quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O NOVO TEMPO DOS MONSTROS

O NOVO TEMPO DOS MONSTROS
Roberto Amaral*
Gramsci define o ciclo de tragédias que nascia com a Primeira Grande Guerra como o “tempo dos monstros”: o velho mundo agonizava, mas o novo ainda lutava para nascer.
Esse transe dolorido parece estar de volta, mas quem se mostra ferido de morte é o novo, com o retorno imperial do passado, numa tentativa de reter o amanhã. O velho não saiu do Oriente Médio; renasce na Europa e se instala nos EUA, de onde promete irradiar-se, pela força do imperialismo.
Anuncia-se uma nova ‘Santa Aliança’ com a pretensão de reordenar o mundo, sob um novo projeto conservador, substituídos os impérios russo e austríaco de então e o reino da Prússia, pelos EUA de Donald Trump, seus aliados europeus e Israel e a Arábia Saudita.
A esse grupo, o Brasil de Bolsonaro pede ingresso. Dele, adesista, já se oferece como seu ‘capitão do mato’ no Atlântico Sul, cuidando, como preposto, da América do Sul e da África Ocidental.
O novo ‘tempo dos monstros’ lembra a articulação reacionária dos anos 30 do século passado, quando foram gestados o nazifascismo e o stalinismo, o Eixo e a II Guerra Mundial que se desdobraria, até quase nossos dias. A Guerra Fria, renascente, pretende exprimir a falsa oposição Ocidente versus Oriente transformada pelo trumpismo na díade EUA versus China e Rússia.
Guardadas as diferenças e consideradas as semelhanças (e como não havê-las?), vivemos, hoje, outros tempos, embora não necessariamente novos, porque a História não se repete. Ao invés de farsa, nos aproximamos mais e mais de uma tragédia: a volta a caminhos já percorridos, dos quais não guardamos boas lembranças. Trata-se de recuo, que, em termos mundiais, revive o período entre as duas guerras mundiais, e, olhando para nossa realidade, representa um retorno ao regime militar. A distinção entre o mandarinato corporativo de 1964-1985 e o governo recém empossado não anula o caráter ideológico comum, nem minimiza o retorno da preeminência da caserna.
Nossos acadêmicos, de volta a Bizâncio, discutem se o novo regime – o governo Bolsonaro será um novo regime – é um projeto fascista, neofascista ou pós-fascista, pois não se confunde com as experiências clássicas da Itália, da Alemanha e do Japão dos anos 30/40 do século passado, as quais, distintas entre si, relembre-se, também se distinguiram de suas congêneres portuguesa e espanhola. Em comum, como o Estado Novo varguista e o regime militar instalado em 1964, cultivaram a repressão e o anticomunismo que, aqui e agora, o bolsonarismo tenta recuperar, nada obstante a ausência de matéria-prima. Porque todo regime autoritário – seja ele os EUA de Donald Trump, o hitlerismo, a ditadura brasileira ou o grotesco, embora perverso, regime dos militares argentinos – necessita de um inimigo. Quando este não existe, cria-se.
Diz-se que o bolsonarismo distingue-se de suas raízes históricas por não possuir um corpo paramilitar. Ora ele dispõe em sua retaguarda da maioria das forças armadas e de todas as corporações civis e militares (polícias, ministério público etc.) encarregadas da repressão
Esquece-se a média dos analistas — pensando o processo social a partir de leis e padrões e modelos — que a História não se desenvolve em monótona rota linear; ela conhece círculos e ciclos, move-se como as marés e nenhuma onda do mar é a exata reprodução de sua antecessora, embora dela haja nascido.
Os atuais governos da França, da Hungria, da Polônia e da Turquia, para citar apenas esses, como o atual governo dos EUA, embora guardem profundas distinções entre em si, são todos de direita e mesmo de extrema-direita; recebem apoio de saudosistas do nazismo e constituem um conjunto político-estratégico em ação no plano internacional. Suas diferenças não anulam orientações doutrinárias expressas na intolerância política, no nacionalismo, na xenofobia, na aversão ao multilateralismo, no anticientificismo, na negação do Estado laico e na instrumentalização do medo e da insegurança como ferramentas de mando.
O regime imposto em 1964 e o bolsonarismo estão separados por 55 anos de processo social e história. Afora o mais, um resultou de golpe de Estado perpetrado por uma aliança civil-militar, e outro de eleições até aqui consideradas formalmente legítimas. As diferenças óbvias e consequentes, todavia, não nos impedem de agrupá-los no largo campo da direita, o gênero do qual são espécies a extrema-direita, o fascismo, o nazismo, o salazarismo, o franquismo e uma lista sem fim que não termina nem no Chile de Pinochet. Essa classificação, aliás, é reivindicada pelos seus áulicos, de ontem e de hoje.
