sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Em 2018, a continuidade democrática estará em jogo

Política

Democracia

Em 2018, a continuidade democrática estará em jogo

por Marcio Pochmann* — publicado 12/01/2017 00h11, última modificação 11/01/2018 10h37
O País caminha para o ponto ótimo do caos. Ele vai gerar uma saída inesperada como em outros momentos?
Proclamação da República
Proclamação da República, outro momento histórico para o qual o povo não foi convidado
Nos momentos de maior inflexão histórica no Brasil, o sucesso das forças de direita expressou como ingrediente máximo o recurso da “fuga para a frente”.
Isto é, a comprovação do crescimento econômico como resposta à oposição democrática, o que garantia, com isso, que a modernização almejada se processaria ancorada, em geral, na preservação dos princípios autoritários do liberal conservadorismo.
A melhor versão do que se comprovaria posteriormente em diferentes períodos mais agudos da trajetória brasileira ao longo do tempo foi enunciado pelo jornalista Hipólito José da Costa, em 1815: “Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más consequências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo”. Reformas, sim, porém sem o povo e, por isso, muitas vezes, contra o povo.
Na recente experiência democrática brasileira, o programa de governo adotado pelo condomínio de interesses que sustentam Michel Temer dificilmente sairia vitorioso em disputa eleitoral. Ainda mais se lembrado o resultado alcançado, por exemplo, pelas experiências da era dos Fernandos nos anos de 1990 (Collor, 1990-1992, e Cardoso, 1995-2002).
Mas, se impossibilita a democracia por uma interrupção autoritária, a pretensa modernização libertária dos interesses minoritários dos poderosos e conservadores viabilizaria ação governamental programática distinta da vontade dominante das urnas.
Foi assim em 1964, quando a pauta das reformas de base em execução pelo governo democrático vigente à época terminou de forma abrupta e autoritária substituída pelo receituário da modernização conservadora definida pelos interesses dos privilegiados ao longo de 21 anos de existência do regime militar.
Dizia Hipólito José da Costa: 'Desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo'
O ano de 2016 não deixa de apontar também para uma perspectiva similar de preservação dos interesses minoritários dos poderosos, percebida pela ação governamental travestida de exclusão na base da pirâmide social do orçamento público.

Dessa forma, o corte de recursos públicos apresenta-se seletivo, possibilitando a maior captura de recursos públicos para a sustentação do rentismo improdutivo nas próximas duas décadas.
Diferentemente de 1964, contudo, o golpe de 2016 não parece conseguir cumprir, ao menos até o presente momento, o conjunto de promessas voltadas para o reequilíbrio das contas públicas e o retorno do crescimento econômico nacional.
Mesmo com a implementação das reformas liberal-conservadoras, os resultados esperados não apareceram. Ao contrário. Prolongam a agonia fiscal e a instabilidade do sistema produtivo.
Para 2018, dois anos após a ascensão do governo Temer, o Brasil tende a perseguir como futuro o retorno ao longo atraso do passado. Com o abandono das políticas públicas exitosas dos governos petistas, a garantia do pleno emprego, a elevação do poder de compra do rendimento dos ocupados e a redução da desigualdade da renda tornam-se cada vez mais distantes, conforme percebe cada vez mais o conjunto da população.
Nesses termos a desilusão parece tomar maior corpo entre os brasileiros, inclusive no interior das forças políticas e econômicas que pertencem ao condomínio de interesses que sustentam o governo Temer.
O fato mais alarmante a ganhar dimensão nacional decorre da observável incapacidade dos golpistas de construírem uma candidatura presidencial que possa reproduzir os mesmos interesses no processo eleitoral de 2018.
O afastamento da perspectiva de poder para além de 2018 permite aos golpistas procurar uma forma de combater a desilusão que se generaliza trilhando caminhos de continuidade antidemocrática.
Uma espécie de segunda etapa do golpe iniciada em 2016 poderia ocorrer por meio de obstáculos jurídicos, políticos e econômicos variados para impossibilitar a realização das eleições presidenciais livres.
Recorde-se que, em 1964, diversos democratas apoiaram a intervenção militar na perspectiva de que o deslocamento para a ilegalidade do governo Jango e a força do PTB abririam nova oportunidade democrática em 1965 para as eleições presidenciais. Como se sabe, os golpistas de 1964 frustraram o grupo democrata que inicialmente os apoiou, estendendo por 21 anos o autoritarismo.
Quem tramou a derrubada de Jango se escoraria mais tarde no crescimento da economia para justificar seus atos. Nem isso os golpistas de 2016 podem oferecer (Foto: Library of Congress)
Naqueles anos, o recurso da “fuga para a frente” apresentou-se suficiente, com a comprovação do crescimento econômico em alta. Nos dias de hoje, isso parece ser inconcebível, não obstante a torcida propagandista dos analistas econômicos em ressaltar os avanços do governo Temer, enquanto identifica somente o desastre nas anteriores administrações petistas.

