segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Reforma agrária às avessas é marcada por ocupação pelo capital estrangeiro


MARCIO POCHAMNN

Reforma agrária às avessas é marcada por ocupação pelo capital estrangeiro

Dois em cada três municípios do país têm terras ocupadas pelo capital externo. Em pleno século 21, sexto ciclo histórico de reforma agrária do Brasil aprofunda perda da soberania nacional
  08:18
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Processo de estrangeirização segue dinâmica da financeirização da riqueza. Compra das terras, compreende, inclusive, a captura dos recursos naturais, biodiversidade e demais componentes do uso agrário
Do ponto de vista dos indígenas, originários detentores do conjunto de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados da extensão territorial que forma o país, o quinto maior do mundo, o Brasil ingressou em sua sexta reforma na propriedade de suas terras. Ou seja, a apropriação em grandes dimensões de terras pelo capital internacional (land grabbing) que faz com que o país ocupe atualmente a terceira na posição no mundo, após a República do Congo e Rússia, em transações negociadas por empresas estrangeiras, segundo relatório Land Matrix para o ano de 2018.
Esse processo de estrangeirização revela parte da dinâmica da financeirização da riqueza que acompanha a globalização capitalista na acumulação de ativos através dos negócios de compra das terras, compreendendo, inclusive, a captura dos recursos naturais, biodiversidade e demais componentes do uso agrário. Isso tem ocorrido por arrendamento, contratos de parcerias e/ou de gaveta, compra direta de imóveis rurais por intermédio de investimento direto do exterior, fundos de pensões em participações nas companhias proprietárias de imóveis rurais, ações de empresas terceirizadas (nacional ou estrangeira, com joint venture), intercâmbio de debêntures conversíveis, entre outras.
Leia tambémAs Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Agricultura (CRA) do Senado aprovaram em dezembro projeto que facilita a aquisição de terras por pessoas físicas e jurídicas estrangeiras. O Projeto de Lei (PL) 2.963/2019, seguirá agora para CCJ), que terá decisão terminativa, ou seja, final no Senado.
Assim, no primeiro quarto do século 21, o Brasil aprofunda a perda da soberania nacional, esvaziando setores econômicos que ainda resistiam à presença dominante do capital estrangeiro. Segundo informações oficiais, o capital externo já se encontra instalado em terras da nação pertencentes à quase dois terços dos municípios brasileiros.
Além disso, a participação estrangeira tem sido relativamente superior atualmente nas regiões mais capitalizadas, como Sudeste, Sul e Centro-Oeste, enquanto nos estados do Norte e Nordeste detêm presença do capital externo abaixo de 15% da área total. Mas para o governo Bolsonaro e sua base parlamentar ruralista, o país encontra-se atrasado, precisando rapidamente alterar a legislação existente, conforme aponta o projeto de lei no Senado Federal (PL 2.963/2019) que revoga a proteção na aquisição de imóvel rural por estrangeiros.
Diante disso, a abertura para a entrada em massa dos capitais internacionais consistiria na sexta reforma da estrutura agrária nacional, uma vez que da perspectiva histórica, os indígenas tiveram contato com uma primeira alteração fundiária do território existente a partir da chegada lusitana, no século 16. Pela partilha da terra em 15 lotes denominados por capitanias hereditárias, o sentido da colonização se conformou através de grandes propriedades territoriais voltadas à produção de monoculturas para exportação e uso generalizado do trabalho escravo.
A expansão territorial, com a ampliação das fronteiras na condição de colônia e de país independente, constituiu uma segunda forma de mudança fundiária no Brasil. Desde o Tratado de Tordesilhas, de 1494, passando por um conjunto diverso de tratados diplomáticos (Utrecht, em 1713, Madrid, em 1750, Santo Idelfonso, 1777, Badajós, em 1801, Limites Brasil/Uruguai, em 1851, Ayacucho em 1867, Paz com Paraguai em 1872, Tratado de 1897, Limites de navegação de 1907, Rio de Janeiro, em 1909, entre outros), a área territorial foi ampliada até o início do século 20.
A terceira reforma agrária teria acontecido a partir da segunda metade do século 19, quando a disponibilização de terras foi concedida para atrair mão de obra branca imigrante. O que se mostrou estratégico pelo projeto de branqueamento da elite brasileira de implantar o modo de produção capitalista que excluísse negros e miscigenados do acesso a terra com a abolição da escravatura.
Na quarta reforma da estrutura agrária nacional, o objetivo foi o de responder à pressão por acesso a terra no centro sul do país, o que levou ao avanço da fronteira agropecuária para as regiões do oeste e norte nacional. Diversos projetos de exploração serviram para esse processo de deslocamento humano na direção ao Centro-Oeste e à Amazônia legal.
Por fim, a quinta reforma agrária levou estabelecida pela formação das periferias urbanas segregadas em grande parte das principais cidades do país. Para a formação do proletariado industrial desde a década de 1930, o projeto de sociedade urbana implicou o deslocamento de gigantesca massa humana do campo para as cidades, que sem planejamento urbano, constituíram periferias em áreas estendidas ocupadas por favelas e moradias precárias.


