terça-feira, 5 de dezembro de 2017

LAVA-JATO VIRA PARTIDO CLANDESTINO E VAI PARTICIPAR DAS ELEIÇÕES DE 2018

Lava-Jato vira partido clandestino e vai participar das eleições de 2018



Ribamar Fonseca


O Brasil virou mesmo casa de mãe Joana, onde todo mundo manda. Além dos americanos e ingleses, de Temer, Jucá, Sarney, Eduardo Cunha e Aécio Neves, também mandam – e muito – os procuradores da Operação Lava-Jato. Esta operação, que se tornou um poder paralelo no país dando ordens, atropelando leis, desrespeitando a Constituição e ditando regras admitidas até pela Suprema Corte, agora escancarou também a sua condição de partido político clandestino, até então mascarado com o pretexto de combater a corrupção.

Seus procuradores, que já vinham interferindo na vida política do país, criminalizando a classe, desmoralizando os políticos e até apresentando projetos de lei, decidiram participar das eleições de 2018, se houver, recomendando nomes e, inclusive – quem sabe? – com candidatos próprios.

Embora eles neguem ninguém tem dúvida de que alguns deles concorrerão às próximas eleições: basta observar a postura e o discurso politico, por exemplo, de Deltan Dallagnol e Carlos Fernando.

Na verdade, eles vivem criticando e fazendo acusações a políticos, tornando a classe desacreditada, mas estão doidos para entrar na política e conseguir um mandato eletivo.

Reunidos no Rio de Janeiro para, segundo disseram, traçar diretrizes para a operação no próximo ano, os procuradores da Lava-Jato em atividades no Rio, São Paulo e Curitiba divulgaram uma carta informando que em 2018 vão deflagrar "operações conjuntas" com o claro objetivo de influenciar as eleições. O coordenador da força-tarefa do Paraná, Deltan Dallagnol, justifica a iniciativa dos procuradores afirmando que naquele ano "haverá a batalha final para a Lava-Jato".

Mas o que eles pretenderam dizer com "traçar diretrizes", "operações conjuntas" e "batalha final"?

São eles que decidem os rumos da operação?

Não existe mais hierarquia no Ministério Público?

A Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, teoricamente a chefe deles, teve alguma participação na elaboração dessas diretrizes?

Foi, pelo menos, consultada?

E o juiz Sergio Moro, que se acredita seja o chefe da Lava-Jato, está sabendo disso tudo?

Afinal, quem é mesmo que manda na operação?

Não é mais segredo para ninguém que a Lava-Jato tem vida própria, uma instituição poderosa dentro do Judiciário – por isso faz o que bem entende sem dar a mínima para a PGR ou para o STF – mas o que não se sabia é que os procuradores são os donos da bola, ditando os procedimentos, os caminhos e os alvos da operação.

A julgar pelo protagonismo deles, fica a impressão de que a Policia Federal é mera coadjuvante, apenas cumprindo as suas ordens, enquanto ao juiz Sergio Moro cabe a tarefa de assinar os mandados de prisão e as sentenças de acordo com o que foi decidido e solicitado por eles, os procuradores.

Conclusão: são eles mesmo que mandam.

E se sentem tão poderosos que criticam todo mundo, inclusive o Judiciário que, segundo Dallagnol, peca pela falta de "resolutividade" dos processos. "O sistema brasileiro – ele disse, em entrevista – é feito para não resolver questões importantes e investigações contra os poderosos".

Eles ficaram tão ousados que já se habituaram a criticar até o Supremo.

A pose deles, na foto em que anunciaram a carta, parece a de uma junta militar à paisana detentora de grande poder.

Como até hoje nenhum deles, inclusive o juiz Sergio Moro, foi incomodado pelas instâncias superiores, todos se sentem donos absolutos do poder. O juiz Moro, por exemplo, que se habituou a abusar do seu poder sem sofrer sequer uma advertência do Supremo, declarou recentemente que não se arrepende de ter violado a Constituição grampeando a presidente da República e divulgando o conteúdo do grampo.

Ele continua perseguindo escandalosamente o ex-presidente Lula, com a aprovação silenciosa da Suprema Corte, e negando todos os pedidos da sua defesa. Como agravante, a "Folha de São Paulo" revelou que o pessoal da Lava-Jato tem pressionado a Construtora Andrade Gutierrez para delatar Lula e o seu filho, do contrário não haverá acordo.

A presidenta do STF, ministra Carmen Lúcia, alertou recentemente sobre os excessos da operação, afirmando que "a corrupção precisa ser combatida e a lei cumprida, mas em nome do combate à corrupção não se pode atropelar a Constituição nem a lei".

Lindas palavras que, no entanto, não passam de palavras porque concretamente ela simplesmente não faz absolutamente nada para conter os excessos do juiz e dos procuradores.

Fica tudo no discurso.

Não faz muito tempo os procuradores da Lava-Jato, não satisfeitos com os seu poder, resolveram elaborar um projeto de lei com dez itens, classificados por eles como de anticorrupção, e o apresentaram à Câmara dos Deputados. O projeto, que chegava a extinguir o habeas-corpus e a legalizar a tortura, era tão absurdo que o ministro Gilmar Mendes classificou os seus autores de "cretinos". E, como seria de se esperar, não foi aprovado pelo Congresso.

Em compensação o Senado já aprovou um projeto, denominado pelo senador Roberto Requião de "Lei Cancellier", em homenagem ao reitor da Universidade de Santa Catarina vitimado pelos excessos da Lava-Jato, que pune os abusos de autoridade. Quando entrar em vigor essa lei deverá por um freio aos excessos de magistrados e procuradores, pois se depender dos seus superiores eles continuarão abusando do poder que o concurso lhes proporcionou. Tanto isso é verdade que já ameaçam interferir nas eleições do próximo com "ações conjuntas" para a "batalha final".