Acontece que o ano de 2017 aponta para o empate entre a recessão e o crescimento econômico. O zero a zero da economia brasileira não permite validar a imagem da simples saída do processo recessivo.
Uma espécie de parada no ritmo de decréscimo recessivo pode estar presente em 2017, ocasionada por fatores exógenos da política econômica, como a safra agrícola e a melhora do comércio internacional. Sem a presença de um vetor dinâmico de recuperação econômica, não se deve descartar a possibilidade de que em 2018 o Produto Interno Bruto possa passar por uma nova queda.
Isso não seria estranho. Nas duas grandes recessões passadas (1981-83 e 1990-92), o Brasil registrou forte queda no PIB em 1981 e 1983, bem como em 1990 e 1992, intermediado por leve pontuação positiva do PIB nos anos de 1982 e de 1991.
Se aprovada pelo Parlamento, a proposta orçamentária enviada pelo governo Temer para o ano de 2018 levará a um aperto ainda maior no setor público do que aquele observado desde o começo da recessão. O seu efeito contracionista sobre o conjunto da economia não será desprezível.
Com isso, a persistência do desajuste nas contas públicas e o distanciamento da recuperação econômica e seus efeitos positivos para os brasileiros. Por isso, a perspectiva de uma segunda etapa do golpe iniciado em 2016 pode se transformar em grande tragédia nacional, levando a enormes riscos institucionais e de distúrbios à ordem pública.
Nessa situação, a participação de todos no processo eleitoral de 2018 pode ser mais uma incógnita a ser desvelada. Por que participar se não houver perspectiva de vitória?
Está no ar a consideração de que o ciclo político da Nova República iniciado em 1985 estaria definitivamente encerrado. Quando uma parte dos partidos derrotados em 2014 não mais aceitou o resultado eleitoral, conforme havia sido feito desde 1989, a estabilidade democrática foi rompida.
O conjunto das forças golpistas, sem participar do processo eleitoral, ou ainda participar simbolicamente, apontariam não apenas para a afirmação da tese do fim da experiência democrática. Mas, sobretudo, para a enorme dificuldade de governo do próximo presidente a ser eleito em 2018.
Em se admitindo essa possibilidade, as eleições deixariam de ser solução democrática para o complexo impasse nacional atual. Soluções fora do tradicional são possíveis, mas lançariam o País em um cenário ainda mais tumultuado e incerto.
Em decorrência, a preservação do regime democrático nacional compreenderia a urgente e necessária formação de uma nova maioria política capaz de convergir com um inédito centro estabilizador das forças vivas da nação. Um acordo mínimo a garantir que a solução do atual impasse nacional implicaria a devolução aos brasileiros do poder de decisão seria fundamental.
Os dados econômicos deste ano não permitem alardear o fim do processo recessivo (Foto: Fabio Scremin/APPA)
O reconhecimento e a aceitação das regras democráticas por todos são fundamentais. Faria sentido, nesse contexto, o chamamento a uma nova Constituinte que decidiria a respeito de pontos específicos e centrais à reformulação do Estado e sua relação com a sociedade e o mercado.

