quinta-feira, 18 de maio de 2017

"O clima é pela aprovação", diz Miro Teixeira sobre eleições diretas


PEC 227/2016

"O clima é pela aprovação", diz Miro Teixeira sobre eleições diretas

por Redação — publicado 18/05/2017 12h29, última modificação 18/05/2017 15h01
'Não há mais ambiente para que Michel Temer conduza o País', declarou o deputado da REDE
Maryanna Oliveira/ Câmara dos Deputados
O deputado Miro Teixeira
'Está claro que as ruas irão na direção das eleições diretas', afirmou Miro Teixeira (REDE-RJ)
Autor da PEC que prevê eleições diretas em caso de vacância da Presidência da República (PEC 227/2016), o deputado Miro Teixeira (REDE-RJ) afirmou que o clima é de aprovação da proposta entre os parlamentares, após o tsunami político que atingiu o centro do governo de Michel Temer.
"A PEC entrará  na pauta na terça-feira 23 na Comissão de Justiça e Cidadania." Ele relatou uma "madrugada intensa de conversas" com outros políticos e que há a expectativa para um "desfecho rápido". Confira a entrevista:
CartaCapital: O senhor é autor da PEC 227/2016, que prevê eleições diretas no caso de vacância da Presidência da República. Ela estava parada desde junho do ano passado, mas, diante dessas novas revelações, a PEC tende a ser pautada?
Miro Teixeira: A PEC entrará na pauta na terça-feira 23 na Comissão de Justiça e Cidadania. Eu tive uma madrugada intensa de conversas e o clima é de expectativa para que haja um desfecho rápido para esse episódio. O clima é de aprovação da PEC.

CC: Quais são os possíveis desdobramentos?
MT: A primeira possibilidade seria a renúncia (de Michel Temer). A outra é o Tribunal Superior Eleitoral antecipar o julgamento (da chapa Dilma-Temer) que estava marcado para 3 de junho. Conversei com Marina Silva (presidente da REDE) e ela deu essa ideia de antecipar.  

CC: Como o senhor analisa este momento de crise?
MT: Não há mais o ambiente para que o Michel Temer conduza o País. Infelizmente, a vida é assim: aconteceu com Dilma e agora aconteceu com ele. De toda forma, isso demonstra que o Brasil melhorou. Antigamente, diante de uma crise política dessa magnitude, haveria filas nas portas dos quartéis. Mas, agora, o debate se dá com serenidade e no âmbito jurídico-político. Não é hora de intensificar ou radicalizar posições contrárias, é hora de buscar uma solução com serenidade. 

CC: O senhor acredita que haverá pressão nas ruas por Diretas Já?
MT: Sim, a pressão já começou. Ontem à noite já houve manifestações. A classe política tem de saber sentir o clima e está claro que as ruas irão na direção das Diretas.  

CC: Na sua avaliação, quais seriam as consequências da eleição indireta para o Brasil neste momento?
MT: O candidato eleito em tais circunstâncias não teria sustentação da legitimidade da origem de seu mandato. Isso faria muito mal para o País.


