domingo, 18 de fevereiro de 2018

Carol Proner: julgamento de Lula mostrou ao mundo como Judiciário pode ser primário

ENTREVISTA

Carol Proner: julgamento de Lula mostrou ao mundo como Judiciário pode ser primário

Em entrevista, jurista diz que veículos internacionais viram falta de princípios na condenação do ex-presidente

Brasil de Fato | São Paulo (SP)
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O julgamento do ex-presidente Lula mostrou ao mundo como o sistema Judiciário, quando necessário, pode ser primário, disse jurista / Facebook/Divulgação
O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), realizado no dia 24 de janeiro em Porto Alegre (RS), mostrou ao mundo como o sistema Judiciário, quando necessário, pode ser primário em relação ao direito dos réus, cometer violações de prerrogativas legais e usar provas ilícitas para fazer valer um ponto de vista. Essa é a avaliação da jurista Carol Proner, doutora em Direito e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo Proner, que participou recentemente de um encontro com juristas na Espanha, a opinião pública estrangeira recebeu muito mal o resultado do julgamento. Para a jurista, veículos como o The New York Times e Le Monde Diplomatique fizeram questão de ressaltar a “falta de princípios estruturantes do mínimo do que seria um processo considerado justo”.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Proner, que integra a Frente Brasil de Juristas pela Democracia, também falou sobre os próximos passos do processo que envolve o ex-presidente, a Lei da Ficha Limpa e o poder do capital que, segundo ela, tem cada vez mais influenciado setores do Judiciário.
Confira alguns trechos da entrevista.
Brasil de Fato: Quais foram as justificativas que levaram o Tribunal Regional Federal da 4ª Região a aumentar a pena do ex-presidente Lula de nove para 12 anos?
Carol Proner: A sentença é, do ponto de vista técnico, muito questionável. Já os artigos dos especialistas em processo penal, que trabalham com as garantias jurídicas, têm sido implacáveis quanto ao direito de liberdade, direito de ser inocente até que se prove o contrário. É muito grande a quantidade de argumentos que fazem com que a sentença em segundo grau seja ainda mais surpreendente no sentido do não respeito ao direito.
É muito grave a forma acelerada como se fez esse julgamento, tentando alcançar um marco legal da Lei da Ficha Limpa, obviamente, considerando o calendário eleitoral para impedir que Lula seja candidato. Isso é transparente e evidente. Isso é comprovado pela forma acelerada e orquestrada na formulação dos votos, que não dá margem para qualquer tipo de dissonância técnica ou jurídica para, eventualmente, embasar um ou mais recursos que não sejam os embargos declaratórios.
Nesse caso, nós temos uma situação clara a respeito da tentativa do uso recursal e da aplicação da Ficha Limpa para impedir que Lula seja preso, mas muita coisa nova está surgindo. Tanto o juiz Sérgio Moro como o Tribunal de Porto Alegre, fizeram um jogral que não deu margem para os embargos infringentes e para poder questionar as diferenças de posicionamentos.
Daqui em diante, o que pode ser feito em relação ao processo do ex-presidente Lula? Quais devem ser os próximos passos?
Os advogados de defesa já estão mirando os tribunais superiores, vão usar todos os recursos disponíveis e estão fazendo isso de uma forma muito correta, muito atenta. Eu tenho a impressão que não vamos abrir mão tanto de expor a tecnicidade do julgamento, quanto utilizar a tecnicidade para fazer a defesa do ex-presidente de forma correta para garantir que ele possa se candidatar.
Agora, a sociedade está reagindo de forma surpreendente, porque as pesquisas de opinião mostram que Lula não foi afetado nas intenções de voto pela condenação. Isso significa que a sociedade brasileira está entendendo esse processo como uma farsa jurídica. 
A impressão que dá é a percepção cada vez maior de que o Judiciário já está se envolvendo nas eleições, o que é absolutamente inadmissível. É preciso dialogar, de forma paradidática com a Suprema Corte, pela responsabilidade que ela tem em conter os avanços desse caso específico de jurisprudência. Nós estamos falando do poder Judiciário, um poder legítimo de exercício da administração da justiça.
