segunda-feira, 10 de junho de 2019

“O jornalismo só tem importância quando combate os poderosos”: a entrevista de Greenwald ao DCM em 2016. P​

“O jornalismo só tem importância quando combate os poderosos”: a entrevista de Greenwald ao DCM em 2016. Por Kiko Nogueira

 
Greenwald
Greenwald
Esta matéria foi ao ar em setembro de 2016 e está sendo republicada à luz das revelações do Intercept dos diálogos entre Moro e Dallagnol
O jornalista americano Glenn Greenwald mora no Rio de Janeiro há 11 anos com seu companheiro David Miranda. Em 2013, ele ficou conhecido mundialmente pelo furo do esquema de espionagem da NSA revelado por sua fonte, Edward Snowden.
O Fantástico fez uma série sobre o caso. Greenwald teve reuniões com o dono da empresa, João Roberto Marinho. Pouco tempo depois, viraria inimigo mortal da Globo.
Ganhador do Pulitzer em 2014, Greenwald tornou-se referência para a imprensa internacional interessada no momento conturbado do Brasil. Ajudou a consolidar a chamada narrativa do golpe no exterior, dando à mídia o peso que ela teve como propagandista da solução Temer.
Em abril, Marinho deixou um comentário exaltado num artigo de Miranda no Guardian chamado “A verdadeira razão dos inimigos de Dilma Rousseff quererem cassá-la”. “Eu não acreditei quando vi que era ele”, fala Greenwald.
“No processo de impeachment, a percepção da mídia brasileira mudou. Muitos já sabiam que ela é controlada por famílias muito ricas, mas as pessoas perceberam pela primeira vez como isso pode ser um problema extremo”, disse ele, com seu sotaque invencível, ao programa do DCM na TVT.
Para Greenwald, o cenário lembra o da imprensa americana durante a guerra do Iraque, em 2002 e 2003. “A mídia ficou unida e publicou informações falsas. Criaram uma crise de confiança. Por isso surgiram jornalistas independentes. As pessoas estavam procurando uma alternativa”, afirma.
“Se você fala com jornalistas de Globo, Folha, Estadão, eles falam que são independentes, que ninguém manda neles. A verdade é que isso não é necessário. Em empresas grandes e com perspectivas de carreira, os funcionários entendem a cultura e sabem o que querem deles para subir na vida. Ninguém precisa falar: ‘olha, você precisa ter esta opinião’”, diz.
“As empresas jornalísticas grandes não querem lutar com poderosos pois isso pode afetar os negócios. Quando você é independente, está livre. Isso, para mim, é a alma do jornalismo. Dentro das corporações, é impossível”.
Sua experiência na parceria com o Fantástico rendeu um trailer dos ataques que sofreria depois. “Só a extrema direita me atacou naquela ocasião. Eu estava mostrando como este país é vulnerável e como os EUA invadiram o sistema de comunicação”, conta. “Pessoas de esquerda me criticavam por usar a Globo. Hoje eu vejo que essas críticas eram corretas”.
O processo do impeachment foi definitivo para ele. “Eu vi a democracia ser atacada e os jornalistas apoiarem os mais poderosos. Ia perder amigos e ser atacado pelas instituições que estavam me apoiando antes, mas não havia outra opção”.
De acordo com Greenwald, as “facções” que ganharam mais poder são um fator desestabilizador. “O jornalismo só tem importância quando luta contra os mais poderosos”, declara.
A internet vem mudando o jogo. “Você pode ter audiência rapidamente e sem muito dinheiro. Nos EUA existem muitos blogs com mais leitores que o New York Times. O Brasil ainda está um pouco atrás, mas vai pelo mesmo caminho. As pessoas estão com raiva e frustração e isso vai ser uma oportunidade para quem quiser criar alternativas”, aponta.
O Intercept teve o investimento de 250 milhões de dólares de Pierre Omidyar, fundador do Ebay. Americano de origem iraniana, Omidyar gosta de falar que usa sua fortuna para “fazer o bem”.
Greenwald enxerga que possa surgir um Omidyar aqui?
“A esquerda não ama o dinheiro tanto quando a direita. Há um pouco de desconfiança. Mas precisa ter orçamento, precisa ter recursos. Tivemos sorte de esse bilionário acreditar na nossa ideia de jornalismo independente. A esquerda precisa construir um sistema com dinheiro para competir mas, ao mesmo tempo, mantendo a integridade”, pondera.
A participação dos Estados Unidos no golpe, segundo ele, é algo que poderá ser verificado com certeza no futuro. “Em 64, eles esconderam as evidências até aparecerem os documentos. Como jornalista, não posso especular sobre isso. Perguntei a Lula e Dilma e eles disseram que não [houve interferência americana]. Dilma acha que foi algo interno. Mas posso garantir que o governo Temer está fazendo o que Wall Street ama — privatizando, vendendo bens públicos e cortando programas sociais sem aumentar o imposto dos ricos”, diz.
A Justiça brasileira passou a causar-lhe espanto pelos motivos errados. “No começo, fiquei impressionado com a atuação de Moro. Nos Estados Unidos, depois da crise de 2008, ninguém foi preso. Aqui, políticos e magnatas foram para a prisão”, afirma.
“Mas minha opinião mudou realmente quando ele mandou prender Lula sem razão e depois quando divulgou as conversas dele com Dilma e também dos advogados. Aquilo me deixou muito ofendido”, lembra.
“Um juiz com poder incrível não pode fazer política. Diziam que o Judiciário era independente… O juiz não pode ser visto como um deus. Quando vemos Gilmar Mendes e Moro se comportando como atores políticos, algo está errado”, acredita.
“A ideia do poder Judiciário é que ele seja totalmente separado do processo político. A juíza americana Ruth Bader Ginsburg teve que pedir desculpas por criticar Trump [Ruth chamou Trump de “enganador”]. Aqui no Brasil tem juízes que querem mostrar que estão invadindo o processo politico. Nunca vi isso em lugar nenhum”.
Quando chegou ao Rio, em 2003, ele esperava que fosse parar numa República de Bananas? “Eu me apaixonei por uma democracia que ajudou a vida de pessoas que não tinham nada. Em muito pouco tempo, a vida delas melhorou, as crianças tinham esperança, um otimismo com o futuro. Era o oposto do que acontecia nos EUA, quando tudo estava quebrado. Agora a democracia está sendo atacada por homens brancos e ricos que não ganharam nas urnas.”
Abaixo, trechos da entrevista de Glenn Greenwald ao DCM na TVT:

