sábado, 18 de abril de 2020

As redações sob o ataque do coronavírus

Sábado, 18 de abril de 2020
As redações sob o ataque do coronavírus

Em meio às notícias sobre o impacto do novo coronavírus das últimas semanas, tem um punhado que imagino que passaram batidas por vocês, mas que apontam para um cenário muito ruim para a democracia dos próximos anos.
Vou resumir aqui:
.  o BuzzFeed Brasil pode fechar as portas por falta de dinheiro para manter sua operação.
. Nos EUA, a matriz do Buzzfeed cortou salários para evitar demissões.
. Emissoras com foco em esportes como ESPN norte-americana estão pedindo a jornalistas que abram mão de parte da remuneração.

. Por aqui, a rádio Bandeirantes, de São Paulo, suspendeu o contrato de seus comentaristas.
. A Abril, que já foi um dos maiores grupos de mídia do país antes de mergulhar em crise profunda, projeta que a pandemia irá dificultar a saída do atoleiro.
. As empresas de comunicação sediadas em São Paulo (as maiores do país, aí incluídos jornais como Folha, Estadão, Valor Econômico e as editoras Globo, Condé Nast e Caras) podem cortar os salários dos jornalistas em até 70%
A crise das empresas de mídia não é uma novidade que chegou com a pandemia. Ela começou há quase duas décadas, após o estouro da bolha da internet, e se aprofundou à medida que Facebook e Google ganharam força.
Você está lendo essa newsletter num e-mail, possivelmente fornecido pelo Google ou um de seus concorrentes menores, como o Yahoo!. No dia-a-dia, a maioria de nós se habituou a chegar a informações clicando em links no Facebook, no WhatsApp e no Instagram (todos eles de Mark Zuckerberg) ou seguindo indicações do Google ou do Twitter. Os gigantes do mundo virtual se tornaram um novo elo no caminho entre as empresas de mídia e seu público. E, como todo atravessador, mordem parte do dinheiro.
Os anúncios impressos que abarrotavam os cofres das editoras na exata proporção em que engordavam jornais de domingo e revistas semanais viraram fumaça (e com isso parte das publicações vem abandonando o papel na esperança de adiar o próprio fim). Hoje, até os sites de jornalões veiculam publicidade do Google. Que fica com boa parte do lucro.
A crise econômica decorrente do coronavírus – a mais grave desde a recessão pós-1929 – pode ter o efeito de uma bomba nuclear sobre um adversário já exaurido. A quebradeira não vai afetar só a mídia, claro. Mas quem já vinha se segurando como podia vai aguentar um tombo desses?
É aí que entra o risco à democracia. É mais fácil para um governo antidemocrático como de Jair Bolsonaro dobrar empresas de mídia em dificuldades financeiras. Um dos heróis dele, o húngaro Viktor Orbán, asfixiou os jornais independentes, que cobriam o governo com altivez. Em seguida, partidários do ditador os compraram. Para alinhá-los ao governo ou, simplesmente, fechá-los.
Bolsonaro odeia a imprensa. Odeia jornalistas porque eles não dizem o que ele quer. A crise pode ser a oportunidade para que gente como ele consiga que façam isso. Ou que simplesmente deixem de falar, por falta de condições de sobreviverem. Não é um problema unicamente brasileiro. Trump pensa igual – e não é burro como Bolsonaro. Há centenas de políticos assim mundo afora, sonhando com jornalistas e empresas de jornalismo fracos o suficiente a ponto de só conseguirem dizer amém.
Desde que chegou ao poder que Bolsonaro trabalha para enfraquecer o jornalismo brasileiro. O tosco secretário de Comunicação Fábio Wajngarten está irrigando os cofres de grupos de mídia alinhados – Record, SBT, CNN, Rede TV! Mas nem eles têm vida fácil: a Record, braço midiático da Igreja Universal do bispo Edir Macedo, pediu para a justiça suspender os pagamentos que deve em acordos trabalhistas.
Jornais, tevês, sites e jornalismo têm problemas? Claro! Mesmo as publicações das empresas sérias têm erros. Às vezes, avaliamos mal os caminhos a seguir – o exemplo da cobertura estilo fã-clube da Lava Jato é emblemático. 
Mas o mundo seria melhor sem jornalismo? Onde estaríamos acompanhando diariamente informações sobre a crise do coronavírus, o avanço da pandemia, as medidas necessárias para contê-la? Ainda: a crise de 1929 foi seguida pela ascensão do nazi-fascismo. E agora, como será o mundo pós-crise do coronavírus? É melhor vê-lo e tentar entendê-lo pelo filtro do jornalismo corajoso ou pelo discurso oficial?
O coronavírus pode causar um massacre também na imprensa. Mais um massacre que Bolsonaro quer comemorar.
Rafael Moro Martins
Editor Contribuinte Sênior