O ex-presidente Lula tem a possibilidade de, por meio de uma brecha da Lei da Ficha Limpa, garantir a sua candidatura, mesmo com outra chapa tentando impugná-lo depois das inscrições oficiais em 15 de agosto?
Sim, há uma brecha na Lei da Ficha Limpa que já foi usada por diversas outras pessoas em situações parecidas. Obviamente não eram ex-presidentes da República e não era uma candidatura à Presidência da República, mas candidaturas eleitorais que foram, através dessa brecha, mantidas e depois confirmadas após julgamento no Supremo Tribunal Eleitoral.
Então tudo está posto agora a prova nesse caso. Qual é a tônica principal? Eu volto a dizer: nós estamos vivendo uma fratura institucional muito grave por conta de um impeachment sem crime de responsabilidade, que traz à sociedade brasileira a sensação de estar sendo governada por usurpadores, que estão fazendo um governo antipopular, antissoberano, o que acaba assustando muito as pessoas. 
O advogado do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Geoffrey Robertson, fez questão de assistir ao julgamento do ex-presidente Lula e tem falado sobre as irregularidades cometidas. Como o caso tem sido visto internacionalmente?
Dos 300 jornalistas que estavam em Porto Alegre acompanhando o julgamento, mais de 50 eram jornalistas estrangeiros. No The New York Times e no Le Monde Diplomatique, logo depois da sessão, foi destaque o primarismo desse julgamento em relação aos direitos de defesa do réu, da própria defesa, a violação das prerrogativas, o uso de provas ilegais, ilícitas, enfim, a questão da paridade das armas, uma série de princípios estruturantes do mínimo do que seria um processo considerado justo.
O Geoffrey Robertson já tinha conhecimento do caso, vem acompanhando pelas ações da defesa junto às Nações Unidas. Mas ele quis estar presente observando daquela sala destinada às autoridades e saiu escandalizado pelo que viu.
A gente acabou de voltar de um seminário internacional que falou da pós-democracia, ou do chamado capitalismo neoliberal pós democrático. Estamos vivendo, no mundo inteiro, um capitalismo tão agressivo que ele já não precisa mais de instrumentos democráticos. Até que ponto o poder Judiciário, os setores do poder Judiciário, o controle dos tribunais, não são uma estratégia do grande capital?
Muito tem se falado sobre uma reforma do Judiciário, eleição para juízes… Esse é o momento de começar a pautar esse tipo de discussão?
Discutir uma reforma judiciária na crise que nós estamos, com o Congresso que temos, diante dessa correlação de forças absolutamente desfavorável a qualquer princípio democrático, em qualquer um dos poderes, seria inviável. Agora, já há tentativas de discutir as crises nos poderes, porque isso gera uma ansiedade popular muito grande, dessa sensação de estar sempre sendo enganado pelos políticos, uma desvalorização da ideia de partido e de político. Tudo isso é crise, mas isso não dá direito que o Judiciário se desloque tanto assim da sua função. 
Estão, portanto, na vitrine desse processo político atual, não apenas porque nas mãos desse poder está a possibilidade da sanidade eleitoral de 2018, como também pelo fato de que eles tenham algumas fragilidades, algumas debilidades com relação ao que se poderia ser considerado justo em uma sociedade.
A começar com seus salários, e não os salários em si, mas o que eles chamam de 'penduricalhos', esses extras que geram um valor muito além daquilo que seria a média de recebimento de um funcionário público.
O caso do juiz [Marcelo] Bretas, do Rio de Janeiro, é o mais simbólico nesse processo e serve de lição. Ele mesmo tirou sua conta do Twitter depois do debate que teve, do twitaço que foi feito, porque não se sustenta que duas pessoas casadas recebam o mesmo benefício. Se não é um critério normativo é um critério de justiça, e é um juiz, é um magistrado, está dando um exemplo social.
Sobre a exposição rotineira do Judiciário nos meios de comunicação. O quanto isso influencia também o voto dos juízes?
O Judiciário não pode se queixar da exposição, que acaba afetando toda a corporação. É um fenômeno que já não se pode controlar. Uma vez que eles vão para o campo político, deslocando-se da sua função original de inibir conflitos, de administrar a justiça no campo jurídico, quando eles querem também atuar naquilo que não seria a sua competência original, vão dar asas também para que a sociedade reaja politicamente.
