sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Perseguição a jornalista independente e corajoso

Extraído de www.racismoambiental.net.br

“Jornalista ameaçado: somos todos Lúcio Flávio”, por Ricardo Kotscho
Por racismoambiental, 16/02/2012 10:14
12
Caros leitores e colegas jornalistas,

trabalhei durante muitos anos com um jornalista excepcional: Lúcio Flávio Pinto, um paraense de notável coragem, que dedicou toda sua vida pessoal e profissional a divulgar e defender a sua terra e a sua gente. É o maior especialista em Amazônia do jornalismo brasileiro.

Lúcio é, acima de tudo, um estudioso, um trabalhador incansável, que não se conforma com as injustiças e as bandalheiras de que são vítimas a floresta e o povo que nela habita. Por isso, foi perseguido a vida toda pelos que ameaçam a sobrevivência desta região transformando as riquezas naturais em fortunas privadas.

Agora quem está ameaçado é o próprio Lúcio Flávio, na sua luta solitária contra dezenas de processos movidos pelos poderosos na Justiça para impedí-lo de continuar denunciando os assassinos da floresta.

Quem sempre esteve ao seu lado foi Raul Martins Bastos, nosso chefe no “Estadão”, que me enviou na noite de segunda-feira a mensagem transcrita abaixo. É um libelo não só em defesa do grande jornalista, mas da nossa profissão permanentemente ameaçada nos tribunais.

Onde estão nesta hora as poderosas entidades patronais da mídia, como a ANJ e o nstituto Millenium, e seus arautos sempre tão preocupados na defesa da liberdade de imprensa e de expressão?

Lúcio está fora da grande imprensa há muitos anos, sobrevivendo com o seu  “Jornal Pessoal”, um quinzenário que produz sozinho. Talvez por isso não mereceça a atenção dos editorialistas dos jornalões e das entidades que costumam se manifestar nestas horas, como a OAB e a CNBB.

Cabe, portanto, a nós, jornalistas, sair em sua defesa como propõe o mestre Raul Bastos e sermos todos Lúcio Flávio nesta hora.
***

“A indignidade que estão fazendo contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto” é o título do texto-apelo de Raul Bastos:

“Peço que você não deixe de ler esta nota. É a história de uma injustiça. Uma indignidade.

Lúcio Flavio Pinto é um jornalista de Belém do Pará que há quase vinte anos edita uma publicação chamada Jornal Pessoal. É um profissional excepcional e fonte obrigatória quando for ser escrita a verdadeira história da região dos anos 70 para cá. Trabalhou, entre outros lugares, na Realidade, no Correio da Manhã e, por longos anos, no O Estado de S.Paulo como principal repórter da região e coordenador geral da cobertura dos correspondentes da Amazônia. Nesse período teve vida acadêmica e deu cursos sobre a Amazônia em universidades dos Estados Unidos e da Europa.

O Jornal Pessoal ele faz sozinho, da apuração à edição. Não tem publicidade. Evidentemente, o jornal luta para se manter. Mas esse é o menor problema da vida do Lúcio Flávio.

O grande problema é a pressão sistemática que ele sofre dos poderosos da região por publicar matérias que denunciam indignidades e incomodam justamente os poderosos da região. Tentam calá-lo de várias maneiras, da intimidação à agressão, e ele tem resistido bravamente.

Tentam sufocá-lo e calá-lo com 33 processos. Um deles está para ser concluído e tudo indica que poderá ser desfavorável.

Qual o “crime” do Lúcio Flávio Pinto?

O Lúcio publicou denúncias comprovadas de que estava ocorrendo uma enorme grilagem de terras na região. Com isso impediu que o empreiteiro CR Almeida fizesse na Amazônia a maior grilagem da história do Brasil. Em represália, foi processado por CR Almeida sob a alegação de ter sido chamado de pirata numa das matérias do Lúcio Flávio, o que julgou ofensivo.

Foi indo, foi indo e, agora, anos depois e por incrível que pareça, o caso está terminando assim:

Com o CR Almeida não aconteceu nada.

