terça-feira, 12 de setembro de 2017

"Jacobinos" da Lava Jato provam do próprio "terror"


Política

Justiça

"Jacobinos" da Lava Jato provam do próprio "terror"

por André Barrocal — publicado 08/09/2017 00h45, última modificação 08/09/2017 06h52
Casos Miller-Friboi e Moro-Duran colocam carrascos na posição de alvo, como na Revolução Francesa
Marcelo Camargo / ABr e Lula Marques / AGPT
Janot e Moro
Janot e Moro: e agora?


Um ex-procurador de Justiça da Operação Lava Jato, Marcelo Miller, é suspeito de ter tramado com a JBS-Friboi um jeito de induzir o presidente Michel Temer se incriminar, e agora tem de se explicar. O juiz Sérgio Moro, estrela da operação, tem um padrinho de casamento acusado de comercializar vantagens para delatores lá na 13a Vara Federal de Curitiba, e também tem de se explicar.
No Congresso, símbolo maior da presa nas caçadas de Miller e Moro, a classe política, há quem considere os episódios pedagógicos.
“Estamos vendo acontecer aqui o que aconteceu com os jacobinos dos comitês de salvação pública da Revolução Francesa: os algozes – juízes, procuradores – viraram vítimas”, diz o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). “É para a sociedade ver que o problema do Brasil é um pouco mais complexo, não é só da política, dos políticos.”
Os jacobinos eram os radicais da Revolução Francesa (1789), mais ligados às massas. Comandaram a segunda fase do movimento, a do “Terror”, em que a guilhotina trabalhou sem descanso. Criaram os Comitês de Salvação Pública para defender a Revolução e depois membros dos comitês acabaram sem a cabeça, caso de Danton. Quando terminou a fase do Terror, o máximo líder jacobino também perdeu a dele, Robespierre.
Miller deve depor nesta sexta-feira 8 na Procuradoria-Geral da República (PGR), onde trabalhou por anos até ser exonerado em abril. Terá de esclarecer suspeitas sobre si surgidas das confidências trocadas pelos criminosos delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud em uma gravação conhecida nos últimos dias.
Na gravação, há indícios de que Miller sabia do plano da dupla friboiana de escapar da cadeia grampeando figurões da República – caso de Temer naquela conversa na calada da noite no Palácio do Jaburu em 7 de março – para entregar a cabeça deles à PGR em troca de um acordo generoso de delação. Não só sabia, como teria sido uma espécie de co-autor do plano.
Ao anunciar a existência da gravação, o procurador-geral, Rodrigo Janot, comentou que poderia ter havido crime de improbidade por parte de Miller. Ex-amigo e hoje desafeto de Janot, o ex-ministro da Justiça Eugenio Aragão explicou em entrevista recente a CartaCapital qual seria o pepino.
“As conversas dão conta de um acerto entre o então procurador Marcelo Miller e os investigados antes da ida de Joesley Batista ao Palácio do Jaburu. Parece claro um método e um objetivo: o empresário agiria para colocar palavras na boca de Michel Temer. Ou seja, o Joesley atuou, sem autorização judicial, como uma longa mão do Ministério Público.”
“Longa manus do presidente Michel Temer” foi como Janot descreveu o homem da mala, Rodrigo Rocha Loures, em um dos pedidos de prisão do maleiro apresentados à Justiça.
Na conversa com Saud, Joesley expôs sua intenção de ser um “longa manus” do PGR. “Nós vai acabar virando amigo desse Ministério Público, cê vai ver. Nós vai virar amigo desse Janot, nós vai virar funcionário desse Janot.”
O que torna a situação de Miller complicada não é a gravação friboiana isoladamente, mas uma sequência de fatos que o levou à condição de “longa manus” da JBS.
Miller pediu demissão da Procuradoria em 23 de fevereiro. Saiu de férias em março e encontrou Joesley. Foi em março que ocorreu a conversa das confidências entre Joesley e Saud (dia 17). Miller foi exonerado de fato em 5 de abril e seis dias depois ia à Procuradoria para uma reunião na qualidade de um dos advogados da Friboi, a fim de negociar um acordo de leniência.
Na PGR, um subprocurador-geral tem impressão parecida com a de Aragão sobre o papel duvidoso de Miller na delação da Friboi.
“Fiquei com a impressão de que ele cavou as delações, elas não foram voluntárias. Isso é que torna o acordo de delação nulo, e não a apregoada omissão do Joesley e do Ricardo em contar todos os crimes. Afinal, não levaram a gravação no último dia de prazo? Não vajo omissão deles.”
E o caso de Moro, o Robespierre tupiniquim? Viu-se enrolado em uma trama pouco noticiada até agora, uma história publicada inicialmente na Folha de S. Paulo.
Um ex-advogado da empreiteira Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran, acusa um padrinho de casamento do juiz, Carlos Zucolotto Junior, de comercializar delações na 13a Vara Federal de Curitiba. Zucolotto não priva apenas da intimidade de Moro enquanto amigo. Foi sócio da mulher do magistrado, Rosangela, em uma banca de advogados.
Um documento da Receita Federal mostra que o escritório de Duran contratou serviços do escritório de Zucolotto e Rosangela. Esse elo, revelado pela revista Veja, poderia levar ao questionamento da imparcialidade de Moro para julgar casos a envolver Duran e, quem sabe, a Odebrecht, cliente de Duran entre 2011 e 2016.
Logo após a acusação de Duran, Moro divulgou uma nota em que diz, entre outras coisas, que a Folha não deveria dar crédito ao relato de um foragido (Duran está na Espanha, onde tem cidadania).
Diante da resposta do juiz, um famoso criminalista atuante em Brasília, defensor de encrencados na Lava Jato, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, divulgou um texto a mostrar como o algoz Moro poderia ser vítima do próprio jacobinismo.
“O juiz diz que não se deve dar valor à palavra de um ‘acusado’. Opa, isto é rigorosamente o que ele faz ao longo de toda a operação!”, diz.
“O fato de o juiz ter entrado em contato diretamente com o advogado Zucolatto, seu padrinho de casamento, para enviar uma resposta à Folha, ou seja combinar uma resposta para a jornalista, seria interpretado como obstrução de justiça, com prisão preventiva decretada com certeza”, prossegue.
“Ou seja, embora exista a hipótese de os fatos serem falsos o que nos resta perguntar é como eles seriam usados pela República do Paraná? Se o tal Deuslagnol não usaria a imprensa e a rede social para expor estes fortes "indícios" que se entrelaçam na visão punitiva. Devemos continuar dando a eles a presunção de inocência, mesmo sabendo que eles agiriam de outra forma.”
Agiriam com guilhotina.