Então, quando os juízes são atacados, é desagradável ver juízes sendo atacados aí na rua, quando estão de férias, dentro de um avião, é super desagradável. Eu pessoalmente acho um absurdo, eu não faria isso por uma questão republicana, institucional, democrática, mas é compreensível. Talvez não seja aceitável, mas é compreensível que isso aconteça diante do papel extrapolado funcional que eles estão exercendo.
Isso deveria ser um alerta para gerar uma reflexão interna dentro do poder Judiciário. Agora veja: é um poder com muito autopoder. Eles se autogovernam, se autorregulam, regulam seus próprios salários, definem seus próprios salários, não tem um controle popular porque não são eleitos.
Existe a possibilidade da candidatura do ex-presidente Lula acontecer, mesmo que ele seja preso?
É um debate, porque ele pode ser preso com o julgamento em andamento. Em tese, poderia ser possível sim, porque ele não foi julgado, não houve trânsito em julgado. E uma decisão da Suprema Corte ainda está para ser suscitada — e provavelmente será no momento em que o processo chegar na segunda turma.
Então, o que esperar do Supremo Tribunal Federal? Não pode haver prisão, é injusto o processo e a confirmação da sentença. Os movimentos sociais vão se levantar independente de apoiarem ou não o Lula porque tem candidaturas avulsas de partidos de esquerda.
Ele [Lula] representa muita coisa, não apenas um candidato do PT, mas uma pessoa que trouxe para o Brasil uma possibilidade de inclusão social que o país nunca teve e, agora, o contraste muito grande com a destruição do país em todos os âmbitos. Eu não vejo ninguém contente, mesmo as pessoas que não estão reagindo ainda, daqui a pouco vão se dar conta do legado. O legado não é do PT, mas de uma mistura de políticas públicas apoiadas em uma democracia de coalizão com a luta popular para manter seus direitos e suas garantias.
Edição: Nina Fideles

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Intervenção no Rio de Janeiro!
É certo que temos muitas e variadas opiniões circulando na imprensa e nas redes sociais sobre a decretação de uma Intervenção Militar no Rio de Janeiro, assinada na sexta-feira (16) pelo presidente ilegítimo. Mas poucas matérias que lemos nesses dois dias faz menção a um fato que demonstra que não deveríamos ficar surpresos com a medida.
Antes de comentarmos sobre os impasses na votação da Reforma da Previdência é preciso voltar pouco na relação do governo golpista com o Rio de Janeiro. É preciso lembrar que, desde o início do ano passado, Temer vem deixando o Rio sem alternativas, cortando verbas e ajudas, para forçar a privatização das empresas públicas em nosso estado, em particular a Cedae.
Isso mesmo! Temer, por duas vezes em 2017, colocou o governador Pezão contra a parede exigindo mais pressa na privatização de algumas empresas, mas vem encontrando resistência por parte dos sindicatos e movimentos organizados. Agora resolveu “jogar pesado”, como dizemos em conversas de bar. O vampiro neoliberal mostrado no desfile da Paraíso do Tuiuti resolveu arreganhar os dentes contra e aproveitar outras desculpas para tentar se desforrar. Mais do que nunca, a privatização da Cedae e de outras empresas estará na ordem do dia durante essa intervenção. Esclarecido esse primeiro ponto, vamos aos meandros que envolvem a medida.
E não foi só o desfile da Tuiuti que colocou os golpistas em alerta total. Vamos relembrar que, em pleno carnaval, o povão invadiu o aeroporto Santos Dumont para repudiar o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. O vídeo foi um dos mais vistos nas redes sociais. Mais do que isso, tenha surgido de onde for, a faixa colocada na entrada da favela da Rocinha, mandando um recado para o STF, deixou a direita com o cabelo arrepiado. A ameaça de que “o morro vai descer” deve ter deixado muita gente com vontade de “carimbar os passaportes” se preparando para uma fuga!
