no Brasil, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde o início da série histórica da Pesquisa Anual dos Serviços (PAS), em 2007, o IBGE registrou crescimento em dados como número de empresas, pessoas ocupadas e massa salarial real na área de serviços, além do valor adicionado pelo setor à economia. Em 2015, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 3,8%, os serviços registram queda em seus principais indicadores.
Segundo o IBGE, vários fatores influenciaram o desempenho negativo do setor. Entre eles, está o fraco desempenho do consumo das famílias, que caiu 4% com a retração da renda e do mercado de trabalho (veja nosso artigo no Informativo passado). Ainda de acordo com o instituto, houve piora nas condições de crédito e aumento da inflação, que chegou a 10,6%.
O número de trabalhadores ocupados pelo setor de serviços atingiu o pico de 12.986.478 pessoas em 31 de dezembro de 2014.
Entre as atividades pesquisadas agora, apenas os serviços prestados às famílias (+0,09%) e as atividades imobiliárias (+5,09%) tiveram variação positiva no número de empregados. Principais empregadores, os serviços profissionais, administrativos e complementares tiveram queda de 3,4%, de 5.247.882 de funcionários para 5.069.708.
O salário médio real dos trabalhadores do setor de serviços também foi afetado pela crise econômica em 2015. O valor médio caiu 4,6%, de R$ 1.959,30 em 2014 para R$ 1.869,38. O melhor salário médio real em 2015 foi pago pelos serviços de comunicação e informação, com R$ 3.830,64, apesar da queda de 5,15% sobre 2014. Os serviços prestados principalmente às famílias pagavam os menores salários em 2015, de 1.177,76.
A atividade de telecomunicações perdeu mais de cinco pontos percentuais de peso na receita operacional líquida do setor de serviços, conforme a pesquisa do IBGE. De 2007 a 2015, o setor deixou de responder por 18,9% da receita e caiu para 11,3%, o que não alterou sua posição como setor que mais gerou receita em 2015. No último ano pesquisado pelo IBGE, a receita da atividade foi de R$ 162 bilhões, valor inferior ao registrado nos anos de 2014 e 2013, segundo a Pesquisa Anual dos Serviços (PAS).
Colômbia diz não à Trump. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, fez um alerta a Donald Trump ao afirmar que uma intervenção militar na Venezuela não teria qualquer apoio por parte da América Latina! “Reiteramos ao presidente dos EUA (...) que qualquer intervenção não teria ajuda ou apoio por parte dos demais países da região”, disse ele.
O aviso foi feito durante um encontro no Palace Hotel de Nova Iorque e estavam presentes o presidente panamenho, Juan Carlos Varela, a vice-presidente da Argentina, Gabriela Michetti, e o golpista brasileiro Temer.
MNOAL diz não a medidas coercitivas de Trump. O Movimento de Países Não Alinhados (MNOAL) aprovou por unanimidade uma declaração repudiando as sanções unilaterais que EUA e outras nações aplicam a alguns membros desse grupo.
“O mais importante é que 120 países, mais de dois terços do total de Estados membros da ONU, deram uma resposta clara e firme sobre tudo aos EUA, mas também a outros Estados que pretendem impor medidas unilaterais coercitivas, as chamadas sanções, também a estados membros”, disse o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, em uma coletiva com a imprensa.
A Venezuela, no momento, exerce a presidência rotativa do MNOAL e tem sido alvo constantes de recentes sanções aprovadas por Washington.
O encontro de chanceleres e altos representantes dos governos que integram o MNOAL aconteceu em Nova Iorque, durante a realização da 72ª Assembleia Geral da ONU.
Rússia chama de inaceitáveis as ameaças de Trump contra a Venezuela. Sergéi Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia, declarou, na quinta-feira (21), que “é inaceitável incitar distúrbios e ameaçar com o uso da força para democratizar a Venezuela ou para minar as autoridades legitimas em qualquer país”.
O ministro fazia referência às ameaças do presidente estadunidense que, em agosto deste ano, disse que seu país “muitas opções para a Venezuela, inclusive a militar, se for necessário”.
Sem se importar com a opinião geral, em discurso na Assembleia Geral da ONU, na quinta-feira, a embaixadora dos Estados Unidos, Nikki Haley, disse que o país não descarta novas sanções à Venezuela. Ela disse que todas as opções estão em aberto caso “as coisas não melhorem”. Nikki disse que possibilidade de novo embargo petroleiro “não está fora da mesa”.
“Oposição” perde a força na Venezuela? A última ação coordenada pela chamada “oposição democrática” da Venezuela foi uma explosão em Altamira, bairro nobre de Caracas, em 30 de julho desse ano. Naquele dia 8 milhões de venezuelanos saiam de suas casas para votar na Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e os grupos de direita e os partidos que se opõem a Maduro planejaram o atentado com explosivos, que atingiu homens da Guarda Nacional Bolivariana e deixou mais de dez feridos. Não tivemos mais notícias de protestos ou ações dos direitistas desde então.
