Mais
uma vez, os trabalhadores pagam pelos “planos”!
(Ernesto
Germano Parés)
Companheiros. Diante dos recentes acontecimentos no
país, vamos fazer uma pequena pausa na nossa série sobre o liberalismo e seus
avanços em nossa região.
Nos últimos dias, nas ruas e no movimento sindical e
popular, não se fala em outro assunto senão a PEC 241 que recebeu do governo
golpista o pomposo nome de PEC do Controle dos Gastos Públicos. Na verdade, uma
camisa de força que engessa qualquer intenção de investimentos governamentais,
em particular nos setores que atendem à população mais pobre.
Não custa lembrar, também, que para conseguir maioria
na Câmara dos Deputados e aprovar sua PEC o presidente interino Michel Temer
ofereceu um “pequeno” jantar no Palácio do Planalto e recebeu mais 400 convidados,
entre deputados e suas esposas. Valor do “regabofe”: mais de 200 mil reais
(apesar de os números oficiais não serem divulgados).
Mas, o que nos interessa aqui? Além dos cortes nos
investimentos sociais, em particular na saúde e na educação, a PEC terá
significativa influência sobre os salários dos trabalhadores. E não estou aqui
me referindo apenas ao salário mínimo. Já sabemos que será o mais prejudicado,
apesar dos muitos desmentidos de Temer dizendo que a política atual do mínimo
será mantida até 2019 e só depois sofrerá alteração. Na prática, o que diz a
PEC?
Limita por 20 anos os investimentos do Governo em todas
as áreas, incluindo aí a assistência social, a educação e a saúde pública. Ou,
dizendo de outra forma, a expansão do gasto público nos próximos 20 anos não
poderá ser superior à inflação.
Pela proposta já aprovada, os aumentos dos gastos do
governo, em cada ano, terão como base a inflação passada (do ano anterior). Ou
seja, se a inflação continua aumentando, os gastos públicos serão sempre reajustados
por um índice inferior, referente ao ano que já passou. Ainda que o Brasil
tenha um crescimento econômico, mesmo que pequeno, e considerando que a
população brasileira continua a crescer, os recursos destinados pelo Governo
serão reduzidos ano a ano!
Na verdade, a medida de força agora tomada pelo governo
golpista realiza o sonho idealizado pelos primeiros pensadores liberais, uma
vez que o Estado estará afastado das decisões sobre políticas sociais e poderá
se dedicar apenas a garantir a propriedade dos muito ricos, às leis que vão
manter a exploração e as relações comerciais internacionais. Sequer o Congresso
terá poder para votar ou alterar os investimentos, pois está tudo engessado na
Emenda. Claro que toda a mutreta foi armada de forma a garantir o pagamento das
dívidas, prioridade da dupla PMDB/PSDB.
Mas o que está chamando a nossa atenção, agora, é um
risco ainda maior que está já desenhado nessa farsa chamada PEC 241. Precisamos
voltar nosso olhar para esse “detalhe” embutido no pacote de maldades: os
gastos públicos terão como base a inflação passada, a inflação do ano anterior!
E como fica esse mecanismo na hora dos trabalhadores negociarem seus salários,
em particular os funcionários públicos em todos os níveis e os trabalhadores de
empresas estatais? Os reajustes desses trabalhadores também serão pela inflação
do ano anterior? Quanto isso significará de perdas?
Só para refrescar a memória de alguns, depois do Golpe
Militar no país, em 1964, e marcadamente na década de 1980, os governos
passaram a estabelecer rígidas políticas salariais. Ou decretavam
“congelamentos de salários” que vinham de cima para baixo sem qualquer
discussão ou limitavam a concessão de reajustes.
No início de 1980, sendo Delfim Neto ministro do
Planejamento e Ernane Galvêas ministro da Fazenda, os trabalhadores conheceram
o peso total das políticas de arrocho salarial. Depois de uma
maxidesvalorização do Cruzeiro em 30%, supostamente para estimular as
exportações, o regime militar cria o famigerado Decreto 2.045 que sequer foi
aprovado pelo Congresso “domesticado” de então. Só para registrar, o tal
Decreto foi aprovado em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional e entrou
imediatamente em vigor.
