sábado, 16 de março de 2019

Operação Radar: o assassinato de militantes do PCB pela ditadura

Operação Radar: o assassinato de militantes do PCB pela ditadura

imagemEm documentário, o ex-delegado e atual pastor Claudio Guerra relata como eram praticados os desaparecimentos políticos de militantes comunistas durante o regime
Bruna Caetano Brasil de Fato
“Você sabe que esses comunistas têm que morrer, e sei que você é um patriota. Precisamos de você.” É assim que, em 1973, Cláudio Guerra é convidado pelo Coronel Perdigão (Freddie Perdigão Vieira) e pelo Comandante Vieira, a compor a Operação Radar, que executou 19 militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Ex-delegado e atual pastor da Assembleia de Deus, ele confessa os crimes cometidos durante a ditadura civil-militar no Brasil em uma entrevista de 70 minutos documentada pela diretora Beth Formaggini (confira abaixo entrevista com a diretora). O resultado é o filme Pastor Cláudio, que estreou nessa semana, e relata como eram feitas as execuções de militantes do PCB, e como os corpos torturados pelo Estado eram incinerados.
O pastor – como prefere ser chamado – inicia a entrevista portando uma bíblia em mãos. Agora um senhor de cabelos brancos, ele tinha cerca de 30 anos quando começou a cometer as atrocidades junto ao regime ditatorial. A entrevista é conduzida pelo psicólogo e militante dos direitos humanos, Eduardo Passos, que se esforça de entender como funciona a mente de Guerra. O ex-delegado chega a afirmar que seu trabalho proporcionava sensação de poder e superioridade.
Modus operandi
Após convite para compor a operação, começou a receber a missão de matar pessoas supostamente envolvidas com a militância contra o regime. Depois, sua função passou a ser de queimar os corpos de pessoas torturadas pelo DOI-CODI, o que era feito em uma usina em Campos, no Rio de Janeiro.
Guerra foi um dos responsáveis pelo desaparecimento político de diversos presos pelo Estado durante os anos de chumbo, deixando muitas famílias sem respostas até o lançamento de seu livro Memórias de uma Guerra Suja, onde narra diversos episódios dos anos de repressão. Ele foi beneficiado pela Lei de Anistia, e nunca foi punido pelos crimes que cometeu.
imagemA Operação Radar foi responsável pela morte de 19 membros do PCB / Reprodução
O pastor é responsável por incinerar, em Campos, João Batista Rita, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski, Davi Capistrano, João Massena, Fernando Augusto Santa Cruz, Eduardo Collier Filho, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão, Armando Teixeira Frutuoso e Thomaz Antônio Meirelles.
Para a diretora do filme, Beth Formaggini, resgatar a memória sombria da ditadura militar no país é importante neste momento em que as forças de extrema direita tomaram a o poder.
Confira abaixo a entrevista que o Brasil de Fato fez com a diretora.
Brasil de Fato: Como foi escolhido o formato do filme?
Beth Formaggini: O formato surge quando vou procurar Ivanilda Veloso, viúva do Itair José Veloso. Ela é personagem do meu outro longa, o Memórias para uso diário. Por que a Ivanilda? Porque o marido dela foi assassinado na Operação Radar, que é a operação que o Cláudio participou. O Cláudio atuou nessa operação não só assassinando membros do Partido Comunista, mas também incinerando corpos de outros militantes que foram assassinados dentro dessa operação. Eu procuro a Ivanilda e falo: “Ivanilda, saiu o livro do Cláudio e no livro ele confessa todos esses crimes. É possível que ele saiba algo sobre seu marido”. Como ele era desaparecido, ela estava desde 1975 buscando alguma informação da prisão, do assassinato e da localização do corpo do marido. Uma mulher apaixonada.
Perguntei se ela topava gravar uma pergunta para o Cláudio. Pego a pergunta dela e projeto junto com trechos de arquivos do filme, onde ela está procurando algum indício de que o marido foi preso pelo Estado, e realmente encontra. Projeto para o Cláudio para que ele possa ajudá-la a encontrar esse corpo, saber quem matou, onde morreu, onde foi enterrado. A gente usou um depoimento do Marival Chaves, que foi projetado no estúdio, em que ele diz que o corpo foi jogado no Rio Avaré, aqui em São Paulo.
Muitas famílias ficaram sabendo do paradeiro de entes desaparecidos políticos pelo filme?
Muita gente infelizmente ficou sabendo pelo livro, das matérias de jornal, do filme. Quando o filme passou no cinema Odeon, teve um depoimento muito emocionado de uma pessoa que estava lá e descobriu que um grande amigo havia sido incinerado pelo Cláudio. O Estado que foi responsável por esses crimes, pelos desaparecimentos, ele deixou essas famílias sem informações até hoje. Esse crime de ocultação de cadáveres é um crime que não termina nunca. Uma mãe está sempre esperando a volta de um filho se ela não viu o corpo. Eu acho que o que a gente queria era que tivesse um agente do Estado, um violador de direitos, anunciando suas próprias violações para que a gente tivesse esse relato para pensar nos dias de hoje, porque pessoas continuam desaparecendo e sendo assassinadas pela mão do Estado. A mão que deveria proteger o cidadão.
Como foi o primeiro contato com o Cláudio?
Eu li o livro e, através dos jornalistas que escreveram o livro com ele, eu cheguei até ele e ele concordou. Não foi difícil. Na verdade, o que acontece nessa conversa é que o Cláudio conta uma parte da história. Outra parte, ele não conta. Essa parte ele diz que é o que mantém ele vivo, que ele contou para várias pessoas e se acontecer algo com ele, essas pessoas vão relatar. É só a ponta do iceberg.
Ele escolheu alguns fatos para contar. A diferença do filme é a presença do Eduardo, psicólogo, que traz muitas nuances. Consegue falar sobre o gosto dele pelo poder, sobre o medo que ele tem hoje em dia, da direita. A prática de escuta do psicólogo faz com que a gente compreenda um pouco sobre o que está por trás das palavras.
Acho que hoje a gente precisa refletir. Crimes como esse da Marielle, em que existe uma tentativa [por parte de uma hipótese da investigação] de incriminar uma pessoa como se fosse uma coisa isolada, mas na verdade alguém paga por esses crimes. O Cláudio recebia por cada pessoa que ele matava ou incinerava. Ele fala até o banco que o pagava. Hoje, ainda existem essas práticas de assassinatos, desaparecimentos. A mesma mão que pagava o Cláudio Guerra continua pagando. É a extrema direita, o empresariado, uma parte da elite. A direita financia isso para que as coisas continuem como estão, ou piorem.
Agora, a gente tem um governo que está flexibilizando as leis trabalhistas, direitos humanos. Esse filme é muito atual, porque a gente precisa pensar o Brasil para que a gente consiga minimamente resistir contra essas coisas.
As famílias de muitos desaparecimentos políticos só obtiveram respostas após os relatos de Guerra / Reprodução
imagemE como isso pode se dar?
O filme chega em um momento do Brasil em que essas forças estão se rearticulando. Desde o impeachment da presidenta Dilma existe esse grupo de empresários, ruralistas, e todo um movimento contra os direitos humanos, os direitos indígenas, dos quilombolas. Todo um discurso que estimula a violência contra negros, LGBTs, contra a liberdade das mulheres. É um momento de retrocesso muito grande e o filme nos faz pensar [sobre] a história do Brasil, e ver que o presente está impregnado desse o passado, e o futuro pode ficar ainda mais se não pararmos para discutir essas questões com cada um. É obrigação de cada um de nós conversar sobre isso. O filme traz esse tema para a conversa.
Como foi acompanhar essas histórias tão pesadas?
Foi muito duro. A gente claramente estava conversando com o inimigo, alguém que estava do outro lado, embora ele seja um personagem complexo que diz que se converteu e diz querer ajudar. Ele é um arquivo muito grande, e abriu apenas uma gavetinha. Acho que ele é um personagem complexo, e temos que ter esse filme como uma tentativa de trazer luz para uma história que só tem véu encobrindo. Hoje em dia existe ainda há uma violência muito grande por parte do Estado, em que geralmente a imprensa dá razão para a polícia quando ela mata de forma indiscriminada. Se coloca como “auto de resistência”. O governador do Rio de Janeiro, por exemplo, fala sobre “abater os marginais”, como se fossem gado. É uma experiência muito dura lidar com esses temas, e acho que é dura, mas temos que trabalhar com a história.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira
https://www.brasildefato.com.br/2019/03/15/claudio-guerra-o-pastor-que-assassinava-e-queimava-corpos-na-ditadura-militar/