Parece coisa de super-heróis.


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Comentário deste blogueiro: tem muita gente querendo "uma boquinha" e imunidade parlamentar para escapar das ações judiciais que surgirão no futuro.


EXEMPLO PARA O BRASIL : Policiais se negam a reprimir protestos em Honduras e pedem que urnas sejam respeitadas

Policiais se negam a reprimir protestos em Honduras e pedem que urnas sejam respeitadas


'Nosso povo é soberano e a eles devemos, portanto não podemos estar confrontando e reprimindo seus direitos', afirmou Direção Nacional de Forças Especiais da Polícia Nacional de Honduras
Grupos de agentes policiais de Honduras se negaram, no início da madrugada desta terça-feira (05/12) a reprimir manifestações populares que protestam contra as possíveis fraudes no processo eleitoral do país. O presidente Juan Orlando Hernández foi anunciado como vencedor, mas o pleito é contestado pelo candidato de oposição Salvador Nasralla.
“Nosso povo é soberano e a eles devemos, portanto não podemos estar confrontando e reprimindo seus direitos”, afirmou a Direção Nacional de Forças Especiais da Polícia Nacional de Honduras, em um comunicado.
Os policiais pediram ao governo que busque a melhor saída para o conflito no país. “Advogamos que se recupere a paz e a tranquilidade para nosso povo o mais rápido possível”, afirma o texto.
Já à TV, um porta-voz do grupo, segundo a BBC Mundo, disse que o movimento é para manifestar ‘inconformidade com o que está passando a nível nacional”. “Nós somos povo e não podemos estar matando o próprio povo, nós também temos família.”

Maduro anuncia criação de criptomoeda na Venezuela: o 'petro'

Em encontro com Aung San Suu Kyi em Mianmar, Papa cobra respeito aos direitos humanos

Alto comparecimento às urnas marca eleições municipais em Cuba

 
Reprodução/Twitter


Grupos da Polícia Nacional de Honduras se recusaram a reprimir manifestações contra resultado eleitoral
Por sua vez, membros do esquadrão Cobras, grupo especial antimotins, apoiados também por agentes policiais preventivos, saíram de suas barracas no norte de Tegucigalpa e se recusaram a sair a fim de reprimir manifestantes que não estivessem cumprindo o toque de recolher determinado pelo governo.
Em comunicado lido a emissoras de TV hondurenhas, os Cobras pediram uma solução para a crise política. “Instamos ao Tribunal Eleitoral que respeite a vontade dos hondurenhos. Nossa posição não se deve a posições políticas, só queremos paz e tranquilidade”, afirmou o grupo.
Demora no resultado
Ante a demora no anúncio dos resultados das eleições presidenciais, os hondurenhos se mobilizaram pacificamente para exigir a difusão e defender os votos emitidos durante o pleito. Pouco depois, foram reprimidos pelas forças de segurança.
Na sexta-feira (01/12), o governo implementou um toque de recolher por 10 dias ante as manifestações.
(*) Com teleSUR

Sistema de contagem de votos em Honduras foi apagado antes de presidente passar a liderar apuração, diz oposição

Sistema de contagem de votos em Honduras foi apagado antes de presidente passar a liderar apuração, diz oposição


Técnicos do TSE afirmaram que todos os dados a partir do dia 26 de novembro foram perdidos; segundo oposição, acusações de fraude 'têm destruído a credibilidade do Tribunal'
A coalizão Aliança de Oposição Contra a Ditadura afirmou, em documento divulgado neste domingo (03/12), que funcionários do Tribunal Supremo Eleitoral de Honduras (TSE) disseram à campanha que o servidor que abrigava os dados das eleições presidenciais ocorridas no mês passado (26/11) foi formatado durante a apuração. Depois que o sistema foi limpo, o presidente Juan Orlando Hernández passou a liderar a contagem dos votos.


Clique e faça agora uma assinatura solidária de Opera Mundi
“O servidor da base de dados foi formatado, isto é, apagado por completo e instalado do zero a partir de 29 de novembro de 2017. As inserções de manuais de uma suposta cópia física são armazenadas em outro servidor. Todos os eventos a partir de 26 de novembro foram eliminados”, afirma o documento do Alianza, assinado pelo ex-presidente Manuel Zelaya, do LIBRE, e por Salvador Nasralla, candidato de oposição ao governo hondurenho.
Ainda segundo o documento da oposição, os técnicos do Tribunal teriam afirmado também que os dados do servidor secundário estavam corrompidos e, portanto, não poderia ter sido utilizado.  Ainda assim, “de acordo com a declaração dos técnicos da TSE, a execução de todas essas ações foi autorizada pelo Tribunal”, afirma o documento.
Ou seja: segundo a denúncia da oposição, toda a contagem feia no período anterior a 29 de novembro - que indicava a vitória de Nasralla - foi apagada e reintroduzida manualmente, por meio de outro servidor que também estava defeituoso. Antes de a formatação acontecer, Nasralla liderava a contagem com uma diferença de 5 pontos percentuais.
Em entrevista à emissora hondurenha TN5, um juiz suplente do TSE, Marco Ramiro Lobo, defendeu uma investigação do ocorrido. "Deve se revisar tudo. O sistema caiu por 10 horas e um dos servidores foi danificado. Creio que tudo isso deve ser investigado e perguntado a empresa contratada".
Foto: Reprodução

Segundo o Alianza, servidores teriam sido formatados

Conselho denuncia violação de direitos humanos em Honduras na repressão a protestos contra possível fraude eleitoral

Papa cobra fim da violência contra manifestações em Honduras

OEA pede que TSE de Honduras reconte mais de 5 mil atas eleitorais; população faz protestos pelo país

 
O documento lista ainda uma série de solicitações que não foram atendidas pelo Tribunal Eleitoral. O Alianza pediu o envio de 5.174 atas, mas só recebeu "um arquivo de números no Excel, sem imagem das atas”.
Por fim, diz que as acusações de fraude “têm destruído a credibilidade do Tribunal perante a comunidade nacional e internacional”. Por esse motivo, exige “que se suspenda de imediato o estado de sítio e se convoque os principais partidos políticos para que através do diálogo se construa um consenso para a verificação da validação do da apuração em definitivo”
Resultado oficial
De acordo com os resultados oficiais divulgados pelo TSE na tarde desta segunda-feira (04/12), o presidente Hernández obteve 42,98% dos votos, contra 41,39% do candidato de Nasralla. 