Na tarde/noite de quinta-feira, em pleno apagão no Rio de Janeiro por conta do temporal, o conhecido direitista Reinaldo Azevedo fez um comentário na Rádio Bandeirantes criticando o desfile da Tuiuti e defendendo a reforma trabalhista. O pulha teve a coragem de dizer que a reforma vai abrir novos empregos e é boa para o trabalhador. Quase ao final da sua crônica ele disse que a crítica política não deve ser tema de carnaval. Que o samba “deve ser alegre e popular”. Quase repetiu a frase preferida dos militares durante os anos da ditadura: “trabalhador tem que trabalhar, estudante tem que estudar e política é coisa para quem entende”. Pois é, o Reinaldo tentou dizer que o morro tem só que sambar para os turistas baterem palmas. Mas a reação popular ao desfile mostrou exatamente o contrário. Há, pelo menos no Rio de Janeiro, um novo movimento “de baixo para cima”.
“Pezão”, governador do Rio, depois de sua visita ao Planalto, passou a fazer declarações contraditórias e tão loucas quanto ele. Deixou claro que é incapaz de deter a escalada de violência, afinando seu discurso com a imprensa amestrada e com os golpistas. Aceitou, humildemente, a decisão da intervenção federa, ao contrário do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que demonstrou inicialmente um total descompasso com a medida.
O certo é que o presidente golpista sabe que não tem os votos necessários para aprovar a Reforma da Previdência que havia prometido ao mercado. Segundo os cálculos mais recentes, ele ainda precisa “convencer” cerca de 60 deputados a votarem na proposta, mas está encontrando dificuldade pois 2018 é ano eleitoral e muitos temem ficar marcados em seus estados e não conseguir uma reeleição.
Nesse ponto é importante fazer uma reflexão intermediária: uma grande parte do atual Congresso é de deputados e senadores com processos na Justiça e precisam manter o chamado “foro privilegiado” para não pararem na prisão! Então, estão “se borrando de medo” de perderem votos. Campanhas como a lançada por algumas centrais sindicais, do tipo “se votar não volta”, colocou alguns da defensiva, mesmo com todo o dinheiro que está correndo para comprar votos.
O próprio golpista ainda não descartou totalmente uma possível tentativa de reeleição, porque também tem medo de perder o foro privilegiado e virar réu em uma montanha de processos e acusações que já correm contra ele. E a “jogada” de uma intervenção no Rio de Janeiro, usando a opinião da classe média assustada pela violência que diariamente é propagandeada pela Globo e outras mídias, pode angariar alguma simpatia para o “manequim de funerária”.
Toda essa movimentação do Planalto pode justificar a derrota na votação da reforma previdenciária, mas pode também estar servindo para desembocar em uma suspensão das eleições em 2018. Cabe esperar os próximos passos e a reação popular no Rio de Janeiro.
A intervenção sob o aspecto legal. Segundo a advogada Giselle Farinhas, em entrevista ao jornal Monitor Mercantil, “a intervenção é medida constitucional excepcionalíssima que deve ser invocada como última alternativa. Desde a criação do instituto jurídico, na vigência da Constituição de 1988, é a primeira vez que esta será decretada sendo, portanto, de significativa importância histórica para a democracia do nosso país”.
E ela acrescenta: “A intervenção federal pode interferir na aprovação da reforma da Previdência, pois com a medida, nenhuma emenda à Constituição poderá ser aprovada por força do art. 60 da Constituição.”
E aqui entra outra questão para reforçar o que dissemos acima. Rodrigo Maia, fala em parecer que admite a tramitação da proposta de emenda constitucional (PEC), mas a aprovação só poderia ocorrer após o fim da intervenção. Ou seja, Maia continua firme na sua promessa de votar a reforma e, talvez por isso, tenha sido inicialmente contrário à intervenção.
As intenções do golpista estão ficando mais claras: a) está tentando reduzir a sua impopularidade e ser candidato à reeleição (opção desesperada para não ser preso tão logo deixe o cargo); b) com a intervenção, abriu caminho para um dos seus projetos mais secretos, ou seja, criar o Ministério da Segurança Pública, fato consumado e que aumentaria sua influência sobre a Polícia Federal.
Em um artigo publicado pelo Diap (Departamento Intersindical de Análise Parlamentar) Luiz Alberto dos Santos, Consultor legislativo do Senado Federal e advogado, esclarece que tramitam no Congresso Nacional, no momento, inúmeras propostas de emenda à Constituição. Somente na Câmara dos Deputados, são nada menos do que 35 propostas de emenda à constituição com comissões especiais constituídas e em funcionamento, ou cujo parecer aguarda votação em plenário. Entre elas a famigerada PEC 287/2016, que trata da “reforma da previdência” e deveria ser debatida no próximo dia 20.