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






A direita não dá trégua!
Por trás do discurso de liberar armas para a população e as muitas declarações de amor à violência e à intolerância está uma ideologia muito mais perigosa do que podemos pensar. Não é mais uma questão de “bandido bom é bandido morto”, mas agora é uma filosofia de “adversário bom é adversário morto”.
O caso de Marielle Franco (veja adiante) é um claro exemplo do que estamos vivendo. Poucos sabem, mas Marielle era cogitada como candidata ao Senado Federal e iria disputar a vaga no Rio de Janeiro com o “querido filho” do ex-militar. Um incômodo que era melhor silenciar ainda na raiz.
Em janeiro de 2019, Jean Wyllys anunciou que desistiu de assumir o terceiro mandato como deputado federal pelo estado do Rio, garantido nas eleições de 2018. Saiu do Brasil temendo por sua vida porque, desde o assassinato de Marielle Franco, estava sendo ameaçado. De acordo com suas declarações à FSP, “as intensificações de ameaças de mortes, recorrentes antes mesmo da execução de Marielle, e a atuação da milícia no estado, o levaram a tomar a decisão”.
Agora, mais uma opositora do fascismo não suporta as ameaças e sai do país. Desde dezembro de 2018, Márcia Tiburi, escritora, filósofa e política de esquerda, vive em Pittsburgh, nordeste dos Estados Unidos, e em breve vai para Paris, na França. Márcia concorreu às eleições ao governo do Rio de Janeiro em 2018 e publicou diversos livros nos últimos anos sobre a onda conservadora que avança no Brasil.
O mais recente trata justamente da loucura coletiva na era da (des)informação e da necessidade de se valorizar a reflexão.
A onda atual, que ela classifica como “fascismo”, a levou não voltar mais ao país como forma de preservar sua própria segurança. E não só a dela. A escritora falou com a Carta Capital do local onde vive, e explicou que sua saída do Brasil também visa preservar as pessoas que militam ao seu lado.
Curiosamente, o ex-deputado Jean Wyllys faz o prefácio do livro “Com conversar com um fascista”, de Marcia Tiburi, e escreve: “A banalização do mal é feita pelo ser humano comum que não se responsabiliza pelo que faz de ruim ou acha que o que faz de ruim não tem consequências para os outros; não reflete, não pensa. (...) A banalidade do mal pode, portanto, ser feita por qualquer pessoa carente de pensamento crítico e, por isso, insensível à dor do outro e às consequências de seus atos”.
Poderia ser mais claro?
Tiros em Suzano! Quem esqueceu ou não viu o filme “Tiros em Columbine”, de Michel Moore? Pelo que lembramos, foram dois alunos apaixonados por armas e influenciados por propagandas divulgadas pelas redes sociais que invadiram uma escola e mataram 12 alunos. O fato ocorreu há 20 anos, em abril de 1999.
Na quarta-feira (13), os alunos da Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, viveram uma situação semelhante que deixou dez mortos e 11 feridos. Mera coincidência ou isso tem alguma relação com um ex-militar que bate continência para a bandeira dos EUA e prega a liberação de armas?
Seria de se estranhar que no mesmo dia, um certo desconhecido que fez campanha eleitoral com o “título” de Major Olímpio, deputado federal pelo mesmo partido do pulha (PSL) e o vice-presidente de uma certa republiqueta latino-americana tenham ido para os jornais? O primeiro disse que “o ataque teria sido evitado se o professor estive armado”, mostrando sua insanidade total. O segundo disse que “o massacre não tem relação com a liberação de armas”!
Mas a maior “coincidência” nessa história toda é que, no mesmo dia, foram presos dois “suspeitos” do assassinato de Marielle Franco. Um deles mora no mesmo condomínio de luxo do ex-militar, é vizinho, e encontraram em sua casa 117 fuzis dos mais modernos.
Tudo vai ser “explicado” e devidamente perdoado pelo nosso magnânimo “ministro da justissa”, é claro. Mas, por enquanto, concordamos e assinamos também o documento divulgado no mesmo dia (13/03) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) que transcrevemos, em parte: “A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE, manifesta sua consternação ao ataque ocorrido na Escola Raul Brasil, em Suzano/SP. (...) Juntamente com o sentimento de solidariedade com educadores/as e estudantes, e suas famílias, o ataque realizado nos remete à reflexão sobre a violência já incentivada na campanha eleitoral para presidente, quando o então candidato Jair Bolsonaro e seus seguidores, faziam gestos de armas atirando”.
(...) “As expressões constantes, sejam em gestos ou em palavras, ratifica ideia de que solução de conflitos e diferenças se dão pela violência. (...) Os exemplos são desconcertantes: pessoas assassinadas, uma onda de feminicídios, ataques homofóbicos, homens e mulheres que lutam por um país melhor indo embora em virtude de ameaças contra suas próprias vidas e as de seus familiares”.
