segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Entidades e organizações nacionais e internacionais condenam impeachment de Dilma

Entidades e organizações nacionais e internacionais condenam impeachment de Dilma


CIDH, Fundação Internacional de Direitos Humanos e União Nacional LGBT estão entre entidades que se pronunciaram contra impeachment
Diversas entidades e ONGs nacionais e internacionais condenaram o impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff, destituída de seu cargo na quarta-feira (31/08) pelo Senado.
Uma das entidades foi a Fundação Internacional de Direitos Humanos que divulgou uma nota na sexta-feira (02/09) dizendo reconhecer Dilma “como atual e única chefe de Estado democraticamente eleita do Brasil”.
"Consideramos ilegítimo o processo de destituição realizado contra a presidente Dilma Rousseff e expressamos nosso absoluto rechaço ao dito golpe de Estado camuflado com roupa de institucional, perpetrado com o único objetivo de desconhecer os resultados eleitorais", afirmou a entidade espanhola, sediada em Madri.

Agência Efe

Entidades e organizações condenam impeachment de Dilma
Segundo a Fundação, a democracia "está em jogo na América Latina", sendo "ameaçada por aqueles que resistem em perder seus privilégios".
"Diante deste panorama, não podemos ser neutros. Como sempre, estamos do lado dos direitos humanos", disse o grupo.
A CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), também expressou preocupação com a “destituição da presidente constitucional e democrática do Brasil, Dilma Rousseff”.

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“A CIDH expressa a sua preocupação diante das denúncias de irregularidades, arbitrariedade e ausência de garantias ao devido processo nas etapas do procedimento [de impeachment]”, afirmou o órgão em comunicado divulgado também na sexta.
No cenário nacional, uma das ONGs que se manifestou condenando a destituição de Dilma foi o Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), cuja nota foi publicada na página da Abong (Associação Brasileira de ONGs) na quinta-feira (01/09).
Para o Instituto, está ocorrendo uma “pausa democrática” no Brasil. “O mais assustador é pensar que essa pausa pode ser longa, e o silêncio, insuportável”, diz o texto.
“O que se viu durante o processo de impeachment, especialmente nestes últimos seis dias de julgamento no Senado, deixará como legado para brasileiros e brasileiras a vergonha: um processo contaminado, juridicamente frágil, permeado por conchavos políticos que poluem as três esferas de poder da República”, afirmou a organização.
“Acreditamos que o processo político que vivemos enfraquece a legitimidade das instituições democráticas, uma vez que os próprios parlamentares, momentaneamente na figura de “juízes”, assumiram publicamente já terem posicionamento de voto antes mesmo da apresentação da defesa”, disse ainda o Inesc.
Para a organização, o principal alvo do processo que culminou com a destituição de Dilma “é a própria Constituição”. A ONG afirmou que “dedicará todas as suas energias para a restauração e aprofundamento da democracia no país, e promoção de direitos”.
Outra entidade brasileira que condenou o impeachment da agora ex-presidente foi a União Nacional LGBT (UNA). O grupo afirmou que o Senado “rasgou a Constituição” e o Supremo Tribunal Federal “legitimou um golpe midiático, parlamentar e odioso”.
“O dia 31 de agosto de 2016 ficará lembrado na história do Brasil como o dia em que um grupo de homens brancos, representantes dos setores mais conservadores, fundamentalistas e misóginos, racistas e lgbtfóbicos, usurparam o poder de uma presidenta honesta que foi eleita por mais de 54 milhões de brasileiras e brasileiros”, disse a União na quinta por meio de sua página no Facebook.
Para a UNA, o “golpe atingirá todas e todos”, mas principalmente as “mulheres, as populações negras, tradicionais, LGBT e em situações de rua”, pois “vem acompanhado de um pacote de maldades e retrocessos”.
“Dilma Roussef será nossa eterna presidenta do Brasil, nas ruas e nas redes. Não aceitaremos nenhum direito a menos”, disse o grupo.