"Governo não tem mais margem fiscal para comprar parlamentares"

"Governo não tem mais margem fiscal para comprar parlamentares"

POLÍTICA
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"Converso com muitos deputados. Eles sentem a pressão depois de votações impopulares", diz Orlando Silva
Por Eduardo Maretti
Da Rede Brasil Atual
A cada semana que passa, o governo perde mais poder de fogo para aprovar reformas que exigem quórum qualificado no Congresso Nacional, caso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/16, que trata da reforma da Previdência. “O governo não dispõe mais de margem fiscal para ficar comprando parlamentares para aprovar essas matérias. Quanto mais desgastada a imagem do governo, mais difícil ter apoio junto aos parlamentares”, avalia o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Para ele, o governo Michel Temer não tem mais como “compensar”, do ponto de vista dos interesses dos parlamentares, as chamadas contrapartidas em troca do voto: liberação de emendas, nomeação de pessoas, incentivo fiscal para setores representados pelos parlamentares.
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Embora com discurso menos enfático sobre o enfraquecimento do governo, a opinião do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – presidente da República em exercício durante a viagem de Temer à China –, é semelhante. Nesta segunda-feira (4), ele declarou: "Não dá para negar que a relação de forças do governo no Congresso perdeu alguma força. Esse tipo de ato, uma denúncia, gera desgaste, gera algum tipo de desarticulação", em referência à esperada nova denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer. Para ser aprovada na Câmara, a PEC 287 precisa de 308 votos. O governo não passa de 280 votos, de acordo com Rodrigo Maia.
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Na opinião de Queiroz, a análise de Maia é realista. “O diagnóstico é que o governo perde legitimidade a cada momento que passa, dada as suas políticas de desmonte do Estado, em que a população não tem serviços públicos, já que os recursos estão todos contingenciados ou voltados para outros compromissos que não aqueles que interessam à maioria da população, que, mais do que nunca, precisa do apoio do Estado nesse momento de recessão e desemprego elevado.”
“A reforma da Previdência está às vésperas de ser sepultada”, diz o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). “A greve geral de abril, que teve a reforma da Previdência como centro, provocou grande repercussão no Congresso Nacional, e o que vai barrar a reforma é um mix de crise política com reação da sociedade. As pesquisas mostram que a grande maioria é contrária a essa reforma. O governo faz pesquisa, controla redes sociais, sabe que há uma grande contestação. O governo nunca teve votos para aprovar a reforma da Previdência”, acrescenta.
Maia afirmou ainda que sua expectativa é de que a reforma da Previdência tem de ser aprovada logo, para ter alguma chance, o que é um indicativo claro de que ele conhece a tendência de a base do governo se enfraquecer ainda mais. “Ou vai aprovar em outubro, em novembro, ou não vai aprovar”, disse, em evento em São Paulo. Mas reconheceu: “O problema não é a data, é ter voto para votar. Hoje tem menos votos do que antes”.
Eleições 2018
Já nesta terça-feira (5), Maia refutou a ideia de que a aprovação da PEC da Previdência ameaça o desempenho eleitoral dos parlamentares em 2018. “Vou seguir tentando convencer os líderes de que a aprovação da reforma da Previdência não vai tirar votos”, disse.
Na opinião de Orlando Silva, essa avaliação “é uma ilusão”. “Deputado vai ver o desgaste da reforma da Previdência e de votar contra a denúncia de Temer (pela PGR) na eleição. Eu converso com muitos deputados. Eles sentem a pressão depois de votações impopulares. No caso da Previdência, é quase unanimidade: é gente da ativa, são inativos, funcionários públicos e de empresa. Para o deputado que votar essa medida é uma sentença de morte política.”
Na opinião do cientista político do Diap, se a avaliação de Maia de que a base de Temer se enfraqueceu é realista, sua previsão de que a reforma da Previdência precisa ser votada em outubro ou novembro para ter chance não é. “Não tem chance de aprovar isso. Eles sabem que o problema não é a reforma da Previdência. O problema é o congelamento do gasto público, é essa política suicida do governo de não querer encarar as coisas como elas são. Ele quer fazer uma reforma do agrado do mercado, mas que penaliza os mais pobres e não resolve o problema”, diz Queiroz. “Matérias que exigem quórum qualificado de três quintos, como a PEC da Previdência, realmente é muito difícil de ser aprovada.”

PF e delação de Funaro deixam Temer encurralado novamente E AGORA, JOSÉ?