Escreve o advogado: “Nesse momento, em que é anunciada a edição de decreto presidencial instituindo intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, surgem dúvidas sobre os efeitos dessa decretação: ela impedirá a apreciação da PEC 287/2016 pelo Plenário? Ela poderá continuar tramitando na Câmara e seguir ao Senado? Se aprovada pelo Senado, poderá ser promulgada? Qual a condição para tal decreto manter-se vigente?”.
E ele dá algumas respostas depois de citar o Artigo 34 da Constituição Federal. Esclarece que “Compete privativamente ao Presidente da sua decretação (art. 84, X), devendo seguir os ritos estabelecidos no art. 36, dependendo, em alguns casos, de solicitação do Legislativo ou do STF”. Mas diz ainda que “o decreto de intervenção deve especificar a amplitude, o prazo e as condições de execução da intervenção, e, quando for o caso, nomear o interventor, e deverá ser submetido à apreciação do Congresso Nacional no prazo de vinte e quatro horas. Cessado o motivo da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal”.
Ao término da longa análise ele diz: “Caso haja a persistência do Presidente da Câmara dos Deputados em pautar a matéria, de forma a obrigar os parlamentares a deliberarem sobre ela uma vez aprovada pelo Congresso a intervenção federal decretada, caberá mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal a ser ajuizado pelos parlamentares para proteger direito líquido e certo à observância da limitação constitucional”.
Ou seja: “Dessa forma, a PEC 287 não somente não pode continuar a ser apreciada enquanto vigorar a intervenção, como qualquer ato relativo a qualquer outra PEC, mesmo que já aprovada e aguardando promulgação, poderá ser praticado, por ser absoluto o impedimento do art. 60, § 1º, que prejudica o prosseguimento de qualquer das fases do processo legislativo” com referência às PECs em andamento.
Para simplificar, a intervenção federal, por lei, impede que nesse período seja votada qualquer alteração na Constituição. Com isso, Temer assume derrota na Previdência, que não poderá mais ser votada. Mas deixa aberta uma porta ainda mais perigosa: entrega nas mãos da direita o “discurso da ordem” que pode incentivar um aprofundamento do golpe de 2016.
PT votará contra a intervenção. O deputado federal Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara dos Deputados, divulgou um vídeo através das redes sociais criticando as medidas do golpista Temer sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro. Ele classificou o decreto como “politicagem barata” e uma decisão “autoritária e totalmente equivocada do governo”.
Em nota oficial assinada pela presidenta, Gleisi Hoffmann, por Paulo Pimenta e pelo Senador Lindbergh Farias, líder o Partido no Senado Federal, o Partido dos Trabalhadores assegura que a “crise da Segurança Pública é um dos mais graves problemas da população do Rio de Janeiro e de todo o Brasil, especialmente da população mais pobre, exigindo participação ativa do Governo Federal”, mas esclarece que os “governos do PT assumiram sua responsabilidade neste tema com medidas de forte impacto, como a criação da Força Nacional de Segurança Pública e do Pronasci, o fortalecimento da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, entre outras iniciativas, como a proteção das fronteiras, com participação constitucional e adequada das Forças Armadas”.
Mas assegura que a “intervenção anunciada hoje, no entanto, pode ser um perigoso passo para a consolidação e o aprofundamento de um estado de exceção no Brasil”.
“Não se pode afastar a relação do agravamento da crise da segurança com o enfraquecimento do estado, falido por conta de um grave ajuste fiscal, promovido pelo governo Temer e intensificado pelo governo estadual do MDB, que afeta, inclusive, verbas para pagamento de policiais e investimentos necessários para políticas de segurança mais eficientes”.
Mas a nota alerta ainda: “É gravíssimo o fato de o governo anunciar que pode suspender o decreto, caso tenha os votos necessários para aprovar a proposta de emenda constitucional, quando a própria Constituição Federal impede a promulgação de qualquer PEC na vigência de intervenção federal sobre um Estado. Inaceitável, sob todos os aspectos, esse novo drible à Constituição seria mais uma vergonha imposta ao país pelo governo golpista”.