Fonte: Carta Capital

CORRUPÇÃO Aécio tinha plano para melar a Lava Jato, mostram diálogos

Política

Corrupção

Aécio tinha plano para melar a Lava Jato, mostram diálogos

por Redação — publicado 18/05/2017 17h37, última modificação 18/05/2017 17h43
Presidente do PSDB queria ministro da Justiça que interferisse na Polícia Federal e distribuísse inquéritos a delegados eventualmente corrompidos
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Aécio Neves
Agentes da Polícia Federal deixam o Congresso Nacional carregando malotes com apreensões feitas nos gabinetes dos senadores Aécio Neves e Zezé Perrela, e do deputado Rocha Loures
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tinha um plano para tentar barrar a Operação Lava Jato. A ideia do líder tucano era que o presidente Michel Temer substituísse o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, por uma figura que interferisse na Polícia Federal e selecionasse delegados responsáveis pelos inquéritos contra os políticos investigados.
A revelação do plano de Aécio está nas gravações feitas por Joesley Batista, um dos donos da gigante JBS, que se tornou delator da Lava Jato. Detalhes dos diálogos foram revelados na tarde desta quinta-feira 18 pelo site Buzzfeed.
Na conversa, Aécio chama Serraglio de "um bosta de um caralho" e o governo de "bunda mole". E reclama com Joesley que o Planalto não "têm" uma pessoa dentro da PF que seria responsável por distribuir os inquéritos para determinados delegados. Aparentemente, Aécio imagina que os delegados selecionados poderiam encaminhar as ações da maneira desejada.
Joesley — Esse é bom?
Aécio — Tá na cadeira (...). O ministro é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair. Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (...). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro João.
Joesley — Pro João.
Aécio — É. O Aécio vai pro Zé (...)
[Vozes intercaladas]
Aécio — Tem que tirar esse cara.
Joesley — É, pô. Esse cara já era. Tá doido.
Aécio — E o motivo igual a esse?
Joesley — Claro. Criou o clima.
Aécio — É ele próprio já estava até preparado para sair.
Joesley — Claro. Criou o clima.
Os diálogos estão transcritos, diz o site, na decisão do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que autorizou as investigações contra Aécio. 
Ainda segundo o Buzzfeed, Fachin escreveu em sua decisão que Aécio representa um risco "à ordem pública", mas não ordenou sua prisão por considerar que não houve flagrante – única condição em que um parlamentar pode ser preso no Brasil. "Percebe-se, a partir dos elementos probatórios, que o senador Aécio demonstra, em tese, muita preocupação e empenho na adoção de medidas que de alguma forma possam interromper ou embaraçar a investigação", escreveu Fachin segundo o site.
Na manhã desta quinta, as residências do senador em Brasília, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, além de seu gabinete no Congresso foram alvo de mandados de busca e apreensão autorizados por Fachin. A irmã do senador, Andréa Neves, e um de seus primos, Frederico Pacheco de Medeiros, foram presos pela Polícia Federal. Também foi preso na ação Mendherson Souza Lima, assessor do senador Zezé Perrella (PMDB-MG). 
Aécio Neves
Agentes da PF e do MPF estiveram em endereços de Aécio no Lago Sul, em Brasília
A situação de Aécio dentro de seu partido é grave. Secretário-geral do PSDB, o deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP) disse que o senador mineiro não terá condições de permanecer na presidência do partido. "Acho que ele próprio vai tomar essa decisão [de sair]. Não há outra alternativa. É inviável [a permanência de Aécio Neves no cargo de presidente], correndo risco de ser preso. Ele está bem consciente."
Fora do partido a situação de Aécio também é grave. "O Aécio sempre foi uma figura que aparentava ter algumas convicções sociais-democratas, liberais e até compromissos de transparência com a ordem democrática", disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). "Agora isso se revelou, de maneira definitiva, como um grande embuste", afirmou.  
Operação
Além de Aécio, também foram alvo desta operação os gabinetes de Perrela e do deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Este teria sido escolhido pelo presidente Michel Temer para intermediar uma negociação com a JBS, conglomerado pertencente aos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Na quarta-feira 17, o jornal O Globo divulgou detalhes da delação de Joesley, que colocam a República em polvorosa. Nas gravações, Aécio aparece pedindo 2 milhões de reais ao empresário dizendo que que precisava do dinheiro para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.

Segundo informações de O Globo, o diálogo gravado durou cerca de 30 minutos. O encontro entre Aécio e Joesley foi no 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo e Aécio citou o nome de Alberto Toron como o criminalista que o defenderia. A menção ao advogado já havia sido feita pela irmã e braço-direito do senador, Andréa Neves. Foi ela a responsável pela primeira abordagem ao empresário, por telefone e via WhatsApp, mensagens que também estão com os procuradores.
O pedido de ajuda foi aceito e o empresário quis saber, então, quem seria o responsável por pegar as malas. A gravação mostra que Joesley sugere que se Aécio fosse retirar pessoalmente  dinheiro a entrega seria feira por ele mesmo, mas que se Aécio fosse mandar alguém de sua confiança, Joesley faria o mesmo.
Surpreendentemente a resposta de Aécio: "Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho", respondeu Aécio segundo o jornal. 
Ainda segundo O Globo, o presidente do PSDB indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, para receber o dinheiro. Fred, como é conhecido, foi diretor da Cemig, nomeado por Aécio, e um dos coordenadores de sua campanha a presidente em 2014. 
Quem levou o dinheiro a Fred foi, prossegue o jornal, o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. Foram quatro entregas de 500 mil reais cada uma. A PF teria filmado uma delas.
Curiosamente, as investigações apontam, afirma O Globo, que o dinheiro não foi repassado a advogado algum. As filmagens da PF mostram, diz o jornal, que após receber o dinheiro, Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG). 
Mendherson teria levado de carro o dinheiro para Belo Horizonte, em três viagens, seguidas pela PF. O assessor negociou para que os recursos fossem parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.

