sábado, 11 de julho de 2015

Sindifisco denuncia


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Para atender à ânsia arrecadadora do Governo do Estado, o Secretário da Receita editou a Portaria 171, que promove um arrocho fiscal sem precedentes.
Pressupondo conduta irregular de todos os contribuintes, obriga os fiscais a só concluir suas auditorias com auto de infração. Caso não cumpra com a determinação, o auditor poderá ser penalizado.
Está criada a indústria de multas.
Repudiamos o ato e lutaremos para restabelecer a justiça fiscal na Paraíba.
Sindifisco Paraíba.

Sindifisco contesta secretário da Receita e confirma arrocho fiscal e indústria de multas na Paraíba

Sindifisco contesta secretário da Receita e confirma arrocho fiscal e "indústria de multas" na Paraíba
Em resposta à nota divulgada pelo secretário da Receita, Marialvo Laureano, o Sindifisco-PB reafirma o arrocho fiscal no Estado da Paraíba, instituído pela portaria de número 171, que no artigo 1º, inciso II, obriga o auditor fiscal a lavrar auto de infração ao final das fiscalizações, sob pena de ser punido pela Corregedoria.
O Sindifisco-PB contesta ainda o inciso III do mesmo artigo, que obriga aos auditores, mesmo sem ter detectado nenhuma irregularidade, autuar empresas paraibanas, cumprindo o índice de recolhimento estipulado pela Receita. A atividade da categoria fiscal é plenamente vinculada e realizada seguindo rigorosamente os ditames da Constituição Federal, da Constituição Estadual, do Código Tributário Nacional, da Lei e Decreto Estadual do ICMS, bem como legislações afins, e eu irá tomar as medidas judiciais cabíveis para suspender os efeitos da portaria por acreditarmos ilegal e abusiva.
A categoria fiscal estranha também os motivos que levaram o secretario Marialvo Laureano a instalar a auditoria de procedimentos dentro da Corregedoria, diferentemente da Receita Federal e demais secretarias das receitas estaduais.
Por fim, o sindicato dos auditores fiscais paraibanos reitera a denúncia de criação da indústria de multas no Estado da Paraíba, ao mesmo tempo em que reafirma o propósito de lutar pelo restabelecimento da justiça fiscal.
Sindifisco-PB

"A dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado"

Economia

Entrevista - Maria Lucia Fattorelli

“A dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado”

por Renan Truffi publicado 09/06/2015 04h34, última modificação 09/06/2015 17h32
Para ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, sistema atual provoca desvio de recursos públicos para o mercado financeiro
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Nilson Bastian / Câmara dos Deputados
Dois meses antes de o governo Dilma Rousseff anunciar oficialmente o corte de 70 bilhões de reais do Orçamento por conta do ajuste fiscal, uma brasileira foi convidada pelo Syriza, partido grego de esquerda que venceu as últimas eleições, para compor o Comitê pela Auditoria da Dívida Grega com outros 30 especialistas internacionais. A brasileira em questão é Maria Lucia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal e fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida” no Brasil. Mas o que o ajuste tem a ver com a recuperação da economia na Grécia? Tudo, diz Fattorelli. “A dívida pública é a espinha dorsal”.
Enquanto o Brasil caminha em direção à austeridade, a estudiosa participa da comissão que vai investigar os acordos, esquemas e fraudes na dívida pública que levaram a Grécia, segundo o Syriza, à crise econômica e social. “Existe um ‘sistema da dívida’. É a utilização desse instrumento [dívida pública] como veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro”, complementa Fattorelli.
Esta não é a primeira vez que a auditora é acionada para esse tipo de missão. Em 2007, Fattorelli foi convidada pelo presidente do Equador, Rafael Correa, para ajudar na identificação e comprovação de diversas ilegalidades na dívida do país. O trabalho reduziu em 70% o estoque da dívida pública equatoriana.
Em entrevista a CartaCapital, direto da Grécia, Fattorelli falou sobre como o “esquema”, controlado por bancos e grandes empresas, também se repete no pagamento dos juros da dívida brasileira, atualmente em 334,6 bilhões de reais, e provoca a necessidade do tal ajuste.
Leia a entrevista:

CartaCapital:
 O que é a dívida pública?
Maria Lucia Fattorelli: A dívida pública, de forma técnica, como aprendemos nos livros de Economia, é uma forma de complementar o financiamento do Estado. Em princípio, não há nada errado no fato de um país, de um estado ou de um município se endividar, porque o que está acima de tudo é o atendimento do interesse público. Se o Estado não arrecada o suficiente, em princípio, ele poderia se endividar para o ingresso de recursos para financiar todo o conjunto de obrigações que o Estado tem. Teoricamente, a dívida é isso. É para complementar os recursos necessários para o Estado cumprir com as suas obrigações. Isso em principio.
CC: E onde começa o problema?