Artistas contra Temer fazem protesto na Bienal

Cultura

Resistência

Artistas contra Temer fazem protesto na Bienal

Integrantes do grupo Aparelhamento planejam ações antigolpe subsidiadas por um fundo arrecadado com o leilão de suas obras
por Rosane Pavam — publicado 05/09/2016 20h50
Anna Carolina Negri
A ideia tomou corpo quarta-feira, 31 de agosto, dia do golpe. Reunidos, os artistas do coletivo Aparelhamento decidiram que era hora de gritar contra Michel Temer em um dos palcos de maior visibilidade para a arte brasileira e mundial, a 32ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, que abre dia 7 e prossegue em cartaz até 11 de dezembro no Parque Ibirapuera.
Durante a entrevista coletiva que anunciava o evento, nesta segunda-feira 5, treze deles surgiram no pavilhão com suas camisetas brancas e negras, nas quais se liam os dizeres Luto pela Democracia, Fora Golpistas, Fora Temer, Eu quero votar pra presidente e Jamais Temer.
Os ativistas, também ligados em seu trabalho pessoal à produção artística (Cristiano Lenhardt, Bárbara Wagner e Jonathas de Andrade têm obras exibidas na grande exposição), gritaram seu protesto ao término da fala dos curadores.  E artistas internacionais cujo trabalho está presente na bienal, como Carolina Caycedo, nascida em Londres e residente na Colômbia, também aderiram ao protesto (na camiseta preta vestida pela artista, estava a inscrição Diretas Já).
Durante a intervenção, o artista Amilcar Packer lembrou que é preciso estancar a repressão em curso em São Paulo. Ressaltou a ação injustificada da Polícia Militar no dia 4, que levou à detenção, sem possibilidade de acesso de advogados, de 26 ativistas, cinco deles, menores, na Departamento Estadual de Investigações Criminais, o Deic, sob risco de reclusão por “associação criminosa”.
“Michel Temer disse que a incerteza acabou”, pronunciou-se o curador Jochen Volz, que concedeu à bienal o título Incerteza Viva. “Queremos discutir as incertezas, as formas de viver com o desconhecido.” E não somente isto, conforme atestou a curadora Júlia Rebouças. “Assistimos ao fim de vários mundos. Há a necessidade de mobilização urgente depois de 31 de agosto.”
Os 80 artistas de 33 países, presentes à edição, respondem à necessidade de, como afirma Volz, “desvincular a incerteza do medo”, e mobilizar a arte pelo ideal de reconstrução ambiental e de identificação com causas sociais e de gênero. Capitaneada por uma representação de três conjuntos de esculturas de Frans Krajcberg (Gordinhos, Bailarinas eCoqueiros), a partir de troncos calcinados, a bienal parece mobilizada para se transformar em palco de manifestações como a do coletivo Aparelhamento.
Em julho, os artistas do grupo ocuparam a Fundação Nacional das Artes, a Funarte, em São Paulo, e concluíram sua intervenção com um leilão. Dos 260 integrantes do grupo, 31 venderam suas obras (o grupo não informa o valor total arrecadado) para que um fundo possibilitasse suas ações. “Consideramos a possibilidade de doar uma parte do que arrecadamos para o financiamento das ações dos advogados ativistas e dos jornalistas livres”, disse Lourival Cuquinha, integrante do Aparelhamento (cinquenta entre aqueles pertencentes ao grupo dedicam-se ao ativismo constante).
O artista Daniel Lima, ligado ao coletivo, tem um trabalho em curso. Intitula-se Cartografia do Golpe Branco, que espera distribuir em instituições como escolas, para esclarecer o público sobre os entendimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff. “Sim, o golpe é jurídico. Sim, o golpe é racista. Sim, o golpe é elitista. Sim, o golpe é midiático. Sim, o golpe é machista”, escreve Lima. “Quais são os futuros da democracia quando legitimada por um Poder Judiciário muitas vezes com tendência à direita, às ideias conservadoras e antidemocráticas?”

Fonte: Carta Capital

Quem insufla o ódio nos protestos?

Política

Opinião

Quem insufla o ódio nos protestos?