Segundo os resultados emitidos pelo órgão, Hernández, candidato pelo Partido Nacional de Honduras, obteve 1.411.517 votos, contra 1.359.170 votos deNasralla.

O Tribunal afirmou também que houve 53% de participação no processo eleitoral, o que representa 3.800.800 eleitores.

Honduras: ex-presidente Zelaya diz que TSE fraudou resultados


Honduras: ex-presidente Zelaya diz que TSE fraudou resultados


Zelaya contesta resultados divulgados e afirma que tribunal ‘ateou fogo em Honduras’; último balanço mostra vantagem de 1,50% para o atual presidente Juan Orlando Hernandez
O ex-presidende de Honduras Manuel Zelaya afirmou nesta sexta (01/12), por meio de sua conta no Twitter, que os dados divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral de Honduras (TSE) sobre as eleições ocorridas no último domingo (26/11) foram manipulados.


Clique e faça agora uma assinatura solidária de Opera Mundi
De acordo com o primeiro boletim, divulgado pelo TSE na última segunda-feira (27/11), o candidato de oposição Salvador Nasralla liderava o pleito por 5 pontos de vantagem sobre o governista Juan Orlando Hernandez, atual presidente de Honduras.

Entretanto, este resultado foi sendo revertido em favor de Hernandes durante o andamento da apuração. 94% das urnas foram apuradas e apontam uma vantagem de 1,50% ao governista, segundo o último balanço, divulgado na noite de ontem. O TSE de Honduras informou que 1031 atas eleitorais ainda não foram apuradas.

“O TSE ateou fogo em Honduras com os dados manipulados que publicou hoje contra Salvador Nasralla. O povo está nas ruas defendendo o que foi decidido nas urnas”, afirmou Zelaya, que apoia a candidatura de Nasralla.

Wikimedia Commons

Ex-presidente do país contestou últimos dados e afirmou que o TSE "ateou fogo em Honduras"

Vice-premiê da Irlanda renuncia para evitar novas eleições

Honduras: oposicionista acusa TSE de fraudar eleições e convoca manifestação

Polícia reprime manifestação em frente a Tribunal Eleitoral de Honduras; presidente passa a liderar apuração


Através de suas redes sociais, Nasralla, que é candidato pelo oposicionista Partido Anti-corrupção, publicou dezenas de denúncias sobre o processo eleitoral hondurenho, que vem sendo marcado pela lentidão das apurações. O candidato afirmou que nas últimas horas o TSE vem tentando modificar os resultados finais. “Caíram os sistemas, caiu tudo e começaram a entrar atas [eleitorais] que não estavam assinadas”, afirmou Nasralla.

Devido às acusações de fraude eleitoral, manifestantes se concentraram na madrugada da última quinta-feira (30/11) em frente ao Tribunal Supremo Eleitoral do país, que apura os votos. A polícia hondurenha reprimiu fortemente os manifestantes.

Golpe de 2009

O ex-presidente Manuel Zelaya, então membro do Partido Liberal de Honduras, foi vítima de um golpe cívico-militar em 2009, penúltimo ano de seu mandato, sob a alegação de que estaria manobrando reformas na constituição. Os EUA, Brasil, membros da União Europeia e outros países condenaram o golpe, pedindo a restituição da legalidade no país.

Zelaya pretendia realizar uma consulta popular para saber se haveria a necessidade de uma reforma constitucional. O golpe gerou uma grave quebra de ordem, provocando um colapso econômico no país.

Roberto Michelleti, então presidente do congresso nacional de Honduras, assumiu o poder interinamente. Zelaya voltou a Honduras em setembro de 2009, buscando refúgio na embaixada brasileira, onde ficou até janeiro de 2010.

Após deixar a embaixada, Zelaya foi obrigado a se exilar na República Dominicana, onde ficou até 2011, ano em que pôde retornar a Honduras. Após seu retorno, fundou o Partido Liberdade e Refundação (Libre), voltando oficialmente para a política.

Em junho de 2012, sua esposa, Xiomara Castro, se candidatou à presidência pelo Libre, com o apoio de Zelaya. No entanto, o racha entre o seu partido e o também opositor Partido Anticorrupção (PAC), não conseguiu ameaçar a hegemonia do Partido Nacional, que venceu as eleições de 2013, elegendo Juan Orlando Hernández.

Zelaya formou então, em 2017, uma coalização entre os dois partidos de oposição, apoiando Nasralla, em uma tentativa de ameaçar a reeleição de Juan Orlando, que só pôde concorrer ao pleito do último domingo graças a uma polêmica emenda constitucional que dribla a proibição de um segundo mandato no país. 

A VERDADEIRA FACE DA LAVA JATO

Em www.diariodocentrodomundo.com.br, na seção ESPECIAIS DCM, há muitas matérias de fundamental interesse para quem quiser conhecer a verdade sobre a LAVA JATO e seus integrantes da chamada República de Curitiba.