Vai para lá, vai (1)! Estamos muito acostumados a ouvir um argumento da direita provocando nossas convicções: “vai para Cuba, vai”! Chegou a hora de mostrarmos também um pouco do “sonho americano” dessa mesma direita que idolatra tudo o que vem daquele país de m*erda!
Para começar, vamos citar a estatística que mostra que, em apenas 40 anos, cerca de 600.000 menores e adolescentes morreram nos EUA por motivos que outros países desenvolvidos já conseguiram evitar. Desde a década de 1970, segundo os dados agora revelados, milhares de meninos e meninas estadunidenses morreram ou não podiam ser salvas enquanto as estatísticas iam melhorando em todos os países ditos “desenvolvidos”.
Em 2013, o Centro de Estudos da UNICEF publicou uma análise que derruba qualquer argumento dos eternos amantes da “grande nação do Norte”. Foram analisados os mais diversos parâmetros de saúde e qualidade de vida das crianças, desde os índices de obesidade, passando pela questão da violência e da segurança habitacional, até o desempenho educativo. Entre os 29 países pesquisados, os EUA ficaram em 26º lugar!
Foram feitos estudos sobe: maior índice de mortalidade infantil, menor esperança de vida ao nascer, piores índices de lesões, mais riscos de infecções por HIV, maior número de gravidez entre adolescentes, etc. E isto em um país que declarou ter gasto 2 bilhões e 660 milhões de dólares em saúde infantil, em 2014!
A Dra. Alexandra D. Forrest, da Universidad de Drexel, Filadélfia, acaba de publicar um estudo sobre mortalidade infantil na revista especializada Health Affairs. Ela revisou e comparou as taxas de mortalidade infantil por diferentes causas nos países da OCDE nos últimos 50 anos. E assegura que “apesar do maior gasto em saúde infantil, acreditamos que as persistentes taxas de pobreza, os poucos resultados educativos e a frágil segurança social converteram os EUA na mais perigosa das nações para se nascer”!
Entre 1961 e 2010 as taxas de mortalidade infantil caíram em todo o mundo, até mesmo nos EUA. Todos os países se voltaram para o problema e começaram a combater doenças infecciosas. Milhões de vidas foram salvas. Mas, a partir da década de 1970 as crianças estadunidenses entre um e dezenove anos de idade começaram a fazer crescer as estatísticas significativamente piores que o restante da OCDE. Na década de 1980 as estatísticas pioraram também para recém-nascidos com menos de um ano de idade.
Entre a década de 1990 e os primeiros anos do novo século os dados ficaram ainda piores. Crianças estadunidenses entre 1 e 19 anos tinham 57% mais probabilidades de morrer que no restante dos países ricos. Entre as crianças com menos de 1 ano as estatísticas pioraram: 76% mais riscos de morrer!
As razões são muitas: imaturidade das mães, lesões durante o parto, asfixia ou obstruções respiratórias depois do parto, doenças causadas pelo sangue ou falta de nutrição adequada.
Vai para lá, vai (2)! Em 2002, o Instituto de Medicina de uma das quatro principais Academias dos EUA publicou um informe comparativo sobre a saúde da população. O título era bem significativo: “Vidas mais curtas, saúde mais pobre”!
O estudo identificava as carências que mais prejudicavam a saúde dos estadunidenses: “condições socioeconômicas adversas, hábitos pouco saudáveis e um sistema sanitário fragmentado, tudo somado a uma frágil rede de seguridade social”.
A doutora Forrest participou dos estudos que confirmaram as informações anteriores: as taxas de mortalidade infantil começaram a piorar quando a pobreza infantil relativa foi se estendendo pelos EUA, entre os anos 70 e 80.
Vai para lá, vai (3)! Somando-se ao péssimo desempenho estadunidense na saúde neonatal, outro grande problema são as consequências do chamado “sonho americano”: os carros e as armas!
Por tudo o que faça, os EUA não conseguem atingir os mesmos índices da OCDE quando se trata de prevenção de mortes causadas por acidentes de trânsito. Os números melhoraram, mas em ritmo muito mais lento do que em outros países desenvolvidos: enquanto os EUA reduziram em apenas 23% o número de mortes em estradas, os demais países chegaram a reduzir em até 64%!