Artigo da Folha de S.Paulo critica "elite vermelha", mas justifica, ao mesmo tempo, a violência que as polícias produzem diariamente há décadas
por Jean Wyllys — publicado 05/09/2016 15h08, última modificação 05/09/2016 15h36
Miguel Schincariol/AFP
Repressão aos manifestantes no ato contra Michel Temer em SP
'Ódio' é o que está nos editoriais que cobravam mais repressão contra as manifestações cidadãs
"Dilma insufla ódio", diz o secretário de Redação da Folha de S.Paulo, Vinícius Mota, num artigo cheio de delírios paranoicos e escrito com uma terminologia retrô que parece saída do túnel do tempo.
Possuído pelo espírito do senador americano Joseph McCarthy, Mota denuncia supostos planos da "elite vermelha" (!) para — inspirada nas "derivações subletradas do marxismo" — promover a violência política e o "prazer estético pela depredação", deixar "mortos e feridos" e produzir um "banho de sangue"; mas, ao mesmo tempo, justifica a violência real, não imaginária, que as polícias militares produzem diariamente há décadas no país.
Isso mesmo: enquanto uma jovem é cegada em São Paulo pela polícia por protestar pacificamente contra o golpe de Estado e dezenas de pessoas, em diferentes cidades, são detidas sem motivo, espancadas nas ruas e vitimadas pela violência de um poder público fora de controle que age no vácuo da legalidade, um escriba orgânico dos golpistas faz historinhas de bicho-papão e comunistas que comem criancinhas. Esse filme a gente já assistiu há muitas décadas e não preciso dar spoilers para que vocês saibam como continua.
O senhor quer falar sobre o ódio? Falemos, então. Mas falemos sério, com honestidade intelectual.
Ódio é o que boa parte da imprensa plutocrata desse país promoveu ao longo dos últimos 12 anos e ainda promove, tentando associar todos os males sistêmicos do nosso sistema político (entre eles, a corrupção que gangrena as estruturas do estado, dos partidos, da polícia, da imprensa, das empresas e até do judiciário) a um único partido, fazendo uma cobertura parcial e tendenciosa das notícias que coloca alguns culpados na manchete de capa e outros na lata de lixo da redação. Aliás, essa imprensa não aprendeu, depois de ter apoiado no passado golpes militares e ditaduras!
Ódio é o que promovem os grupelhos fascistas que, nos últimos anos, construíram verdadeiras redes criminosas na internet, dedicadas a espalhar notícias falsas, acusações caluniosas, racismo, machismo, homofobia, xenofobia e todas as formas de preconceito, incitando à violência e promovendo o assassinato de reputação de pessoas honestas por meio da injúria e da difamação — grupelhos aos quais a Folha de S.Paulo deu uma coluna, escrita por um analfabeto político transformado em figura pública pela força da grana dos grupos econômicos que promoveram o golpe.
Ódio é o que provocaram editoriais desse jornal que cobravam mais repressão contra as manifestações cidadãs que não coincidiam com sua linha editorial (porque as que coincidem são tratadas como legítimas expressões da indignação do povo). Editoriais, aliás, que serviram para justificar uma brutalidade policial que atingiu, inclusive, jornalistas desse veículo, trabalhadores que não têm a culpa dos delírios autoritários dos editorialistas.
Ódio é o que se expressa nos ataques contra artistas e políticos em lugares públicos, como livrarias, restaurantes e voos comerciais — lembremos, por exemplo, o que aconteceu com o cantor Chico Buarque, com o ex-senador Eduardo Suplicy e com o ex-ministro Alexandre Padilha —, resultado da campanha raivosa de estigmatização da esquerda, da qual o artigo do senhor Mota é um exemplo paradigmático.
Ódio é o que promovem os pastores fundamentalistas e os políticos fascistas contra a população LGBT e outras minorias, cujos direitos são ameaçados pela chegada dessa quadrilha de homofóbicos ao poder, através do golpe apoiado por parte da imprensa brasileira.
É inacreditável a opção deliberada pela desonestidade intelectual e pela demonização do outro. É inacreditável que em tempos de redes sociais digitais na internet, a Folha adote essa postura em nome dos interesses econômicos e financeiros de seus donos.
É hora de questionar as pessoas sérias que lá trabalham ou que pra lá escrevem se elas continuarão sendo coniventes com isso? Quantas mais além de Gregório Duvivier se pronunciarão claramente contra esse jornalismo? Há anos eu não concedo entrevistas para a Veja nem para a Jovem Pan, e fiz o mesmo, por um tempo, quando O Globo se transformou num panfleto de baixo nível ocupado em difamar Marcelo Freixo. O mesmo farei com a Folha.
Eles podem alegar que minha atitude não significa nada para eles. Será mesmo? E se todas as pessoas de bom senso e democráticas começarem a se recusar a falar com esses veículos? E se mais pessoas cancelarem assinaturas do moribundo jornal impresso, mas também de sua versão online? O que eu posso dizer é que não perdi nada deixando de falar com certos veículos! Nada! O que eu posso dizer é que podemos nos comunicar sem eles!
Não vamos deixar que eles, que tanto ódio promovem, acusem a gente de fazer isso. Nós não temos ódio. Nós lutamos pela solidariedade, pela justiça social, pela fraternidade, pela igualdade, pela liberdade, pelos direitos humanos.
Nós queremos um país que respeite todas as formas de amor, que não discrimine nenhuma forma de crença ou descrença, que permita que o pão chegue a todas as mesas, que assegure o futuro para a juventude.
O que nos move não é o ódio, mas a utopia de um mundo e um país mais justos que vocês, senhor Mota, sempre tentaram impedir.