(...) “O ataque à Escola de Suzano não está descolado da violência institucionalizada no Brasil. As pessoas, por meio de gestos realizados pelo Governo, seus eleitores e seus admiradores, se sentem autorizadas a agredir e a matar, semeando um rio de sangue pelo país afora”.
(...) “E, mais diretamente na educação, além da violência física vivenciada por muitos/as professores/as, o Ministério da Educação orienta alunos que filmem as aulas com o intuito de cercear a liberdade de cátedra. A censura também é uma forma de violência. (...) E mais, a militarização das escolas é apontada como solução para a violência que acontece na comunidade escolar. A violência não é gerada na escola. A violência nesse espaço é consequência do ambiente comunitário e social em seu entorno”.
(...) “Por uma escola pública democrática, de qualidade e com liberdade de cátedra!” Direção Executiva
Violência vai se estabelecendo! Mais uma decisão controversa tomada por este governo. O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Renato Rodrigues Vieira, por meio de ofício-circular impõe uma espécie de “lei do silêncio”, em torno da reforma da Previdência (PEC 6/19), na autarquia.
A orientação do presidente do INSS é endereçada para diretores, procurador-chefe, auditor-geral, corregedor-geral, coordenadores-gerais, superintendentes regionais, gerentes-executivos e gerentes de agências de Previdência Social (APS).
Segundo o ofício-circular, do último dia 8 de março, “ficam desautorizados a concessão de entrevistas e o fornecimento de informações sobre o tema no âmbito deste Instituto”. E a orientação inclui ainda “pedidos de informação” sobre a reforma. Assim, pedidos de entrevista de veículos de imprensa ou informações sobre a PEC 6/19 devem ser encaminhados para assessoria de comunicação da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, por meio da Assessoria de Comunicação do INSS.
“Lei do silêncio” em organismos oficiais? Só na época da ditadura militar... Voltou?
Aeroportos nas mãos de espanhóis e suíços. E vamos vendendo tudo o que temos. Parece que estamos revivendo os “gloriosos” dias de FHC! Vende tudo, privatiza tudo e a dívida vai aumentando. O país acaba de leiloar nada menos do que 12 aeroportos localizados nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
Em mais um ataque aos nossos bens, sem que fosse anunciado ao grande público, a disputa foi marcada por muitas ofertas e a maior se concentrou no bloco do Nordeste entre o grupo espanhol Aena Desarrollo Internacional e o grupo suíço Zurich Aiport. O grupo espanhol saiu na frente com oferta de R$ 1,850 bilhão. Próximo ao final do leilão, o grupo suíço ofereceu R$ 1,851 bilhão pelo bloco. O lance foi coberto logo em seguida pela Aena, que ofereceu R$ 1,900 bilhão, e levou o bloco.
As regras do edital preveem a adoção do chamado risco compartilhado entre o governo e as concessionárias vencedoras do leilão. Por esse dispositivo, o pagamento do valor da outorga, de R$ 2,1 bilhões, vai depender da receita bruta da futura concessionária. O edital fixou que essa outorga variável, a ser paga ao longo do período de concessão, será calculada em cima da receita bruta da futura concessionária, sendo o percentual de 8,2% para o bloco Nordeste; 8,8% para o bloco Sudeste; e 0,2% para o Centro-Oeste.
Entendeu a maracutaia? Não? Vamos analisar... isso quer dizer que, se a empresa que ganhou alegar prejuízos durante o período da concessão poderá deixar de pagar aos cofres públicos. Tudo bonitinho e muito bem explicado ao povo, não é? Você sabia disso?
Algo estranho acontece na Argentina. O juiz Alejo Ramón Padilla ordenou, nessa semana, a prisão e uma busca na casa de um empresário da mídia, Marcelo D’Alessio, especialista em questões de segurança.
Para determinar a busca ele se baseou em denúncias de extorsão de empresários para não serem relacionados em processos, em um acordo com o juiz federal Carlos Stornelli.
Quando pensávamos que tudo estaria explicado, eis que os resultados das buscas resultaram em algo mais grave. Entre os documentos apreendidos estavam notas oficiais da embaixada estadunidense e do Ministério de Defesa de Israel, além de uma lista de jornalistas e pessoas que eram espionadas ilegalmente pelos dois países e bastante material fotográfico e filmes de operações realizadas para levantar a vida íntima dessas pessoas.
A matéria é longa e com muitos detalhes, mas entre as pessoas filmadas e fotografadas estão: 4 vítimas de assassinato em 2007; 95 vítimas de assassinato em 2008; 98 vítimas de assassinato em 2009; 96 vítimas de assassinatos em 2010.
Será tudo coincidência?
Venezuela: nova tática estadunidense? Derrotados na tentativa fracassada de golpe do dia 23 de fevereiro e diante do enfraquecimento do “líder” fantoche (veja adiante), parece que a Casa Branca está adotando uma nova linha de ação contra a Venezuela: sabotagens e estabelecimento de caos social no país.