Mas a vida das crianças por lá deve superar um problema ainda maior. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças publicaram, em 2017, um dos mais detalhados levantamentos de lesões e mortes causadas por armas de fogo em cidadãos entre 0 e 17 anos. Entre acidentes, homicídios e suicídios, a cada ano morrem 1.300 menores por armas de fogo; 5.790 ficam feridas. Aproximadamente, 82 vezes mais do que no restante da OCDE. Entre os meninos negros não hispânicos as armas são a principal causa de mortes!
(Fuente: http://www.elsaltodiario.com/desigualdad/Estados-Unidos-600000-muertes-pobreza-infantil)
Vai para lá, vai (4)! E aconteceu mais uma vez. Mais um atentado em uma escola nos EUA deixou 17 mortos na quarta-feira (14). Um ex-aluno de um colégio a 70 quilômetros de Miami invadiu o estabelecimento e disparou contra estudantes e adultos.
Preso duas horas mais tarde, Nikolas Cruz possuía um rifle AR-15 (arma de guerra que permite carregar grande quantidade de munição). Segundo a polícia local, o jovem era um admirador de armas e havia sido expulso da escola por razões disciplinares. Segundo as autoridades, Cruz comprou a arma semiautomática legalmente há cerca de um ano.
Desde 2000, já foram registrados mais de 40 atentados com armas de fogo em escolas naquele país, segundo o FBI. Ocorrido em 1999, o massacre de Columbine, um dos episódios mais conhecidos de violência em escolas dos EUA, deixou 12 alunos e um professor mortos.
           
            Desculpem. O temporal no Rio me deixou alguns dias sem Internet.
           

CENSURA: Vampiro da Tuiuti é obrigado a desfilar sem faixa presidencial

CENSURA: Vampiro da Tuiuti é obrigado a desfilar sem faixa presidencial

Postado em 18 de fevereiro de 2018 às 6:39 am
A censura está de volta ao Brasil, um dia depois da intervenção militar no Rio de Janeiro. Nesta madrugada, no no desfile das campeãs, o “vampirão” da Paraíso do Tuiuti desfilou sem faixa presidencial. Em entrevista à Mídia Ninja, o historiador Léo Morais, que deu vida ao “vampirão”, afirmou que seu personagem representa o “sistema” – e não necessariamente Michel Temer, que usurpou a presidência da República por meio de um golpe parlamentar.
No desfile, as arquibancadas foram também tomadas por protestos contra a Globo, peça central no golpe de 2016, que pediu a volta das forças armadas no Rio de Janeiro. Léo Morais se disse muito feliz com a segunda colocação da Tuiuti e também muito preocupado com as semelhanças entre os dias atuais e o período que antecedeu o golpe militar de 1964.
Em editorial publicado nesta sexta-feira 17, a Globo pediu que os militares fiquem no Rio de Janeiro por muito mais tempo.
Num vídeo produzido pela Mídia Ninja, revelou-se que Léo Morais foi quase impedido de desfilar e só obteve autorização depois da confirmação de que ele sairia sem a faixa presidencial. Ou seja: a censura foi a primeira medida tomada no Rio após a intervenção militar na segurança pública.
Em depoimento, o carnavalesco Jack Vasconcelos admitiu os incômodos criados pelo personagem “vampirão”, mas afirmou que o “furdúncio já valeu a pena”.

O discurso agradecendo Lula da brasileira que ganhou prêmio literário nos EUA, Karina Biondi


O discurso agradecendo Lula da brasileira que ganhou prêmio literário nos EUA, Karina Biondi

 
O livro de Karina Biondi
Karina Biondi, pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos, ganhou prêmio nos EUA de melhor livro de 2017 da Associação para a Antropologia Política e Jurídica (APLA, na sigla em inglês), ligada à Associação Americana de Antropologia (AAA), fundada em 1902.
A obra se chama “Sharing This Walk: An Ethnography of Prison Life and the PCC in Brazil” (“Compartilhando esse caminho: uma etnografia da vida na prisão e o PCC no Brasil”, em tradução livre).
Em seu discurso de agradecimento, publicado no site da organização, ela agradeceu “a expansão do ensino e pesquisa no Brasil promovido pelo Governo Lula” e bateu em Temer.