O fato objetivo é que o discurso do bolsonarismo, desde a medíocre vida parlamentar do capitão, um barbarismo repetido na campanha eleitoral e nos discursos de posse, acena com a intolerância, anúncio da divisão do país em dois segmentos antípodas e incompatíveis, uma intolerância (nela embutida a política do medo) que é artificial no embate político e que jamais se supôs compatível com a festejada índole cordial e pacífica, relaxada, de nosso povo. Essa intolerância, sabidamente essencial na disputa pelo poder, revela-se indispensável para sua conservação.
Daí o palanque no governo.
O capitão (saído da caserna pelas portas dos fundos) não deseja ser ‘o presidente de todos os brasileiros’, como se anunciavam os governantes, mesmo os generais da ditadura militar, mas de uma parte deles, e promete governar contra os outros, mantendo em oposição os dois gomos da laranja ideológica.
Ao estabelecer a divisão do país entre esquerda e direita, aquela como o inimigo a ser abatido, Bolsonaro sugere serem de esquerda todos os que a ele se opõem, e esses, se não renunciam aos seus projetos, ou buscam o exílio, devem ter a cadeia como expectativa de presente imediato.
Na construção do inimigo, cuja ameaça galvaniza apoios, o capitão elege o que identifica como a esquerda brasileira, nesse conceito reunindo tudo o que detesta: a esquerda propriamente dita, os socialistas, os comunistas, os trabalhistas de um modo geral, os ambientalistas, os liberais e os democratas de todo gênero. E, principalmente, o lulismo, cuja destruição é o mote de resistência da direita brasileira. A esquerda real – que não é a oposição toda – assume, assim, por imperativo das necessidades táticas da estratégia da extrema-direita, um protagonismo superior às suas forças.
Mas qual é seu próprio projeto, considerados seus valores e as circunstâncias de hoje? Evidentemente que a Frente Ampla (e somente será ampla se estiver aberta à participação de todos aqueles que lutam hoje e pretendem continuar lutando contra o regime em instalação) é a primeira alternativa tática. Trata-se, como ponto de partida, de resistir ao inimigo para derrota-lo na primeira oportunidade, e ao final, tomar as rédeas do governo para realizar seu projeto de sociedade. Mas qual é esse projeto? Hoje não está claro, nem do ponto de vista tático, nem do ponto de vista estratégico.
E está ainda menos claro quem exercerá sua liderança.
Independentemente de qualquer classificação acadêmica, arquiteta-se aos nossos olhos um projeto político hegemônico com vocação duradoura, no qual as forças armadas brasileiras, como coletivo, desempenham o duplo papel de sujeito e retaguarda. Esse projeto – que interessa à geopolítica ditada pela grande potência – aspira a algo para além do partido único, desprezados para qualquer fim considerações republicanas ou cuidados com as instituições. Os meios serão ditados pelas exigências do poder.
Seu catecismo compreende nosso isolamento internacional, uma politica anti-imigratória, o desrespeito aos direitos identitários conquistados ao longo de dezenas de anos de lutas, a repressão aos movimentos populares e sindicais de uma forma geral, e o MST e as centrais sindicais de esquerda de modo particular, ou seja, mais restrições aos direitos dos trabalhadores, mais recessão, mais insegurança e desemprego. Mais medo, enfim.
Este é o caráter do nosso “tempo de monstros”.
*******************
Sigmaringa Seixas – Dele poder-se-á dizer tratar-se de um extraordinário parlamentar, constituinte inspirado, excepcional advogado, amigo leal e caráter sem jaça. Mas tudo o que se disser desse amigo que nos deixa, quando tanto precisávamos dele, será pouco, porque ele era, acima de tudo, um grande homem: aguerrido defensor de presos políticos; destemido na luta, jamais conciliou cedendo princípios, embora fosse sempre, na política e na advocacia, um hábil construtor de consensos. Será lembrado com amor e saudade.
Marielle Franco – Quando as autoridades militares e policiais anunciarão ao país os nomes dos mandantes da chacina que matou a vereadora Marielle Franco e seu motorista? Não podemos permitir que este crime político se torne mais um crime insolúvel e impune.
______________
Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia
08/01/2019

