segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Fascismo do Século XXI e o papel da Classe Média

O Fascismo do Século XXI e o papel da Classe Média

Há sinais claros de que uma parcela influente da sociedade brasileira está se aproximando cada vez mais dos valores totalitários específicos do fascismo.
André Calixtre / Carta Maior
fascismoQuem algum dia teve estômago para assistir ao maravilhoso e grotesco “Salo, 120 dias de Sodoma”, de Pasolini, encontrou lá a definição mais aguda sobre o fascismo e suas peculiaridades ante outras formas de totalitarismo. No filme, Pasolini escancara ao público uma personagem absurdamente banal e monstruosa de Mussolini, que se enclausura com sua alta cúpula de governo em uma mansão de campo, levando com ele dezenas de jovens, homens e mulheres, com as quais praticaria os mais abomináveis atos possíveis e imagináveis pela mente humana.
O que é que Salo tem que ajudaria a compreender a sociedade brasileira nos dias de hoje? Muito. Há sinais claros de que uma parcela influente da sociedade brasileira está se aproximando cada vez mais dos valores totalitários específicos do fascismo.
Essa percepção não vem somente dos recentes episódios de espancamentos físicos e morais de pessoas comuns, na maioria mulheres, inclusive mães com bebês, única e exclusivamente devido à roupa vermelha utilizada em espaço público. Não, a percepção de que o Brasil está gestando o fascismo do século XXI vem do comportamento de suas instituições, ou melhor, do estado de sítio a que elas estão sendo progressivamente submetidas.
O obsoleto sistema político brasileiro adotou como estratégia de sobrevivência o abandono das principais regras de convivência democrática, em prol do objetivo inescrupuloso de retirar do poder, a qualquer custo e sem fato concreto, um presidente democraticamente eleito. A celebração dessa festa bizarra assumiu contornos alarmantes quando nenhuma repreensão, fora do campo democrático, foi vista diante do vazamento a veículos alheios ao devido processo legal de escutas ilegais da mandatária máxima à mídia encastelada na defesa de seus interesses de derrubar o governo, expondo as garantias constitucionais aos ouvidos de todos.
A democracia é uma instituição frágil, convive mal com os sentimentos dos homens; mas tende a se consolidar na sociedade se houver tempo para florescer, e o Brasil esta longe desse exemplo. Na última década, a combinação das redes sociais com o decadente sistema político fermentou novas bases de avanço do fascismo, conferindo voz pública a pessoas que restringiam suas manifestações grotescas às mesas de bar, aos cultos, às lojas e agremiações sociais e à tribuna exercida por partidos antes nanicos e exóticos. Atores políticos participaram do banquete antropofágico e utilizaram a fragilidade das instituições democráticas para golpear valores fundamentais de nossa sociedade moderna. Em poucos anos, temos em curso a redução da maioridade penal, a restrição do conceito de família, a criminalização dos movimentos sociais, o ataque a múltiplos direitos fundamentais da seguridade social, a entrega da soberania sobre os recursos naturais às grandes corporações transnacionais. O fascismo do século XXI vai-se fortalecendo na desconstrução dos direitos constitucionais pactuados pela redemocratização.
Hannah Arendt ensina que a força totalitária espreita a qualquer ação política, mesmo dentro da democracia, alimentando-se de todos os campos ideológicos. O fascismo (considerando suas inúmeras variantes históricas) é a forma mais brutal desse governo, mas, para ele existir, precisa estar sempre hígido, cheiroso, impecável. O fascismo nutre-se do sentimento de pureza das pessoas de bem ao seu redor, em suas camisas negras ou verdes-amarelas, convictas de que contribuem para a ampliação da democracia, quando fazem o inverso. Atrás da montanha de vaidades construída pela “beleza” fascista é que se operam os campos de concentração na Sodoma dos homens.