Informativo Semanal do Prof. Ernesto Germano Pares






Quem é Nelson Teich?
O novo ministro da Saúde escolhido pelo ex-capitão reformado é Nelson Teich, um carioca, formado em medicina na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e com especialização em oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer. Mas nunca exerceu suas atividades em hospitais ou entidades públicas.
Imediatamente depois de formado, fez especialização em economia para profissionais de saúde na Universidade de York da Inglaterra (2007/2008) e, depois, uma extensão universitária no programa de gerenciamento executivo da Harvard Business School. Ou seja, é um administrador ou organizador na área de saúde, mas não um “profissional de saúde”. É proprietário de uma caríssima clínica oncológica na Barra da Tijuca.
Sempre esteve politicamente próximo do demente que nos governa e foi consultor informal da campanha eleitoral, em 2018. É vinculado a setores da extrema direita brasileira.
Ele é conhecido por ser um empreendedor e negociador no setor de saúde. Teich foi fundador e presidente do Grupo de Clínicas Integradas de Oncologia (COI), e também assessorou clínicas particulares, como o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que presta assistência ao ex-capitão e às famílias mais ricas do país. É, também, diretor executivo da empresa de consultoria em economia MedInsight - Decisions in Health Care, fundada em 2016.
Logo que escolhido pelo insano já anunciou que começará a avaliar com os ministros a possibilidade de decretar o retorno aos empregos para proteger a economia: "A vida não tem preço, mas a economia deve voltar à normalidade, o mais rápido possível!”.
Que delícia de liberalismo! Será que algum defensor do “livre mercado” e do neoliberalismo pode me explicar isso? Fazem tanta propaganda da liberdade do mercado e dos empresários correrem risco com seus capitais para dar empregos e produzir. Mas, onde está o “risco”?
As empresas distribuidoras de energia foram privatizadas. Ou seja, todas agora fazem parte do “magnífico mundo da livre concorrência e dos riscos”, mas, quando em perigo jogam o prejuízo nas costas do simples trabalhador?
A manchete do jornal O Globo (18/04) diz o seguinte: “Socorro ao setor elétrico pode fazer conta de luz subir até 20%”. Na matéria vamos ver que “Recursos seriam para distribuidoras conseguirem compensar queda na receita e inadimplência”.
Fazendo uma pesquisa em outros jornais da semana vamos encontrar que o governo do insano está liberando dinheiro para as distribuidoras de energia. Segundo o jornal Valor Econômico, o empréstimo bancário coordenado pelo BNDES para socorrer essas empresas deverá ser pago pelos consumidores em 54 a 60 meses nas contas de luz. O valor da “ajudinha” é de R$ 17 bilhões!
Como assim? Quer dizer que não existe risco para eles? Fizeram propaganda dizendo que privatização era a solução e que iriam investir para melhorar os serviços. Mas, diante de uma pandemia que atinge a todos, em todo o planeta, esquecem o “livre mercado” e os “riscos” que deveriam assumir?
As pessoas economizam na energia porque precisam de comida; muitos estão desempregados ou subempregados e não podem pagar suas contas; as empresas estão consumindo menos; as escolas estão fechadas... Aí o Estado, aquele que não deveria intervir na economia, entra em cena para salvar as distribuidoras?
Não, eu não entendo...
Previsão ruim para o PIB. O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse, em entrevista na quinta-feira (16), que é difícil prever o desempenho da economia este ano. O PIB brasileiro em 2020 pode cair 3%, 4%, 5% “ou até mais”, disse. Tudo vai depender da duração do isolamento social, segundo o secretário. Mansueto disse ficar assustado com projeções que apontam para uma queda de 8% na economia, em função de um período mais prolongado de isolamento. Não explicitou se a projeção se aplica ao Brasil ou à economia global.
Mas pode ser pior. Ex-presidente do BC e sócio fundador da Gávea Investimentos, o economista Armínio Fraga disse na quarta-feira (15) que não há como o Brasil escapar de entrar em nova e profunda recessão. “Vamos ter uma recessão profunda, infelizmente. Contas preliminares que tenho feito com colegas sugerem que o PIB pode cair 6%, até 8% este ano. Isso é recorde, não há registro histórico de uma queda tão grande. A única esperança é que, na medida em que a saúde volte, a recuperação ocorra num espaço não muito longo de tempo”, afirmou. Para Arminio, é impossível uma recuperação em “V”, na qual a retomada é tão rápida quanto a queda, pois o país vai conviver com muita incerteza durante bom tempo, o que deprime demanda e investimentos.
FMI: PIB projetado para o Brasil em 2021 já era baixo. A previsão de que o PIB brasileiro crescerá 2,9% em 2021, mesmo após uma queda prevista de 5,3% para este ano, “não tem nada a ver com o ambiente político”, afirmou Alejandro Werner, diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, em videoconferência durante o tradicional encontro de primavera da entidade em conjunto com o Banco Mundial. O FMI cortou sua previsão para o PIB do país neste ano, que, em janeiro, era de crescimento de 2,2%, mas aumentou sua projeção para 2021, antes em 2,3%. Questionado se a estimativa de um crescimento de 2,9% no próximo ano, após uma queda tão profunda em 2020, esbarrava nos atritos entre os Poderes no país, Werner disse que a previsão do FMI para o Brasil é guiada pelo fato de que o crescimento potencial e o avanço esperado para o PIB brasileiro já eram “relativamente baixos” mesmo antes da pandemia.
Recorde de conflitos no campo em 2019. Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgado na sexta-feira (17), revela que o Brasil registrou, em 2019, 1.833 conflitos no campo, o número mais elevado dos últimos cinco anos e 23% superior ao de 2018. O dado reúne ocorrências relacionadas a disputas por terra, disputas por água e conflitos trabalhistas.
