quinta-feira, 14 de maio de 2020

Tosse constante é um alerta de que os pulmões estão mal

Tosse constante é um alerta de que os pulmões estão mal

Ela pode ser causada por alergias, irritações e até câncer de pulmão
Não é porque o verão chegou que a tosse não é um assunto importante. Seja ela crônica ou aguda, o sintoma é incomodo que atinge todas as idades e precisa ser levada a sério. "A tosse não é uma doença, e sim um sinal de que algo está irritando as nossas vias aéreas ou nossos pulmões", diz a pneumologista Iara Fikcs, do Hospital São Luiz.
Muitas vezes, só a força que fazemos para tossir é o suficiente para trazer complicações. Em idades extremas, ou seja, para as crianças e para os idosos, a tosse pode desencadear uma série de contusões. "Durante um ataque de tosse, as pessoas com mais idades ou as crianças podem forçar excessivamente os músculos que atuam na respiração, ou até mesmo quebrar uma costela ou tirar algum órgão do lugar por terem o organismo mais frágil", explica a médica.
Tosse - Foto Getty Images
Tosse - Foto Getty Images
Fatores externos
Uma casa empoeirada pode ser um dos motivos de ataques de tosse frequentes. "Quando estamos em um ambiente com muito pó ou outras partículas que irritam nosso sistema respiratório, os ataques de tosse se tornam muito mais comuns", diz Iara Fiks.
Esse tipo de problema acontece muito quando passamos por frentes frias. Com a baixa temperatura, as pessoas têm o instinto de fechar todas as janelas da casas, impedindo a circulação do ar e causando o acúmulo de poeiras.
Mas esse tipo de problema não acontece apenas no inverno. "O cada vez mais usado ar condicionado aumenta as chances de ataques de tosse por irritar os pulmões e deixar o ambiente mais seco", explica a pneumologista.
Tosse - Foto Getty Images
Tosse - Foto Getty Images
De acordo com a especialista, produtos de limpeza, perfumes e incensos com odores muito fortes também entram na lista negra dos fatores que contribuem para a irritação das vias aéreas.
Normalmente esse tipo de tosse dura menos do que três semanas, e é chamado de tosse aguda. Para amenizar os ataques desse tipo de tosse, além dos medicamentos prescritos pelo seu médico, como xaropes, vale a pena investir no mel e no própolis, além de frutas e sucos ricos em vitamina C.
Uma receita caseira que pode ajudar a combater uma tosse aguda é a mistura de mel de eucalipto com gotas de própolis. O mel ajuda na expectoração e diminui a irritação da garganta. O própolis é anti-inflamatório e ajuda a tratar agressões nas vias pulmonares.
Mas vale um alerta: as pessoas diabéticas devem evita o mel, pois é rico em açúcares, assim como crianças menores de um ano de idade.
Em 95% dos casos, as lesões dos tecidos pulmonares são irreversíveis, mesmo que o paciente tenha parado de fumar.
Fuja do cigarro
Para os fumantes fica o aviso da especialista: a fumaça do cigarro prejudica a qualidade de vida de todos os moradores da casa. "Não é apenas o fumante, mas todas as pessoas que convivem com ele, estão mais propensas a ter o pulmão irritado ou desenvolver doenças que causam tosses", diz Iara Finks.
A presença do cigarro na rotina traz problemas principalmente para os mais novos. Um estudo feito pela Sociedade Brasileira de Cefaleia comprova que filhos de mulheres que fumaram durante a gestação têm 2,5 vezes mais chance de ter dor de cabeça crônica diária na infância.
Outra pesquisa ainda diz que entre 20% a 30% dos fumantes desenvolvem a DPOC - doença que une bronquite e enfisema - após os 40 anos, sendo que alguns estudos sugerem que as mulheres são mais suscetíveis aos efeitos nocivos do cigarro do que os homens.
As crises respiratórias são causadas geralmente por infecções bacterianas ou virais, como explica a pneumologista. No período das crises, os pacientes sentem piora da falta de ar, fadiga, aumento da tosse crônica e da produção de catarro. Em 95% dos casos, as lesões dos tecidos pulmonares são irreversíveis, mesmo que o paciente tenha parado de fumar por muito tempo.
Fumar - Foto Getty Images
Fumar - Foto Getty Images
Quando a tosse não passa
Se a tosse dura mais do que três semanas, ela passa do quadro agudo para o quadro crônico. "Quando uma pessoa está a tanto tempo tossindo, é preciso procurar um médico para diagnosticar o problema e resolvê-lo enquanto isso", explica Iara Fiks.
A tosse pode ser o sintoma de uma série de doenças, desde as mais comuns como gripe, resfriado e alergia, como algumas mais sérias como tuberculose e até mesmo câncer de pulmão.
"Algumas doenças podem ser diagnosticadas a partir da presença, cor e textura do catarro ou de algum chiado no pulmão. Uma tosse carregada de catarro pode ser um sinal de uma doença mais séria, e é preciso procurar um médico o quanto antes", alerta a pneumologista.
"Um aviso importante é não ficar mais de três semanas tomando remédios para tosse, sejam eles caseiros ou comprados na farmácia, sem procurar um médico. Essa atitude pode estar mascarando uma série de problemas respiratórios que, se fossem tratados precocemente, poderiam ser curados sem grandes problemas", diz Iara Fiks.
Confusão com engasgo
Muita gente pensa que durante uma crise de tosse por engasgamento, bater nas costas de uma pessoa para tentar ajudá-la vai resolver o problema.
Um ataque de tosse é muito facilmente confundido com um engasgo. "O famoso tapinha nas costas não funciona quando estamos tossindo, e pode ser até perigoso para quem está com algo realmente preso na garganta", diz a pneumologista Iara Fiks, do Hospital São Luiz.
O mesmo discurso serve para líquidos. Oferecer um copo de água para uma pessoa com ataque de tosse não irá trazer alívio, e pode até fazer a pessoa engasgar de verdade, ficando ainda mais sem ar.