A inteligência impotente

Política

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A inteligência impotente

O impeachment de Dilma Rousseff leva a uma conclusão inevitável: um país que admite um golpe desta natureza carece de saúde mental
por Mino Carta — publicado 05/09/2016 03h55
Turma
E é o caso de rir?
Quem, ainda dotado de um resquício de espírito crítico embora dado à autoflagelação, se dispôs a assistir às sessões de segunda 29 e terça 30, derradeiros quadros do ato da farsa trágica intitulado Impeachment, o segundo, provavelmente, terá de cair em depressão profunda.
O conjunto da obra imposto ao País, desde a eclosão do escândalo da Petrobras até os dias de hoje ao longo de um enredo tortuoso e apavorante na sua insensatez, levará aquele cidadão, peculiar em relação à maioria, a se render à evidência: o maior problema do Brasil, muito antes do desequilíbrio social e da corrupção, é o quociente de inteligência baixo, baixíssimo. Um país que se permite um golpe desta natureza carece de saúde mental.
No palco o espetáculo engloba a plateia por inteiro, mesmo que muitos se suponham meros espectadores, e representa um povo primitivo, da cúspide da pirâmide à base. Cordial não é certamente, como sinônimo de alegre, bonachão, malemolente. E a pirâmide, a bem da verdade, é mais um estranhíssimo contubérnio com um cone, ponta de agulha em vez da cúspide e uma base imensa e compacta. Um Frankenstein geométrico e social.
 A resignação na base explica-se ao evocar três séculos e meio de escravidão, que deixaram a marca da chibata no lombo de dezenas de milhões de cidadãos privados da consciência da cidadania e geraram um preconceito feroz, conquanto hipocritamente negado até por quem, a despeito do “pé na cozinha”, agregou-se, ao enricar, a uma aristocracia de fancaria.
A resignação do povão merece pena em lugar de tolas interpretações. Ao cidadão ainda em condições de exercer o espírito crítico há de doer entre o fígado e a alma a forma pela qual a prepotência vinga e o cenário se aquieta, como se a farsa trágica em andamento fosse obra dos fados, gregos, obviamente.
Está claro, de todo modo, que o golpe de 2016 é infinitamente mais grave do que o de 1964. Este provocou reações fortes, criou uma resistência e até uma luta armada, além do anseio de democracia autêntica, como jamais se dera até então, passível de ser atingida tão logo se fossem os ditadores.
Se falo por mim, a ditadura me levou ao entendimento da real serventia do jornalismo e me reteve no País graças a esse entendimento, destinado a oferecer motivação a um cético convicto ao excitar seu otimismo na ação.
Lula
A eleição de um ex-metalúrgico à Presidência da República pareceu a prova da democracia conquistada. Pareceu...
O golpe destes dias devolve o Brasil aos tempos mais remotos e demole inexoravelmente todos os avanços ocorridos depois de 1985. Não foram demolidas a casa-grande e a senzala, mas avanços se deram, e o maior deles está na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Foi divisor de águas na história brasileira tornar um ex-metalúrgico o primeiro mandatário. Aquele momento aparentou ser a prova provada da habilitação do Brasil à prática da democracia.
Lula teve méritos inegáveis, já apontados largamente por CartaCapital e reconhecidos mundialmente. Hoje o vemos perseguido por razões inconsistentes e até ridículas, com a pronta colaboração de uma polícia que se presta ao serviço outrora entregue pela casa-grande a capatazes e jagunços, e o beneplácito de uma Justiça de mão única.
Imaginar que a farsa trágica se encerra com o impeachment é ilusão ou parvoíce. Não faltam escribas para outro ato, o terceiro, grand finale, e nele Lula é excluído à força da disputa presidencial de 2018.
Cabe uma pergunta a quem ainda trava diálogos com seus botões: se houver eleições presidenciais em 2018, de que feitio serão? O golpe, ao rasgar a Constituição, manda às favas o presidencialismo republicano para substituí-lo pela lei do mais forte. Que surgirá dos escombros? E os eleitores, acreditarão na validade do pleito se a pesquisa de opinião e a prepotência de uma gangue sinistra que age a mando da casa-grande anulam o voto popular? Mais: se o candidato favorito é excluído ao sabor de falsas acusações?