Segundo o relatório, em 2019, houve recorde em disputas por terra, desde que os casos passaram a ser reportados pela entidade, em 1985. Em 2019, foram contabilizadas 1.254 ocorrências. A média foi de cinco casos por dia. De acordo com a organização, as disputas por terra impactaram a vida de 859.023 pessoas.
Além das propriedades de terra, a falta de acesso à água potável ou a iminência da falta estiveram no cerne dos conflitos, fazendo-se presentes em 489 deles. O índice foi 77% superior ao de 2018 (276). A CPT observa que as lutas em torno da água afetaram 279.172 pessoas, pertencentes a 69.793 famílias.
O relatório mostra que em 2019 o número de assassinatos chegou a 32, o que representa quatro casos a mais do que no ano anterior. Desse total, 28 estão associados a disputas por terra, três a conflitos trabalhistas e uma à disputa por água.
O total de tentativas de assassinato passou de 28 para 30, de 2018 para 2019. A diferença é de 7%, menor do que a variação de ameaças de morte, que subiram 22%, com o aumento de 165 para 201 casos.
Desmatamento da Amazônia continua. Dados recentes sobre o desmatamento na Amazônia brasileira aumentam as reclamações das comunidades indígenas por práticas ilegais no território. A partir do sistema brasileiro de detecção de desmatamento em tempo real, Deter, os alertas foram acionados pelo aumento do desmatamento na Amazônia brasileira em 30% a mais, em comparação a março de 2019.
Segundo dados de Deter, entre janeiro e março de 2020, foram emitidos alertas para 796,08 km² na Amazônia, um aumento que excede 51% em relação ao mesmo período de 2019, quando era de 525,63 km².
Os alertas de desmatamento destacam que apenas no mês de março, 326,51 km² de amazonas são ameaçados por essa prática prejudicial, tanto para o meio ambiente quanto para as comunidades indígenas.
Aos dados oferecidos pelas instituições públicas são acrescentadas as constantes queixas das comunidades indígenas, que manifestaram preocupação com o aumento da chegada de madeireiros ilegais a áreas em meio à pandemia de Covid-19.
O pesquisador do Imazon, um instituto brasileiro de pesquisa e monitoramento florestal, Paulo Barreto, denunciou que em meio à crise de saúde que afeta muito o país “A política de isolamento não atinge necessariamente as áreas rurais e, principalmente, as regiões mais longe dos grandes centros”, porque há uma redução na inspeção adicionada em uma entrevista à mídia local.
E é preciso olhar também para outra região do país. Em recente declaração do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, a prisão no Paraná de 10 pessoas que trabalham para uma empresa florestal da região e empregam desmatamento ilegal fez as ameaças aos habitantes da região aumentarem.
Deputados do Parlamento Europeu condenam o demente! Um grupo de deputados do Parlamento Europeu enviou uma carta na quarta-feira (15) ao alto representante da UE para Assuntos Exteriores, Josep Borell, afirmando que a postura do ex-capitão brasileiro de negar a gravidade da pandemia do novo coronavírus é um crime contra a humanidade.
Segundo os eurodeputados, membros do Confederal Group of the European United Left/Nordic Green Left, uma das razões para que ele “se posicione contra as medidas de isolamento é a de garantir sua reeleição em 2022”.
O grupo de parlamentares ainda destaca que, “apesar dos alertas emitidos por instituições e organismos nacionais e internacionais, o presidente continua negando a gravidade da pandemia”.
Os deputados também pedem que a União Europeia “censure e rechace energicamente a atitude dele e que, no marco dos programas de cooperação existentes com o Brasil, debatam com as autoridades pertinentes possíveis formas de apoiar os esforços para conter a propagação do vírus”.
O perigo da cloroquina. Já comentamos, em número anterior do Informativo, sobre os interesses de Trump na tal cloroquina e os motivos do abilolado brasileiro em insistir no uso, mas a questão é séria.
Cientistas brasileiros interromperam precocemente parte de um estudo sobre o medicamento antimalárico cloroquina, apregoado como possível candidato a tratamento contra infecções pelo coronavírus Sars-Cov-2 tanto pelo presidente americano, Donald Trump, quanto pelo ex-capitão brasileiro.
A pesquisa foi cancelada depois que 11 pacientes com o coronavírus que receberam uma dose elevada de cloroquina, morreram até o sexto dia de tratamento, segundo o jornal The New York Times.
Parte dos 81 pacientes com covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus, que estavam sendo testados havia apresentado batimentos cardíacos irregulares, o que aumentou o risco de desenvolverem uma arritmia cardíaca fatal. Após a morte de 11 deles, a parte do estudo envolvendo altas dosagens foi cancelada antecipadamente.
O demente já fez discurso contra essa medida dos cientistas, suspendendo os testes, e o “gabinete” do seu filho já começou a espalhar pelas redes sociais mensagens de ameaças aos cientistas.
Enquanto isso, em mensagem que recebemos na manhã desse sábado (18) ficamos sabendo que vários países europeus já proibiram o uso do medicamento e o governo francês apenas está aceitando o uso para testes em cobaias!
Cuba envia segunda delegação de médicos à Itália. Uma nova delegação de profissionais da saúde cubanos desembarcou na manhã de segunda-feira (13) em Turim, na Itália, para ajudar no combate à pandemia do novo coronavírus.
O grupo de 38 médicos e enfermeiros da Brigada Henry Reeve atuarão em uma estrutura temporária que está para ser concluída em Turim e dedicada exclusivamente a pacientes com covid-19.
“É um extraordinário gesto de generosidade”, disse no Twitter a prefeita da capital do Piemonte, Chiara Appendino, que aplaudiu os cubanos em seu desembarque na cidade.