Essa grandiosidade pode ocorrer. Ao menos historicamente, o Brasil sofreu inflexões ocasionadas pela emergência da situação de caos, como a confusão e ameaças na transição da Monarquia para a República na década de 1880 e a passagem da sociedade agrária para a urbana e industrial a partir dos anos de 1930.
Mais do que a espera de um milagre, o Brasil caminha para o ponto ótimo, perfeito, do caos. Se no passado ele foi responsável pela geração de saídas inesperadas e contrárias aos interesses dominantes, que seja bem-vindo neste ano de 2018.
As apostas têm sido feitas enquanto o jogo segue jogado. Logo mais, em 2018, a torcida vai poder, porém, entrar em campo e o imprevisível torna-se uma realidade sem medo de o povo voltar a ser feliz.
*Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas

Elite cega de ódio e mesquinhez não vê que Lula é o tal “pacto social”

Elite cega de ódio e mesquinhez não vê que Lula é o tal “pacto social”

Ouvi hoje, no rádio do carro, o cometário de Merval Pereira, na CBN.
Com a bateção de cabeça no governo e o rebaixamento da nota de crédito do Brasil, ele dizia que a questão fiscal, no país, está “completamente descontrolada”, que este governo não tem como resolvê-la e que, acha ele, ela “só será encarada seriamente com o próximo presidente eleito. Ele receberá um país falido e vai ter que enfrentar a situação com o apoio da população.”
Concordo, Merval, com o que diz, mas proponho uma pergunta simples: que presidente eleito pode “enfrentar a situação com o apoio da população”.
Não vamos perder tempo com os “nanicos” da base governistas, montados em seus 1% de intenção de voto e cujo prestígio está restrito ao “mercado”, aos analistas econômicos e políticos e aos deputados, certo? Apoio da população não é isso, certo?
Nem com o Bolsonaro,  que só é valente com mulheres (e desarmadas, ao contrário do que ele prega).
Passemos a Alckmin. Fala sério, Merval, você vê nele carisma, liderança, capacidade de comunicação  para mobilizar a população para um enfrentamento destes, de um descontrole total? Nem no PSDB ele une, que dirá do Oiapoque a Chuí, como é preciso.
Ah, sim, tem o Huck, que você mesmo chamou de populista, dizendo que reformava casa e consertava caro. Reconheçamos: ele tem carisma, tem capacidade de se comunicar com a população mas…não tem o que dizer, não é? Dória também tinha tudo isso e vê-se, um ano depois, o fiasco que é. E em São Paulo, cidade onde nem de longe se tem o perfil social do Brasil imenso.
Sinto informar, Merval, para seu desespero, que o único que tem o perfil que você mesmo aponta é aquele senhor que você odeia: Luís Inácio Lula da Silva.
Em primeiro lugar, porque isso não é novidade. Não estava quebrado, correndo atrás de dinheiro do FMI, o Brasil que ele recebeu de Fernando Henrique?
Em segundo lugar, porque Lula já provou que não fará aventuras. Não vai tomar os cofrinhos das crianças, as poupanças dos velhinhos, não porá os “gringos” aeroporto afora, vai ouvir, vai conversar, vai agregar todo e qualquer um que não seja como você,  Merval, um poço de ódio inesgotável.
É verdade que Lula, de volta, terá de ser bem mais incisivo, um pouco menos “paz e amor” do que na primeira vez. Mas você sabe que não é por gosto, é porque contra ele as armas da mídia estão e estarão mais ensarilhadas. Dêem-lhe um trégua e vocês verão como ele cessa fogo…
Lula é tão talhado para o momento que vive o Brasil que a única coisa que se pode fazer contra o triunfo de sua candidatura é o que estão fazendo: cassá-la pela via da violência judicial.
Represar rios improvisadamente, Merval, é um risco que só os incautos correm. Deixar as águas fluírem o mais livremente possível é a atitude dos sábios, que usam a sua força para mover os moinhos.
Mas não, não é, Merval, vocês não podem fazer isso. Não podem aceitar que é ele quem tem capacidade para a empreitada gigantesca  que o próximo presidente terá pela frente.
É demais para a sua mesquinhez que deste povo que desprezam possa brotar um homem de Estado, função que é para os bem-nascidos e bem-vestidos.
Preferem se lançar num caldeirão de aventuras.
A cegueira das elites políticas do Brasil  só não é maior que o seu ódio.