Fonte: Carta Capital

Manipulações e expectativas

17/05/2017 10:30 - Copyleft

Manipulações e expectativas

A cada dia, formadores de opinião vinculados ao financismo garimpam arduamente alguma notícia para tentar comprovar que a bonança está logo ali na esquina


Paulo Kliass *
Reprodução
As forças políticas e os interesses econômicos que se articularam e conspiraram abertamente para o êxito do movimento que provocou o golpeachment estão em estado de alerta. Afinal, sonhavam com um futuro bem mais róseo e um pouco menos problemático do que a realidade que vivemos atualmente em nosso País.
 
As recomendações que sussurravam nos ouvidos dos liberais e dos conservadores ainda hesitantes em apoiar a solução ilegal e carente de base constitucional poderiam ser resumidas em um mantra sedutor: ‘Não se preocupe não. É fácil. Primeiro a gente tira a Dilma. Depois, tudo o mais se acerta”.
 
Na tentativa de conferir mais solidez e um pouco de aparência de seriedade ao movimento que jogou a institucionalidade democrática na lata do lixo, a agremiação partidária que deu a liga ao impedimento da presidenta eleita divulgou até um programa alternativo de governo. “Uma ponte para o futuro”converteu-se no documento para justificar as ações que visavam construir a manobra para que Temer se apoderasse do Palácio do Planalto.
 
O texto elaborado sob a responsabilidade do Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Wellington Moreira Franco, representa a antítese de tudo aquilo que havia sido discutido durante a campanha eleitoral de outubro de 2014. Em resumo, o material elenca um conjunto de proposições de redução de direitos sociais e de liberalização da economia que viabilizariam a entrada no paraíso. E o vice-presidente em exercício parece ter aprendido direitinho o seu dever de casa. Passou a implementar tudo como sugerido ali ao longo das 19 páginas. Desde a reorientação da política externa até a destruição da previdência social, passando pela reforma trabalhista e por concessão de maiores benesses para o capital privado.
 
Temer: um ano de desastre social e econômico.
O problema é que passado mais de ano desde a usurpação do poder federal, a sociedade brasileira tem percebido que o mergulho na tragédia derivada da adoção do austericídio como programa básico de governo não proporcionou nenhuma melhoria. O futuro chegou e a ponte mais se parece com uma pinguela cujo eixo está voltado para o passado. A recessão econômica continuou firme e solta desde então, com as consequências trágicas das falências e do desemprego a níveis nunca antes atingidos.
 
Assim, concretizou-se a frustração de todos os que acreditavam na fábula da fadinha das expectativas. Com sua popularidade nos níveis mais rasos nas pesquisas de opinião, o governo começa a sentir também dificuldades em avançar a agenda do retrocesso no interior do Congresso Nacional. E assim tem início uma grande campanha de propaganda, operação articulada com os grandes meios de comunicação, para tentar reverter o quadro no sentimento da população. Isso vale tanto para vender a ideia de que o pior já passou ou de que o fundo do poço já foi atingido, quanto para responsabilizar os governos anteriores ao golpe por tal desastre.
 
A cada dia, a cada semana, os formadores de opinião vinculados ao financismo garimpam arduamente alguma notícia alvissareira para tentar comprovar que a bonança está logo ali na esquina. É claro que os novos ocupantes de cargos estratégicos na administração federal também oferecem sua generosa contribuição. Esse movimento ocorre de forma descarada na defesa da necessidade da reforma da previdência, com a manipulação de informações oficiais na justificativa do desmonte do Regime Geral da Previdência Social.
 
