segunda-feira, 25 de maio de 2020

Organização Mundial da Saúde suspende pesquisas com cloroquina como tratamento para coronavírus


Organização Mundial da Saúde suspende pesquisas com cloroquina como tratamento para coronavírus





Protocolo do uso da cloroquina mudou no Brasil por pedido do presidente Jair Bolsonaro; medicamento pode ser usado em casos leves de Covid-19, desde que paciente aceite (Foto: AP Photo/Manish Swarup)
A Organização Mundial da Saúde decidiu suspender temporariamente os estudos do uso da cloroquina e hidroxicloroquina como tratamento para a Covid-19. A declaração foi dada nesta segunda-feira pelo diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom durante um pronunciamento em Genebra.

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A decisão foi tomada depois do estudo publicado na revista científica The Lancet na última sexta-feira. A pesquisa, feita com 96 mil pacientes, mostrou que a cloroquina não é efetiva na melhora dos doentes, além de poder diminuir a sobrevida de pacientes infectados pelo coronavírus. O remédio ainda pode causar problemas cardiorrespiratórios.
“Eu gostaria de reiterar que esse medicamento (cloroquina) é considerado seguro para pessoas com doenças autoimunes ou malária”, disse Tedros Adhanom.
No Brasil, o protocolo para o uso da cloroquina mudou após a saída de Nelson Teich do ministério da Saúde. Com Teich e Luiz Henrique Mandetta, o remédio só era usado em casos graves de Covid-19 na rede pública.Leia também
O novo protocolo, assinado pelo interino do ministério da Saúde, Eduardo Pazuello, por insistência do presidente Jair Bolsonaro, permite que a cloroquina seja usada também em casos leves, desde que o paciente aceite.
A mudança foi um dos motivos da saída de Mandetta e Teich do governo Jair Bolsonaro.
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Ministros veem 1º escalão de Bolsonaro envolvido em atos golpistas

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Foto : Rosinei Coutinho / SCO / STF
Após a análise do vídeo da reunião ministerial, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam, nos bastidores, que ficou “claro” que as manifestações antidemocráticas nas ruas são comandadas por ministros do primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro. A informação é do blog de Andréia Sadi, no G1.
Para uma fonte do STF ouvida pelo blog, se fossem manifestações espontâneas, “não teriam reverberação na boca do ministro da Educação, nem no tom da nota do ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional”. Além disso, os ataques ao STF feitos pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, pioram a relação do Planalto com a corte que já é ruim.
Ministros do governo que costumam fazer a ponte com o STF temem que a relação seja inviabilizada de vez e acreditam que qualquer retomada será adiada, já que o ministro Dias Toffoli, presidente da corte e considerado o único elo do Planalto com o STF, está afastado por questões de saúde.
Já a cúpula do governo enxerga “exageros” dos ministros Celso de Mello e Alexandre de Moraes em decisões judiciais que atingem o governo, a exemplo da liberação do vídeo quase na íntegra e da liminar que barrou Alexandre Ramagem de assumir a direção da Polícia Federal.

Pioneira no atendimento da Covid-19 no Brasil, médica revela como se tratou da doença


Pioneira no atendimento da Covid-19 no Brasil, médica revela como se tratou da doença