MLF: O problema começa quando nós começamos a auditar a dívida e não encontramos contrapartida real. Que dívida é essa que não para de crescer e que leva quase a metade do Orçamento? Qual é a contrapartida dessa dívida? Onde é aplicado esse dinheiro? E esse é o problema. Depois de várias investigações, no Brasil, tanto em âmbito federal, como estadual e municipal, em vários países latino-americanos e agora em países europeus, nós determinamos que existe um sistema da dívida. O que é isso? É a utilização desse instrumento, que deveria ser para complementar os recursos em benefício de todos, como o veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro. Esse é o esquema que identificamos onde quer que a gente investigue.
CC: E quem, normalmente, são os beneficiados por esse esquema? Em 2014, por exemplo, os juros da dívida subiram de 251,1 bilhões de reais para 334,6 bilhões de reais no Brasil. Para onde está indo esse dinheiro de fato?MLF: Nós sabemos quem compra esses títulos da dívida porque essa compra direta é feita por meio dos leilões. O processo é o seguinte: o Tesouro Nacional lança os títulos da dívida pública e o Banco Central vende. Como o Banco Central vende? Ele anuncia um leilão e só podem participar desse leilão 12 instituições credenciadas. São os chamados dealers. A lista dos dealers nós temos. São os maiores bancos do mundo. De seis em seis meses, às vezes, essa lista muda. Mas sempre os maiores estão lá: Citibank, Itaú, HSBC...é por isso que a gente fala que, hoje em dia, falar em dívida externa e interna não faz nem mais sentido. Os bancos estrangeiros estão aí comprando diretamente da boca do caixa. Nós sabemos quem compra e, muito provavelmente, eles são os credores porque não tem nenhuma aplicação do mundo que pague mais do que os títulos da dívida brasileira. É a aplicação mais rentável do mundo. E só eles compram diretamente. Então, muito provavelmente, eles são os credores.
CC: Por quê provavelmente?
MLF: Por que nem mesmo na CPI da Dívida Pública, entre 2009 e 2010, e olha que a CPI tem poder de intimação judicial, o Banco Central informou quem são os detentores da dívida brasileira. Eles chegaram a responder que não sabiam porque esses títulos são vendidos nos leilões. O que a gente sabe que é mentira. Porque, se eles não sabem quem são os detentores dos títulos, para quem eles estão pagando os juros? Claro que eles sabem. Se você tem uma dívida e não sabe quem é o credor, para quem você vai pagar? Em outro momento chegaram a falar que essa informação era sigilosa. Seria uma questão de sigilo bancário. O que é uma mentira também. A dívida é pública, a sociedade é que está pagando. O salário do servidor público não está na internet? Por que os detentores da dívida não estão? Nós temos que criar uma campanha nacional para saber quem é que está levando vantagem em cima do Brasil e provocando tudo isso.
CC: Qual é a relação entre os juros da dívida pública e o ajuste fiscal, em curso hoje no Brasil?
MLF: Todo mundo fala no corte, no ajuste, na austeridade e tal. Desde o Plano Real, o Brasil produz superávit primário todo ano. Tem ano que produz mais alto, tem ano que produz mais baixo. Mas todo ano tem superávit primário. O que quer dizer isso, superávit primário? Que os gastos primários estão abaixo das receitas primárias. Gasto primários são todos os gastos, com exceção da dívida. É o que o Brasil gasta: saúde, educação...exceto juros. Tudo isso são gastos primários. Se você olhar a receita, o que alimenta o orçamento? Basicamente a receita de tributos. Então superávit primário significa que o que nós estamos arrecadando com tributos está acima do que estamos gastando, estão está sobrando uma parte.
CC: E esse dinheiro que sobra é para pagar os juros dívida pública?