Nesse invólucro que protege o fascismo dele mesmo, os cidadãos do lado claro da montanha não podem saber o que acontece no lado escuro dela. Enquanto a turba ocupa as ruas exigindo candidamente o verde-amarelo do fim da corrupção (de toda a corrupção!), o fascismo corrompe o sistema democrático ao turvar as garantias individuais em nome do jogo de poder. Juízes transformam-se em justiceiros e assumem as feições sobre-humanas do fascismo. Heróis acima da lei capazes de guiar o destino dos homens comuns. O fascismo é uma epopeia peculiar, pois se mobiliza nos heróis-ninguéns, em pessoas esquecidas pelas elites sociais, culturais ou intelectuais que, repentinamente, são alçadas à condição de semideuses. Não é por menos que, nos períodos em que o fascismo impera como sistema, a produção artística rebaixa-se em quantidade e, principalmente, em qualidade.
A Classe Média é a referência política de qualquer sistema social moderno e capitalista. Por isso, a disputa do fascismo está dentro de seus determinantes, na qual esse avança à medida que o sistema político não encontra mais formas de equacionar democraticamente o conflito distributivo no interior do desenvolvimento socioeconômico. Diferentemente do que afirmou Mussolini ao definir a sociedade por meio de um Estado totalitário em que nada estaria abaixo dele, o fascismo na verdade representa uma ruptura radical da separação entre Estado e Indivíduo, fundindo-os numa força sem regras que limitem a existência de ambos. A engenharia social, ao mesmo tempo racista e racionalista, é a principal propaganda de atração dos descontentes e dos desesperados em meio às crises cíclicas do capitalismo.
A Classe Média brasileira é peça chave na direção do processo democrático, e, infelizmente, tem demonstrado intensa fadiga desde sua peculiar consolidação no período do Regime Militar, cujos valores republicanos foram deturpados pelo ambiente de ausência de liberdades civis e pela impensável concentração de renda e riqueza promovida pela ditadura. A meritocracia, modo de operação da legitimidade de qualquer classe média no mundo, é uma falácia no Brasil, pois não há igualdade de oportunidades em nenhum estágio de vida entre um membro do interior da Classe Média e outro de fora dela.
Nos anos 2000, o convívio com os subalternos foi promovido pela tentativa de estruturação do mercado de trabalho e pelo resgate das políticas públicas.
Muitos pontos de contato foram produzindo tensões entre a Classe Média e as novas classes trabalhadoras em ascensão. Nos espaços públicos, nas universidades, nos lares, tudo parecia em disputa. A intensidade do crescimento econômico favorecia muito mais as rendas baixas que as médias-altas. Em termos geracionais, os filhos da Classe Média pós-ditadura sentem-se em desvantagem ante os filhos das classes trabalhadoras. Esta é a principal origem do ódio de classes hoje no Brasil. Mas o fascismo não vive apenas de ódio, ele precisa de algo mais: deve-se justificar na ideia de pureza dos cidadãos de bem. É preciso que este ódio vista a máscara dos símbolos da Classe Média; cujo centro é a sempre meritocracia.
Como o código de ascensão social ancorado por políticas públicas afronta simbolicamente o mito da meritocracia, a Classe Média inteira não é capaz de proteger a incorporação dos outros extratos, portanto ela se fragmenta entre uma subclasse progressista e outra profundamente reacionária. O fascismo atua diretamente sobre essa cisão, aprofundando o antagonismo entre as frentes de posicionamento e fragilizando a defesa histórica que a Classe média deveria ter para com a democracia. A promessa do fascismo é de um caminho mais curto de retrocessos sociais, amplificando o desespero social em medidas que ignoram as regras do jogo democrático. O objetivo último, a volta dos novos atores a seus lugares do passado, é o que importa.
Amparado pela propaganda cotidiana dos monopólios mediáticos, a fração reacionária da Classe Média acredita, como um fetiche, ser a real portadora da mudança moral do país. Isso é o mecanismo mais profundo de florescimento do fascismo: a transferência para o outro de todo o lado sombrio da montanha. Reproduza isso a um partido político, que em segundos a onda fascista atinge as instituições, acovardando-as ante os heróis-ninguéns criados no processo histórico. O fascismo do século XXI representa este atalho no retrocesso social, e a Classe Média pode-se transformar em sua vanguarda contra revolucionária.