Na reunião de abril, Weintraub disse "odiar" a expressão "povos indígenas"


Na reunião de abril, Weintraub disse "odiar" a expressão "povos indígenas"

Marcos Corrêa/PR
Imagem: Marcos Corrêa/PR
Rubens Valente
Colunista do UOL
14/05/2020 17h41
Na reunião ministerial de 22 de abril — cuja filmagem foi recolhida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito que investiga as denúncias do ex-ministro Sergio Moro — , o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que "odeia" a expressão "povos indígenas", segundo fontes consultadas pela coluna.
Weintraub teria dito ao presidente Jair Bolsonaro e seus colegas que repudia a expressão porque todos são "o povo brasileiro".
A expressão "povos indígenas" é usada há anos por lideranças, organizações indígenas, como a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), uma das principais no país, e documentos internacionais, como a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, da ONU (Organização das Nações Unidas).
A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, professora titular aposentada da USP (Universidade de São Paulo) e professora emérita da Universidade de Chicago (EUA), disse que a expressão "povos indígenas" é a mais difundida internacionalmente hoje.
"A Declaração Internacional dos Direitos dos Povos Indígenas de 2007 é um exemplo disso. Como atesta a Constituição Federal, as sociedades indígenas se enquadram perfeitamente na primeira definição que o dicionário Houaiss dá do que é 'povo', a saber: 'Conjunto de pessoas que vivem em sociedade, compartilham a mesma língua, possuem os mesmos hábitos, tradições, e estão sujeitas às mesmas leis'".
De acordo com a antropóloga, "os povos indígenas no Brasil são também parte do povo brasileiro, pois nada impede que se seja membro de mais de um povo. O Brasil tem portanto o privilégio, como certa vez salientou [o líder sul-africano Nelson] Mandela, de contar com mais de 300 povos em seu território".
Eloy Terena, assessor jurídico da APIB, disse que declarações como a de Weintraub traduzem "um discurso dito nacionalista que é uma conduta extremamente autoritária e tende a tornar invisíveis as realidades étnicas que existem no Brasil".
O advogado lembrou que a Constituição de 1988 já reconheceu "a pluralidade étnica do país". Antes da Carta, disse Terena, "a ordem era integrar e transformar todos em um único povo, em um processo de branqueamento, e a Constituição vem e dá um outro comando, o comando de respeitar essa diversidade de povos".
"Nós, enquanto movimento indígena, usamos muito essa expressão justamente para retratar a diversidade étnica que existe no país. Nós temos 305 povos falantes de 274 línguas e ainda o registro de 114 grupos de povos isolados. Ou seja, é uma diversidade inigualável que existe no Brasil", disse Terena.
"Cada povo tem sua organização própria, seu sistema político próprio, sua língua própria. É por isso que a Constituição reconheceu toda essa pluralidade étnica. Nós defendemos sim a expressão 'povos indígenas' porque são vários povos com seus próprios territórios, sua própria autonomia, língua, sistema religiosos, político."
A antropóloga Lia Zanotta, professora da UnB (Universidade de Brasília) e conselheira da ABA (Associação Brasileira de Antropologia), entidade que presidiu de 2017 a 2018, disse que "não há nenhuma contraposição entre 'ser indígena' e 'não ser brasileiro'" e que essas discussões estão superadas desde, pelo menos, a Constituição de 1988, que "reconheceu claramente a diferença cultural, os costumes, o direito à liberdade de os indígenas exercerem seus costumes e tradições, a ocupação das terras originárias".
A Constituição alterou o entendimento dado pela ditadura militar, por meio do Estatuto do Índio, de 1973, sobre um esperado processo de "integração" dos indígenas. "No Estatuto, a ideia toda, o que estava implícito, era um ideal de integração. Era como se os índios fossem temporariamente índios e logo depois fossem integrados."
"Qualquer discurso hoje, em 2020, que remeta a uma ideia de que 'povo indígena' é uma noção ultrapassada é porque tem um desejo de ir contra os direitos indígenas, contra a diferença cultural, contra o acesso à terra. Como se pudesse apagar, com borracha, a história da colonização portuguesa e ficar com aquele trechinho do Estatuto de 1973 que fala em integração. É como se fosse uma versão caricata do Estatuto, que apaga todas as diferenças culturais. Acontece que a cidadania brasileira dos indígenas é particular."