O “apagão” elétrico no país, provocado por um ato de sabotagem em instalações estatais, teve sérias consequências e conseguiu criar um princípio de insegurança geral, deixando mesmo uma situação de insegurança no país, com falta de gasolina, colapso do sistema de transporte urbano, falta de água nas grandes cidades, queda nas comunicações (incluindo internet e TV) e muitos problemas no controle de tráfego aéreo. Ou seja, não foram poucos os prejuízos da ação criminosa de grupos treinados para sabotar o país.
O incêndio de um caminhão com suposta “ajuda humanitária”, provocada por grupos provocadores e antichavistas, foi apenas um cenário preparado para chamar a atenção da imprensa e permitir que os verdadeiros e bem treinados sabotadores agissem.
Curiosamente, em um documento bem conhecido da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), da qual a Colômbia faz parte, diz que “a interrupção do abastecimento energético de uma nação pode destruir a economia e, até mesmo, a integração social de um país como uma guerra, sem disparar um só tiro”!
Pelos dados que o nosso Informativo recebeu, a represa hidrelétrica de El Guri, centro do problema, é quase que 100% controlada por computadores e sistemas robotizados de fechamento ou abertura das compotas de água que alimentam as turbinas geradoras (nossa experiência na área de energia serviu para a avaliação dos dados). Mas esses sistemas são vulneráveis a ciberataques com manipulação à distância do Centro de Controle.
Por simples coincidência, através do Twitter, o secretário de Estado estadunidense, Mike Pompeo, disse que “as políticas de Maduro trazem escuridão” e assegurou que “sem comida, sem medicamentos e sem eletricidade ele vai cair”. Para lamber os pés do patrão, Guaidó escreveu nas redes sociais que “Venezuela sabe que a luz só vai voltar com o fim do governo”.
Como no Chile? O ex-relator da ONU para a Venezuela, Alfred de Zayas, disse na segunda-feira (11) que Washington não desistiu da ideia de uma intervenção no país sul-americano, e afirmou que o blecaute que atinge o território “não será o último”.
“Isso me lembra muito o apagão elétrico no Chile que foi organizado pelos EUA e, é claro, pela oposição chilena em 14 de agosto de 1973 […] Portanto, está claro que os EUA continuarão aumentando a pressão e que Guaidó, é claro, é o homem de Washington na Venezuela, e ele vai continuar reunindo seus apoiadores contra Maduro”, disse.
Ao ser perguntado se haveria novos planos para tentar derrubar Maduro do poder, Zayas disse acreditar que sim. “Os EUA estão ansiosos para entrar e obter lucro. Por causa das sanções, por causa do bloqueio financeiro, eles [venezuelanos] não conseguem vender seus recursos naturais nacionais. Obviamente, o país está paralisado, o país tem que ver como pode controlar uma situação quase incontrolável. Mas é preciso entender que esta situação incontrolável é artificial”.
Zayas diz que a “imprensa está focando apenas em Maduro” porque a intenção é derrubá-lo. “Meu medo é que, de fato, ele possa ser assassinado. Não se esqueça, já houve uma tentativa de assassinato contra ele, e tenho certeza de que haverá outras tentativas de se livrarem dele tal como o general Augusto Pinochet se livrou de Salvador Allende em 1973 […] E outro grande perigo, realmente grande, é que o próprio Guaidó possa ser assassinado. Seria uma falsa bandeira perfeita. Se você matar Guaidó, então você tem o pretexto para os EUA entrarem. Então eles vão colocar toda a culpa em Maduro”, conclui o analista. (Com SputnikNews)
Quanto vale um golpe contra a Venezuela? Além de possuir a maior reserva de petróleo do planeta e a segunda maior de ouro, parece que a Venezuela vale muito mais para a Casa Branca.
O presidente dos EUA, um facínora chamado Donald Trump, apresentou ao Congresso de seu país uma proposta de orçamento que solicita verbas especiais para “ajudas” à América Latina, mas, no detalhamento da proposta, vamos ver que pouco mais de 500 milhões de dólares seria “apenas” para políticas intervencionistas contra o governo da Venezuela!
União Europeia disse não! A principal representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, Federica Mogherini, repudiou qualquer ação militar contra a Venezuela!
“Nenhuma ação militar, seja externa ou interna, seria aceitável”, disse a chefe da diplomacia europeia na terça-feira (13), dizendo que a queda do governo no país sul-americano “não pode ser e nunca deveria ser imposta de fora”.
A declaração foi feita em sua participação diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas e defendeu um diálogo com a Venezuela dentro das normas de paz e democracia, batendo “de frente” com o governo dos EUA que, na mesma reunião, havia proposto um bloqueio econômico contra o governo de Nicolás Maduro.
“Eles” não desistem. Na quarta-feira (13), a Venezuela passou por mais um atentado do “governo democrático” dos EUA. Agora nas instalações de petróleo da Faixa Petrolífera do Orinoco (a maior do mundo) segundo informações do ministro Manuel Quevedo.