Em Defesa da Democracia: A saída é pela Esquerda

Em Defesa da Democracia: A saída é pela Esquerda

o povo sem medoO momento é grave. A democracia está em perigo. Nas últimas semanas, os setores que querem derrubar Dilma e prender Lula apostaram todas suas fichas, passando por cima inclusive de garantias constitucionais e das liberdades democráticas.
Insuflaram um clima macartista de intolerância e ódio, que se traduziu nas ruas com intimidação e agressões contra quem diverge. O ambiente criado é de caça às bruxas, de ameaça à nossa já frágil e limitada democracia.
Nunca é demais lembrar que o impeachment que querem impor tem a marca corrupta, antidemocrática e chantagista de Eduardo Cunha, representante do que há de pior na política brasileira.
A Lava Jato, impulsionada pelo legítimo anseio de combateà corrupção, transformou-se num instrumento de abusos e de seletividade. O juiz Sérgio Moro, vestindo a roupa de salvador da pátria, acredita poder passar por cima das garantias constitucionais mais elementares.
Defendemos que a corrupção seja investigada até as últimas conseqüências. Mas para todos e com as garantias previstas na lei.
Não é de hoje que o Estado brasileiro é seletivo. A adoção da “justiça de exceção” é regra desde sempre nas periferias urbanas, contra os pobres e negros. Direito de defesa aqui nunca existiu. O procedimento usado pela polícia e o judiciário nos becos e vielas querem agora legitimar como regra sob os aplausos inflamados pela mídia.
É preciso também fazer uma diferenciação: uma coisa é enfrentar esta ofensiva antidemocrática, outra é defender este governo. Entendemos que as políticas assumidas pelo Governo Dilma são indefensáveis. Adotou o programa derrotado nas urnas, iniciou um ajuste fiscal antipopular e assumiu uma agenda de retrocessos com temas como a Reforma da Previdência e a lei antiterrorismo. Políticas como essas criaram rejeição popular ao governo e deram base social ao golpismo em curso.
Além disso, os governos petistas chocaram o ovo da serpente. Perderam oportunidades de pautar questões como a democratização das comunicações e do sistema político, além de reformas populares. Hoje sofremos todos as conseqüências desta falta de ousadia. A Rede Globo é a grande artífice da ofensiva reacionária.
Por isso não temos disposição de ir às ruas em defesa deste governo. Mas também não ficaremos calados e acovardados ante as ameaças ao que temos de democracia no Brasil. O ataque não é somente contra o PT. É contra o que quer que seja de esquerda neste país.
Querem aniquilar o movimento social. Querem impor um ambiente de intolerância e linchamento, onde não há espaço para o pensamento e a ação críticos. A solução que a direita brasileira propõe representa ainda o aprofundamento dos ataques a direitos sociais e trabalhistas.
A saída para a crise é com o povo e pela esquerda. Defendemos um programa de reformas populares, que faça o andar de cima pagar a conta da crise. Defendemos a desmilitarização da polícia e a radicalização da nossa democracia. Defendemos a ampliação de direitos e liberdades. Mas sabemos que para construir este caminho é preciso deter os retrocessos, barrar a saída à direita representada pelo golpismo. Não há tempo para vacilação.
Por isso, estaremos todos/as nas ruas na próxima quinta-feira, dia 24.
Ato Nacional em São Paulo: as 17hs, no Largo da Batata, de onde marcharemos até a Rede Globo!
Ocorrerá mobilizações também no Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Uberlândia, dentre outras cidades brasileiras.
POVO SEM MEDO
Frente Nacional de Mobilização