Botões atentos responderão que a prisão de Lula é perfeitamente possível, se não provável, já que a quadrilha manda, a mesma que precipita o impeachment de Dilma Rousseff sem prova de crime de responsabilidade. A presidenta impedida defendeu-se em plenário com os argumentos justos e irretocáveis como se dirigisse a uma Câmara Alta digna da contemporaneidade do mundo e da confiança dos eleitores, e horas e horas a fio os defendeu com empenho e elegância. Aos meus botões pergunto, contudo, se não teria sido melhor dirigir-se ao povo brasileiro para ler, pacatamente, mas sem retoques, a ficha criminal daqueles que se arvoraram a julgá-la.
Sérgio Moro
Sergio Moro ainda não entendeu a impossibilidade de comparar Brasil e Itália
Sempre tive admiração pela figura de Sansão, ele disse no lance final da sua aventura bíblica, “morra, Sansão, com todos os filisteus”, e pontualmente executou a ameaça. Dilma não dispõe da musculatura de Sansão, tampouco da mentalidade do “perdido, perdido e meio”, apesar da coragem que soube mostrar em situações diversas. Não lhe faltou energia para aguentar dois dias de uma pantomima celebrada para tornar a decisão tomada faz meses, e prolongada conforme um ritual ibérico, tão inútil quão humilhante.
Dilma teve de suportar situações deploráveis, recheadas pela retórica mais hipócrita, pelas lacunas culturais dos interrogadores, frequentemente pela lida difícil com o vernáculo, e pela aterradora atuação do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, avalista do desastre.
Pergunta Aécio Neves algo assim como “a senhora não se sente responsável pela alta do desemprego?” Dilma responde com uma aula sobre as origens e os desenvolvimentos da crise econômica mundial em vez de desancar o torquemadinha mineiro. Será que querem puni-la por causa do desemprego?
De todos, mais deplorável e revelador, o víscido desempenho do senador Cristovam Buarque. Sim, ele reconhece, Dilma é uma mulher honesta e lhe merece muita simpatia, mas as “pedaladas” são criminosas e ele tem de se render às suas responsabilidades de cidadão e de parlamentar para cumprir a missão de condená-la.
Abjeta tentativa de se mostrar como varão de Plutarco, enquanto participa de um crime, este sim irrefutável. Honra ao mérito, em contrapartida, aos digníssimos senadores Roberto Requião e Lindbergh Farias.
Buarque prefere apostar no QI baixo, ao rés do chão, e nesta confiança não se diferencia dos demais golpistas. Parlamentares, juízes, promotores, policiais, empresários rentistas, barões midiáticos e seus sabujos. Muitos, entre estes, também não primam pelo brilho da mente. Umas dúvidas me assaltam em relação ao juiz Sergio Moro. Será que acredita no que diz ao afirmar a semelhança entre a Lava Jato e a Mani Pulite?
Com inefável candura, continua a afirmar que os vazamentos para a mídia foram uma arma eficaz da operação italiana. Saberá ele que a mídia peninsular está nas antípodas da nativa, no sentido de que se abre em leque em sintonia com ideologias e tendências políticas a representar todos os estratos da nação? 
Como sabemos, a mídia nativa é do pensamento único, na linha do vento a soprar das alturas da casa-grande, mesmo porque seus patrões são inquilinos cativos da mansão senhorial. Moro já percebeu isso tudo e sabe que a Suprema Corte da Itália costuma agir como sentinela da lei e da sua aplicação, bem ao contrário do nosso altamente politizado STF?
Mani Pulite não pretendeu alvejar um partido e os seus líderes, e sim um sistema corrupto. Da investida escapou tranquilamente o Partido Comunista de conduta irrepreensível, em um país onde a Constituição permanece a mesma desde 1948.
A respeito do QI baixo de inúmeras personagens da farsa trágica, não tenho dúvida, bem como de uma classe A e B1 (adoto as terminologias correntes) nunca alcançada pelas lições do Iluminismo, estupidamente exibicionista, ignorante até a medula, arrogante e vulgar. Não são melhores os seus aspirantes, os brasileiros sequiosos de chegar lá, e mesmo aqueles que estão longe disso e se antecipam ao comungar com idênticas, parvas pretensões.
Senador
O víscido comportamento de alguém que pretende ser varão de Plutarco