A vida pregressa de Sérgio Moro e sua turma

A vida pregressa de Sérgio Moro e sua turma. Por Osvaldo Bertolino

 
05.mai.2019 – – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Publicado originalmente no Vermelho
Na tarde do domingo 22 de novembro de 2015, um forte esquema de segurança fechou uma grande avenida no centro da cidade de Maringá, Paraná, em frente a um hotel de luxo. Policiais ocuparam todo o entorno e quem entrava no auditório passava por um detector de metal. Tanta segurança, conforme transmitiu a rádio CBN, era porque o convidado especial do “ato interreligioso contra a corrupção” que se realizava no local era o juiz federal Sérgio Moro.
Ele comandava a força-tarefa da Operação Lava Jato, “a maior operação de combate à corrupção que já se viu no país”, conforme disse a repórter Luciana Penha. E prosseguiu informando que no evento estavam presentes seis religiões. “Sérgio Moro nasceu em Maringá e aqui se formou em direito. A primeira experiência profissional foi no escritório do advogado Irivaldo Souza, idealizador do ato interreligioso contra a corrupção”, noticiou.
Irivaldo é tributarista e assessorou o ex-prefeito de Maringá Jairo Gianoto, do PSDB. Foi condenado em 2006 por desvio de dinheiro público (valor estimado em R$ 500 milhões), formação de quadrilha e sonegação fiscal. O advogado foi preso e só teria conseguido um habeas corpus depois que Moro testemunhou a seu favor. “Eu gosto muito do Sérgio, ele é um juiz justo, determinado, e tem cumprido a sua função, a sua missão, e nós, por isso, fizemos esse ato interreligioso em favor dele”, comentou o advogado em entrevista à CBN, ao lado dos “representantes de seis religiões reunidos para refletir sobre a corrupção”, conforme a repórter.
Assassinato de Paolicchi
Segundo Luciana Penha, o presidente da Ordem dos Pastores, Noel Cruz, disse que católicos, evangélicos e muçulmanos, todos concordavam que a corrupção é um mal que mata. “Porque a corrupção, ela está levando, na verdade, o dinheiro que ia para a saúde e também para as empresas. Então os jovens estão desempregados e as mães reclamando com os filhos nas portas dos hospitais e morrendo. Então eu creio que chegou a hora em que o povo de Deus está unido orando a Deus, e Deus ouviu o clamor. Chegou o momento de acabar com a corrupção”, falou o pastor, de viva voz.
O arcebispo, dom Anuar Battisti, afirmou que Sérgio Moro era para muitos a esperança de justiça, de acordo com a repórter. Com sua voz, a autoridade católica disse que “ele (Moro) hoje é o cabeça, é aquele que está dando a canetada final dentro desse processo de corrupção, do processo de julgamento da Lava Jato”. “Tudo passa pela mão dele. E ele está sendo extremamente rígido, extremamente decisivo, não tem medo, enfrentando situações muito complicadas. Nesta oração pedimos que ele continue sendo corajoso”, completou o arcebispo.
Luciana Penha disse que Sérgio Moro não deu entrevista, mas no evento falou por dezessete minutos. E explicou por que decidiu participar do ato interreligioso. Às tantas, ele disse que era um prazer estar ali naquela união de religião com combate à corrupção. A lei valia para todos, afirmou, antes de agradecer a Irivaldo Souza pelo evento. Os representantes das seis religiões que participaram do ato redigiram “A Carta de Maringá contra a corrupção”, que entregaram a Moro, finalizou Luciana Penha.
Ninguém mencionou o caso envolvendo Irivaldo Souza, que teve a participação do então secretário da Fazenda de Maringá, Luiz Antônio Paolicchi, assassinado em outubro de 2011. Seu corpo foi encontrado amarrado dentro do porta-malas de um carro e com dois tiros. Em entrevista ao O Diário, de Maringá, Vagner Eising Ferreira Pio, que se disse mentor do assassinato — segundo o jornal, orientado por seus advogados, que fizeram questão de acompanhar e gravar toda a entrevista —, afirmou que o advogado do Daniel Dantas (banqueiro) teria aconselhado o ex-secretário a firmar uma união estável entre eles por questões patrimoniais.