Outra delegação da Brigada Henry Reeve já está em ação em um hospital de campanha em Crema, na Lombardia, região mais atingida pela pandemia na Itália.
Até o momento, o país contabiliza 156.363 casos, segundo a Defesa Civil, sendo 59.052 na Lombardia e 16.660 no Piemonte. As duas regiões também têm, respectivamente, 10.621 e 1.729 óbitos, enquanto a nação inteira soma 19.899.
Médicos cubanos também no Catar. A brigada médica cubana chegou ao Catar como parte da cooperação para fortalecer o sistema de saúde e cuidar dos pacientes afetados pela pandemia de coronavírus.
O Ministério de Relações Exteriores de Cuba informou na quarta-feira (15) a chegada da brigada médica que fortaleceria o sistema de saúde do Catar diante da pandemia de coronavírus (Covid-19).
Cerca de 200 profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, médicos e especialistas, chegaram à península arábica a pedido do governo do Catar, com o objetivo de prestar assistência solidária aos pacientes infectados com coronavírus.
A equipe cubana foi recebida pelo diretor executivo do hospital cubano Dukhan e pelo chefe do ponto focal de cooperação com Cuba, o Dr. Mohamed Almarri, o embaixador cubano Eumelio Caballero Rodríguez e o diretor do escritório de Serviços Médicos Cubanos para o coronavírus, Ernesto López Cruz.
Por sua parte, o co-presidente do Comitê Nacional de Preparação para a Pandemia, Abdullatif Al Khal declarou durante uma entrevista à mídia local que a solicitação de pessoal médico a Cuba faz parte de relações bilaterais e da cooperação que se desenvolveu durante a situação global do Covid-19.
“O Catar pediu a Cuba que envie um certo número de médicos e enfermeiros para ajudá-lo a combater o vírus. Temos uma experiência positiva com o Hospital Cubano. Os médicos cubanos são excelentes e Cuba é um país amigável; eles estenderam a mão" para o Catar”, enfatizou Al Khal.
A Organização Mundial da Saúde registrou um total de 3.711 casos confirmados de coronavírus e sete mortes no Catar.
Presidente argentino nega dilema entre economia e saúde. Alberto Fernández defendeu as medidas adotadas por seu governo contra o novo coronavírus, principalmente o isolamento social.
O presidente argentino Alberto Fernández, em entrevista à Perfil Network, sustentou que as medidas adotadas pelo executivo que ele lidera eram necessárias para conter a pandemia de Covid-19 no país.
Ele também enfatizou que é falso que exista um dilema entre saúde e economia, porque, para ele, a primeira coisa sempre foi a saúde das pessoas. Isso, apesar das consequências que o isolamento social gera para a economia. “Prefiro ter 10% mais pobres do que 100.000 mortos”, disse o presidente.
O presidente argentino afirmou que é verdade que a economia “está estagnada” devido às restrições e afirmou que tentará “que ninguém vá à falência”. “Quero que os setores mais pobres sejam sustentados e que a crise não devore a classe média. Estou antecipando tudo isso”, afirmou.
Em relação às medidas restritivas para os idosos, ele indicou que “tem uma sensibilidade especial com os idosos, porque eles são os mais fracos nessa situação”.
Em nova medida governamental, ele ampliou o prazo da quarentena, criou uma lei proibindo demissões nas empresas e está complementando o valor integral dos salários que foram reduzidos.
Nem precisa dizer que sua popularidade bateu recorde e tem amplo apoio popular!
Argentina deseja suspender pagamentos de sua dívida externa até 2023. O governo argentino apresentou um plano para reestruturar a dívida externa de detentores de títulos com títulos de acordo com a legislação estrangeira, que propõe um período de carência para os próximos três anos com juros de 62% e redução de 5,4% % do capital.
A oferta do governo “incorpora um período de carência” para evitar o pagamento de juros ou principal por “três anos”, explicou o ministro da Economia Martín Guzmán durante a apresentação pública na residência presidencial de Olivos, na província de Buenos Aires.
Durante uma reunião com o presidente Alberto Fernández, a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner e vários governadores, o chefe do Palácio de Fazenda reconheceu que ainda não há acordo com os credores, mas alertou “que hoje a Argentina não pode pagar nada, não apenas agora, mas por alguns anos”.
O país sul-americano retomaria o pagamento da dívida "com uma taxa de juros inicial de 0,5%" até "crescer para níveis sustentáveis".
O governo concederá um prazo de 20 dias para os credores aceitarem este contrato. E espera renegociar a dívida externa nas mãos de credores estrangeiros, mas alertou que o país deve crescer antes de cumprir seus compromissos financeiros.
América Latina: pandemia e dívida externa. Os organismos internacionais multilaterais como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, assim como credores privados, deveriam anular a dívida dos países latino-americanos durante a pandemia do novo coronavírus, para que essas nações encontrem alívio orçamentário no combate à covid-19. Essa é a opinião do economista espanhol Alfredo Serrano, diretor do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag), que encabeça uma campanha pelo perdão da dívida com apoio de diversas lideranças políticas da região.
Em entrevista a Opera Mundi, Serrano diz ser impossível para a América Latina combater a pandemia do novo coronavírus com “esse peso morto que é a dívida” e que justamente em meio a essa crise sanitária e social que o mundo vive seria o momento ideal para a anulação.
O diretor do órgão ainda diz acreditar que, “nesses novos tempos, os organismos internacionais também estão reestruturando muitos dos seus princípios que permitiram levar a cabo políticas econômicas nefastas e com graves consequências econômicas e sociais para os povos da América Latina”.