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“Os investimentos na educação e pesquisa sofreram grandes cortes, as universidades estão vivendo sérias crises financeiras”, diz.
Boa tarde! Em primeiro lugar, gostaria de pedir desculpas por não poder estar presente nesta reunião para receber o prêmio pessoalmente. A despeito de minha ausência, vocês não imaginam a felicidade que estou sentindo. 
Eu não chegaria sozinha aqui. Por outro lado, é impossível listar todas as pessoas que cooperaram para que o livro se tornasse uma realidade. Gostaria, contudo, de expressar meus mais profundos agradecimentos ao Professor John Collins, que além de tradutor do livro foi grande incentivador e o maior responsável pela sua realização Agradeço igualmente à editora UNC Press e aos colegas que subscreveram cartas de recomendação para a tradução do livro: Professores Magnus Course, Desmond Arias, e Sean Mitchell.
Finalmente, não posso deixar de agradecer ao professor Jorge Villela, que além de ter sido meu orientador e parceiro de reflexões, me imaginou onde eu mesma nunca havia me imaginado. Foi ele, inclusive, quem apresentou o livro ao Prof. Collins.
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Este prêmio representa o reconhecimento não só dos anos de trabalho, esforço, sacrifício e dedicação. Ele diz muito mais. O fato desse prêmio ser entregue a uma brasileira, mulher e jovem pesquisadora mostra o sucesso de algumas políticas, tanto de políticas acadêmicas quanto de políticas de Estado.
Isso é fruto de um investimento que vem sendo feito há muitos anos e de forma bastante intensa por muitos pesquisadores que lutam não só contra as heranças do colonialismo quanto contra práticas colonialistas que, por sua vez, não estão restritas a países do hemisfério norte.
Encontramos no Brasil, por exemplo, posturas do tipo colonialistas, que dividem o mundo em dois tipos de lugares: aqueles onde se realiza a pesquisa de campo e os outros, privilegiados, onde se faz antropologia. Isso é replicado para o campo da política Estatal, que até há pouco mais de uma década promovia a concentração da produção acadêmica em poucos centros de pesquisa.
Se essa política ainda operasse, provavelmente eu não estaria aqui. Foi a expansão do ensino e pesquisa no Brasil promovido pelo Governo Lula que criou as condições de possibilidade para que eu ingressasse em uma pós-graduação ainda recém-criada, fora dos tradicionais centros de pesquisa. Ali, na Universidade Federal de São Carlos, tive um ambiente perfeito para minha formação.
Entre jovens professores, que misturavam rigor e frescor, tive liberdade e incentivo para ousar. No campo social e da política estatal, ousar ser doutora. No campo acadêmico, ousar desafiar, a partir de meu material etnográfico, algumas ideias consolidadas na antropologia.
Infelizmente, essas condições de possibilidade que tornaram este prêmio possível estão neste exato momento ameaçadas. As políticas implementadas nos anos Lula estão sendo rapidamente desmontadas pelos atores políticos que cooperaram para o golpe de Estado ocorrido no Brasil no ano passado.
Os investimentos na educação e pesquisa sofreram grandes cortes, as universidades estão vivendo sérias crises financeiras. E essa conjuntura é o principal motivo pelo qual não pude estar presente aqui para receber o prêmio (pelo que novamente peço desculpas).
Ainda assim, estamos na luta, lá no Brasil, para defender o que conquistamos e para tentar evitar a volta daquele modelo colonialista que concentra em poucos centros de pesquisa a prerrogativa de fazer ciência, relegando aos demais o papel de lugares a serem estudados.
Ao mesmo tempo, em outra escala, continuamos também na luta para que não sejamos vistos somente como fornecedores de matéria prima para o trabalho intelectual, mas que possamos traçar verdadeiros debates teóricos com nossos colegas do hemisfério norte.
Acho que esse prêmio é uma demonstração de vitória de todos aqueles que denunciaram e lutaram contra o colonialismo, na antropologia, nas políticas acadêmicas e nas políticas estatais. Eu só tenho a agradecer à APLA e aos colegas que participaram da comissão julgadora pela oportunidade e pelo reconhecimento. Acredito que cada vez mais poderemos pensar em trabalhos conjuntos, colaborativos.