Os privilégios...

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto

Bolsonaro x imprensa: ataques, fake news, seletividade, desrespeito, cerceamento

DILEMAS CONTEMPORÂNEOS > A PRIMEIRA SEMANA

Bolsonaro x imprensa: ataques, fake news, seletividade, desrespeito, cerceamento

Por Nereide Lacerda Beirão em 08/01/2019 na edição 1019
Bastaram seis dias. Já no domingo, seis de janeiro, houve o anúncio que o twitter do presidente passaria a ser de responsabilidade da Secretaria de Comunicação da Presidência. Foi após uma sexta-feira e um fim de semana de grande atuação do Bolsonaro nas redes sociais, onde respondeu diretamente jornalista, criticou e atacou Fernando Haddad e o PT, retuitou ministro com acusação, contra o Ibama, que não procedia e, o mais grave, compartilhou vídeo antigo de apedrejamento de mulheres infiéis para criticar os muçulmanos, o que causou revolta e reação da comunidade islâmica brasileira.
A atuação da Secom na divulgação pelo twitter da opinião presidencial deve tentar reduzir o tom agressivo sempre adotado, o compartilhamento de vídeos e notícias falsas, mas não mudará a realidade de que, assim como Trump,  Bolsonaro continuará criticando a imprensa, atacando a esquerda e o PT, desviando a atenção dos temas polêmicos e interpretando e divulgando as ações do governo que agradem os seus seguidores.
No primeiro twitter, sob “supervisão” da Secom, dois alvos preferenciais do governo são citados. O BNDES e a Funai. No BNDES, o antigo chavão: vou abrir a “caixa-preta”. Na Funai, algo mais preocupante. Foi anunciado o cancelamento de um contrato de R$44 milhões que, segundo o presidente, criaria a “criptomoeda indígena”. O contrato barrado, suspeito por ter sido feito sem licitação com a Universidade Federal Fluminense e assinado nos últimos dias do governo Temer, tinha um amplo escopo voltado para a organização  da Funai: desenvolvimento e funcionamento, gestão, fiscalização e acessibilidade em terras indígenas, desenvolvimento tecnológico orientado a licenciamento, seguridade social e valorização da produção indígena. A criptomoeda não aparece no resumo do projeto e a antiga direção da Funai argumentou que não se trata de um contrato sujeito a licitação, mas de um termo de execução entre duas entidades federais, que foi fechado quando os recursos foram liberados no fim do ano. A Secom reproduziu, com assinatura presidencial, notícia, no mínimo, distorcida e reproduzida com estardalhaço por inúmeras páginas de fake news, de que os R$44 milhões seriam destinados a criação de uma moeda para os índios. O resumo do contrato assim ficou e assim será reproduzido: milhões para os índios, no apagar das luzes do governo, “liberados” de forma irregular.
Além do uso massivo das redes sociais, com um discurso propagandístico e sem aprofundamento, a primeira semana demonstrou que ao utilizar os canais tradicionais, como entrevistas exclusivas e coletivas, foi difícil discernir a verdade da mentira.  O próprio presidente anunciou, na sexta-feira pela manhã, em entrevistas, decisões do governo como o aumento do IOF e a redução de alíquota do Imposto de Renda, desmentidas por seus auxiliares na tarde do mesmo dia. Ao explicar e criticar a confusão no governo, a imprensa virou telhado. Parecia que a confusão tinha sido criada por ela.
Desde a campanha eleitoral e o período de transição, a imprensa foi escolhida como um dos inimigos a ser combatido e a relação é tensa, com tendência a piorar.  Mas nem o mais pessimista poderia imaginar a lista de arbitrariedades planejadas para a posse no dia 1° de janeiro, em Brasília e o desrespeito a que os jornalistas foram submetidos.
O confisco de uma maçã de uma jornalista, porque poderia ser usada como arma e ferir o  presidente, fica como símbolo dessa posse, que com a justificativa da segurança, cerceou enormemente a cobertura, a concessão de credenciais, a liberdade de circulação dos jornalistas, as entrevistas e os prendeu em ambientes sem mínimas condições de trabalho. Foram demonstrações de má vontade e provação contra os profissionais, obrigados a comparecer ao Centro Cultural do Banco do Brasil – CCBB horas e horas antes dos acontecimentos que iriam cobrir, para serem levados em ônibus, acompanhados por assessores como nas ditaduras, para os locais da cobertura.
Houve protestos de entidades representativas dos jornalistas, mas a não ser a Folha de S.Paulo, que fez uma matéria contando o acontecido, e alguns correspondentes estrangeiros que abandonaram os locais, o desrespeito e o cerceamento sofrido na cobertura foram omitidos pela maioria dos jornais, rádios e TVs. Acharam normal?
A imprensa pouco mostrou, mostra ou reage aos insultos, ao impedimento de acesso a entrevistas e coberturas e aos ataques de Bolsonaro, de seus filhos e seguidores, que chegaram a agressões físicas e ameaças de morte a jornalistas. Na posse dos novos ministros, muitos deles repetiram a postura do chefe, ignorando os jornalistas, mantendo-os longe em seus “cercadinhos”. O governo pouco esclarece as decisões e o que  pretende com elas, a não ser generalidades de discurso de campanha ou coletivas para desmentir os anúncios equivocados. A situação permite, por exemplo, que o decreto sobre a posse de armas receba a singela interpretação do ministro de Segurança Institucional de que ter uma arma será como ter um carro.
Quando os jornalistas e a imprensa são criticados ou têm sua ação cerceada, os eleitores de Bolsonaro aplaudem. Acham que a mesma imprensa que apoiou o impeachment da Dilma, o governo Temer na sua agenda econômica, que incensou a Lava Jato, ignorando as ilegalidades, que defende a prisão do ex-presidente Lula,  é comunista, de esquerda, só divulga fake news. Os que ficaram sabendo do tratamento dado aos jornalistas, na posse, acharam tudo normal, e as reclamações demasiadas. É sintomático o coro dos brasileiros que estavam na Praça dos Três Poderes na posse: “Globo lixo… Folha lixo. Whatsapp, whatsapp.. Facebook, Facebook… ”
A pressão contra jornalistas e veículos vai continuar. Ao contrário dos EUA, modelo do atual governo, não temos imprensa com credibilidade e instituições fortes. Em época de fake news, concorrência das redes sociais, quedas de audiência e tiragens, o noticiário sofre ainda com o vai e vem nas decisões e com a ameaça, pública, de que verbas publicitárias serão cortadas para aqueles veículos que divulgarem denúncias contra o governo. Críticas  aparecem no meio artístico e em programas de entretenimento, mas o noticiário, principalmente no rádio e na TV, continuará omitindo notícias, esquecendo pautas polêmicas, reproduzindo declarações e mensagens do governo e apoiadores nas redes sociais. Praticamente todos os grandes veículos, alguns de forma mais escancarada como a Record, o SBT e a rádio Jovem Pan, vão continuar apoiando o governo, principalmente os ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro, para garantir a manutenção do “otimismo” da população, a tranquilidade no mercado financeiro, do qual são porta-vozes, e a implementação das reformas econômicas que sempre defenderam.
***
Nereide Lacerda Beirão é jornalista. Foi Diretora de Jornalismo da EBC e da TV Globo Minas, além de professora. Ocupou também a diretoria do Centro de Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais. É autora do livro “Serra”, publicado em 2012.

ABI, uma instituição que ameaça naufragar

Mídia

ABI, uma instituição que ameaça naufragar

Termos da nota em que "expressa profunda preocupação" com o ocorrido não são condizentes com a tradição de luta que caracterizou a Instituição

 
09/01/2019 10:53
(Reprodução)
Créditos da foto: (Reprodução)
 
Se o presente da ABI já é preocupante, seu futuro inspira temor. A única coisa pior do que o silêncio dos últimos anos - em apoio ao Golpe de 2016 – e, nos últimos dias, sobre o gravíssimo episódio em que a jornalista Malu Franco se viu autora de um texto que não escreveu e que, em muito, poderia incriminá-la por botar em sua boca palavras e acusações que jamais fez, foi a Nota (clique aqui)em que se manifesta sobre o tratamento dado à imprensa pelo novo governo na posse do Presidente.  

Os termos da nota em que "expressa profunda preocupação" com o ocorrido não são condizentes com a tradição de luta que caracterizou a Instituição. Ela não tem que se preocupar, tem que se indignar. Tem que vir a público afirmar em alto e bom som que qualquer agressão a jornalistas é uma agressão à democracia e que fakenews a respeito de profissionais da imprensa não serão toleradas.