“Creio que estamos neste novo momento no qual os países deveriam, em suas instâncias legislativas, além do Poder Executivo, levar a cabo essas solicitações, essas exigências, em um momento no qual muitos organismos internacionais já abriram as portas para isso”, disse.
“Consideramos que é fundamental que o perdão da dívida esteja na agenda, que seja parte da nova agenda dos países da América Latina e deve ser um dos eixos centrais em matéria de relações internacionais. Deveria haver inclusive um pronunciamento das instâncias legislativas, para dar um tipo de base legal para seguirmos pedindo aos organismos internacionais, solicitando à Assembleia da Nações Unidas que se discuta esse tema como em 2015, quando ocorreu uma aprovação da maioria dos países do mundo em relações aos princípios para uma restruturação soberana da dívida”.
G20 suspende dívida de países mais pobres. Os ministros das finanças e os bancos centrais dos países do G20 deram aval na quarta-feira (15) para uma suspensão provisória da dívida dos países mais pobres, por uma duração de doze meses, a fim de ajudá-los a superarem a crise ligada à pandemia de coronavírus. O anúncio foi feito após uma reunião virtual organizada pela Arábia Saudita.
“Nós temos um compromisso claro, através de organizações internacionais, do FMI e do Banco Mundial. Essa suspensão da dívida é um anúncio realmente importante, o que significa que os países pobres não precisam se preocupar em cumprir seus prazos nos próximos 12 meses”, disse Mohammed al-Jadaan, ministro das Finanças saudita, acrescentando que a suspensão em efeito “imediato”.
Dezoito chefes de Estado europeus e africanos fizeram essa semana um apelo para um alívio das dívidas e para o lançamento de um plano de US$ 100 bilhões destinado à África.
Em entrevista exclusiva concedida à RFI na terça-feira (14), no Palácio do Eliseu, o presidente francês, Emmanuel Macron, explicou a sua estratégia para ajudar a África a enfrentar a pandemia de coronavírus. “Vemos a extrema dificuldade de enfrentar esse vírus e fornecer respostas nos países mais desenvolvidos, nos sistemas de saúde mais robustos: EUA, Europa, China. Quando olhamos para a situação da África hoje, nos planos da saúde, econômico e climático, é óbvio que lhe devemos solidariedade”, afirmou o presidente.
Macron ainda destacou que “a África enfrenta uma situação de vulnerabilidade na área da saúde: existe o HIV (vírus da Aids), a tuberculose, a malária e outras doenças”. Além disso, “estamos falando de um continente no qual dezenas de milhões de habitantes experimentam na carne o que é o choque climático”.
Na segunda-feira (13/04), o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou uma moratória sobre os pagamentos das dívidas de 25 países, a maioria situada no continente africano.
ONU condena decisão de Trump sobre OMS. O apoio da OMS “é absolutamente essencial para os esforços do mundo para vencer a guerra contra o Covid-19”, afirmou António Guterres.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, criticou na terça-feira a decisão do presidente dos EUA. Donald Trump cortando fundos para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em meio à pandemia de Covid-19.
“Não é hora de cortar recursos para as operações da OMS ou de qualquer outra organização humanitária na luta contra o vírus”, disse Guterres em comunicado publicado terça-feira no site da ONU.
O Secretário-Geral da ONU fez essa declaração horas depois de Trump anunciar que está suspendendo o financiamento para a OMS. “Estou ordenando que meu governo pare de financiar, enquanto uma investigação está sendo realizada sobre o papel da OMS na má administração e na ocultação da expansão do coronavírus”, disse o demente estadunidense na terça-feira, acrescentando que os “erros” da organização “causaram muitas mortes”.
Ele já havia anunciado, na semana passada, que estava considerando reter fundos para a OMS argumentando uma suposta má gestão da crise do coronavírus. Em particular, Trump acusou a agência de favoritismo em relação à China e a criticou por se opor à sua restrição de viagens do país asiático. O presidente dos EUA também observou que a OMS perdeu tempo quando o surto começou e lamentou não ter tomado medidas "meses antes".
Em resposta às acusações de Trump, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu para não politizar a pandemia.
China também critica. A China criticou na quarta-feira (15) o presidente dos EUA, Donald Trump, por cortar fundos para a Organização Mundial da Saúde (OMS), alertando que isso teria sérias implicações na resposta global à covid-19.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse que a batalha contra o novo coronavírus está agora "em um momento crítico", relatou a agência AFP. A decisão dos EUA de retirar o financiamento da OMS "minará a cooperação internacional contra a epidemia", o que deixa a China "seriamente preocupada".
Zhao acrescentou que a China está exortando “os Estados Unidos a cumprirem sinceramente suas responsabilidades e obrigações e apoiarem a ação internacional liderada pela OMS contra a epidemia”, porque a OMS está desempenhando um “papel insubstituível”.
O que restou para a OIT? No dia 11 de abril deste ano a Organização Internacional do Trabalho chegou aos 101 anos de idade. Como vamos lembrar, de forma rápida, o organismo já teve importante papel para o mundo do trabalho.
Basta lembrarmos que, depois da Primeira Guerra, o Tratado de Versalhes cuidou de reduzir os horrores dos primeiros anos do capitalismo selvagem e da industrialização desenfreada. Na época foram assinados os primeiros tratados para minorar a exploração e dar direitos sociais aos trabalhadores, em particular às mulheres e crianças.
Mais tarde, depois da Segunda Guerra, a Organização Internacional do Trabalho toma novas atribuições. Na época foi cunhado um lema: “A Paz universal e permanente só pode basear-se na justiça social”. Isto está nos primeiros documentos assinados.