Paisagens de uma nação avacalhada


SEGUNDA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 2017

Paisagens de uma nação avacalhada

Por Jeferson Miola

O Brasil é uma nação avacalhada pela avalanche reacionária, autoritária e antidemocrática irrompida nas chamadas “jornadas de 2013” que cumpriu seu propósito original 3 anos depois, em 2016, no golpe que derrubou a Presidente Dilma.

A cleptocracia, governo de ladrões co-habitado pelo PSDB e liderado pela quadrilha do Temer, cometeu e segue cometendo crimes de lesa-pátria; continua atentando contra os direitos do povo brasileiro e comprometendo o futuro do país.

A organização criminosa do PMDB, todavia, não é a responsável exclusiva por esta tragédia nacional. O ativismo tucano na gênese do golpe foi fundamental para o êxito da conspiração tramada por Cunha, Temer, Padilha, Moreira, Geddel, Jucá.

É necessário sempre remarcar a responsabilidade de toda a canalhada tucana – empresarial, financeira, religiosa, jurídica, política e parlamentar – na gestação do golpe e na avacallhação da política, da economia e da sociedade brasileira no pós-golpe.

Aécio, FHC, Serra, Alckmin, junto com seus sócios nacionais e estrangeiros, jogaram o Brasil no precipício. Sem a movimentação golpista deles [logo após a derrota eleitoral de 2014] em aliança com o empresariado, com a mídia monopólica [sobretudo a Rede Globo], com setores do judiciário [PF, MP e STF] e com o capital financeiro, o golpe não teria sido concretizado.

O personagem que capitaneou este processo – Aécio Neves – cujos laços com a criminalidade ficaram conhecidos, ainda preserva poder e influência no partido e na cleptocracia governamental. Ele presidia e era quem mandava de fato no PSDB até 2 semanas atrás, e continua influenciando as escolhas políticas do governo.

Sem a colaboração ativa também do STF, o golpe não teria sido perpetrado. A Suprema Corte, integrada à estratégia midiático-golpista, lavou as mãos; foi cúmplice do golpe. Decidiu ater-se à formalidade do rito do impeachment e recusou se pronunciar sobre a aberração jurídica de um processo conduzido pelo gângster Eduardo Cunha apesar da inexistência de fato determinado, como exige a Constituição.

Dali em diante, o país entrou numa espiral de retrocessos e atrocidades. O regime de exceção se aprofundou, e hoje é difícil saber se o Brasil está fora da normalidade ou se está sob a vigência de um “novo normal”, no qual vicejam características típicas de Estados policiais, autoritários, ao lado de lógicas neofascistas.

A cada dia o golpe se propaga. Não passa um único dia sem ocorrer algum novo ataque ao povo, à economia nacional, à soberania do país e ao Estado de direito. O arsenal do golpe parece inesgotável. Quando se imaginava que destruição da CLT seria o fim do fim do poço, os golpistas responderam com a liberação do trabalho escravo.

Na última semana os sinais deste “novo normal” coloriram as paisagens de uma nação tragicamente avacalhada:

- procuradores da Lava Jato, possuídos pelo delírio salvacionista que os caracteriza, criaram a Liga da Justiça, inspirada nos “meta-humanos” do filme norte-americano homônimo. Eles são a Justiça, acima das instituições, das Leis e da Constituição;

- o juiz Marcelo Bretas, versão Sérgio Moro do Rio de Janeiro, se exibiu nas mídias sociais ostentando o porte de uma arma mortífera, de alto poder destrutivo. O efeito simbólico da imagem do juiz-Rambo não é diferente da imagem de um chefe do crime organizado com uma metralhadora em punho: ambos têm sua própria Justiça;

- Gilmar Mendes, juiz tucano do STF, aplica o estranho critério da Justiça para [e entre] amigos para conceder o 3º habeas corpus ao empresário mafioso dos transportes do Rio de Janeiro, Jacob Barata Filho – que é seu compadre, sócio do seu cunhado e cliente do escritório de advocacia de sua esposa. A filha do Barata foi casada com o filho da esposa do Gilmar, a senhora Guiomar Mendes;

- Rodrigo Tacla Duran, ex-Odebrecht, indicou que Carlos Zucolotto pediu US$ 5 milhões de suborno para facilitar delação premiada que seria avalizada por alguém da força-tarefa da Lava Jato conhecido pela sigla “DD”. Seria apenas mais um caso de corrupção, não fosse Carlos Zucolotto padrinho de casamento de Sérgio Moro e sócio do escritório de advocacia da esposa dele, Rosângela Moro, que no passado recebeu honorários do próprio Rodrigo Tacla Duran. Chama atenção, no caso, a inapetência da Lava Jato e da Rede Globo em averiguar se a identidade de “DD” corresponde a “Duis Dinácio Dula da Dilva”, como já se ironiza na praça, ou se pode significar Dolores Duran ou, quem sabe ainda, Deltan Dalagnoll, o pregador fanático.

O Brasil foi apossado por uma bandidagem jurídica, política, midiática e empresarial que se protege aprofundando o regime de exceção.

Garantir que a eleição de 2018 seja limpa e democrática, com a presença de Lula na urna eletrônica, é condição essencial para que o povo brasileiro possa interromper este processo devastador para revogar os retrocessos, restaurar a democracia e dar início à restauração econômica, política e social do país.


Texto original: BLOG DO MIRO

Das senzalas à TV, o racismo naturalizado


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Das senzalas à TV, o racismo naturalizado


Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:

Um jornalista da Rede Globo diz com todas as letras que a buzina de um carro nas proximidades do local onde realizava uma entrevista “era coisa de preto”. Outro, colocado pelo governo golpista no cargo de presidente da Empresa Brasil de Comunicação, divulga em pleno horário de trabalho mensagens racistas através da internet.