Uma grande explosão nos tanques da empresa, queimou nada menos do que 80 mil litros de petróleo e deixou inúmeras vítimas.
Desde o dia 07 de março a Venezuela vem sofrendo uma série de atentados cibernéticos e agora a perícia comprovou que o atual atentado usou tecnologia de ponta que só é conhecida pelos “especialistas” estadunidenses. Vem mais por aí?
Guaidó “o breve”? Pelas informações que recebemos durante a semana, as agressões à Venezuela realizadas a partir de fora, com o intuito de derrubar o Governo de Maduro serviram apenas para elevar a consciência política da população, a autoestima do povo e alimentar sua vontade de conhecer mais para resistir aos ataques inimigos. Um povo que foi forjado pelo discurso e ensinamento de Hugo Chávez, que se revoltou durante o golpe de 2002, que foi tirar o seu líder da prisão e devolvê-lo ao seu lugar... São quase duas décadas de resistência às tentativas estadunidenses e de vitórias contra bandidos que querem dominar o planeta, em especial as grandes empresas de petróleo que não deixam de cobiçar a riqueza do seu país.
Não dá para esquecer a vergonhosa derrota de Guaidó no fracassado golpe de 23 de fevereiro que o obrigou a passar um tempo visitando países capachos de Trump para “deixar a coisa esfriar”.
Agora foi a sabotagem do sistema elétrico do país que deu nova oportunidade a Guaidó de aparecer na mídia local e fazer seu nome crescer, mas o objetivo não foi alcançado, por mais que tentasse fazer oposição pelas redes sociais (como um certo presidente que conhecemos que governa pelo Twitter).
O fato é que não houve uma tragédia de grandes proporções durante o “apagão”, como estava planejado. O povo responde com tranquilidade, os problemas com transportes foram contornados, o Governo de Maduro suspendeu aulas e funcionamento das empresas até que tudo fosse resolvido e o povo entendeu a dificuldade e aceitou o sacrifício. Os empresários, que deveriam ter feito escândalos, ficaram quietos porque estavam perdendo dinheiro e queriam que o problema fosse contornado rapidamente.
E, durante todos esses dias de crise, a figura de Guaidó sumiu da imprensa, não só na Venezuela, mas também no exterior. Ou seja, o clone de golpista criado pelo Pentágono e pela USAID não decolou!
E que ninguém se espante se, muito em breve, ele não seja deixado “em um canto qualquer” pelos serviços de inteligência estadunidenses. Papel higiênico usado e imprestável...
Sábado de confrontos em Paris! Da primeira vez que escrevemos aqui, no Informativo, sobre a importância do movimento dos “coletes amarelos” recebemos algumas críticas e quase nenhum apoio. Parte dos que recebem nosso trabalho ficaram calados e não se posicionaram, mas o movimento já mudou sua face, já tomou novos e mais importantes rumos, e agora parece que muitos estão entendendo a gravidade.
As matérias que nos chegaram ontem, sábado, dizem que Paris teve um dia tenso, com várias manifestações na capital. Os “coletes amarelos” estiveram nas ruas no 18° ato de mobilização, no fim de semana em que o movimento completa quatro meses. Ativistas e manifestantes enfrentaram as tropas policiais. Lojas, restaurantes, agências bancárias e saques foram registrados na avenida Champs-Elysées e ruas adjacentes.
As autoridades francesas estavam cientes que a mobilização deste sábado contaria com a infiltração de “black blocs”, inclusive vindos do exterior. Pelo menos 5.000 policiais e seis carros blindados estiveram à disposição da segurança na capital. Mas outras ações ocorreram também em Bordeaux, Dijon, Caen e Montpellier.
Começou logo pela manhã, por volta das 10h30 no horário local (6h30 em Brasília), nas proximidades do Arco do Triunfo. Manifestantes construíram barricadas e atacaram carros da polícia, que reagiu com bombas de gás lacrimogêneo. Policiais foram atacados com pedras e outros projéteis cortantes.
Nas redes sociais, um militante histórico do movimento, Eric Drouet, motorista de caminhão, disse durante a semana que era necessário acabar com o “pacifismo” das manifestações. Drouet convidou “coletes amarelos” de todo o país a se reunir na capital e citou o apoio de militantes que poderiam vir da Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha e Polônia.
Segundo o ministro do Interior, Christophe Castaner, foram cerca de 7 mil a 8 mil manifestantes, sendo 1.500 ultraviolentos. Às 15h (11h em Brasília), 82 pessoas já tinham sido detidas.
Os estragos são impressionantes na avenida Champs-Elysées. Manifestantes radicais, munidos de barras de ferro e de cimento, quebraram vitrines de marcas de luxo, como Hugo Boss e a loja Nespresso. O terraço do restaurante Fouquet's, local frequentado por milionários, políticos e turistas, foi destruído. Os militantes atacam “símbolos do capitalismo”.