Mas, ao longo desses 101 anos, e, principalmente, nos anos mais recentes de avanços da política neoliberal, com sua máxima de que “não existe sociedade e sim indivíduos”, a OIT foi perdendo sua força e sua importância iniciais. Hoje, praticamente, tem por função apresentar mapas estatísticos ou previsões, mas sem qualquer força para retomar o lema da “justiça social” que foi abandonado pelo caminho.
A OIT e o coronavírus. Nesta semana, cumprindo o papel que lhe sobrou, a OIT liberou seu segundo informe especial sobre os impactos do coronavírus no mundo do trabalho e reafirmou que essa crise global é a pior que conhecemos desde a Segunda Guerra.
A organização advertiu que os efeitos negativos da pandemia de covid-19 serão muitas vezes superiores ao que ocorreu em 2008/2009. O documento diz que as medidas de paralisação total ou parcial da economia, aplicadas por diversos países, já afetaram quase 2,7 bilhões de trabalhadores, cerca de 81% da força de trabalho mundial.
O relatório lista os setores com maiores riscos: comércio (pequeno e grande), conserto de veículos, manufaturas, atividades imobiliárias, administrativas e comerciais, além do setor de alimentação e hospedaria. Ou seja, pouco vai sobrar sem ser duramente atingido.
Mas, no nosso caso, a preocupação maior não é com os setores que serão mais ou menos afetados. Nossa preocupação é saber qual a alternativa, qual a perspectiva para esses trabalhadores?
Bernie Sanders apoia Joe Biden. O senador Bernie Sanders, considerado de centro-esquerda, endossou na segunda-feira (13) a candidatura de Joe Biden para a presidência dos EUA. O anúncio ocorre cinco dias depois dele desistir de disputar a indicação do Partido Democrata à Presidência, deixando o caminho livre para que o centrista ex-vice-presidente de Barack Obama enfrente o republicano Donald Trump nas eleições de novembro.
Sanders anunciou sua decisão em uma transmissão ao vivo com Biden. “Devemos nos unir para derrotar o mais perigoso presidente na história moderna”, escreveu Sanders no Twitter, ao anunciar que estava se juntando a Biden.
A decisão do senador contrasta com a campanha de 2016, quando Sanders esperou até a Convenção Nacional Democrata, que ocorreu em junho daquele ano, para anunciar seu apoio à candidatura de Hillary Clinton. A convenção deste ano está prevista para ocorrer em agosto.
Sanders anunciou que estava deixando a corrida democrata no dia 8 de março. “Termina a campanha, mas a luta continua”, disse na ocasião o senador pelo pequeno estado de Vermont, em comunicado.
Obama também declara apoio a Biden. O ex-presidente Barack Obama anunciou na terça-feira (14) seu apoio ao candidato democrata Joe Biden, que enfrentará Donald Trump na disputa pela Casa Branca em novembro deste ano.
“Joe Biden tem experiência para nos guiar em um dos momentos mais sombrios. Ele sabe trabalhar com aliados”, afirmou Obama, em um vídeo publicado nas redes sociais.
No início da gravação de 12 minutos, o ex-presidente disse que o mundo vive tempos anormais e a pandemia do novo coronavírus é algo que não se presenciou em um século. “Se há algo que aprendemos como um país em momentos de grandes crises é que o espírito de cuidar um do outro precisa estar refletido no nosso governo”, disse Obama, fazendo uma referência a Biden.
Joe Biden, de 77 anos, deve ser indicado oficialmente como o representante do Partido Democrata nas eleições durante convenção da legenda, no próximo dia 17 de agosto. "Agora é a hora de lutar pelo que acreditamos", finalizou Obama.
Os ricos já “se mandaram”! Excelente a matéria da jornalista Mercedes Gallego, em “El Correo”. Ela mostra o grande engano de quem andou falando por aí que o coronavírus seja igual para rico e pobre em doenças e morte. Segundo ela o vírus pode não fazer perguntas, mas não foi encontrado em casa pelos ricos que vivem em Nova York.
Interessante é que a cidade conseguiu destaque mundial ao registrar uma morte por coronavírus a cada dois minutos. Mas não entre os ricos e super-ricos que estão “se mudando” para regiões estadunidenses longe de grandes cidades e onde nenhum caso foi registrado. Áreas nos campos, nas montanhas, etc.
Compram grandes casas e contratam serviços de helicópteros que os levam para os novos lares. Nada de contato com o povo, nada de andar pelas ruas ou estradas, etc. A empresa de helicópteros Blade, considerada uma espécie de Uber das hélices, que apesar de cobrar entre 500 e 700 euros pela entrega, diz que recebeu uma enxurrada de pedidos. Somente em Southampton, a população cresceu de 60.000 para 100.000. Os novos residentes pagaram o que fosse necessário para sair de Nova Iorque e ter uma quarentena de luxo.
O investidor imobiliário Joe Farrell disse que alugou uma de suas mansões em Bridgehampton a um magnata têxtil desesperado por abandonar a cidade e que pagou US$ 2 milhões (1,8 milhão de euros) por toda a temporada até o final de agosto. Dez quartos, 15 banheiros, uma pista de boliche, uma sala de cinema, uma pista de patinação e, é claro, uma piscina aquecida ao lado do mar, caso o verão seja tarde.
Nova Iorque está se despindo para todos. Enquanto as ruas se esvaziavam, a miséria foi exposta. Os sem-teto não têm onde se esconder e não há mais Starbucks para esgueirar-se para usar o banheiro. Eles são os únicos que habitam as ruas e dormem no mundo subterrâneo do metrô, onde se misturam com os trabalhadores que não conseguiram escapar do trabalho. Presos entre o medo de ficar sem ele e o medo de adoecer, aqueles que nem sequer têm qualificações de teletrabalho continuam a usar o transporte público todos os dias para abastecer supermercados, cozinhar em restaurantes ou pedalar para entregar em casa.
Os EUA estão dando uma lição ao mundo: esse é o mundo liberal, onde o pobre e o trabalhador morre e o rico tem como “se mandar” até tudo passar.