Ao chamar funcionários públicos que no exercício de suas funções, cumpriam ordens, de "criadagem" e "serviçais" parece ter se inspirado no discurso presidencial, feito no parlatório, onde Jair Bolsonaro promete libertar o povo do socialismo e do politicamente correto. 

O ser politicamente correto nada mais é do que uma forma de não ofender os sentimentos alheios, mas a direção da ABI parece ter captado e aprovado bem o espírito do se liberar do mesmo e não se privou de utilizar o incorreto.Não é ridicularizando os demais nem nos omitindo diante de fakenews contra nossos colegas que poderemos cumprir nosso papel. Estaremos apenas sendo coniventes com o achincalhe e a mentira.

Mais do que nunca nossa democracia dependerá da imprensa cabendo a ela um papel importante em sua defesa. O novo governo não se vale de meias palavras ao declarar, desde a campanha que o levou à vitória eleitoral, seu ódio e desprezo ao que sabe ser o Quarto Poder. 

Cabe à ABI defendê-la como fez Barbosa Lima Sobrinho e tantos outros que souberam honrar a presidência que ocuparam.

Esperamos que a Casa passe a desempenhar o papel que sempre lhe coube na história do país com mais respeito, independência e dignidade para não se ver tragada pelo tsnunami que nos ameaça.

Lygia Jobim é jornalista e advogada, ex-presidente do Conselho da ABI

A saída do Brasil do Pacto de Migração Global Segura, Ordenada e Regular da ONU: mais um possível desastre na política internacional brasileira

Antifascismo

A saída do Brasil do Pacto de Migração Global Segura, Ordenada e Regular da ONU: mais um possível desastre na política internacional brasileira

É assustador ver o Brasil retroceder e perder seu espaço de conciliador e de prestígio nas relações internacionais

 
09/01/2019 12:45
(Reprodução)
Créditos da foto: (Reprodução)
 
Nas últimas décadas o Brasil deu uma “virada” e passou a ser referência nas Relações Internacionais, buscando e obtendo lugar de distinção no cenário mundial, inclusive dentro da ONU. 

Além disso, vinha promovendo e garantindo a manutenção das nossas riquezas "naturais", como a exploração do pré-sal, pelos brasileiros. 

O Desgoverno Temer, que precedeu a este que ora se instala, congelou recursos destinados à educação (que é a base do desenvolvimento de uma nação) e à saúde por 20 anos. O pré-sal, cujo bom percentual advindo da exploração "brasileira" seria destinado à educação brasileira não virá mais para esta pasta. A educação foi completamente aniquilada pelo congelamento da dotação orçamentária por duas décadas, restando ainda sem recursos para incrementá-la no país. A quem serve um país de ignorantes e pobres?

Não bastasse a entrega e o controle das nossas riquezas pelo malfadado Temer ao estrangeiro, o novo governo bate continência aos americanos e anuncia mais uma série de medidas desastradas na nossa política internacional. 

Até então, éramos considerados uma nação neutra, sem "anúncios" de instalação de bases americanas, soviéticas ou pós-soviéticas. E sempre mantivemos boas relações com as grandes potências. Por outro lado, ninguém ignora que os gigantes das políticas internacionais buscam criar regras de conduta com a clara tentativa de impô-las aos demais países, inclusive a nós. Esta é uma questão de poder e de hegemonia deles, não é e nunca foi nossa, dos brasileiros. 

Não nos interessa a guerra. Não nos interessa instalar bases militares de quem quer que seja. Nos interessa a paz, a extração das nossas riquezas por nós próprios, o desenvolvimento industrial e comercial do Brasil, a educação, a especialização, o trabalho digno e de excelência dos brasileiros para que tenham uma vida melhor e mais próspera. 

A decisão do novo Chanceler brasileiro Ernesto Araújo consistente na retira do Brasil do Pacto Global de Migração Segura e Ordenada da ONU, noticiada pela televisão, é um descalabro. Todos sabemos que  temos mais brasileiros e brasileiras espalhados pelo mundo do que estrangeiros residentes no Brasil. Nós temos milhares de brasileiros que vivem no exterior: estudando, trabalhando e residindo nos Estados Unidos, na Europa e no mundo todo. A questão da migração É sim uma questão global. E nós, como brasileiros, temos o dever e o direito de garantir que também os brasileiros que vivem no estrangeiro sejam protegidos pela legislação internacional de forma igualitária a outros países.  

É assustador ver o Brasil retroceder e perder seu espaço de conciliador e de prestígio nas relações internacionais, principalmente naquelas áreas onde o que importa é o ser humano, como nas políticas ambientais, geopolíticas e nas migrações.

Estamos presenciando, incrédulos e atônitos, o desmonte de tantas conquistas brasileiras também na política internacional. 

O Brasil tem que perder este complexo de "vira-latas", de país submisso às grandes potências. O Brasil tem que parar de emitir atestados delirantes sobre a história brasileira e mundial.

Há muito o Brasil deixou de ser um país de pouca importância para a comunidade internacional. O Brasil não é mais um país criança ou um país adolescente. O Brasil é um país adulto: com muitos recursos, muitas riquezas naturais e um povo sedento por educação, trabalho digno, prosperidade e dias melhores. E isto jamais será possível se agir como um menino turrão que faltou a algumas aulas importantes na escola elementar.