MLF: Isso, e essa parte do superávit paga uma pequena parte dos juros porque, no Brasil, nós estamos emitindo nova dívida para pagar grande parte dos juros. Isso é escândalo, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe o que se chama de anatocismo. Quando você contrata dívida para pagar juros, o que você está fazendo? Você está transformando juros em uma nova divida sobre a qual vai incidir juros. É o tal de juros sobre juros. Isso cria uma bola de neve que gera uma despesa em uma escala exponencial, sem contrapartida, e o Estado não pode fazer isso. Quando nós investigamos qual é a contrapartida da dívida interna, percebemos que é uma dívida de juros sobre juros. A divida brasileira assumiu um ciclo automático. Ela tem vida própria e se retroalimenta. Quando isso acontece, aquele juros vai virar capital.  E, sobre aquele capital, vai incidir novos juros. E os juros seguintes, de novo vão se transformados em capital. É, por isso, que quando você olha a curva da dívida pública, a reta resultante é exponencial. Está crescendo e está quase na vertical. O problema é que vai explodir a qualquer momento.
CC: Explodir por quê?
MLF: Por que o mercado – quando eu falo em mercado, estou me referindo aos dealers – está aceitando novos títulos da dívida como pagamento em vez de receber dinheiro moeda? Eles não querem receber dinheiro moeda, eles querem novos títulos, por dois motivos. Por um lado, o mercado sabe que o juros vão virar novo título e ele vai ter um volume cada vez maior de dívidas para receber. Segundo: dívida elevada tem justificado um continuo processo de privatização. Como tem sido esse processo? Entrega de patrimônio cada vez mais estratégico, cada vez mais lucrativo. Nós vimos há pouco tempo a privatização de aeroportos. Não é pouca coisa os aeroportos de Brasília, de São Paulo e do Rio de Janeiro estarem em mãos privadas. O que no fundo esse poder econômico mundial deseja é patrimônio e controle. A estratégia do sistema da dívida é a seguinte: você cria uma dívida e essa dívida torna o pais submisso. O país vai entregar patrimônio atrás de patrimônio. Assim nós já perdemos as telefônicas, as empresas de energia elétrica, as hidrelétricas, as siderúrgicas. Tudo isso passou para propriedade desse grande poder econômico mundial. E como é que eles [dealers] conseguem esse poder todo? Aí entra o financiamento privado de campanha. É só você entrar no site do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e dar uma olhada em quem financiou a campanha desses caras. Ou foi grande empresa ou foi banco. O nosso ataque em relação à dívida é porque a dívida é o ponto central, é a espinha dorsal do esquema.
CC: Como funcionaria a auditoria da dívida na prática? Como diferenciar o que é dívida legítima e o que não é?
MLF: A auditoria é para identificar o esquema de geração de dívida sem contrapartida. Por exemplo, só deveria ser paga aquela dívida que preenche o requisito da definição de dívida. O que é uma dívida? Se eu disser para você: ‘Me paga os 100 reais que você me deve’. Você vai falar: “Que dia você me entregou esses 100 reais?’ Só existe dívida se há uma entrega. Aconteceu isso aqui na Grécia. Mecanismos financeiros, coisas que não tinham nada ver com dívida, tudo foi empurrado para as estatísticas da dívida. Tudo quanto é derivativo, tudo quanto é garantia do Estado, os tais CDS [Credit Default Swap - espécie de seguro contra calotes], essa parafernália toda desse mundo capitalista 'financeirizado'. Tudo isso, de uma hora para outra, pode virar dívida pública. O que é a auditoria? É desmascarar o esquema. É mostrar o que realmente é dívida e o que é essa farra do mercado financeiro, utilizando um instrumento de endividamento público para desviar recursos e submeter o País ao poder financeiro, impedindo o desenvolvimento socioeconômico equilibrado. Junto com esses bancos estão as grandes corporações e eles não têm escrúpulos. Nós temos que dar um basta nessa situação. E esse basta virá da cidadania. Esse basta não virá da classe politica porque eles são financiados por esse setor. Da elite, muito menos porque eles estão usufruindo desse mecanismo. A solução só virá a partir de uma consciência generalizada da sociedade, da maioria. É a maioria, os 99%, que está pagando essa conta. O Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central] disse isso em depoimento na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Dívida, em 2009, quando perguntado sobre a influência das decisões do Banco Central na vida do povo. Ele respondeu: “Olha, o Brasil foi desenhado para isso”.
CC: Quanto aproximadamente da dívida pública está na mão dos bancos e de grandes empresas? O Tesouro Direto, que todos os brasileiros podem ter acesso, corresponde a que parcela do montante?