Com o Lúcio, se avizinha uma condenação. Com essa condenação, a perda da primariedade, uma porta aberta para a intimidação absoluta.

Os amigos do Lúcio Flávio, entre os quais com muito orgulho me incluo, decidiram que ele não pode e nem vai ficar sozinho.

Vamos batalhar para tentar esgotar todas as possibilidades jurídicas do caso.

Vamos batalhar para que o caso ganhe espaço na imprensa e nas redes sociais. Vamos chamar a atenção da imprensa especializada e internacional para o caso.

Vamos batalhar, se por acaso ocorrer o pior, para que ele tenha recursos para enfrentar a situação.

O objetivo deste email é dar conhecimento do que está acontecendo e da nossa disposição de não deixar continuar acontecendo.

O objetivo deste email é pedir a sua ajuda. Primeiro, divulgando o que está acontecendo no seu veículo de comunicação, na sua coluna, nos sites, redes sociais. Depois, nos ajudando nas ações nas áreas da comunicações e mobilização que tomaremos diante de cada circunstância.

Para quem quiser mais informações do que aconteceu e do que está acontecendo ler o texto abaixo do próprio Lúcio.

Contando com você, muito obrigado e um abraço do Raul Bastos”.
***

O texto de Lúcio Flávio Pinto:

O Grileiro vencerá?

Em 1999 escrevi uma matéria no meu Jornal Pessoal denunciando a grilagem de terras praticada pelo empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida, uma das maiores empreiteiras do país, com sede em Curitiba, no Paraná.

Sem qualquer inibição, ele recorreu a vários ardis para se apropriar de quase cinco milhões de hectares de terras no rico vale do rio Xingu, no Pará, onde ainda subsiste a maior floresta nativa do Estado, na margem direita do rio Amazonas, além de minérios e outros recursos naturais. Onde também está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte, para ser a maior do país e a terceira do mundo.

Os 5 milhões de hectares já constituem território bastante para abrigar um país, mas a ambição podia levar o empresário a se apossar de área ainda maior, de 7 milhões de hectares, o equivalente a 8% de todo o Pará, o segundo maior Estado da federação brasileira. Se fosse um Estado, a “Ceciliolândia” seria o 21º maior do Brasil.

Em 1996, na condição de cidadão, ajudei a preparar uma ação de anulação e cancelamento dos registros das terras usurpadas por C. R. Almeida, com a cumplicidade da titular do cartório de registro de imóveis de Altamira e a ajuda de advogados inescrupulosos. A ação foi recebida e todos advertidos de que aquelas terras não podiam ser comercializadas, por estarem sub-judice, passíveis de nulidade.

Os herdeiros do grileiro podem continuar na posse e no usufruto da pilhagem, apesar dessa decisão, porque a grilagem recebeu decisão favorável de dois desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado. Deve-se salientar que essas foram as únicas decisões favoráveis ao grileiro.

Com o acúmulo de informações sobre o estelionato fundiário, os órgãos públicos ligados à questão foram se manifestando e tomando iniciativas contra o golpe. O próprio poder judiciário estadual interveio no cartório de Altamira e demitiu todos os serventuários que ali trabalhavam, inclusive a escrivã titular, por justa causa.

Todos os que o empresário processou na comarca de São Paulo foram absolvidos. O juiz observou que essas pessoas, ao invés de serem punidas, mereciam era homenagens por estarem defendendo o patrimônio público.

A justiça de São Paulo foi muito mais atenta à defesa da verdade e da integridade de um bem público ameaçada por um autêntico “pirata fundiário”, do que a justiça do Pará, com jurisdição sobre o território esbulhado. C. R. Almeida considerou ofensiva à sua dignidade moral a expressão, “pirata fundiário”,  e as duas instâncias da justiça paraense sacramentaram a sua vontade.

Mesmo tendo provado tudo que afirmei fui condenado. A cabulosa sentença de 1º grau foi confirmada pelo tribunal, embora a ação tenha sido abandonada desde que Cecílio do Rego Almeida morreu, em 2008.