Denise Argemi é advogada e Especialista em Direito Internacional Público, Privado e da Integração pela UFRGS

Educação Pesquisadores se opõem a política ideológica para concessão de bolsas

Educação

Pesquisadores se opõem a política ideológica para concessão de bolsas

Qualquer critério ideológico que passe a ser utilizado para negar apoio à pesquisa, significará o atraso científico e tecnológico do Brasil

 
09/01/2019 13:38
 
 
A edição do jornal O Globo deste domingo, 6, traz a seguinte nota na coluna do Ascânio Seleme:

"DESPETIZAÇÃO
Estão sendo estudados no Ministério da Educação novos critérios para se conceder bolsas de estudos para pós-graduação e doutorado no exterior. O critério ideológico será eliminatório. Se não passar por este, não avançará para os seguintes. Também está em discussão a possibilidade de se interromper algumas bolsas já concedidas e com alunos em plena atividade usando o mesmo critério. O problema é como fazer isso sem rasgar contratos."
Veja nota da ANPUH:

Vimos com surpresa e indignação uma nota do jornalista Ascânio Seleme, publicada no Jornal O Globo de 06.01.2019, na qual se lê que está sendo estudada, no MEC, a adoção de uma política de atestados ideológicos para concessão de bolsas para doutorado no exterior. A intenção é negar bolsas e, até mesmo, cortar as existentes, de pesquisadores que possam ter pesquisas com um viés que não esteja de acordo com a política que se implantou no poder executivo neste momento.

A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil), a Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) declaram total indignação com a tentativa de instalar a censura na pesquisa e entendem que o conhecimento científico, do qual o país tanto necessita, precisa ser estimulado; os critérios de avaliação precisam ser pautados na qualidade da questão e da metodologia a ser utilizada. Qualquer critério ideológico que passe a ser utilizado para negar apoio à pesquisa, significará o atraso científico e tecnológico do Brasil.

ANPUH-Brasil
ANPOCS
ANPEd
SBHE

Antifascismo Los militares brasileños, el expansionismo, las fronteras ideológicas y la alianza con EEUU

Antifascismo

Los militares brasileños, el expansionismo, las fronteras ideológicas y la alianza con EEUU

 

 
09/01/2019 13:46
 
 
Las aspiraciones geopolíticas de Brasil evolucionaron desde su restricción regional, centrada en convertirse en satélite privilegiado de EEUU para hegemonizar Sudamérica, hasta sus devaneos globales contemporáneos, pese a los retos internos como la pobreza extrema, 12 millones de desempleados, el hambre, la desnutrición.

Los militares brasileños,“reacios” al plan del nuevo presidente del país, Jair Bolsonaro, de albergar bases militares de Estados Unidos (en Alcántara, la frontera noreste, la Triple Frontera con Argentina y Paraguay o la Amazonia), lograron que, por el momento y a apenas nueve días desde la toma de mando, desistiera de sus planes. La decisión fue anunciada por el ministro de Defensa, general Fernando Azevedo e Silva, tras la repercusión negativa entre la cúpula militar.

En los primeros diez días en el poder y su relación amorosa con las Fuerzas Armadas también parece haberse deteriorada. No habrá cesión de territorios a EEUU por ahora, pero para satisfacer a la poderosa bancada ruralista del Congreso (representando de terratenientes , trasnacionales y del negocio agroindustrial exportador), el Instituto Nacional de Colonización y Reforma Agraria (Incra) ordenó suspender todos los proyectos de atribución de tierras en el país para asentamientos familiares.

 El Incra ordenó detener los procesos de adquisición, enajenación u otra forma de obtención de tierras para el programa nacional de reforma agraria (suspensión de un proyecto en curso desde  los años 19709, medida que afecta a mil 700 procesos abiertos en el país para identificar y delimitar territorios de afrodescendientes y pueblos originarios.

 Bolsonaro firmó un decreto con el cual el Incra dejó de pertenecer a la Casa Civil de la Presidencia para pasar a ser parte del Ministerio de Agricultura. Alexandre Conceição, de la dirección nacional del Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra, advirtió que la medida agravará la situación en el campo y traerá mayores conflictos.

Ceder territorios

 Al asumir la presidencia, el mandatario ultraderechista afirmó que analizaba la posibilidad de ceder espacio territorial para instalación de bases de EEUU en territorio brasileño, un anuncio que sorprendió al ministerio de Defensa y a la alta oficialidad.

Los mandos consideraron que es innecesaria e inoportuna, que no está afinada a la política nacional de Defensa y podría complicar las delicadas discusiones bilaterales para el uso del Centro de Lanzamiento de Alcántara, de la Fuerza Aérea, en el estado Maranhao, para el posicionamiento de satélites: los brasileños quieren vender servicios en régimen de cooperación y no ceder el control de la base.

 Bolsonaro, en entrevista con la cadena SBT, admitió una aproximación bélica con Washington, en una agenda que quiere diseñar cara a cara con Donald Trump. Según Matias Spektor, de la Fundación Getulio Vargas, la instalación de una base se traduciría en altos costos financieros y para justificarlos sería necesario un escenario en el cual Washington intentara una intervención militar o defender la región de otra potencia.

En la entrevista, Bolsonaro habló de la supuesta intención “de la dictadura de Maduro, y –dijo- Brasil debe preocupase”. Por su parte, EEUU está preocupado por el aumento de las presencias china y rusa en la región y una base transformaría la dinámica regional. Lo cierto es que ningún otro país latinoamericano va en ese sentido, lo que crearía sospechas en el relacionamiento de Brasilia con sus vecinos, mientras transforma a Brasil en aliado de EEUU, señala Spektor.

 Paradojalmente, las bases de EEUU en Brasil llegaron en el ámbito de la participación en los combates al nazifascismo con la Fuerza Expedicionaria Brasileña (FEB), al comienzo de la década de 1940.  El temor cobró fuerza cuando al final de 1941 los japoneses atacaron Pearl Harbor y EEUU –convertido en beligerante- presionó a Brasil a negociar el uso de las bases de Belém, Natal e Recife, a lo que no se opuso el presidente Getúlio Vargas

Después de la Segunda Guerra Mundial del siglo XX, las bases estadounidenses fueron blanco de un duro embate entre la derecha y el Partido Comunista do Brasil, liderado por Luiz Carlos Prestes, que movilizó grandes masas para exigir la devolución de las instalaciones militares y navales, en defensa de la soberanía del país y contra la presencia de los militares norteamericanos.