Política

Justiça

PF e delação de Funaro deixam Temer encurralado novamente

por Redação — publicado 12/09/2017 12h55
Inquérito policial conclui que o presidente da República tinha poder de decisão no "quadrilhão do PMDB"
Rogério Melo/PR
Temer
Investigadores da PF concluem que Temer comandava o "quadrilhão do PMDB"
Durou pouco tempo para Michel Temer a calmaria trazida pelo escândalo nos acordos de colaboração premiada de Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS. Um dia depois de o mercado celebrar a desmoralização dos acusadores do presidente e a classe política ressuscitar a reforma da Previdência, o presidente se vê acuado por um relatório da Polícia Federal que conclui ter Temer um papel de comando no chamado "quadrilhão do PMDB" e por um novo delator, o doleiro Lucio Funaro.
O relatório da PF apura a possibilidade de integrantes do PMDB na Câmara terem montado uma organização criminosa para desviar dinheiro público. O documento, assinado pelos delegados Marlon Cajado e Cleyber Lopes, foi enviado pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira 11 e teve trechos divulgados por diversos veículos de imprensa.
A conclusão dos investigadores da PF é de que Temer comandava o grupo, utilizava terceiros para executar tarefas e teria recebido vantagens que totalizam 31,5 milhões de reais. O documento não traz novidades para as investigações, mas compila diversas acusações contra Temer, nas quais aparecem também outros cinco peemedebistas: os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) e os ex-deputados Eduardo Cunha (RJ), Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Alves (AL). Os três últimos estão presos.
"Ao lado de Eduardo Cunha, os elementos analisados nos autos demonstram que o presidente Michel Temer possui poder de decisão nas ações do grupo do 'PMDB da Câmara', tanto para indicações em cargos estratégicos quanto na articulação com empresários beneficiados nos esquemas, para recebimento de valores, sob justificativa de doações eleitorais", afirma a PF, segundo a Folha de S.Paulo.
"E, como em toda organização criminosa, com divisão de tarefas, o presidente Michel Temer se utiliza de terceiros para executar ações sob seu controle e gerenciamento. Assim, podemos identificar nos autos diversas situações em que utiliza de Moreira Franco e Eliseu Padilha e mesmo de Geddel Vieira como longa manus, e seus prepostos, a exemplo da captação de recursos da Odebrecht e OAS (concessão dos aeroportos)", afirmam os investigadores.
É dessas acusações que vêm os 31 milhões, soma, segundo o relatório, dos "R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) pagos para Rocha Loures (Operação Patmos), R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) em doações pelo Grupo Odebrecht. Há ainda notícia de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) referente ao PAC SMS da Odebrecht. Soma-se ainda notícia de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) supostamente pago ao coronel [João Baptista] Lima, pelo Grupo J&F Investimentos."
O termo longa manus, expressão latina que designa um executor de ordens, foi usado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para descrever o ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures, também do PMDB. Loures foi preso após ser flagrado correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala com 500 mil reais.
Agora, a investigação da Polícia Federal servirá para embasar a eventual nova denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer. Essa tarefa deveria caber a Rodrigo Janot, mas com seu enfraquecimento político diante do escândalo nas delações, não se sabe se ele apresentará a denúncia. Se não o fizer, caberá a Raquel Dodge, sucessora de Janot, esse papel. Nomeada por Temer, Dodge assume a PGR em 18 de setembro e seu perfil de atuação ainda é considerado uma incógnita.