Na semana seguinte à Constituinte, os partidos opositores convocaram um protesto, mas apenas 100 manifestantes compareceram ao local do ato. Desde então, acabaram as convocações, as barricadas, os piquetes, e as ruas de Caracas voltaram a ter paz.
O jornalista venezuelano Victor Hugo Majano afirma que o recuo da oposição está relacionado à importante participação da população no processo que elegeu 545 deputados constituintes. “Foi uma derrota política muito contundente. O grande número de participação legitimou totalmente o processo eleitoral realizado pelo chavismo e o governo, apesar da propaganda maldosa que fizeram sobre a Constituindo no exterior. Também houve um certo desencantamento das pessoas devido ao uso da violência por parte da oposição durante os protestos”, apontou o jornalista. E a oposição deve estar repensando sua estratégia de não ter participado do processo eleitoral.
Duas semanas depois da eleição da Constituinte, dois dos partidos da oposição que protagonizaram os protestos contra o Presidente Maduro acumularam outra derrota - dessa vez, no contexto das eleições prévias para governador realizada pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalisão que 18 partidos opositores.
As eleições internas da MUD são feitas para escolher um candidato único entre os postulantes opositores para, depois, concorrer com o candidato do Partido Socialista Unidos da Venezuela (PSUV), do presidente Nicolas Maduro. As primárias foram realizadas em função das eleições para governadores de 23 estados venezuelanos, convocadas para 15 de outubro.
O partido Primeira Justiça, liderado pelo atual presidente da Assembleia Nacional da Venezuela (ANV), Júlio Borges, ganhou em apenas três dos 19 estados onde houve disputa. Já o partido Vontade Popular, do político Leopoldo Lopez (que cumpre prisão domiciliar depois de ser acusado de liderar protestos violentos em 2014), não ganhou em nenhum estado. O processo foi liderado por um partido que representa a velha oligarquia venezuelana, o Ação Democrática, que se manteve afastado dos protestos violentos.
A escravidão não acabou! Segundo recentes pesquisas realizadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 40 milhões de pessoas ainda são vítimas da “escravidão moderna”. Dessas, 25 milhões são submetidas a trabalho forçado e 15 milhões são levadas a matrimônio sem consentimento.
O informe foi divulgado durante a recente Assembleia Geral da ONU e retrata um estudo conjunto realizado pela OIT, Walk Free Fundation e a Organização Mundial para Migrações. Revelou o alcance da “escravidão moderna” e considerou impossível cumprir as metas divulgadas como Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O documento diz que mulheres e meninas representam 71% do total, cerca de 29 milhões. Isto alimenta 99% do comércio de sexo e 84% dos casamentos forçados!
Completando a informação, o documento diz ainda que cerca de 152 milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, são objeto de trabalho infantil, concentrado fundamentalmente na agricultura (70,9%) e no setor de serviços (17,1%), enquanto 11,9% estão na indústria.
Uma grande contradição? Em números recentes, nosso Informativo falou no crescimento da fome no mundo e da crise humanitária que já avança aceleradamente em alguns países, mas estamos diante de uma grande contradição: a fome aumenta e a produção de alimentos também está aumentando?
A produção mundial de cereais pode atingir o recorde de 2,61 bilhões de toneladas em 2017, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O estudo Perspectivas de Safras e Situação Alimentar, lançado na quinta-feira (21) em Roma, prevê que a situação global do abastecimento alimentar melhore com as boas colheitas na América Latina e a recuperação das condições agrícolas na região da África Austral.
A FAO prevê ainda que a produção global de arroz chegue ao máximo histórico de 503 milhões de toneladas este ano, um aumento de 0,5% em relação à estimativa revista em 2016. Na África, a produção total de cereais poderá crescer mais de 10%, após um aumento das safras de milho no sul do continente e de trigo no norte.
Qual o mistério? O mundo produz cada vez mais alimentos, mas esta sociedade produz mais famintos a cada dia!
De olho na Alemanha (1). Hoje será um dia para acompanhar os acontecimentos na Alemanha. Durante a semana a campanha eleitoral alemã entrou na reta final. Segundo as pesquisas, a atual chanceler Angela Merkel, segue como favorita nas pesquisas e pode assumir seu quarto mandato. Sondagem mostra que 34% dos eleitores não pretendem votar ou ainda estão indecisos.
No último dia 3, Merkel e seu principal adversário, Martin Schulz, participaram do único debate televisivo da campanha, visto como a grande oportunidade para os candidatos convencerem os eleitores indecisos. Apesar de Schulz ter atacado duramente Merkel com questões sobre imigração e relações com a Turquia, a atual chanceler se saiu melhor no debate.
Analistas locais consideram a reeleição de Merkel como certa. Mas, segundo alguns, o número de pessoas que pode se abster de votar é considerado muito alto.  De acordo com a pesquisa divulgada na quinta-feira (21) pela empresa GSM, o índice de abstenção (34%) é 5% maior do que nas últimas eleições.
