segunda-feira, 30 de maio de 2022

As principais notícias desta noite no Brasil 247

 

É preciso compreender o processo histórico para nele intervir

 

 



 É preciso compreender o processo histórico para nele intervir

Roberto Amaral*
 
Ponderáveis setores da esquerda brasileira, novos e antigos companheiros das lutas democráticas, cobram de Luiz Inácio Lula da Silva o anúncio de um projeto socialista para o Brasil de hoje – embora a revolução, sempre desejada, não esteja  posta pelo processo histórico. Lamentavelmente. De Lula, um dos mais avançados quadros da centro-esquerda brasileira, como certificam seus oito anos de governo, o que havemos de esperar é a construção e liderança de uma nova maioria política, fiadora da continuidade democrática, fundamental para a luta dos trabalhadores no Estado burguês. Não é um fim, em si, mas processo sem o qual não retomaremos o projeto de uma sociedade sem classes.

(Ironia da História: são os “subversivos” que, hoje, defendem a democracia no país, contra as ameaças totalitárias dos partidos da ordem.)   
 

Cobra-se do Partido dos Trabalhadores – o maior e o mais sólido partido da socialdemocracia brasileira – um projeto revolucionário que não está no horizonte de seu programa. Sob o comando de Lula, o PT lidera uma coalizão partidária de centro-esquerda, ampla,  que mais e mais procura afastar-se das teses encampadas na saudosa campanha eleitoral de 1989, porque de lá para cá o mundo mudou, o país mudou e mudou o próprio PT, tanto quanto mudaram as perspectivas da esquerda brasileira, com a crise do “socialismo real” e as seguidas “diásporas”; e consequentemente as condições de luta pioraram. O PT mudou para vencer as eleições em 2002, e volta a mudar, desta feita para poder liderar uma frente ainda mais ampla, em condições de derrotar o projeto protofascista governante, que nos ameaça  com anunciadas expectativas de continuidade.

O pior desatino comete o pretenso revolucionário que supõe poder alterar a realidade ignorando os limites de seu papel como sujeito histórico.

Como lembrava há mais de um século conhecido pensador alemão, o homem faz sua história, mas não a faz segundo os caprichos de sua vontade, de seus sonhos e de sua utopia; ele a faz segundo as circunstâncias com as quais se defronta (Cf. Marx, Karl. O 18 brumário de Luis Bonaparte). Dois mil anos antes, Sun Tzu recomendava aos generais em guerra  conhecer previamente o inimigo e o terreno em que pretendiam lutar.

Mudando a conjuntura, as formas de luta também mudam.
Independentemente do PT e de seu líder, nos defrontamos com o recesso das lutas sociais, implicando o remanso da denúncia da luta de classes. A conjuntura internacional vê-se pontuada pela fragilização das organizações revolucionárias, socialistas e trabalhistas, pari passu com o crescimento de apoio popular a movimentos de direita e extrema-direita (vide França, Itália, EUA, Hungria, Polônia), como o que se revelou contundente nas eleições brasileiras de 2018. Entre nós a extrema-direita empalmou o poder cavalgando eleições livres, pela primeira vez. Não se trata de um fenômeno menosprezável, mas de um indicador do nível de consciência das massas.
 

Cresce o imperialismo como força política, econômica e militar, e esse crescimento pesa sobre o processo social. A agudização do militarismo é uma de suas evidências. É seu o monopólio da informação, de que resulta a unipolaridade ideológica, uma modalidade de ditadura nas sociedades de massas. Limitada em suas opções revolucionárias, a esquerda optou pelo ingresso na institucionalidade, que, lhe dando sobrevida, congelou sua capacidade de intervir na realidade, visando a modificá-la. Perdida a revolução, seu projeto passou a ser modificar por dentro as estruturas, tornando-se, assim, inevitavelmente, um fator da ordem. É uma nova socialdemocracia, substituta daquela que transitou para a direita, no mundo e no Brasil.

Combater qualquer alteração do statu quo, qualquer ameaça de mudança de rumo, mesmo dentro da legalidade, qualquer sugestão de reforma social, passou a ser o projeto retrógrado da casa-grande brasileira, que não convive com alterações, quaisquer, da ordem baseada na superexploração da classe trabalhadora. Daí o combate que travou contra os governos Lula e Dilma, daí seu apoio ao quadro político consequente, daí suas ameaças ao processo eleitoral de 2022, à posse e ao futuro governo Lula, quando o candidato promete colocar o pobre no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda.  Essa resistência não conhece limite e explica o esforço do Lula candidato de construir, ainda no processo eleitoral, uma coalizão que lhe assegure, além da eleição e da posse, condições de governar, negadas a Jango e a Dilma Rousseff. 

Nesta quadra histórica, está reservado às classes populares, organizadas, garantir a continuidade democrática e uma governança que possibilite a retomada do desenvolvimento, a recuperação das conquistas sociais e a preeminência do interesse nacional. 