Depois de enfrentar todas as dificuldades possíveis, meus recursos finalmente subiram a Brasília em dezembro do ano passado. O recurso especial seguiu para o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Ari Pargendler, graças ao agravo de instrumento que impetrei (o Tribunal do Pará rejeitou o primeiro agravo; sobre o segundo já nada mais podia fazer).

Mas o presidente do STJ, em despacho do último dia 7, negou seguimento ao recurso especial. Alegou erros formais na formação do agravo: “falta cópia do inteiro teor do acórdão recorrido, do inteiro teor do acórdão proferido nos embargos de declaração e do comprovante do pagamento das custas do recurso especial e do porte de retorno e remessa dos autos”.

A falta de todos os documentos apontada pelo presidente do STJ me causou enorme surpresa. Vou tentar esclarecer a situação, sabendo das minhas limitações. Não tenho dinheiro para sustentar uma representação desse porte. Muito menos para arcar com a indenização.

Desde 1992 já fui processado 33 vezes. Nenhum dos autores exerceu o legítimo direito de defesa. O Jornal Pessoal reproduz todas as cartas que recebe, mesmo as ofensivas, na íntegra. Todos foram diretamente à justiça, certos de contarem com a cumplicidade daquele tipo de toga que a valente ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça, disse esconder bandidos, para me atar a essa rocha de suplícios, que, às vezes, me faz sentir no papel de um Prometeu amazônico.

Apesar de todas essas ações e do martírio que elas criaram na minha vida nestes últimos 20 anos, mantenho meu compromisso com a verdade, com o interesse público e com uma melhor sorte para a Amazônia, onde nasci. Não gostaria que meus filhos e netos (e todos os filhos e netos do Brasil) se deparassem com espetáculos tão degradantes, como o que vi: milhares de toras de madeira de lei, incluindo o mogno, ameaçado de ser extinto nas florestas nativas amazônicas, nas quais era abundante, sendo arrastadas em jangadas pelos rios por piratas fundiários, como o extinto Cecílio do Rego Almeida.

Depois de ter sofrido todo tipo de violência, inclusive a agressão física, sei o que me espera. Mas não desistirei de fazer aquilo que me compete: jornalismo. Algo que os poderes, sobretudo o judiciário do Pará, querem ver extinto, se não puder ser domesticado conforme os interesses dos donos da voz pública.

Decidi escrever esta nota não para pressionar alguém. Não quero extrapolar dos meus direitos. Decisão judicial cumpre-se ou dela se recorre. Se tantos erros formais foram realmente cometidos no preparo do agravo, o que me surpreendeu e causou perplexidade, paciência: vou pagar por um erro que impedirá o julgador de apreciar todo meu extenso e profundo direito, demonstrado à exaustão nas centenas de páginas dos autos do processo.

Terei que ir atrás da solidariedade dos meus leitores e dos que me apoiam para enfrentar mais um momento difícil na minha carreira de jornalista, com quase meio século de duração. Espero contar com a atenção das pessoas que ainda não desistiram de se empenhar por um país decente.

Belém (PA), 11 de fevereiro de 2012

LÚCIO FLÁVIO PINTO
Editor do Jornal Pessoal

http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2012/02/14/jornalista-ameacado-somos-todos-lucio-flavio/


 Justiça |  corrupção, democratização da Justiça, grilagem, liberdade de expressão e de opinião, território, violência

3 respostas para ““Jornalista ameaçado: somos todos Lúcio Flávio”, por Ricardo Kotscho”

Miséria nos EUA

15/02/2012 - 17h41
País mais rico do mundo, EUA têm "acampamentos da miséria"
DA BBC BRASIL

A BBC visitou nos Estados Unidos alguns acampamentos de sem-teto, cada vez mais numerosos no país desde o início da crise econômica que explodiu em 2008.

Dados oficiais apontam que cerca de 47 milhões de americanos vivem abaixo da linha pobreza e este número vem aumentando.

Atualmente há 13 milhões de desempregados, 3 milhões a mais do que quando Barack Obama foi eleito presidente, em 2008.

Algumas estimativas calculam que cerca de 5 mil pessoas se viram obrigadas nos últimos anos a viver em barracas em acampamentos de sem-teto, que se espalharam por 55 cidades americanas.