Justiça suspende MP que permite privatizar Eletrobras

Patrimônio Nacional

Justiça suspende MP que permite privatizar Eletrobras

por Redação — publicado 11/01/2018 17h30, última modificação 11/01/2018 17h35
Decisão liminar suspende artigo que incluía a estatal no Programa Nacional de Desestatização. Governo vai recorrer
Wikimedia Commons
eletrica.jpg
Decisão da Justiça adia planos do governo, que já contava com 12 bilhões de reais no orçamento pela venda da Eletrobras
A Justiça Federal de Pernambuco concedeu nesta quinta-feira 11 uma liminar que suspende parte da Medida Provisória 814/2017, emitida pelo governo federal que faz mudanças em leis relacionadas ao setor elétrico. A decisão afeta o artigo 3º, que fala da privatização da Eletrobras e suas controladas.
A liminar foi concedida pelo juiz da 6ª Vara Federal de Pernambuco, Cláudio Kitner. Com isso, a parte da MP que retirava a Eletrobras e suas subsidiárias do Programa Nacional de Desestatização (PND) fica suspensa. A volta ao programa era uma condição necessária para que o governo pudesse levar adiante o plano de privatizá-la.
Leia também:
Privatização da Eletrobras é "pá de cal" no setor, diz Ildo Sauer
Privatização da Eletrobras: você paga e eles lucram

Na decisão, o magistrado questiona a utilização da Medida Provisória como instrumento a incluir a Eletrobrás, Furnas, Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Eletronorte, Eletrosul e Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica no PND.
Na decisão, Kitner afirma que o governo federal não justificou a urgência de editar uma MP “no apagar das luzes” do ano passado “para alterar de forma substancial a configuração do setor elétrico nacional”.
Segundo o juiz, apesar de haver estudos sérios que atestam o crescente endividamento das empresas públicas do setor elétrico, as leis sobre o setor não poderiam ser modificadas sem a “imprescindível” participação do Congresso Nacional nas deliberações sobre o tema.
“Lado outro, a estratégia de governo federal de se valer do recesso do Parlamento e das principais instituições públicas envolvidas, para editar uma medida provisória, por si só, está a indicar que há risco iminente de alienação à iniciativa privada das estatais do setor elétrico, sem o devido respeito às regras constitucionais de edição de leis ordinárias, caso não intervenha o Poder Judiciário”, escreveu o juiz.
Governo recorrerá
Em nota, o Ministério de Minas e Energia (MME) disse que encaminhará à Justiça manifestação legal sobre o assunto e que confia na derrubada da liminar.
O Ministério rebateu os argumentos do juiz, afirmando que, em sua exposição de motivos ao Congresso, o governo explicitou que a MP 814 não tinha o objetivo de antecipar “discussões de mérito relacionadas ao tema”, que ainda serão alvo de projeto de lei.
“O MME reitera que o detalhamento que será encaminhado ao Congresso Nacional reconhece que a União, como controladora majoritária, não tem a condição de prover os recursos de que a empresa necessita para preservá-la como uma corporação brasileira, conciliando competitividade, valorização da empresa e desoneração dos contribuintes, evitando o desperdício de recursos públicos escassos no pagamento de ineficiências, e beneficiando os consumidores pela promoção e inovação no setor elétrico”, diz a nota.
O governo do presidente Michel Temer já programou no Orçamento de 2018 uma arrecadação de 12 bilhões de reais relacionada à privatização da elétrica.
Segundo informações da agência Reuters, que cita relatório da consultoria Medley Global Advisors (MGA), a privatização da Eletrobras "não será fácil". A consultoria avaliou que "é muito difícil ver qualquer movimento sobre a venda da Eletrobras antes de 28 de outubro, quando acontece o segundo turno das eleições".
Isso, se acordo com o relatório, inviabilizaria a privatização neste ano e poderia causar dificuldades fiscais à União, que já conta com a arrecadação a ser gerada pela elétrica. "Se a privatização da Eletrobras não acontecer neste ano, o governo vai precisar vir com um Plano B", afirma o relatório da MGA.
*Com informações da Agência Brasil

A restrição ao foro privilegiado auxilia o combate à corrupção?