MLF: Essa história do Tesouro Direto é para criar a impressão que a dívida pública é um negócio correto, que qualquer um pode entrar lá e comprar. E, realmente, se eu ou você comprarmos é uma parte legítima. Agora, se a gente entrar lá e comprar, não é direto. É só para criar essa ilusão. Tenta entrar lá para comprar um título que seja. Você vai chegar numa tela em que vai ter que escolher uma instituição financeira. E essa instituição financeira vai te cobrar uma comissão que não é barata. Ela não vai te pagar o juros todo do título, ela vai ficar com um pedaço. O banco, o dealer, que compra o título da dívida é quem estabelece os juros. Ele estabelece os juros que ele quer porque o governo lança o título e faz uma proposta de juros. Se, na hora do leilão, o dealer não está contente com aquele patamar de juros, ele não compra. Ele só compra quando o juros chega no patamar que ele quer. Invariavelmente, os títulos vêm sendo vendidos muito acima da Selic [taxa básica de juros]. Em 2012, quando a Selic deu uma abaixada e chegou a 7,25%, nós estávamos acompanhando e os títulos estavam sendo vendidos a mais de 10% de juros. E eles sempre compram com deságio. Se o título vale 1000 reais, ele compra por 960 reais ou 970 reais, depende da pressão que ele quer impor no governo aquele dia. Olha a diferença. Se você compra no Tesouro Direto, você não vai ter desconto. Pelo contrário, você vai ter que pagar uma comissão. E você também não vai mandar nos juros. É uma operação totalmente distinta da operação direta de verdade que acontece lá no leilão.
CC: Por que é tão difícil colocar a auditoria em prática? Como o mercado financeiro costuma reagir a uma auditoria?
MLF: O mercado late muito, mas na hora ele é covarde. Lá no Equador, quando estávamos na reta final e vários relatórios preliminares já tinham sido divulgados, eles sabiam que tínhamos descoberto o mecanismo de geração de dívida, várias fraudes. Eles fizeram uma proposta para o governo de renegociação. Só que o Rafael Correa [atual presidente do Equador] não queria negociar. Ele queria recomprar e botar um ponto final. Porque quando você negocia, você dá uma vida nova para a dívida. Você dá uma repaginada na dívida. Ele não queria isso. Ele queria que o governo dele fosse um governo que marcasse a história do Equador. Ele sabia que, se aceitasse, ficaria subjugado à dívida. Ele foi até o fim, fez uma proposta e o que os bancos fizeram? 95% dos detentores dos títulos entregaram. Aceitaram a oferta de recompra de no máximo 30% e o Equador eliminou 70% de sua dívida externa em títulos. No Brasil, durante os dez meses da CPI da Dívida, a Selic não subiu. Foi incrível esse movimento. Nós estamos diante de um monstro mundial que controla o poder financeiro e o poder político com esquemas fraudulentos. É muito grave isso. Eu diria que é um mega esquema de corrupção institucionalizado.
CC: O mercado financeiro e parte da imprensa costumam classificar a auditoria da dívida de calote. Por que a auditoria da dívida não é calote?
MLF: A auditoria vai investigar e não tem poder de decisão do que vai ser feito. A auditoria só vai mostrar. No Equador, a auditoria só investigou e mostrou as fraudes, mecanismos que não eram dívidas, renúncias à prescrição de dívidas. O que é isso? É um ato nulo. Dívidas que já estavam prescritas. Uma dívida prescrita é morta. E isso aconteceu no Brasil também na época do Plano Brady, que transformou dívidas vencidas em títulos da dívida externa. Depois, esses títulos da dívida externa foram usados para comprar nossas empresas que foram privatizadas na década de 1990: Vale, Usiminas...tudo comprado com título da dívida em grande parte. Você está vendo como recicla? Aqui, na Grécia, o país está sendo pressionado para pagar uma dívida ilegítima. E qual foi a renegociação feita pelo [Geórgios] Papandréu [ex-primeiro-ministro da Grécia]? Ele conseguiu um adiamento em troca de um processo de privatização de 50 bilhões de euros. Esse é o esquema. Deixar de pagar esse tipo de dívida é calote? A gente mostra, simplesmente, a parte da dívida que não existe, que é nula, que é fraude. No dia em que a gente conseguir uma compreensão maior do que é uma auditoria da dívida e a fragilidade que lado está do lado de lá, a gente muda o mundo e o curso da história mundial.
CC: Em comparação com o ajuste fiscal, que vai cortar 70 bilhões de reais de gastos, tem alguma estimativa de quanto a auditoria da dívida pública poderia economizar de despesas para o Brasil?