Parecem fatos isolados, originários de comportamentos individuais doentios. Mas não são. Refletem o racismo arraigado em amplos setores da sociedade que volta e meia vem à tona fazendo-nos lembrar que mais de 300 anos de escravidão não se apagam tão facilmente.

O Brasil depois da abolição não viveu a segregação institucionalizada dos Estados Unidos ou o apartheid da África do Sul, onde a discriminação racial era explicita. Aqui os negros ao conquistarem sua libertação tornaram-se cidadãos formalmente iguais a todos os outros. Apenas formalmente. Na vida real deixaram os grilhões que os prendiam aos senhores para serem jogados na vala comum da miséria, quando não da indigência.

Refletindo sobre esses acontecimentos, o abolicionista Joaquim Nabuco deixa tudo isso claro. Escreve no livro Minha Formação que o movimento contra a escravidão no Brasil “era um partido composto de elementos heterogêneos capazes de destruir um estado social levantado sobre o privilégio e a injustiça, mas não de projetar sobre outras bases o futuro edifício”.

E mais. Dizia que a realização da obra abolicionista “parava assim naturalmente na supressão do cativeiro; seu triunfo podia ser seguido, e o foi, de acidentes políticos, até de revoluções, mas não de medidas sociais complementares em benefício dos libertados, nem de um grande impulso interior, de renovação da consciência pública, da expansão dos nobres instintos sopitados”. Para Nabuco, “a corrente abolicionista parou no mesmo dia da abolição e no dia seguinte refluía”.


Refluxo com consequências que chegam aos nossos dias através das estatísticas recorrentes mostrando as discrepâncias de renda entre a população branca e negra ou da constituição da população carcerária brasileira formada em sua absoluta maioria por negros e pardos.

São dados reais e palpáveis aos quais se associam outros, de caráter simbólico, como o da ausência ou da sub-representação do negro na televisão, especialmente na publicidade e em telenovelas. Fato que levou uma dinamarquesa a dizer que há mais negros na TV do seu país do que na televisão brasileira.

Como formar uma identidade negra se os espelhos refletem imagens que não correspondem a ela. Em outras palavras, como uma criança negra pode adquirir uma cidadania completa vendo o negro ser exibido cotidianamente – salvo raras exceções – como escravo, assalariado subalterno ou mesmo bandido?

Do mesmo modo formam-se identidades brancas fundadas na ideia da superioridade racial. Constituem-se mentalidades que diante do cerco simbólico racista naturalizam a relação desigual revelada em situações as mais variadas que vão de comentários e pretensas piadas à escolha, pela cor, das pessoas abordadas nas ruas por agentes policiais.

No telejornalismo a situação é a mesma. Apresentadores negros contam-se nos dedos e atrás das câmeras a situação não muda. No jornalismo em geral as redações são formadas praticamente apenas por brancos. São eles que falam sobre os negros, sobre suas alegrias e angústias. A vivência negra, dessa forma, aparece na mídia atravessada por intérpretes brancos que por maior boa vontade e retidão de caráter que possuam nunca conseguirão transmitir o que os negros sentem na pele.

O pior é que além de praticamente não existirem nas redações, os negros nem sempre são tratados por brancos capazes de entender o drama do racismo. Ao contrário, o difundem sem a menor autocrítica como demonstram os exemplos recentes citados acima.

As duas agressões mencionadas possuem como ponto comum o fato de terem sido cometidas por profissionais da comunicação, ambos colocados em posições públicas onde atos e palavras causam larga repercussão. E por consequência implicam em maior responsabilidade, algo ao que tudo indica desprezado por seus autores.

O antídoto a esse estado de coisas é a denúncia ampla e rápida dessas violações da dignidade humana, envolvendo todos aqueles que lutam contra o racismo no país. Nesses casos recentes, foi essa reação que determinou o imediato afastamento do apresentador de TV das telas e a investigação pela Comissão Ética Pública do governo federal do comportamento adotado pelo gestor da Empresa Brasil de Comunicação. Não deixa de ser um alento.

Texto original: BLOG DO MIRO

O Partido Social Democrata na máquina de moer.


O Partido Social Democrata na máquina de moer.

   

 
27/11/2017 17:03
 
Há uma tônica dominante na cultura política hegemônica na Alemanha: imaginar o futuro é cauterizar o passado. Isto implica neutralizar o perigo do retorno nazista, mas também o suposto radicalismo dos que a ele se opuseram. Também há um amálgama em que nazismo e comunismo se confundem, irmanados neste imaginário pelo controle sobre a vida privada das pessoas comuns e também das incomuns.
 
Este karma constante se transformou numa ideologia conservadora que reina na Alemanha e a partir dela se espraia pela Europa, a partir da construção da União Europeia e da Zona do Euro. Tudo sob a batuta da Alemanha e, como num baixo contínuo barroco, dos acordes do Banco Central Alemão através do Banco Central Europeu. No proscênio, quem governa é Angela Merkel, que inegavelmente tem estofo de estadista. Quem reina, no bastidor, é a sólida formação neoliberal que inspira 90% das escolas de economia do país e do continente.
 
Para este caroço central da política alemã e europeia não pode haver ponto fora da curva. É só lembrar o que aconteceu com a Grécia. Eleito um governo de oposição, foi posto de joelhos e obrigado a aplicar o programa que perdera na eleição. A Islândia teve melhor sorte. Por quê? Porque não pertence à Zona do Euro, e tem soberania sobre a própria moeda. Portugal, até agora, com sua “Geringonça” (o nome popular da frente de esquerda), também vem tendo melhor sorte. Claro. Hexa uma diferença: da liquidez da dívida grega dependia a estabilidade dos bancos alemães e também franceses. Portugal teve sorte de escapar desta ‘máscara de ferro”. Vamos ver até quando: a “Geringonça” começa a dar mostras de rachas pela frente.
 