O 2.045, como ficou conhecido no meio sindical,
suspendeu as correções salarias por faixas de remuneração, acabou com a
diferenciação das datas bases das categorias, e estipulou que os salários
passariam a ser reajustados em 80% do INPC semestral! Mas, para piorar, o mesmo
Decreto estabelecia que as empresas não estavam obrigadas a conceder os 80% de
reajuste, se comprovassem prejuízos ou “motivo de força maior”.
Para ampliar o arrocho salarial, o regime militar criou
um mecanismo de manter o índice do INPC baixo fazendo um expurgo no seu
levantamento. Isso consistia em não considerar aumentos atípicos de alguns produtos,
em particular alimentos. Sempre que algum produto tinha uma elevação de preços
que pudesse elevar o INPC esse valor não seria considerado e era repetido o
preço do mês anterior ao aumento! Um mecanismo brilhante, não é?
Então, agora compare. Pela PEC aprovada, os aumentos
dos gastos do governo, em cada ano, terão como base a inflação do ano anterior.
E eles vão passando um trator sobre o povo.
Em apenas uma semana o governo golpista conseguiu
aprovar, em primeiro turno, a PEC da maldade pública, a MP 735 que vai
privatizar nossas empresas de energia (distribuição, transmissão e geração) e,
de quebra, aprovaram o PL 4.567, de
autoria do José Serra, autorizando a entrega do pré-sal para empresas estrangeiras!
E se foram capazes de tudo isso em apenas uma semana,
vencendo as votações com grande margem pois a aliança PMDB/PSDB controla a
maior parte do Congresso, imaginem o que vão fazer, por exemplo, com a regulementação
da terceirização sem limite permitindo a precarização das relações de trabalho
(PL 4302/1998 – Câmara, PLC 30/2015 – Senado, PLS 87/2010 – autoria Senador
Eduardo Azeredo, PSDB - Câmara) ou com a proposta de impedir que empregado
demitido possa reclamar na Justiça do Trabalho (PL 948/2011 – Laercio Oliveira
- PR/SE e PL 7549/2014 – Gorete Pereira - PR/CE - Câmara).
• PEC 241 representa a perda de R$ 434 bilhões ao SUS. A Comissão Intersetorial de Orçamento e Financiamento
(COFIN) do Conselho Nacional de Saúde (CNS) apresentou um estudo que comprova a
perda de R$ 434 bilhões ao Sistema Único de Saúde (SUS), com a aprovação da PEC
241. A proposta que congela os investimentos em saúde e educação pelos próximos
20 anos.
Aprovada a PEC 241, a partir de 2017 os recursos
destinados à saúde terão como base de cálculo 15% da Receita Corrente Líquida
(RCL), estimada em R$ 758 bilhões no Projeto de Lei Orçamentária. Isso
representará o valor de R$ 113,74 bilhões, que ficará congelado até 2036. A
partir de 2018, a correção será somente pela variação anual da inflação,
calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano anterior.
As perdas deste valor congelado em 2018 até 2036 totalizam R$ 438 bilhões, de
acordo com as projeções baseadas nos cálculos do Grupo Técnico Institucional de
Discussão de Financiamento do SUS, que compõem o estudo apresentado pela COFIN.
• Afinal, quem ganha com o governo Temer? Aproximadamente 70 mil pessoas estão no topo da pirâmide
dos super-ricos brasileiros, que têm rendimentos acima de um milhão e trezentos
mil reais anuais e, em segundo lugar, estão as outras 200 mil pessoas mais
ricas do país, com rendimentos a partir de 650 mil anuais.
Esses dados correspondem às informações obtidas a
partir da análise da declaração do Imposto de Renda de 2013 e têm sido
utilizados na pesquisa do economista Rodrigo Octávio Orair, que estuda
alternativas ao atual sistema tributário brasileiro. “A principal renda deles”,
informa, “são lucros e dividendos e aplicações financeiras. Então, são pessoas
cuja fonte de renda não é tanto a renda do trabalho regular, mas, fundamentalmente,
a renda por conta de serem proprietários de empresas, ou por investirem em
ações, ou em rendimentos de aplicações financeiras”. Ou, como dizia Marx, “o
capital que gera capital sem gerar riquezas” (veja Informativo anterior).
Por isso houve toda uma campanha que levou ao golpe,
porque o Governo Dilma começava a debater um imposto sobre grandes fortunas.