MLF: Essa estimativa é difícil de ser feita antes da auditoria, porém, pelo que já investigamos em termos de origem da dívida brasileira e desse impacto de juros sobre juros, você chega a estimativas assustadoras. Essa questão de juros sobre juros eu abordei no meu último livro. Nos últimos anos, metade do crescimento da divida é nulo. Eu só tive condição de fazer o cálculo de maneira aritmética. Ficou faltando fazer os cálculos de 1995 a 2005 porque o Banco Central não nos deu os dados. E mesmo assim, você chega a 50% de nulidade da dívida, metade dela. Consequentemente para os juros seria o mesmo [montante]. Essa foi a grande jogada do mercado financeiro no Plano Real porque eles conseguiram gerar uma dívida maluca. No início do Plano Real os juros brasileiros chegaram a mais de 40% ao ano. Imagina uma divida com juros de 40% ao ano? Você faz ela crescer quase 50% de um ano para o outro. E temos que considerar que esses juros são mensais. O juro mensal, no mês seguinte, o capital já corrige sobre o capital corrigido no mês anterior. Você inicia um processo exponencial que não tem limite, como aconteceu na explosão da dívida a partir do Plano Real. Quando o Plano Real começou, nossa dívida estava em quase 80 bilhões de reais. Hoje ela está em mais de três trilhões de reais. Mais de 90% da divida é de juros sobre juros.
CC: E isso é algo que seria considerado ilegal na auditoria da dívida pública?
MLF: É mais do que ilegal, é inconstitucional. Nossa Constituição proíbe juros sobre juros para o setor público. Tem uma súmula do Supremo Tribunal Federal, súmula 121, que diz que ainda que tenha se estabelecido em contrato, não pode. É inconstitucional. Tudo isso é porque tem muita gente envolvida, favorecida e mal informada. Esses tabus, essa questão do calote, muita gente fala isso. Eles tentam desqualificar. Falamos em auditoria e eles falam em calote. Mas estou falando em investigar. Se você não tem o que temer, vamos abrir os livros. Vamos mostrar tudo. Se a dívida é tão honrada, vamos olhar a origem dessa dívida, a contrapartida dela.
CC: Ao longo da entrevista, a senhora citou diversos momentos da história recente do Brasil, o que mostra que esse problema vem desde o governo Fernando Henrique Cardoso, e passou pelas gestões Lula e Dilma. Mas como a questão da dívida se agravou nos últimos anos? A dívida externa dos anos 1990 se transformou nessa dívida interna de hoje?
MLF: Houve essa transformação várias vezes na nossa história. Esses movimentos foram feitos de acordo com o interesse do mercado. Tanto de interna para externa, como de externa para interna, de acordo com o valor do dólar. Esses movimentos são feitos pelo Banco Central do Brasil em favor do mercado financeiro, invariavelmente. Quando o dólar está baixo, e seria interessante o Brasil quitar a dívida externa, por precisar de menos reais, se faz o contrário. Ele contrai mais dívida em dólar. Esses movimentos são sempre feitos contra nós e a favor do mercado financeiro.
CC: E o pagamento da dívida externa, em 2005?
MLF: O que a gente critica no governo Lula é que, para pagar a dívida externa em 2005, na época de 15 bilhões de dólares, ele emitiu reais. Ele emitiu dívida interna em reais. A dívida com o FMI [Fundo Monetário Internacional] era 4% ao ano de juros. A dívida interna que foi emitida na época estava em média 19,13% de juros ao ano. Houve uma troca de uma dívida de 4% ao ano para uma de 19% ao ano. Foi uma operação que provocou danos financeiros ao País. E a nossa dívida externa com o FMI não era uma dívida elevada, correspondia a menos de 2% da dívida total. E por que ele pagou uma dívida externa para o FMI que tinha juros baixo? Porque, no inconsciente coletivo, divida externa é com o FMI. Todo mundo acha que o FMI é o grande credor. Isso, realmente, gerou um ganho político para o Lula e uma tranquilidade para o mercado. Quantos debates a gente chama sobre a dívida e as pessoas falam: “Esse debate já não está resolvido? Já não pagamos a dívida toda?’. Não são poucas as pessoas que falam isso por conta dessa propaganda feita de que o Lula resolveu o problema da dívida. E o mercado ajuda a criar essas coisas. Eu falo o mercado porque, na época, eles também exigiram que a Argentina pagasse o FMI. E eles também pagaram de forma antecipada. Você vê as coisas aconteceram em vários lugares, de forma simultânea. Tudo bem armado, de fora para dentro, na mesma época.
CC: O que a experiência grega de auditoria da dívida poderia ensinar ao Brasil, na sua opinião?
MLF: São muitas lições. A primeira é a que ponto pode chegar esse plano de austeridade fiscal. Os casos aqui da Grécia são alarmantes. Em termos de desemprego, mais de 100 mil jovens formados deixaram o país nos últimos anos porque não têm emprego. Foram para o Canadá, Alemanha, vários outros países. A queda salarial, em média, é de 50%. E quem está trabalhando está feliz porque normalmente não tem emprego. Jornalista, por exemplo, não tem emprego. Tem até um jornalista que está colaborando com a nossa comissão e disse que só não está passando fome por conta da ajuda da família. A maioria dos empregos foram flexibilizados, as pessoas não têm direitos. Serviços de saúde fechados, escolas fechadas, não tem vacina em posto de saúde. Uma calamidade terrível. Trabalhadores virando mendigos de um dia para o outro. Tem ruas aqui em que todas as lojas estão fechadas. Todos esses pequenos comerciantes ou se tornaram dependentes da família ou foram para a rua ou, pior, se suicidaram. O número de suicídios aqui, reconhecidamente por esse problema econômico, passa de 5 mil. Tem vários casos de suicídio em praça pública para denunciar. Nesses dias em que estou aqui, houve uma homenagem em frente ao Parlamento para um homem que se suicidou e deixou uma carta na qual dizia que estava entregando a vida para que esse plano de austeridade fosse denunciado.

Erundina vê Câmara no fundo do poço com Cunha

Tudo em família

 

10/07/2015 - Copyleft

Estados Unidos sabiam de todos os crimes

Os arquivos mostram como os Estados Unidos eram informados em tempo real sobre os crimes que a ditadura brasileira cometia.


Darío Pignotti, para o Página/12, direto de Brasília
Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff, ex-prisioneira política, recebeu de Barack Obama os relatórios de inteligência que descrevem os crimes cometidos durante a ditadura brasileira, a que contou com claro respaldo dos Estados Unidos. O Palácio do Planalto anunciou ontem que as informações sobre os desaparecidos, como o guerrilheiro Stuart Edgard Angel Jones e o deputado Rubens Paiva, foram cedidas na semana passada, quando Dilma foi recebida pelo seu colega estadunidense, num jantar reservado na Casa Branca.
 
“A liberação dos arquivos é fruto do trabalho da Comissão Nacional da Verdade que em 2012 solicitou do presidente Barack Obama a desclassificação dos documentos relacionados com o período de exceção.”
 
No dossiê constam 538 cabos diplomáticos e informes de inteligência, que estiveram durante décadas em poder da CIA, do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa.
 
“É interessante ver como os órgãos de segurança norte-americanos tinham conhecimento do aparato repressivo da ditadura”, observou o ministro Aloísio Mercadante. “Eles eram informados sobre as torturas quase em tempo real, sabiam de antemão quem havia sido morto, quem estava desaparecido, mas não informavam as famílias das vítimas, e só agora entregaram essa informação ao governo brasileiro”.
 