Porém, nosso Informativo ressalta que a anarquia pela anarquia, a destruição de lojas e estabelecimentos, não tem sentido se a bandeira da luta de classes não for levantada. Protestar, com raiva ou não, é insano e não vai nos ajudar a derrotar o projeto excludente que o sistema capitalista implantou no mundo.
Um reconhecimento tardio! Tarda, mas, algumas vezes, não falha. O Ministério Público italiano vai pedir que a admissão feita por um general sobre participação brasileira na Operação Condor seja incluída como prova no processo sobre o período que tramita em uma Corte do país. O pedido de inclusão do documento seria feito na audiência da última terça-feira (12/03) mas, por motivos burocráticos, teve que ser adiada para dia 12 de junho, às 14.30. A Corte ainda deverá analisar se aceita o pedido do MP italiano.
O caso julga o envolvimento dos brasileiros João Osvaldo Leivas Job, ex secretário de Segurança do Rio Grande do Sul; Carlos Alberto Ponzi, ex chefe da agência do SNI (Serviço Nacional de Informações) em Porto Alegre; e Átila Rohrsetzer, ex diretor da Divisão Central de Informações do Rio Grande do Sul, no sequestro e assassinato do ítalo-argentino Lorenzo Vinãs, ocorrido em 1980, época de atuação da Operação Condor.
A Operação Condor marcou a época do terror nas ditaduras do Cone Sul a partir da segunda metade da década de 1970. Funcionava como uma rede de colaboração e troca de informações e prisioneiros políticos entre Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia e Brasil. As forças de repressão desses países atuavam conjuntamente para debelar organizações políticas de esquerda.
Além de admitir que o governo militar participou da Operação Condor, o general-de-divisão da reserva Agnaldo Del Nero Augusto ainda citou como exemplo do envolvimento do governo militar brasileiro nas prisões de cidadãos estrangeiros, “o caso dos dois italianos”, se referindo a Viñas e a Horácio Domingos Campiglia, ambos ítalo-argentinos e militantes dos Montoneros, grupo da esquerda peronista que defendia a luta armada na Argentina.
Mais “grana” para armas? Trump enviou o orçamento para o ano fiscal de 2020 no Congresso, que apresenta mais gastos com segurança militar e doméstica e reduz gastos sociais. O orçamento aumentaria os gastos militares em 4,8%, alcançando a cifra de US$ 750 bilhões (US$2,88 trilhões, ou o equivalente a mais de um terço de todo o PIB do Brasil). O orçamento de Trump também aloca US$ 8,6 bilhões para a construção do muro fronteiriço com o México, seguindo a instalação de emergência nacional decretada pelo presidente.
O aumento dos gastos militares ocorre em meio à retirada de tropas da Síria e a uma tendência negativa contínua nas relações com a Rússia, considerada por militares americanos uma das principais ameaças potenciais ao país. O projeto também segue a promessa de Washington de desenvolver mísseis anteriormente proibidos pelo Tratado INF.
O orçamento total proposto é de US$ 4,7 trilhões e se sustenta na previsão da Casa Branca de crescimento econômico de 3,1%, com base em cortes de impostos para empresas introduzidas por Trump. O déficit orçamentário deverá subir para US$ 1,1 trilhão em 2020 se as projeções econômicas se mostrarem corretas.
Queda de braços? Estamos aqui na maior torcida! Nem por um lado e nem pelo outro, mas só para ver “o circo pegar fogo” e que todos se queimem.
Donald Trump vetou na sexta-feira (15) uma resolução aprovada pelo Congresso para barrar o estado de emergência nacional decretado pelo governo em fevereiro com o objetivo de conseguir verba para a construção de um muro na fronteira com o México.
“Hoje veto esta resolução. O Congresso tem a liberdade de aprová-la, e eu tenho a obrigação de vetá-la”, declarou Trump pouco antes de assinar o documento durante uma cerimônia que aconteceu no Salão Oval.
Essa foi a primeira vez, desde que assumiu a Presidência, há pouco mais de dois anos, que Trump usou seu poder de veto para derrubar uma medida aprovada pelo Congresso. Ao defender a decisão, ele argumentou que conta com um “arrasador” apoio dos eleitores republicanos e que tanto o Senado como a Câmara dos Representantes, que aprovaram a resolução, tinham dado um voto "contrário à realidade".
Ele voltou a reforçar a necessidade de ampliar o muro na fronteira com o México devido à “quantidade de criminosos” que entra no território americano pelo sul do país, voltando a classificar essa suposta movimentação de "invasão".
A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, criticou o veto e afirmou que a decisão desafia a “Constituição, o Congresso e a vontade dos americanos”. A democrata disse que a medida pode enfrentar vários embates legais, frisando que os legisladores do Partido Republicano devem escolher entre a "hipocrisia partidária e o seu juramento sagrado de apoiar e defender a Constituição".
Agora a resolução deve ser devolvida ao Congresso. Em novas votações, o texto precisará do apoio de dois terços da Câmara dos Representantes e do Senado para ser aprovado, um resultado menos provável de acontecer.