Mas isso já era demais e o golpe foi dado!
• Não tem pão? Coma venenos transgênicos! O governo interino do Brasil acaba de autorizar a
maior importação de milho transgênico já feita no país. Vamos importar milho
geneticamente modificado dos EUA e a desculpa do Ministério da Agricultura é
que isso vai “garantir o fornecimento de grãos no mercado nacional”.
As sementes de milho são produzidas pelas
transnacionais Monsanto e Bunge, dois gigantes da área de transgênicos.
Conhecida como MON 863, a semente do milho transgênico é condenada por vários
institutos de pesquisas e várias revistas médicas já denunciaram que causam
graves prejuízos ao fígado e aos rins, alternado também a taxa de triglicerídeos.
Mas nós vamos consumir isso, porque o golpista tinha
acordos com os produtores estadunidenses que financiaram o golpe, não é?
• México: presos os suspeitos pelo assassinato de dois
estudantes. A Justiça do departamento
de Guerrero comunicou a prisão de cinco suspeito pelo assassinato de quatro
pessoas, entre elas dois estudantes da Escola normal Rural de Ayotzinapa e um
menino de oito anos.
Em uma coletiva com a imprensa, o juiz Xavier Olea
Peláez declarou que os assassinatos foram consequência de uma tentativa de
assalto em transporte público. Com os suspeitos foram recolhidas armas de
calibre 22 e nove milímetros.
ENTENDA O CASO. No dia 4 de outubro passado, dois
estudantes de Ayotzinapa, colegas dos 43 estudantes que estão desaparecidos
desde 2014, foram assassinados a tiros. O assalto aconteceu em um pequeno veículo
que transporta passageiros na estrada Tixtla-Chilpancingo. Os assaltantes
também estavam no veículo.
• Bolívia: receita com o petróleo cresceu 15 vezes em 10 anos! O ministro Luis Sánchez informou na segunda-feira (10)
que durante o governo do presidente Evo Morales o país teve uma renda com o
petróleo 15 vezes superior aos 10 anos anteriores.
“Graças à revolução energética, a nacionalização, o
modelo de gestão e os investimentos feitos, a renda com o petróleo entre 2006 e
2016 foi de 3,15 bilhões de dólares, quinze vezes maior do que o período entre
1985 e 2005, quando a renda alcançava 224 milhões de dólares anuais”. E disse
também que a receita proveniente do gás também permitiu que a Bolívia
investisse na construção de estradas, hospitais e espaços esportivos.
• Aumenta a demissão de trabalhadores argentinos. Continua aumentando o número de demissões de
trabalhadores na Argentina, enquanto a inflação segue em alta e os serviços
básicos ficam mais caro. Os setores mais atingidos são a indústria têxtil e a
metalúrgica.
Nos primeiros dias de novembro, 1.500 trabalhadores da
empresa Drean, fabricante de máquinas de lavar roupa e lava-louças, foram
notificados da suspensão do contrato de trabalho e que a fábrica em Córdoba
será fechada. O mesmo aconteceu com 130 trabalhadores da empresa metalúrgica
Tandil, subsidiária da Renault Argentina.
A empresa Arcor, uma das maiores fabricantes de balas e
doces, anunciou férias coletivas para 400 trabalhadores em sua sede em El
Arroyito devido à queda nas vendas registrada nos últimos meses. Também a Unisol,
conhecida empresa têxtil que fabrica produtos da linha Puma anunciou férias
coletivas para 900 trabalhadores em suas plantas em Chilecito e Chamical.
Para completar, a maior produtora de frutas e
hortaliças da Argentina, a Expofrut, fechou suas portas e demitiu já 260
trabalhadores por “falta de rentabilidade”.
• Provocação militar inglesa. A Secretaria Geral da UNASUR (União das Nações Sul-americanas) denunciou
e divulgou nota de repúdio ao Reino Unido por estar realizando “exercícios
militares” nas Malvinas, em pleno Atlântico Sul. O documento se refere aos
exercícios como “provocação internacional que desafia 40 resoluções da
Assembleia Geral”.
Segundo informações, entre os dias 19 e 28 de outubro o
Reino Unido pretende realizar exercícios militares lançando mísseis na região
que fica a apenas 400 quilômetros das costas argentinas. Mas um porta-voz do
Ministério do Exterior do Reino Unido diz que “trata-se de exercícios
rotineiros”.