Um dos documentos desclassificados diz que, em 1971, o cônsul norte-americano James Reardon foi informado pela polícia brasileira sobre a detenção do cidadão estadunidense-brasileiro Stuart Edgard Angel Jones, considerado desaparecido desde então.
 
Angel Jones era parte do MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), a mesma organização que, em 1969, havia sequestrado e liberado com vida o embaixador Charles Elbrick, numa operação de extraordinário impacto político realizada pouco antes da chegada ao poder do ditador Emílio Garrastazú Médici. Após esse rapto, Médici, considerado o mais sanguinário dos cinco ditadores que se revezaram durante o regime militar brasileiro, endureceu a repressão, com perseguições a opositores organizados ou não, sendo Angel Jones e Rubens Paiva apenas algumas das vítimas desse período.
 
Em fevereiro de 1976, cinco anos depois do assassinato de Angel Jones, sua mãe, a famosa estilista Zuzú Angel, abordou pessoalmente o secretário de Estado Henry Kissinger, que havia viajado ao Brasil para reforçar as relações “preferenciais” com o ditador de então, Ernesto Geisel. A valentia de Zuzú Angel foi lida como uma ameaça pelos norte-americanos. Além de inútil, já que Kissinger não entregou a ela os dados que o Departamento de Estado manejava desde a desaparição do filho, o acontecimento foi ainda mais inquietante, foi o falecimento de Zuzú, num estranho acidente automobilístico, meses depois de haver conversado com Kissinger, um fato que levantou a suspeita de que haveria sido um atentado planejado e realizado pelos serviços de inteligência, similar a outros que mataram opositores.
 
Em janeiro de 1971, soldados da Aeronáutica sequestraram o deputado Rubens Paiva, exonerado pouco depois do golpe de Estado de 1964.
 
Paiva morreu um dia depois de sua captura, numa base próxima ao aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, segundo o determinou uma investigação da Comissão Nacional da Verdade, concluída no ano passado.
 
Um telegrama diplomático “confidencial”, de fevereiro de 1971, confirma que a Embaixada dos Estados Unidos estava ciente do sucedido com Paiva, e manteve silêncio, apesar dos pedidos de sua viúva e seus filhos.
 
“Paiva morreu durante o interrogatório ou por uma parada cardíaca, ou por outras causas”, enquanto estava nas mãos de seus captores, esclarece o informe elaborado pelos funcionários estadunidenses.
 
Paiva havia sido incorporado às filas da resistência política, assumindo tarefas de risco, como a de levar e trazer correspondência aos exilados no Chile, onde os serviços de inteligência brasileiros desenvolviam uma intensa tarefa: atividades de espionagem política e repressão que se incrementariam com o golpe de Estado de 1973, outra operação apadrinhada pelos Estados Unidos, com apoio também dos generais brasileiros. Os documentos mostram também que o Brasil enviou reforços ao Chile para interrogar os cidadãos brasileiros presos no Estádio Nacional, transformado em campo de concentração após a queda de Salvador Allende.
 
Outro dos materiais recentemente liberados demonstra que Washington sabia dos cursos de formação ministrados a 16 agentes chilenos na escola do Serviço Nacional de Informações, instituto que foi usado como modelo por Augusto Pinochet e Manuel Contreras para criar a DINA.
 
Os Estados Unidos entregou os papéis no dia 30 de junho, aproveitando o encontro entre Obama e Dilma, que formalizou a recomposição das relações. Rousseff passou a noite do dia 30 de junho hospedada no Blair House, residência para visitantes oficiais próxima à Casa Branca, a mesma onde também pernoitou o ditador Emilio Garrastazú Médici, em convite de Richard Nixon, escoltado por Henry Kissinger. Naquela noite de dezembro de 1971, “Wanda” – nome código pelo qual Dilma Rousseff era conhecida, estava presa em São Paulo, onde permaneceu por quase três anos.
 
Essa foi a terceira entrega de documentos solicitados pela Comissão Nacional da Verdade, a primeira que traz precisões que poderão contribuir ao esclarecimento tanto de operações executadas pelo terrorismo de Estado brasileiro como de sua cumplicidade com Washington. Coincidentemente (ou não), as autoridades norte-americanas resolveram liberar parte dos seus segredos sete meses depois da entrega do informe final da Comissão Nacional da Verdade criada por Dilma. Os dois envios anteriores “continham papéis que nos ajudaram muito pouco em nosso trabalho, não diziam praticamente nada de importante”, declarou a Página/12, meses atrás, a advogada Maria Rosa Cardoso, que representou Dilma Rousseff nos Anos 70, e que logo foi membro da Comissão Nacional da Verdade.
 
Tradução: Victor Farinelli



Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Grécia: a dignidade venceu a cobiça

Leonardo Boff

Grécia: a dignidade venceu a cobiça

Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária.



Há momentos na vida de um povo em que ele deve dizer Não, para além das possíveis consequências. Trata-se da dignidade, da soberania popular, da democracia real e do tipo de vida que se quer para toda a população.
 