Na última eleição alemã, olhando-se sobre a farândula dos resultados, o ponto fora da curva foi o SPD, o Partido Social Democrata. Nos últimos anos ele se tornara um concorrente ao Óscar de coadjuvante no filme dirigido e protagonizado por Angela Merkel, sua União Democrata Cristã e a sócia bávara e ainda mais conservadora, a União Social Cristã. 
 
Aparentemente, o ponto fora da curva foi o novo partido Alternative für Deutschland, AfD, de extrema direita, que recolheu os votos dos ressentidos com a política de abertura para os refugiados, protagonizada por Merkel. Mas isto segue um padrão europeu: foi assim com Marine Le Pen na França, Gert Wilders na Holanda, Ciudadanos na Espanha. São os neonazis disfarçados na pele de cordeiro do pedigree acadêmico ou do “bom-mocismo” cultural, pregando que a Europa deve permanecer pura, seja lá o que isto queira dizer.
 
O AfD cresceu às expensas da CDU e da CSU. Até aí nada de novo.
 
O problema foi que o SPD rejeitou, com a nova liderança de Martin Schulz, a ideia de permanecer na coalizão governamental dirigida por Merkel. Contados os votos, Merkel ficou com a missão impossível de organizar uma coalizão com a CSU, o liberal FDP e os Verdes, que nesta altura pareciam, de novo, ventoinhas de aeroporto, girando para onde o vento sopre em nome de ocupar cargos no governo. A experiência não é nova: já aconteceu antes, quando os Verdes integraram o governo com o SPD e, em troca de acordos sobre o fechamento das usinas nucleares, concordaram com o envio de tropas alemãs para o Afeganistão. Enquanto isto, o SPD, como o Labour de Tony Blair, soçobrava de vez, entregando-se ao ideário neoliberal e introduzindo uma serie de reformas “modernizados” da economia e da previdência social. Foi o começo de desastre para o SPD, e também para os Verdes, que hoje são partidos em busca de suas identidades perdidas.
 
Contra todas as disposições da mídia mainstream alemã, o SPD começou esta caminhada de reencontro nestas eleições. Rejeitou a coalizão conservadora, em que seria eterno primo pobre, dispôs-se a rever alguns dos postulados neoliberais que antes defendera.
 
Mas ficou numa posição de esquizofrenia: de um lado (Schulz) propunha ser de oposição. Do outro (a velha guarda), ainda integrava o governo de Merkel. Sua votação encolheu, de 25% em 2013 para 20% agora em 2017. Mas tinha a a oportunidade de se reencontrar com seu nome: Partido SOCIAL-DEMOCRATA, porque nos últimos anos o primeiro adjetivo tornou-se esquecido.
 
Como a nova coligação de Merkel se revelou impossível, as possibilidades são: 1. novas eleições; 2. um governo minoritário; 3. o SPD voltar atrás e dispor-se, de novo, a ser o fiador menor do governo conservador. 
 
A partir de hoje (segunda, 27) o tema estará em discussão no partido. Hexa pressões enormes para que ele ceda à “obrigação do dever”, continuando a ser ‘pflichtbewusst’, cônscio dele, impedindo o impasse e a implosão da liderança de Merkel. 
 
Se isto acontecer, vai significar a salvação para a chanceler e a continuação de desastre para o SPD, tudo em nome de cauterizar a imagem do passado,  e seus radicalismos em confronto.  
Fonte: Carta Maior

Frei Henri, um aristocrata a serviço dos oprimidos

Frei Henri, um aristocrata a serviço dos oprimidos

   

 
30/11/2017 16:45
bordalo.com.br/blog
 
O dominicano Henri Burin des Roziers foi daqueles homens que tiveram a coragem de abandonar o conforto e a segurança de suas origens para se tornar um pobre com os pobres. Ele morreu no domingo, 26 de novembro, em Paris.
 
Tive a honra de conhecê-lo e entrevistá-lo. Depois, cultivamos uma amizade, alimentada pela minha grande admiração e respeito e por sua atenção e afeto. Na entrevista sobre sua missão no Brasil – onde morou quase 40 anos e de onde voltou por problemas de saúde – ele  resumiu numa frase sua experiência de advogado de camponeses perseguidos por latifundiários: "A Justiça no Brasil é um braço da elite". 
 
Nascido numa família da aristocracia francesa, Henri foi um jurista dominicano diplomado pela Sorbonne e por Cambridge. Ele pôs sua erudição jurídica a serviço dos camponeses perseguidos pelos grandes latifundiários no Brasil.
 
Frei Henri foi para o Brasil em 1978, depois de conhecer a história do frade dominicano Tito de Alencar, preso e torturado pela ditadura, um dos 70 presos políticos trocados pelo embaixador suíço, sequestrado pelos revolucionários no Rio de Janeiro. Na França, onde viveu os últimos anos perseguido pelas sequelas da tortura, Tito se suicidou aos 28 anos. No convento Saint-Jacques, frei Henri conhecera os três dominicanos brasileiros exilados em Paris : Tito de Alencar, Magno Vilela e Oswaldo Rezende.
 


Os dominicanos Xavier Plassat e Henri des Roziers, em Paris, no Convento Saint-Jacques. Plassat trabalha no Brasil na denúncia de trabalho escravo. 
Frei Henri des Roziers esperou dois anos que a ditadura se dignasse a dar o visto de entrada a ele e a mais quatro dominicanos franceses.
 
A maior parte dos anos de sua permanência no Brasil (mais de 30 anos) frère Henri viveu no Pará, em Rio Maria. Essa cidade é campeã de assassinatos por encomenda de líderes sindicais e conhecida como “a terra da morte anunciada”. Por isso, virou símbolo da luta camponesa no Pará.
 