• Alemanha: crescimento da ultradireita preocupa. Na eleição de 4 de setembro no Mecklemburgo, estado
onde Angela Merkel fez sua carreira política e se elegeu para o Parlamento, seu
partido conservador, União Democrata Cristã (CDU) caiu de uma votação de 23% em
2011 para 19% e ficou em terceiro lugar, depois dos social-democratas (SPD),
que caíram de 36% para 31%, e da xenófoba Alternativa para a Alemanha (AfD),
que sequer existia na eleição anterior, em 2011, mas conseguiu 21%.
O partido A Esquerda (Die Linke), herdeiro do antigo
Partido Comunista da Alemanha Oriental, caiu de 18% para 13%, Os Verdes (Die
Grünen) de 8% para 5%, e o neonazista Partido Nacional Democrático (NPD) de 6%
para 3%. O Partido Liberal (FDP) permaneceu nos mesmos 3% de há cinco anos.
Duas semanas depois, Berlim deu outro revés a Merkel,
cujo partido pareceu ter chances de tomar a maioria ao SPD no Legislativo da
capital nas pesquisas de 2015, mas caiu de 23% para 18%. Devido ao fracionamento
partidário na cidade, ainda ficou em segundo lugar. Também caíram os
social-democratas (de 28% para 22%), os Verdes (de 18% para 15%) e o Partido
Pirata (de 9% para 2%). O FDP cresceu de 2% para 5%, a AfD surgiu com 14% e A
Esquerda cresceu de 12% para 16%.
A líder da AfD, Frauke Petry, pede a proibição de
minaretes e o uso de força armada contra refugiados. Atacou o jogador da
seleção alemã Mesut Özil por peregrinar a Meca. Mais do que isso, parece
empenhada em reabilitar o nacionalismo e lhe dá matizes perigosamente
reminiscentes do passado.
O debate sobre o manifesto do partido, vazado por uma
ONG em março, incluiu propostas para incentivar as mulheres alemãs a ter três
ou mais filhos, o fim de recursos para creches e educação infantil, a redução
da idade de responsabilidade penal para 12 anos, o aprisionamento perpétuo de
doentes mentais resistentes à terapia, a obrigação de museus e teatros de promover
a “cultura alemã” e não as estrangeiras.
Dias depois de publicar o manifesto, o partido preparou
um evento em uma cervejaria onde Adolf Hitler fez um dos seus primeiros
discursos e só desistiu diante do risco de protestos em massa. Na campanha em
Berlim, Petry, mãe de quatro filhos, criticou Merkel por não ter filhos
próprios (embora tenha participado da criação dos dois do segundo marido).
• Espanha cada vez mais empobrecida. Segundo o informe anual do Indicador de Risco de
Pobreza e Exclusão Social da Europa, 28,6% dos espanhóis estão em risco de
pobreza extrema e 7,6% (3.500.000 pessoas) já se encontram em estado de pobreza
severa!
Segundo a entidade, a Espanha tem atualmente 11% do
total de europeus em estado de pobreza, enquanto os 10% mais ricos do país
“embolsam” a quarta parte de toda a renda nacional.
Segundo duas respeitáveis instituições internacionais,
a Cáritas e a Fundação Rais, pelo menos 45 mil pessoas vivem sem lar no país,
mas o número deve ser bem superior porque é difícil fazer o levantamento quando
se trata dos que vivem nos túneis do metrô, em baixo de pontes e viadutos, etc.
• Morte por exploração laboral! Em 1996, durante uma palestra que fiz na CUT-RJ, falei
pela primeira vez em um fenômeno novo no mundo do trabalho: o karoshi! Cerca de
70 participantes do encontro ficaram olhando para mim como se eu estivesse
falando de um absurdo.
Dez anos mais tarde, quando sentei para fazer um
trabalho sobre as consequências do neoliberalismo para a classe trabalhadora,
voltei a escrever sobre o karoshi e esclareci que era um fenômeno tão
importante que os médicos japoneses haviam criado esse termo especialmente para
definir algo que nunca tinha sido registrado na história da medicina.
Mais dez anos se passaram e encontro agora um informe
do governo do Japão dizendo que uma em cada cinco empresas japonesas colocam em
risco a vida dos seus trabalhadores devido ao elevado grau de exploração
laboral.