DIREITOS HUMANOS Entidades pedem ação e Força Nacional para conter ataques de ruralistas a indígenas no MS


DIREITOS HUMANOS

Entidades pedem ação e Força Nacional para conter ataques de ruralistas a indígenas no MS

Por meio da Defensoria Pública da União em Campo Grande, inúmeras organizações de direitos humanos dirigem ofício ao governador do estado, o tucano Reinaldo Azambuja
  19:00
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DIVULGAÇÃO
Trator blindado é usado nos ataques para aterrorizar indígenas e destruir suas moradias
São Paulo – Por meio da Defensoria Pública da União em Campo Grande, diversas entidades, entre as quais a Associação dos Juristas para a Democracia, a Comissão Pastoral da Terra (CPT/MS), a Comissão Regional de Justiça e Paz de Mato Grosso do Sul (MS), a CUT-MS, o coletivo Terra Vermelha, o Conselho Indigenista Missionário, encaminharam ao governador do Mato Grosso do Sul (PSDB), Reinaldo Azambuja, e ao secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica (Segov), Eduardo Corrêa Riedel, um ofício pedindo providências para que sejam contidos atos violentos na cidade de Dourados contra indígenas.
A violência é promovida por produtores rurais próximos às aldeias Bororó e Jaguapiru. Segundo o ofício, no dia 8 as entidades ouviram relatos de dezenas de indígenas, mulheres, idosos e crianças sobre os ataques, que são praticados por seguranças particulares dos ruralistas.
Segundo os relatos, as agressões são realizadas com armas de grosso calibre, caminhonetes e um trator blindado, para aterrorizar a comunidade e destruir suas moradias. Depois de inúmeros ataques durante o ano de 2019, em 3 de janeiro deste ano três indígenas e um segurança foram baleados nos conflitos.
Os membros da comitiva alegam que, durante sua visita, duas caminhonetes pertencentes aos ruralistas tinham ocupantes que “pareciam fotografar ou filmar” sua reunião com os indígenas. “Não restam dúvidas, tanto pelos relatos ouvidos, como pela presença dos seguranças nas proximidades, que o cenário é de intenso conflito. Há risco de novos atos violentos que poderão vitimar crianças e idosos indígenas”, diz o documento encaminhado ao governo sul-mato-grossense.
O ofício informa às autoridades que uma criança de 12 anos perdeu os dedos da mão esquerda ao manipular uma granada de efeito moral. As entidades dizem ser urgente que o governo estadual acione o governo federal para que envie a Força Nacional de Segurança Pública em número suficiente para coibir os ataques
Em setembro, seguranças de proprietários rurais atacaram um grupo guarani kaiowá durante invasão ao tekoha  (“lugar onde se é”, definição de terra indígena para os guarani e kaiowá) Ñu Vera, em Dourados. Na ocasião, dois indígenas foram feridos a tiros de bala de borracha. Segundo os indígenas, os momentos são de desespero. “Começa sempre com muito tiro nos barracos e depois os jagunços vêm e destroem tudo”, conta uma liderança.
Em outubro, um jovem indígena de 21 anos foi baleado, mantido refém e torturado por seguranças privados. Como se não bastasse, depois da violência ainda foi detido pela polícia, segundo os indígenas. Em novembro, mais ataques, em áreas limítrofes à Reserva Indígena de Dourados. Em um deles, um indígena foi ferido e barracos foram destruídos.