À espera do crescimento.
Mas como os números que atestem o fim da recessão teimam em não comparecer, a última cartada foi a utilização de manobras estatísticas de baixo nível para obter alguma informação que corroborasse a versão da narrativa que o governo busca desesperadamente comprovar. E assim foi o que o IBGE mudou a metodologia na pesquisa de atividade do setor comércio e serviços para oferecer uma boia de salvação ao setor de comunicação do Planalto. Como esse indicador é usado na projeção do Banco Central para uma espécie de prévia do PIB, a intenção casuística é evidente. Mas o movimento foi amplamente denunciado e deve perder seu impacto como desejado no início.
 
O fato concreto é que a retomada de um ciclo de crescimento sustentado da economia depende basicamente de novos investimentos. E os grandes grupos empresariais não estão tomando decisões dessa natureza. A recessão está tão profunda que o nível de capacidade ociosa das empresas lhes permite assistir o quadro político e econômico sem precisar ampliar o parque produtivo. Por outro lado, a elevada rentabilidade proporcionada historicamente em nossas terras por retornos financeiros estratosféricos lhes assegura maiores ganhos operando nas finanças do que produzindo no setor real. Melhor aguardar do que se precipitar.
 
A manipulação fica evidente quando se verificam os resultados da pesquisa semanal realizada pelo Banco Centraljunto aos responsáveis pelas decisões do sistema financeiro - a Focus. Ali são levantadas as tais das “expectativas” do mercado. Trata-se de uma verdadeira lengalenga que ausculta apenas os integrantes do petit comité da nata do financismo. Operando na base do “de nós para nós mesmos”, a pesquisa pretende servir como bússola orientadora das ações da autoridade monetária. Um dos quesitos refere-se às perspectivas dos entrevistados quanto ao desempenho futuro da atividade econômica. Vejam abaixo a tendência de evolução das respostas a respeito do crescimento do PIB de 2017 segundo a data da pesquisa:





 
19/02/16  -  0,50%
18/03/16  -  0,44%
15/04/16  -  0,20%
24/06/16  -  1,00%
16/09/16  -  1,36%
09/12/16  -  0,70%
12/01/17  -  0,50%
12/05/17  -  0,50%
 
Desde o início do ano passado, o esmagamento midiático de Dilma e a campanha pró impeachment se combinavam com um quadro de desastre anunciado. Em abril, às vésperas da consumação do afastamento, o crescimento do PIB em 2017 não iria ser superior 0,2%. Com a chegada de Temer e a entrega do comando da economia nas mãos dos banqueiros Meirelles e Goldfajn, tudo mudou. Como que magicamente, os mesmos entrevistados pela pesquisa Focus mudaram de opinião e a economia passaria a bombar da noite para o dia. Em junho eles apostavam em um PIB crescendo a 1 % e em setembro chegaram a apostar em 1,36%. Porém, como não há mágica de desejo político que seja superior a qualquer base real da economia, os resultados da gestão Temer fizeram-nos cair na real. As projeções de crescimento em 2017 baixaram para 0,7% e agora estão em 0,5%. Ou seja, no mesmo patamar que apontavam lá atrás em fevereiro de 2016, ainda no início do segundo mandato de Dilma.
 
Investimentos em compasso de espera.
Um personagem que talvez exemplifique bem o sentimento que acomete os principais tomadores de decisão do mundo do capital é Armínio Fraga. Esse banqueiro, que já teve passagem no governo federal à época de FHC, reflete de forma sincera e articulada essa aparente contradição. Afinal, por que a economia não deslancha se a grande maioria dos principais responsáveis por parcela importante de nosso PIB apoiou a deposição do governo eleito? Em entrevista concedida essa semana, ele reconhece que
 
"Depois de uma recessão profunda seria de se esperar uma recuperação mais forte, mas isso não acontece quando se tem tanta incerteza".
 
E como que a reconhecer sua própria culpa na aposta equivocada e precipitada, passa a culpar o fantasma da volta de Lula para justificar a incapacidade de Temer em cumprir sua falsa promessa:
 
“O problema é que o hoje está sendo influenciado por um amanhã nebuloso. Deveria estar havendo boa recuperação, com apoio da política monetária, que está dando sua contribuição. Mas dificilmente vai ser uma grande festa da recuperação, até as incertezas começarem a desaparecer de forma boa”
 
(...)
 