O Brasil acorda para as ameaças reais

O Brasil acorda para as ameaças reais

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Transformar o ódio à corrupção em ódio às visões progressistas do país constitui em si uma construção profundamente corrupta e desonesta.
Ladislau Dowbor*
ladislaudoborO que apareceu no início como positivo, o combate à corrupção, se transformou gradualmente num pesadelo que ameaça a democracia e a legalidade institucional. Não é a primeira vez que uma boa bandeira se transforma em cavalo de Tróia, abrigando o que há de mais podre, e gerando mais problemas que soluções. Não foi muito diferente com a tão legítima operação “Mãos Limpas” na Itália que gerou 20 anos de retrocessos e populismo conservador com Berlusconi.
brasil-choroQuando a corrupção é sistêmica, e se trata sem dúvida do nosso caso, é o sistema que tem de ser combatido, e prisões espetaculares e mediáticas apenas deslocam o assunto, e mudam os corruptos de plantão. O sistema permanece, e agradece.
Transparência (na linha da Lei da Transparência de 2011), democratização dos processos decisórios, auditorias abertas e não compradas, publicidade dos contratos e outras medidas de gestão precisam ser adotadas para que a presente luta não se resuma, como está sendo atualmente, à substituição de pessoas. A luta contra a corrupção deve ser substantiva, e não apenas ferramenta escancarada de luta pelo poder político.
Muito mais preocupantes ainda são os avanços sobre os recursos públicos que grupos famintos estão já preparando ou conseguindo: privatização e venda da Petrobrás e do Pre-sal, maiores avanços ainda dos grupos financeiros que já praticam juros extorsivos, abertura geral da venda de terras, retrocesso nas políticas sociais, liquidação de uma visão de nação soberana. A podridão só avança com grandes bandeiras de moralidade.
O mínimo que se espera, é que as pessoas se informem. Abaixo colocamos os links para um conjunto de tomadas de posição. Transformar o ódio à corrupção em ódio às visões progressistas do país constitui em si uma construção profundamente corrupta e desonesta. Valemos mais do que isto. Vejam com isenção, usem e divulguem estas tomadas de posição. O Brasil precisa mudar sim, mas mudar para a frente, não para trás. E usar a corrupção para dar o golpe, já vimos isto em 1954 com Getúlio, em 1964 com Jango, e outros momentos de grandes discursos éticos abrindo a porta para a quebra da legalidade e das instituições.
Posição Fórum 21Carta aberta ao juiz Moro
“À delicada situação política e econômica vivida pelo Brasil acrescenta-se agora uma espiral de  insegurança jurídica, conforme a percepção de um leque ecumênico de respeitáveis vozes do Direito, a exemplo de Marco Aurélio Mello, Fábio Konder Comparato e Celso Bandeira de Mello.”
Manifesto Fórum 21 Petição Pública em defesa da democracia
“O direito de todos os cidadãos deve ser garantido e não atropelado pelos guardiões da lei. Os cidadãos, as entidades e organizações da sociedade civil abaixo, subscrevem este documento em defesa da ordem constitucional e contra o golpe às instituições democráticas.”
Posição Frente Brasil PopularNota em repúdio à condução coercitiva
“Desde já nos colocamos em estado de alerta e mobilização permanente em defesa da democracia contra o golpe, em defesa de nossas conquistas e direitos ameaçados.”
Posição Clacso/Gentili – Ante la situación em Brasil
Comunicado del Secretario Ejecutivo de CLACSO: “Hoy, en Brasil, se ha avanzado un paso más en el proceso de desestabilización institucional que pretende perpetrar un sector del Poder Judicial, la Policía Federal, los monopolios de prensa y las fuerzas políticas que han sido derrotadas en las últimas elecciones nacionales.”
Posição MSTNota pública
“Por último, essa crise politica, que afeta as instituições da República, os partidos políticos e a política em si, exigem uma profunda reforma política que deverá ser consolidada em uma nova Assembleia Nacional Constituinte, soberana e independente.”
