terça-feira, 22 de maio de 2012

Mais uma

A memória de José Serra

Serra, que 'não conhecia' Paulo Preto, agora nega ter nomeado Hussein Aref
Por Helena Sthephanowitz, especial para a Rede Brasil Atual


Hussain Aref Saab, o diretor responsável pela aprovação de grandes e médias construções na capital paulista durante sete anos foi nomeado para a prefeitura por José Serra, em janeiro de 2005, como mostra o Diário Oficial da Cidade de São Paulo (DOM). A nomeação foi lembrada pela Folha de S.Paulo hoje (17).

De lá pra cá, Aref Saab adquiriu 106 imóveis – enquanto sua renda declarada é de R$ 20 mil mensais. O patrimônio do funcionário inclui 118 imóveis, dos quais 24 são vagas extras de garagens (o que faz a gente pensar que ele deve ter muitos veículos).

Ainda conforme o jornal, de 2005 até 2012, Saab, de 67 anos, o valor acumulado de suas posses ultrapassa R$ 50 milhões. Suspeito de participar de esquemas de corrupção e alvo de investigações, Aref Saab deixou o cargo no mês de abril desse ano

Mas Serra nunca sabe de nada.

Apesar do registro no DOM, candidato do PSDB à prefeitura paulistana nega ter nomeado Hussein Aref Saab para o cargo que lhe deu poderes para aprovar ou desaprovar empreendimentos imobiliários na cidade. E, obviamente, também criticou a veiculação do caso.

Em 2010, Serra também negou conhecer Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, x-diretor da estatal Dersa quando ele era governador. Paulo Preto, foi acusado por líderes do seu próprio partido de desviar pelo menos R$ 4 milhões arrecadados de forma ilegal para a campanha eleitoral de Serra candidato à presidência.

O tucano só lembrou que conhecia o ex-diretor da Dersa quando Paulo Preto, numa entrevista, mandou um recado muito claro: “Não se abandona um companheiro ferido na beira da estrada”

Dá para confiar na palavra de Serra?

Comissão da verdade

Investigar “outro lado” na ditadura: seria igualar nazistas à Resistência Francesa

por Rodrigo Vianna 

Raymond Aubrac morreu no mês passado. Tinha 97 anos, viúvo. Na França, era tratado como herói. Lutou de armas na mão contra os nazistas e contra os franceses colaboracionistas, que aceitaram manter um regime fantoche em apoio a Hitler. 

Aubrac e a mulher, morta há uma década, foram líderes da Resistência Francesa. Se morassem no Brasil, parte dos comentaristas e colunistas da direita brazuca certamente diria que eles tinham sido ”terroristas”. Sim, Aubrac lançou bombas, deu tiros. Foi preso, escapou milagrosamente dos nazistas. Tinha inimigos. E lutou. E não deixou de lutar. Depois da Guerra, tornou-se amigo de Ho-Chi-Min. E na última campanha eleitoral francesa, chegou a declarar apoio a Hollande, do Partido Socialista. Ele tinha um lado. 

Um homem precisa ser “neutro” pra lutar por Justiça? Tolice. Mais que tolice. Argumento falacioso a proteger criminosos de guerra. Seja na Europa ou na América do Sul. Aqui, às vezes cola. Lá, não cola… 

No Brasil, Aubrac e a mulher talvez fossem chamados de “petralhas”. Mais que isso. Talvez aparecesse um ex-ministro tucano dizendo que “os dois lados” precisam ser investigados. Sim! Não é justo julgar (ou relatar os crimes, que seja) apenas dos pobres nazistas. E as “vítimas inocentes” do “outro lado”? Essa Resistência Francesa era “criminosa”… 

Aubrac seria exercrado, ofendido. Pela internet, circulariam e-mails idiotas chamando o sujeito de “terrorista”, talvez achassem uma foto dele com fuzil pra dizer: olha só, o “outro lado” era adepto da força bruta, não era bonzinho, também precisa ser investigado… 

Isso me lembra o título daquele livro: “Falta Alguém em Nuremberg!” Sim, para a direita brasileira (e os apavorados que se acham de esquerda e têm medo de enfrentá-la) seria preciso enviar a Resistência Francesa a julgamento! Afinal, a Resistência pegou em armas, cometeu “crimes”. 

No Brasil, por hora, nem se fala em julgamento. Mas numa simples Comissão a relatar os crimes cometidos por agentes do Estado. Crimes contra a Humanidade. Não se fala em execrar soldados, sargentos ou oficiais que, eventualmente, tenham matado guerrilheiros em combate. Da mesma forma, nunca ninguém se atreveu a “condenar” soldados alemães que lutaram nas trincheiras ou nas ruas. 

O que se pretende é relatar crimes de tortura, desaparecimento, assassinatos cometidos a sangue frio… Ah, mas estávamos numa “guerra”, dizem militares brasileiros (secundados por civis perversos, e até por gente de boa fé mas desinformada) que atacam a Comissão. Há controvérsias se aquilo que ocorreu no Brasil foi uma “guerra”… 

De todo jeito, na Europa houve “guerra”. Pra valer. Nem por isso, crimes contra a Humanidade deixaram de ser julgados. Nazistas e seus colaboradores que torturaram, assassinaram e incineraram gente indefesa foram a julgamento. A Resistência Francesa não foi a julgamento. Nem irá. 

O resto é invenção do conservadorismo mais matreiro do mundo, porque dissimulado: o conservadorismo brasileiro. Nesse debate sobre a Comissão da Verdade, é preciso derrotá-lo. Com inteligência, moderação. Mas com firmeza.

Texto retirado do blog: O Escrevinhador