Com este gênero de brasileiros, um diálogo baseado na razão e na lógica é simplesmente impossível. Sabem tudo de antemão, nutridos pela torpe narrativa midiática, ou de ouvidos postos no que sai da boca dos graúdos.
Inúteis esperanças foram as de quem pretendeu trafegar pela realpolitik  e, embora de esquerda e desenvolvimentista, tentou agradar aos senhores e fez genuflexão ao deus mercado. Como se deu com a própria Dilma, ao chamar Joaquim Levy para a Fazenda.
Em sua defesa da presidenta afastada, dia 25 de agosto, o professor Belluzzo não deixou de apontar o erro grave, e nem por isso passível de punição pelo impeachment. Sem contar que Joaquim Levy jamais será tido como inimigo dos golpistas. Aliás, quem imagina ser possível um entendimento com a casa-grande comete um erro fatal: no Brasil, conciliação só das elites.
Diálogo equilibrado deste lado é também inviável, e buscá-lo exibe um QI frágil. No poder o PT enredou-se nas suas próprias carências, entre elas a ausência de crenças arraigadas por parte até de alguns de seus líderes, e portou-se como todas as demais agremiações políticas, melhor, clubes recreativos.
Muitos dos comportamentos de uma esquerda tão distante das consignas iniciais revelam, a seu modo, o QI baixo. Sem excluir os jovens revolucionários de tempos idos, tão desnutridos de leituras e de ideias, radicais extremados em nome da moda passageira.
Não tenho conhecimento suficiente para dissertar a respeito do exato significado de inteligência. Sei apenas que cada qual ao nascer recebe a sua horta de neurônios, cujo tamanho depende de uma série de fatores, a começar pelo DNA. Para dar frutos, a horta precisa ser cultivada, pelo estudo, pela leitura, pela busca do conhecimento. Nem todos têm a chance de cumprir a tarefa.
No Brasil de um Estado desinteressado da saúde mental e física do povo, certamente muito poucos. Não há como apurar quantos gênios são desperdiçados em um país onde o povo é valor descontável, quando é, de verdade, um tesouro inexplorado.
E esta também, e sobretudo, é prova de um quociente de inteligência baixo, baixíssimo.  A gritaria e os fogos ouvidos no encerramento do segundo ato da farsa trágica são próprios da festa da pobreza de espírito.

Fonte: Carta Capital

À frente da PM em atos, coronel ironiza manifestante que perdeu visão É essa a PM de Alckmin!