O maior deles é o de Pinella Hope, na Flórida, região mais conhecida por abrigar a Disney World. Uma entidade católica organiza o local e oferece alguns serviços aos habitantes, como máquinas de lavar roupa, computadores e telefones.

Muitos acampamentos são organizados e fazem reuniões para distribuição de tarefas comunitárias. Para alguns com poucas perspectivas de encontrar trabalho, as barracas são habitações semi-permanentes.

MOFO

Várias destas pessoas tinham vidas confortáveis típicas de classe média até pouco tempo atrás. Agora deitam sobre travesseiros tão mofados quanto suas cobertas, em um inverno no qual as temperaturas baixam a muitos graus negativos.

"Esfregamos literalmente nossos rostos no mofo toda noite na hora de dormir", diz Alana Gehringer, residente de um acampamento no Estado de Michigan, ao programa Panorama da BBC.

O agrupamento de 30 barracas se formou em um bosque à beira de uma estrada, no limite do povoado de Ann Arbor. Não há banheiros, a eletricidade só está disponível na barraca comunitária onde os residentes se reúnem ao redor de uma estufa de madeira para espantar o frio.

O gelo se acumula nos tetos das barracas e a chuva frequentemente as invade. Mesmo assim, mais pessoas querem morar ali.

A polícia, hospitais e albergues públicos ligam com frequência perguntando se podem enviar pessoas ao acampamento.

"Na noite passada, por exemplo, recebemos uma ligação dizendo que seis pessoas não tinham vaga no albergue. Recebemos de 9 a 10 telefonemas por noite", diz Brian Durance, um dos organizadores do acampamento.

A realidade dos abrigados da Flórida e de Michigan é a mesma em vários lugares.

Na segunda-feira, Obama revelou planos de aumentar os impostos sobre os mais ricos. "Queremos que todos tenham uma oportunidade justa."

O presidente americano mencionou os que "lutam para entrar na classe média". Em Pinella's Hope, em Arbor e em outros dezenas de locais no país, além dos que querem entrar na classe média, há os que foram expulsos dela pela crise e que desejam voltar.






Extraído de Folha.com

Novo crime contra o patrimônio do povo


*SINPAF articula ofensiva contra projeto da Embrapa S.A. no Senado*

*A batalha imediata contra o projeto agora se dá na CAE, composta por 27
titulares e 27 suplentes, alguns dos quais também compõem a Comissão de
Agricultura e Reforma Agrária (CRA), que em setembro de 2009 votou pela sua
rejeição. “Esse projeto não pode continuar tramitando sem que os
trabalhadores sejam ouvidos”, afirma Vicente.*



O presidente do SINPAF, Vicente Almeida, enviou carta ao senador Delcídio
Amaral (PT-MS), autor do PLS 222/08, que propõe a abertura de capital da
Embrapa, solicitando audiência para tratar do assunto. Amaral também
preside a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde a matéria
tramita atualmente sob a relatoria do senador Gim Argello (PTB-DF), que
apresentou parecer favorável à proposta no último dia 1º.

Conhecido como “projeto da Embrapa S.A.”, o PLS 222/08 autoriza a abertura
do capital da empresa, que passaria a ser uma sociedade de economia mista
com ações negociadas na bolsa de valores. Apesar de resguardar o controle
da empresa à União, o projeto possibilita maior avanço dos interesses
privados dentro da Embrapa, “que já influenciam no direcionamento da
pesquisa por meio de convênios e parcerias sem prestação de contas para a
sociedade”, observa Vicente.

A Diretoria Nacional do SINPAF buscará o apoio dos demais parlamentares
envolvidos na tramitação do projeto. A batalha imediata contra o projeto
agora se dá na CAE, composta por 27 titulares e 27 suplentes, alguns dos
quais também compõem a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), que
em setembro de 2009 votou pela sua rejeição.

O parecer de Argello ainda precisa da aprovação dos demais membros da CAE,
no entanto, a tradição parlamentar é de que a comissão siga o voto do
relator. Independente do parecer oficial, que não tem data para ser votado
apesar do Regimento Interno do Senado prever um prazo de 15 dias corridos a
partir da apresentação do relatório, a matéria ainda será votada na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em caráter terminativo (sem
apreciação no plenário). Caso seja aprovada, seguirá para a Câmara dos
Deputados.