Posição CUTNota da CUT
“O Brasil vive um momento decisivo em que a democracia está em risco e os direitos fundamentais estão sendo violados. Setores conservadores utilizam o Judiciário e os grandes conglomerados de comunicação, controlados por seis famílias, para perseguir o ex-presidente Lula e seus familiares com uma campanha sórdida de mentiras e acusações sem provas.”
Posição UNENota da UNE
“O momento é de defesa da democracia, que não pode ser atacada na forma de investigações e operações seletivas. A luta que nos guia nesta hora é da intransigível defesa do Estado Democrático de Direito. Convocamos todas e todos os estudantes do Brasil para essa batalha.”
Posição docentes e pesquisadores FFLCH-USPNota do Coletivo em Defesa dos Direitos Conquistados
“Esse desmonte de direitos agride diretamente nossas convicções e valores democráticos. Assim, entendemos dever romper o silêncio para, por meio de um debate público, contribuir para a sustentação e ampliação destes direitos e o aprofundamento de nossa convivência democrática.”
“Se fosse, mesmo, uma luta sincera contra a corrupção, Alckmin, Richa, FHC e Serra deveriam ter o mesmo tratamento e mesma exposição na imprensa.”
“A política deles não é feita de projetos políticos, é algo mais perverso: a vontade de destruir Lula, de liquidar o PT e colocá-lo contra o povo.”
“Lula não tem mais cargo no governo, mas um ex-presidente não pode ser tratado como um meliante.”
Wanderley Guilherme dos Santos: Preparar para a hora do ‘Basta’!
“Procuradores estão desviando o olhar da população do que é fundamental: a acumulação econômica ilegítima via predação de patrimônio e recursos públicos. “
Jânio de FreitasIsto foi
“A megaoperação resultou em mega-advertência à Lava Jato”
“Nada disso, no entanto, seria possível se os golpistas de hoje não tivessem à sua disposição a maior parte dos grandes órgãos de imprensa do país.”
“A condução coercitiva do Lula, juridicamente, não passa de um absurdo. Porque quem não se recusa a depor, quem não resiste a colaborar com a autoridade, não pode receber nenhuma condução coercitiva.”
“A detenção de uma pessoa, sobretudo para depor, só pode ocorrer em casos extremos, quando a pessoa foge ou se recusa a depor. Não é o caso do ex-presidente”
“Essa situação anímica somente ocorre pela inexistência de suficiente tratamento legal, doutrinário e jurisprudencial da devida investigação legal (com obediência ao princípio do investigante natural) como pressuposto do devido processo legal”.
“Não pode ocorrer uma desmobilização, um sentimento de ‘ah, é isso mesmo, vamos para casa’. Isso significaria que eles podem fazer o que eles querem”.
“A condução coercitiva, feita fora da lei, é uma prisão por algumas horas. E prisão por um segundo já é prisão”.
“O argumento utilizado, de que a medida se prestaria a garantir a segurança do ex-presidente e de pessoas por conta de possíveis manifestações, é absolutamente sem qualquer fundamento fático ou legal, primeiro pela carência de embasamento na lei.”.
A entrevista foi concedida na sede nacional do PT. A prisão de Lula para depoimento se deu no bojo de uma articulação mediática nacional. No dia anterior a IstoÉ publicou matéria vazando uma suposta delação premiada do Senador Delcídio Amaral que busca implicar Dilma e Lula em corrupção e após o Jornal da Globo ter tomado aproximadamente meia hora de seu jornal em horário nobre para reproduzir a matéria da IstoÉ. O conjunto é a preparação de um golpe em Lula já está condenado por antecipação.
Ato no Sindicato dos Bancários em 04.03.2016 – 1h 22 min. – milhares de pessoas se juntaram na noite do dia 4 de março no sindicato dos bancários
Posicionamentos de inúmeros jornalistas, blogueiros e comunicadores no Sindicato de Jornalistas de São Paulo. Os jornalistas têm as informações, mas não têm os meios de comunicação, como diz Fernando Brito.
*Ladislau Dowbor é fundador da Revista Diálogos do Sul.