O papel de Funaro
Uma das bases da Polícia Federal na investigação contra Temer é a delação premiada de Lucio Funaro, doleiro ligado a Eduardo Cunha e que seria operador financeiro do "quadrilhão do PMDB". A delação foi homologada pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF, mas segue sob sigilo.
Há dias, trechos da delação têm vazado para a imprensa, mas o relatório da PF dá veracidade ao conteúdo das acusações feitas pelo doleiro. Como em todas as delações, não se tratam de provas, mas de indícios de provas.
Segundo a PF, diz a Folha, Funaro afirmou que presenciou em 2012 um telefonema no qual o então vice-presidente Michel Temer avalizou pagamentos eleitorais como um "pedágio" por liberação de créditos da Caixa Econômica Federal. 
Em outro caso, o empresário Henrique Constantino, da empresa aérea Gol, teria dito a Funaro que os recursos destinados à campanha de Gabriel Chalita (PMDB-SP) à Prefeitura de São Paulo, em 2012, teriam sido solicitados por Temer como contrapartida pela liberação de recursos de um fundo público de investimento.
De acordo com a PF "houve circulação de valores decorrentes de esquemas ilícitos que foram pagos 'a pedido' de Michel Temer, como os R$ 5.460.000,00 (cinco milhões quatrocentos e sessenta mil reais) empregados na campanha de Gabriel Chalita [...]. Por fim, há que se considerar as doações oficiais e em 'caixa 2' realizadas em favor da campanha do seu também apadrinhado político, Paulo Skaf, para Governador do Estado de São Paulo nas eleições de 2014."
Outro lado
Temer "não participou e nem participa de nenhuma quadrilha", afirmou a Presidência em comunicado após a divulgação do inquérito. Temer tampouco fez parte de qualquer "estrutura com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagens indevidas em órgãos da administração pública". 
Ainda segundo a Presidência, Temer "lamenta que insinuações descabidas, com intuito de tentar denegrir a honra e a imagem pública, sejam vazadas à imprensa antes da devida apreciação pela justiça".
Em uma segunda nota, divulgada nesta terça-feira 12, Temer foi mais incisivo e afirmou que "garantias individuais estão sendo violentadas" e criticou as delações, afirmando que "facínoras roubam do país a verdade".
Confira abaixo a íntegra da nota:
O Estado Democrático de Direito existe para preservar a integridade do cidadão, para coibir a barbárie da punição sem provas e para evitar toda forma de injustiça. Nas últimas semanas, o Brasil vem assistindo exatamente o contrário.
Garantias individuais estão sendo violentadas, diuturnamente, sem que haja a mínima reação. Chega-se ao ponto de se tentar condenar pessoas sem sequer ouvi-las. Portanto, sem se concluir investigação, sem se apurar a verdade, sem verificar a existência de provas reais. E, quando há testemunhos, ignora-se toda a coerência de fatos e das histórias narradas por criminosos renitentes e persistentes. Facínoras roubam do país a verdade. Bandidos constroem versões “por ouvir dizer” a lhes assegurar a impunidade ou alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes. Reputações são destroçadas em conversas embebidas em ações clandestinas.
Muda-se o passado sob a força de falsos testemunhos. Vazamentos apresentam conclusões que transformam em crimes ações que foram respaldas em lei: o sistema de contribuição empresarial a campanhas políticas era perfeitamente legal, fiscalizado e sob instrumentos de controle da Justiça Eleitoral. Desvios devem ser condenados, mas não se podem criminalizar aquelas ações corretas protegidas pelas garantias constitucionais.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República