Na carta enviada ao autor da proposta, o presidente do SINPAF ressalta que
os trabalhadores da Embrapa têm debatido substancialmente os possíveis
rumos da empresa e apontado para seu aprimoramento como órgão de gestão
estratégica do governo brasileiro de forma a garantir a flexibilização
necessária à desburocratização de alguns processos, “sem, no entanto, abrir
caminho para riscos associados à soberania, segurança e autonomia
tecnológica e alimentar do país”. “Queremos contribuir com o debate sobre
uma verdadeira reforma política e administrativa na Embrapa no sentido de
que ela seja um grande instrumento de formulação de políticas públicas
voltadas à segurança e soberania do povo brasileiro”, ressalta Vicente na
correspondência enviada ao senador.

*Inconstitucional*
Juristas ouvidos pela reportagem avaliam que a matéria pode ser extinta já
na CCJ, pois seria inconstitucional. “O projeto modifica a administração
pública, e isso só pode ser feito por meio de projeto de iniciativa do
poder Executivo. Então, só por esse aspecto, ainda que seja aprovado,
deverá ser considerado inconstitucional pelos tribunais, esse ponto é
extremamente relevante e deve ser considerado pelos parlamentares”, explica
o advogado Dalmo de Abreu Dallari, consultor do SINPAF na época em que o
projeto foi apresentado no Senado.

*Trabalhadores defendem Embrapa 100% pública e democrática*
Em outubro de 2008 o SINPAF realizou o Seminário Nacional Estrutura
Institucional das Empresas de Pesquisa Agropecuária, em Brasília, com a
participação de cerca de cem trabalhadores da Embrapa. O fórum encaminhou
pela retirada do PLS 222/08 e reafirmou a necessidade de democratização de
sua gestão. “Esse projeto não pode continuar tramitando sem que os
trabalhadores sejam ouvidos”, afirma Vicente.

Leia o projeto: http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/13375.pdf
Parecer da CRA: http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/65033.pdf
Relatório Gim Argello: http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/102373.pdf



Em 16 de fevereiro de 2012 13:04, Vicente Almeida
<vicentalmeida@gmail.com>escreveu:

> ****
>
>
>>  Abertura de capital da Embrapa ganha impulso
>> Por *Tarso Veloso | De Brasília*
>>  <http://www.valor.com.br/sites/default/files/gn/12/02/foto16agr-101-embrapa-b30.jpg>
>> [image: Ruy Baron/Valor / Ruy Baron/Valor]<http://www.valor.com.br/sites/default/files/gn/12/02/foto16agr-101-embrapa-b30.jpg>O
>> senador Gim Argello, que votou favoravelmente à transformação da Embrapa
>>
>> O projeto de lei que pretende abrir o capital da estatal Empresa
>> Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e transformá-la em uma
>> sociedade de economia mista recebeu voto favorável do senador Gim Argello
>> (PTB-DF), relator do projeto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
>> Senado, no dia 1º de fevereiro. Depois de apreciado pelo plenário da CAE, o
>> texto seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde será
>> votado em caráter terminativo. Se for aprovado na CCJ, seguirá diretamente
>> para a Câmara.
>>
>> Mesmo que a transformação da Embrapa receba sinal verde definitivo no
>> Congresso, o Projeto de Lei 222/2008, de autoria do Senador Delcídio Amaral
>> (PT-MS), prevê a manutenção de seu controle nas mãos da União, que
>> preservaria mais de 50% das ações com direito a voto. Para Amaral, a
>> capacidade de investimento da estatal foi sendo reduzida nos últimos anos e
>> uma injeção de recursos privados pode viabilizar o aumento de suas
>> pesquisas. Atualmente, a Embrapa usa mais de 70% de seu orçamento para
>> cobrir custos de pessoal e encargos.
>>
>> A discussão se arrasta há anos. Em agosto de 2009, a Comissão de
>> Agricultura e Reforma Agrária (CRA) votou pela rejeição do projeto. Após a
>> decisão da CRA, o PL foi submetido à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE),
>> em setembro de 2009. Ficou parado e, em 17 de março de 2011, o presidente
>> da comissão, Delcídio Amaral designou o colega Gim Argello para a relatoria.
>>
>> O parecer da CRA, com relatoria do ex-senador Expedito Júnior (PSDB-RO),
>> afirmou que a abertura de capital da Embrapa à iniciativa privada
>> diminuiria da atuação da estatal em projetos de caráter social, e que tal
>> medida poderia colocar em risco o grau de desenvolvimento da pesquisa
>> agropecuária nacional. A CRA não constava no despacho inicial de
>> distribuição do PL e só tramitou por ela após requerimento.
>>
>> Em seu voto, o relator Gim Argello discorda do argumento e diz que "a
>> alocação de recursos para pesquisa agropecuária tem sido muito prejudicada
>> e tende a continuar assim. Portanto, novas soluções para o financiamento da
>> pesquisa devem ser encontradas". Segundo o relator, com a mudança serão
>> feitos mais investimentos "Não se muda time que está ganhando. Vamos manter
>> as coisas boas e melhorar as que precisam ser melhoradas", disse.
>>
>> O próprio Amaral reconhece que o projeto é polêmico. "É polêmico e
>> prudente. Vamos abrir para dinheiro privado, mas com o controle do
>> governo", afirmou. O senador cita a Petrobras como exemplo e disse que
>> ainda vai se reunir com a Embrapa para discutir mudanças no texto. "Vamos
>> permitir uma valorização dos servidores da Embrapa e vamos nos reunir com
>> membros da estatal para fazer ajustes no texto".
>>
>> O relator afastou a hipótese de que multinacionais que eventualmente
>> comprem muitas ações possam colocar pressão para que sejam realizadas
>> pesquisas somente em áreas de interesse comercial. "As empresas não têm
>> interesse em investir na Embrapa. Elas já possuem grandes laboratórios e
>> equipes de cientistas", disse Argello.
>>
>> O relator também deixou claro que os recursos genéticos depositados nos
>> bancos de pesquisas da Embrapa distribuídos pelo país terão seu valor
>> calculado pelos técnicos da instituição. "Eu acredito que isso vale tanto
>> quanto diamante e não tem como mensurar", afirmou ele.
>>
>> --

Editorial do jornal Brasil de Fato



      Aves de  Rapina

      Entre os significados de rapina encontra-se o ato de praticar o roubo ardiloso, velhaco, espertalhão.

      No dia 25/1, no Estádio Pacaembu, em São Paulo, o presidente em exercício da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin, ao 79anos de idade, tratou de surrupiar uma das medalhas de ouro, destinadas aos jogadores  do Corinthians, time campeão da Copa São Paulo de Juniores/2012.  Marin já foi deputado estadual, vice-governador de SP, na chapa de Paulo Maluf – por 10 meses foi governador paulista – e, em 2008, recebeu do Ministério Público do Estado de São Paulo o “Colar do Mérito Institucional do Mistério Público”.  Ao que indica, o colar foi insuficiente para aplacar a sede medalhas do velho cartola do futebol.  No momento em que embolsava a medalha Marin estava representando o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Este, está na mira da Policia Federal e do Ministério Público sob suspeita de enriquecimento ilícito,  lavagem de dinheiro e recebimento de propina, junto com outros dirigentes da Fifa (Federação Internacional de Futebol). O futebol brasileiro, e os milionários negócios envolvendo a Copa do Mundo de 2014, estão nas mãos dessa dupla.

      Para alguns, o roubo da medalha no Pacaembú foi hilário. Ate poderia ser, se o gesto flagrado pelas câmeras de televisão não evidenciasse a facilidade e a impunidade com que as elites promovem a rapinagem da riqueza produzida pelo povo brasileiro.