Há cinco anos que a Grécia se debate numa terrível crise econômico-financeira, sujeita a todo tipo de exploração, chantagem e até terrorismo  por parte do sistema financeiro, especialmente de origem alemã e francesa. Ocorria uma verdadeira intervenção na soberania nacional com a pura e simples imposição das medidas de extrema austeridade excogitadas, sem consultar ninguém, pela Troika (Banco Central Europeu, Comissão Européia e o FMI).
 
Tais medidas implicaram uma tragédia social, face à qual o sistema financeiro não mostrava nenhum sentido de humanidade. “Salve-se o dinheiro e que sofra ou morra o povo”. Efetivamente desde que começou a crise ocorreram mais de dez mil suicídios de pequenos negociantes insolventes, centenas de crianças deixadas nas portas dos mosteiros com um bilhete das mães desesperadas:”não deixem minha criancinha morrer de fome”. Um sobre quatro adultos estão desempregados, mais da metade dos jovens sem ocupação remunerada e o PIB caiu 27%. Não passa pela cabeça dos especuladores que atrás das estatíticas se esconde uma via-sacra de sofrimento de milhões de pessoas e a humilhação de todo um povo. Seu lema é “a cobiça é boa”. Nada mais conta.
 
Os negociadores do novo governo grego de esquerda, do Syriza, com o primeiro ministro Alexis Tsipras e seu ministro da fazenda um acadêmico e famoso economista da teoria dos jogos Yanis Varoufakis que quiseram negociar as medidas de austeridade duríssimas encontrarm ouvidos moucos. A atitude era de total submissão:”ou tomar ou deixar”. O mais duro era o ministro das Finanças alemão Wolfgang Sträuble:”não há nada para negociar; apliquem-se as medidas”. Nada de uma estratégia do ganha-ganha, mas pura e simplesmente do ganha-perde. A disposição era de humilhar o governo de esquerda socialista, dar uma lição para todos os demais países com crises semelhantes (Italia, Espanha, Portugal).
 
A única saída honrosa de Tsipras foi convocar um referendo: consultar o povo sobre se diria um Não (OXI) ou um Sim (NAI). Qual a posição face à inflexibilidade férrea da austeridade que aparece totalmente irracional por levar uma nação ao colapso, exigindo uma cobrança da dúvida reconhecidamente impagável. O própro Governo propôs a consulta e sugeriu o Não.  Os credores e os governos da França e da Alemanha fizeram ameaças, praticaram um verdadeiro terrorismo nas palavras do ministro Varoufakis e falsificaram as informações como se o referendo fosse para ficar na zona do Euro ou sair, quando na verdade não se tratava nada disso. Apenas era de aceitar ou rejeitar o “diktat” das instituições financeiras européias. A Grécia quer ficar dentro da zona do Euro.
 
A vitória de domingo dia 5 de julho foi espetacular para o Não: 61% contra 38% do Sim. Primeira lição: os poderosos não podem fazer o que bem entendem e os fracos não estão mais dispostos a aceitar as humilhações. Segunda lição: a derrota do Sim mostrou claramente o coração empedernido do capital bancário europeu. Terceiro, trouxe à luz a traição da Unidade Européia a seus próprios ideais  que era a integração com solidariedade, com igualdade e com assistência social. Renderam-se à lógica perversa do capital financeiro.
 
A vitória do Não representa uma lição para toda a Europa: se ela quer continuar a ser súcuba das políticas imperiais norteamericanas ou se quer construir uma verdadeira unidade européia sobre os valores da democracia e dos direitos. O insuspeito semanário liberal  Der Spiegel advertia que através da Sra. Merkel, arrogante e inflexível, a Alemanha poderia, já pela terceira vez, provocar uma tragédia européia. Os burocratas de Bruxelas perderam o sentido da história e qualquer referência ética e humanitária. Por vingança o Banco Central Europeu deixou de subministrar dinheiro para os bancos gregos continuarem a funcionar e os obrigou a fechar.
 
Uma lição para todos, também para nós: quando se trata de uma crise radical que implica os rumos futuros do país, deve-se voltar ao povo, portador da soberania política e confiar nele. A partir de agora os credores e as inflexíveis autoridades do zona do Euro terão pela frente não um governo que eles podem aterroizar e manipular, mas um povo unido que tem consciência de sua dignidade e que não se rende à avidez dos capitais. Como dizia um cartaz:”Se não morremos de amor, por que vamos morrer de fome”?
 
Na Grécia nasceu a democracia de cunho elitista. Agora está nascendo uma democracia popular e direta. Ela será um complemento à democracia delegatícia. Isso vale também para nós.
 
Um prognóstico, quiça uma profecia: não estará nascendo, a partir da Grécia, a era dos povos? Face às crises globais serão eles que irão às ruas, como entre nós e na Espanha e tentarão formular os parâmetros políticos e éticos  do tipo de mundo que queremos para todos. Já não confiam no que vem de cima. Seguramente o eixo estruturador não será a economia capitalista desmoronando, mas a vida: das pessoas, da natureza e da Terra. Isso realizaria o sonho do Papa Francisco em sua encíclica: a humanidade “cuidando da Casa Comum”. 