Stella Caloni: Guerra Contrainsurgente – Brasil sob fogo

Stella Caloni: Guerra Contrainsurgente – Brasil sob fogo

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Stela Calloni, jornalista das mais premiadas na Argentina, correspondente de La Jornada do México, e representante deDiálogos do Sul, a primeira a revelar para a Mídia a Operação Condor, inicia uma série de reportagens sobre a guerra contrainsurgente na América Latina, e começa com o Brasil, talvez o mais emblemático.
Stella Calloni*
terror-155754_640Imagens da guerra contrainsurgente que os Estados Unidos aplicam de forma simultânea se vêem todos os dias em vários países da região, para fazer-nos lembrar de que a ofensiva está ativada e que não há nenhum tipo de ocultação sobre o objetivo geral que não é – como se diz – chegar a uma restauração conservadora, mas sim, como estamos vendo na Argentina, uma restauração colonial.
É por causa de “erros” que caem os governos populares e progressistas? Na realidade o maior erro cometido é não ter percebido que a “nova” direita brutal à qual se enfrentam, é hoje como nunca foi antes a mais decadente, porém organizada, dirigida e financiada por Washington. Governos sem poder, como são e como foram, enfrentam-se nada menos do que com o poder imperial, que os castiga não pelos seus erros, mas por seus melhores acertos. O erro é não ter percebido que o inimigo real em período de expansão global e descarnada, os Estados Unidos não iam deixar avançar o maior projeto emancipatório destes tempos, quando seu plano, desde o princípio do século, era a recolonização continental.
A imagem dos deputados “coloniais” do Congresso do Brasil, quando em “nome de Deus”, da “democracia”, do “povo brasileiro” protagonizavam um violento “golpe suave” votando a favor do julgamento político contra a presidenta Dilma Rousseff, sem nenhuma acusação válida, sem nenhuma prova, deu conta da guerra contrainsurgente deste período histórico.
Rousseff, espionada dia a dia, como denunciou em 2013 Edward Snowden, consultor da Agência Nacional de Inteligência dos Estados Unidos, por órgãos de inteligência desse país, estava sendo golpeada, desacreditada tanto pela Rede Globo, poderosa dona de mídia no Brasil, como pela revista Veja, especialista em denúncias falsas, entre outras tantas.
A espionagem é um crime contra a lei brasileira e a Constituição, que garante o direito à intimidade e à privacidade, violadas todos os dias pelos meios do poder hegemônico.
A Guerra psicológica, parte essencial da contra insurgência na GBI (Guerra de Baixa Intensidade) que o Império está aplicando no continente, derivou para um nível de terrorismo mediático de um nível nunca visto, enquanto os milhões de dólares investidos por Washington servem para financiar a oposição brasileira, mediante uma série de Fundações e Organizações Não Governamentais (ONGs) dependentes das Fundações “mães” desse país. Uma oposição em cujas filas se concentram um dos poderes econômicos mais corruptos da América Latina.
Essa imagem do Congresso na noite de 17 de abril será inesquecível para nossos povos, para os milhões de brasileiros que pela primeira vez na história, sob os governos de Inácio Lula da Silva (2003-2011) e de Dilma Rousseff (2011, reeleita em 2014, assumindo em janeiro de 2015), tiraram 50 milhões de cidadãos da miséria e da indigência.
Essa imagem dupla estava nas ruas. Por um lado, uma evidente classe alta e média e os integrantes de muitas ONGs pagas por Washington, e por outro, o povo, os intelectuais, os trabalhadores, os sem terra, os que não puderam ser cooptados pela propaganda fascista (aquela que foi usada por Joseph Goebels o “comunicador” de Adolf Hitler na Alemanha Nazista) e por isso denunciaram o golpe. Atrás dos primeiros está a sombra dos militares, aqueles que mantiveram uma longa ditadura de 1964 até 1985, depois de derrubar, também com o apoio dos EUA, o presidente João Goulart.
Era tão evidente a diferença de classes, que é bom registrá-la entre as imagens desta ofensiva contrainsurgente. O que demonstra que desde o início essa ofensiva encontra resistência em todos os nossos países.
No Brasil estamos vendo um novo golpe – como os de Honduras 2009 e Paraguai 2012 – onde promotores e juízes agiram junto a parlamentares, muitos deles de partidos de longa tradição, e responsáveis por todas as formas de corrupção, para destituir um presidente democraticamente eleito pelo povo.
Poucos têm falado das novas “Escolas das Américas” neste caso para treinar e cooptar juízes e funcionários do judiciário, parlamentares, ou jovens estudantes e empresários, como aqueles da ex Europa do Leste que participaram ativamente dos golpes suaves ou brandos, das falsamente chamadas “revoluções coloridas” cujas ações eram planejadas nas dependências do Pentágono estadunidense.
E é preciso dizer que eram financiadas por meio das mesmas famosas Fundações e suas crias, as ONGs, que nestes tempos se entendem como teia de aranha invasora por toda a América Latina.