“Esse Lula hoje está reagindo como uma fera acuada. E aí vem o medo de ele voltar.“
 
A partir desse depoimento pode-se compreender algumas das razões que atuam para desestimular a retomada dos investimentos. Para além da obsessão visceral de Meirelles em impedir qualquer tipo de protagonismo na iniciativa do setor público nessa direção, Fraga assume que as incertezas permanecem no ar. Ou seja, não bastava tirar Dilma para que a fadinha das expectativas lançasse os superpoderes com sua varinha mágica. Agora, o próximo passo deve ser impedir Lula de sair candidato.
 
 
* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.
 


Créditos da foto: Reprodução

Até onde vai a 'nova direita'?

16/05/2017 11:27 - Copyleft

Até onde vai a 'nova direita'?

Em um cenário de descrédito para a atual classe política, novos personagens e agremiações têm oportunidade de crescer e ampliar seu espaço


Glauco Faria e Luciano Velleda
TASSO MARCELO/ FOTOS PÚBLICAS
São Paulo – Eles começaram a aparecer com mais força nos protestos em prol do impeachment de Dilma Rousseff, mas mesmo antes disso já eram figuras relevantes nas redes sociais. Alguns de seus expoentes, a essa altura, tinham se tornado figuras carimbadas em veículos da mídia tradicional, enquanto outros amealhavam legiões de fãs com suas análises e comentários. Em 2016, conseguiram eleger representantes diretos e viram triunfos de candidatos que contaram com seu apoio. Agora, em um cenário político que favorece a possível emergência de outsiders, os integrantes da chamada nova direita pretendem almejar voos maiores nas eleições do ano que vem.

Esse novo agrupamento ideológico, heterogêneo, mas cada vez mais visível, tem sido estudado por parte do meio acadêmico que acompanha sua consolidação nos últimos anos. Não à toa, já que possíveis postulantes desse segmento aparecem com relativo protagonismo em sondagens eleitorais recentes, como é o caso do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Mas como definir e delimitar o que seria essa nova direita?

“Para sabermos se há uma ‘nova direita’, seria preciso diferenciá-la da ‘velha direita’”, resume Adriano Codato, professor de Ciência Política e coordenador geral do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explicando em seguida a diferença entre um e outro grupo, proposta pelo cientista político Bruno Bolognesi no âmbito de um projeto de estudo sobre as direitas na América Latina.

Conforme essa divisão descrita por Codato, a velha direita está concentrada em partidos que possuem ligação com as ditaduras militares – por exemplo, DEM, ex-PFL, que teve parte de seus integrantes vindos do PDS, ex-Arena –, sendo caracterizada por pontos como a defesa moderada da não intervenção do Estado na economia, a crítica aos programas de compensação social como Bolsa Família, Fies etc., e pela defesa da moral cívica e da família tradicional (direita laica).

Já a nova direita, segundo o cientista político, surge “tanto como resposta política e eleitoral à velha direita como resposta à ascensão da esquerda”. Ela se faz presente principalmente nas novas e pequenas legendas sem ligação com o sistema de partidos tradicional, como PSC, PRB e PEN, defendendo a intervenção limitada do Estado na economia para garantir a igualdade de oportunidades – programas sociais –, a aceitação da democracia eleitoral, e a defesa radical dos valores cristãos e da família tradicional (direita religiosa).

Se no início do período da redemocratização mesmo políticos com evidente inclinação à direita não se assumiam como tal, hoje o cenário é diferente. “É uma nova geração, são pessoas que têm entre 18 e 40 anos, nasceram nos anos 1980 para cá e não se relacionam com o regime militar. Em geral, rejeitam a ditadura de forma absoluta em termos econômicos”, explica Camila Rocha, doutoranda em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, que ressalta a diversidade de pensamentos e um ponto em comum entre esses segmentos. “Tem desde monarquistas até libertários, mas todos convergem na defesa da liberdade de mercado, divergem no papel do Estado regulando os costumes.”

