Atílio Borón*
A
sequência de eventos que ocorre na República Bolivariana da Venezuela mostra
que a estratégia da chamada "oposição democrática" é uma conspiração
sediciosa para destruir a ordem democrática, devastar as liberdades civis e
fisicamente aniquilar as principais figuras do chavismo, começando com o
próprio presidente Nicolás Maduro, sua família e entorno afetivo próximo.
Oponentes estão metodicamente atravessando os passos indicados pelo manual
desestabilizador "Sem violência estratégica" (sic!) do consultor da
CIA, Eugene Sharp.
Não
pode haver a menor ambiguidade na interpretação das intenções criminosas dessa
oposição que, se chegar a ter êxito, seria capaz de colocá-las em ação. Se os
seus chefes conseguirem envolver militarmente os Estados Unidos na crise
venezuelana, propiciando a intervenção do Comando Sul – com a tradicional
colaboração militar dos infames peões de Washington na região, sempre dispostos
a respaldar as aventuras de seus amos do Norte – jogariam uma faísca que iria
inflamar a pradaria América Latina. As consequências seriam catastróficas, não
somente para os nossos povos, senão também para os Estados Unidos, que
certamente iriam colher, como na invasão da Baía dos Porcos (Cuba, 1961), mais
uma derrota em nossas terras.
Essa
é a aposta desta oposição venezuelana, absurdamente exaltada pela imprensa
hegemônica mundial. Esta imprensa, como fez antes com os "combatentes da
liberdade" na Nicarágua e, em seguida, na Líbia e no Iraque, mente
descaradamente ao apresentar o que está acontecendo na Venezuela. A tentação da
direita venezuelana de internacionalizar o conflito e envolver o músculo
militar do império ganhou força ao conhecer-se as recentes declarações do chefe
do Comando Sul, o almirante Kurt Tidd, perante a Comissão das Forças Armadas do
Senado dos Estados Unidos e, especialmente, quando tornou-se pública a nomeação
de Liliana Ayalde como vice-Chefe Civil do Comando Sul.
Liliana
Ayalde serviu como embaixadora dos EUA no Paraguai, às vésperas do "golpe
parlamentar" contra o governo de Fernando Lugo, ocasião em que se movia
nos bastidores para garantir o sucesso do golpe. Depois de umas breves férias,
ela retornou à região para ocupar o mesmo cargo, mas desta vez em Brasília,
onde encorajou e apoiou a "derrubada institucional" de Dilma
Rousseff. Consumada a sua obra, voltou para os Estados Unidos em busca de novas
missões desestabilizadoras e as encontrou no Comando Sul.
Em
outras palavras, o número dois dessa organização é muito mais perigoso do que o
seu chefe. Ayalde é filha de um médico colombiano radicado nos Estados Unidos,
ela é uma temível especialista em demolições políticas e foi designada
(certamente por acaso!) para o cargo que hoje ocupa desde fevereiro deste ano,
coincidindo com a intensificação dos protestos violentos contra o governo
bolivariano. Como pode ser lido no website do Comando Sul, a missão de Liliana
é "monitorar o desenvolvimento e aperfeiçoamento da estratégia regional
Comando Sul e seus planos de cooperação em matéria de segurança".
O que
a oposição "democrática" venezuelana deseja é precipitar uma violenta
"transição" ao pós-chavismo, reeditando na pátria de Bolívar e Chávez
a tragédia ocorrida na Líbia e no Iraque. Esse é o seu plano, o modelo que se
depreende dos discursos violentos, desaforados e irresponsáveis de seus
líderes e o que o Comando Sul e a sua tenebrosa vice-chefe tem nas mangas.
Poucas designações poderiam ter sido mais apropriadas do que esta de incentivar
os setores da Venezuela que defendem a violência. E raras as atitudes seriam
mais suicidas do que o governo venezuelano pretender apaziguar os ânimos dos
violentos com concessões de vários tipos. Infelizmente, só se poderá ver a luz,
como dizia José Martí, se o estado aplicar todo o rigor da lei e apelar à
eficácia de sua força para submeter o vandalismo de direita e esmagar o ovo da
serpente antes que seja tarde demais.
Fascistas?
Sim, por seus métodos, semelhantes aos utilizados por grupos armados de
Mussolini e Hitler, para aterrorizar italianos e alemães, semeando a destruição
e a morte a partir de uma onda terrorista; fascistas por seu conteúdo político,
porque a sua proposta é inerentemente reacionária, ao pretender apagar em um
canetaço, como tentou sem sucesso no golpe de 11 de Abril de 2002, todas as
conquistas populares alcançadas a partir de 1999.
Fascistas
também em função da absoluta imoralidade e falta de escrúpulos de seus líderes,
alimentando o fogo da violência, encorajando os seus bandos de lúmpen e
paramilitares a atentar contra a vida e a propriedade dos venezuelanos e as
agências e instituições do Estado – hospitais, escolas, edifícios públicos etc.
–, e que não recuam diante da possibilidade de mergulhar a Venezuela em uma
sangrenta guerra civil ou, no caso improvável de prevalecer, transformando o
país em um abominável protetorado estadunidense.
Todos
os adversários venezuelanos são piores do que os fascistas na medida em que
estes mantinham, pelo menos, certo sentido nacional. Os seus congêneres
italianos e alemães nem remotamente arrastaram-se na lama da política
internacional para oferecer os seus países a uma potência estrangeira, como faz
a direita venezuelana, enterrada para sempre na eterna ignomínia. A direita
venezuelana, alternadamente choraminga ou uiva para que a sua terra natal, a
pátria de Simón Rodríguez e Francisco de Miranda, Simón Bolívar e Hugo Chávez,
se torne uma abjeta colônia norte-americana. Tratá-los como fascistas seria
fazer um favor a essa gente.
Eles
são muito piores e mais desprezíveis do que aqueles.
*
Sociólogo e cientista político, escritor e professor da Universidade de Buenos
Aires