Bolsonaro es un partidario acérrimo de la política del presidente estadounidense, Donald Trump, al punto de que lo apodan el Trump brasileño, y no escatima esfuerzos para fortalecer sus lazos con Washington. Los dos presidentes han sido acusados de misóginos, racistas, xenófobos y enemigos de la prensa tradicional e independiente, entre otras acusaciones.

Las tesis del expansionismo brasileño y su política exterior, netamente colonialista, no son nuevas. Si bien uno puede remontarse a su “independencia”, éstas tomaron especial vuelo durante la dictadura militar-empresarial de 1964-1985, donde el general Golbery do Couto e Silva –autor en 1966 de Geopolitica do Brasil- se convirtió en el teórico de la dictadura (y luego también de la apertura democrática, con la fragmentación total de la oposición civil en varios partidos).

Pero, incluso en los años de los gobiernos del Partido de los Trabajadores (2002-2017), pasaron a proliferar entre los militares de derecha (en las escuelas Superior de Guerra y de Estado Mayor de las Fuerzas Armadas) y también entre los diplomáticos brasileños, teorías sobre el papel hegemónico que estaría reservado a Brasil en Amé­rica del Sur. 

De esos estudios surgieron varias teorías netamente expan­sionistas que fueron motor de la dictadura: las de las fronteras ideológicas, la de la Fuerza Interamericana de Paz, la del gendarme mantenedor del orden continental, la del satélite privilegiado, la del destino manifiesto de Brasil al sur del Caribe, la de su vocación rioplatense, la de que las fronteras brasi­leñas deben estar en los Andes, la de las aperturas hacia el Pací­fico, la del puerto libre en el Caribe, la del control del Atlántico Sur, la de la instalación en la Antártida, la de heredar las excolonias lusas de África, etcétera.

Pero también surgieron de allí los frenos a los procesos de integración latinoamericanos y caribeños, con el desmantelamiento del Mercado Común del Sur (Mercosur), la Unión de Naciones Sudamericanas (Unasur) y la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (Celac), aun cuando fue, con Lula da Silva, uno de los promotores del fracaso del Área de Libre Comercio de América Latina (ALCA), que proponía Estados Unidos.

Hoy, aquellas viejas tesis y teorías parecen haber reflotado con el gobierno de Jair Bolsonaro, quien cree que la Unión Soviética aún existe y por ello hay que combatir al comunismo. Y por eso incluso ha amenazado con intervenir militarmente contra Venezuela.

Las fronteras ideológicas y el satélite privilegiado 

Cuando analizamos las posiciones de Brasil en relación con sus vecinos, que llegan hasta a las amenazas más o menos veladas de intervención militar, es necesario volver a analizar la teoría del satélite privilegiado o del subimperialismo brasileño y la tesis de las fronteras ideológicas, señalaba en 1971 el analista y politólogo brasileño Paulo Schilling.

La idea básica de la integración latinoamericana bajo la tutela norteamericana fue expuesta crudamente por N. J. Spykman, uno de los teóricos geopolíticos más influyentes en Estados Unidos: "Todo lo que no sea forjar una Grossraumwirtschaft -el gran espacio vital- que incorpore todo el continente en base a una economía planificada, con producción controlada y dirección centralizada del comercio internacional, no podrá sobrevivir ( ...). Ninguno de los estados latinoamericanos se avendría a realizar de buen grado los cambios imprescindibles para crear esa economía regional ( ... ). Solamente la conquista del  hemisferio por EEUU y la implacable destrucción de las economías nacionales ahora existentes podría realizar la integración necesaria"., señalaba.

Partiendo de la estrategia estadounidense, los teóricos geopolíticos de la Escuela Superior de Guerra brasileña procuraron adaptarse a lo que parecía ser una fatalidad ineludible, tratando simultáneamente de asegurar para Brasil una situación privilegiada. 

El general Golbery do Couto e Silva, el gran teórico de la geopolítica durante la dictadura y de la Sorbonne,  exponía así el problema: "Las naciones pequeñas se ven de la noche a la mañana reducidas a la condición de estados pigmeos y ya se prevé su melancólico fin, bajo los planes de inevitables integraciones regionales; la ecuación de poder en el mundo se reduce a un pequeño número de factores, y en ella se perciben solamente pocas constelaciones feudales - estados barones- rodeadas de estados satélites y vasallos (...). No hay otra alternativa para nosotros sino aceptarlos (los planes de integración del imperio) y aceptarlos conscientemente..." 

"(…) Brasil parece estar en condiciones superiores, por su economía no competitiva con la economía de Estados Unidos, por su larga y comprobada posición de amistad y, sobre todo, por los recursos decisivos de que dispone, para una 'bargaña ( canje) leal' (... )", y proponía concretamente "una alianza que, por otro lado, traduzca el reconocimiento de la real estatura de Brasil en el Atlántico Sur, poniendo término a cualquier política bifrontal y acomodaticia con relación a nuestro país y a la Argentina ... ".

En resumen, según los geopolíticos de la "Sorbonne", Estados Unidas deberían reconocer el destino manifiesto de Brasil en América del Sur, eligiéndolo “satélite privilegiado”: “También Brasil puede invocar un destino manifiesto tanto más cuanto que éste no choca, en el Caribe, con el de nuestros hermanos del Norte”.

Con el golpe militar del 1º de abril de 1964 y la eliminación de las fuerzas nacionalistas populares, las tesis de la Escuela Superior de Guerra pasaron a constituir la estrategia de ltamaratí, la cancillería brasileña,  para América latina. Los militares de derecha brasileños -partiendo del dogma castrense de la necesidad de unidad de comando- se prepararan para la ingrata tarea que les fuera atribuida por el Pentágono y por los monopolios norteamericanos, dentro de su estrategia global de entonces, de lucha contra el comunismo. 