Conciliar o liberalismo econômico com o conservadorismo em termos morais tem sido um dos desafios dos que pretendem encarnar o espírito da direita rejuvenescida. Um exemplo disso foi a candidatura do Pastor Everaldo, pelo PSC, à presidência da República em 2014. Um dos principais motes do seu discurso durante a campanha, além da “defesa da família”, era a pregação em prol do Estado mínimo, repetindo bordões como “Mais Brasil e menos Brasília na vida do cidadão brasileiro”. Foi o único presidenciável a defender de forma aberta a privatização da Petrobras. Ao fim, não conseguiu mobilizar nem o segmento evangélico nem os liberais econômicos em torno de sua candidatura, amargando parcos 0,75% dos votos no primeiro turno.

“O programa e o discurso do Pastor Everaldo eram ensaiados por seus financiadores e não uma conversão da direita religiosa ao liberalismo econômico. É muito difícil no Brasil ser ‘liberal’, no sentido econômico, e ser ao mesmo tempo ‘liberal’, no sentido dos direitos individuais”, avalia Adriano Codato. “Os candidatos conservadores-religiosos podem se fantasiar com o liberalismo econômico, mas não podem admitir o liberalismo dos ‘direitos do indivíduo’, pois isso implicaria em admitir o controle sobre o próprio corpo, por exemplo. Além disso, o liberalismo estrito, aquele de manual de Economia, não serve num país de renda tão baixa, necessidades sociais tão altas e que está acostumado a ser provido pelo Estado. O empresariado inclusive. Ou principalmente.”

A legenda do religioso é uma das que têm buscado reforçar uma maior identidade com movimentos da direita emergente, tentando se renovar perante o eleitorado. “Parte da nova direita se organiza principalmente em torno de três partidos: o PSL, que tem uma tendência, o Livres, que quer se tornar hegemônica; o PSC, do Pastor Everaldo, de tendência liberal-conservadora; e o Partido Novo, mais alinhado com o Proposta Republicana (PRO) de Mauricio Macri (presidente argentino), não entrando na pauta de costumes, com um perfil de administração profissional e contando com empresários”, pontua Camila Rocha.

No caso do PSC, a cientista política aponta o advogado Bernardo Santoro, diretor do Instituto Liberal, como um dos responsáveis pela elaboração da plataforma de campanha do presidenciável do partido. “Ele (Everaldo) não tinha qualquer noção de liberalismo econômico antes disso”, afirma. Santoro também colaborou com a campanha de Flávio Bolsonaro à prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016, e está trabalhando a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência em 2018. “Uma das tensões da nova direita é entre liberalismo e conservadorismo. Muitos libertários, por exemplo, são contra Bolsonaro e tem sido feito um trabalho de convencimento para que ele seja encarado como alguém confiável”, pontua.








Bolsonaro


Bolsonaro vai tentar associar ideias liberais do ponto de vista econômico com moral conservadora para chegar à presidência em 2018 - FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL




Uma amostra da dificuldade para equilibrar as tensões entre valores distintos da direita são as declarações de Bolsonaro. No início de fevereiro, ele disse que o Estado brasileiro é “cristão” e que as “minorias têm que se curvar”.  Na ocasião, Santoro, em seu perfil no Facebook, saiu em sua defesa, dizendo que as críticas ao discurso do parlamentar eram um “caso claro de má-vontade com o deputado”. “Não há nenhum problema em se defender um Estado confessional democrático, que tem em si mesmo um poder de defesa institucional ao marxismo cultural que o estado laico não possui”, escreveu. “O que ele pretende, de fato, é combater, isso com vigor e tenacidade, todas as minorias politicamente organizadas que pretendem e têm tentado implementar agendas de reengenharia social para destruição dos valores cristãos que, sim, fazem parte da construção e sedimentação da nossa sociedade.”

Na mesma postagem, Santoro vê paralelos entre o deputado e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Racionalizando as atitudes dele, o que eu vejo é que, com esse discurso superficial e de chavões, ele atinge a classe popular, cujo pensamento político não é rebuscado e não compreende o tipo de nuance que eu apresentei aqui. Talvez ele tenha percebido algo que eu não percebi, uma forma de comunicação genuína com o povo, tal como Trump fez nos EUA e nenhum analista político lá percebeu (salvo o esquerdista Michal Moore, o único que viu que Trump estava comendo a base democrata no cinturão do aço com seu discurso antiglobalização, onde a eleição se resolveu a seu favor, especialmente em Pensilvânia, Michigan e Wisconsin).”