O desafio para além da peste



 

O desafio para além da peste





Todos sabemos que depois da pandemia da Covid-19 virá a recessão. Depois da pandemia e da recessão virá a crise social, potencializada por uma e por outra. Da pandemia não sabemos quando nos livraremos, nem como, pois seus efeitos dramáticos são levados ao extremo pela irresponsabilidade paranoide do capitão Bolsonaro. Sabemos que por muito tempo ainda choraremos nossas vítimas. O galope da recessão chega aos nossos ouvidos amplificado pelo desastre do neoliberalismo caboclo, que fragilizou uma economia já estagnada. Os analistas,  mesmo a gente do mercado, são unânimes em prever a queda do PIB brasileiro, que, depois do pífio resultado de 2019 (1,1%), deve amargar uma retração entre 5% e 10%, variante segundo a fonte de observação. Aquele país de poucos anos passados, que sonhava em crescer e desenvolver-se, está, hoje, condenado à pobreza, sem esperanças de autonomia, destinado a conviver com a mais impiedosa concentração de renda. É o saldo do golpe de 2014, que se institucionalizou com Temer e se consolida com o capitão. O anúncio de que dias piores virão, desafiando nosso engenho e arte.
Sobre o desarranjo doméstico pesará, ainda, aprofundando-o, o panorama internacional recessivo. O relatório World Economic Outlook, do FMI, divulgado esta semana, estima que a economia mundial sofrerá, em 2019, uma retração de 3%, a maior desde a crise de 1929. São evidentes seus efeitos sobre a economia de países como o Brasil, que renunciou à industrialização e, assim, tornou-se mais do que nunca dependente  das exportações de matérias-primas, portanto ainda mais vulnerável ao jogo do mercado internacional.
Segundo relatório do Banco Mundial (The Economy in the Time of Covid-19), o Brasil enfrentará, este ano,  três choques: demanda externa fraca, preços do petróleo em queda e estagnação econômica. Uma de suas consequências óbvias é o aumento do desemprego, trazendo mais  angústia e fome a milhões de famílias brasileiras. O banco, porta voz do capitalismo monopolista que controla a economia do mundo, receia o aumento pobreza e da desigualdade, fatores clássicos de  alimentação do descontentamento social, fantasma que o establishment tanto teme.
Some-se, agora, a tudo isso, a crise política que é em si o governo do capitão e seus monitores estrelados, e teremos a perspectiva próxima da crise institucional que quase sempre se encerra, entre nós, com a fratura da ordem democrática e a ascensão (ou aprofundamento) de governos anti-populares, pois  não é preciso ser pitonisa para ver, já,  o que nos aguarda no médio prazo. Vejo nele, em nossa atuação em face dele, o grande desafio das esquerdas brasileiras.
Sem, evidentemente, ignorar o aqui e agora, mas a ele não se cingindo, as forças de esquerda e democráticas, populares no seu sentido geral, devem já voltar suas atenções para esse amanhã que se desenha no horizonte. Cuidar  de sua reorganização, ampliar suas bases, disputar com a direita e a extrema-direita o debate ideológico, é o preço cobrado para nossa intervenção no processo político-social. Do contrário permaneceremos, como hoje, relegados ao papel de meros assistentes do real jogo de poder, aquele que se trava no âmbito restrito da casa-grande, onde empresários, militares e os procuradores do império negociam nosso futuro. E se assim for, ou seja, se não recuperarmos as condições de intervir no processo social, só nos restará, uma vez mais, ouvir o diktat da classe dominante, o privadíssimo clube do 1% de ricos e milionários que nos governa desde sempre.
Que fazer? Organizarmo-nos para alterar a correlação de forças (que não é um determinismo, mas uma contingência), porque o mais efetivo combate ao capitão se trava, ou deverá travar-se,  no plano ideológico, vale dizer, na disputa da consciência popular. Porque o bolsonarismo pode sobreviver a Bolsonaro.
Ao lado dos indicadores de rejeição ao capitão e ao seu governo, há a registrar-se um forte e resistente apoio popular a esse senhor e ao seu projeto de extrema-direita. Cumpre levar em conta a realidade para podermos alterá-la. As sondagens de opinião indicam que os apoiadores do extremista correspondem a algo entre 25% a 30% do eleitorado, o que não é nada desprezível. Trata-se de base suficiente para sustentar qualquer governo ou animar aventuras. Esse apoio, que se mostra resiliente desde as eleições, é, por sem dúvida, sua força principal, sua segurança e sua blindagem. Com ele o capitão dialoga com o mercado e os militares. Essa resiliência vai além do antipetismo da campanha de 2014, e já indica a identificação dessas massas com as teses mais atrasadas e reacionárias do receituário protofascista. Precisamos ter a humildade de reconhecer a presença desse mundo cuja existência ignorámos até 2014.
A estratégia de luta deve partir do pressuposto de que há  plena identidade ideológica entre o capitão e o comando das forças armadas. O paraquedista foi formado na mesma escola dos generais de hoje, e segundo o mesmo catecismo. As diferenças não passam de pequenas nuanças de estilo, formais, secundárias e, assim, facilmente corrigíveis, em benefício do projeto comum.
O governo é dos militares. Nele não apenas têm assento, mas, principalmente, o protagonizam, na ação e na doutrina. O limitado capitão, instrumento de um projeto de poder, uma contingência,  foi o cavalo encilhado de que os militares lançaram mão para cavalgar de volta ao governo. Esse projeto, portanto, não começa com Bolsonaro (e pode continuar sem ele): vem bem de trás, desde pelo menos a desestabilização do segundo mandato de Dilma Rousseff. Une-os, no governo, a velha visão de um mundo bipolar (mesmo depois do fim da guerra fria), no qual o papel do Brasil é de filiação incondicional aos projetos geopolíticos (militares e econômicos) dos EUA. É incrível, em face da realidade presente, mas assim é. O resto são suas consequências. Os homens de farda concordam (posto que do contrário ela não teria vigência) com a atual política externa, mediante a qual o Brasil renuncia à soberania, porque jamais aceitaram a política externa “altiva e ativa” do governo Lula, que, sem confrontos, propunha desenvolvimento e auto-determinação. Concordam e dão respaldo à política antinacional do “posto Ipiranga” (nela implícitas as privatizações na bacia das almas e a desnacionalização da economia), e de há muito renunciaram à defesa do Estado desenvolvimentista que em priscas eras ajudaram a construir. Na ausência da ameaça comunista, pretexto engendrado para tantas rupturas da ordem constitucional,  entoam o antipetismo. Amanhã será diverso. Outro adversário interno será inventado. De permanente, porém, ficará a ferrenha defesa do statu quo, a ojeriza  a qualquer sinal de emergência das massas ou de qualquer forma de uma democracia social e participativa.
Para o conjunto das ainda desarticuladas esquerdas brasileiras, que não pretendem qualquer sorte de tomada de poder, mas que, com o aval da experiência histórica, insistem na busca de alternativas que assegurem a continuidade democrática, o fundamental deve ser encontrar a tática correta de enfrentamento ao que aí está, e esta parece ser disputar o apoio perdido para a direita junto às grandes massas, desafio tanto maior quanto são ingratas as condições atuais de luta.
Ou seja, há muito o que fazer, para além de esperar que outras forças cumpram com nosso papel histórico, como esperámos, em 1964, com as consequências que chegam até nossos dias.