Ana Lucia Azevedo
O Globo
A pneumologista e médica da Fiocruz Margareth Dalcolmo diz ter contraído a Covid-19 em casa: 'Começou com uma sensação de mal-estar e um gosto desagradável na boca. Depois, dor na nuca e um profundo cansaço. Fui dormir cedo, quando acordei, não tinha olfato nem paladar'
A pneumologista e médica da Fiocruz Margareth Dalcolmo diz ter contraído a Covid-19 em casa: 'Começou com uma sensação de mal-estar e um gosto desagradável na boca. Depois, dor na nuca e um profundo cansaço. Fui dormir cedo, quando acordei, não tinha olfato nem paladar'
RIO — Isolada em casa, a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz, continua a trabalhar, à distância, ainda que um acometimento neurológico causado pelo coronavírus nos dedos das mãos continue a incomodar.
A médica, uma das primeiras a tratar de pacientes com Covid-19 no Brasil, contraiu a doença há pouco mais de duas semanas e se recupera. Não precisou ser internada, mas sofreu com o que considera a pior sensação trazida pelo coronavírus, o medo.
Ao GLOBO, ela conta como se tratou e se recupera da Covid-19 e renova o alerta sobre os riscos do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina.
“Claro que não tomei, jamais tomaria ou receitaria para qualquer paciente. Seria uma irresponsabilidade”, destaca ela, uma das autoras da nota da comunidade científica, que repudiou com dados o protocolo do Ministério da Saúde que deu sinal verde para o uso dessas drogas contra a Covid-19.
Como a senhora contraiu o coronavírus?
Contraí em casa. Trato de dezenas de pacientes no meu consultório e no laboratório da Fiocruz. Mas tenho certeza de que não fui contaminada por eles, usei os EPIs necessários. Tive o que precisava para me proteger, o que muitos profissionais de saúde, tragicamente, não têm. Mas, em casa, por mais cuidado que se tome, é mais difícil porque é impossível passar 24 horas por dia em alerta total. Por mais que você saia muito menos, higienize tudo o que vem da rua, cuide da limpeza do prédio onde mora, ainda assim, o vírus pode chegar e esse é um alerta importante, que quero destacar.
A senhora é uma das pneumologistas mais experientes do país e trata da Covid-19 desde os primeiros casos. Como foi diagnosticar a si mesma?
É assustador, por mais experiência que se tenha. Nós, médicos, não gostamos de expor nossos temores. Mas vou ser honesta e dizer que a pior sensação que sentimos é o medo. Tenho medo da Covid-19. A doença parece não melhorar à medida que o tempo passa. Não durmo direito esperando a falta de ar. Tive apenas uma leve. Mas a possibilidade de sentir falta de ar assombra, sabemos quando chega a fase inflamatória. É um oceano a cruzar. O coronavírus faz com que a gente se sinta vulnerável porque ele é imprevisível.
Como descobriu que estava doente?
Adoeci há duas semanas. Começou com uma sensação de mal-estar e um gosto desagradável na boca. Depois, dor na nuca e um profundo cansaço. Fui dormir cedo, coisa impensável na minha rotina, atendo pacientes até tarde. Quando acordei, não tinha olfato nem paladar. Conclui que estava doente.
E o que fez?
Como sou médica, requisitei o exame, que confirmou o coronavírus. Tenho 62 anos, faço 63 no mês que vem. Mas sempre tive saúde excelente, nunca fumei. A idade é o meu único fator de risco. O meu caso é de gravidade moderada. Já passei do 14º dia de isolamento e estou à espera do resultado do exame de sorologia, para saber se tenho anticorpos.
E como está se tratando?
Nos últimos dois meses, aprendemos muito sobre a Covid-19. Temos uma visão mais clara sobre a doença. Tomei medicamentos anticoagulantes porque hoje sabemos que a Covid-19 tem um componente de trombose importante. Monitoro o oxigênio. Desenvolvi uma pneumonia leve, com 25% de comprometimento do pulmão. Uma tomografia mostrou o padrão de “vidro fosco”, característico da Covid-19. Mas como meu pulmão sempre foi íntegro, saudável, não me causou maior preocupação.
Além dos anticoagulantes, o que tomou?
Remédios comuns para a febre e as dores. Mas faço questão de dizer o que não tomei. Não usei e jamais tomaria ou receitaria cloroquina e hidroxicloroquina, porque não existe qualquer evidência científica de que funcionem.
Quão grave é a aprovação do protocolo do Ministério da Saúde que dá sinal verde para o uso generalizado dessas drogas contra a Covid-19?
É muito sério, terrível o que o ministério fez, porque essas drogas podem causar efeitos colaterais severos, principalmente arritmias. Eu jamais receitaria essas drogas para qualquer paciente de Covid-19, não importa se caso leve, moderado ou grave.
Por que essas drogas se tornaram panaceias?
Porque houve uso político, sem qualquer base na ciência, em fatos. A cloroquina e a hidroxicloroquina, num primeiro momento, foram fármacos da esperança porque não havia nada e não se sabia que ainda poderiam causar problemas. Era compreensível que se fizessem ensaios clínicos (testes com pacientes) para saber se poderiam de fato ajudar e ter ação antiviral. Mas os estudos que seguiram normas e ética até agora não mostraram qualquer efeito benéfico e é muito grave receitar um remédio baseado apenas em crenças e convicções pessoais.
Digo o mesmo sobre os vermífugos que muitos médicos andam receitando por aí. São ainda menos estudados, uma aventura terapêutica à custa dos doentes.
Como a senhora vê a situação hoje?
Na semana passada, a comunidade científica apresentou uma nota, da qual sou uma das autoras, que detalha tudo o que se sabe e os estudos feitos sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina. A nota condena o protocolo do Ministério da Saúde, uma medida irresponsável. O uso generalizado vai impedir pesquisas sérias. Hoje, vejo a dupla cloroquina/hidroxicloroquina como uma quimera da decepção.
A senhora já está recuperada?
Ainda não. Sinto dormência nos dedos das mãos, devido à neuropatia viral nos dedos. Hoje já se sabe que o coronavírus atravessa a barreira hematoencefálica e chega ao cérebro. É perigoso.