A defesa do liberalismo dá votos?
Que existe uma consolidação do espaço da direita em termos político-eleitorais, não se pode negar. Porém, a questão é saber até onde esse segmento pode ir, já que os postulados neoliberais não encontram grande apoio em meio à população, mesmo entre aqueles que se definem de direita. Nas eleições presidenciais de 2006, aliás, o candidato tucano, Geraldo Alckmin, passou pelo constrangimento de ter que se vestir com um macacão ornado com logotipos de empresas públicas para afirmar que não iria proceder a novas privatizações, uma das marcas dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, único tucano a chegar ao Planalto.

Um estudo feito pelos pesquisadores Esther Solano (Unifesp), Pablo Ortellado e Marcio Moretto (USP) mostra a dificuldade que candidatos atrelados à defesa de princípios do liberalismo econômico podem encontrar em eleições majoritárias. Entre os dias 15 e 22 de outubro de 2016, eles realizaram uma pesquisa sobre assuntos frequentes nas redes sociais quando se aborda política, ouvindo 1.058 paulistanos. Entre os temas estava, por exemplo, a seguinte afirmação: “As empresas estatais como os Correios e o Banco do Brasil deveriam ser privatizadas”. Entre os entrevistados, 53,1% discordaram, diante de 30,2% que concordaram.

Outras afirmações avaliadas foram “O bolsa-família é necessário para reduzir a desigualdade”, com concordância de 54,1% das pessoas. Em relação à frase “Quem começou a trabalhar cedo, deve poder se aposentar cedo, sem limite de idade”, 83,8% disseram estar de acordo, sendo que 83,1% concordam que “Todo mundo deveria trabalhar com carteira assinada”.

“Existe uma diferença grande entre os grupos que tomaram frente da questão do impeachment e as pessoas que estiveram presentes nessas manifestações”, avalia Esther Solano, em evento realizado pelo Instituto Goethe, em São Paulo. “Esses atores (como MBL, Vem Pra Rua e Revoltados On Line) se colocam como pró-mercado, privatistas e defensores do Estado Mínimo. Mas as pessoas que se definem como conservadoras e que foram para as manifestações pró-impeachment não aderem ao consenso neoliberal”, afirma, ressaltando que tal consenso só se aproxima da realidade nas camadas com renda mais alta.

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo divulgada em março, que analisava os valores políticos das regiões periféricas de São Paulo, também reforça essa percepção, ainda que, à época, setores da mídia tradicional tenham celebrado os resultados. “No momento antes da crise, quando houve a ampliação do mercado de trabalho e do mercado de consumo, as pessoas passaram a ser incluídas e a experimentar um pouco o que era ter cidadania, ainda que por meio do consumo, de uma maneira intensa e, para alguns desses setores, inédita. No momento em que temos a reversão do ciclo econômico, essas pessoas passam a sentir o impacto desse recuo. Isso vai criando um ambiente marcado por valores ambíguos e paradoxais. No fundo, esse grupo social, como experimentou a cidadania e o consumo, passou a ter a autoestima elevada, auto respeito, passou a desejar o direito de construir a própria biografia de maneira autônoma”, explica, em entrevista à RBA publicada em abril, o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), cientista político e economista William Nozaki.

“Isso cria uma noção de individualidade diferente da que existia até aquele momento, porque as pessoas passam a se entender como cidadãos. E como cidadãos passam a se ver como indivíduos que querem ter a chance, a oportunidade, de construir a própria vida. Isso cria uma abertura para a inoculação de valores marcados pela presença do empreendedorismo, da competição, mas não no sentido neoliberal, e sim no sentido de ter o direito de construir a própria trajetória de vida. Passa mais por aí do que por uma lógica de competição exacerbada, ou de vitória da livre concorrência de mercado. É mais a construção de uma noção moderna de indivíduo”, afirma.