La idea de la creación de un estado militarista subdesarrollado al servicio del plan imperialista de integración latinoamericano y del mantenimiento de la paz imperial, podría ser entonces puesta en práctica, señalaba Schilling.

La piedra angular de la "doctrina de la Sorbonne" (inteligencia vernácula) era la bipolarización mundial entre Washington y Moscú y la inevitabilidad de la tercera guerra mundial. Para "mantenerse fiel a su formación occidental y cristiana", no le quedaría a Brasil otra alternativa que la incorporación total e incondicional al bloque occidental, o sea, a Estados Unidos.

 Otro de los hombres de la "Sorbonne''', el mariscal presidente Castelo Branco, analizaba la situación así: "En la presente coyuntura de una confrontación del poder bipolar, con radical divorcio política-ideológico entre los dos respectivos centros de poder, la preservación de la independencia presupone la aceptación de un cierto grado de interdependencia, ya sea en el campo militar o en el político. Consideramos nuestro deber optar por una íntima colaboración con el sistema occidental, en cuya preservación repasa la propia supervivencia de nuestras condiciones de vida y dignidad humana".

El diario O Globo, reflejando los puntos de vista oficiales de la dictadura de Castelo Branco, aconsejaba "deshacerse de interpretaciones anticuadas sobre la soberanía absoluta por incompatibles con el derecho internacional y principalmente con el derecho de gentes (...). Las modernas doctrinas de soberanía condenan el culto idólatra e irracional de la soberanía y afirman el concepto de la soberanía relativa".

Vasco Leitao da Cunha, el, ministro de Relaciones Exteriores de Castelo Branco, establecía de la siguiente manera la tesis de las fronteras ideológicas de Itamaraty: "Las fronteras físicas entre los países americanas son anticuadas: la hora exige el sacrificio de una parte de la soberanía nacional; la interdependencia deberá sustituir a la independencia".

En un documento confidencial -AAA 520.1 (22) (del ministerio de Relaciones Exteriores) -, divulgado por Tribuna da Imprensa 11, Itamaratí aceptaba totalmente la tesis estadounidense de integración continental, no sólo en el terreno económico, político y cultural sino también en el militar: " El principio de interdependencia debe tener sentido práctico, tanto en la propuesta alianza como en la Organización de los Estados Americanos -OEA-, que se podría encargar de ciertos deberes, obligaciones y derechos hasta ahora de competencia exclusiva de los gobiernos de los respectivos países".

La Fuerza Interamericana de Paz -FIP-, entonces en estudio, era definida así por el ministro Leitao da Cunha: "La idea precisamente de una fuerza de paz es la que preside la organización de un cuerpo de bomberos. Por lo tanto, es una idea de cooperación, de pacificación. No es una idea bélica. La fuerza de paz nunca puede tener un objetivo bélico. Ella puede, en un momento determinado, si fuera atacada, tener que emplear sus armas para defenderse. Pero eso también lo hace la policía y el propio cuerpo de bomberos: cuando hay pánico en un incendio, tiene a veces que usar sus armas".

La política de intervención militar del Brasil en países del continente que son considerados sus áreas estratégicas, fue intensa y profundamente debatida por la Escuela Superior de Guerra. Un documento secreto divulgado en la época por el semanario uruguayo Marcha, colocaba la preocupación de los militares brasileños respecto a la “subversión” en los países limítrofes.

Durante el gobierno de Castelo Branco Brasil estuvo a punto de poner en práctica la tesis intervencionista en relación con Uruguay, entonces "convulsionado por intensa agitación sindical". 

Hermano Alves, en el Correio da Manha, describía cómo el general comandante del III Ejército Justino Alves Barros"traducía" en lenguaje popular la complicada filosofía geopolítica de la "Sorbonne": “El llamado principio de autodeterminación de los pueblos sirvió solamente a los comunistas. Yo mismo era contrario a la política entonces seguida por Itamaratí y que resultó en la pérdida de Cuba para el mundo democrático, en favor de los soviéticos. Aseguro, sin embargo, que no habrá nueva Cuba en América latina a despecho de la ofensiva comunista en Santo Domingo, en Bolivia y en otros países del continente...".

En lo económico, los planes integracionistas se desarrollaban, aparentemente, también sin mayores obstáculos. El esquema elaborado en Wall Street y aprobado prácticamente por unanimidad (regístrase la única excepción de Ecuador), en Punta del Este, bajo la batuta personal de Lyndon Johnson, era perfecto. Con la institución del Mercado Común Latinoamericano, desaparecerían las fronteras económicas, haciendo más racional la explotación del continente sur por los monopolios estadounidenses.

El enorme complejo industrial yanqui instalado en Sao Paulo, fue planeado con miras al mercado común. Al contrario de la estrategia inglesa para América latina (dividir para explotar mejor), la estadounidense se basaba en el principio de que hay que integrar para explotar mejor, más racionalmente. 

El fracaso de los planes integracionistas 

La "filosofía de la entrega", elaborada y divulgada por la Escuela Superior de Guerra brasileña, partía de dos premisas fundamentales: la polarización de fuerzas entre Washington y Moscú y la inevitabilidad de la tercera guerra mundial. Sucede que el antagonismo Unión Soviética-Estados Unidos no era absoluto ni irreversible. La "coexistencia pacífica" se consolidaba cada vez más. 

Crecía, consecuentemente, el número de militares latinoamericanos que convencidos de haber creído un "cuento del tío" al apoyar la sumisión a los Estados Unidos bajo el pretexto de "salvar a América latina de la hidra del comunismo', cuando observaban la cordialidad y el entendimiento casi total existente entre el Kremlín y la Casa Blanca, y, luego la diplomacia del ping pong entre chinos y yanquis.