Funaro entrega o coronel Lima e confessa ‘mamata nuclear’ de Temer

Funaro entrega o coronel Lima e confessa ‘mamata nuclear’ de Temer

O Globo divulga agora à noite que, na sua delação, o doleiro Lúcio Funaro confirma que havia pagamento de propina a Michel Temer pelos contratos de construção da usina de Angra 3.
O doleiro, chamado gentilmente pelo jornal de “corretor” listou “quatro pessoas como operadores do presidente: José Yunes, seu ex- assessor, Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura, Marcelo Azeredo e o coronel João Batista Lima Filho. De acordo com o relato, Yunes seria o principal intermediário e usava a empresa de Lima, a Argeplan, para lavar os ganhos indevidos com o contrato de Angra 3”.
A delação é, afinal, o que todos já sabiam.
Como é que uma empresa à qual Lima se associa, de repente, num passe de mágica, se associa a uma multinacional para tocar obras de grande complexidade?
Aliás, é inacreditável como este personagem, de ligações históricas com temer tenha ficado, até agora ao menos, fora da linha de frente das investigações.
Ele e Yunes são as máquinas de lavar da área de serviço de Temer.

O mensalão de Beto Richa

Política

Paraná

O mensalão de Beto Richa

por René Ruschel — publicado 12/09/2017 00h30, última modificação 11/09/2017 13h14
Em delação, empreiteiro cita repasses mensais ao governador do Paraná em meio a esquema de desvios em escolas do estado
Beto Richa
A campanha ao Senado está ameaçada
O governador do Paraná, Beto Richa, do PSDB, andava esquecido em meio a tantas denúncias de corrupção Brasil afora. Não mais. O empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor, preso durante a Operação Quadro Negro, que investiga o desvio de mais de 22 milhões de reais na construção de escolas no estado, fechou acordo de delação premiada, à espera apenas da homologação pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.
Souza acusa Richa de ser o principal favorecido no esquema de propina que teria abastecido sua campanha à reeleição em 2014. O empreiteiro citou ainda o atual chefe da Casa Civil do governo estadual, Valdir Rossoni, e o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB), ambos correligionários do governador. 
Segundo o delator, a negociação para fraudar o Erário era conduzida por Mauricio Fanini, à epoca diretor da Superintendência de Desenvolvimento Educacional, amigo pessoal e homem de confiança de Richa. Para demonstrar intimidade com o governador, Fanini citava viagens em companhia do tucano (fotos a respeito foram anexadas ao inquérito decorrente da Quadro Negro).
O dinheiro, aponta o empreiteiro, era entregue a Fanini na sede da superintendência. Os primeiros valores chegaram em mochilas. O empresário conta que entrava por uma porta lateral do prédio e deixava a quantia no banheiro da sala do diretor, “ao lado do vaso sanitário”.
A partir de outro momento, para aumentar a segurança, os valores eram guardados e entregues em caixas de vinho. Os repasses foram efetuados entre abril e setembro de 2014. Fanini era responsável pela elaboração dos relatórios falsos sobre as obras contratadas pela Valor e não realizadas. O plano era arrecadar 32 milhões de reais para a campanha de Richa.
Souza vencia as licitações com ofertas 20% abaixo dos preços médios praticados pelo mercado. Mais tarde, os contratos eram reajustados. A Construtora Valor conseguiu sete aditivos que somaram mais de 6 milhões de reais. De acordo com um empresário do setor, era impossível competir com os preços apresentados pela empreiteira. “Não havia lógica. Em alguns casos, chegava a 25% menos”, afirmou.