A antipolítica e as próximas eleições
O estudo conduzido pelos pesquisadores da USP e Unifesp mostra ainda que boa parte do sentimento do antipetismo poderia ter migrado para a antipolítica. Já em abril de 2015, somente 11% dos manifestantes entrevistados nos atos pelo impeachment diziam confiar muito no PSDB, em que pese a maioria deles ter se assumido como votante da legenda. Em relação ao PMDB, partido ao qual pertencia o vice-presidente que assumiria a cadeira de Dilma, esse índice chegava a 1,4%.

“Vivemos um cenário de cultura política rarefeita, uma polarização muito forte e ao mesmo tempo vazia, e isso possibilita a eleição de líderes tecnocráticos num ambiente de democracia fraca. Nesse cenário, o surgimento de lideranças apolíticas pode ser um grande perigo, ao mesmo tempo que as coisas mudam rápido e não é possível fazer muitas previsões com segurança”, observa Rodrigo Estramanho de Almeida, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

Com um panorama no qual reina o descrédito tradicional, abre-se um caminho para legendas como o Novo ou um repaginado PSL, além de figuras fora da política tradicional e que, pretensamente, rejeitam a política. Isso já se refletiu nas eleições de João Doria, em São Paulo, e de Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte, por exemplo. Um perfil de candidato relacionado ao sucesso pessoal, com discurso de "gestão empresarial" na administração pública.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu essa condição, que afetou a imagem de três possíveis postulantes de seu partido à presidência em 2018, os senadores Aécio Neves e José serra, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. “A questão é que o sistema político brasileiro não favorece a formação de líderes nacionais. Fora de campanhas, quem aparecia nacionalmente? O ex-presidente, o presidente e um ou outro candidato a presidente. Quando alguém chamava atenção? Só os mais bizarros conseguiam. Isso agora mudou, está mudando. O Doria está fora (desse esquema anterior), o Luciano Huck está fora. Eles são o novo porque não estão sendo propelidos pelas forças de sempre. Temos de ver como isso se desenrola.”

Se nomes da nova direita estão também nos partidos grandes, as legendas menores têm um espaço grande para crescer. O Novo,  por exemplo, filiou o técnico de vôlei Bernardinho, emigrado do PSDB, em abril. Uma palestra do ex-treinador (com entrada paga) programada para junho, em Porto Alegre, aparece na agenda de eventos da legenda, indicando que ele poderá agregar outras personalidades públicas ao partido. No PSL, o economista Gustavo Franco, ainda no PSDB, é um dos padrinhos da tendência Livres, representada por libertários que buscam ocupar um espaço maior na agremiação.

Entre os partidos grandes, o prefeito de São Paulo tem investido na fórmula que fez sucesso nas manifestações de 2015, vestindo o figurino do antipetismo e polarizando, sempre que possível, com Lula. Aécio também adotou estratégia semelhante em 2014 e conseguiu superar Marina Silva e chegar ao segundo turno. Mas a radicalidade à direita assustou parte do eleitorado “centrista” e o tucano foi derrotado por Dilma. Em uma disputa pelo eleitorado de Bolsonaro, o antipetismo pode servir a Doria, mas é o suficiente para vencer? 
Os tipos ideais de cada direita
Adriano Codato observa que a ascensão de uma nova direita no Brasil é um fenômeno “bastante complexo e difícil de apreender se olharmos apenas para a dinâmica partidária”. “Entre outras coisas porque há muitos partidos e as formas de classificação deles são complexas e nunca unívocas; existem partidos sem ideologia (‘fisiológicos’), os que são velhos na idade (PSC), mas que renovam/aprofundam seu discurso em direção à nova direita, e o surgimento de forças na nova direita não alinhadas à direita religiosa, como o Novo e o PSL”.

Ele desenvolveu uma tipologia que diferencia a direita brasileira em pelo menos cinco correntes, traçando os “tipos ideais” de políticos que poderiam corresponder a cada uma delas:

– o político tradicional de direita: Ronaldo Caiado (DEM)

– o político da nova direita popular: Pastor Feliciano (PSC)

– o político da direita populista: Jair Bolsonaro (ex-PP; PSC)

– o político da direita neoliberal: Henrique Meirelles (PMDB)

– o político da direita libertária: Fábio Ostermann (PSL)


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