A república na brasa das oligarquias políticas

A república na brasa das oligarquias políticas

Não existem coisas mais imiscíveis que institucionalidade e camaradagem.
O fato de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, ter reunido para um churrasco, em sua casa, o Presidente Jair Bolsonaro, dois terços de seu ministério, o presidente do Senado e o do Supremo Tribunal Federal para “harmonizar os poderes da República” é, em si, algo deprimente, quando o país vive com um Congresso desorientado em meio aos impasses políticos e um Judiciário envolvido em controtações com uma campanha de difamação do Supremo Tribunal Federal.
Que, aliás, é amplificada pelo próprio Presidente, reuitando vídeos com críticas do seu filho à decisão tomada quinta-feira dos ministros da Corte Suprema.
É evidente que crises como estas não podem ser discutidas – nem dissolvidas – entre um “bem ou mal passado?” da picanha ou num papo regado a chope.
Não se resolvem crises institucionais com convescotes, mas com posições e argumentos que definam espaços claramente demardados para o comportamento de cada um.
Existem apenas uma hipótese para que isso aconteça: é se tratarem de homens minúsculos, absolutamente abaixo do papel que devem ter como chefes de poderes que, embora harmônicos, devem ser independentes entre si.
Não para se entenderem em conversas de “pé-de-ouvido”, no canto do jardim, sem pautas e questões definidas, na base do “fulano, deixa disso, vamos chegar a um acordo”.
Sem que as pessoas possam saber, sequer, do que se falou.
Isso não é republicano, mas certamente é oligárquico.

Governo Bolsonaro ignora princípios históricos de atuação do Itamaraty, dizem especialistas

Governo Bolsonaro ignora princípios históricos de atuação do Itamaraty, dizem especialistas

Para especialistas, Brasil está rompendo de forma aberta com os próprios interesses nacionais