Política

Legislação

A restrição ao foro privilegiado auxilia o combate à corrupção?

por Caroline Oliveira — publicado 12/01/2018 00h30, última modificação 12/01/2018 11h49
A rapidez do julgamento de Lula nas instâncias inferiores contrasta com a morosidade na análise de caso do tucano Eduardo Azeredo
José Cruz/Agência Brasil e Ricardo Stuckert
Azeredo e Lula
Azeredo foi beneficiado com a morosidade das instâncias inferiores. Lula não teve a mesma sorte
Em 24 de janeiro, a 8º turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região irá julgar a decisão do juiz Sérgio Moro de condenar Lula a nove anos e meio de prisão. Após a divulgação da data, a defesa do ex-presidente apontou tramitação recorde no julgamento, o que feriria a “isonomia de tratamento” aos réus em um processo célere.
A celeridade do processo contra Lula na primeira e segunda instâncias é usada por muitos cidadãos para defender o fim ou a restrição ao foro por prerrogativa de função, mais conhecido como foro privilegiado. A impressão de parte significativa da população é de que as instâncias superiores são marcadas pela morosidade.
O caso particular de Lula não é, porém, uma regra. Segundo Fábio Medina Osório, Ministro-Chefe da Advocacia-Geral da União em 2016, a Operação Lava Jato não é representativa do que é a primeira instância em todo o Brasil. Nesse caso, “é uma situação peculiar ao retratar a concentração de jurisdição em um único juiz”.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal iniciou um debate para restringir o foro somente no caso de crimes cometidos durante o exercício do cargo. Em 23 de novembro de 2016, oito dos 11 ministros votaram a favor do processo, mas Dias Toffoli pediu vista. Ainda não há uma data para que o tema volte à pauta da Corte.
No Congresso Nacional, há uma proposta na mesma linha. A PEC 333, do senador Alvaro Dias (PV-PR), prevê a extinção do foro especial em casos de crimes comuns cometidos pelas autoridades contempladas. Em 12 de dezembro, foi criada uma comissão especial para apreciar a proposta.
De acordo com os números citados pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, tramitam atualmente mais de 500 inquéritos e ações penais contra autoridades com foro, sem contar os casos sigilosos. No Brasil, um estudo do Senado Federal apontou cerca de 54 mil cidadãos com algum tipo de foro especial em função do cargo.
Nesse contexto, "o sistema é ruim porque desgasta politicamente o Supremo, porque um tribunal constitucional não deve figurar como juízo criminal de primeira instância e é ruim porque alonga os processos indefinidamente", afirmou Barroso em novembro de 2017.
Na contramão, o ministro Gilmar Mendes acredita que a medida em tramitação no STF não funcionará. “Uma justiça que funciona mal, uma das piores justiças, agora vai receber os políticos. É um tipo de populismo. Não vai funcionar. Eu sou mau profeta. Aquilo que eu falo acontece”, disse ao se posicionar contra a ação, embora reconheça a necessidade de mudanças na lei.
O fim do foro não deveria ser visto como o principal instrumento de combate à corrupção, diz Medina Osório. "As raízes da corrupção estão distantes do foro, residem em lacunas com maior grau de solução, no mercado, na política e nas próprias instituições fiscalizadoras do sistema eleitoral e dos mecanismos de controle e transparência."
Medina Osório explica que o foro por prerrogativa de função, existente no Brasil desde o Império, surge para que determinadas autoridades sejam julgadas por um tribunal, em vez de um juiz, em razão da relevância de suas funções. “Isso ocorre porque um órgão colegiado tem menores chances de errar do que um órgão monocrático. Uma prerrogativa inerente à função e não à pessoa”, afirma.
Também entre as críticas favoráveis ao foro por prerrogativa está a imprescindibilidade de manter a independência das autoridades monocráticas em relação às influências dos acusados. “O órgão colegiado é mais imune, em tese, às pressões externas do que um órgão monocrático. Nesse sentido, mantém-se a proteção ao órgão julgador e o tribunal conserva-se em maior simetria de poder com o lado acusado”.
Lei da Ficha Limpa é outro aspecto positivo do foro por prerrogativa de função. De acordo com a legislação, o político elegível condenado por um órgão colegiado perde a elegibilidade. É o que acontece com as autoridades protegidas pelo foro: são julgados diretamente por um tribunal e podem se tornar inelegíveis desde o primeiro julgamento. 
Segundo Diogo Rais, professor em Direito Eleitoral e Constitucional na Universidade Presbiteriana Mackenzie, sem o instituto, as autoridades terão mais tempo para recorrer às decisões dos juízes singulares. “Isso pode transcorrer em maior ou menor tempo dependendo da rapidez de cada tribunal”, afirma Rais. Ainda assim, “um processo no tribunal pode demorar 20 anos para ser julgado mostra a ineficiência do tribunal, não do foro. O que faz um caso prescrever não é o foro, é o tempo que o tribunal leva para fazer o seu serviço”.
O plenário do Senado aprovou, em segundo turno, a proposta de emenda à Constituição (PEC) do fim do foro privilegiado (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Um dos aspectos negativos do foro é justamente a morosidade dos tribunais superiores. “Os colegiados demoram para julgar, uma vez que tem mais juízes nas primeiras instâncias do que desembargadores nas superiores, é capilar. No entanto, isso deveria ser melhorado. Se o caso chegasse na segunda instância ou em tribunais superiores e os desembargadores ou ministros julgassem com rapidez, qual seria o problema do foro?”, questiona o professor.