Perguntas que não querem calar: Quem mandou matar Marielle? Quem está escondendo Fabrício Queiroz? Onde estão os celulares do miliciano Adriano da Nóbrega, que tanto tardaram a chegar à perícia? Qual o segredo das milícias cariocas que o general Braga Neto guarda?

 Lei mais em www.ramaral.org.br
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Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia
 
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Plano Lula pode salvar o Brasil

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Arthur Chioro: “agora temos um legítimo ministro que expressa a necropolítica”

Arthur Chioro: “agora temos um legítimo ministro que expressa a necropolítica”

Ex-ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff critica Luiz Henrique Mandetta, mas diz que sua saída é ainda pior para a condução da crise do coronavírus. Para ele, a fala do novo ministro, Nelson Teich, sobre priorizar o tratamento de um adolescente no lugar de um idoso é a “expressão clara da necropolítica”
Arthur Chioro e Nelson Teich
Arthur Chioro e Nelson Teich (Foto: ASCOM | REUTERS/Adriano Machado)
 
247 - O médico sanitarista e ex-ministro da Saúde Arthur Chioro falou à TV 247 sobre a situação do sistema de saúde brasileiro em meio à crise do coronavírus, defendeu que o Estado deveria coordenar todos os leitos de UTIs do País e avaliou politicamente a saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde e a entrada de Nelson Teich.
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Chioro, que atuou no governo Dilma Rousseff, criticou Mandetta, mas afirmou que sua saída é ainda pior para a condução da crise neste momento. Ele definiu também como “a expressão clara da necropolítica” a fala do novo ministro, Nelson Teich, em um vídeo de abril de 2019 em que ele diz que, numa situação onde não há recursos para tratar todos, um adolescente deveria ser priorizado diante dos idosos, por ter mais tempo de vida. “Eu achava que o Mandetta era uma expressão enrustida da necropolítica. Agora temos um legítimo ministro que expressa a necropolítica”, afirmou.
Chioro lembra que Mandetta, apesar de ter saído do governo com uma boa imagem em meio à crise, foi um dos principais responsáveis pela aprovação da EC 95 - do teto de gastos -, que prejudicou de forma cruel os repasses para a saúde pública. O que vem por aí na condução da crise, com Nelson Teich à frente da pasta, no entanto, é muito pior, avalia o ex-ministro.
“Em meio à pior pandemia do último século, colocar no comando do Ministério da Saúde uma autoridade que não sabe o que é o SUS... ele terá um tempo de aprendizado que custará caríssimo para a sociedade brasileira. Ninguém torce para dar errado porque seria torcer contra a sociedade. Ele tem que acertar, mas a chance de ele acertar é nenhuma”.
Chioro criticou ainda a falta de coordenação do governo federal com estados e municípios para lidar com a crise, com governadores encomendando equipamentos da China, prefeitos requisitando leitos de UTIs do setor privado, sem diálogo entre si. “Isso nós perdemos, já não dá mais tempo. E quando esses caras (nova equipe do governo) começarem a entender o que é o sistema de saúde, acabou a pandemia”.
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