Para avançar, sempre a depender do que seremos e faremos no pós-2022, precisaremos alterar a atual correlação de forças, ampliando, para além de nosso campo, o arco político-social que garantirá a governabilidade a partir de 2023. Somente amparados em  uma grande mobilização popular estaremos em condições de promover alterações significativas na estrutura do Estado brasileiro atual, sem as quais será impossível a um governo de raízes sociais descartar os entraves ao desenvolvimento nacional e remover a viciada, para além de nociva, ingerência da caserna atrasada sobre as instituições republicanas.

Tantos anos passados da Constituinte, retorna a discussão essencial sobre o caráter do Estado de que necessitamos para promover o progresso social, tantas vezes contestado pela casa-grande e seu braço armado.

A urgência histórica é a questão democrática, que se materializará na derrota do projeto continuísta do bolsonarismo. É, ao mesmo tempo, a tarefa mais consequente ao nosso alcance, e aquela que mais amplia na sociedade, daí o caleidoscópio de alianças que o ex-presidente intenta costurar com paciência de cesteiro. Porque é necessário ganhar e é necessário ter forças para poder governar e, principalmente, governar sabendo que contará com a resistência da casa-grande.

Nada obstante essas considerações, que aos quadros mais experientes podem tangenciar o óbvio, é preciso ter sempre em conta que a ainda difícil (tanto quanto necessária) eleição de Lula e o retorno do PT ao governo – ainda longe da hegemonia do poder – significarão um grande avanço político (ao qual se associa a esquerda socialista), por representar o avanço possível nas condições concretas. Este avanço possível das esquerdas está abraçado ao sucesso que promete a candidatura Lula. 

As limitações óbvias de uma candidatura que, para viabilizar-se, carece de amplas alianças, mesmo ultrapassando as fronteiras de seu arco ideológico, não podem, porém, ser arguidas como inibidoras da ação e do proselitismo das esquerdas, a quem incumbe, na campanha eleitoral, a defesa das teses de nosso campo. Em síntese, compete à esquerda fazer a campanha da esquerda, jamais delegá-la a uma frente ampla cujo núcleo é a socialdemocracia.  Toda campanha eleitoral é  uma oportunidade de proselitismo. No caso concreto, os socialistas terão de associar a pedagogia ideológica à ação, o encontro ideal de teoria e prática, retornando à organização popular. Organização em todo e qualquer nível, para a ação e o proselitismo e, para, amanhã, responder aos desafios que lhe serão forçosamente  impostos pelo processo social.

A deposição de Dilma e o que a partir dessa violência se seguiu não podem ser entendidos como frutos do acaso, nem muito menos pensados como “chuvas de verão”. O programa fascistóide tem raízes em ponderáveis segmentos da sociedade brasileira, sua existência guarda coerência com nossa formação de sociedade (em busca da nação) e país escravocrata, racista e autoritário, governado por uma elite alienada e forânea, descomprometida com os destinos do país e de sua gente. É preciso compreender o caráter do processo histórico para nele poder intervir consequentemente.
 
 
* Com a colaboração de Pedro Amaral

PM de São Paulo ri enquanto golpeia genitália de rapazes durante abordagem em favela

 

PM de São Paulo ri enquanto golpeia genitália de rapazes durante abordagem em favela

Uma das vítimas classificou o caso como tortura e disse que vai tomar as medidas cabíveis

www.brasil247.com -
(Foto: Reprodução)
 

247 - Circula nas redes sociais um vídeo que mostra uma policial militar rindo enquanto golpeia a genitália de rapazes durante abordagem em uma favela na Zona Norte da capital.

Em áudio, um dos jovens abordados afirmou ter sido vítima de tortura e disse procurará as autoridades para denunciar o caso. Ouvido pelo G1, o advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, afirmou que os agentes envolvidos cometeram crimes de "abuso de autoridade, lesão corporal, importunação sexual ou até tortura".

"A gente tava em três. Tava o meu amigo na bike. Eu a pé e o outro amigo meu também a pé. Na hora que a mulher chega abordando, ele tá na bike. Ele coloca a bike no chão e coloca o celular no chão também. E o celular fica gravando e ela não se toca. E acabou gravando a situação. A gente já está acostumado: comunidade sempre tem abordagem agressiva. Sempre que a gente vê a viatura a gente já bota para gravar o áudio ou já bota na câmera [que estava presa no guidão da bike, que foi colocada no chão] para gravar. Aí dessa vez a gente deu sorte. A gente pegou. Tinha um homem na abordagem e era ele que tinha que fazer a revista. E não uma mulher. E acho que esse é um crime de tortura. A gente vai tomar as medidas cabíveis", diz uma das vítimas em áudio.

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Em nota, a Polícia Militar disse que abriu procedimento interno para apurar o ocorrido.

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Não foi informado o motivo pelo qual os rapazes - não se sabe quantos - foram abordados. Também não foram divulgados os nomes e patentes dos agentes envolvidos.

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