A justiça nunca se democratizou em nossa região. E os parlamentares da nova direita decadente e amoral – como estamos vendo na Argentina ou na Venezuela, ou na Bolívia ou no Equador – foram muitos deles “comprados” como aconteceu e foi demonstrado no golpe hondurenho. É claro que tardiamente.
Dilma é denunciada por deputados tão corruptos como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como é de público conhecimento, e juízes abertamente envolvidos com a oposição contra ela, como Sergio Moro, sem prova de nenhum delito cometido pela mandatária. Isso é de uma gravíssima ilegalidade e inconstitucionalidade.
O mesmo Moro ordenou espionagem telefônica contra a mandatária – violando leis – e contra o  ex-presidente Lula, que foi sequestrado em sua casa, no último dia 4 de março, por ordens do mesmo magistrado para uma declaração forçada, o que foi e continua sendo ilegal. E para acrescentar irregularidades, o juiz Itagiba Preta Neto, publicamente opositor ao governo como Moro, ordenou a suspensão da nomeação de Lula como Ministro da Casa Civil, como havia decidido a presidenta. A imagem do ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva  caminhando algemado entre policiais, só para humilhá-lo e para que essa foto percorresse o mundo, é parte das imagens desta guerra contrainsurgente. O secretário geral da OEA (Organização de Estados Americanos), Luis Almagro, negou que houvesse uma “acusação bem fundamentada” contra Dilma Rousseff e falou de irregularidades. O que fará agora? A mesma coisa fez The New York Times, em uma recente manchete.
Almagro é o mesmo que ampara a oposição venezuelana, majoritária no Congresso, e que tenta utilizá-lo para não debater e legislar como é devido, mas simplesmente para tentar por todos os meios destituir o presidente Nicolás Maduro, como tem declarado publicamente, embora não conte com uma justiça “injusta” como gostariam.
Esse parlamento, como o do Brasil, está em grave falta e dinamita o próprio Congresso como instituição da “democracia”, o que é necessário avaliar pelas consequências políticas para um futuro próximo.
Os canais de TV do monopólio da desinformação no Brasil, tal como a Rede Globo, continuam jogando seu jogo golpista a cada dia, o que não é novidade se olharmos para o seu passado.
Em abril de 2014, um documento desclassificado e divulgado pela jornalista Helen Sthephanowitz, da cadeia Rede Brasil Atual, mostrou claramente o papel cumprido por Roberto Marinho, titular do poderoso grupo O Globo durante a ditadura militar nesse país (1964-1985). Marinho ademais era o homem à frente da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Tratava-se de um documento de comunicação do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, informando ao Departamento de Estado sobre suas conversas com o poderoso empresário Marinho.
Helen Sthephanowitz mencionou os detalhes do documento sobre a discussão de ambos – o diplomata e o empresário – em relação à sucessão do general Humberto Castelo Branco, “o primeiro presidente de fato da longa ditadura”. A data do documento era 14 de agosto de 1965 quando Gordon enviou a seus chefes um telegrama classificado como “altamente confidencial” no qual dizia que Marinho estava “trabalhando em silêncio para conseguir a prorrogação ou renovação do mandato que seus pares haviam outorgado a Castelo Branco”.
Mencionava também nessa mesma tarefa o chefe da Casa Militar, general Ernesto Geisel – que substituiu Castelo Branco na sucessão ditatorial – e ademais o chefe do Serviço Nacional de Informação, general Golbery do Couto e Silva, e o chefe da Casa Civil, Luis Vianna.
“De acordo com Gordon, o general resistia à ideia”, destaca a jornalista. Segundo o documento, o proprietário da Globo também sondou Gordon sobre a possibilidade de “trazer” o então embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ocupar O Ministério da Justiça.
“O objetivo era ter Magalhães por perto para endurecer o regime, já que o ministro Milton Campos era considerado demasiado fraco, segundo o telegrama”, assinalou a jornalista da Rede Brasil Atual. Agregou que Magalhães, na pasta da justiça, “reforçou a censura aos meios de comunicação e pediu aos donos de jornais a cabeça dos jornalistas”.
De maneira que o papel golpista das Organizações Globo é uma continuidade da tarefa com os Estados Unidos, que decidiu regressar ao seu quintal, mediante o novo esquema de “golpe suave” imitador das chamadas “revoluções coloridas” na Europa, e das “primaveras árabes”. Estas deram inicio às guerras coloniais de século XXI e aos genocídios, que continuam na zona do Oriente Médio, no Norte da África, na Síria e em outros países.
O terrorismo mediático dos poderosos não teria dúvida em apoiar uma invasão militar dos Estados Unidos em nossa região, seja “humanitária ou em defesa da democracia”. E todos sabemos o que isso significa para “limpar o território”, ocupar e assegurar a morte antecipada de toda a resistência e assim consolidar seu retorno colonial. Isso se deixarmos, mas já estão vendo que não será tão fácil o está por vir.