Acordo branco
O caso nunca foi esclarecido. O que se sabe é que no dia 7 de março de 2001 o ex-governador e senador do Paraná Álvaro Dias protocolou, na Vara Federal Criminal de Maringá, solicitação para que lhe fosse fornecida uma cópia do depoimento prestado à Justiça Federal por Paolicchi. O juiz federal substituto Anderson Furlan Freire da Silva deferiu o requerimento. Igual pedido havia sido encaminhado à Vara Criminal no dia 5 de março de 2001 pelo governador Jaime Lerner e também obteve resposta positiva do magistrado. O que o ex-secretário disse não foi revelado.
Sabe-se também que em 1994, na sucessão do governador Roberto Requião (PMDB), Lerner, o candidato da direita, enfrentava um franco favorito Álvaro Dias. Um esquema financeiro forte foi montado pelos empresários Mário Celso Petraglia e Atilano de Oms Sobrinho, da empresa paranaense Indústrias e Construções (INEPAR). Utilizando-se do prestígio nacional e internacional da empresa, e da reconhecida habilidade de Petraglia para construir operações financeiras intrincadas, levantaram um “papagaio” numa off-shore no Uruguai. Assim, com um caixa razoável, começou a campanha vitoriosa.
Petraglia foi uma das personagens centrais da CPI dos Precatórios, operação nascida de dentro do Banestado como incubadora de desvios do Bradesco e de alguns pequenos bancos liquidados pelo Banco Central (BC) no rastro das denúncias dos então senadores Kleinubing (PFL-SC) e Roberto Requião (PMDB-PR). Lerner entregara-lhe o Banestado. Em 1998, Lerner fez um “acordo branco” com Álvaro Dias. Candidato ao Senado, ele não apoiou Requião, adversário de Lerner que, buscando a reeleição, não lançou candidato ao Senado. Em 2002, no segundo turno, contra Requião, Lerner abriu seu voto em favor de Dias. Perderam ambos.
Prévia da Lava Jato
Esse caso praticamente não apareceu na mídia; ficou restrito ao noticiário local. O “caixa dois” não era tão visível como ficou após as farsas do “mensalão” e da Operação Lava Jato, apesar de ser público e notório — inclusive na Petrobrás, conforme relata um documento interno da empresa de 2000, mostrado no livro A mentira das urnas —, como demonstram os relatórios de várias CPIs da década de 1990.
Mas Sérgio Moro já estava atuando nesse meio. Antes da aprovação, em 2013, da lei que regulamentou a “delação premiada” ele se utilizou desse instrumento, em 2004, para reduzir a pena do doleiro Alberto Yousseff no caso envolvendo o empresário e ex-deputado estadual Antônio Celso Garcia, o Toni Garcia (do então PMDB), acusado de crime contra o Sistema Financeiro Nacional com a falência do Consórcio Nacional Garibaldi. Moro foi acusado de agir com arbitrariedade e abuso de autoridade com todos os advogados e de ter concedido imunidade a criminosos com a homologação de acordos de delação.
Ele usou esse instrumento também no caso Banestado, uma espécie de prévia da Operação Lava Jato. Foi ali que os procuradores e policiais aprenderam a usar os acordos de delação e a cooperação com outros países, sobretudo os Estados Unidos. Um deles, Carlos Fernando dos Santos Lima — que ficaria famoso na Lava Jato —, protagonizou, em 2003, uma cena descrita pela revista IstoÉ como um tour de force nos Estados Unidos para que a documentação da quebra de sigilo de várias contas, realizada pelo escritório da Procuradoria Distrital de Manhattan, não viesse à luz. Ele teria na gaveta um dossiê detalhadíssimo sobre o caso Banestado que recebera em 1998 — sua esposa, Vera Lúcia dos Santos Lima, trabalhava no Departamento de Abertura de Contas da filial do Banestado, em Foz do Iguaçu.
Em 2010, a 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou um julgamento só encerrado em 2013 em que foram contestados atos de Moro na Operação Banestado. As contestações foram encaminhadas ao Conselho Nacional de Justiça, onde a apuração foi arquivada. Gilmar Mendes disse, à época, que o caso mostrava um “conjunto de atos abusivos” e “excessos censuráveis” praticados por Moro. “São inaceitáveis os comportamentos em que se vislumbra resistência ou inconformismo do magistrado, quando contrariado por decisão de instância superior”, escreveu o ministro no acórdão da decisão, que resumiu o debate do julgamento.
Josef Mengele
O juiz federal Fausto Martin De Sanctis também criticou Moro por fazer, segundo ele, acordos de delação em que se fixava de antemão o benefício que o réu receberia. Um caso assim aconteceu com o megadoleiro Hélio Laniado, liberado após permanecer preso por 420 dias com a assinaturade acordo de delação premiada. Esse tipo de acordo já havia beneficiado também doleiros conhecidos pela Lava Jato, como Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, e o próprio Alberto Youssef.
Delegados da Polícia Federal (PF) — muitos dos que atuaram na Lava Jato tiveram atuação política-partidária descarada— que conheciam os negócios de Laniado disseram que ele trabalhava para bancos e grandes empresas, segundo uma matéria do jornal Folha de S. Paulo. Laniado foi preso quando desembarcava no aeroporto de Praga, no dia 16 de agosto de 2005, de um voo vindo de Israel. Ele fugira para lá, onde havia obtido cidadania israelense após a Justiça Federal decretar a sua prisão. A Folha informou que foi o serviço secreto de Israel, o Mossad, que informou à Interpol que Laniado estava no avião, segundo dois delegados da PF.
Não se sabe bem por que o Mossad dedurou Laniado — um dos delegados levantou a hipótese de que poderia ser gratidão pelo esforço da PF brasileira em esclarecer o caso de Josef Mengele, o carrasco nazista cuja ossada foi descoberta em 1985 e posteriormente identificada, conforme a matéria. Moro, segundo a Folha, disse que que não podia comentar o caso porque o processo e a decisão de liberar Laniado estavam sob segredo de Justiça.