Conselho indigenista contesta inquérito da PF sobre assassinato de líder Guajajara


CICLO DA IMPUNIDADE

Conselho indigenista contesta inquérito da PF sobre assassinato de líder Guajajara

Polícia Federal descarta hipótese de emboscada por madeireiros na morte de Paulo Paulino Guajajara, no Maranhão. Conselho avalia que conclusão dá vazão para que mais crimes ocorram. Já são 47 mortos nos últimos 20 anos
  13:46
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SARAH SHENKER/SURVIVAL INTERNATIONAL
Cimi: "É lamentável o resultado desse inquérito. Ele não considera o conflito territorial e a invasão do território que vem acontecendo há anos por parte de madeireiros e de políticos locais".
São Paulo – A Polícia federal divulgou nesta semana o inquérito sobre o ataque aos líderes indígenas Paulo Paulino Guajajara e Laércio Sousa Silva. Paulo foi assassinado e Laércio, baleado no braço, mas o inquérito da PF descarta a hipótese de emboscada por invasores ou conflitos étnicos. O caso de violência ocorreu no dia 1º de novembro de 2019, no interior da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. De acordo com o relato de Laércio, os dois estavam indo caçar quando foram surpreendidos por cinco madeireiros armados, que dispararam contra os dois integrantes do grupo Guardiões da Floresta.
As investigações da PF contrariam essa versão, afirmando que a execução teria sido “originada da troca de tiros motivada pela posse de uma das motocicletas utilizadas pelos não-indígenas”. Quatro pessoas foram indiciadas pelo crime, mas a Polícia Federal ainda não divulgou suas identidades nem respondeu se seriam, ou não, indígenas.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) questiona as conclusões e aponta para uma “interferência política”, motivada pela influência do presidente Jair Bolsonaro e seus discursos. “Porque os fatos foram amplamente divulgados e está clara a intenção de invasão do território e o assassinato do indígena dentro do seu próprio território”, explica o secretário-geral do Cimi, Antonio Eduardo Cerqueira de Oliveira em entrevista à Rádio Brasil Atual.
“É lamentável o resultado desse inquérito. Não considera o conflito territorial e a invasão do território que vem acontecendo há anos por parte de madeireiros e de políticos locais. E também desconsidera que um indígena foi morto e outro foi baleado, é claro que isso não ocorreu por disputa de uma motocicleta, esse fato já vem ocorrendo há anos, a invasão do território do povo Guajajara já vem ocorrendo há mais de 40 anos e tem sido denunciada pelos indígenas, indígenas têm sido mortos, e a criação inclusive do grupo Guardiões da Floresta foi justamente no sentido de coibir as invasões”, destaca Oliveira.
Pelo menos 47 indígenas do povo Guajajara no Maranhão foram mortos nos últimos 20 anos, segundo registros da entidade. Entre eles, 18 eram da TI Arariboia. Pouco mais de um mês do assassinato de Paulo Paulino, o líder Dorivan Guajajara, da mesmo território, foi encontrado morto e esquartejado. Foi a quarta vítima da etnia só entre novembro e dezembro do ano passado.
À imprensa, a PF informou que as investigações encerraram-se no dia 12 de dezembro, com base em exames médicos periciais, testemunhos e declarações dos envolvidos sobreviventes e, segundo o órgão em nota, “foi possível afastar as hipóteses relacionadas a conflitos étnicos ou mesmo por emboscada de madeireiros a indígenas”, após “os indígenas roubarem e depredarem uma moto dos não-indígenas”. A PF não explica o que faziam esses não-indígenas, armados, dentro da TI.
“O nosso espanto é justamente esse fato”, contesta o secretário-geral do Cimi, que publicou uma nota de repúdio às investigações. “Exigimos que esse inquérito seja reformado, porque o crime ocorreu (…) senão vai reforçar, e ao mesmo tempo dar vazão, para que mais crimes contra o povo Guajajara ali naquela região”, alerta.
O conselho agora pretende acionar os povos indígenas e a comunidade e denunciar as investigações aos mecanismos e organizações internacionais. Estuda ainda acionar o Ministério Público Federal – para onde será encaminhado o inquérito.
“A gente infelizmente tem que conceber que houve uma interferência política, no sentido da conclusão desse laudo, porque os fatos foram amplamente divulgados e está clara a intenção de invasão do território e o assassinato do indígena dentro do seu território. Essa denúncia e esse procedimento é para evitar que outros assassinatos venham a ocorrer”, declara o secretário-geral do Cimi.