Otra de las causas fundamentales del fracaso de la política integracionista latinoamericana puede ser encontrada en los frutos de la dominación inglesa en el continente sur. Los efectos de la “balcanización” son difíciles de anular. La desconfianza y los conflictos entre nuestros países -en general hábilmente incentivados por el imperia1ismo- produjeron brechas profundas, generaron resentimientos y rivalidades muchas veces absurdos. El nacionalismo de nuestros pueblos fue -en muchos caso-- dirigido en contra de un pueblo hermano vecino y no en contra del enemigo común: el imperialismo de turno.

Podríamos definir como una "herencia maldita" ese fenómeno geopolítico, una herencia dejada por Inglaterra a sus herederos, los estadounidenses. Como la estrategia de los dos imperios es diametralmente opuesta (dividir para explotar mejor - integrar para explotar mejor) los planes de Washington eran obstaculizados por los “efectos residuales" del imperio que pasó. Eso quedó absolutamente claro en los casos del Mercado Común Latinoamericano y en el de la Fuerza Interamericana de Paz.

Como vimos anteriormente, los planes yanquis de integración se procesarían en distintos campos. En lo político, la Organización de Estados Americanos asumiría una serie de atribuciones y prerrogativas de los actuales estados-miembros, dentro de las tesis de la interdependencia o de la independencia relativa. En el campo militar, la Fuerza Interamericana de Paz se encargaría del mantenimiento de la "paz imperial", tornando dispensables las intervenciones directas y unilaterales tantas veces consumadas por los EEUU en el pasado. 

En lo económico, la solución estaría en el Mercado Común, en la abolición de las fronteras económicas, que permitiría una explotación más racional del continente por los monopolios internacionales.

Spykman admitía que "solamente la conquista del hemisferio por los EE. UU. (...) podría realizar la integración necesaria", pues "ninguno de los estados latinoamericanos se avendría a realizar de buen grado los cambios imprescindibles para crear esa economía regional... ". Es obvio que habría resistencia por parte de las burguesías nacionales de nuestros países a aceptar una integración que incluyera a los propios EEUU en el Mercado Común, que debía establecerse a partir de 1973. Sería el equivalente a admitir un lobo en un rebaño de ovejas.

La idea fundamental consistía en establecer una base territorial preferencial para los monopolios internacionales. Se repetiría, entonces, en el ámbito continental, la exitosa experiencia de Sao Paulo -la gran base territorial del capital extranjero en Brasil-.

La situación privilegiada que el estado bandeirante ocupa hoy dentro del contexto brasileño (una gran parte de la plusvalía generada en el resto del país afluye a Sao Paulo, asegurando a los paulistas --incluso a los obreros-- un nivel de vida muy superior al nacional), es una muestra de lo que sería la posición que ocuparía Brasil dentro de una América latina, o por lo menos de una América del Sur integrada según los planes yanqui-brasileños.

La asociación entre la burguesía industrial y los militares (una versión subdesarrollada del "estado militarista" vigente en EEUU), tenía como objetivos fundamentales el mantenimiento del status interno (amenazado durante el gobierno de Goulart por los planes reformistas .y por el acelerado avance de las masas), y la abolición de las fronteras económicas en el continente, lo que aseguraría a los monopolios internacionales establecidos en Brasil y a la burguesía industrial brasileña asociada a los mismos, una considerable ampliación de mercado. 

En lugar de incorporar al mercado de consumo la masa campesina brasileña (como pretendían los sectores nacionalistas populares), se intentaría conseguir clientes allende las fronteras.

¿Nuevos tiempos…¿y China?

Hay mandos militares que entienden que la situación es muy diferente y que insisten en que no están dispuestos a entregar territorios (y menos la Amazonia) al hegemón del Norte. Sobre todo cuando la economía brasileña depende de sus exportaciones a China y de sus posibles inversiones en proyectos de infraestructura. Ya EEUUs pidió a Brasil que reduzca su dependencia económica con China, su mayor socio comercial.

Brasil ya sintió los efectos de la disputa comercial entre Estados Unidos y China. Como contracara del aumento de las exportaciones debido a la interminable demanda de materias primas del gigante asiático, hay que computar una creciente dependencia como socio comercial. China fue el destino en 2018 del  28,8%  de los embarques que partieron de los puertos brasileños, resultado concreto de la guerra de aranceles que redundó en el aumento de la demanda hacia Brasil de granos, carne y minerales.

Casi la mitad de lo que el país produce de estas commodities (47.300 millones de dólares sobre un total de 53.200 millones) tuvieron como destino China, mientas que hacia EEUU viajó el 12% del total. Desde 2001 que las exportaciones de productos primarios no estaban tan concentradas en un único destino, cuando la Unión Europea ostentaba el 50,6% de las ventas, con un monto de 13.200 millones de dólares.

Y esta mayor dependencia llega en momentos en que Bolsonaro, elevó la tensión con eses país al que amenazó con restringir las inversiones chinas en Brasil.

Pero por más que el tango de Enrique Cadícamo (Por la vuelta) insista que la historia vuelve a repetirse, la situación geopolítica mundial es muy diferente hoy a las que se vivía en 1940 y durante la dictadura. Pero las amenazas de Bolsonaro no hay que tirarlas en saco roto. Será difícil aliarse a EEUU cuando de las ventas a China y de sus eventuales financiamientos en infraestructura, depende su presente y seguramente su futuro.

Aram Aharonian es periodista y comunicólogo uruguayo. Magíster en Integración. Fundador de Telesur. Preside la Fundación para la Integración Latinoamericana (FILA) y dirige el Centro Latinoamericano de Análisis Estratégico (CLAE, www.estrategia.la)