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À frente da PM em atos, coronel ironiza manifestante que perdeu visão

Pelo Facebook, Henrique Motta compartilhou deboche que tinha como alvo a estudante Deborah Fabri; ele também usa a rede para atacar o PT
por Redação — publicado 05/09/2016 12h17, última modificação 05/09/2016 12h42
Reprodução / Facebook
Henrique Motta
Henrique Motta, ao centro: ele ironizou a manifestante que perdeu um olho
Comandante de operações da Polícia Militar em diversas manifestações recentes em São Paulo, o tenente-coronel da PM Henrique Motta usou seu perfil no Facebook para ironizar a estudante Deborah Fabri, de 19 anos. Ferida por uma bomba da PM no protesto contra o governo Michel Temer na quarta-feira 31, em São Paulo, Fabri perdeu a visão do olho esquerdo. 
A postagem de Henrique Motta é um compartilhamento de um tweet publicado pela página "Socialista de iPhone" do Twitter.
Na postagem, intitulada "Quem planta rabanete, colhe rabanete", o responsável pela publicação junta duas mensagens de Deborah Fabri, uma de novembro de 2015, na qual ela defende a "destruição em protesto de cunho político que tenha objetivos sólidos" e outro de quinta-feira 1º, no qual ela anuncia que perdeu a visão.
Henrique Motta não fez comentários próprios, mas compartilhou o comentário de um outro usuário, identificado como ex-funcionário da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que chama a estudante de "tontona".
Deborah foi levada para o Hospital das Clínicas e, depois, recebeu atendimento no Hospital de Olhos, no bairro do Paraíso. A segunda instituição informou por nota que a paciente "foi internada em nosso serviço às 2h37 do dia 1º de setembro de 2016, com trauma na região da face, escoriações nas pálpebras e região malar esquerda, e lesão perfuro contusa no olho esquerdo".
De acordo com testemunhas e pessoas que ajudaram a estudante, ela foi atingida por estilhaços de uma bomba lançada pela PM. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não se posicionou sobre o caso.
Tenente_coronel_Motta.jpg
O perfil de Motta é, em grande medida, aberto ao público. Em meio a compartilhamentos de fotos de turismo e de cerimônias oficiais, nas quais aparece fardado, Motta compartilha diversos conteúdos anti-PT. 
Em 16 de março, Motta publicou uma imagem da bandeira do Brasil em tons de cinza e preto, com a palavra "luto" no alto, uma estrela vermelha (símbolo do PT) no centro e a inscrição "corrupção e safadeza" no lugar de "ordem e progresso". Seis dias antes, Motta divulgou uma foto de uma águia caçando uma cobra. A águia trazia o escudo da Polícia Federal e a cobra, o logo do PT.
Em 24 de abril, Motta compartilhou uma postagem do deputado estadual Marcel van Hattem (PP-RS), na qual ele comenta uma briga pública envolvendo o ator José de Abreu, ferrenho defensor do PT, e afirma que o "feminismo é apenas um movimento social pró-governo [do PT]".
Em março de 2015, Motta ironizou manifestantes contrários ao governo de Dilma Rousseff e postou uma imagem na qual se lia: "Manifestar-se a favor de Dilma: 35 reais. Contra: não tem preço". Em setembro de 2014, Motta compartilhou um "meme" no qual dizia que em sua casa Dilma Rousseff, então candidata do PT ao Planalto, tinha "0%" de votos.
HenriqueMotta.jpg
No perfil do tenente-coronel Henrique Motta há espaço também para a divulgação de informações falsas. Em 20 de maio, ele divulgou uma capa falsa do periódico francêsCharlie Hebdo com imagens e textos críticos ao governo Dilma e ao atores do filmeAquarius, que protestaram contra o impeachment no festival de Cannes.
Em 31 de agosto, Motta compartilhou foto do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), colunista de CartaCapital, na qual ele aparece com um cartaz com a inscrição "Se tiver impeachment eu saio do Brasil". Trata-se de uma montagem, mas Motta divulgou a imagem e escreveu "vamos cobrar".
CartaCapital procurou a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre o caso e aguarda resposta.