O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta semana que irá trocar a chefia da embaixada brasileira em Washington, atualmente a cargo de Sergio Amaral, além do comando de outras representações diplomáticas. Segundo o presidente, seria função dos diplomatas reverter sua imagem de “racista, machista e homofóbico”, o que não estariam fazendo a contento. Ao todo, Bolsonaro afirmou que pretende trocar cerca de 15 representações diplomáticas do Brasil pelo mundo. 
No começo do mês, o diplomata Paulo Roberto de Almeida, historicamente próximo da linha defendida pelo PSDB para a política internacional, foi demitido após publicar três textos –  de Fernando Henrique Cardoso, de Rubens Ricupero e outro do chanceler Ernesto Araújo – sobre a crise na Venezuela. Almeida conduzia o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais.
As duas iniciativas são vistas como uma tentativa do governo de ter no primeiro escalão do Itamaraty apenas quadros completamente alinhados à visão do governo em relação à política externa. Visão essa que não se limita apenas a modificar posições e cargos no Ministério de Relações Exteriores, mas que influem diretamente na condução da diplomacia brasileira. 
Para dois estudiosos do tema ouvidos pelo Brasil de Fato, as opções de Bolsonaro e Araújo, mais que uma profunda reorientação na pasta, significam uma ruptura com princípios históricos da atuação do Itamaraty. 
Juliano da Silva Cortinhas, professor de Relações Internacionais da UnB, explica que, apesar de submetido à orientação da Presidência, o Itamaraty construiu, ao longo de dois séculos, linhas para a política externa que se converteram em política de Estado, transcendendo a alternância entre governos. 
“O Itamaraty, ao longo dos séculos de existência, conseguiu dar uma continuidade em nossa política externa. Ele é visto, pelos analistas, como o Ministério brasileiro que tem mais coerência [ao longo da História]. O Brasil é um dos poucos países do mundo que pode se orgulhar de ter relações diplomáticas com quase toda a comunidade internacional. De ter uma voz muito respeitada internacionalmente”, afirma.
Alguns desses princípios históricos, que garantiram ao Brasil a imagem de país negociador na diplomacia, são a solução pacífica de controvérsias, o respeito ao Direito Internacional e aos fóruns e organizações transnacionais.
Marcelo Zero, sociólogo especialista em Relações Internacionais, destaca que a postura brasileira de não adesão automática a nenhum outro Estado conferiu ao país um “soft power” na diplomacia (poder “suave”), colocando o Brasil em diversas vezes como elemento de mediação na política internacional. 
Ele destaca que todos os governos escolheram prioridades na área – grosso modo, os governos do PSDB privilegiaram as relações com os países desenvolvidos, ao passo que o PT optou por maiores esforços com os parceiros do sul global, como a África e a própria América Latina -, mas nenhum rompeu de forma aberta com a política de Estado de perseguir interesses objetivos do Brasil. 
“Claro que todo governo tem sua linha específica para a Política Externa, mas nunca se pode perder os objetivos maiores. É uma política orientada por identidade ideológica. Ele está comprando brigas que não são brigas nossas. Os tucanos, de fato, privilegiaram as relações com os EUA e União Europeia, mas não perderam de vista a América Latina, o Mercosul. Talvez não deram a relevância merecida, mas não abandonaram”, afirma. 
O sociólogo afirma que o chanceler brasileiro Ernesto Araújo tem uma “visão peculiar” da política externa, que leva ao abandona da noção de política de Estado para a adoção de uma linha “hiper-ideologizada”. 
“[O presidente e o chanceler] se aliaram a uma força política muito específica dos EUA. Não é nem aos interesses do Estado americano. Essa força específica, o trumpismo, tem uma visão bastante ideologizada do mundo. O Brasil se alinhou a isso, ignorando os próprios interesses objetivos do país”, afirma. 
O professor da UnB concorda com a avaliação de que a política externa que vem sendo implementada representa uma profunda modificação nos princípios de atuação do Itamaraty.
“Aparentemente, só há dois meses de governo, tudo isso está sendo jogado por terra. O governo Bolsonaro está mudando esse padrão histórico que estabeleceu uma política internacional com base nos valores do Estado e está ideologizando sua política externa. Isso nunca ocorreu da forma como está ocorrendo agora”, defende. 
Efeitos
Ambos pesquisadores citaram o anúncio, seguido de recuo, da transferência da embaixada em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém como um dos efeitos negativos da nova política externa, levando à indisposição de países árabes, que têm maior peso em nossas exportações do que Israel, em relação ao Brasil. 
Outro fato mencionado foi a elevação de tom com a China, seguindo a retórica de Trump. O primeiro país, que compra muito mais commoditiesbrasileiras que os EUA, acabou fechando uma grande compra de soja justamente dos estadunidenses, que se portaram com maior pragmatismo do que o chanceler brasileiro. 
Por último, as declarações sobre o Mercosul também repercutiram mal. O mercado sul-americano absorve a maior parte de nossas exportações de manufaturados, onde o Brasil é mais competitivo do que em outros mercados. “Do jeito que estamos caminhando, vamos acabar exportando nem commodities, nem industrializados”, resume Marcelo Zero.
Alan Santos/PR/ Agência Brasil
Ao todo, Bolsonaro afirmou que pretende trocar cerca de 15 representações diplomáticas do Brasil pelo mundo.

Kennedy Alencar: “Vendido como sucesso, leilão de aeroportos foi fiasco” ​ ​

Kennedy Alencar: “Vendido como sucesso, leilão de aeroportos foi fiasco”

Publicado em 16 março, 2019 7:08 pm
Vendido como sucesso, leilão de aeroportos foi fiasco. Ágio de quase 1.000% mostra que quem pagou levou a preço de banana. Despreparo para exercício do poder e normalização de autocrata custarão caro ao país. É só ver como Jacinda Ardern reagiu ao massacre lá e nosso governo aqui
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