O “advogado dos sem-terra”, como frei Henri ficou conhecido, passou os 10 últimos anos de sua permanência no Brasil sob proteção policial pois se tornara alvo de matadores profissionais.
 
 


Homenagem a frei Henri, do MST 
Em 2009, frei Henri e o dominicano Jean Raguénès foram homenageados pela embaixada francesa pela atuação social no Brasil, na luta contra o trabalho escravo e a violência no campo.
 
Frei Henri Burin des Roziers poderia ter sido indicado para o Prêmio Nobel da Paz. Mas no mundo em que vivemos, os ganhadores desse prêmio costumam ter mais sangue nas mãos que uma história de luta pelos oprimidos. Penso em Henry Kissinger, Barack Obama e em Aung San Suu Kyi. Por seu silêncio, ela se tornou cúmplice do regime militar da Birmânia na limpeza étnica em curso com a expulsão dos  rohingyas.
 
Com a morte de frei Henri, o mundo perde um homem que encarnou a ideia que faço da santidade.
 
___________________________________________________
 
Abaixo, a entrevista que fiz com Frei Henri em 2015, publicada na revista Carta Capital.
 
 

Para o frei Henri Burin des Roziers não há reforma agrária porque a propriedade da terra é imposta pela violência
A Justiça no Brasil é braço da elite
De Paris