Nessa perspectiva estrutural, Fernanda de Almeida Carneiro, advogada criminalista e professora da pós-graduação em Direito Penal Econômico da Faculdade de Direito do IDP-SP, acredita que as instâncias superiores não têm suporte para realizar as investigações. O STF é composto por 11 ministros e é responsável por julgar casos de afronta à Constituição Federal. Com a prerrogativa do foro, “o tribunal não tem tempo para se dedicar às questões que são realmente constitucionais”.
Além disso, Carneiro aponta um subterfúgio criado pelo foro às autoridades. “Quando o processo está para ser julgado, a autoridade renuncia, os autos vão para um tribunal inferior e o processo recomeça. E quando está para ser julgado por um órgão singular, candidata-se”, explica a advogada criminalista. “Essa malandragem acaba levando muitos casos à prescrição”, e recorda que um terço das ações penais do STF foram arquivadasnos últimos dez anos em decorrência de prescrições, segundo um levantamento feito pela Folha de S. Paulo, em 2016.
Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-deputado, senador e governador por Minas Gerais, esteve envolvido em crimes relacionados ao mensalão mineiro ou tucano. A denúncia de peculato e lavagem de dinheiro contra Azeredo e outros 14 acusados foi recebida pelo STF em 2007. No entanto, em 2014, ele renunciou ao cargo de deputado federal e o Supremo deixou de ser a instância competente para julgar o caso. Ele foi condenado a mais de 20 anos de prisão, mas por conta de recursos, aguarda em liberdade.
Condenados no mensalão petista em 2012, José Genoíno e José Dirceu, embora não tivessem o foro por prerrogativa de função, foram julgados e condenados diretamente pelo STF. Isso não permitiu o duplo grau de jurisdição que possibilita os processos recursais. Das 38 acusações tramitando na corte, 35 casos não eram contemplados pela prerrogativa. Na época, o Supremo afirmou que a discrepância se deu porque todas as autoridades estavam envolvidas no mesmo fato.
O que muda se houver a restrição?
O sistema de Justiça brasileiro é uma espécie de pirâmide, define Rais, no qual do STF é o ápice. Das instâncias primárias é possível recorrer no Tribunal de Justiça de cada estado e, posteriormente, no Superior Tribunal de Justiça e STF.
Se aprovada a proposta, seja no STF ou no Congresso Nacional, Rais acredita que mais processos iriam para as primeiras instâncias. Ainda assim, proporcionalmente esse movimento não mudaria excessivamente os órgãos singulares. Já a saída de casos dos tribunais mudaria o quadro dos órgãos colegiados. Os tribunais federais são um por estado; o Superior Tribunal da Justiça e o STF são um no País todo.
“De uma certa maneira, os tribunais superiores teriam mais tempo de realizar outras funções. O STF acumula a função de corte jurisdicional e constitucional. O Brasil tem índices de atrasos impressionantes”, diz o professor.
Ao serem transferidos para as instâncias inferiores, Fernanda explica que as provas coletadas não serão descartadas necessariamente. “Se estiver em um estágio de depoimentos prestados e provas coletadas, tudo será remetido para o juiz de primeira instância”.
STF ou Congresso Nacional?
Ao realizar uma mudança constitucional, os especialistas entendem que pode haver a interferência do poder Judiciário no poder Legislativo pelo Supremo. Para o ex-ministro da Advocacia-Geral da União, o STF está violando a separação de poderes, “uma vez que cabe ao Congresso Nacional modificar a legislação do foro via emenda constitucional”.
Rais concorda e afirma que o local para a discussão da política deve ser na política, no Parlamento. “No entanto, muitas vezes o STF vem avançando na política, trazendo um poder para fazer transformações que deveriam ser feita no Congresso. Sou contra esse excesso de poder concentrado, porque hoje pode acertar, mas amanhã pode errar”, afirma do professor.
Segundo a professora do IDP, esse movimento faz com que o STF frequentemente acabe legislando, expondo a politização da Justiça. “O Supremo, ao meu ver, não tem competência para limitar do alcance de um dispositivo constitucional”.