A nota oficial diz que esse perigo (karoshi) se deve a
problemas cardíacos, esgotamento físico ou suicídio, fenômeno muito comum
naquele país, tudo causado pelo elevadíssimo grau de exploração dentro das
empresas que exigem cada vez mais produção de seus empregados.
O recente informe já faz parte do “Livro Branco” cobre
o karoshi, ou “morte por fatiga no trabalho”, documento que acaba de ser
aprovado pelo gabinete do primeiro-ministro, Shinzo Abe. Lá vamos encontrar um
dado assustador: 22,7% das empresas questionadas, entre dezembro de 2015 e
janeiro de 2016, declararam que seus empregados faziam mais de 80 horas extras
por mês!
• A Terceira Guerra Mundial já começou? A história nos conta que duas grandes guerras já foram
realizadas devido à ganância do sistema capitalista e aos avanços dos impérios
que não se cansavam de conquistar territórios em busca de riquezas e espaços
para ampliar a exploração e aumentar seus lucros. Hoje em dia, ninguém,
minimamente informado, acredita que a Primeira Guerra aconteceu por causa do
assassinato do arquiduque austríaco ou que a Segunda Guerra aconteceu porque
Hitler “queria ser dono do mundo”, histórias que nos foram contadas quando
crianças, mas que hoje já não fazem qualquer sentido.
E agora muitos estudiosos, analistas e militantes
políticos já começam a debater se já não estamos vivendo o início de uma
Terceira Guerra Mundial, causada pela ganância estadunidense e por sua
determinação de ter total domínio do planeta (vide o documento “New American
Century”).
Para muitos desses estudiosos a Síria tornou-se o
centro dessa disputa e lá estão sendo criadas as condições de uma nova guerra
que não temos a mais leve noção de como se dará ou de como terminará. De minha
parte, creio que não é tão somente a Síria, ainda que seja o sinal mais
visível, mas todo o chamado Oriente Médio, com suas riquezas energéticas e pela
posição estratégica em uma geopolítica do Império.
Segundo entrevista concedida recentemente por Tarek
Ahmad, um representante do Partido Nacional Socialista da Síria, a guerra em
seu país já alcançou um “ponto de não retorno” e a intervenção estrangeira
converteu a situação em uma desordem total. Ele assegura que a Síria é uma das
frentes para a Terceira Guerra Mundial que está sendo travada por Washington e
seus aliados.
Segundo ele, em conversa com a revista eletrônica
Sputinik, “A frente síria não é o objetivo final. Devemos observar a situação
de maneira objetiva e admitir que uma Terceira Guerra está sendo travada na
Síria, e esta guerra é liderada pelos EUA e seus aliados, ainda que esses
aliados sejam, ao mesmo tempo, vítimas. O objetivo principal de Washington é
controlar qualquer potência mundial que se torne uma ameaça. Assim, estão travando
uma guerra contra essas potências, entre elas a China e a Rússia”.
Vale lembrar que o Partido Nacional Socialista é um dos
maiores e mais antigos da Síria, contando com mais de 8.000 homens em armas que
estão lutando ao lado do exército sírio contra os terroristas do Daesh (Estado
Islâmico) e faz parte da Frente Popular para a Mudança.
Do que sabemos, a Guerra na Síria começou no início de
2011 com a campanha chamada “Primavera Árabe”, um estratagema de Washington
para mudar a correlação de forças no Oriente Médio e no Norte da África. A
ideia central era alcançar uma nova divisão na região e ampliar o espaço de
influência estadunidense, além de aliviar a pressão contra seu principal
aliado, Israel.
As agressões contra a Síria estão estreitamente ligadas
à invasão do Iraque, em 2003, porque o governo de Bashar Al-Assad foi um dos
poucos na região a se opor ao ataque e apoiou a resistência contra as forças
ocupantes do exército estadunidense. A proposta era reproduzir na Síria o mesmo
modelo que foi usado no Iraque e desenhar um novo mapa político, fragmentando
todo o Oriente Médio e dividindo em territórios comandados por grupos
religiosos, criando uma nova relação de forças e levando instabilidade, para
dividir e conquistar toda a região. Segundo o jargão muito usado pelo
Pentágono, tratava-se de criar um “caos controlado” para justificar sua
intervenção.