Luzes da ribalta
Em 2010, cento e onze brasileiros foram investigados pela PF, acusados de enviar ilegalmente US$ 2,2 bilhões para uma agência do Israel Discount Bank, em Nova York, entre 2000 e 2005. O valor foi apurado pela promotoria de Nova York numa investigação sobre lavagem de dinheiro em decorrência dos casos do Banestado, Merchants Bank e Beacon Hill, todos usados por doleiros brasileiros.
Conforme informações da Folha de S. Paulo, a apuração demorou cinco anos para ouvir os suspeitos. Em 2006, a Justiça brasileira recebeu da promotoria de Nova York informações sobre 221 contas do Israel Discount Bank supostamente de brasileiros. Só em 30 de agosto de 2010 Moro mandou instaurar 111 inquéritos. Não há notícia, na mídia, dos seus resultados. No caso das delações e de depoimentos de muitos investigados na Operação Lava Jato que denunciaram esquemas de “caixa dois” — como o empresário Eike Batista e o “marketeiro do PT” João Santana —, nem inquéritos foram instaurados.
O jornal Público, de Portugal, publicou uma matéria sobre a Lava Jato, em 9 de agosto de 2015, e, às tantas, citou um artigo do então coordenador da Federação Nacional dos Petroleiros, Emanuel Cancella, dizendo que “a esposa do juiz Sérgio Moro, que está à frente da operação Lava Jato, advoga para o PSDB do Paraná e para multinacionais do petróleo”. “A denúncia foi publicada no Wikileaks”, teria dito o sindicalista. A matéria afirma, também, que Deltan Dallagnol, o coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, “é um evangélico engajado da Igreja Batista” e “busca as luzes da ribalta”.