Deputado constituinte é morto na Venezuela; governo fala em crime político e quer investigação

Deputado constituinte é morto na Venezuela; governo fala em crime político e quer investigação


Segundo ministro, Lucena havia acabado de pegar seu filho no colégio e andava de carro acompanhado de sua esposa, quando foi interceptado por um grupo de quatro motociclistas armados
O deputado da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) da Venezuela Tomas Lucena foi assassinado nesta quarta-feira (10/01) na cidade de Valera, estado de Trujillos, oeste do país. O governo venezuelano exigiu das autoridades de segurança e dos órgãos de justiça que se investigue a morte de Lucena, a qual considera um "assassinato político".
"Nós exigimos que se investigue o assassinato político como a provável causa do homicídio que acabou com a vida desse jovem de 31 anos", disse o ministro da Comunicação e Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, em comunicado lido na rede de televisão estatal VTV.
Segundo o ministro, Lucena havia acabado de pegar o filho no colégio e andava de carro acompanhado da esposa quando foi interceptado por um grupo de quatro motociclistas armados e atingido por quatro tiros no peito. "Alguns matadores em motocicletas lhe deram quatro disparos contra o tórax, o que ocasionou sua morte", afirmou Rodríguez.
Reprodução/Twitter

Lucena (de óculos) havia acabado de apanhar seu filho no colégio e andava de carro acompanhado de sua esposa, quando foi interceptado por um grupo de quatro motociclistas armados

Bolívia reduz mortalidade infantil em 52%

Agências internacionais de notícias publicam 'mentiras' sobre Venezuela, diz Maduro

FBI não encontra provas de suposto 'ataque sônico' contra embaixada dos EUA em Cuba

 
Tomas Lucena tinha 31 anos e era deputado da ANC pelo município de Escuque, no estado de Trujillo. Filiado ao prtido governista PSUV, o deputado era formado em direito e foi líder juvenil comunitário em sua região. Era casado e tinha 3 filhos.
A presidente da ANC, Delcy Rodríguez, também manifestou sua indignação perante o assassinato de Lucena. "Repudiamos o vil assassinato de Constituinte por Trujillo, Tomas Lucena. Estendemos nossas condolescências a seus pais, esposa, filhos e amigos", escreveu Rodríguez em sua conta no Twitter.
O governador do estado de Trujillo, Henry Rangel Silva, expressou solidariedade aos familiares de Lucena e afirmou que o cirme não ficará impune. "Repudimaos de maneira profunda o assassinato do jovem constituinte do município de Escuque, Tomás Lucena. Não permitiremos que esse crime fique impune. Nossa solidariedade a todos seus entes queridos. Honra e glória a Tomas!", disse o governador nas redes sociais.
(*) Com informações de teleSur