O delator afirmou ainda que, em janeiro de 2015, Fanini o chamou para repassar um recado de Richa: seria necessário repassar mais dinheiro para o esquema. O tucano pretendia montar um fundo de campanha para sua almejada candidatura ao Senado em 2018.
Os recursos também seriam usados nas campanhas a deputado federal de seu irmão, Pepe Richa, e a deputado estadual do filho Marcelo. Ainda segundo Souza, a Valor pagou um “mensalão” no valor de 100 mil reais até junho, quando o escândalo veio à tona e Fanini foi demitido.
Além de Richa, Traiano, presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, teria recebido 300 mil reais por meio de caixa 2, em três parcelas de 100 mil. Duas delas teriam sido levadas em malas até o gabinete do deputado. A outra teria sido entregue em sua residência. Em uma das entregas, detalha Souza, havia uma quantia a mais. Ao perceber a diferença, o deputado quis saber se o empreiteiro não poderia aumentar o valor do repasse. Resposta: a diferença “estava prometida para a campanha do governador”.
O repasse a Rossoni somaria 460 mil reais. “Quando ele me via, me chamava no canto e falava ‘e aí, Eduardo, tem coisa boa pra mim hoje?’, esfregando as mão”, contou o delator aos procuradores do Ministério Público Federal. No depoimento, o empresário afirma ter sido Rossoni quem o apresentou a Fanini. Confirmou ainda que as primeiras obras públicas executadas por sua empresa foram realizadas em 2011 em Bituruna, no sul do Paraná.
Coincidentemente, Bituruna é o reduto eleitoral da família Rossoni. Valdir e o filho Rodrigo foram prefeitos da cidade. O herdeiro enfrenta, aliás, problemas com a Justiça por conta de atos de sua administração. O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de União da Vitória, Luis Mauro Lindemeyer Eche, determinou, em março último, o bloqueio de seus bens em face das denúncias do Ministério Público, por ter, supostamente, atuado para direcionar uma licitação na reforma de uma escola no município.
A obra foi realizada em 2011 e a construtora responsável era justamente a Valor. 
Os tentáculos da corrupção, ainda segundo o delator, estenderam-se ao Tribunal de Contas do Estado. Fanini teria insinuado que seria “bom ter alguém do tribunal com eles”.
Souza articulou contribuições à campanha a deputado estadual de Tiago, filho do conselheiro do TCE Durval Amaral. Richa nega as acusações e classifica as afirmações do delator de “mentirosas, próprias de um criminoso que busca amenizar sua pena”. Segundo o governador, a própria Secretaria de Educação constatou as irregularidades. O tucano afirma ainda nunca ter tido contato com o empresário e que todas as doações à campanha de 2014 “seguiram a legislação e foram aprovadas pela Justiça Eleitoral”.
Rossoni fez uma transmissão ao vivo no Facebook, no domingo 4, para rebater o empreiteiro. Em nota, Traiano afirmou “repudiar veementemente as acusações infundadas e sem provas”. Disse ainda não ter “conhecimento da delação, que não foi homologada e corre em segredo de Justiça”.
A pouco mais de um ano das eleições, Richa desidrata. Os sinais do abandono político e do isolamento se avolumam. Sua candidatura ao Senado corre o risco de morrer antes de sair do papel. Há quem defenda sua permanência no Palácio Iguaçu até o último dia de governo. Mas a decisão não está mais totalmente nas mãos do tucano.
Fonte: Carta Capital