Texto de Eduardo Galeano

DESDE CUANDO EL MIEDO SE HIZO ENTRE NOSOTROS
Eduardo Galeano


En la época victoriana, no se podían mencionar los pantalones en
presencia de una señorita.
Hoy, por hoy, no queda bien decir ciertas cosas en presencia de la
opinión pública: El capitalismo luce el nombre artístico de economía
de mercado, el imperialismo se llama globalización. Las víctimas del
imperialismo se llaman países en vías de desarrollo, es como llamar
niños a los enanos.
El oportunismo se llama pragmatismo, la traición se llama realismo.
Los pobres se llaman carentes, o carenciados, o personas de escasos recursos.
La expulsión de los niños pobres del sistema educativo se conoce bajo
el nombre de deserción escolar.
El derecho del patrón a despedir al obrero sin indemnización ni
explicación se llama flexibilización del mercado laboral.
El lenguaje oficial reconoce los derechos de las mujeres entre los
derechos de las minorías, como si la mitad masculina de la humanidad
fuera la mayoría.
En lugar de dictadura militar, se dice proceso. Las torturas se llaman
apremios ilegales, o también presiones físicas y psicológicas. Cuando
los ladrones son de buena familia, no son ladrones, sino cleptómanos.
El saqueo de los fondos públicos por los políticos corruptos responde
al nombre de enriquecimiento ilícito.
Se llaman accidentes los crímenes que se cometen con los automóviles.
Para decir ciegos, se dice no videntes, un negro es un hombre de color.
Donde dice larga y penosa enfermedad, debe leerse cáncer o SIDA.
Repentina dolencia significa infarto, nunca se dice muerte, sino
desaparición física.
Tampoco son muertos los seres humanos aniquilados en las operaciones
militares. Los muertos en batalla son bajas, y los civiles que la
ligan sin comerla ni beberla, son daños colaterales.
En 1995, cuando las explosiones nucleares de Francia en el Pacífico
sur, el embajador francés en Nueva Zelanda declaró: "No me gusta esa
palabra bomba, no son bombas, Son artefactos que explotan".
Se llaman Convivir algunas de las bandas que asesinan gente en
Colombia, a la sombra de la protección militar. Dignidad era el nombre
de uno de los campos de concentración de la dictadura chilena y
Libertad la mayor cárcel de la dictadura uruguaya. Se llama Paz y
Justicia el grupo paramilitar que, en 1997, acribilló por la espalda a
cuarenta y cinco campesinos, casi todos mujeres y niños, mientras
rezaban en una iglesia del pueblo de Acteal, en Chiapas.
"El miedo global". Los que trabajan tienen miedo de perder el trabajo.
Los que no trabajan tienen miedo de no encontrar nunca trabajo. Quien
no tiene miedo al hambre, tiene miedo a la comida. Los automovilistas
tienen miedo de caminar y los peatones tienen miedo de ser
atropellados. La democracia tiene miedo de recordar y el lenguaje
tiene miedo de decir. Los civiles tienen miedo a los militares, los
militares tienen miedo a la falta de armas. Las armas tienen miedo a
la falta de guerras.
Es el tiempo del miedo. Miedo de la mujer a la violencia del hombre y
miedo del hombre a la mujer sin miedo.
Archivo:Eduardo Galeano (Feria del Libro de Madrid, 31 de mayo de 2008 ... | http://es.wikipedia.org...


MORO FOGE DE COLETIVA AO SER QUESTIONADO SOBRE FRAUDE CONTRA LULA E A DEMOCRACIA

MORO DIZIA QUE SERIA MINISTRO ANTES DE BOLSONARO VENCER

DEFESA DIZ QUE SÓ TOMARÁ MEDIDA APÓS FALAR COM LULA