A escolha da Síria para cumprir esse papel como
objetivo militar tem vários motivos. Em primeiro lugar, sua estreita aliança
com o Iran, considerado “a besta” na região. Em segundo lugar a sua guerra
permanente com Israel que, desde 1981, ocupa ilegalmente as Colinas de Golã,
região na fronteira do território sírio. Em terceiro lugar a oposição síria à
invasão do Iraque e por ter aceitado milhares de refugiados iraquianos que fugiam
da repressão em seu país.
A morte de Saddam Hussein fortaleceu o Iran que, com a
Síria, é um dos componentes mais importantes do chamado “eixo de resistência”
contra o imperialismo no Oriente Médio. Para confirmar o que dizemos, basta ver
a correspondência agora desclassificada de Hillary Clinton, quando era
secretária de Estado. Em um comunicado datado de dezembro de 2012 ela diz que
“devido à relação estratégica entre Iran e Síria, a queda de Bashar Al-Assad
seria um imenso benefício para Israel e garantiria o monopólio nuclear na
região para os israelenses”.
Mais recentemente, a guerra contra a Síria tomou outra
importância: destruir a aproximação de Al-Assad com a Rússia. Trata-se de
expandir o cerco contra a Rússia e ocupar todas as fronteiras (Ucrânia,
Cáucaso, etc.).
O atual conflito na Síria marca uma tendência decisiva
no mundo “após Guerra Fria” e o equilíbrio alcançado momentaneamente está
caindo aos pedaços. As soluções para os problemas econômicos criados com a
crise mundial de 2008 estão além das divisões regionais. O atual conflito sírio
está envolvendo potências de todas as partes: desde os países da OTAN e do
Golfo Pérsico, até Rússia, Iran e China. E a cidade de Alepo, nesse momento, é
o epicentro de uma grande tormenta que pode arrastar o planeta. Enquanto o
exército sírio e a oposição moderada enfrentam o Estado Islâmico pelo controle
da cidade, Moscou e Washington trocam acusações e ameaças, com acusações de
piorar o quadro.
Em torno da Síria estão concentradas forças militares
sem precedentes na história do Oriente Médio e aí reside toda a ameaça atual.
Ao norte estão as tropas turcas, treinadas pelos EUA e a menos de 20 quilômetros
da cidade de Alepo, onde mais de 12 grupos terroristas tentam derrubar o
governo. Na fronteira com o Iraque estão concentradas tropas curdas contrárias
ao governo de Al-Assad e que contam com a presença de “instrutores militares
estadunidenses, britânicos e franceses. Ao sul da Síria, na fronteira com a
Jordânia e Israel, já não existem praticamente pontos de fronteira pois a
região está ocupada pelo regime sionista desde 1967.
Dados que merecem confiança confirmam que os grupos
terroristas Frente para a Conquista do Levante (Al Nusra) e Estado Islâmico
(Daesh), com outros 25 grupos menores e financiados pelos aliados dos EUA,
contam atualmente com mais de 70 mil homens armados! França e Grã-Bretanha
continuam armando esses grupos com equipamentos modernos.
Pouco mais abaixo, outro conflito vai sendo criado para
justificar a intervenção estadunidense na região. A Arábia Saudita, grande
aliada de Washington e uma potência petrolífera indiscutível, trava uma incansável
guerra contra o Iêmen.
Sempre com a mesma desculpa usada pelos aliados de
Washington, a Arábia Saudita forjou uma “coalizão” entre os países da região
para tentar destruir o Iêmen. No dia 07 de outubro, um ataque aéreo comandado
pelo regime de Riade atingiu a capital iemenita, Saná, e causou 140 mortes e
deixou mais de 500 feridos. O ataque destruiu totalmente um prédio onde se
realizava o funeral do pai de um importante político do país e entre as vítimas
estavam muitos políticos e figuras importantes no Governo de Saná. Mas,
curiosamente, na sexta-feira (14) o governo árabe admitiu que “houve um erro” e
que atacou o funeral “por engano”.
Vale dizer que, além do significado do Iêmen no
tabuleiro de xadrez do Oriente Médio, as grandes potências (leia-se EUA e Reino
Unido) faturam muito com a guerra e fornecem armas para os países do Golfo que
se alinham com a política de Riade.
(Votaremos ao
assunto)