Fonte: Carta Maior

Washington Luís ou Getúlio?


Washington Luís ou Getúlio?

9 de julho de 1932: as elites paulistas tentaram conter e reverter as transformações que Getúlio começava a implementar no Brasil.

por Emir Sader em 09/07/2015 às 06:56



Emir Sader
Hoje é o dia que as elites paulistas usam para comemorar a memória de um dos seus ícones fundamentais – o outro é Borba Gato e os bandeirantes. Porque em um dia como hoje as elites paulistas tentaram conter e reverter as transformações que Getúlio começava a implementar no Brasil.
 
Washington Luís, político de origem carioca, cooptado pelas elites paulistas – exatamente como o FHC -, se havia notabilizado por, além de dar continuidade ao domínio das elites primário-exportadoras, por duas de suas afirmações: “A questão social é questão de polícia” e “Governar é construir estradas” – para facilitar as exportações.
 
Nada mais contrastante do que o governo que o Getúlio iniciava, com a reivindicação pelo Estado dos direitos sociais dos trabalhadores e pela interpelação dos brasileiros como “Trabalhadores do Brasil”.
 
Até hoje a elite paulista – do Estadão aos tucanos -, não digeriu aquela derrota. Continua a fazer a apologia de Washington Luís, colocando seu nome em tudo quanto é lugar público – de estradas a avenidas. Enquanto que o Getúlio, o maior estadista brasileiro do século XX, não tem nenhum lugar público com seu nome em São Paulo. Lula constatou isso, ao inaugurar um auditório no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, com o nome do Getúlio.  
 
O paradoxo não poderia ser maior: FHC, ao instaurar seu programa neoliberal de governo, disse: “Vou virar a pagina do getulismo”.  Ele sabia que a centralidade do mercado que seu governo buscava, só poderia ser feita contra o Estado construído por Getúlio, que afirmava os direitos sociais, fazia do Estado uma alavanca para o crescimento econômico, incentivava a industrialização, reconhecia o direito à sindicalização dos trabalhadores, lançava as bases do nacionalismo e do Estado nacional.
 
Até hoje se pode dizer que essa é uma linha demarcatória das forcas políticas e das ideologias no pais: quem está pela continuidade do ideário getulista se situa à esquerda; quem está contra ele, é a direita brasileira.  

Fonte: Carta Maior

Redução da maioridade penal

Pai de filha assassinada por adolescente de 16 anos é contra projeto que reduz maioridade penal
16/06/2015 08:25
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Pai de filha assassinada por adolescente de 16 anos é contra projeto que reduz maioridade penal

Bohn Gass conversou com o vereador Ari durante a audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal

- O vereador Ari Friedenbach (PROS/SP) teve uma filha de 16 anos assassinada por um rapaz da mesma idade. Mesmo assim, este pai manifesta-se contrário à redução da maioridade penal de forma generalizada, como pretende o projeto que tramita atualmente na Câmara dos Deputados. Desde a morte da filha, há 11 anos, Ari passou a estudar a questão da violência juvenil e concluiu que reduzir simplesmente a maioridade penal não resolverá nada e ainda manterá impunes crimes hediondos cometidos por adolescentes de 15, 14, 13 ou 12 anos.  
A proposta de Ari é que após a prática do crime, o menor passe por uma junta especializada para que sua condição psicológica e a consciência do seu ato sejam avaliadas. Comprovada a consciência do ato, por meio de uma alteração legal e não constitucional, haverá a possibilidade de emancipar esse menor para que ele seja julgado. Uma vez condenado, deverá cumprir a pena numa unidade prisional específica para adolescentes a ser criada pelo poder público. No caso de São Paulo, onde Ari mora, a proposta é que a unidade seja ligada à Fundação Casa (equivalente à Fase no Rio Grande do Sul). Ainda pela proposta de Ari, no caso de serem diagnosticados problemas psicológicos ou distúrbios mentais, o adolescente deve ser interditado civilmente.
O vereador apresentou suas propostas na reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (15/6). O deputado Elvino Bohn Gass (PT/RS), que também é contra a redução da maioridade penal pura e simples, comenta: “A iniciativa deste senhor tem a virtude de fugir da lógica da vingança. Ele teve a filha assassinada por um jovem de 16 anos, mas rejeita a ideia de redução da maioridade pura e simples porque sabe que isto não resolve o problema. Os que defendem este projeto ficaram sem argumentos”.
Bohn Gass diz não ter avaliado ainda, com a necessária profundidade, a proposta do vereador, mas considera que o simples fato de um pai ter ido à Câmara dizer que a resposta imediata que está sendo proposta não serve como solução, deveria ser suficiente para que o projeto fosse retirado de votação e se buscassem novas alternativas. “Até porque, no caso de se aproveitarem as sugestões do vereador Ari, teríamos que pensar na estruturação de um serviço de avaliação psicológica e em instituições prisionais específicas para os adolescentes. Antes disso, votar qualquer coisa é oferecer uma ilusão à sociedade”.

Fonte: Dep. Fed. Bohn Gass