Brasil está na 'UTI da Unasul', diz secretário-geral do bloco sobre processo de impeachment


Brasil está na 'UTI da Unasul', diz secretário-geral do bloco sobre processo de impeachment

Julgamento de Dilma avança, sem que haja provas que determinem sua culpabilidade, disse Ernesto Samper em reunião de chanceleres

"Vemos que o julgamento da presidente [Dilma Rousseff] está avançando rapidamente, sem que exista, a nosso ver, nenhuma prova" que determine sua culpabilidade, afirmou o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, durante a reunião de chanceleres do bloco neste sábado (23/04), em Quito.
O encontro, de caráter ordinário, teve início com a entrega da presidência temporária do grupo, das mãos do chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, para sua colega Delcy Rodríguez, da Venezuela, país que terá essa função por um ano.
Agência Efe

Encontro entre presidentes foi adiado devido ao forte terremoto que atingiu o Equador
A situação política brasileira e a crise humanitária decorrente do terremoto que atingiu o Equador estiveram no centro dos debates.
A respeito do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, Samper afirmou a eventual saída dela “do poder seria uma questão preocupante para toda a região”.
Segundo ele, o Brasil está em uma espécie de "UTI da Unasul", por isso o diálogo de chanceleres para buscar estratégias de apoio à democracia brasileira.
"Esperamos que os atores (políticos no Brasil) reiterem seu compromisso com a democracia e que a presidente Rousseff possa sair bem deste impasse", ressaltou Samper.

Samuel Pinheiro Guimarães alerta para risco de Brasil retomar eleição indireta para definir governo

Leonardo Boff: Golpe no Brasil atende a interesses geopolíticos dos Estados Unidos

Crise no Brasil pode se estender para países da região, diz ex-presidente paraguaio Lugo

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Na última sexta-feira (22/04), Dilma afirmou para jornalistas estrangeiros que, caso o processo de impeachment prospere, ela acionará a cláusula democrática do Mercosul e da Unasul. Foi por meio desse mecanismo que o Paraguai foi suspenso do Mercosul em 2012 após o golpe parlamentar contra o ex-presidente Fernando Lugo.
Equador
A respeito do terremoto que atingiu o Equador nas últimas semanas, o organismo lançou uma declaração especial na qual “reitera o compromisso de continuar com o apoio integral dos atingidos em cada uma das fases e com a reconstrução das zonas afetadas”.
Na reunião de Quito participaram cinco chanceleres, quatro vice-chanceleres e três secretários de Relações Exteriores. A Unasul é integrada por Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Com informações da Agência Efe