Em seu quarto no convento Saint-Jacques, em Paris, a 12 mil quilômetros de Rio Maria, pequena cidade do Pará onde defendeu na Justiça inúmeros camponeses sem-terra, o frade dominicano e advogado Henri Burin des Roziers, 85 anos, recebe CartaCapital para falar da sua experiência no Brasil, onde foi morar em 1978. Rio Maria, campeã de assassinatos por encomenda de líderes sindicais, é conhecida como “a terra da morte anunciada” e, por isso, virou símbolo da luta camponesa no Pará.
O “advogado dos sem-terra” pertence a uma tradicional família francesa. Estudou em Cambridge e fez doutorado na Sorbonne,  antes de se tornar alvo de matadores profissionais. Em 2005, recebeu o Prêmio Internacional dos Direitos Humanos, na França, onde, em 1994, fora condecorado com a Légion d’Honneur.
CartaCapital: Segundo a Comissão Pastoral da Terra, entre 1985 e 2011, 1.610 pessoas foram assassinadas no Brasil em conflitos de terras. Camponeses, padres, freiras e advogados que defendiam os camponeses. Entre os estados brasileiros, o Pará é o mais violento, com 645 mortos entre 1985 e 2013. Por que essa violência?
Henri Burin des Roziers: Certamente, por causa da impunidade. Foi por isso que, quando fui enviado a Rio Maria, trabalhei contra a impunidade dos pistoleiros e seus mandantes, que tinham matado sindicalistas. Em Rio Maria, tinham assassinado João Canuto, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, tinham ameaçado o outro presidente, que teve de fugir, e depois assassinaram quem o sucedeu, Expedito Ribeiro de Souza. E nada acontecia. Por isso, passei grande parte do meu tempo no Brasil tentando agir para que a Justiça julgasse e condenasse os assassinos. Essa impunidade diminuiu um pouco, alguns foram julgados.
CC: O senhor obteve vitórias. Como se explica a violência em torno da terra no Brasil?
HBR: Eles continuaram a assassinar, claro, até hoje o fazem. Mas não da mesma forma sistemática. Creio que por causa do nosso trabalho. A Justiça, hoje no Brasil, ainda está ligada às classes dominantes. Na época, eles compravam juízes. Obtivemos condenações formidáveis em Rio Maria, mas na hora da execução da pena tivemos problemas por causa do conluio da Justiça com os ricos. Apesar de tudo, acho que houve pequenos avanços. No País, há uma cultura da violência, sobretudo no Norte. Ela se explica pela impunidade, mas também porque está na estrutura da sociedade. Os  que têm poder na região são violentos e a propriedade da terra é uma realidade que se impõe pela violência.
CC: A reforma agrária no Brasil é impossível? Por que nunca foi realizada?
HBR: Creio que há uma razão histórica. Na história do Brasil, o problema da propriedade e da terra é visceral. Talvez por causa das Capitanias Hereditárias e das Sesmarias, no início da colonização. Os primeiros colonos recebiam o poder a partir da terra. Desde a origem, o problema era fundamental. A terra como símbolo de riqueza e poder.
CC: Por que tanto Lula quanto Dilma Rousseff não ousaram fazer a reforma agrária?
HBR: Antes deles houve quem tentasse. O golpe de Estado de 1964 aconteceu em parte por causa das Ligas Camponesas de Francisco Julião. O problema da propriedade da terra no Brasil é explosivo.
CC: Como o senhor viu a nomeação da representante do agronegócio, grande latifundiária, Kátia Abreu, para o Ministério da Agricultura ?
HBR: É imcompreensível. Dilma Rousseff foi eleita com muita mobilização dos Sem-Terra, do MST. Nomeou essa mulher para sobreviver, para ter um apoio político. Dilma está fragilizada. Totalmente envolvida em um jogo difícil. Agora é o poder pelo poder. É o que se dá com o PT. No Partido dos Trabalhadores, salvo algumas exceções, o conjunto dos parlamentares luta para manter o poder. Não têm mais preocupações ideológicas, não se empenham por reformas. Dilma Rousseff não tem mais nada a ver com a Dilma Rousseff de Lula, quando chegou ao poder. Mas vale dizer que era uma tecnocrata, não está na origem do PT.
CC: Depois do assassinato da freira Dorothy Stang, em 2005, o senhor passou a ser protegido por policiais. Por que o senhor era um alvo?
HBR: Porque trabalhei no Brasil por muito tempo como advogado, principalmente como advogado de acusação, se posso dizer assim, tentando levar à Justiça os matadores de camponeses e seus mandantes. Levamos à Justiça assassinos de camponeses e líderes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria. Nos anos 80, os fazendeiros da região tinham decidido que o sindicato teria de fechar. Para tanto, mandaram matar, em dezembro de 1985, seu primeiro presidente, João Canuto. Depois mataram seus dois filhos, José e Paulo. Não mataram a viúva porque não a encontraram. O sucessor de Canuto teve de fugir para não ser morto. Outro camponês, Expedito Ribeiro de Souza, assumiu a presidência do sindicato e foi assassinado em 1991. Depois, assassinaram um diretor do sindicato, Brás de Oliveira. Um companheiro dele conseguiu escapar, foi sequestrado e mandado para longe de Rio Maria.
CC: Como defensor dos sem-terra, o senhor passou a ser um alvo?
HBR: Lembro que, já ameaçado de morte, Expedito foi convidado, em dezembro de 1990, a falar num grande congresso da CUT, em São Paulo. Fez um discurso emocionante, diante de mil trabalhadores. Disse que era pai de nove filhos e, como presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, estava ameaçado de morte. Todos os amigos lhe diziam para ir embora, mas ele fora eleito presidente e não podia abandonar os companheiros. O Le Monde Diplomatique fez uma matéria sobre esse encontro na CUT, cujo título era: “Esse homem vai ser assassinado”. E foi, em fevereiro de 1991.
CC: O senhor estava lá?
HBR: Não, eu estava deixando o Brasil e indo para a Guatemala. Com o assassinato de Expedito, a Comissão Pastoral da Terra começou a procurar um advogado. Havia advogados como Luiz Eduardo Greenhalgh, que naquele tempo era formidável. Depois, deixou-se seduzir pelo poder, infelizmente. Tinha sido advogado de presos políticos na ditadura. Havia também Márcio Thomaz Bastos, depois ministro da Justiça do presidente Lula. Esses advogados estavam a serviço da causa, mas diziam que do Rio e de São Paulo não podiam acompanhar os acontecimentos em Rio Maria. No entanto, se não se fizesse algo imediatamente, o processo estaria comprometido. Aceitei então ser o advogado. E assim fui para Rio Maria. E fui aos poucos retomando os casos já enterrados, inclusive o de João Canuto.
CC: O senhor foi para o Brasil em 1978. Por que o Brasil?
HBR: Em 1969, eu fui para o convento Saint-Jacques, onde estavam alguns dos dominicanos brasileiros exilados pela ditadura. Tomamos posição clara na defesa daqueles que estavam presos, e que foram, inclusive, torturados. A luta armada sequestrou o embaixador  Giovanni Bucher, exigiu a libertação dos presos e foi assim que frei Tito de Alencar e outros foram soltos. Frei Tito veio para o Saint-Jacques e também foi aqui que conheci o dominicano Magno Vilela. Muito inteligente, ele foi determinante para que eu decidisse trabalhar no Brasil. Decidi ir em 1976, mas as autoridades brasileiras recusaram meu visto. Os dominicanos me diziam que eu nunca conseguiria. Cogitei então ir para o Peru, mas, quando estava para embarcar, já em 1978, soube que o visto fora dado. O papa Paulo VI morrera e, para ser bem-vista, a ditadura, que defendia a candidatura do Núncio Apostólico no Brasil, Sebastiano Baggio, resolveu dar os vistos aos quatro dominicanos franceses que estavam na lista de espera. Foi eleito João Paulo I, morreu logo depois. Em seguida,  esse triste João Paulo II foi eleito papa. Fui para o Brasil e não para o Peru.
CC: O senhor foi para a Amazônia?
HBR: Primeiramente, para o Rio, depois visitei Fortaleza, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília. Aprendi o português. Quando conheci Magno Vilela, no convento Saint-Jacques, já tinha experiência de jurista na região de Haute Savoie. Ele me disse que essa experiência seria útil nas lutas populares no Brasil. Depois dessa conversa é que fiz meu pedido para o Brasil.
CC: Em 2013, depois da eleição do papa Francisco, o senhor disse, em São Paulo: “O papa deve mudar de vida, parar de se comportar como um príncipe. Deve ser um homem de diálogo no interior da Igreja e deve acabar com esse aspecto de autoridade absoluta”. O que acha agora?
HBR: Até agora, estou feliz. Nos sentíamos no deserto, perseguidos durante 40 anos sob o poder de João Paulo II e do triste Ratzinger-Bento XVI. Com Francisco, a gente se sente reabilitado. O que vi até agora me dá esperança. Sobretudo o discurso que ele fez em Roma para os movimentos populares. Disse que era preciso fazer uma revolução. Esperamos resultados. Fico, porém, um pouco apreensivo, sua sucessão me preocupa muito.
CC: Numa entrevista a um jornalista francês o senhor mencionou dom Helder Câmara como uma figura importante no seu percurso e falou dele com admiração. O senhor o conheceu? Como inspirou seu trabalho?
HBR: Nunca o encontrei pessoalmente. Mas a admiração vem de longe. Quando eu era capelão dos estudantes aqui em Paris, nos anos 1960, dom Helder, o bispo vermelho dos pobres, vinha frequentemente à Europa e passava sempre por Paris, onde fazia conferências que atraíam multidões. Ele denunciava a pobreza terrível do Brasil, das crianças do Nordeste. Era o bispo dos pobres, ele lembrava que naquele país de opulência havia uma grande pobreza. A gente mandava os estudantes irem ouvi-lo e depois fazíamos debates. Ele ficou como uma referência. Seu impacto no público francês era muito forte. Eu lia o que ele dizia e fazia. Ele criou um excelente centro de direitos humanos no Recife, mas outro bispo destruiu o que ele fez.
 Créditos da foto: bordalo.com.br/blog

Fonte: Carta Maior