      Em 2011 a indústria automobilística, instalada no Brasil, enviou 5,58 bilhões de dólares em lucros e dividendos para suas matrizes no exterior. Esse montante é 36% superior ao valor enviado em 2010. No mesmo período a produção de automóveis aumentou apenas 0,7%. E é essa mesma indústria que reclama incessantemente da carga tributária do nosso país, constantemente reivindica incentivos fiscais e financiamentos públicos de investimentos e não aceita qualquer interferência do Estado nos problemas existentes na cadeia produtiva das montadoras, sejam ambientais ou trabalhistas.

      E, pasmem, a quantia de US$5.58 bilhões não é resultante do controle do Banco Central sobre as remessas de lucros enviadas ao exterior. Essa foi a quantia que os próprios fabricantes de veículos registraram no BC. O BC não publica nem a lista das empresas que remetem seus lucros e muito menos, os valores individuais envolvidos. Como as empresas também não publicam essas informações, a riqueza é extraída daqui de forma quase sigilosa, prática dos que temem prestar conta dos seus atos.

      O Banco Itaú se vangloria de ter alcançado, em 2011, o maior lucro da história do sistema financeiro nacional. Açambarcou um lucro de R$ 14,6 bilhões. Essa riqueza concentrada na forma de lucro de um banco, para alguns, atesta a vitalidade da  economia brasileira. Mas, esconde e agudiza a gritante e vergonhosa desigualdade social e econômica existente em nosso país. No mesmo período, em 2011, o Itaú fechou 4.058 postos de trabalho. E as tarifas de serviços que ele cobra dos seus clientes cobrem, representam quase uma vez e meia as despesas de pessoal do banco. Será coincidência que esse banco é um dos principais patrocinadores da CBF comandada por Ricardo Teixeira?

      Em meados do ano passado, o Inesc (Instituto Nacional de Estudos  Socioeconômicos) divulgou um estudo onde mostrou que, somente em 2009, cerca de US$ 60 bilhões saíram do Brasil diretamente para os chamados paraísos fiscais. Como se sabe, os países tidos como paraísos fiscais atraem dois tipos de crimes: a lavagem de dinheiro (dinheiro do crime, droga, contrabando, tráfico de armas e seres humanos, corrupção, etc.) e a sonegação fiscal.

      Em 2004, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banestado – no processo de privatização foi comprado pelo Banco Itaú – estimou que o envio irregular de dinheiro aos paraísos fiscais, por meio das contas CC5, chegaria  a R$ 150 bilhões. A mesma CPI sugeriu o indiciamento de 91 pessoas envolvidas nessas remessas irregulares de dinheiro ao exterior. Até o momento não há noticias da existência de processos contra essas pessoas e muito menos da recuperação de, pelo menos, parte desse dinheiro depositado no exterior. 

      Aquela CPI, depois de um acordão entre  PT e PSDB, perdeu uma oportunidade histórica de punir os que roubam o povo brasileiro.

      No final de 2011, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. Lançou o livro A Privataria Tucana, com farta documentação mostrando a roubalheira do patrimônio publico que ocorreu através do programa de privatização feito no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e que enriqueceu o ex-governador de SP, José Serra, sua filha e um seleto grupo de pessoas próximas a ele. As acusações são graves e documentadas. Há uma CPI instalada e espera-se que ela não tenha o mesmo fim que teve a CPI do Banestado. Enquanto isso, o ex-governador tucano escafedeu-se num silencio típico dos que sabe que não tem resposta às acusações. Mais estranho ainda é o silencio do Ministério  Público Federal, Poder Judiciário e Policia Federal. Só servem para averiguar e punir os ladrões de galinhas?

      A medalha surrupiada no Pacaembú, continua em poder do cartola, enquanto providenciaram outra para seu legitimo dono,o goleiro do time campeão da Copinha.

      As bilionárias continuas de dinheiro enviadas para exterior, concentradas nos  lucros dos bancos, depositadas em paraísos fiscais, fazem falta na construção de moradias populares, no sistema de saúde e educação, no saneamento e nos transporte públicos. Diminuir a pobreza extrema e combater a desigualdade social existente na 6ª economia mundial, exige enfrentar e combater os privilégios dos que acumulam uma imoral e, não raras vezes, ilegal riqueza.  Política que nenhum governo, até o momento, sinaliza disposição e coragem para implementar.