A maior preocupação é que as abstenções podem favorecer o partido de extrema-direita, o AfD, que tem cerca de 10% de intenções de voto. Seus militantes declaram abertamente a simpatia pelo nazismo e usam habitualmente a violência. Alexander Gauland, um dos fundadores do AfD, é uma figura polêmica e já declarou, por exemplo, que os alemães deviam “ter orgulho” do que o seu exército fez nas duas grandes guerras.
De olho na Alemanha (2). As eleições deste domingo (24) na Alemanha estão marcadas por grandes enfrentamentos entre os principais partidos locais, mas a preocupação geral dos analistas não é com a possível formação de alianças para compor o Governo, mas com o avanço eleitoral de setores da extrema-direita.
A verdade é que existe um crescente descontentamento com a administração de Merkel e isso é comprovado pela queda de sua popularidade nas recentes pesquisas, mas não deve tirar sua vitória.
Segundo pesquisa do Instituto Emnid, 58% dos alemães acreditam que o desempenho de Merkel facilitou o desenvolvimento da eurocêntrica e xenófoba Alternativa para Alemanha (AfD) que deve receber cerca de 11% dos votos nas eleições gerais.
Criada em 2013, a AfD tem um programa claramente contrário à atual administração e conta com militantes partidários do nazismo e até mesmo defensores do extermínio de judeus. E muitos analistas consideram que seus seguidores representam o voto de protesto contra a posição vacilante de “la” Merkel e suas medidas de austeridade.
Em entrevistas recentes a chanceler, de 63 anos, tem tentado se distanciar da extrema-direita, mas a maioria dos cidadãos a responsabilizam pelo crescimento da AfD!
De olho na Alemanha (3). Em meio aos debates e campanhas para as eleições gerais, a Alemanha passou a semana envolvida em outro debate: a divulgação por economistas da Fundação Heinrich Boell, ligada aos sindicatos locais, sobre o crescimento da desigualdade social no país.
Segundo a matéria, “durante as últimas três décadas cresceram as diferenças sociais”, assegurou Gurtav Horn, chefe do Instituto de Macroeconomia e Pesquisas da Fundação. Segundo ele, ainda que os governos tenham anunciado crescimentos econômicos não conseguiram reduzir a desigualdade de rendas no país. Os números da pesquisa mostram que, entre 1991 e 2014, enquanto as rendas mais altas subiram 17%, as rendas médias cresceram 10% e os salários mais baixos apenas 3%!
Democracia? Não sabemos o que é! O governo espanhol, leia-se Mariano Rajoy, não tem qualquer ideia do significado da palavra “democracia”. Enquanto se mete quase diariamente nas questões internas da Venezuela, sustentando grupos de direita da chamada “oposição democrática” e exigindo “abertura democrática” no país, impede a realização do referendo popular sobre a independência da Catalunha.
Em recentes pronunciamentos, Rajoy declarou que na Espanha “há excesso de liberdade de expressão” e que “isso dá lugar a besteiras”. Ele se referia diretamente a um “porta-voz de um grupo parlamentar no Congresso que declarou que há presos políticos na Espanha”! Ele se referia às declarações de Pablo Iglesias.
Sobre a sua ordem para impedir a realização do referendo sobre a Catalunha ele disse que “o Estado de direito impediu o referendo” ao demitir sumariamente os componentes da junta eleitoral que organizava o processo. Mas não disse que deu ordens pessoais ao diretor do Tribunal Superior da Catalunha, nomeado por ele, para fazer o comunicado à polícia e à Guarda Civil.
Democracia? Não sabemos o que é! (2) A partir da determinação de Rajoy, prontamente atendida pelo juiz do Tribunal Superior, todo o corpo policial autônomo da Catalunha passa a estar sob o comando único do Ministério do Interior e vai ser comandado pelo secretário de Estado de Segurança! Simples assim!
O resultado da medida “democrática” de Rajoy foi imediato. Operação realizada na quarta-feira (20) terminou com 14 pessoas presas por envolvimento com referendo independentista, o que provocou a reação de milhares de pessoas que protestaram em frente à sede da Generalitat – sede do poder legislativo catalão.
A concentração começou depois das prisões de pessoas por suposta ligação com consulta popular sobre a independência da Catalunha a ser realizado no dia 1º de outubro. O referendo foi suspenso no último dia 07 de setembro pelo Supremo Tribunal Constitucional Espanhol.
Os manifestantes começaram a se concentrar às 10h da manhã após chamado da Assembleia Nacional Catalã (ACN) e de instituições ligadas a independência da Catalunha.

Segundo o portal El Diário “uma multidão ocupa a Gran Via de Barcelona e não para de chegar gente”. Os voluntários da ACN fizeram um cordão em frente à sede da Generalitat para que os políticos independentistas pudessem entrar e sair do edifício. A previsão é de que a manifestação dure por todo o dia.