Ouça a entrevista na íntegra

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Sistema do INSS não está pronto e pedidos se acumulam TÁ FALTANDO DINHEIRO?

Sistema do INSS não está pronto e pedidos se acumulam

Fila chega a 1,5 milhão de solicitações, dois meses após aprovação da reforma da Previdência
Jornal GGN – Nenhum pedido de aposentadoria foi atendido desde o dia 13 de novembro, quando as novas regras da Previdência entraram em vigor. O governo só deve apresentar uma solução para o caso na próxima quarta-feira.
Segundo informações do jornal O Globo, mais de dois milhões de pedidos estão represados – sendo 1,5 milhão de solicitações de aposentadorias e o restante de pedidos assistenciais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Apenas os benefícios que não sofreram mudanças com a reforma, como a aposentadoria rural, estão sendo concedidos.
A concessão de benefícios vem em crescente retenção por conta de um corte de funcionários por motivos de aposentadoria. Uma medida que desafogou a demanda (mas não resolveu o problema) foi a medida provisória que autorizou um pente fino no INSS, que pagava bônus para servidores voltados à análise de pedidos suspeitos de irregularidade.
Em entrevista, o secretário de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, afirmou que a decisão envolve uma análise atenta do orçamento, e há propostas na mesa do ministro da pasta, Paulo Guedes. A pasta deve efetuar um anúncio relacionado sobre o tema na quarta-feira.

General Heleno convenceu Bolsonaro a não demitir Moro ESSE GENERAL NÃO ACERTA UMA!

13 DE JANEIRO DE 2020, 13H55

General Heleno convenceu Bolsonaro a não demitir Moro

“Se demitir o Moro, o seu governo acaba", disse o general ao presidente
Bolsonaro e Sérgio Moro (Foto: Divulgação/MJSP)
Ao saber que seu ministro da Justiça, Sergio Moro, havia criticado a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, sobre o Coaf, o presidente Jair Bolsonaro teria tomado a decisão de demitir o ex-juiz. No entanto, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, teria convencido Bolsonaro a manter Moro no governo.
A informação consta no livro “Tormenta – O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos”, da jornalista Thaís Oyama, compartilhada por Guilherme Amado, da revista Época.
Segundo a jornalista, Bolsonaro ficou enfurecido com Moro por ter pedido a Toffoli que reconsiderasse a decisão sobre paralisar as investigações do Coaf. Na época, a medida do ministro protegia diretamente o senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro, investigado por corrupção em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
No entanto, no fim de agosto, decido em demitir seu ministro da Justiça, Bolsonaro foi convencido por Augusto Heleno de que não era uma boa ideia. “Se demitir o Moro, o seu governo acaba”, disse o general ao presidente.
Queiroz
O livro da jornalista também traz outra revelação. De acordo com ela, Bolsonaro ordenou a Fabricio Queiroz, ex-assessor dele e do filho, Flávio Bolsonaro, que não comparecesse ao depoimento no Ministério Público do Rio de Janeiro em dezembro de 2018.
De acordo com o livro, após a divulgação do escândalo do Coaf, envolvendo o ex-assessor do clã, advogados de Queiroz e Bolsonaro fecharam a estratégia de que o ex-PM iria até os promotores, mas diria que não daria declarações até ter acesso à investigação. Queiroz ainda negaria qualquer relação com o clã.